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RESUMO:
O presente artigo tem natureza exploratória e procura projetar hipóteses sobre a influência das
políticas públicas do Governo do Estado no número de homicídios verificados em Curitiba,
Paraná, entre 2015 e 2018. Após uma breve introdução sobre o caráter metodológico de
estudos relacionados ao fenômeno criminal, faz-se uma análise das propostas do Plano de
Metas da gestão do executivo estadual que assumiu em 2015 para verificar que políticas
poderiam incidir sobre os homicídios. A partir disso, compara-se a evolução do indicador das
mortes violentas no Estado do Paraná e na Capital no período supracitado. São apresentados
tabelas e gráficos de elaboração própria para elaboração de algumas considerações finais.
1
Graduado em Direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestrando no Programa de Pós-Graduação
em Planejamento e Governança Pública (PPGPGP) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Email: gersonlobo000@gmail.com
2
1. INTRODUÇÃO
Como toda investigação relacionada à criminologia, há que ter em conta que existem
inúmeras peculiaridades e abordagens possíveis na investigação do objeto desta ciência – por
exemplo, o caráter flagrantemente cultural e subjetivo da identificação do criminoso
(CARVALHO, 2015, pp. 75-77). Um dos cuidados mais relevantes para trabalhos que
manejam dados quantitativos é - tema relativamente antigo para esta área do conhecimento -
como a formulação das estatísticas está permeada por diversas subjetividades que podem
tornar praticamente impossível avaliar com segurança o cometimento de crimes através destes
instrumentos2 (CARVALHO, 2015, pp. 144-146).
Os crimes consumados contra a vida3 também passam por essas problemáticas. Numa
metrópole com mais de um milhão de habitantes como Curitiba, é razoável presumir que
podem ocorrer assassinatos que não cheguem ao conhecimento da autoridade policial. Ou
que, por exemplo, um homicídio possa ser erroneamente compreendido como um suicídio por
um médico legista. Ou que a causa exata da morte seja simplesmente impossível de
determinar – Cerqueira (2019, p. 7) explica de que forma estas ocorrências podem ser, na
verdade, homicídios ocultos.
A despeito disso, crimes desta natureza têm indicadores em alguma medida mais
seguros, já que a objetividade de sua verificação é notoriamente maior, tendo em vista que
toda morte com indícios de violência deve ser atestada por um profissional do Instituto
Médico Legal (IML)4 ou por um legista ad hoc, em localidades onde a instituição não atuar
(CFM, 2009; 2005).
2
Por exemplo, a subnotificação (cometimento de crime não-noticiado à autoridade pública, gerando cifra oculta)
e a tipificação incorreta do tipo pela polícia – v. g., a caracterização de um roubo como furto.
3
Considerando, para fins deste artigo, homicídios, roubos seguidos de morte da vítima e lesões corporais que
causem morte, respectivamente definidas pelos arts. 121; 157, §3º, II e 129, §3º do Código Penal brasileiro.
Ampliando o conceito para mortes violentas, podem ainda ser compreendidas aquelas provocadas em legítima
defesa e/ou pela autoridade policial. O foco do artigo é tratar somente dos homicídios dolosos.
4 Cf. art. 115 do Código de Ética Médica (É vedado ao médico [...] Art. 115. Deixar de atestar óbito de paciente
ao qual vinha prestando assistência, exceto quando houver indícios de morte violenta) e Art. 2º, 3 da Resolução
3
Por fim, o recorte temporal foi selecionado porque corresponde à última gestão
completa do Governo Estadual. Considerando a multiplicidade de motivos que podem incidir
sobre as mortes violentas (cf. CERQUEIRA, 2014, p. 25 e segs), entende-se que, na realidade,
a análise pertinente a 2015-2018 pode indicar mais a efetividade (ou inefetividade) de
políticas realizadas nos anos anteriores. Entende-se que a proposta deste trabalho se mantém,
porque, como se verá a seguir, a eleição de 2014 teve vitória do político que já governava o
Estado do Paraná.
CFM nº 1.779/2005 (3) Mortes violentas ou não naturais: A Declaração de Óbito deverá, obrigatoriamente, ser
fornecida pelos serviços médicos-legais.) (CFM, 2009; 2005)
5
Cf. arts 144, §4º e §5º da Constituição Federal (BRASIL, 1988).
6
Deve-se levar em conta que na Capital reside precisamente cerca de 15% da população do Estado, de acordo
com o último senso do IBGE – portanto é relativamente compatível essa concentração dos homicídios no
município (IBGE, 2010). Este fato reforça o argumento da relevância da inclusão deste ente federativo no debate
sobre políticas de preservação à vida.
4
O Estado do Paraná foi governado entre 2015 e 2018 pelo mesmo grupo político que
comandava o Executivo estadual desde 2011. Neste período, o governador Carlos Alberto
Richa (popular Beto Richa), do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), foi reeleito,
renunciou ao cargo em 2018 para concorrer ao senado e foi sucedido por sua vice-
governadora, Maria Aparecida Borghetti (popular Cida Borghetti), do Partido Progressista
(PP).
7
De acordo com a informação no site da Secretaria de Segurança Pública e Administração Penitenciária,
constam os seguintes eixos de ação do Programa Paraná Seguro: contratação de policiais, recomposição da frota,
formação de policiais, operações sistemáticas, boletim eletrônico, cinturão de proteção na fronteira, bases
interiorizadas de grupamento aeropolicial e resgate aéreo, modernização da polícia científica, fortalecimento dos
conselhos comunitários de segurança, unidade Paraná seguro, proteção à criança e ao adolescente, proteção à
mulher e pioneirismo no sistema biométrico (PARANÁ, s.d.)
8
A meta não foi atingida – o banco de dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indica taxa de 23
homicídios/100 mil habitantes calculada para o número de homicídios dolosos de 2014 (FBSP, s.d.).
5
Tabela 1 – Número absoluto de homicídios dolosos praticados no Estado do Paraná e em Curitiba entre 2007 e
2018
%
Variação em
Variação em relação ao ano Homicídios
Ano Paraná Curitiba relação ao ano
anterior em relação
anterior
ao Estado
2007 2647 - 549 - 20,74%
2008 2831 6,95% 598 8,93% 21,12%
2009 3119 10,17% 632 5,69% 20,26%
2010 3276 5,03% 750 18,67% 22,89%
2011 3085 -5,83% 685 -8,67% 22,20%
2012 3135 1,62% 597 -12,85% 19,04%
2013 2572 -17,96% 530 -11,22% 20,61%
2014 2515 -2,22% 569 7,36% 22,62%
2015 2416 -3,94% 449 -21,09% 18,58%
2016 2498 3,39% 468 4,23% 18,73%
2017 2187 -12,45% 371 -20,73% 16,96%
2018 1955 -10,61% 293 -21,02% 14,99%
Observa-se que tanto no Estado quanto na Capital o período foi de altos e baixos.
Quando a gestão 2015/2018 assumiu, porém, deparou-se com situação mais positiva em
relação àquela encontrada no início do primeiro mandato (2011) – o número de homicídios
dolosos registrados em 2014 foi 23,23% menor do que em 2010.
Estes dados foram postos para conduzir a exploração sobre 2015/2018 tendo em mente
que, conforme dito alhures, o município tem especificidades que não podem ser ignoradas
6
quando se trata de crime – é um truísmo, mas necessário dizer: ele não necessariamente
acompanhará de forma natural o que ocorre no Estado, demandando um olhar específico.
Nesta seção, preparou-se alguns gráficos para melhor visualização dos dados. O
gráfico 1 representa o número absoluto de homicídios entre 2014 e 2018 (incluindo-os) em
Curitiba e no Paraná:
Gráfico 1 – Número absoluto de homicídios dolosos registrados em Curitiba e no Paraná entre 2014 e 2018
(incluindo-os)
3000
2500
2000
Homicídios no Paraná
1500
Homicídios em
1000 Curitiba
500
0
2014 2015 2016 2017 2018
Conforme já denotava a tabela 1, vê-se que nos últimos dois anos o Estado apresentou
diminuição considerável no número de cidadãos vitimados por assassinatos, tendência que
Curitiba também demonstrou.
Outra fonte de dados atesta esta informação: o resultado da redução dos homicídios
pode ser verificado no Atlas da Violência 2019, formulado pelo IPEA a partir de dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Nele, computa-se uma taxa estimada de
homicídios baseada no número registrado e oculto, sendo este último o cálculo das mortes
7
violentas por causa indeterminada multiplicadas pela proporção destas em relação às mortes
com causa determinada. A tabela 2, extraída do Atlas, refere-se à queda no número relativo de
homicídios em Curitiba entre 2007 e 2017 de quase 40%.
Tabela 2 – Variação na taxa de homicídios/100 mil habitantes registrada em Curitiba e outras capitais entre 2007
e 2017 (sem destaque no original)
Gráfico 2 – Variação no número de homicídios dolosos registrados em Curitiba e no Paraná em relação ao ano
anterior
10,00%
Variação percentual em relação ao ano
5,00%
0,00%
-5,00%
anterior
-10,00%
-15,00%
-20,00%
-25,00%
2014 2015 2016 2017 2018
Variação no Paraná -2,22% -3,94% 3,39% -12,45% -10,61%
Variação em Curitiba 7,36% -21,09% 4,23% -20,73% -21,02%
8
Hipóteses para esta diferença de intensidade nas tendências são tratadas nas
considerações finais.
Antes disso, cabe ressaltar outro dado pertinente à distribuição territorial dos
homicídios. Mesmo dentro do município há locais que concentram estes crimes. Os relatórios
da SESP-PR separam, para Curitiba, a criminalidade por bairros, o que torna notório que
existem bolsões de violência homicida. O principal deles, e. g., é o bairro da Cidade Industrial
de Curitiba (CIC), que respondeu por quase 20% dos assassinatos da Capital em 2018
(PARANÁ, 2019, p. 11), embora nele habite historicamente cerca de 10% da população
curitibana (MENDES, 2015).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
mesmo ocorreu na Capital. Essa concomitância indica, de um lado, que o fenômeno está
influenciado por fatores que vão além da esfera municipal.
Por outro lado, chama atenção que Curitiba tenha tido um desempenho mais relevante
que o restante do Estado na preservação da vida em 2015, 2017 e 2018. Seria precipitado e
fugiria do escopo deste artigo procurar apontar as razões para tanto. Contudo, uma hipótese,
pendente de estudo mais aprofundado, pode ser destacada: o aumento do número de
investigações da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Delegacia da Polícia
Civil na Capital.
5. REFERÊNCIAS
MENDES, M. Uma grande série sobre Curitiba: Mapas com as Regiões da Cidade. 2015.
Disponível em https://omensageiro77.wordpress.com/2015/03/08/uma-grande-serie-sobre-
curitiba-mapa-com-as-regioes-da-cidade. Acesso em 12 ago 2019.