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O USO DE EUPHORBIA TIRUCALLI (AVELOZ) EM MEDICINA TRADICIONAL E


AS EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS

Article · January 2008

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8 authors, including:

Márcia C B N Varricchio Simone Silva


Faculdade de Medicina de Petrópolis Faculdade Arthur Sá Earp Neto Centro de Biotechnologia de Amazônia
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Ary Gomes da Silva Ricardo Machado Kuster


Instituto Capixaba De Pesquisa, Assistência Técnica E Extensão Rural Universidade Federal do Espírito Santo
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ISSN 1983-4209 - Volume 03 – Numero 01 – 2008

O USO DE EUPHORBIA TIRUCALLI (AVELOZ) EM MEDICINA TRADICIONAL E AS


EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS

Varricchio, M.C.B.N.1 ; Silva, Simone. da 2; Gomes, Nelson B. Noronha.; Kuster, Ricardo


Machado.3; Lage, Celso L.Salqueiro.4

RESUMO
Extratos da espécie Euphorbia tirucalli (Aveloz) são largamente utilizados em Medicina
Tradicional, com ampla distribuição geográfica devido à sua grande capacidade de aclimatização.
Esta espécie suculenta é considerada tóxica, porém os extratos de seu látex em água ou o extrato
total de seu caule exibem uma atividade biológica mista e instigam-nos ao estudo de suas atividades
toxicológica e biológica. O presente estudo de revisão bibliográfica versa sobre o emprego
tradicional da espécie E. tirucalli, cita algumas evidências científicas de suas atividades e
mecanismos e aponta para o seu amplo potencial biotecnológico. Algumas atividades de pesquisa
relacionadas à atividade biológica já vem sendo desenvolvidas por nosso grupo.

Unitermos: Euphorbia tirucalli, aveloz, medicina tradicional, evidências científicas.

EUPHORBIA TIRUCALLI (AVELOZ) IN TRADITIONAL MEDICINE AND SCIENTIFIC


EVIDENCES

ABSTRACT
Euphorbia tirucalli species extracts are broadly utilized in Traditional Medicine, with wide
geographic distribution due to its great acclimatization ability. This succulent species is considered
toxic, but latex aqueous extracts or stem total extract show a mixed biologic activity and instigate us
to study their toxicological and biological activities. The present study of bibliographic revision
verses about traditional employment of E. tirucalli species, presents some scientific evidences upon
activities and mechanisms and points to the large biotechnological potential. Some activities of
research related to biological activity are already being performed by our group.

Uniterms: Euphorbia tirucalli, aveloz, traditional medicine, scientific evidences.

INTRODUÇÃO
Desde a antiguidade é relatada a utilização de espécies de Euphorbiaceae em tratados de
filosofia e medicina na história das civilizações orientais e ocidentais, como a hindu (ayurvédica),
chinesa, árabe e greco-romana. O nome do gênero Euphorbia foi originado do nome do rei grego
Euphorbos, um incentivador do estudo das plantas medicinais para o tratamento dos males do povo
em seu reino, a partir da cicatrização das chagas de seu corpo pelo uso do látex de uma espécie
laticífera não especificada (Guillén, 1987; Valle, 1999; Bani et al., 2006).
A partir da idade média existem registros de suas propriedades e indicações em antigos
herbários de vários países europeus e especificamente para a Euphorbia tirucalli L., em herbários e
farmacopéias africanos e ayurvédicos. Destacam-se as formais indicações terapêuticas para o uso da
espécie medicamentosa Euphorbium por parte de Hipócrates séc.V a.C, enquanto Avicena, século
X, indica-o como potente analgésico e como anestésico para pequenas cirurgias (Guillén, 1987).

1
Faculdade de Medicina de Petrópolis; Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Vegetal/UFRJ; Instituto
Hahnemanniano do Brasil (*varichio@compuland.com.br);
2
Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia Vegetal/UFRJ; 4Laboratório de Cultura de Tecidos Vegetais/Centro de
Biotecnologia da Amazônia (simone.cba@suframa.gov.br);
3
Laboratório de Fitoquímica do Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais/UFRJ (kuster@nppn.ufrj.br);
4
Laboratório de Fisiologia Vegetal/IBCCF/UFRJ (clslage@biof.ufrj.br)
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Há relato do uso de E. esula por Paracelso, século XVI, no combate à síndrome clínica por
ele denominada Tártaro, cursando com endurecimentos localizados, aumento dos gânglios
linfáticos, progressiva perda de disposição e de peso (Loyola, 1973), quadro clínico semelhante às
síndromes consumptivas contemporâneas, de caráter longevo na história da humanidade, de origem
infecciosa como tuberculose (Picon et al., 1993), neoplasia (De Vitta et al., 2001), ou crônico-
degenerativa, como lupus eritematoso sistêmico, hanseníase e síndrome de imunodeficiência
adquirida (SIDA) (Cecil et al., 2005), exposições ocupacionais (Cocco, 2002), entre outras.
Infelizmente, elas continuam sendo entidades clínicas de relevância para os órgãos
promotores de Saúde Pública e de Saúde Coletiva que visam resgatar à população, a equidade e a
qualidade de vida (Buss, 2000).
No século XVIII foram descritas na Matéria Médica Homeopática de Samuel Hahnemann,
as espécies medicamentosas Euphorbium e E. lathyris com indicações clínicas similares,
principalmente para dores terebrantes, destacando-se as dores de síndromes clínicas descritas,
semelhantes aos quadros de neoplasias (1989). Allen (1861), através da ingestão de sementes de E.
amygdaloides e E. lathyris em sadios, relatou as queixas em comum para a família Euphorbiaceae
provocadas pela intoxicação aguda das mesmas: vômitos e diarréia freqüentes, palidez generalizada,
frieza corpórea e purgação intestinal com cólica violenta, entre outras.
Por estas características de intoxicação comum para o gênero, podendo evoluir até morte
súbita por parada abrupta da respiração mitocondrial, muitas espécies inclusive a E. tirucalli, são
empregadas para o controle de diversificados vetores de pestes por provocarem dano oxidativo
(Jurberg et al., 1985; Risk, 1987; Damodaran, 2002; Yadav et al., 2002; De Gara et al., 2003; Kraft
et al., 2003; Wang et al., 2003).
A medicina tradicional utiliza a planta inteira como cerca-viva, para afastar cobras, impedir
o crescimento de plantas daninhas e, ao redor de cemitérios, como uma espécie de planta de ritual
de poder das tribos de Madagascar e das cordilheiras dos Andes (Kinghorn, 1979; Furstenberger &
Hecker, 1977; 1986; Betancur-Galvis ET al., 2002).
No Brasil, o médico nordestino Lauro Neiva (1968) utilizou por cerca de dez anos o látex do
aveloz (Euphorbia tirucalli L.) diluído em água (6 gotas para 2 litros - para três dias de uso) em
pacientes no Estado do Rio de Janeiro para diversas doenças desde o câncer até doença de chagas,
possivelmente visando ao incremento da resposta imunológica do hospedeiro frente às doenças
crônico-degenerativas, às neoplásicas e às infecciosas.
Entretanto, em artigo em jornal da época do Brasil Colônia, as propriedades da E. tirucalli
para a redução da dor e a diminuição de tumores cutâneos já haviam sido enumeradas: “Uso do
Aveloz para doenças graves” (Luiz Figueira Pinto, 2006 – Comunicação Oral Giri 2006).
Extratos vegetais adaptógenos correspondem aos grupos de substâncias ativas oriundas do
metabolismo especial de plantas que incrementam as respostas metabólicas e imunológicas
adaptativas dos seres vivos (Panossian et al., 1999; Varricchio et al., 2000 a). Desde 1997 o extrato
etanólico total de caule vem sendo utilizado como solução ultradiluída como terapêutica
complementar para pacientes com imunodeficiências tais como câncer, SIDA, colagenoses, no
ambulatório filantrópico do Instituto Hahnemanniano do Brasil (IHB), verificando-se
empiricamente o efeito adaptógeno-símile, através do ganho de peso e massa muscular em pacientes
debilitados, o espaçamento de infecções intercorrentes oportunísticas, a redução de volume tumoral,
a melhora no humor, o incremento na tolerância aos quimioterápicos sintéticos, e em nível sérico o
incremento de série vermelha, série branca e de plaquetas além do incremento de serotonina, sem
sinais de risco de intoxicação hepática e renal (Varricchio et al., 1995; 2000 B; Varricchio, 2005;
Luiz Figueira Pinto, 2006 – Comunicação Oral Giri 2006; Varricchio et al., 2007).
Extratos da espécie E. tirucalli instigam-nos ao estudo de sua atividade toxicológica, pois
apesar de serem utilizados largamente em medicina tradicional, devido à sua ampla distribuição
geográfica pela grande capacidade de aclimatização, exibem uma atividade biológica mista
(Varricchio, 2005). Existirão novas atividades biológicas para esta espécie tão bem descrita ao
longo da história da humanidade?
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MATERIAL E MÉTODO
Estudo de revisão bibliográfica sobre o emprego tradicional e científico de Euphorbia
tirucalli.

DISCUSSÃO
Bosch (2004) correlaciona a espécie africana (a mais estudada, devido a sua toxicidade)
como um co-fator ambiental durante exposição crônica ao látex na eclosão do Linfoma de Burkitt.
Entretanto, apesar do risco toxicológico, discutido pelo meio científico, o uso tradicional e popular
do látex diluído do Aveloz (E. tirucalli L) como automedicação complementar ao tratamento do
câncer é corriqueiro e indiscriminado nesta e em outras doenças graves, como SIDA, asma, artrite
reumatóide, sífilis, de acordo com a região do nosso país e em outros países.
A composição fitoquímica do caule de E. tirucalli constitui-se de antocianinas (taninos
condensados), flavonóides e traços de alcalóide, esteróides, enquanto no látex encontram-se
triterpenóides e diterpenóides (Gurib-Fakim & Guého, 1996), os quais explicam as múltiplas e até
contraditórias atividades biológicas que abrem um leque de interesses em como aproveitar o seu
potencial biotecnológico (Varricchio, 2005).
Os triterpenos eufol, tirucalol, taraxasterol, diversos ácidos de plantas, hidrocarbonetos e um
derivado isoquinolínico foram isolados e caracterizados na E. tirucalli africana, a maioria sendo
biologicamente inerte. Os álcoois parentais ingenol e o forbol não são promotores tumorais,
enquanto os ésteres diterpênicos de forbol o são (Furstenberger & Hecker, 1986).
São ainda muito cáusticos, irritantes, ativam a produção de plaquetas, de prostaglandinas e
promovem tumores, enquanto outros ainda exibem atividade anti-neoplásica, antiviral e
imunomoduladora (Whelan & Ryan, 2003).
Diversas Euphorbiaceae são conhecidas como aveloz no Brasil, sem a serem, no entanto.
Brito & Thomas (1980) estudaram a propriedade antiinflamatória do extrato aquoso do caule seco e
pulverizado de espécie denominada por eles como aveloz (E. tirucalli), que foi extraído com etanol
por um período de 40 horas. O extrato aquoso quando administrado via oral ou intraperitoneal
produziu inibição do edema por carragenina dependente da dose. Houve uma diferença fundamental
na natureza da inibição entre este extrato e a indometacina. O extrato apresentou sua maior
atividade no estágio inicial do edema, quando é mediado por histamina e serotonina.
O tipo de atividade foi explicado pela metabolização rápida do extrato, uma vez que a
administração repetida de extrato também falhou em inibir a fase tardia do edema induzido pela
carragenina. Sugeriu-se que o princípio ativo do extrato aquoso de E. tirucalli possua propriedades
anti-histamínica e antiserotonínica, reforçado pelos resultados do edema induzido por dextrana,
primariamente mediado por histamina e serotonina, no qual o extrato apresentou atividade (Brito &
Thomas, 1980).
Na artrite em desenvolvimento, induzida pela injeção de 0,05 mg/ml de Mycobacterium
tuberculosis intradermicamente na base da cauda de ratos, o extrato aquoso administrado
intraperitonealmente apresentou significativa atividade inibitória no aparecimento da doença,
reforçada por alguns achados de que o extrato apresentaria propriedade imunossupressora. Contudo,
o experimento foi abandonado devido à perda de peso apresentada pelos animais, sendo
considerado, portanto, sem atividade na artrite induzida por adjuvante já instalada, ou em fase tardia
da inflamação (Brito & Thomas,1980).
Ribeiro & Alves (2000) desenvolveram estudo sobre a atividade antitumoral da E. tirucalli
em tumores de Walker 256 (tumores de glândulas mamárias de ratas), extensamente usado em
estudos de fisiopatologia oncológica, verificando que em baixas dosagens (100mg a 400mg/kg) o
extrato composto pela diluição do látex em água não reduziu os volumes tumorais e quando em
altas dosagens (1000mg/kg), o mesmo induziu ou estimulou o crescimento tumoral em ratas. Foi
verificada ainda alta toxidade quando administrado parenteralmente e praticamente atóxico quando
administrado via oral.
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A observação de atividade antitumoral contra ascite por sarcoma 180, leucemia em


camundongos e atividade citotóxica contra determinadas linhagens tumorais, motivaram o grupo
colombiano de Betancur-Galvis (2002), a verificarem as atividades citotóxicas e antivirais dos
extratos das espécies colombianas do gênero Euphorbia.
Quarenta e sete extratos de 10 espécies do gênero Euphorbia utilizadas por curadores em
medicina tradicional para o tratamento de úlceras, tumores, câncer, verrugas, doenças virais, entre
outras, foram testadas in vitro quanto aos seus potenciais antitumorais (antiproliferativo e
citotóxico) e atividade anti-herpética. Para avaliar a capacidade dos extratos em inibir a atividade
lítica do vírus Herpes Simplex tipo 2 (HSV-2) e a redução da viabilidade das culturas de células
infectadas e não infectadas, foram usados a técnica de titulação ponto-final (EPTT) e o ensaio
colorimétrico MTT [3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazoliumbromido], respectivamente. O
índice terapêutico dos extratos positivos para a atividade antiviral foi determinado através do
cálculo da razão CC50 (50% da concentração citotóxica) sobre IC50 (50% da concentração de efeito
viral inibitório) (Betancur-Galvis et al., 2002).
Cinco dos quarenta e sete extratos (11%) representando 3 das 10 espécies (30%) exibiram
atividade anti-herpética. A maior atividade foi encontrada no extrato aquoso metanólico de caule e
de folha de E. tirucalli e de E. cotinifolia. Os índices terapêuticos das duas espécies foram maiores
que 7,1 (> 7,13 e > 9,56, respectivamente) e estes extratos não exibiram citotoxicidade. Seis
extratos (13%) representando 4 espécies (40%) demonstraram atividade citotóxica. A maior
citotoxicidade foi encontrada no extrato diclorometano, obtido das folhas de E. cotinifolia e os
valores CC50 para a maioria das linhagens celulares suscetíveis, Hep-2 (human larynx epidermoid
carcinoma cells, cell line ATCC CCL23) e CHO (Chinese hamster ovary cells, cell line ATCC
CCL-61, Cricetulus griseus), foram 35,1 e 18,1µg/ml, respectivamente. Ainda foram testadas outras
linhagens celulares, como Hela cell (human cervix epithelioid carcinoma, line ATCC CCL-2) e
VERO (Cercopithecus aethiops african green monkey kidney cells, cell line ATCC CCL-81). As
culturas primárias de fibroblastos bovinos foram obtidas a partir de biópsias de pele de orelha
bovina (Bom criollo colombian cattle). O HSV-2 foi obtido do Centro de Controle de Doenças de
Atlanta (Betancur-Galvis et al., 2002).
Favero e colaboradores (1990) através de derivados sintéticos de forbol (PMA) observaram
o estímulo na produção de linfócitos T e a modulação de CD4 variando em função da cadeia de
ácidos gordurosos. São diversas as referências concernentes à utilização de diversas espécies do
gênero Euphorbia para o tratamento de várias doenças, sendo inclusive descrita pronunciada
atividade antiviral relatada em diversas espécies contra poliovirus, coxsackie virus e rhinovirus.
Vlietinck e colaboradores (1986; 1995 apud Betancur-Galvis et al, 2002) relataram
atividade antiviral de certas espécies do gênero Euphorbia de Ruanda e identificaram 3-
metoxiflavonas como os princípios ativos. Sabe-se que até 2002, sete substâncias com atividade
antiviral derivadas de 3-metileter da quercetina e Kaempferol foram isoladas de Euphorbia grantii.
Neste estudo, o material fresco e verde de todas as plantas foi percolado com solventes alcoólicos
aquosos, aplicando-se de forma idêntica à metodologia utilizada pelos curadores colombianos sendo
respeitado o tipo de preparo tradicional (Favero et al., 1990).
Lai e colaboradores (1989) comprovaram uma nítida relação entre a reativação do vírus
Epstein-Barr (EBV) pelo HIV-1 dependente de dose para os ésteres de forbol, além da reativação
transiente do vírus Epstein-Barr (EBV) em pacientes com SIDA, limitada a menos de 20% da
população celular.
Fujiwara e colaboradores (1986 apud Betancur-Galvis, 2003) por outro lado, demonstraram
a inibição da replicação viral. Digno de nota, a equipe de Wang (2003) comprovou a persistência da
inibição da replicação viral em células infectadas ao longo de cinco anos, tendo aumentado assim o
tempo de latência do HIV, e revelando, conseqüentemente, o potencial efeito retardador da
manifestação clínica da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida. El-Mekkawy e colaboradores
(2002) através de derivados sintéticos de forbol conseguiram reduzir os efeitos citopáticos do HIV 1
sobre células MT-4.
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Bem descrita está a participação do látex promovendo a peroxidação lipídica (Datta et al.,
1999) capaz de desencadear respostas de macrófagos periféricos (Lopes et al., 2005; Büssing et al.,
1999; Ishii et al., 2003) e a ativação de diferentes isoformas de proteino-cinase C sinalizadoras e
reguladoras do ciclo celular, da replicação viral e de células neoplásicas (Koivunen et al., 2005) e
da indução da secreção de citocinas (Hamblin, 1993; Haskó & Szabó, 1999).
Varricchio (2005) através de testes para verificação de viabilidade mitocondrial in vitro em
cultura de células de Melanoma murino com fenótipo resistente a múltiplas drogas (mdr) B16F10,
encontrou a dose não tóxica para o extrato etanólico 10% total de caule (0,01%) e para o látex
(0,001%) da E. tirucalli coletada no jardim do Núcleo de Pesquisa de Produtos Naturais do Campus
Ilha do Fundão da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Todas as atividades biológicas aqui descritas desencadeiam respostas inflamatórias agudas
ou então imunossupressoras durante exposição prolongada. Em paralelo, também agem como
antioxidante, antiinflamatório, antitumoral ou antiviral. Estas informações levam-nos ao
questionamento sobre o envolvimento de citocinas mediando alguns destes eventos distintos e, para
além do aprofundamento da investigação sobre o mecanismo de ação, a perspectiva do
aproveitamento de seu potencial biotecnológico (Varricchio et al., 2007; Santa Clara Júnior, 2008).
Várias partes da planta são empregadas como droga vegetal de uso tópico e oral nos diversos
países, listadas no Quadro 1. São mostrados os usos em medicina tradicional e as precauções,
relatadas por tradição oral, eticamente resgatados por pesquisas etnobotânicas (Albuquerque, 1997;
Instituto de Medicina Tradicional do Perú, 1999) e etnofarmacológicas (Bouton, 1864; Lodi, 1986;
Daruty, 1886; Neiva, 1968; Gurib-Fakim, 1990 Apud Gurib-Fakim & Gueho, 1996; Heywood,
1979; Kinghorn, 1979; Jurberg Et Al., 1985; Furstenberger & Hecker, 1977 E 1986; Malik et al.,
1989; Malik & Khan, 1990; Wang et al., 2003; Bani et al., 2006).
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País ou Localidade Uso tradicional Precauções Parte usada Referências Bibliográficas


Inflamação ocular grave até Látex Bouton,1864;
Perú “planta da benzina”
cegueira Goma do látex Lodi,1986;
Daruty,1886;
Laxativo, tosse e queixas respiratórias; Decocção de
Ilhas Maurício Andes Gurib-Fakim,1990 apud Gurib-Fakim &
Antivenéreo - raízes e brotos
Gueho, 1996
Queimaduras, uveíte e
Heywood, 1979;
ceratoconjuntivite nos cães;
Cosmopolita - Látex Kinghorn, 1979;
Promotor de tumor na pele de
camundongo
Amazônia peruana
(Outros nomes: Tosse, asma, abscessos, câncer, cólicas,
Plantas Medicinais del Jardin Botânico
esqueleto, pata de neuralgia, dores de ouvido, dente, - Látex
Instituto de Medicina Tradicional, 1999
galo e planta estômago, reumatismo, dores intensas.
navidenha /parideira)
Cerca - viva, medicamento local, fetiche Planta inteira em
Veneno para peixe por ação na
África equatorial mágico, inseticida água e álcool, e Furstenberger & Hecker, 1986
cadeia respiratória
látex em água
Emético no tratamento de picadas de Furstenberger & Hecker, 1986;
África equatorial - Raízes
cobras Wang et al., 2003;
Índia, Indonésia e
Verrugas, reumatismo, asma - Látex Jurberg et al., 1985; Bani et al., 2006
Brasil
Brasil Anti-sifilítico - Látex Jurberg et al., 1985
Kinghorn, 1979;
Índia e Malásia Anti-tumoral e anti-câncer - Látex
Furstenberger & Hecker, 1986).
Indígenas e
Reumatismo, neuralgia, cólica, asma e Várias partes em Malik et al., 1989;
Autóctones da África -
dores gástricas água Malik & Khan,1990
e Brasil
Analgésico, antitumoral, anti-viral,
Neiva (1968);
alívio da dor em hanseníase tuberculóide
Brasil - Látex Almeida, 2003;
em surto reacional, leishmaniose,
Bieski, 2005
pênfigo foliáceo (fogo selvagem)
Quadro 1: Usos de E. tirucalli em medicina tradicional e precauções.
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CONCLUSÃO
O presente estudo de revisão bibliográfica sobre o emprego tradicional da espécie
Euphorbia tirucalli e as evidências científicas sobre mecanismos de ação, demonstra a importância
do desenvolvimento de estudos transversais etnobotânicos e etnofarmacológicos, entre outros, e
aponta para o amplo potencial biotecnológico da espécie. Algumas atividades de pesquisa
relacionadas à atividade biológica e toxicológica já vem sendo desenvolvidas por nosso grupo
(Varricchio, 2005; Varricchio et al., 2007).

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