2021
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ISBN 978-65-990362-8-6
1.Direito Administrativo. I. Vareschini, Julieta Mendes
Lopes
CDD 340
6
NOVA LEI DE
LICITAÇÕES
E CONTRATOS
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA,
ÂMBITO DE INCIDÊNCIA, VIGÊNCIA
E IMPACTO NAS LEIS ESTADUAIS,
MUNICIPAIS E REGULAMENTOS
DO SISTEMA S
Edgar Guimarães
NOVA LEI DE LICITAÇÕES
E CONTRATOS
COMPETÊNCIA LEGISLATIVA, ÂMBITO DE INCIDÊNCIA,
VIGÊNCIA E IMPACTO NAS LEIS ESTADUAIS, MUNICIPAIS
E REGULAMENTOS DO SISTEMA S.
Edgar Guimarães1
1. INTRODUÇÃO
Em 10 de dezembro de 2020 o Senado Federal aprovou
o Projeto de Lei n° 4.253/2020, substitutivo da Câmara dos
Deputados ao Projeto de Lei n° 1.292-E de 1995 do Senado Federal
(PLS n° 163/95 na Casa de origem), que estabelece normas gerais
de licitação e contratação para a Administração Pública Direta,
Autárquica e Fundacional da União, dos Estados, do Distrito Federal
e dos Municípios.
1 Advogado; Pós-Doutor em Direito pela Università del Salento (Itália). Doutor e Mestre
em Direito Administrativo pela PUC/SP; Professor em cursos de Pós-graduação; Consultor Jurídico
(aposentado) do Tribunal de Contas do Estado do Paraná; Presidente do Instituto Paranaense de
Direito Administrativo; Membro dos Institutos Brasileiro de Direito Administrativo, do Instituto
dos Advogados do Paraná e do Conselho Científico do Instituto Romeu Felipe Bacellar. Árbitro da
Câmara de Arbitragem e Mediação da FIEP/PR. Conselheiro da OAB/PR.
8
Além de novas regras para as licitações e contratos
administrativos, o novel Diploma legal altera as Leis n° 13.105/2015,
(Código de Processo Civil), 8.987/1995 (Lei das Concessões),
11.079/2004 (Lei das PPPs), o Decreto-Lei 2.848/1940 (Código
Penal), e revoga dispositivos da Lei n° 12.462/2011 (Lei do RDC), e
as Leis n° 8.666/1993 (Lei de licitações e contratos) e 10.520/2002
(Lei do Pregão).
9
É forçoso reconhecer que nasce uma lei velha e ultrapassada
com um ou outro ponto que merece destaque, como por exemplo,
uma atenção maior para as licitações sustentáveis, regras e
procedimentos para reabilitação de empresas sancionadas; a
utilização de meios alternativos de resolução de controvérsias
(conciliação, mediação, comitê de resolução de disputas e
arbitragem) e a criação de um Portal Nacional de Contratações
Públicas.
2. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA
A disciplina jurídica regedora das licitações e contratações
públicas encontra fundamento primário no plano constitucional.
No âmbito da Carta da República cabe destacar dois comandos, o
10
Gonzalez Borges2 no sentido de que a Constituição de 1988 deu
um novo tratamento, tornando-a muito mais simples, racional
e intuitiva, preservando a autonomia das ordens federadas e
estabelecendo uma nítida delimitação das competências de cada
qual, tornando induvidosa e objetiva a arrumação e a harmonização
das diversas esferas legislativas, quando incidentes sobre uma
mesma matéria.
11
e contratação pública, não exclui, nem poderia excluir, a
competência suplementar dos Estados, Municípios e do Distrito
Federal para disporem sobre normas específicas visando tratar de
suas peculiaridades locais.
4 Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem,
observados os princípios desta Constituição.
§ 1° São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição.
12
devendo as respectivas Leis Orgânicas guardarem conformidade
com a Constituição Federal e a do respectivo Estado-membro.
13
licitação e contratação pública. Os demais entes federativos que
até o momento não exerceram a competência suplementar que a
Constituição lhes assegura, adotam, integralmente, as vetustas
disposições da Lei n° 8.666/93.
14
Na mesma linha é o pensamento de Alice Gonzalez Borges10
ao sustentar que “são normas gerais aquelas que, por alguma
razão, convém ao interesse público sejam tratadas por igual,
entre todas as ordens da Federação, para que sejam devidamente
instrumentalizados e viabilizados os princípios constitucionais
com que têm pertinência. A bem da ordem harmônica que deve
manter coesos os entes federados, evitam-se, desse modo, atritos,
colidências, discriminações, de possível e fácil ocorrência.”
15
qualquer dos níveis da Federação, como observa Geraldo Ataliba11,
que as define como “leis nacionais; leis que não se circunscrevem
ao âmbito de qualquer pessoa política, mas que os transcendem
aos três. Não se confundem com a lei federal, estadual ou municipal
e têm seu campo próprio e específico, excludente das outras três
e reciprocamente.
11 ATALIBA, Geraldo. Normas Gerais na Constituição – Leis Nacionais, Leis Federais e seu
Regime Jurídico. Estudos e Pareceres de Direito Tributário, vol. 3, São Paulo: Revista dos Tribunais,
1978, p. 15.
16
políticas integrantes da Federação, quando da edição de leis locais
versando sobre normas específicas voltadas ao atendimento das
respectivas peculiaridades, deverão respeitar as diretrizes gerais
advindas da União.
12 Vale lembrar que o caput do artigo 1° da Lei n° 8.666/93 contém a mesma prescrição.
17
criando, desta forma, um ambiente seguro para que estas pessoas
legislem localmente acerca das normas específicas de licitação e
contratação pública.
18
Diante do que dispõe o artigo antes citado, uma vez
publicada, a Lei n° 14.133/2021 passa a produzir efeitos jurídicos
imediatamente, podendo, desde logo, ser aplicada. Porém,
durante o decurso do prazo de 2 (dois) anos contado da data da sua
publicação, a Lei n° 8.666/93 (lei de licitações e contratos), a Lei n°
10.520/02 (lei do pregão) e a Lei n° 12.462/11 (lei do RDC) também
estarão vigendo14. Tal fato se dá em razão de que o legislador criou
um período de convivência entre o regime jurídico antigo e a nova
lei. Assim, durante os 2 anos teremos os dois regimes em pleno
vigor, podendo o administrador público, por ocasião da instauração
de processo licitatório ou de contratação direta, optar por um ou
outro regime jurídico, sendo vedada, apenas, a combinação da
nova lei com o regime antigo.
19
Pois bem, neste cenário apenas o Estados do Paraná, Bahia,
Sergipe, São Paulo e o Município de São Paulo, exerceram suas
competências legislativas suplementares e editaram lei próprias
sobre esta matéria. Ocorre que todos os Diplomas legais são
anteriores à Lei n° 14.133/2021. A lei do Estado de São Paulo data
de 1989 (Lei n° 6.544), do Município de São Paulo de 2002 (Lei n°
13.278), da Bahia de 2005 (Lei n° 9.433), Sergipe de 2006 (Lei n°
5.848), Paraná de 2007 (Lei n° 15.608) e Goiás de 2012 (Lei n° 17.928).
20
em conta as diferentes realidades socioeconômicas do nosso País,
é chegada a hora e vez de Estados, Municípios e Distrito Federal, no
gozo dos poderes que a Constituição da República lhes assegura,
legislarem sobre a matéria licitatória e contratual, disciplinando
normas específicas que atendam a organização administrativa
de cada qual e, sobretudo, adequadas às peculiaridades locais,
respeitando sempre, as normas gerais fixadas pela União.
16 De acordo com Hely Lopes Meirelles “Serviços Sociais Autônomos são todos aqueles
instituídos por lei, com personalidade de Direito Privado, para ministrar assistência ou ensino a
certas categorias sociais ou grupos profissionais, sem fins lucrativos, mantidos por dotações
orçamentárias ou por contribuições parafiscais. São entes paraestatais, de cooperação com o
Poder Público, com administração e patrimônios próprios (...). Embora oficializadas pelo Estado,
não integram a Administração direta nem a indireta, mas trabalham ao lado do Estado, sob seu
amparo, cooperando nos setores, atividades e serviços que lhes são atribuídos, por serem
considerados de interesse específico de determinados beneficiários.” (MEIRELLES, Hely Lopes,
Direito Administrativo Brasileiro, 25ª ed. São Paulo, Malheiros, 2000, p. 346)
21
os princípios constitucionais da moralidade, impessoalidade e
isonomia, dentre outros.
22
Considerando que tais regramentos datam de 2006, com
algumas poucas alterações ocorridas ao longo dos últimos anos,
faz-se necessário adequá-los aos avanços sociais, tecnológicos
e econômicos da sociedade. Para tanto, sugerimos subtrair da
Lei n° 14.133/2021 disposições que possam tornar o processo
de contratação mais célere, eficiente e, sobretudo, propiciar o
verdadeiro desiderato de uma licitação que é a seleção da melhor
proposta para o atendimento de certa necessidade.
7. CONCLUSÕES
De todo o exposto no presente estudo, face ao regime
jurídico-constitucional instituído pela Constituição da República,
pessoas políticas que integram a federação estão, nítida e
expressamente subordinadas apenas às normas gerais de licitação
e contratação pública editadas pela União.
23
suplementar dispondo sobre normas específicas de
licitação e contratação pública, objetivando tratar de
peculiaridades locais e respeitando as normas gerais
editadas pela União;
24
9. a Lei n° 14.133/2021, entra em vigor na data de
publicação, não havendo qualquer período de vacância;
25
pública, editando uma lei local, com respeito as normas
gerais fixadas pela União;
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ATALIBA, Geraldo. Normas Gerais na Constituição – Leis Nacionais,
Leis Federais e seu Regime Jurídico. Estudos e Pareceres de
Direito Tributário, vol. 3, São Paulo: Revista dos Tribunais, 1978.
26
AGENTE E
COMISSÃO DE
CONTRATAÇÃO:
ATRIBUIÇÕES
E RESPONSA-
BILIDADES
Julieta Mendes Lopes Vareschini
AGENTE E COMISSÃO DE
CONTRATAÇÃO: ATRIBUIÇÕES E
RESPONSABILIDADES
Julieta Mendes Lopes Vareschini1
1. Introdução
De maneira totalmente inesperada, o projeto da nova lei de
licitações e contratos voltou a tramitar no Senado Federal, por
meio do Projeto de Lei 4253/2020, sendo aprovado pelo Senado
em 10 de dezembro de 2020 e a lei sancionada pelo Presidente da
República em 01 de abril de 2021, sob o n°. 14.133.
28
Já de plano, cumpre destacar que, embora a norma tenha
entrado em vigor na data de sua publicação, o regime anterior (Leis
8.666/93 e 10.520/02) somente será revogado no prazo de dois
anos2, a contar da data de publicação, razão pela qual, durante esse
lapso temporal, a Administração Pública poderá optar por licitar de
acordo com o novo ou com o velho regime. Pode, inclusive, utilizar
a nova lei para algumas licitações e a Lei 8.666/93 para outras, de
forma totalmente discricionária, nos termos do art. 191. O contrato,
por seu turno, seguirá o regime jurídico da legislação adotada no
decorrer da licitação3.
2 Somente os arts. 89 a 108 foram revogados na data da publicação da Lei, a teor do art.
193: “I – os arts. 89 a 108 da Lei n° 8.666, de 21 de junho de 1993, na data de publicação desta Lei”.
3 “Art. 191. Até o decurso do prazo de que trata o inciso II do caput do art. 193, a
Administração poderá optar por licitar ou contratar diretamente de acordo com esta Lei ou
de acordo com as leis citadas no referido inciso, e a opção escolhida deverá ser indicada
expressamente no edital ou no aviso ou instrumento de contratação direta, vedada a aplicação
combinada desta Lei com as citadas no referido inciso. Parágrafo único. Na hipótese do caput
deste artigo, se a Administração optar por licitar de acordo com as leis citadas no inciso II do caput
do art. 193 desta Lei, o contrato respectivo será regido pelas regras nelas previstas durante toda a
sua vigência”.
4 “Art. 176. Os Municípios com até 20.000 (vinte mil) habitantes terão o prazo de 6 (seis)
anos, contado da data de publicação desta Lei, para cumprimento: I – dos requisitos estabelecidos
no art. 7° e no caput do art. 8° desta Lei; II – da obrigatoriedade de realização da licitação sob a
forma eletrônica a que se refere o § 2° do art. 17 desta Lei; III – das regras relativas à divulgação em
sítio eletrônico oficial”.
29
2. Agente e comissão de contratação
De acordo com a nova Lei de Licitações, o julgamento da
licitação pode ficar a cargo de quatro “atores”: a) pregoeiro; b)
leiloeiro; c) agente de contratação e, por fim; d) comissão de
contratação.
30
e art. 8°, caput). Ao prescrever a norma que cabe ao agente dar
impulso ao processo, conclui-se que caberá ao referido servidor
adotar as medidas cabíveis para garantir o trâmite do processo,
inclusive cobrando dos demais setores que atuam a execução
das atividades inerentes ao bom andamento do certame. Nesse
sentido, embora a própria lei tenha estabelecido a necessidade
de regulamentação para definir as atribuições dos agentes de
contratação e demais servidores designados, é possível extrair dos
dispositivos citados que tal agente deverá atuar desde a etapa de
planejamento, respeitada, por evidente, a segregação de funções.
31
pertencentes aos quadros permanentes da Administração,
admitida a contratação de profissionais para assessoramento
técnico da comissão.
32
estabelecidas em regulamento, e deverá ser prevista a
possibilidade de eles contarem com o apoio dos órgãos
de assessoramento jurídico e de controle interno para
o desempenho das funções essenciais à execução do
disposto nesta Lei”.
33
Embora o dispositivo em tela estabeleça a preferência na
designação de servidor efetivo, induzindo a interpretação de que,
excepcionalmente, pode ser designado profissional que não integre
o quadro permanente, cumpre destacar que o art. 8°, ao contemplar
a figura do agente de contratação, estabelece: “pessoa designada
pela autoridade competente, entre servidores efetivos ou
empregados públicos dos quadros permanentes da Administração
Pública, para tomar decisões, acompanhar o trâmite da licitação,
dar impulso ao procedimento licitatório e executar quaisquer outras
atividadesnecessárias ao bom andamento da licitação”. Dessa feita,
em nosso entender, o agente deve ser detentor de cargo efetivo
ou empregado do quadro permanente. Porém, o texto ao destacar
que o agente deverá ser do quadro permanente da Administração
Pública, considerando o disposto no art. 6°, inciso III6, permite
interpretar que o agente pode integrar o quadro efetivo de outro
órgão que não aquele que está realizando a licitação.
7 Com exceção da comissão que atuará no diálogo competitivo, nos termos do art. 32, da
Lei 14.133/2021: “XI - o diálogo competitivo será conduzido por comissão de contratação composta
de pelo menos 3 (três) servidores efetivos ou empregados públicos pertencentes aos quadros
permanentes da Administração, admitida a contratação de profissionais para assessoramento
técnico da comissão”.
34
A Lei é omissa quanto ao prazo do mandato, impondo-se a
definição no regulamento interno de cada órgão, nos termos do
art. 8°, § 3°.
8 PESTANA, Marcio. Licitações públicas no Brasil. Exame integrado das Leis 8.666/1993 e
10.520/2002. São Paulo: Atlas, 2013, p. 232.
35
escola de governo criada e mantida pelo poder público. Da leitura
do dispositivo, resta claro que as exigências não são cumulativas,
ou seja, o agente deve ter atribuição relacionada à licitação
ou qualificação atestada por escola de governo ou formação
compatível. Embora o intuito do legislador de estimular a atuação
das escolas de governo seja adequado, a realidade demonstra que
nem todas têm estrutura para esse fim, de sorte que o investimento
em capacitação e formação dos agentes, em parceria com a
iniciativa privada, ainda é relevante9.
36
verificação cruzada.”11
37
4. Responsabilidade dos agentes que conduzem o
certame.
Infere-se, do art. 8°, § 1°, da Lei 14.133/2021, que o agente de
contratação será auxiliado por equipe de apoio, mas responderá
individualmente pelos atos praticados, salvo quando induzido a erro
pela atuação da equipe. Os membros da comissão de contratação,
por seu turno, responderão solidariamente por todos os atos
praticados pela comissão, ressalvado o membro que expressar
posição individual divergente fundamentada e registrada em ata
lavrada na reunião em que houver sido tomada a decisão (art. 8°, § 2°).
Enunciado
38
imputadas a pregoeiro ou a membros de comissão de
licitação, designados para a fase de condução do
certame”.
39
Agora, se a falha é flagrante, pode ensejar a responsabilização,
caracterizando a culpa grave (erro grosseiro)12 tipificada no art.
2813, da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro (LINDB).
5. Conclusão
Do exposto, é forçoso reconhecer que a nova lei de licitações
trouxe algumas inovações quanto aos agentes responsáveis pela
condução do certame. De positivo, cumpre citar a necessidade de
segregação de funções e a importância da capacitação e formação
dos agentes, face a grande responsabilidade por eles assumidas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos
13 “Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões
técnicas em caso de dolo ou erro grosseiro”.
40
PEREIRA JUNIOR, Jessé Torres e DOTTI, Marinês Restelatto. Mil
perguntas e respostas necessárias sobre licitação e contrato
administrativo na ordem jurídica brasileira. Belo Horizonte: Fórum,
2017.
41
A SUSTENTABILIDADE
NA NOVA LEI DE
LICITAÇÕES.
TEORIA E PRÁTICA.
Caroline Rodrigues da Silva
A SUSTENTABILIDADE NA NOVA LEI
DE LICITAÇÕES. TEORIA E PRÁTICA.
Caroline Rodrigues da Silva14
INTRODUÇÃO
Seguindo uma profusão global, um dos temas de grande
destaque na nova Lei de Licitações (Lei n° 14.133/21), e objeto do
presente estudo, é o da sustentabilidade.
43
atendimento às normas socioambientais para contratação de
obras e serviços de engenharia.
44
Outrossim, a exploração dos recursos naturais para fazer frente aos
avanços da indústria e aumento nas relações comerciais tornou-se
predatória e os sistemas naturais começaram a colapsar.
45
Através da Agenda 21 muitas nações se comprometeram
a estabelecer e manter diálogo construtivo para alcançar uma
economia mundial mais eficiente e equitativa e viabilizar um padrão
de desenvolvimento ambientalmente racional. Sua implementação
e o comprometimento com os princípios estabelecidos na ECO-
92 foram reafirmados em Joanesburgo, em 2002, durante a
Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável. O Plano de
Implementação de Joanesburgo em seu parágrafo 18 estabelece o
incentivo às autoridades competentes para levar em consideração
as questões do desenvolvimento sustentável nas tomadas de
decisão, incluindo medidas como a promoção de políticas de
aquisição pública que fomentem o desenvolvimento e a difusão de
bens e serviços ambientalmente racionais15.
46
principais resultados se materializaram no desenvolvimento de uma
abordagem em CPS, treinamentos e orientações, implementação
e conscientização. Entre os anos 2009 e 2012 a abordagem foi
testada em 11 países-piloto.
47
Nesse aspecto, YAKER et al. delinearam como resultados
obtidos pela implementação de CPS por meio da abordagem acima:
18 YAKER, Farid, et.al. O trabalho do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
na promoção das Compras Públicas Sustentáveis. In Panorama de licitações sustentáveis: direito
e gestão pública. Coord. VILLAC, Teresa; BLIANCHERIS, Marcos Weiss; SOUZA, Lilian Castro de.
Belo Horizonte: Fórum 2014, p. 43.
48
Nesse contexto de agendas globais, no Brasil as compras
públicas sustentáveis foram erigidas a status legal pela Lei 12.349,
de 2010, que incorporou um novo objetivo às licitações, alterando
a Lei 8.666/93. Além da isonomia e da proposta mais vantajosa,
as contratações públicas devem promover o desenvolvimento
nacional sustentável21.
49
2. DEFINIÇÃO E DIMENSÕES DA SUSTENTABILIDADE NAS
CONTRATAÇÕES PÚBLICAS
Desde a concepção do termo, a sustentabilidade está
embasada em multidimensões, inicialmente trabalhando com
três aspectos: ambientais, sociais e econômicos. Decorre daí a
atribuição da expressão triple bottom line (interpretada como “tripé
da sustentabilidade”). Outras dimensões foram sendo agregadas
ao conceito, mas sem consenso entre autores. A abrangência das
dimensões igualmente não apresenta delimitação clara.
50
entre os pilares da sustentabilidade, gerando, de forma direta ou
indireta, benefícios à coletividade e minimizando impactos ao meio
ambiente.
51
Sob esse aspecto, o contrato administrativo é concebido
como instrumento para fomentar atividades materiais realizadas
no Brasil, como o desenvolvimento de ideias, no âmbito do
conhecimento, da ciência e da tecnologia.
52
A Administração Pública é um importante consumidor de
produtos e serviços, movimentando a economia em face das
contratações que realiza. Estima-se que as contratações públicas
movimentem cifras equivalentes a aproximadamente 12% do
Produto Interno Bruto. Esse percentual expressivo é suficiente
para a dedução de que as necessidades estatais modelam o setor
privado e o Estado pode, com o desempenho de uma função
indutora da sustentabilidade, implementar políticas públicas
socioambientais por meio dessas contratações.
53
Sobre essa última questão apontada, a cultura organizacional,
Juarez Freitas discorre que “os critérios estratégicos da
sustentabilidade, no processo de tomada da decisão administrativa,
requerem o maior distanciamento temporal e a capacidade de
prospecção de longo prazo, com o abandono resoluto da visão
reducionista dominante, segundo a qual o sistema jurídico cuidaria
apenas do imediato e da obtenção do “preço míope”.28
54
integrantes da administração pública direta, autárquica e
fundacional, da União, Estados, Distrito Federal e Municípios,
em suas licitações e contratações, cabendo aos mesmos, agora,
incluir em seu planejamento de contratações critérios estratégicos
da sustentabilidade para atender aos clamores globais por uma
sociedade mais justa, equitativa e que respeite o meio ambiente.
...
55
II - assegurar tratamento isonômico entre os licitantes,
bem como a justa competição;
...
(grifou-se)
56
normativo das contratações públicas, tomando o conceito dado
por Celso Antônio Bandeira de Mello:
30 NOHARA, Irene Patricia. Fundamentos de Direito Público. São Paulo: Atlas, 2016, p. 32.
31 Idem.
57
Seja objetivo, seja princípio, a interpretação legal é
convergente para o mesmo escopo: uma contratação pública
sustentável, promotora de políticas públicas econômicas e
socioambientais que se compatibilizam em prol do interesse
coletivo e de valores consagrados constitucional e globalmente.
...
...
58
No artigo 11, a Lei estabeleceu que a vantajosidade da
contratação, como objetivo do processo licitatório, deve considerar
o ciclo de vida do objeto:
...
59
Aprofundando-se melhor na temática, dentro do conceito
de sustentabilidade foi instituída a avaliação do ciclo de vida
do produto para dimensionar em todas as fases e etapas que
contemplam a fabricação, o uso e o descarte, quais os impactos
ambientais que o produto causa em sua cadeia.
60
Nesse aspecto, a Lei estabeleceu a ACV como medida
para implementar a sustentabilidade nas contratações públicas
definindo-o como instrumento de análise das propostas em seu
aspecto de vantajosidade, como expresso no artigo 11, inciso I.
61
De forma sumária, sinaliza-se que, segundo a norma acima,
há quatro fases para um estudo: definição de objetivo e escopo,
análise de inventários, avaliação de impactos e interpretação,
assim compreendidas:
Análise de Inventários
Interpretação
62
Essa avaliação é voltada para um sistema de produto
específico (bens ou serviços), desde a aquisição da matéria-prima
ou de sua geração a partir de recursos naturais até a disposição
final. Envolve informações do processo produtivo e modelado
pela empresa que o comercializa, tais como o levantamento
quantificado de dados das entradas (materiais, energia e recursos)
e saídas (produtos, subprodutos, emissões, etc.), identificação dos
impactos ambientais e interpretação desses dados ao longo do
ciclo de vida do bem ou serviço.
63
Vejamos no exemplo abaixo como pode ser estabelecido,
de forma sumária, o ciclo de vida de um copo reutilizável, para
demonstrar os principais impactos (sem quantificação) em cada
macroprocesso:
COPO REUTILIZÁVEL
processo produto principais impactos
extração da emissão de gases, uso
polipropileno
matéria prima de energia
PRODUÇÃO
emissão de gases, uso
manufatura tinta
de energia
papelão ondu-
energia, emissão de
embalagem lado, plástico
gases, à biodiversidade
DISTRIBUIÇÃO individual
logística,
emissão de gases
transportes
64
produzidos de materiais compostáveis, ou de outros materiais
que permitam sua reutilização, como aço inoxidável e cerâmica,
que podem representar alternativas. No entanto, todas as atuais
possibilidades viáveis (inclusive no aspecto econômico), possuem
impactos socioambientais que devem ser considerados. A escolha
mais adequada deverá espelhar, motivadamente, as condições
geográficas, de mercado, sociais e ambientais, locais e regionais37.
65
III - utilização de produtos, de equipamentos e de
serviços que, comprovadamente, favoreçam a redução
do consumo de energia e de recursos naturais;
66
5.1. Disposição final ambientalmente adequada dos
resíduos sólidos gerados pelas obras contratadas.
A geração de resíduos é um dos mais graves problemas da
sociedade contemporânea e tem despertado grandes discussões
em âmbito mundial, nas mais diversas instâncias38, pois está
relacionada a questões de saúde pública, bem-estar e da qualidade
do meio ambiente, intimamente ligados.
40 São 17 objetivos e 169 metas aprovados na Cúpula das Nações Unidas Sobre Desenvolvimento
Sustentável, realizada no final de setembro de 2015, em Nova York, com a finalidade de criar uma agenda universal
que estimule ações para os próximos 15 anos em áreas consideradas cruciais para a humanidade e o planeta.
67
Relaciona-se a tais objetivos, no que se refere aos resíduos, a
necessidade de implantação de uma gestão integrada dos mesmos,
com a finalidade de reduzir o consumo de matéria-prima oriunda
de recursos naturais, com vistas a buscar um equilíbrio entre a
produção e o impacto ambiental correspondente; rever processos
produtivos que geram resíduos; aumentar a reutilização e a
reciclagem; e, promover o tratamento e depósito ambientalmente
adequados dos rejeitos.
68
consecução de suas políticas públicas e o que o legislador da Lei
14.133/21 fez foi materializar um dos objetivos da Lei 12.305/10,
qual seja, promover a gestão integrada e o gerenciamento
ambientalmente adequado dos resíduos sólidos, ao determinar no
artigo 45, inciso I, que nas obras43 deve ser respeitada a “disposição
final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos gerados”.
[...]
[...]
43 Defendemos que a regra deve ser estendida também para compras e serviços em
atendimento à Política Nacional de Resíduos Sólidos.
69
X - gerenciamento de resíduos sólidos: conjunto de
ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de
coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação
final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e
disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos,
de acordo com plano municipal de gestão integrada de
resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de
resíduos sólidos, exigidos na forma desta Lei;
[...]
70
todas as possibilidades de tratamento e recuperação por
processos tecnológicos disponíveis e economicamente
viáveis, não apresentem outra possibilidade que não a
disposição final ambientalmente adequada;
71
vida, os produtos e serviços que promovam menores impactos
ambientais, inclusive no que se refere à qualidade e quantidade
de resíduos gerados, estabelecendo-se nas especificações dos
produtos utilizados ou adquiridos que os mesmos devem ser
produzidos por materiais reutilizados, ou reciclados ou recicláveis,
ou ainda, biodegradáveis. E que os resíduos gerados nas obras e
serviços de engenharia, segundo a letra legal, devem ser destinados
adequadamente: recicláveis e reutilizáveis para cooperativas
ou associações que promovam a segregação e destinação às
empresas que utilizam a matéria-prima reciclável, e os rejeitos aos
aterros sanitários de acordo com a classificação dos mesmos.
72
A Lei 9.985/2000, que dispôs sobre o Sistema Nacional de
Unidades de Conservação e foi regulamentado pelo Decreto n°
4.340/2002, estabeleceu no artigo 36 que:
73
Orienta-se, para tanto, estabelecer melhorias no ambiente
de trabalho; estimular a conscientização dos empregados, clientes
e fornecedores, com a adoção de boas práticas relacionadas
à redução do consumo de energia; promover a manutenção
preventiva de equipamentos que consumam energia reduzindo
ou evitando que falhas prejudiquem o desempenho dos mesmos;
aproveitar iluminação e ventilação naturais nos ambientes; adquirir
equipamentos mais eficientes e que consumam menos energia,
investir em isolamento térmico e automação, etc.
74
O Estudo de Impacto de Vizinhança tem o intuito
de analisar e informar previamente à gestão
municipal quanto às repercussões da implantação de
empreendimentos e atividades impactantes, privadas
ou públicas, em áreas urbanas, a partir da ótica da
harmonia entre os interesses particulares e o interesse
da coletividade de modo a: a) evitar desequilı́brios no
crescimento das cidades; b) garantir condições mı́nimas
de qualidade urbana; e c) zelar pela ordem urbanı́stica
e pelo uso socialmente justo e ambientalmente
equilibrado dos espaços urbanos.44
75
vivemos no presente e transmitimos às futuras gerações. Nosso
patrimônio cultural e natural é fonte insubstituível de vida e
inspiração, nossa pedra de toque, nosso ponto de referência,
nossa identidade.”45
76
Cabe, portanto, à Administração Pública estabelecer
a proteção do patrimônio cultural, histórico, arqueológico e
imaterial, avaliando os impactos de seus investimentos em obras
e serviços de engenharia nessas manifestações.
6. REMUNERAÇÃO VARIÁVEL
A sustentabilidade ambiental também é objeto dos
elementos da remuneração variável para contratação de obras,
77
fornecimentos e serviços, inclusive de engenharia, como preconiza
o artigo 144:
78
outro de ordem material. O de ordem formal é a exigência
de que os parâmetros e critérios para a fixação da
remuneração variável estejam previstos no instrumento
convocatório e no contrato. ... O requisito de ordem
material é a atenção ao limite orçamentário fixado para
a respectiva contratação” (GUIMARÃES, Edgar. Lei das
estatais: comentários ao regime jurídico licitatório e
contratual da Lei n° 13.303/2016/ Edgar Guimarães,
José Anacleto Abduch Santos – Belo Horizonte: Fórum,
2017, p. 159).
46 Definida pela Lei n° 14.011/2020 em seu artigo 7°, §1°, como sendo “a prestação, em um único
contrato, de serviços de gerenciamento e manutenção de imóvel, incluído o fornecimento dos equipamentos,
materiais e outros serviços necessários ao uso do imóvel pela administração pública, por escopo ou continuados.”
79
com melhor desempenho ambiental, como exemplificado no
quadro abaixo:
Acréscimo
Especificação con- Maior perfor- na remu-
Item
tratual mínima mance ambiental neração
mensal
Potência mínima de
Aspirador de Saco para pó em
1600 W, capacidade 0,01%
pó algodão lavável
de 30 Litros
DC 350, cabo elétri-
Enceradeira co com 12m, motor Selo ruído nível 1 0,02%
3/4hp
Fabricado com
Em plástico resis- tecnologia oxi-
Sacos de lixo tente com capacida- biodegradável e 0,01%
de de 50 Litros decomposição
em até 6 meses
Uniforme lim- Brim com 100%
Conf. Descrição 0,02%
peza de algodão
80
procedimento adequado após constatação de irregularidade no
procedimento licitatório ou na execução contratual.
81
VI - despesa inerente à desmobilização e ao posterior
retorno às atividades;
82
decretar a invalidação de contrato ou processo deverá indicar as
condições de regularização, como segue:
83
sustentabilidade em seu pilar social, ambiental ou econômico,
como, por exemplo, a análise de riscos sociais que a paralização
de uma determinada obra pública de construção de moradias
populares pode ocasionar à política local de habitação e à
população de baixa renda, ou o impacto ambiental da suspensão
de um importante projeto conservacionista à fauna, financiado por
organismos internacionais, ou ainda, as consequências sociais e
econômicas do fechamento de postos de trabalho utilizados em
obra pública de grande vulto paralisada.
CONCLUSÃO
84
não apenas à satisfação das necessidades materiais de bens,
serviços ou obras dos órgãos ou entidades da Administração
Pública contratante, mas prosperam em desempenhar uma
função extraordinária, socioambiental, pretendendo satisfazer as
necessidades de futuras gerações, materializando o conceito do
desenvolvimento sustentável.
REFERÊNCIAS
BACETI, Camila Moraes, ENMANUEL Carlos-Andrés, YAKER, Farid. O
Trabalho do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente na
promoção das Compras Públicas Sustentáveis. In VILLAC, Teresa,
BLIACHERIS, Marcos Weiss, SOUZA, Lilian Castro de. Panorama de
Licitações Sustentáveis: direito e gestão pública. Belo Horizonte:
Fórum, 2014.
85
BRASIL, Decreto-Lei n° 4.657/42, de 04 de setembro de 1942. Lei de
Introdução às normas do Direito Brasileiro. Diário Oficial da União.
Brasília, DF, de 09.09.1942. Disponível em: http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del4657compilado.htm
86
______. Sustentabilidade: direito ao futuro. 2. Ed. Belo Horizonte:
Fórum, 2012.
87
Giselle C., Kallas, Luana M. E.; Cavalcanti, Carolina B.; Teixeira,
Letícia M. Brasília: Universidade de Brasília, 2016.
88
NOVA LEI DE LICITAÇÕES
E CONTRATOS: AS
NOVAS COMPETÊNCIAS
E RESPONSABILIDADES
DO AGENTE DA
CONTRATAÇÃO E A
POSSIBILIDADE DE
CONTRATAÇÃO DE
ASSESSORAMENTO
TÉCNICO
Luiz Cláudio de Azevedo Chaves
NOVA LEI DE LICITAÇÕES E CONTRATOS:
AS NOVAS COMPETÊNCIAS E
RESPONSABILIDADES DO AGENTE DA
CONTRATAÇÃO E A POSSIBILIDADE DE
CONTRATAÇÃO DE ASSESSORAMENTO
TÉCNICO
Luiz Cláudio de Azevedo Chaves47
Resumo:
Já não era sem tempo que o Congresso Nacional aprovasse, e a
Presidência da República, sancionasse o novo marco legal das
contratações públicas, a regulamentar o art. 37, XXI da CRFB. A
norma anterior (e, diga-se, permanecerá vigente por mais dois
90
anos), há muito necessitava de aperfeiçoamento e modernização,
o que vinha sendo feito, aqui e ali, por normas infra legais, tais
como decretos e instruções normativas. Vários novos institutos
e novas perspectivas são introduzidas e, dentre elas, as novas
premissas para o exercício da função de julgar licitações. Neste
trabalho, iremos abordar as novidades trazidas pela novel Lei
n°. 14.133/2021 no que concerne à atuação dos agentes públicos
que serão investidos nas funções de julgamento dos certames
licitatórios, bem como será examinada a questão da contratação
de consultores para auxiliá-los para o cumprimento deste mister.
Palavras-chaves
Licitação. Contratação Pública. Agente da Contratação. Pregoeiro.
Consultoria.
Summary:
It was about time that the National Congress approved, and the
Presidency of the Republic, sanctioned the new legal framework for
public contracts, to regulate art. 37, XXI of the CRFB. The previous
91
Keywords
Bidding. Public Procurement. Hiring Agent. Crier. Consultancy.
1. Introdução
92
Tal atividade durante muito tempo foi bastante glamourizada.
Dotados de competências bastante abrangentes, sem vinculação
hierárquica o julgador da licitação era considerado uma espécie de
autoridade soberana. O que era por eles decidido, assim ficava.
48 Apenas um ano após entrar em vigor a Lei no. 8.666/1993, é sancionada a Lei no.
8.883/1994, modificando quase metade dos dispositivos originais.
93
normativa sobre essa importante figura no cenário público, de
modo a auxiliar a compreensão das novas normas que entrarão em
vigor em breve.
94
Também surge a figura do responsável pelo Convite.
A previsão no §1° do art. 41 era de que para esta modalidade
licitatória, não seria composta Comissão. Seria indicado um
servidor responsável pela condução dos trabalhos. Portanto, a
Comissão teria competência para julgar apenas as licitações nas
modalidades tomada de preços e concorrência.
95
década de 1980 quase não se via o uso da terceirização no serviço
público, uma vez que somente com a Constituição de 1988, é
que passou a prevalecer o princípio do concurso pública para
preenchimento de cargos e empregos públicos.
49 Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: [...] XXI - ressalvados
os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão contratados
mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os
concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação
técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.
96
pertencentes aos quadros permanentes dos órgãos da
Administração responsáveis pela licitação.
97
é ser integrada por ao menos dois servidores pertencentes aos
quadros permanentes do órgão/entidade promotor do certame. O
Segundo, é que estes servidores sejam qualificados. Disso decorre
que a Lei n°. 8.6666/1993 reduz o campo de discricionariedade do
gestor público, pois lhe retira a ampla liberdade que tinha de indicar
membros das comissões de licitação, conforme dispunha até
então. Obrigatoriamente, dois membros terão que ser escolhidos
dentro os servidores do quadro permanente.
98
equivocada sobre a possibilidade de participação de indivíduos
estranhos aos quadros efetivos (provimento efetivo ou
comissionado), como seria o exemplo do empregado terceirizado,
o que não é verdade. As atribuições da Comissão consubstanciam
atos administrativos decisórios, e, para tanto, é necessário que
o membro possua o múnus público que lhe confira a autoridade
necessária. Esse múnus depende justamente da ligação do membro
com a unidade administrativa promotora do torneio. Portanto,
podem fazer parte das CPLs e CELs dos órgãos da Administração
Pública:
99
Como dito nas linhas introdutórias deste trabalho, o elevado
grau de complexidade de seus atos, bem como sua importância
estratégica exige do gestor o cuidado de indicar agentes públicos
devidamente qualificados para o exercício e desempenho dessas
atividades. O mínimo que se espera é que tenham domínio (não
apenas conhecimento) da legislação regedora do instituto da
licitação. Também devem possuir um mínimo de entendimento
técnico (não se exige, nesse caso, o domínio do assunto) que
permita avaliar e julgar com segurança os documentos e propostas
apresentados. Nesse sentido, vejamos as lições de Marçal Justen
Filho50, verbis:
100
profissionalmente habilitado para emitir juízo acerca de
certo assunto não pode integrar comissão de licitação
que tenha atribuição de apreciar propostas naquela
área.”14 (grifou-se)
101
uma alternativa discricionária como era na legislação anterior
e tal substituição passa a ter caráter excepcional, somente será
aceitável diante da exiguidade de pessoal disponível.
102
4. Características da Comissão de Licitação
A Comissão julgadora, que, conforme já visto, pode ser
permanente ou especial conforme o prazo de designação, é órgão
colegiado, assim sendo, de deliberação coletiva que decide pela
maioria de votos de seus membros. É órgão abstrato destituído
de personalidade jurídica própria, mas possuidora de capacidade
judicial, ou seja, pode demandar ou ser demandada em juízo.
Tanto que é frequente vermos as Comissões de Licitação serem
indicados como autoridade coatora em ações de mandados de
segurança contra atos de sua esfera de competência.
a) Presidente
103
b) Vice-Presidente ou Presidente em exercício
c) Membro
104
e) Assistente ou Consultor
105
Os atos da Comissão julgadora são estritamente vinculados
à lei e ao edital, deles não podendo afastar-se em momento algum.
A Comissão não tem poder para alterar os critérios do julgamento
no momento da abertura dos envelopes, ou deixar de exigir
algum documento previsto no edital, salvo se reconhecidamente
irrelevante e impertinente ao específico objeto do contrato, ou
flagrantemente contrário à lei ou ao interesse público.
106
e as relativas ao julgamento das licitações. Na ausência de
regulamentação interna corporis que confira outras atribuições, a
CPL não tem competência para falar sobre processos que não cuide
ou de registro cadastral ou de licitação, devendo ser recusada a
solicitação de intervenção em processos de natureza diversa.
Entretanto, as atribuições de uma CPL, ou de seu Presidente,
podem ser estendidas de acordo com a conveniência da autoridade
superior, que poderá ampliá-las por ato específico.
107
e somente podem ser desfeitas de ofício (sem provocação de
terceiros) pela própria Comissão, por meio de juízo de retratação,
ou reformadas mediante decisão de autoridade superior. Mas não
é só por meio das decisões do colegiado que a CPL se manifesta,
pois a atuação do colegiado depende, em muitos casos, dos atos
típicos de direção, seja na condução das sessões de licitação, seja
na instrução ordinária dos processos que lhes são cometidos. É na
pessoa de seu Presidente que a CPL se expressa em tais hipóteses.
108
d. indicar o membro que irá secretariar a sessão;
f. votar;
109
l. delegar qualquer das funções acima a um dos
membros presentes.
110
de polícia. Quando o Presidente determina que na sessão não
se poderá utilizar telefones celulares, os administrados devem
atender à tal determinação sob pena de incursão nas penas do art.
330 do Código Penal, crime de desobediência. A forma de tratar
a CPL, principalmente, seu Presidente, se desrespeitosa, também
poderá ser tida como conduta criminal com previsão previsto no
mesmo Código como crime de desacato.
111
5. O surgimento da figura do Pregoeiro:
características, competências e distinções em
relação às Comissões de Licitação.
No ano de 2000 entra em vigor a MP 2.026/2000, criando
a modalidade pregão para utilização no âmbito dos órgãos e
entidades da União. No ano de 2020, é convertida na Lei n°.
10.520/2002, estendendo sua utilização por todos os entes da
Federação.
112
As competências e os poderes do Pregoeiro são exatamente
os mesmos do Presidente de Comissões de Licitação, tanto no que
diz respeito ao julgamento do certame em si, como na direção do
rito processual.
a. credenciar os interessados;
113
De especial, é bom anotar que o exercício desta função
depende de participação em curso de capacitação específica, sem
a qual a autoridade superior não poderá indicar o servidor, isso,
de acordo com o art. 7°, par. único do Decreto 3.555/2000. Mais
recentemente, o Decreto Federal n°. 10.024/2019 não condiciona
a nomeação para a função de Pregoeiro à capacitação específica,
mas exige dos órgãos que estabeleçam planos de capacitação
continuada nesse sentido (art. 16, §3°).
114
6. Lei n°. 14.133/2021: o Agente da Contratação
A nova lei de licitações trouxe uma nova figura que se
constitui na autoridade julgadora de licitações. Ao mesmo tempo,
fez desaparecer a figura da Comissão de Licitação. Trata-se do
Agente de Contratação e da Comissão de Contratação.
[...]
115
III – Administração Pública: administração direta e
indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, inclusive as entidades com personalidade
jurídica de direito privado sob controle do poder público
e as fundações por ele instituídas ou mantidas;
116
Isto porque a rotina administrativa consistente em apresentar
o processo à autoridade julgadora com a licitação já agendada,
edital aprovado pela Assessoria Jurídica, dúvidas e impugnações
já dirimidas por outros servidores que não irão julgar o torneio,
sistema o sistema adotado por muitos órgãos, é contraproducente
e mesmo nocivo ao bom andamento da licitação.
117
O texto faz parecer que do servidor que já atua em atividade
relacionada às licitações não será exigível que detenha formação ou
qualificação com atestação na forma acima descrita. Por atividade
relacionada às licitações, pode se entender todas as atividades
que que compõe o ciclo da contratação, que parte da definição da
demanda até o recebimento definitivo do objeto do contrato.
118
pré-falência de muitos estados da Federação, certamente, a curto/
médio prazo, haverá muita dificuldade desses órgãos oferecer o
necessário treinamento.
119
art. 9°, § 3°, da Lei 8.666/93. (Informativo de Licitações e
Contratos 163/2013)
120
9.1.7. discipline a segregação de funções nos setores que
desempenham as atribuições inerentes às licitações
e contratos, de forma a minimizar a possibilidade de
desvios e fraudes. (Ac. No. 415/2013, Plenário)
121
mercado e atividades afins, em que pesa não haver, no meu sentir,
impedimento, é desejável que não se sobrecarreguem com a
função de processar e julgar licitações
[...]
122
responderá pessoalmente por suas decisões ou opiniões técnicas
nos casos de erro grosseiro.
123
7. A previsão de contratação de consultores para
auxiliar na condução da licitação
É bastante conhecida a deficiência da imensa e esmagadora
maioria dos órgãos públicos em relação à mão de obra qualificada
no caso específico dos processos de licitação e gestão de contratos
administrativos. Uma série de circunstâncias e patologias crônicas
convergem para esse cenário.
124
muitos produtos ou serviços e, não raro, se veem sem condições
de realizar uma boa contratação.
[...]
125
Lei n°. 8.666/1993
126
Muito embora jamais fora vedada a contratação de consultor
externo para apoiar Comissões de Licitação e Pregoeiros, esses
contratos eram raros, pois a justificativa da contratação teria de
indicar as razões pelas quais o órgão não dispunha de servidores
qualificados nesse tema, quanto mais se considerarmos que a
condução de uma licitação é atividade primária e intrínseca de um
órgão público. Quem, senão os próprios servidores públicos, seriam
mais especializados do que aqueles na condução de processos
licitatórios. Hodiernamente, sabemos que não é bem assim.
Art. 8° Omissis
[...]
127
XIII – bens e serviços comuns: aqueles cujos padrões
de desempenho e qualidade podem ser objetivamente
definidos pelo edital, por meio de especificações usuais
de mercado;
[...]
Frise-se, desde já, que não quer significar que esteja vedado
contratar consultores para objetos de natureza comum. Aqui, a
interpretação deve ser extensiva, no sentido de que as expressões
“bens ou serviços especiais” e “objeto que não seja rotineiramente
contratado pela administração” não se constituem em requisitos
128
“6. Considero aplicável a modalidade pregão adotada
para a aquisição em tela, uma vez que não vislumbro,
no caso concreto, infringência ao disposto no art. 1°
da Lei n° 10.520/2002, e nem prejuízos ao resultado
do certame decorrentes do uso do pregão. A aeronave
licitada é um bem cujos padrões de desempenho e
qualidade foram objetivamente definidos pelo edital
mediante especificações usuais adotadas no mercado
aeronáutico, ou seja, são inteligíveis a todos os licitantes
que possuem condições de fornecer o referido bem e
estejam interessados em participar do certame. Assim,
para os fins previstos na lei, a aeronave em tela pode ser
considerada um bem comum.”
129
pela condução da licitação, Comissão. Logo, o assessoramento
deverá ser dirigido especificamente ao Agente de Contratação (art.
8°, caput), à Comissão de Contratação (art. 8°, §2°) ou ao Pregoeiro
(art. 8°, §5°). Ou seja, deverá ser destinada a auxiliar o julgador do
certame, podendo atuar desde a fase de divulgação do edital de
licitação (art. 17, II) até a fase recursal (art. 17, VI).
130
10.1. Contratação por licitação
Esta é a regra geral, conforme já explicitado acima.
131
Como o conceito de serviço técnico especializado
foi recepcionado pela nova lei, com a inclusão da expressão
“predominantemente intelectual”, em razão de sua natureza, certo
é que não se poderá licitá-lo na modalidade pregão, uma vez que,
diante dos conceitos do art. 6°, XVIII, supra transcrito, tais serviços
não comportam definição objetiva por meio de especificações
usuais no mercado.
132
[...]
133
10.3 Contratação por inexigibilidade de licitação
Também poderá ser possível a contratação por meio
do instituto da inexigibilidade de licitação, a depender da
especificidade do objeto:
[...]
134
gestor contratante a considerar o executor escolhido um notório
especialista. Sobre o conceito de notória especialização veja-se a
redação do art. 6°, XIX da Lei n°. 14.133/2021:
56 Sobre o conceito de licitação, vide: Revista do TCU, no. 143, págs. 4/31. Disponível em:
Um estudo completo sobre a hipótese de inexigibilidade de licitação para contratação de serviços
técnicos especializados | Revista do TCU
135
Este instituto não encontra previsão na atual lei, mas, no
entanto, há muito é amplamente reconhecida pela doutrina e
também pelos Tribunais de Contas.
136
propriamente dito. Nesta etapa, a Administração oferece a
oportunidade, divulgando um edital de chamamento público,
fixando os critérios de qualificação necessários e o valor que será
oferecido a quem se propuser ao credenciamento. Em seguida,
recebe a documentação dos interessados e aprova (ou não) o
seu credenciamento. A segunda etapa é que é a contratação
propriamente dita, ou seja, a convocação do credenciado para
executar o serviço.
137
Como na definição do § 4°, do art. 8°, a contratação se
dará por prazo determinado e para atender a objeto contratado
não rotineiramente, o contrato de consultoria não poderá ser
considerado como sendo destinado a atender as necessidades
da Administração de forma permanente, como o é os serviços de
limpeza, vigilância, manutenção de equipamentos de informática
etc.
12. Conclusões
O funcionamento, a forma de investidura, e regras de atuação
deverão ser alvo de regulamento próprio de cada órgão/entidade,
nos termos do art. 8°, § 3°.
138
de comprovação de dolo ou culpa, em sentido estrito, isto é, ou
vontade livre e consciente de cometer a ilegalidade ou ter agido
com negligência, imperícia ou imprudência.
139
A inviabilidade de
competição relativa
na Nova Lei de
Licitações e Contratos
Administrativos (Lei n°
14.133/2021): principais
mudanças e proposta
de interpretação para
maximizar a eficiência
da contratação direta
Gabriela Pércio
A inviabilidade de competição
relativa na Nova Lei de Licitações
e Contratos Administrativos
(Lei n° 14.133/2021): principais
mudanças e proposta de
interpretação para maximizar a
eficiência da contratação direta
Gabriela Pércio57
1. Considerações iniciais
Durante os quase 30 anos de vigência da Lei n° 8.666/1993,
a contratação direta, em especial a inexigibilidade de licitação,
esteve envolta em aura de ilegalidade. Exceção ao dever de licitar,
foi entendida, erroneamente, como solução última que levou
141
Em todo esse tempo, não esteve claro aos gestores que a
contratação direta por inexigibilidade de licitação é uma solução
legítima, pensada para os diversos casos em que os modelos
convencionais de escolha do contratado por meio de disputa em
licitação não são aplicáveis. São situações diversas, em que não há
outro caminho para chegar aos resultados pretendidos. Entre elas
estão as relacionadas nos incisos do art. 25 da Lei n° 8.666/1993,
havendo consenso de que o rol não é exaustivo. É fato, porém,
que o espaço de liberdade concedido ao gestor para analisar
cada caso concreto, concluindo pelo cabimento, ou não, de se
realizar licitação, não foi aproveitado pelo aplicador da lei - o que,
reconhecemos, muito se deve ao receio de reprimenda pelo órgão
de controle externo.
58 Inclusive, no âmbito do próprio TCU, era possível encontrar alguma confusão, tal
como ocorreu no acórdão n° 2.289/19-1ª Câmara, que entendeu que a presença de pesquisa de
preços em um processo de contratação de curso, fundada no inc. II do art. 25 da Lei n° 8.666/1993,
descaracterizava a inexigibilidade.
142
semelhança textual entre ambas as leis, velha e nova. Porém, há
espaço para avanços.
143
Pode-se observar, no caput do art. 74, a mesma inviabilidade
de competição genérica presente no caput do art. 25 da Lei n°
8.666/1993 e, nos seus incisos, as mesmas hipóteses que levam
às noções de inviabilidade de competição a que já estávamos
habituados a conviver: a) absoluta, pela ausência material de
competidores (incisos I) e b) relativa, em razão da impossibilidade
de comparação objetiva entre as propostas, com consequente
inaplicabilidade da licitação (incisos II e III).
144
ou jurídica que possua contrato, declaração, carta ou
outro documento que ateste a exclusividade permanente
e contínua de representação, no País ou em Estado
específico, do profissional do setor artístico, afastada
a possibilidade de contratação direta por inexigibilidade
por meio de empresário com representação restrita a
evento ou local específico.
145
2.2 A contratação de objetos que devam ou possam
ser contratados por meio de credenciamento
O credenciamento de profissionais ou empresas para
viabilizar a contratação direta por inexigibilidade de licitação já era
uma realidade na vigência da Lei n° 8.666/1993. O fundamento legal
residia no caput do art. 25, já que não havia hipótese específica
delineada em seus incisos. A nova Lei sacramentou essa prática e
criou uma hipótese específica, atribuindo maior segurança ao agir
do gestor.
146
competição podem caracterizá-la. No caso do credenciamento, o
ordenamento jurídico só fez positivar hipóteses que, rigorosamente,
já eram extraíveis do caput do art. 25 da Lei n° 8.666/1993.
...
147
relacionados com suas atividades, permita inferir que o
seu trabalho é essencial e reconhecidamente adequado
à plena satisfação do objeto do contrato.
148
interno, atrelado ao requisito da notória especialização, que
orientará o gestor em sua escolha final: a confiança de que a
execução de um dado serviço técnico profissional especializado
se dará de forma satisfatória se executada por um determinado
profissional ou empresa, dentre mais de um notoriamente
especializados.61
149
b) pareceres, perícias e avaliações em geral;
150
...
De toda forma, mais uma vez deve ficar claro que sempre
haverá espaço para demonstrar a inviabilidade de competição em
outras situações, diversas das arroladas nos incisos, considerando
os termos do caput do art. 74.
151
não se justifica.63 Aparentemente, não há razões para entendimento
diverso no caso da Lei n° 14.133/2021.
152
A proposta de compreensão ampliada envolve,
primeiramente, estabelecer uma premissa maior para a inviabilidade
de competição, caracterizando-a como qualquer situação em que
os modelos de licitação disponíveis no ordenamento jurídico
não se mostrarem adequados e suficientes para o alcance dos
resultados pretendidos pela Administração. É perfeitamente
possível extrair tal compreensão do conjunto de regras dispostas
no art. 74 da nova Lei, uma vez que todas as situações elencadas
nos seus incisos trazem consigo o traço da inaplicabilidade da
licitação como caminho para a contratação.
153
constitucional da inexigibilidade de licitação, que não deve
continuar carregando o signo da excepcionalidade como sinônimo
de ilegalidade. Ao contrário, precisa ser considerada como opção
legítima sempre que se mostrar como a melhor dentre todas as
oferecidas pelo ordenamento jurídico.
4. Conclusões
A contratação direta por inexigibilidade de licitação é uma
154
É hora, pois, de deixar de lado o ambiente do Direito
Administrativo do Medo para buscar interpretações que criem um
espaço seguro de atuação ao gestor que porventura identificar, na
contratação direta, uma solução para o problema enfrentado. Deve-
se evitar transportar para o presente entendimentos construídos
no século passado, em função de leis que serão revogadas, sendo
imperioso buscar novas teorias, devidamente fundamentadas, que
representem um avanço hermenêutico e considerem sua utilidade
para a Administração Pública atual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
PÉRCIO, Gabriela Verona; FORTINI, Cristiana (Coord.). Inteligência
e inovação em contratação pública. Belo Horizonte: Fórum, 2021.
155
INEXIGIBILIDADE:
SERVIÇOS
TÉCNICOS,
NOTÓRIA
ESPECIALIZAÇÃO
E A AUSÊNCIA DE
SINGULARIDADE
Diego Ávila
INEXIGIBILIDADE: SERVIÇOS
TÉCNICOS, NOTÓRIA
ESPECIALIZAÇÃO E A AUSÊNCIA DE
SINGULARIDADE
Diego Ávila67
68 CARDOSO, Luciano Vitor Engholm. Lei das licitações está ultrapassada e precisa de
mudanças. Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2005-ago-16/lei_licitacoes_ultrapassada_
mudancas>.
157
“A nova lei incorpora grande parte dos dispositivos
da Lei 8.666/1993, da Lei 12.462/2011 (RDC) e da Lei
10.520/2002 (Lei do Pregão), bem como de diversas
instruções normativas expedidas pelo governo federal.
158
Ora, diferentemente do que previa a Lei 8.666/93, verifica-
se pela redação da Lei 14.133/2021, no artigo que trata das
contratações diretas por inexigibilidade, que a contratação de
notório especialista, se interpretarmos rigorosamente seu texto,
não está mais associada a comprovação da singularidade do
objeto. Respectivamente, suas redações:
“Lei 8.666/93:
“Lei 14.133/20:
159
Art. 74. É inexigível a licitação quando inviável a
competição, em especial nos casos de:
160
notória especialização, vedada a inexigibilidade para
serviços de publicidade e divulgação:” (grifo nosso)
161
constante da referida súmula também é aplicável neste
caso:
(...)
162
escritórios de advocacia, ocorreu em data posterior à edição da
Lei 14.039/2020 que alterou o estatuto da Ordem dos Advogados
do Brasil para prever que:
163
o dever de justificar porque escolheu determinado
profissional em detrimento de outros, demonstrando
ser aquele o mais confiável para a regular execução
de um objeto complexo, pois detém especialização
e capacitação para o exercício da atividade com
características e habilidades que não são usuais a
qualquer profissional da área, visto que a especialização
agrega ao profissional uma capacitação superior
a usualmente identificada no mercado, conforme
aduz Justen Filho: ‘O especialista é aquele prestador
de serviço técnico profissional que dispõe de uma
capacidade diferenciada, permitindo-lhe solucionar
problemas e dificuldades complexas’.[5]
164
objeto é que a Administração irá selecionar o melhor
prestador, o que a rigor, se faz mediante disputa
licitatória, mas que no caso de haver complexidade
técnica importante para a execução de determinado
serviço técnico-profissional admite-se o afastamento
do certame para a contratação de notório especialista,
o que acaba por inviabilizar a competição por falta de
critérios objetivos de comparação.”72 (grifo nosso)
73 “SÚMULA N° 264:
A inexigibilidade de licitação para a contratação de serviços técnicos com pessoas físicas ou
jurídicas de notória especialização somente é cabível quando se tratar de serviço de natureza
singular, capaz de exigir, na seleção do executor de confiança, grau de subjetividade insuscetível de
ser medido pelos critérios objetivos de qualificação inerentes ao processo de licitação, nos termos
do art. 25, inciso II, da Lei n° 8.666/1993”. (grifou-se)
165
Sobre o tema, Luiz Cláudio de Azevedo Chaves fez detalhado
estudo que, pela relevância, pede-se vênia para colacionar:
166
em característica própria de trabalho, que o distingue
dos demais.’ Por sua vez, Jessé Torres Pereira Júnior[7]
acerca do conceito de singularidade, traz escólio a partir
de julgado do TCE/RJ que afirma que ‘não se considera
de natureza singular aquilo que pode ser executado
por numerosos profissionais ou empresas’. Petrônio
Braz[8], conclui que a expressão (singularidade) ‘traz
sentido especial, com peculiaridades que permitem
distinguir a coisa, não podendo a expressão ser
entendida literalmente.’ Para não estender demais,
finaliza-se com a definição de Jacoby Fernandes[9],
que aponta que ‘singular é a característica do objeto
que o individualiza, distingue dos demais. É a presença
de um atributo incomum na espécie, diferenciador.’ O
eminente jurista prossegue a lição oferecendo alguns
exemplos de como, em sua arguta visão, se identificaria
em um serviço o elemento da singularidade. Vale a
transcrição:
167
Não se nega que quando o serviço se mostra peculiar,
especial ou inusitado; que quando o objeto em si possui
características intrínsecas que o diferencie dos demais,
o mesmo possa ser considerado singular. Mas, parece
que dizer isso, apenas isso, se torna insuficiente para se
chegar a uma conclusão definitiva sobre o conceito de
singularidade que possibilite, nos casuísmos da rotina
diária das entidades do Poder Público, a identificação
da presença deste requisito. Pergunta-se: o que
é inusitado ou peculiar? Qual atributo específico
se exige que o serviço apresente para que nele se
reconheça, com precisão, que o mesmo é singular?
Que “característica própria de trabalho” distingue
um serviço de outro para os fins de nele reconhecer
a inviabilidade de comparação objetiva entre as
várias possíveis propostas? Inusitado, especial ou
peculiar são conceitos abertos e, por isso mesmo, não
oferecem resposta objetiva para essas indagações.
168
altamente especializados, é claro, mas que seguem
padrões de execução conhecidos dos respectivos
especialistas.
169
pode decorrer da pessoa do contratado, teríamos que
admitir a ideia de que um mesmo objeto seria, a um
só tempo, singular e não singular, conforme a pessoa
que o executar. Ora, o serviço é ou não é singular. Um
projeto arquitetônico para casas populares, não pode
ser classificado como singular apenas porque sua
contratação recaiu em um internacionalmente premiado
escritório de arquitetura. O projeto, em si, continuaria
usual. Jacoby Fernandes[12], de forma bastante lúcida,
salienta que o processo de contratação de obras e
serviços inicia-se, necessariamente, pela definição
do objeto, o que envolve a elaboração do projeto
básico e/ou executivo, e não pela escolha do executor.
Acrescenta que ‘quando os órgãos de controle iniciam a
análise pelas características do objeto, percebe-se quão
supérfluas foram as características que tornaram tão
singular o objeto, a ponto de inviabilizar a competição.’
170
mãos como resultado da execução; é o serviço cujo
resultado pode variar de executor para executor (e por
isso não é previsível).
171
resultado que será apresentado já é sabido mesmo
antes de iniciada a execução, independentemente de
quem ou quantos escritórios de arquitetura venham a
elaborar o projeto. Cada projeto contará com aquelas
características solicitadas e, ainda que se diferenciem
aqui e ali (tipo de fachada, materiais de acabamento etc)
estará possibilitado ao órgão contratante antecipar o
resultado. Logo o resultado é perfeitamente previsível,
e, portanto, viável seria a licitação.
172
citados, ao se examinar com o olhar ora defendido, se
perceberá que a hipótese se enquadra perfeitamente
à proposição aqui encaminhada. E para esse exame,
bastará que se faça uma análise sobre o que compõe
o resultado da execução do serviço treinamento de
pessoal para identificar se o mesmo é previsível ou
imprevisível.
173
com base não só em seus conhecimentos técnicos,
mas também a partir das suas experiências pessoais,
seu ritmo e timbre de voz. Aliás, o próprio professor
poderá executar o serviço de forma distinta a cada
aula proferida, ainda que do mesmo tema, provocado,
por exemplo, por uma mudança de visão e conceitos.
Quer dizer, as aulas sempre serão diferentes, seja
na condução, seja nas conclusões, seja na forma de
exposição. Tudo isso faz com que seja absolutamente
impossível ao contratante desse serviço prever o
resultado que irá receber ao cabo da execução, isto é,
que nível de aprendizado será possível captar. Nestes
casos, não se poderá admitir que, quem quer que seja
o executor, desde que aplicando os recursos didáticos
pre-definidos, vá obter os mesmos resultados. Não há
como negar, diante desse contexto, a singularidade
desse específico objeto.
174
e se resume a verificar se o aluno está executando os
exercícios de forma correta. Se positivo, o instrutor
o autorizará a passar para o próximo exercício, e
assim sucessivamente até que o mesmo esteja
completamente treinado. Qualquer instrutor treinado
na metodologia atrairá resultados muito aproximados
entre os alunos, portanto, perfeitamente previsíveis.
[14]
175
portuguesa. Apesar de se tratar de um treinamento de
matéria de nível médio (o que significa não ser de alta
complexidade), para o qual há no mercado inúmeros
professores habilitados, ainda sim o mesmo guarda a
característica de singularidade.
176
Portanto, em que pese possa comportar divergências75,
entendemos que a singularidade é requisito que deve ser mantido
na análise das contratações diretas quando o objeto for serviços
técnicos que demandam notório especialista. Não obstante a isso,
é de todo recomendável que os órgãos sujeitos à aplicabilidade da
Lei acompanhem a evolução da jurisprudência e doutrina, a fim de
verificar se existirá alguma criação em sentido contrário.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAÚJO, Aldem Johnston Barbosa. Disponível em: <https://jus.com.
br/artigos/89350/futura-nova-lei-de-licitacoes-a-inexigibilidade-
de-licitacao-para-a-contratacao-de-profissionais-ou-empresas-
de-notoria-especializacao-e-o-fim-da-singularidade-do-servico-
tecnico>.
177
CHAVES, Luiz Claudio de Azevedo. O CONCEITO DE SINGULARIDADE
NA INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO PARA CONTRATAÇÃO
DE SERVIÇOS DE TÉCNICOS ESPECIALIZADOS: UMA NOVA
PROPOSTA. Disponível em: <https://jmleventos.com.br/pagina.
php?area=coluna-juridica&acao=download&dp_id=128>.
178
A DISPENSA
PELO VALOR
NA LEI
14.133/2021
Nyura Disconzi da Silva
A DISPENSA PELO VALOR NA LEI
14.133/2021
Nyura Disconzi da Silva76
180
Parágrafo único. Na hipótese do caput deste artigo,
se a Administração optar por licitar de acordo com as
leis citadas no inciso II do caput do art. 193 desta Lei,
o contrato respectivo será regido pelas regras nelas
previstas durante toda a sua vigência.
181
da Lei 8.666/93 ou nos termos da Lei 14.133/2021, conforme
expressamente estatui o art. 191 da nova Lei antes transcrito,
vedada, contudo, a combinação de ambas.
77 Regra essa que decorre da imposição feita no inciso XXI do art. 37 da Constituição
Federal: “Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União,
dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte: (...) XXI - ressalvados
os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações serão
contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições
a todos os concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas
as condições efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de
qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.”
(grifou-se)
182
“Art. 75. É dispensável a licitação:
(...)
183
da Administração em obter propostas adicionais de
eventuais interessados, devendo ser selecionada a
proposta mais vantajosa.
(...)
78 Mesmos limites previstos na Lei 13.303/2016 (Leis das Estatais) e na Lei 14.065/2020,
editada para o período de calamidade pública decretada em vista da pandemia do COVID-19.
79 Não inclui alienações, como o faz a Lei 8.666/93 no inciso II do seu art. 24: “II - para
outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto na alínea “a”, do inciso
II do artigo anterior e para alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a
parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada de uma
só vez;” (grifou-se)
184
Observa-se, ainda, que o limite atribuído para obras e
serviços de engenharia é estendido para os serviços de manutenção
de veículos, o que causa certa estranheza, quando mais o § 7° do
art. 75 estipule que o contido no § 1° desse mesmo preceito80 não
se aplica a tais serviços, o que significa que para esses pode ser
considerado o custo de cada contratação de forma isolada.
80 Que impõe o somatório das despesas com objetos de mesma natureza no exercício
financeiro para os fins apurar-se o limite de dispensa
185
da despesa82 e com isso impedir que a Administração deixe de
cumprir seu dever constitucional de licitar, dar atendimento ao
dever de planejamento adequado da contratação e vão ao encontro
do entendimento do Tribunal de Contas da União, que há muito
tempo vem orientando seus jurisdicionados nesse sentido, como
se vê do teor das manifestações abaixo reproduzidas, exaradas à
luz das disposições da Lei 8.666/93:
(...)
186
dificuldade de desembolso de valores elevados que
seriam necessários para uma única compra. O que
se questiona, e configura a irregularidade apontada
pelo Controle Interno, é a utilização do parcelamento
de compras como pretexto para a não realização de
regular procedimento licitatório, sob a alegação de
que cada uma das aquisições foi em valores inferiores
a R$ 16.000,00, materializadas em 131 processos de
compras enquadrados como dispensa de licitação.”84
(grifou-se)
187
“[Prestação de contas da Superintendência Regional
do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária
(Incra) no Amazonas (SR(15)AM) referente ao exercício
de 2008.]
[ACÓRDÃO]
(...)
188
de despesa, que é prática irregular normalmente
caracterizada quando se divide despesa com a
finalidade de utilizar modalidade de licitação inferior
à fixada pela lei (art. 23, § 5o, da Lei 8.666/1993) para o
total do gasto, em certames com objetos da mesma
natureza, ou para efetuar contratação direta; b)
economia de escala, pois possibilita a identificação de
potenciais compras conjuntas; c) alocação planejada
da força de trabalho da área contratações, com o
mapeamento dos períodos nos quais as diversas
aquisições serão executadas; d) potencial aumento de
qualidade e eficiência dos certames nos casos em que
houver publicação do plano para a sociedade, haja vista
que, ao conhecer previamente o provável cronograma
das licitações, o mercado pode se programar para
oferecer melhores condições de fornecimento.”89
(grifou-se)
189
contratação de serviço, ou compra de determinado
produto.
190
valores globais que excedam o limite legal de dispensa
de licitação, caracteriza fracionamento indevido de
despesas?
(...)
91 PEREIRA JUNIOR, Jessé Torres e DOTTI, Marinês Restelatto. Mil perguntas e respostas
necessárias sobre licitação e contrato administrativo na ordem jurídica brasileira. Belo Horizonte:
Fórum, 2017, p. 244-245.
191
O dever de planejamento, aliás, ganhou destaque na nova
Lei de Licitações, que o elevou a princípio,92 e tem sua importância
enfatizada pela doutrina, conforme segue, respectivamente:
192
requisitos, que se inserem na fase interna da atividade
administrativa.
(...)
193
“Art. 72. O processo de contratação direta, que
compreende os casos de inexigibilidade e de dispensa
de licitação, deverá ser instruído com os seguintes
documentos:
94 Conceituado pelo inciso XX do art. 6° da Lei 14/133/2021 como: “XX - estudo técnico preliminar:
documento constitutivo da primeira etapa do planejamento de uma contratação que caracteriza o interesse
público envolvido e a sua melhor solução e dá base ao anteprojeto, ao termo de referência ou ao projeto básico a
serem elaborados caso se conclua pela viabilidade da contratação.”
95 Conceituado pelo inciso XXIII do art. art. 6° da Lei 14/133/2021 como: “XXIII - termo de referência:
documento necessário para a contratação de bens e serviços, que deve conter os seguintes parâmetros e elementos
descritivos: a) definição do objeto, incluídos sua natureza, os quantitativos, o prazo do contrato e, se for o caso, a
possibilidade de sua prorrogação; b) fundamentação da contratação, que consiste na referência aos estudos
técnicos preliminares correspondentes ou, quando não for possível divulgar esses estudos, no extrato das partes
que não contiverem informações sigilosas; c) descrição da solução como um todo, considerado todo o ciclo de
vida do objeto; d) requisitos da contratação; e) modelo de execução do objeto, que consiste na definição de como o
contrato deverá produzir os resultados pretendidos desde o seu início até o seu encerramento; f) modelo de gestão
do contrato, que descreve como a execução do objeto será acompanhada e fiscalizada pelo órgão ou entidade;
g) critérios de medição e de pagamento; h) forma e critérios de seleção do fornecedor; i) estimativas do valor da
contratação, acompanhadas dos preços unitários referenciais, das memórias de cálculo e dos documentos que lhe
dão suporte, com os parâmetros utilizados para a obtenção dos preços e para os respectivos cálculos, que devem
constar de documento separado e classificado; j) adequação orçamentária;”
194
II - estimativa de despesa, que deverá ser calculada na
forma estabelecida no art. 23 desta Lei;
195
Capítulo V da nova Lei –, o mesmo devendo ser observado, a rigor,
quando da aferição do atendimento do limite fixado para a dispensa
do valor, apesar de a Lei 14.133/2021 mencionar apenas o custo na
despesa no exercício financeiro, sob pena de restar caracterizado
o fracionamento indevido da despesa.
196
da dispensa em razão do valor. Logo, não significa a
impossibilidade de parcelar o objeto das contratações.
Inclusive, sempre que a divisão do objeto representar
vantagem, ela poderá (e, em alguns casos, deverá) ser
realizada. E mais: a dispensa em razão do valor será
cabível se, retomando o exemplo acima citado, as 10
parcelas, consideradas conjuntamente, traduzirem um
custo inferior aos limites estabelecidos nas disposições
legais em exame (R$100.000,00 ou R$50.000,00,
conforme o caso), variando de acordo com a natureza
da contratação.
197
A identificação da demanda deve naturalmente observar
as diretrizes de mercado. Logo, bens e serviços que
sejam integrantes de um mesmo gênero e, portanto,
circunscritos a idêntico segmento de mercado devem ser
agrupados e considerados conjuntamente. A adoção desse
procedimento permite a obtenção das melhores condições
de contratação.
99 Essa orientação não é desconhecida das Cortes de Contas em geral. Os precedentes que seguem,
provenientes do Tribunal de Contas da União e exarados à luz da Lei n° 8.666/93, demonstram a existência de uma
tendência em segui-la: “Abstenha-se de contratar serviços por dispensa de licitação quando o total das despesas
anuais não se enquadrar no limite estabelecido pelo art. 24, inciso II, da Lei n° 8.666/1993 (Acórdão 1705/2003
Plenário)”. “É correta a contratação por dispensa de licitação, quando os valores envolvidos enquadram-se nos
limites de que trata o art. 24, II, da Lei n° 8.666/1993. Quando mais de um procedimento tratar da mesma obra, deve
ser observada a modalidade de licitação pertinente à soma das contratações ou a contratação direta por dispensa
de licitação, caso esse valor se enquadre dentro do limite previsto no inciso I do art. 24 da Lei n° 8.666/1993 (Acórdão
120/2007 Segunda Câmara)”. “Realize planejamento de compras a fim de que possam ser feitas aquisições de
produtos de mesma natureza de uma só vez, pela modalidade de licitação compatível com a estimativa da totalidade
do valor a ser adquirido, abstendo-se de utilizar, nesses casos, o art. 24, inciso II, da Lei n° 8.666/1993 para justificar a
dispensa de licitação, por se caracterizar fracionamento de despesa (Acórdão 367/2010 Segunda Câmara).
198
Neste contexto, inserem-se os contratos suscetíveis
de prorrogação. Na hipótese, como o planejamento
deve avaliar globalmente as despesas, os contratos
passíveis de prorrogação deverão ser considerados a
partir da totalidade dos custos que eles podem gerar,
o que abrange, consequentemente, tanto o período de
duração ordinário para ele previsto como as possíveis
vigências extraordinárias, fruto de prorrogações.”100
(grifou-se)
100 GUIMARÃES, Edgar; SANTOS, José Anacleto Abduch. Lei das estatais: comentários ao regime
jurídico licitatório e contratual da lei n° 13.303/2016 (Locais do Kindle 719-753). Edição do Kindle.
199
Um ensaio sobre
“obras comuns
de engenharia”
na Nova Lei
de Licitações
e Contratos
Administrativos
Rafael Jardim Cavalcante
Um ensaio sobre “obras
comuns de engenharia”
na Nova Lei de Licitações e
Contratos Administrativos
Rafael Jardim Cavalcante101
201
hermenêuticos e frente a particularidades técnicas no universo da
engenharia e a arquitetura, propôs-se conceituar um obra comum de
engenharia como aquela corriqueira, cujos métodos construtivos,
equipamentos e materiais utilizados para a sua feitura sejam
frequentemente empregados em determinada região e apta de ser
bem executada pela maior parte do universo de potenciais licitantes
disponíveis e que, por sua homogeneidade ou baixa complexidade,
não possa ser classificada como obra especial. Por sua vez, obra
especial de engenharia é aquela que cuja parcela de experiência
exigida nos atestados de capacidade técnica refiram-se a obras,
sistemas ou subsistemas construtivos heterogêneos, complexos,
cujos métodos construtivos, equipamentos e/ou materiais tenham
sido realizados com maior raridade e/ou que imponham desafios
executivos incomuns para sua conclusão, suficientes a perfazer
um menor número de empresas aptas a demonstrar experiência na
sua feitura ou a demandar-lhes a medição específica de habilidade/
intelectualidade para a seleção da futura contratada.
202
linked to engineering and architecture universe, this article has
conceptualized a common public work like that commonplace,
which constructive methods, equipments and materials to
complete fulfillment are often used in specific region and able
do be correctly built up by the most part of available potential
bidders and, in face of its homogeneity or low complexity, cannot
be classified as a special engineering public work. In turn, a special
engineering public work is one whose share of experience required
in the certificates of technical capacity refer to heterogeneous
and complexes construction works, systems and subsystems,
whose construction methods, equipment and/or materials have
been carried out with greater rarity and/or which impose unusual
executive challenges for their completion, sufficient to make up a
smaller number of companies able to demonstrate experience in
their construction or to demand the specific measurement of skill/
intellectuality for the future contractor selection.
203
inédito no âmbito da Lei 8.666/93. Para essas “obras comuns”, tanto
se autoriza licitá-las, em alguns casos, sem a feitura de um projeto
básico completo de engenharia (art. 18, §3°, da Lei n°. 14.133/2021),
quanto se demanda um prazo inferior para apresentação das
propostas e lances, uma vez publicado o instrumento convocatório
(art. 55, inciso II, alínea ‘a’, da Lei n°. 14.133/2021).
204
I – para aquisição de bens:
205
bem-vinda a modificação reconhecer que, mesmo obras possam
apresentar diferentes graus de complexidade a exigir-lhe prazos
reduzidos para, quando cabível, oportunizar processos mais
céleres e eficientes, sem prejuízo a princípio da maior vantagem.
206
Segundo a Nova Lei de Licitações e Contratos, uma obra é
agora conceituada como sendo “toda atividade estabelecida, por
força de lei, como privativa das profissões de arquiteto e engenheiro
que implica intervenção no meio ambiente por meio de um conjunto
harmônico de ações que, agregadas, formam um todo que inova o
espaço físico da natureza ou acarreta alteração substancial das
características originais de bem imóvel” (art. 6°, inciso XII). Trata-se
de um conceito mais “correto”, porém mais impreciso, que o até
então guardado pelo art. 6°, inciso I, da Lei 8.666/83 – a conceituar
uma obra apenas em forma exemplificativa: “Obra - toda construção,
reforma, fabricação, recuperação ou ampliação, realizada por
execução direta ou indireta”.
207
um projeto básico, tal qual assevera o art. 6°, inciso XXV, do novel
diploma licitatório. A licitação, com base no art. 18, §3°, da nova
Lei de Licitações, poderia ser realizada somente com um termo de
referência, ainda que se trate de uma obra. Nada mais prático e
produtivo.
208
3. O desafio de conceituar “obras comuns de
engenharia”
No caso de obras; serviços; bens e serviços comuns; bens
e serviços especiais; serviços de engenharia; serviços comuns de
engenharia; e serviços especiais de engenharia, o texto legal do
novo diploma geral licitatório tratou de bem defini-los:
(...)
209
XXI – serviço de engenharia: toda atividade ou conjunto
de atividades destinadas a obter determinada
utilidade, intelectual ou material, de interesse para a
Administração e que, não enquadradas no conceito de
obra a que se refere o inciso XII do caput deste artigo,
são estabelecidas, por força de lei, como privativas das
profissões de arquiteto e engenheiro ou de técnicos
especializados, que compreendem:
210
em um catálogo ou em uma “prateleira”. A especificação também
precisa ser “dimensionada”; trata-se de uma descrição específica,
impassível de ser múltiplas vezes replicada; e daí a necessidade
de um projeto básico, para além de um termo de referência. Como
já dito, no mais das vezes, mesmo obras comumente exigem uma
descrição e caracterização única para a sua perfeita definição e
“especificações usuais de mercado” não tem o poder de conceituar
uma “obra comum”.
211
uma heterogeneidade de demonstração de experiências, em
face dos materiais, equipamentos e métodos construtivos
exigíveis. Nessa tônica, obras especiais podem ser tidas como
obras heterogêneas, complexas, cujos métodos construtivos,
equipamentos e/ou materiais tenham sido realizados com maior
raridade e/ou que imponham desafios executivos incomuns para sua
conclusão, suficientes a perfazer um menor número de empresas
aptas a demonstrar experiência na sua feitura ou a demandar-lhes
a medição específica de habilidade/intelectualidade para a seleção
da futura contratada.
212
Contratos), conjuminam-se diversos e subsistemas construtivos
para a formação de um objeto único denominado “obra”. Alguns
desses sistemas construtivos, pela sua especialidade e em face
a desafios impostos pelo meio-ambiente ou pelo próprio uso,
demandam soluções pouco usuais; e até únicas. Mas dificilmente
isso se replica na obra por inteiro. Diga-se, inclusive, que via de
regra somente se solicita experiências de capacidade técnica para
uma parcela do objeto. Nessa acepção, surge outra interrogação
relacionada a viabilidade de se classificar uma obra como especial
se apenas alguns de seus sistemas construtivos forem complexos
e não usuais. Para a resposta, necessário o socorro de conceitos
relacionados à habilitação técnica.
213
de licitantes, quando se solicita a apresentação de atestados
a comprovar a realização de atividade semelhante. As demais
parcelas acessórias – mesmo que atípicas – podem se for o caso
serem subcontratadas, sem o risco para a compleição da obra
como um todo.
104 Possibilidade de se licitar com termo de referência, caso não haja prejuízo à aferição
dos padrões de desempenho e qualidade almejados; e prazo entre a publicação do edital e a
apresentação das propostas e lances de dez dias.
214
Crê-se que a proposição tenha o condão de oferecer maior
segurança jurídica e objetividade aos agentes de contratação nas
decisões afetas à prévia classificação das obras de engenharia,
sem oferecer uma burocratização desmedida no processo.
Conclusão
Entre as novidades albergadas pela Nova Lei de Licitações
e Contratos, está a qualificação da expressão “obras comuns de
engenharia”. Para tais objetos, tanto se autoriza licitá-las sem
a feitura de um projeto básico completo de engenharia (art. 18,
§3°, da Lei 14.133/2021), quanto se demanda um prazo inferior
para apresentação das propostas e lances, uma vez publicado
o instrumento convocatório (art. 55, inciso II, alínea ‘a’, da Lei
14.133/2021).
215
empregados naquela região e se apresenta apta de ser bem
executada pela maior parte do universo de potenciais licitantes
disponíveis. A maior parte das obras têm de ser classificadas como
tal.
216
métodos construtivos, equipamentos e/ou materiais tenham
sido realizados com maior raridade e/ou que imponham desafios
executivos incomuns para sua conclusão, suficientes a perfazer
um menor número de empresas aptas a demonstrar experiência na
sua feitura ou a demandar-lhes a medição específica de habilidade/
intelectualidade para a seleção da futura contratada.
Referências
ALTOUNIAN, Cláudio Sarian – Obras Públicas – Licitação,
contratação, fiscalização e utilização. 5. Ed. Ver e atualizada – Belo
Horizonte: Fórum 2016.
217
A questão da
inexequibilidade
das propostas
segundo a Nova
Lei de Licitações
Ana Carolina Coura Vicente Machado
A questão da inexequibilidade
das propostas segundo a Nova
Lei de Licitações
Ana Carolina Coura Vicente Machado105
106 Aqui é importante registrar que no pregão, e agora nas modalidades que adotarem o
modo de disputa aberto, o exame da exequibilidade das propostas deve ocorrer, em regra, após o
encerramento da fase competitiva do certame (lances), salvo em casos excepcionais, quando os
lances ofertados configurarem preços simbólicos, irrisórios ou de valor zero, gerando presunção
absoluta de inexequibilidade, situação em que se admitirá a exclusão de lance durante a etapa
competitiva da licitação. Nesse sentido, confira-se o Acórdão 674/2020-Plenário/TCU.
219
Nas palavras de Marçal Justen Filho, “existe uma grande
dificuldade prática na identificação do patamar mínimo de
inexequibilidade. A Administração não dispõe de condições
precisas e exatas sobre os custos do particular, o que torna a
discussão sempre muito problemática”.107
107 JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. 16.
ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014, p. 870.
220
comprove a exequibilidade do preço apresentado. Nessa linha
segue a jurisprudência do Tribunal de Contas da União:
221
“534. Como deve proceder a comissão de licitação
ou o pregoeiro diante de indícios de ser inexequível a
proposta?
(...)
112 PEREIRA JUNIOR, Jessé Torres; DOTTI, Marinês Restelatto. 1000 perguntas e
respostas necessárias sobre licitação e contrato na ordem jurídica brasileira. Belo Horizonte:
Fórum, 2017, p. 840.
222
§ 1° A verificação da conformidade das propostas
poderá ser feita exclusivamente em relação à proposta
mais bem classificada.
223
(inc. IV). Ademais, de modo específico, o art. 59, § 4°, prevê que
“No caso de obras e serviços de engenharia, serão consideradas
inexequíveis as propostas cujos valores forem inferiores a 75%
(setenta e cinco por cento) do valor orçado pela Administração”.
224
de modo objetivo114, entende-se que irá permanecer a lógica
expressa na Súmula 262/TCU, no sentido de que o critério
matemático, em regra, conduz a uma presunção relativa, devendo
ser oportunizado à empresa a comprovação da exequibilidade da
oferta:
225
Enfim, sem deixar de brindar as inovações trazidas em outros
aspectos do processo licitatório e sem querer retirar o brilho da Lei
14.133/2021, dando antigos contornos ao novel texto legal, neste
ponto específico julgamos salutar a manutenção desta ideia, de que
que cabe à Administração, diante de propostas presumidamente
inexequíveis, conceder, antes da desclassificação, oportunidade
para que o particular demonstre a viabilidade dos valores
ofertados, já que o exame dessa questão, como visto incialmente,
pode variar conforme cada caso concreto e a realidade de mercado
em que está inserido o objeto do certame. Dessa maneira, se evita
o excesso de rigor no julgamento da licitação, em benefício dos
princípios que informam esse procedimento, em especial os da
eficiência, economicidade, proporcionalidade e razoabilidade.
226
O exame prévio
de legalidade
dos processos
licitatórios
previsto para
a nova lei de
licitações.
Luiz Cláudio de Azevedo Chaves
O exame prévio de legalidade
dos processos licitatórios
previsto para a nova lei de
licitações.
Luiz Cláudio de Azevedo Chaves115
Resumo:
Jamais se negou a importância da atuação do advogado público
no controle da legalidade dos atos administrativos, com especial
relevo, aqueles relacionados aos atos de realização de despesa
pública. O art. 38, parágrafo único da Lei no. 8.666/1993, ainda
vigente por mais dois anos, prevê como condição de regularidade
processual que as minutas de editais e de contratos e afins sejam
228
examinadas previamente e aprovadas por parecer jurídico. Tal
condição sempre gerou controvertidos debates acerca do grau de
responsabilização que o advogado público assumiria na hipótese
de o gestor, com fulcro em seu parecer, viesse a realizar ato lesivo
ao erário ou ilegal. A Lei no. 14.133/2021 veio aclarar alguns pontos
sobre a matéria, trazendo um novo olhar sobre a atuação das
Assessorias Jurídicas dos órgãos e entidades do Poder Público.
Palavras-chaves
Licitação. Contratação Pública. Assessor Jurídico.
Summary:
The importance of the performance of the public lawyer in controlling
the legality of administrative acts has never been denied, with
special emphasis on those related to acts of carrying out public
expenditure. Art. 38, sole paragraph of Law no. 8,666 / 1993, still
in force for two more years, provides as a condition of procedural
regularity that the drafts of notices and contracts and the like are
previously examined and approved by legal opinion. Such a condition
Keywords
Bidding. Public Procurement. Legal Advisor.
229
1. O papel da Assessoria Jurídica na Lei n°. 8.666/1993
Uma mudança discreta, porém importante, se confirmou
no texto da Lei n°. 14.133/2021, que carrega a nova lei de licitações
e contratos da Administração Pública. Trata-se do exame prévio
de legalidade dos processos licitatórios, a cargo das assessorias
jurídicas dos órgãos e entidades do Poder Público.
Art. 38
230
jurídica deste parecer, bem como a extensão da responsabilidade
do parecerista frente às suas orientações, a depender da natureza
de sua manifestação. Isto porque, como se lê da transcrição supra,
o parecer a ser emitido pelo órgão jurídico da Administração seria
de aprovação das minutas de editais, contratos, convênios e seus
aditamentos. Surgiu a pergunta: o Gestor público, de posse do
parecer formulado no exercício da competência do art. 38, par.
único da L. 8.666/1993, estaria obrigado a decidir nos termos
propostos pelo parecerista? A doutrina clássica entende que não.
117 GASPARINI, Diógenes, Direito Administrativo.17a. ed., São Paulo: Saraiva, 2012
118 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro.40a ed., São Paulo: Malheiros, 2014
119 Manual de Direito Administrativo. 27ª, São Paulo: Atlas, 2014, p. 139.
120 Direito Administrativo, Atlas 2011, p. 241 e segs., apud MELLO, Oswaldo Aranha Bandeira
de. Princípios gerais de direito administrativo. 3ª ed., São Paulo: Malheiros, 2007, p. 583. No mesmo
sentido, MELLO, Celso Antônio Bandeira de, Op. Cit., 446.
231
O parecer é obrigatório quando a lei o exige
como pressuposto para a prática final do ato. A
obrigatoriedade diz respeito à solicitação do parecer (o
que não lhe imprime caráter vinculante). Por exemplo,
uma lei que exija parecer jurídico sobre todos os
recursos encaminhados ao Chefe do Executivo; embora
haja obrigatoriedade de ser emitido o parecer sob pena
de ilegalidade do ato final, ele não perde seu caráter
opinativo. Mas a autoridade que não o acolher deverá
motivar sua decisão [...].
232
prejuízo da responsabilidade de quem se omitiu no
atendimento.
121 FERRAZ, Sérgio e DALLARI, Adilson Abreu. Processo administrativo. São Paulo:
Malheiros, 2001, p. 140-141.
122 Cautelas para Formalização de Parecer Jurídico, apud BANDEIRA DE MELLO, Oswaldo
Aranha. Princípios gerais de direito administrativo. 2ª. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1979, p. 577.
Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_
leitura&artigo_id=2636
233
permitido até mesmo o “deixar de agir”. Nesse caso,
o parecer do órgão consultivo, extrapolando suas
funções usuais consoante regência legal autorizadora,
caracteriza:
234
contratos, convênios e seus aditamentos; não faz referência aos
atos de dispensa e inexigibilidade. Os requisitos formais de eficácia
do processo de contratação direta estão descritos no art. 26, par.
único do mesmo diploma legal:
III - justificativa do preço.
235
2. Análise do papel da assessoria jurídica na Lei n°.
14.133/2021
O texto sancionado pelo Presidente da República, traz novos
contornos quanto às competências do órgão consultivo jurídico. O
novo texto apresenta a seguinte redação:
III – VETADO123
§ 2° VETADO124
123 III - dar especial atenção à conclusão, que deverá ser apartada da fundamentação, ter
uniformidade com os seus entendimentos prévios, ser apresentada em tópicos, com orientações
específicas para cada recomendação, a fim de permitir à autoridade consulente sua fácil
compreensão e atendimento, e, se constatada ilegalidade, apresentar posicionamento conclusivo
quanto à impossibilidade de continuidade da contratação nos termos analisados, com sugestão de
medidas que possam ser adotadas para adequá-la à legislação aplicável
236
[…]
§ 6° - VETADO125.
237
Contudo, o Presidente da República houve por bem vetar o
citado dispositivo, considerando que sua interpretação poderia
conduzir à percepção que o parecerista seria corresponsável pelo
ato de gestão. Além disso, entendeu o Presidente que o teor do
dispositivo poderia desestimular o gestor a tomar medidas não
chanceladas pela assessoria jurídica.
238
A redação prevista para o § 4° passa a dar, nas contratações
diretas, o mesmo caráter da análise de juridicidade das minutas
de editais, contratos e convênios que hoje temos na legislação em
vigor. Ou seja, os processos de contratação direta também deverão
ser instruídos com parecer e este terá natureza vinculante caso a
manifestação seja de rejeição.
128 Para as estatais, art. 30, caput da L. 13.303/2016; para as entidades do Sistema S, art.
10, caput do Regulamento de Licitações e Contratos
239
Como em muitos órgãos o volume dessas contratações
é bastante significativo, claro que a quantidade de processos a
serem submetidos à análise jurídica também é elevada. Tratando-
se de matéria massificada (vários processos para serem decididos
pela mesma tese jurídica), o órgão consultivo jurídico pode elaborar
um parecer no qual reconheceria ser hipótese de inexigibilidade de
licitação a inscrição de servidores em cursos e eventos abertos
a terceiros, o que tornaria dispensável, para estes casos, a ida
dos autos ao órgão consultivo para fins de produção de parecer
autônomo, tornando a contratação mais célere e desafogando as
mesas de trabalho dos assessores jurídicos.
240
1.504/2005, Plenário, Processo n° 001.936/2003-1,
Relator Min. Walton Alencar Rodrigues)
241
Finalmente, o § 6° do art. 53 do PL 4253/2020 não sobreviveu
à sanção presidencial, tendo sido igualmente vetado.
129 SILVA, De Plácido e, Vocabulário Jurídico, 25ª ed, at. Nagib Slaibi Filho e Glaucia
Carvalho., Forense: 2004.
242
Art. 28. O agente público responderá pessoalmente por
suas decisões ou opiniões técnicas em caso de dolo ou
erro grosseiro.
243
preços máximos nos editais de licitação não é prova
de que tenha sido realizada pesquisa de preço. Aliás,
a existência comprovada de superfaturamento na
licitação torna óbvio que os valores lançados no edital
não poderiam ter resultado de uma pesquisa de preços
autêntica. VISTOS, (...) julgou irregulares as contas
do responsável, imputando-lhe débito decorrente
da prática de superfaturamento na aquisição de
equipamentos hospitalares com recursos recebidos
por meio dos Convênios n° 1.718/97 e 1.839/97, firmados
com o Fundo Nacional de Saúde – Funasa, bem assim
imputou-lhe a multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei
n° 8.443/92 pela prática de inúmeras irregularidades
relativas à execução dos mencionados convênios.
(Acórdão n° 1.498/2005, Plenário)
3. Conclusões
De tudo que foi visto acima, pode-se perceber que houve um
certo avanço em termos normativos, com relação às atribuições
e competências da Assessoria Jurídica no controle prévio de
244
O veto ao § 2° mantem a percepção de que o parecer
permanece com caráter vinculante, desde que desfavorável. Evitou-
se atribuir maior poder de decisão ao Gestor, se considerado que
a Lei no. 8.666/1993 não lhe conferia a prerrogativa de dissentir do
parecer em caso de reprovação do ato.
245
A Nova Lei de
Licitações e
Contratos e a
ampliação da
utilização do
Procedimento
de Manifestação
de Interesse
Cristiana Fortini
Mariana Bueno Resende
A Nova Lei de Licitações e
Contratos e a ampliação da
utilização do Procedimento de
Manifestação de Interesse
Cristiana Fortini130*
Mariana Bueno Resende131*
1. Introdução
O nascimento do Direito Administrativo traz consigo o
surgimento do ato administrativo, como manifestação unilateral
sujeita a regime jurídico de direito público, vocacionado ao exercício
da atividade de polícia, tarefa estatal precípua. O elemento da
unilateralidade acaba por marcar a atuação administrativa por
anos, alimentado ainda pela compreensão de que o interesse
público a ser definido intramuros reclamaria postura inconciliável
com a participação privada.132 133 As muralhas a apartar a forma
131 *
Mestra em Direito Administrativo pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Assessora
de Conselheiro no Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais (TCE/MG). Advogada e professora.
132 NETTO, Luísa Cristina Pinto e. A contratualização da função pública. Belo Horizonte:
Del Rey, 2005. p. 30.
247
privada de agir daquela considerada imperiosa no cenário público,
bem como a dicotomia entre interesse público e privado a sugerir
que o atingimento do último decorreria do desapreço pelo primeiro
foram erguidas com largo substrato doutrinário134 135
135 Para Hely Lopes Meirelles “enquanto o Direito Privado repousa sobre a igualdade das
partes na relação jurídica, o Direito Público assenta em princípio inverso, qual seja, o da supremacia
do Poder Público sobre os cidadãos, dada a prevalência dos interesses coletivos sobre os individuais”.
137 É verdade que a Lei 8.666/93 já assegura algum espaço para atuação privada, quando prevê a
submissão do edital à audiência pública sempre que o valor estimado para uma licitação ou para um conjunto
de licitações simultâneas ou sucessivas for superior a cem vezes o limite previsto no art. 23, inciso I, alínea
“c” da lei (um milhão e quinhentos mil reais). Contudo, nas audiências públicas a que se refere o artigo 39 da
Lei 8.666/93 a atuação privada se dá em momento posterior à opção administrativa à definição do objeto e
da melhor formatação para a contratação. Portanto, ainda que exista espaço para críticas e sugestões de
operadores econômicos e outros particulares, elas ocorrerão após findo, ao menos sob certo aspecto, o
procedimento de preparação do certame. A isso se soma que, no âmbito da Lei 8.666/93, a audiência pública
é etapa exigida apenas para situações que envolvem contratações com valores estimados elevados. Nesse
sentido, importante salientar que o artigo 21 da Lei 14.133/2021 altera, em sentido contrário ao movimento de
participação e transparência das contratações públicas, a sistemática das audiências públicas, uma vez que
deixa a critério do administrador público, mesmo em contratos de grande vulto, a sua convocação. Assim,
resta o recurso à impugnação (art. 164), instrumento destinado à indicação de irregularidades e solicitação de
esclarecimentos quando o edital já está concluído e publicado. Em que pese o potencial do mecanismo como
contribuição à melhoria dos editais, sua eficácia depende, fundamentalmente, da seriedade dos gestores na
análise dos apontamentos e verificação da sua pertinência.
248
a Lei 14.133/2021, Nova Lei de Licitações e Contratos, reconhece
que os privados podem agregar informações úteis à produção de
atos convocatórios e seus anexos138 e prevê, em âmbito nacional,
para licitações e contratos em geral, a utilização do procedimento
de manifestação de interesse - PMI, instrumento que surgiu na Lei
8.987/95, como se verá a seguir.
138 Ao tratarem da necessidade de reforma da Lei de Licitações e Contratos, Carlos Ari Sundfeld
e Floriano de Azevedo Marques Neto defendem que “a outorga às autoridades de poderes para buscar
soluções negociadas com particulares, em procedimentos passíveis de controle, é positiva para que se
alcance um índice mais elevado de cumprimento de obrigações, para diminuir incertezas e para eliminar
ou abreviar conflitos. É viável produzir, em lei, uma disciplina desses poderes que seja capaz de conciliar
a flexibilidade de que a autoridade precisa para poder negociar com as limitações indispensáveis à
proteção do interesse geral.” (SUNDFELD. Carlos Ari; MARQUES NETO. Floriano de Azevedo. Uma nova
lei para aumentar a qualidade jurídica das decisões públicas e seu controle. In: SUNDFELD. Carlos Ari.
Contratações públicas e seu controle. São Paulo: Malheiros, 2013. P. 279)
249
2. O Procedimento de Manifestação de Interesse no
ordenamento jurídico brasileiro
O procedimento de manifestação de interesse não é novidade
no cenário das contratações públicas brasileiras. Inicialmente
previsto no artigo 21 da Lei 8.987/95, Lei Geral de Concessões e
Permissões de Serviços Públicos, e na Lei 11.079/2004, que institui
as Parcerias Público-Privadas139, seu uso foi se expandindo ao
longo dos anos.
140 “Nesse sentido, o art. 71, II, do Decreto federal n° 8.945/16, o regime de licitação e
contratação da Lei n° 13.303/16 é autoaplicável, exceto quanto ao procedimento de manifestação
de interesse privado para o recebimento de propostas e projetos de empreendimentos de que trata
o §4° do art. 31 da Lei, o que significa que as empresas estatais federais devem estabelecer, em
regulamento interno, os requisitos e condições necessários à aplicabilidade desse dispositivo.”
(PEREIRA JÚNIOR, Jessé Torres; DOTTI, Marinês Restelatto. Comentários - Artigos 28-
67. In: PEREIRA JÚNIOR, Jessé Torres; HEINEN, Juliano; DOTTI, Marinês Restelatto; MAFFINI,
Rafael (Coord.). Comentários À Lei das Empresas Estatais: Lei N° 13.303/16. Belo Horizonte: Fórum,
2019. p. 253)
250
Direito decorrem exigências de uma atuação estatal transparente,
que possibilite efetiva influência nas decisões, seja por meio da
participação direta ou do controle exercido.
141 BONATTO, Hamilton; OLIVEIRA, Rafael Sérgio Lima de. A Admissão do Projetista na
Execução do Contrato e a Nova Lei de Licitações. Disponível em: www.licitacaoecontrato.com.br.
Acesso em: 11 fev. 2021.
251
privada, de arrendamento de bens públicos ou de concessão de
direito real de uso” e passando a subsidiar a administração pública
na estruturação de “desestatização de empresa e de contratos de
parcerias, nos termos do disposto no §2° do art. 1° da Lei n. 13.334,
de 13 de setembro de 2016”143.
143 “Neste ponto cumpre rememorar que contratos de parceria, nos termos da Lei
n. 13.334/2016, criadora do Programa de Parcerias de Investimentos – PPI, são ‘a concessão
comum, a concessão patrocinada, a concessão administrativa, a concessão regida por legislação
setorial, a permissão de serviço público, o arrendamento de bem público, a concessão de direito
real e os outros negócios público-privados que, em função de seu caráter estratégico e de sua
complexidade, especificidade, volume de investimentos, longo prazo, riscos ou incertezas
envolvidos, adotem estrutura jurídica semelhante’ (art. 1°, §2°, Lei n. 13.334/2016).” (FORTINI,
Cristina; RAINHO, Renata Costa. Mudanças no procedimento de manifestação de interesse em face
do decreto 10.104/2019. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2019-nov-28/interesse-publico-
mudancas-manifestacao-interesse-diante-decreto-101042019?pagina=2. Acesso em: 11 fev. 2020)
252
A primeira fase se dá com a publicação do edital de
chamamento público, que deve delimitar o escopo mediante
termo de referência dos projetos, levantamentos, investigações
ou estudos, podendo se restringir à indicação do problema a ser
resolvido, deixando ao setor privado a possibilidade de sugerir
diferentes meios para sua solução144.
253
O valor para ressarcimento, conforme artigo 4°, §5°,
será fundamentado em prévia justificativa técnica que leve
em consideração a complexidade dos estudos ou a elaboração
de estudos similares, não podendo ultrapassar 2,5% do valor
total estimado previamente pela administração pública para os
investimentos necessários à implementação do empreendimento
ou para os gastos necessários à sua operação e à manutenção
(deve ser utilizado o valor que for maior).
254
utilização do mecanismo145.
255
Fato é que a exclusividade pode ser, ainda que assim
possa não parecer, um atrativo a mais à iniciativa
privada. A exclusividade pode florescer o interesse do
mercado e endereça-lo à administração pública, diante
de chances mais reais de influenciar um possível novo
edital, além de potencializar a chance de ressarcimento.
256
Também sobre a autorização, o Decreto n. 8.428/2015 prevê
que ela poderá ser cassada, revogada, anulada ou tornada sem
efeito, sem haver direito de ressarcimento dos valores envolvidos
na elaboração de projetos, levantamentos, investigações e
estudos.
257
Em sequência, o resultado do PMI será divulgado por meio de
publicação no Diário Oficial da União e de divulgação na internet.
Em atendimento às diretrizes da lei de acesso à informação (Lei
12.527/11), o decreto determina que os projetos e estudos serão
divulgados após a decisão administrativa.
258
configura instrumento benéfico e consentâneo com a participação
democrática.
147 FORTINI, Cristiana; RESENDE, Mariana Bueno. A função social das contratações
públicas: um olhar para além do Brasil. In: PÉRCIO, Gabriela Verona; FORTINI, Cristiana
(Coord.). Inteligência e Inovação em Contratação Pública. Belo Horizonte: Fórum, 2020. Disponível
em: https://www.forumconhecimento.com.br/livro/4127/4310/28811. Acesso em: 6 fev. 2021.
148 Para tanto, permite a elaboração de PMI restrito a startups, assim considerados:
(...)“os microempreendedores individuais, as microempresas e as empresas de pequeno porte, de
natureza emergente e com grande potencial, que se dediquem à pesquisa, ao desenvolvimento e
à implementação de novos produtos ou serviços baseados em soluções tecnológicas inovadoras
que possam causar alto impacto, exigida, na seleção definitiva da inovação, validação prévia
fundamentada em métricas objetivas, de modo a demonstrar o atendimento das necessidades da
Administração”.
259
Não se pode olvidar que a autonomia vem acompanhada
do ônus de disciplinar o procedimento “estabelecendo padrões que
assegurem tratamento isonômico entre os interessados, a escolha
eficiente dos projetos, a devida publicidade dos atos praticados,
etc.”149 Nesse sentido, o Tribunal de Contas da União já entendeu
que:
149 JURKSAITIS, Guilherme Jardim; ISSA, Rafael Hamze. Notas sobre contratações
públicas na Lei das Estatais. Fórum de Contratação e Gestão Pública - FCGP, ano 19, n. 178, p.
página inicial-página final, out. 2016. Disponível em: https://www.forumconhecimento.com.br/
periodico/138/21486/54303. Acesso em: 11 fev. 2021.
150 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Relator Ministro Walton Alencar Rodrigues.
Acórdão n° 273/2016 – TCU – Plenário. Data da Sessão: 17/02/2016.
260
do setor privado para a elaboração de projetos de concessões.
Referido mecanismo serviu como inspiração para a criação, por
meio da nova legislação, de nova modalidade licitatória denominada
diálogo competitivo.
261
4. Principais desafios na utilização do PMI
A análise da jurisprudência do Tribunal de Contas da União
sobre o tema demonstra que questão central nos procedimentos
de manifestação de interesse é a previsão de parâmetros objetivos
para remuneração do privado155.
156 BRASIL. Tribunal de Contas da União. Relator Ministro Walton Alencar Rodrigues. Acórdão n°
273/2016 – TCU – Plenário. Data da Sessão: 17/02/2016.
158 Ainda sobre a remuneração, o Tribunal de Contas da União entendeu que, considerando-se os riscos
inerentes à participação no procedimento, “que possui intrínseca a natureza de relação de precariedade entre Poder
Público e consultores”, o mercado de consultores de PMI possui contexto de preço diferenciado em relação aos demais
consultores. (BRASIL. Tribunal de Contas da União. Relator Ministro Vital do Rêgo. Acórdão n° 3164/2020 – TCU – Plenário.
Data da Sessão: 25/11/2020) Nesse cenário, apontou que “é difícil conceber a ideia de um ressarcimento em que não
haja compensação em função dos riscos assumidos, sob pena até de inviabilizar a obtenção de subsídios às futuras
concessões.” (BRASIL. Tribunal de Contas da União. Relator Ministro Walton Alencar Rodrigues. Acórdão n° 273/2016 –
TCU – Plenário. Data da Sessão: 17/02/2016)
262
Outro fator capaz de enfraquecer a utilização dos
procedimentos de manifestação de interesse em longo prazo é a
frustração da confiança depositada nos administradores públicos
diante da baixa conversão dos procedimentos de manifestação de
interesse em efetivas contratações.159
159 “A principal razão da diminuta efetividade do PMI parece ser o expressivo risco a ser assumido
pelos interessados de, mesmo após terem sido autorizados pelo Poder Público, gastarem tempo e recursos para
elaborarem estudos que não serão selecionados e, portanto, não serão objeto de ressarcimento, ou realizar estudos
263
O interesse público em determinado projeto, portanto,
deve ser avaliado no momento da decisão pela realização do
procedimento de manifestação de interesse. Obviamente que,
diante da análise das informações colhidas, o interesse público
pode deixar de existir, hipótese que exige fundamentação devida
por parte do administrador público.
264
e iniciativa privada pode facilitar a captura161 da administração
pública, beneficiando-se setores mais organizados, que detém
meios econômicos e políticos de influenciar, de forma desigual, as
decisões administrativas.
162 “O êxito das contratações não depende apenas de variáveis objetivas e, por isso, o legislador
também se preocupou com as pessoas que executarão a Lei. Para estimular a profissionalização, outro
eixo estruturante do PL, requer que a alta administração promova a gestão por competências, a exigir
avaliação da estrutura de recursos humanos, identificação das competências necessárias para cada
163 Nesse sentido, o PMI é apenas uma das formas de que a Administração Pública dispõe para se valer da
expertise privada na modelagem das contratações, podendo também utilizar a contratação de consultoria especializada,
mediante realização de licitação e, eventualmente, da contratação direta. Sobre esse aspecto, importante mencionar
que a Lei 14.133/2021 possibilita a contratação por inexigibilidade dos serviços técnicos especializados discriminados no
inciso III do art. 74, entre eles “estudos técnicos, planejamentos, projetos básicos ou projetos executivos”. Observa-se,
contudo, que nas referidas contratações há exigência prévia de disponibilidade orçamentária, uma vez que os valores
relativos aos estudos selecionados serão pagos pela administração em sua integralidade e que o consultor não poderá
participar da futura licitação.
265
5. Conclusões
A expansão do procedimento de manifestação de interesse
– PMI para o âmbito das contratações públicas em geral reflete o
movimento vivenciado na Administração Pública de abertura à
participação privada e consensualidade, permitindo-se a utilização
do conhecimento e experiência da iniciativa privada na modelagem
das contratações públicas.
266
REFERÊNCIAS
ARAGÃO, Alexandre Santos de. A supremacia do interesse público
no advento do Estado de Direito e na hermenêutica do Direito público
contemporâneo. Revista Brasileira de Direito Público - RBDP, ano 18, n. 8,
jan./ mar. 2005. Disponível em: https://www.forumconhecimento.com.
br/periodico/129/344/3463. Acesso em: 4 mar. 2021.
__________; AMORIM, Rafael Amorim de. Um novo olhar para a futura lei
de licitações e contratos administrativos: a floresta além das árvores.
267
Disponível em: <http://www.licitacaoecontrato.com.br/artigo_detalhe.
html>. Acesso em: 11 fev. 2020.
268
PEREIRA, Bruno Ramos; VILELLA, Mariana; SALGADO, Valério.
Procedimento de manifestação de interesse nos estados: Atualização
do relatório sobre projetos de PPP em fase de estruturação via PMI.
Observatório das Parcerias Público-Privadas, 2013. Disponível em:
<http://documents1.worldbank.org/curated/en/560271525341929281/
text/WP-BR-Estruturacao-de-Projetos-de-PPP-e-Concessao-no-
Brasil-PUBLIC.txt> Acesso em: 14 fev. 2021.
269
DURAÇÃO E
PRORROGAÇÃO
DOS CONTRATOS
ADMINISTRATIVOS
José Anacleto Abduch Santos
DURAÇÃO E PRORROGAÇÃO DOS
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
José Anacleto Abduch Santos164
RESUMO
O artigo objetiva a análise das modificações no regime jurídico
referente à duração e prorrogação dos contratos administrativos
que serão produzidas no sistema jurídico brasileiro à luz da nova
Lei de Licitações e Contratações, publicada no Diário Oficial da
União em 01 de abril de 2021 sob o n°. 14.133/2021, que cria um novo
marco legal para substituir as Leis n° 8.666/93, n° 10.520/02 e n°
12.462/11. Será feita uma abordagem sucinta de temas relacionados
à duração dos contratos administrativos, inovações legislativas e
limites e possibilidades relacionados à definição e à gestão dos
prazos contratais.
1. Introdução
271
público pela via contratual.165
272
adicional de 12 meses, em caráter excepcional, devidamente
justificado e mediante autorização da autoridade superior.
273
n° 12.462, de 4 de agosto de 2011, somente após decorridos 2 (dois)
anos desta referida publicação oficial (art. 193, II).
274
em curso, de acordo com o respectivo cronograma (art. 7°, § 2°,
III)167. No que diz às compras, há a disposição de que “nenhuma
compra será feita sem a adequada caracterização de seu objeto e
indicação dos recursos orçamentários para seu pagamento” (art.
14).168
275
No caso da contratação direta, há referência específica à
necessidade de “demonstração da compatibilidade da previsão de
recursos orçamentários com o compromisso a ser assumido” (art.
72, IV).
276
inscrição em Restos a Pagar” (art. 2°). E o planejamento adequado
da realização de despesas públicas, elemento substancial da
gestão fiscal responsável, deve contemplar a previsão de recursos
orçamentários como antecedente à realização de qualquer
despesa.
277
de dezembro de cada exercício. Esta vinculação da duração do
contrato administrativo à vigência do crédito orçamentário que dá
suporte à contratação não é adequada e por vezes causa entraves
desnecessários à gestão administrativa, embora certo que ao
longo dos anos se foi dando interpretação à norma mais ajustada
às necessidades administrativas, como aquela produzida pela
Advocacia Geral da União e expressada na Orientação Normativa n°
39/2011, com a seguinte redação:
278
5. Duração dos contratos de prestação de serviços
contínuos e de fornecimentos contínuos, de locação
de equipamentos e utilização de programas de
informática.
A Lei n° 8666/93, como antes visto, preceitua que
os contratos de prestação de serviços contínuos podem ser
celebrados e prorrogados pelo prazo de até sessenta meses
(art. 57, II); e que os contratos de locação de equipamentos e de
utilização de programas de informática podem ser prorrogados por
até 48 (quarenta e oito) meses (art. 57, IV). A nova lei equiparou o
regime de duração destes contratos.
279
Estes contratos de prestação de serviços contínuos ou de
fornecimentos contínuos, bem como os de locação de equipamento
e os de utilização de programas de informática podem, com fulcro
na norma nova, ser celebrados por até 5 (cinco) anos, vale dizer,
o prazo contratual inicial pode ser fixado, de imediato, por tal
prazo169.
280
se aplicada em termos literais, que a Administração Pública realize
despesa sem que exista crédito orçamentário para lhe dar suporte,
ainda que por breve período de tempo. Portanto, é preciso dar à
norma interpretação sistemática e conforme à Constituição.
281
6. Possibilidade de celebração e de prorrogação de
contratos administrativos pelo prazo de até dez
anos
Uma inovação significativa da Lei é a possibilidade de
que os contratos administrativos possam ser celebrados e/ou
prorrogados pelo prazo de até 10 (dez) anos – vigência decenal (art.
107). Um contraste notável em relação ao regime da Lei n° 8666/93,
que, como dito, admite em regra prazos contratuais máximos de
60 meses.
282
meios navais, aéreos e terrestres, mediante autorização por
ato do comandante da força militar (hipóteses de contratação
direta previstas no art. 75, IV, f e g); (ii) contratação com vistas
ao cumprimento do disposto nos arts. 3°, 3°-A, 4°, 5° e 20 da Lei
n° 10.973, de 2 de dezembro de 2004, observados os princípios
gerais de contratação constantes da referida Lei (art. 75, V); (iii)
contratação que possa acarretar comprometimento da segurança
nacional, nos casos estabelecidos pelo Ministro de Estado da
Defesa, mediante demanda dos comandos das Forças Armadas
ou dos demais ministérios (art. 75, VI); (iv) contratação em que
houver transferência de tecnologia de produtos estratégicos
para o Sistema Único de Saúde (SUS), conforme elencados em ato
da direção nacional do SUS, inclusive por ocasião da aquisição
desses produtos durante as etapas de absorção tecnológica, e
em valores compatíveis com aqueles definidos no instrumento
firmado para a transferência de tecnologia (art. 75, XII); e (v)
aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de
insumos estratégicos para a saúde produzidos por fundação
que, regimental ou estatutariamente, tenha por finalidade apoiar
órgão da Administração Pública direta, sua autarquia ou fundação
em projetos de ensino, pesquisa, extensão, desenvolvimento
283
Contratos de vigência até dez anos podem ser considerados
contratos de longo prazo, com riscos potenciais e proporcionais a
esta duração ampliada. Ou seja, quanto maior o prazo de duração
do contrato, maiores os riscos a que estão expostas a relação
contratual e a própria Administração Pública. Esta relação direta
entre o tempo do contrato e os riscos de execução contratual é
evidenciada, por exemplo, nos contratos de concessão de serviços
públicos, de longuíssimo prazo e potencialmente sujeitos a riscos
maiores, em proporção. A este propósito, o Tribunal de Contas da
União já deliberou que
170 Acórdão n° 1.375/2013, Plenário, Rel. Min. Benjamin Zymler, DOU de 10.06.2013,
Informativo n° 154, período de 03 a 07.06.2013.
284
Esta sujeição maior a risco demandará da Administração
Pública, em primeiro lugar, o correto e adequado gerenciamento
dos riscos, especificamente voltado à duração do contrato; a
elaboração precisa de um mapa de riscos, e, com base nele, a
definição também precisa e correta de uma matriz de riscos
contratuais – instrumentos aptos a mitigar ou prevenir os riscos
futuros, bem como de realizar a correta distribuição deles (dos
riscos) entre as partes contratantes.
285
ao longo do tempo, que ceder às realidades do mercado. Certas
espécies contratuais, ou mesmo características de mercado,
levaram à atenuação da regra taxativa, para que se passasse a
admitir a celebração de contratos por prazo indeterminado. É o
caso, por hipótese, da contratação de serviços públicos essenciais
prestados sob regime de monopólio ou de forte restrição de
mercado concorrencial, de modo a tornar a disputa licitatória
descabida, e mesmo inútil – caso, por exemplo do serviço postal
prestado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos.
286
8. Definição da duração dos contratos de escopo
A definição do prazo de vigência contratual pode depender
de critérios técnicos. A cada contratação é preciso aferir qual o
período de tempo necessário para que o contratado satisfaça a
necessidade administrativa. Esta definição depende da natureza
do contrato.
287
no contrato. Assim, características técnicas do objeto constituem
parâmetro inafastável para a definição do prazo de execução e
do prazo de vigência do contrato. São exemplos de contratos de
escopo os contratos de obras, de certos serviços de engenharia, e
também aqueles que recebem da nova Lei o conceito de serviços
não contínuos ou contratados por escopo, que são aqueles que
“impõem ao contratado o dever de realizar a prestação de um
serviço específico em período predeterminado, podendo ser
prorrogado, desde que justificadamente, pelo prazo necessário à
conclusão do objeto (art. 6°, XVII).
288
concluído e entregue172. Vale dizer: o aspecto material prevalece
sobre eventual disposição formal acerca de vigência expressada
no contrato.
289
Regime de fornecimento e prestação de serviço associado é
o regime de contratação em que, além do fornecimento do objeto,
o contratado responsabiliza-se por sua operação, manutenção ou
ambas, por tempo determinado (art. 6°, XXXIV).
173 Tome-se por exemplo os contratos de sistemas integrados (TI), que envolvem, em
muitos casos, o fornecimento de hardware, software, instalação, operação e manutenção.
174 A norma contida no art. 113 faz referência taxativa a “entrega da obra”.
290
A Lei não indica que este regime de execução deva ser
utilizado apenas em relação a contratações de natureza complexa,
que guardem alguma relação lógica com o sistema de concessões
de serviços públicos. São requisitos legais tão somente a
existência de uma necessidade bidimensional: um fornecimento
ou a realização de uma obra, e uma correlata prestação de serviço
de operação e/ou de manutenção. Desta feita, são exemplos de
objetos passíveis de contratação por este regime de execução:
contratação de obra de estação de tratamento de esgoto e sua
manutenção e operação; contratação de sistemas complexos de
climatização e serviços de operação e manutenção; aquisição
de equipamentos hospitalares e serviços de operação; aquisição
de equipamentos industriais de elevada complexidade técnica e
serviços de operação e manutenção; aquisição de equipamentos
(hardware) e sistemas de informática (software) e serviços de
operação e manutenção, dentre tantos outros.
291
parcelado, quando isto for tecnicamente viável e economicamente
vantajoso. Assim, a reunião em um único objeto contratual de um
fornecimento com uma prestação de serviço associado deve ser
devida e suficientemente justificada no processo administrativo da
licitação, na medida em que a licitação conjunta destes dois objetos
produzirá restrições à competição. De outro ângulo, se houver a
devida justificativa técnica e econômico-financeira, em face da
disposição legal expressa, podem ser licitados o fornecimento e a
prestação do serviço associado conjuntamente, de modo legítimo.
292
Os contratos celebrados sob o regime de fornecimento com
serviço associado podem ser prorrogados por até 10 (dez) anos, na
forma do disposto nos art. 113 e 107 da Lei175
175 Art. 107. Os contratos de serviços e fornecimentos contínuos poderão ser prorrogados
sucessivamente, respeitada a vigência máxima decenal, desde que haja previsão em edital e que
a autoridade competente ateste que as condições e os preços permanecem vantajosos para a
Administração, permitida a negociação com o contratado ou a extinção contratual sem ônus para
qualquer das partes.
Art. 113. O contrato firmado sob o regime de fornecimento e prestação de serviço associado terá sua
vigência máxima definida pela soma do prazo relativo ao fornecimento inicial ou à entrega da obra
com o prazo relativo ao serviço de operação e manutenção, este limitado a 5 (cinco) anos contados da
data de recebimento do objeto inicial, autorizada a prorrogação na forma do art. 107 desta Lei
176 TELES, Vanali. Licitações e Contratos de TI. Brasília: Thesaurus Editora, 2009, p. 222.
293
Sistema Estruturante é o “sistema com suporte de tecnologia
da informação fundamental e imprescindível para o planejamento,
a coordenação, a execução, a descentralização, a delegação de
competência, o controle ou a auditoria das ações do Estado, além
de outras atividades auxiliares, comum a dois ou mais órgãos da
administração pública e que necessite de coordenação central”177.
178 https://www.serpro.gov.br/menu/noticias/noticias-antigas/noticias-2015/voce-sabe-
o-que-sao-sistemas-estruturantes#:~:text=Os%20sistemas%20estruturantes%20oferecem%20
apoio,contabilidade%2C%20auditoria%20e%20servi%C3%A7os%20gerais.
294
adequadas na fase de planejamento, inclusive de substancial e
suficiente gerenciamento dos riscos contratuais, as contratações
envolvendo operações continuadas de sistemas estruturantes de
TI por prazos longos é estratégia que pode ampliar a eficiência
administrativa e a segurança técnica da gestão das informações.
295
A nova Lei supre esta lacuna normativa referente à duração
dos contratos de receita e dos contratos de eficiência (sem
desembolso, que produzem economia de recursos públicos) ao
estipular um regime específico de sua vigência contratual (art. 110).
296
um direito do contratado, mas uma faculdade da Administração;
(iv) a prorrogação da contratação é condicionada à prova de
manutenção da vantajosidade em relação ao preço e a todas as
condições contratadas originalmente; (v) antes de prorrogar o
prazo de vigência do contrato, a Administração deverá verificar a
regularidade fiscal do contratado, consultar o Cadastro Nacional
de Empresas Inidôneas e Suspensas (CEIS) e o Cadastro Nacional
de Empresas Punidas (CNEP), emitir as certidões negativas de
inidoneidade, de impedimento e de débitos trabalhistas e juntá-
las ao respectivo processo (art. 91, § 4°); (vi) as prorrogações
contratuais serão formalizadas por termo aditivo ao contrato (art.
136).
297
13. Conclusões
1. O regime jurídico da duração dos contratos
administrativos previsto na nova Lei de licitações é
substancialmente diferente daquele contido na Lei n°
8666/93;
298
necessidade pública é bidimensional e deve ser atendida
simultaneamente pela execução de um único contrato,
envolvendo o fornecimento de um bem e a prestação
de um serviço de operação e/ou de manutenção dele.
Estes contratos podem ter vigência máxima de até 5
(cinco) anos, podendo ser prorrogados por até 10 (dez)
anos;
299
A Repactuação
na Nova Lei
de Licitações
e os cuidados
essenciais
Gustavo Cauduro Hermes
A Repactuação na Nova Lei
de Licitações e os cuidados
essenciais
Gustavo Cauduro Hermes180
301
ou documentais antes exigidas em certas situações específicas
agora foram planificadas para aplicação generalizada. Trata-se,
pois, de uma consolidação normativa com efeito de ampliação
de aplicação institutos à toda esfera pública, fazendo surgir
uma efetiva Nova Lei de Licitações, muito melhor que anterior, e
especialmente dispensando as inúmeras pesquisas e combinações
com outras normas para efetivar uma boa seleção e contratação
pública. Agora está tudo concentrado numa lei só, mais moderna
e completa.
302
valores ou poder de compra da moeda. Tratava-se de um problema
crônico da economia brasileira mesmo depois dos diversos planos
econômicos implementados desde o início dos anos 90.
303
Como o plano foi instituído por medida provisória e mantido
por sucessivas reedições, incorporou melhorias redacionais e
culminou em Lei Federal a manter este estabelecimento tanto
de prazo mínimo quanto de dupla opção para a atualização dos
preços – o Reajuste e a Repactuação, sendo que durante muito
tempo logo após a implementação do Plano Real o instituto da
Repactuação era incentivado e mesmo imposto por diversas
instituições públicas do Estado Brasileiro, sobremodo no âmbito
federal, em vistas de encontrar o exato ponto de equilíbrio e acerto
em cada contratação, acertando o valor da moeda e ajudando na
estabilização econômica do Brasil.
304
a obrigatoriedade de constar no contrato “os critérios, data-
base e periodicidade do reajustamento de preços”, que não se
confundem com “os critérios de atualização monetária entre a
data do adimplemento das obrigações e a do efetivo pagamento”,
que também é outra inclusão impositiva no texto clausular dos
contratos administrativos.
305
mostrou bastante eficiente e eficaz, apenas um pouco trabalhosa
dependendo do histórico de estruturação e manuseio das planilhas
de custo no histórico de cada contratação.
306
- Efeito ponderado e combinado de todas as
modificações no custo do contrato de modo efetivo
(exemplos: se a contratada vinha pagando salário maior
com rubrica de “adiantamento de dissídio” e apenas
editou os números pouco ou nada aumentando o custo
com salários, ou ainda se não mais precisa e nem
aloca certo profissional que ainda constava na planilha
anterior sofreria impactos da norma coletiva, se certos
trajetos foram ajustados e a proporção de consumo
entre diesel e gasolina mudou, e em quanto).
307
Trata-se de uma boa definição do instituto, de fácil
assimilação. Contudo, peca ao delimitar aplicação apenas para
contratos com exclusividade ou predominância de mão de
obra, o que pode provocar problemas e utilização restrita de tão
interessante instituto de atualização financeira.
308
Fácil identificar a existência do mesmo problema redacional
de definição do instituto constante no artigo 6°, que provavelmente
passou despercebido pelo legislador; mas enquanto assim perdurar,
imporá limites de utilização do instituto na Administração Pública.
309
forma completa e detalhada como deve ser instruído o pedido
de repactuação, e, a partir daí, somente do pedido correta e
completamente instruído contar exíguo prazo para avaliação e
resposta. Fato é que a interpretação cautelosa desta passagem
legal incita a que haja previsão de prazo para resposta a pedido de
repactuação, o que somente será seguro se o contrato detalhar
exatamente como instruir o pedido de modo completo e correto,
com informações e documentos precisos para aceitação.
310
que há de ser mais detalhada e exata que a previsão legal. Ora, se
um mês é o prazo preferencial, porque impor à Administração um
prazo menor, uma obrigação maior e arriscada? Não tem sentido.
311
Art. 135. Os preços dos contratos para serviços contínuos
com regime de dedicação exclusiva de mão de obra ou
com predominância de mão de obra serão repactuados
para manutenção do equilíbrio econômico-financeiro,
mediante demonstração analítica da variação dos
custos contratuais, com data vinculada:
312
A primeira delas seria a data limite para apresentação da
proposta, hipótese absolutamente não recomendada, pois a rigor
pode significar data posterior à de fixação do preço. E se existe uma
premissa destacada, e existe, sobre atualização financeira, é que
a metodologia de correção deve incorporar todas as ocorrências
após a base de fixação do preço em recálculo.
313
A segunda possibilidade instituída na Lei do Plano Real diz
respeito à “data-base fixada a partir do orçamento a que a proposta
se referir”. Embora a menção à acordo, convenção coletiva ou
dissídio coletivo, constante na Nova Lei de Licitações, possa
significar uma data-base orçamentária a que se refira a proposta,
acaba por ser limitador, pois existem inúmeros outros marcos que
o orçamento pode se apegar, não somente Normas Coletivas.
314
se referir”, abre inúmeras possibilidades ajustadas diretamente
para adequação às peculiaridades de cada contrato. Permite, por
exemplo, aplicar no caso prático a melhor solução identificada no
mercado, qual seja: fixar desde o edital uma data certa para que
todos os licitantes considerem como base orçamentária para
suas propostas, podendo trabalhar com mais opções de datas
para parcelas distintas da composição de custos. Neste caso,
seria planificada a data-base entre todos os licitantes e esta seria
fixada pela Administração desde a publicação do Edital, facilitando
sobremodo a fixação do preço, a disputa entre interessados e
mesmo a promoção da repactuação (por exemplo, indicaria que
todos os preços terão como data base econômica de referência o
dia 1° de janeiro de 2020, sempre indicando data passada, claro).
315
Uma delas é a inadmissão do repasse da cobrança de valores
por participação dos empregados nos lucros da empresa. Ora,
caso haja previsão deste tipo de este alcance, terá por base ganho,
vantagem, lucro auferido pela empresa, cujo respectivo pagamento
de participação significará apenas uma redução deste, mas jamais
custo da atividade. Trata-se da aplicação da mesma lógica para
não se admitir nas planilhas de custo rubricas de imposto de renda
e contribuição social sobre o lucro líquido. Do contrário, admitir-
se-ia pagar maiores valores para empresas que lucrassem mais.
316
§ 2° É vedado a órgão ou entidade contratante vincular-
se às disposições previstas nos acordos, convenções ou
dissídios coletivos de trabalho que tratem de obrigações
e direitos que somente se aplicam aos contratos com a
Administração Pública.
317
que na maioria das vezes a data da última repactuação é a data da
formalização do termo aditivo, lançada após inúmeras discussões
e debates, que podem ter se estendido e determinaram o novo
valor do contrato com base financeira economicamente fixada em
momento anterior.
318
participação ativa da contratada informando e comprovando as
variações e impactos efetivos nos custos.
319
formal necessária a justificar modificação explícita de algum
valor, nomenclatura ou rubrica contábil, que não tenha potencial
modificativo do ajuste contratual. Não se modifica contrato por
apostilamento, apenas se registra efeitos numéricos necessários e
invariáveis ante as condições contratuais preexistentes, ou corrige
e atualiza alguma informação de referência.
320
Repactuação não se assemelha ao reajuste na medida em
que a repactuação não é apenas é aplicar índice(s) sobre os custos
originais da planilha do contrato, pois estes custos podem ter
perdido a proporção original entre si. Impõe adicionalmente que se
atualize as proporções internas de custos na planilha, e, diante de
uma mudança percebida, a necessária identificação do impacto de
mudança dos pesos ponderados de custos antes de se apropriar os
novos valores, o que depende de situações concretas decorrentes
da condução da contratada sobre o período de execução do contrato
que se quer repactuar. Por exemplo, se um dos itens da planilha era
um insumo mais utilizado para o período inicial de execução mas
passava a ser menos significativo na execução de meio do contrato
(e teve significativo aumento de custo); ou se a norma coletiva
tenha imposto diferentes índices de aumento ou premiações para
diferentes faixas salariais da categoria, e a evolução contratual
determinou modificação da distribuição de cargos e salários que
a inicial, ou ainda se houve um incremento de custo de insumo
extremamente elevado e descolado das médias da economia, mas
cujo impacto não ocorrerá nos custos da contratada por aquisição
anterior ou compromisso firme com preço estabelecido junto ao
fabricante; e assim diversas outras situações práticas concretas
321
esta que deve ao final ser assentada em documento bilateral,
diverso do que se tem no instituto do apostilamento.
322
estrito e em sentido lato e interpretação jurídica “forçada” para
tentar justificar a repactuação feita por apostilamento, quando
no art. 40, parágrafo 4°, afirmava ser a repactuação espécie
de reajustamento de preços e, por essa razão, dispensaria a
celebração de termo aditivo, o que certamente influenciou na
redação desta Nova Lei de Licitações que agora apresenta esta
anomalia integrada em texto legal.
323
Logo, a previsão constante no artigo 136, inciso I, da Nova
Lei de Licitações mostra-se inadequada no que concerne à
Repactuação, mas ao menos não limitante, vez que apenas insere
esta impropriedade como faculdade ao gestor público, e não
obrigação. Neste sentido, contornar este problema é simples,
basta jamais utilizar apostilamento para formalizar repactuação,
pois dispensar a celebração de termo aditivo não significa que não
possa ser utilizado.
324
de repactuação, ou forçará interpretações legais incorretas
para admitir a forma certa de proceder no âmbito prático, como
infelizmente se percebe frequentemente no Brasil, afetando de
certo modo o Estado de Direito erigido em base “Positivista”.
325
Nova Lei de
Licitações e
Contratos, e
suas medidas
ALTERNATIVAS de
RESOLUÇÃO de
controvérsias:
Evoluções
sinuosas.
Thiago Bueno de Oliveira
Nova Lei de Licitações e
Contratos, e suas medidas
ALTERNATIVAS de RESOLUÇÃO
de controvérsias: Evoluções
sinuosas.
Thiago Bueno de Oliveira181
327
e conciliação) já eram previstos em outras leis182, inclusive
administrativas, portanto, previstos há bastante tempo no campo
do Direito Administrativo.
182 a) Decreto-lei Federal 5.452/1943 (Consolidação das Leis do Trabalho), utilizando, para
tanto, o instituto da conciliação por meio das Comissões de Conciliação Prévia, que significam
a primeira tentativa de solução de conflitos trabalhistas antes do ingresso da ação/reclamação
trabalhista; b) Lei Federal 5.869/1973 (Código de Processo Civil revogado pelo CPC/2015), que
previa a conciliação endoprocessual, também admitida a extraprocessual mediante posterior
homologação do juiz competente; c) Lei Federal 7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública), que autoriza
o Ministério Público, órgãos e entidades públicas legitimados à sua proposição a celebrarem
termos de ajustamento de conduta com os infratores dos bens tutelados pela lei em comento; d)
Lei Complementar Federal 73/1993 (Lei Orgânica da Advocacia-Geral da União), a qual autoriza o
Advogado-Geral da União (artigo 4°, inciso VI) a “desistir, transigir, acordar e firmar compromisso
nas ações de interesse da União, nos termos da legislação vigente”. Em complemento, a Lei Federal
9.469/1997, que regulamenta o disposto no artigo 4°, inciso VI, da referida Lei Complementar
Federal 73/1993, posteriormente alterada pela Lei Federal 13.140/2015, dispõe sobre a prerrogativa
de órgãos e entes da Administração Pública Federal (direta e indireta) de celebrarem acordos
judiciais. Cumpre registrar que no caso da Administração Federal direta e fundacional/ autárquica,
há regulamento à lei que determina o teto financeiro para a celebração de transações e acordos
pelo Advogado-Geral da União; e) Lei Federal 9.099/1995 (Lei dos Juizados Especiais Cíveis e
Criminais), por meio dos institutos da conciliação, juízo arbitral, suspensão condicional do processo
e transação penal (esses dois últimos, na seara do processo criminal ante a da adoção do princípio
328
conservadores, a redação dos artigos 151 a 154 tenha representado
um “grito de liberdade”, de modo a reconhecer formalmente
que a velha Administração Pública pode e merece se valer
de tais instrumentos. Entretanto, aos mais esperançosos ou
vanguardistas, tenha sido apenas uma aspiração normativa de
internalizar mais um instituto na órbita administrativa, e cujos
efeitos podem ser perigosos, caso não sejam imediatamente
regulamentados (e aqui faremos reflexões para reafirmar essa
importância). Senão vejamos:
329
Antes de nos debruçarmos nos pontos de atenção que
merecem ser debatidos para que possa provocar, quem sabe, uma
melhor regulamentação normativa, cumpre destacar que as formas
de composição de conflitos nas quais não haja a intervenção via
“jurisdição estatal”, geralmente afeta ao Poder Judiciário como o
órgão estatal legitimado a “dizer o direito em última palavra”, não
contradizem o princípio do amplo acesso à Justiça (artigo 5°, inciso
XXXV, da Constituição Federal de 1988), eis que este continua
preservado em razão da alternatividade de opções apresentada
pelo Estado para fins de composição dos conflitos.
330
de observar o inciso LXXVIII do artigo 5° da Constituição Federal
de 1988183, ou seja, tornar a resolução dos conflitos mais célere e
desafogar o Poder Judiciário.
• Arbitragem
331
distorções/incompreensões/desalinhamentos com a evolução
pretendida.
184 OLIVEIRA, Murilo Preve Cardoso de. Meios Alternativos de Resolução de Controvérsias.
In: NIEBUHR, Joel de Menezes (org). Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos. Curitiba:
Zênite, 2020, p. 129.
185 Art. 2°. Poderão ser submetidas à arbitragem as controvérsias sobre direitos patrimoniais
disponíveis.
Parágrafo único. Para fins do disposto neste Decreto, consideram-se controvérsias sobre direitos
patrimoniais disponíveis, entre outras:
I - as questões relacionadas à recomposição do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos;
II - o cálculo de indenizações decorrentes de extinção ou de transferência do contrato de parceria; e
III - o inadimplemento de obrigações contratuais por quaisquer das partes, incluídas a incidência das
suas penalidades e o seu cálculo.
332
e de transporte rodoviário, ferroviário, aquaviário e aeroportuário.
187 Percebam que entre os incisos do referido art. 124, está a previsão do restabelecimento
do equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato (previsão normativa do art. 151, parágrafo
único), bem como do modo e forma da prestação do serviço (previsão doutrinária).
333
É esse tipo de exercício que permite a construção de
listas exemplificativas mais robustas, como forma de dar maior
segurança jurídica ao instituto da arbitragem aplicável ao Poder
Público em matéria de licitações e contratos.
334
Ora, como “prestadoras de serviço”, entendemos ser relevante
a previsão de dispositivos que versem sobre: a) Forma de escolha
da Câmara Arbitral (credenciamento? Contratação normal?)188; b)
Tipo de procedimento arbitral a ser submetido o Poder Público (via
Institucional - submissão do procedimento às regras fixadas no
regulamento da câmara; ou ad hoc – estabelecimento das regras
procedimentais da avença/conflito pelas partes); c) Critérios/
balizas mínimas que devem constar nos regulamentos das
Câmaras, a depender do tipo de procedimento arbitral escolhido;
d) Rol de documentos e atos sujeitos à publicidade.
189 OLIVEIRA, Murilo Preve Cardoso de. Meios Alternativos de Resolução de Controvérsias.
In: NIEBUHR, Joel de Menezes (org). Nova Lei de Licitações e Contratos Administrativos. Curitiba:
Zênite, 2020, p. 133/134.
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estrita, devendo seus conflitos decorrentes serem resolvidos
com base nesse mesmo campo (impedindo assim que se tenha
arbitragens envolvendo a Administração Pública resolvidas por
equidade), entendemos que há margem para reflexão.
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campo das medidas alternativas de prevenção e resolução de
controvérsias existem inúmeras situações assim).
191 STRECK, Lenio Luiz. DELFINO, Lúcio. Novo CPC e decisão por equidade: a
canibalização do Direito. Dez – 2015. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2015-dez-29/cpc-
decisao-equidade-canabalizacao-direito#_ftn2. Acesso em: 06 abr 2021.
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E essa concepção tem dado certo, pois a eficiência/eficácia
do referido mecanismo, tanto em termos de obter soluções, quanto
na celeridade do processo, tem sido manifestamente comprovada.
Dados da Dispute Resolution Board Foundation indicam que 99% dos
conflitos que usam dispute boards são encerrados em menos de 90
dias, e que 98% das disputas são resolvidas pelo mecanismo192.
193 FISHER, Roger; URY, William; PATTON, Bruce. Como chegar ao SIM. Tradução de
Rachel Agavino. Ed., ver e atual. Rio de Janeiro: Sextante, 2018, p. 107.
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Apesar de ser considerada uma grande novidade apresentada
pela nova lei de licitações e contratos, positivando pela primeira
vez em nível federal sua “usabilidade” em sede de contratos
administrativos, mais uma vez, acabou não se prevendo diretrizes
mínimas a esse respeito, restringindo-se à afirmar apenas que a
escolha dos comitês de resolução de disputas observará critérios
isonômicos, técnicos e transparentes. Nada mais!
194 Para maior aprofundamento a respeito de cada uma das modalidades, sugerimos
a leitura do Regulamento para o Comitê de Prevenção e Solução de Disputas do CAM-CCBC,
disponível em: https://ccbc.org.br/cam-ccbc-centro-arbitragem-mediacao/resolucao-de-
disputas/dispute-boards/regulamento-2018/. Acesso em: 06 abr 2021. Assim como o artigo de
Arnoldo Wald, intitulado: Dispute Resolution Boards: evolução recente. Revista de Arbitragem e
Mediação, v. 8, n. 30, p.139-151, jul./set. 2011.
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específico de objeto ou à determinada alçada de valor.
340
milhões de reais) e à objetos delimitados, em regra (contratos de
obras públicas, bem como de concessão ou permissão que tenham
como objeto, ou como parte do objeto, a execução de obras);
possibilidade de constituir Dispute Board permanente ou ad hoc, a
depender da natureza da contratação.
196 A título de exemplo, nos baseamos mais uma vez em legislação da Prefeitura de
São Paulo – SP, neste caso, a Lei n° 17.324/20, que instituiu no âmbito da Administração Pública
Municipal Direta e Indireta de São Paulo, a respectiva política de desjudicialização, fixando entre
seus objetivos: I - reduzir a litigiosidade; II - estimular a solução adequada de controvérsias; III -
promover, sempre que possível, a solução consensual dos conflitos; IV - aprimorar o gerenciamento
do volume de demandas administrativas e judiciais. Outra referência relevante é a recente (2019)
Estratégia Nacional Integrada para Desjudicialização da Previdência Social, ação liderada pelo
Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Disponível em: https://www.cnj.jus.br/estrategia-nacional-
integrada-para-desjudicializacao-da-previdencia-social/. Acesso em 06 abr 2021.
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os impactos dessa medida, uma vez que não apresentou diretrizes
claras/fortes/suficientes para uma futura regulamentação, o que
é fundamental para garantir a efetividade da aplicação de tais
medidas na rotina administrativa, sob pena dos efeitos da absorção
de tais instrumentos no ordenamento jurídico passarem a não ser
tão positivos assim, diante da imprecisão/vagueza terminológica.
197 Dentro de uma perspectiva formal e material, poderíamos dizer que a Lei Complementar
n.° 95/98 cuida do aspecto formal, e o Decreto Federal n.° 9.191/2017, do material.
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deve ter base legal e empírica; c) a Norma deve ser consistente
com outras regulações e políticas governamentais.
Portanto, AVANTE!
199 FISHER, Roger; URY, William; PATTON, Bruce. Como chegar ao SIM. Tradução de
Rachel Agavino. Ed., ver e atual. Rio de Janeiro: Sextante, 2018, p. 11.
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