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INSTITUTO EDUCACIONAL DO VALE DO PARAÍBA

ALINE CRISTINE DOS SANTOS

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS ESCOLARES

PARAIBUNA-SP
2016
INSTITUTO EDUCACIONAL DO VALE DO PARAÍBA
ALINE CRISTINE DOS SANTOS

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS ESCOLARES

Monografia apresentada como exigência do curso


de pós-graduação para obtenção do título de
Especialista em Gestão Escolar, sob orientação do
professor João Tomaz de Oliveira.

PARAIBUNA-SP
2016
FICHA CATALOGRÁFICA
SANTOS, Aline Cristine dos.
MEDIAÇÃO DE CONFLITOS ESCOLARES, Paraibuna. 2016.
Orientação:João Tomaz de Oliveira.

Páginas: 55 - INSTITUTO EDUCACIONAL DO VALE DO

PARAÍBA

Monografia apresentada como exigência do curso de pós-


graduação em Gestão Escolar para obtenção do título de
Especialista.

1 – DIFERENÇA ENTRE CONFLITO E VIOLÊNCIA; 2 –


MANIFESTAÇÕES VIOLENTAS NO AMBIENTE ESCOLAR; 3 –
ESCOLA CIDADÃ: UMA POSSIBILIDADE ENVOLVENDO TODA
A COMUNIDADE ESCOLAR; 4 - INTERROMPENDO VIOLÊNCIAS
E REPARANDO DANOS.
MEDIAÇÃO DE CONFLITOS ESCOLARES

ALINE CRISTINE DOS SANTOS

APROVADA EM ........../............../........................

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr.
COORDENADORA

Prof. JOÃO TOMAZ DE OLIVEIRA


PROFESSOR

Prof. Ms. _____________________________.


SUPLENTE
EPÍGRAFE

“É preciso diminuir a distância entre o que


se diz e o que se faz, até que num dado
momento, a tua fala seja a tua prática”.

Paulo Freire
AGRADECIMENTOS

A deusa na qual tenho fé, onde busco forças e me torna possível respirar e
existir,
A minha mãe, que já não esta mais entre nós para ver esta conquista,
Meu filho amado que por vezes ficou sem a presença da mãe para que este
estudo pudesse de fato acontecer e a todos que contribuíram e acreditaram em meu
potencial.
DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a meu filho Ían Curtis com muito amor.
RESUMO

Atualmente precisamos rever nossas ideias sobre conflitos e de que forma podemos
gerencia-los. No ambiente escolar devemos identificar situações cotidianas em que
esses conflitos possam ser meios interessantes de gerar aprendizagens. A gestão
desses conflitos e a mediação devem ser aprendidas, praticadas e multiplicadas por
toda a comunidade escolar. Desafiar os envolvidos a criarem suas próprias
respostas para seus enfrentamentos, experimentando novos modos de pensar e
fazer, reinventando projetos, dando novos significados aos que já existem e integra-
los à proposta pedagógica da escola. Sugerir a construção de parcerias e alianças
que tirem a escola do isolamento. Os conflitos são parte de nossa realidade, de
nossa vida, simples ou graves nos obrigam a rever ou reafirmar valores e
posicionamentos. Não haveria mudança e nem aprendizagem sem eles. Conflitos
são diferentes de manifestações violentas, estas não podem e nem devem ser
toleradas, precisam ser interrompidas e reparadas com justiça restaurativa. À
medida que vamos compreendendo e lidando com os conflitos, a cultura da escola
irá se transformando e logo se terá uma cultura de dialogo e paz, que são a
verdadeira base para as mudanças.Este trabalho é um olhar sobre as possíveis
formas de se manejar os conflitos no espaço escolar, com base na escuta ativa, no
diálogo, no manejo das situações para que não se agravem.

Palavras – chave: conflitos; aprendizagens; cultura de diálogo; justiça restaurativa;


mediação.
ABSTRACT

Today we need to revise our ideas about conflict and how we can manage them. In
the school environment should identify everyday situations in which these conflicts
can be interesting means of generating learning. The management of these conflicts
and mediation must be learned, practiced and multiplied by the whole school
community. Challenge those involved to create their own answers to their struggles,
experimenting new ways of thinking and doing, reinventing projects, giving Giving
new meanings to those that already exist and integrates them to the pedagogical
proposal of the school. Suggest the construction of partnerships and alliances that
take the school of isolation. Conflicts are part of our reality, of our life, simple or
serious force us to revise or reaffirm values and positions. There would be no change
and no learning without them. Conflicts are different from violent demonstrations,
they cannot and should not be tolerated, need to be stopped and repaired with justice
restorative. As we understanding and dealing with the conflicts, the school culture will
be transformed and soon they will have a culture of dialog and peace, which are the
real basis for the changes.This work is a look into the possible ways to handle
conflicts at school, based on active listening, dialog, in the management of situations
for which does not worsen.

Key words: conflicts; learning; culture of dialog; restorative justice; mediation.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................10
CAPÍTULO I – DIFERENÇA ENTRE CONFLITO E VIOLÊNCIA..............................14
CAPÍTULO II – MANIFESTAÇÕES VIOLENTAS NO AMBIENTE ESCOLAR.........20
2.1 – FATORES EXTERNOS QUE DESENCADEIAM VIOLÊNCIA........................21
2.2 – FATORES INTERNOS QUE DESENCADEIAM VIOLÊNCIA..........................23
CAPÍTULO III – ESCOLA CIDADÃ: UMA POSSIBILIDADE ENVOLVENDO TODA
A COMUNIDADE ESCOLAR.....................................................................................27
3.1 – A VOZ DOS JOVENS ALUNOS.......................................................................32
3.2 - A VOZ DA FAMÍLIA E DA COMUNIDADE..................................................... 34
3.3 – CONVIVÊNCIA E COMUNICAÇÃO PARA SE TER SEGURANÇA................36
CAPÍTULO IV - INTERROMPENDO VIOLÊNCIAS E REPARANDO DANOS........38
5.1 - O PROFESSOR MEDIADOR ESCOLAR E COMUNITÁRIO (PMEC)..............42
5.2 JUSTIÇA RESTAURATIVA- UMA PRÁTICA ALTERNATIVA PARA A
RESOLUÇÃO DE CONFLITOS.................................................................................47

CONCLUSÃO............................................................................................................50
BIBLIOGRAFIA..........................................................................................................52
10

INTRODUÇÃO

O presente estudo teve por objetivo investigar a existência de conflitos e


situações violentas e modelos de resolução desses conflitos, envolvendo toda
comunidade escolar e demais parceiros em escolas da rede pública do Estado de
São Paulo. O conflito entre tantas definições pode ser considerado uma conjuntura,
um momento crítico onde existe tensão produzida pela presença de motivo
contraditório. Segundo a psicanálise há em todo conflito um desejo reprimido,
inconsciente. Ele pode ter desfecho competitivo consciente entre indivíduos ou
grupos que visam à sujeição ou destruição do rival. Pode ser acarretado também por
incompatibilidade entre valores culturais, cujos portadores humanos estabelecem
contato. O conflito pode resultar também em altercação, barulho, pendências,
oposições e lutas. As mais diversas tentativas de enfrentamento das questões
referentes à violência e indisciplina dentro das escolas e a possibilidade de existir ou
não, práticas e ações restaurativas, políticas públicas e legislação sobre o assunto
envolvem a preocupação de todos os envolvidos. O espaço escolar divide com a
família a obrigação da formação e da educação, sendo atualmente a principal
responsável pelo desenvolvimento ou não das pessoas, ou pelo menos assim é
vista. A indisciplina e a violência na escola precisam ser estudadas, entendidas e
divulgadas de forma simples, de fácil compreensão para que o seu enfrentamento,
aliando educadores, pais e Estado, possa acontecer de forma efetiva e diversificada,
se adequando a cada espaço escolar e assim, desenvolvendo políticas públicas que
atendam as necessidades existentes. A análise e as experiências da utilização de
meios alternativos e do projeto referente ao professor mediador escolar e
comunitário como possíveis soluções de conflitos nas escolas poderá expandir a
criação e explicitação de novas e viáveis alternativas dessa solução dos problemas
existentes nas escolas. O atual panorama existente dentro da escola, bem como a
possibilidade de atuação e comprometimento do meio escolar com o projeto do
professor mediador pode revelar uma ação nova que tende a ser algo diferente na
resolução dos conflitos existentes, bem como na alternativa atual para, em meio aos
problemas pedagógicos e de violência, persistam o desenvolvimento e a cultura de
paz.
11

A escola deveria ser o espaço onde esses conflitos fossem meios sadios para se
promover aprendizagens, por meio de situações vivenciadas no contexto do dia a
dia. Quando bem manejados, podem se desdobrar em situações de intensa
criatividade, mas em muitas vezes a falta de preparo para lidar acabam colaborando
para que os mesmos se transformem em incivilidades e violências. Os conflitos
estão em toda parte, fazem parte da vida e no ambiente escolar por se tratar de uma
micro sociedade eles ganham destaque. Não podemos classifica-los como bons ou
ruins mas a forma como lidamos com eles é que podem ser positivas ou negativas.
Compreender tudo isso acaba por se tornar o maior desafio para todos da
comunidade escolar, em especial gestores e professores.
Os conflitos quando são ignorados podem ter consequências não desejadas,
causam sentimento de insegurança que podem reforçar ações violentas. É muito
comum a confusão entre conflito e violência e suas denominações erronêas são as
possíveis causas da inabilidade no manejo das situações conflituosas. Quando os
sentimentos de insegurança surgem com ou sem razões objetivas, todo o
aprendizado fica comprometido, assimilar o que é proposto fica muito mais difícil. A
mídia tendenciosa reforça ainda a ideia de que não se pode fazer nada a respeito,
que os comportamentos comprometidos em conflitos ou violências que acontecem
em tantas escolas é reflexo de nossa sociedade e situação econômica, parte da
cultura atual e que devemos aceita-lá. Essa ideia não deve ser aceita visto que
mesmo em situações extremas e difíceis é possível fazer da escola um local seguro,
alegre e estimulante para todos que ali estão. Para isso de fato acontecer é
necessário interesse por parte de todos os envolvidos, em especial gestores,
professores, família e parceiros, visto que causas internas de origem pedagógicas,
administrativas são tão relevantes quanto as externas de cunho social ou
econômico. A relação escola-comunidade deve ser olhada como transformadora,
onde um ambiente aprendiz, de paz possa exercer influência positiva. Sem
desconsiderar os fatores externos, este trabalho foca em causas internas que
podem gerar rupturas de equilíbrio no ambiente escolar. Condutas e atitudes como a
dificuldade de reconhecer e lidar com conflitos, aulas sem sentido, incoerência na
equipe, ausência de protagonismo juvenil, desestrutura dos colegiados, regras
impostas e punições são alguns fatores que colocam a escola em risco e
envenenam o ambiente. A gestão escolar pode criar condições para provocar
reflexões e agir coletivamente, fortalecendo um clima favorável ao dialogo. Criar e
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oferecer um clima onde todos se tratem de forma respeitosa e se deêm


oportunidade de vivenciar relações baseadas em confiança. Fazendo que mesmo
aqueles que acreditam que não possuem competências e habilidades poderão
desenvolve-las. Precisamos por um fim na espera de soluções milagrosas advindas
de fora e criar situações que favoreçam a criação de soluções coletivas e
democraticamente.
Mesmo com avanços tecnológicos atualmente em nossa sociedade a
violência está presente, faz parte da sociedade humana e permeia o cotidiano. A
escola como parte da sociedade não é uma ilha e atos violentos também estão
dentro do ambiente escolar, não sendo novidade. Seja quando um aluno utiliza
como meio de defesa uma “arma branca” para armar-se contra o “bulling” que sofre,
pelas agressões físicas resultado de discussões, depredação do patrimônio,
comportamentos sem nenhuma causa aparente que os justifique ou pelo tráfico e
consumo de drogas. No ano de 2010 a mais recente alternativa para prevenir e
conter os conflitos e a violência escolar, fruto da Justiça Restaurativa, foi promovida
pelo Governo do Estado de São Paulo (Secretaria da Educação) por meio da
Resolução SE Nº 19/2010, criando o Sistema de Proteção Escolar é a função de
Professor Mediador Escolar e Comunitário (PMEC).
Embora até o presente momento tenha recebido pouca atenção dos teóricos,
podemos esperar uma melhor compreensão do problema da violência nas escolas,
através da percepção de alunos e professores sobre a função de Professor
Mediador Escolar e Comunitário. Para a área da gestão educacional o tema
proposto é de fundamental importância, uma vez que quanto mais reflexões e
evidências forem encontradas sobre o tema, maior será a contribuição para a
melhoria da educação no país, especialmente no Estado de São Paulo, bem como
para uma significativa melhoria da ação do gestor no ambiente escolar.
Este trabalho é um convite a todos os envolvidos com a educação a refletir
sobre conflitos e como geri-los, identificando-os, reconhecendo-os e manejando para
resultar em interessantes formas de aprendizagem. Embora haja hoje a figura do
Professor Mediador Escolar e Comunitário a mediação de conflitos é papel de todos
os envolvidos com a educação. Criar as próprias respostas para os enfrentamento.
Empreender em novos modelos de pensamentos, fazer e reinventar projetos já
existentes e integra-los a proposta pedagógica, sair do isolamento e individualismo
por meio das parcerias, abertura, construção de alianças. Assim transformar a
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escola rotulada por uma cultura desordenada em espaço de cultura de paz, onde
pessoas compreendem e lidam com conflitos de forma eficaz, impedindo que se
transformem em violências. Orientar políticas públicas que complementem e torne
ainda mais viável à proposta de desenvolvimento do trabalho do professor mediador.
E, ainda mais, fomentem a possibilidade de instauração de uma mentalidade voltada
para a restauração das relações harmoniosas que devem existir dentro da escola.
14

CAPÍTULO I - DIFERENÇAS ENTRE CONFLITO E VIOLÊNCIA

Os conflitos podem surgir por inúmeras razões, geralmente no ambiente


escolar entre crianças e adolescentes eles surgem da necessidade de ser visto,
reconhecido e pertencente a um determinado grupo ou espaço. Existe também o
ciúme, a inveja, o racismo, preconceito e até mesmo a inconsciente admiração. Vale
ressaltar que nenhuma criança nasce dotada de todos esses “adjetivos”, mas
aprendem, e são construídos pelos adultos, pelo exemplo e também podem ser
desconstruídos da mesma forma. Claro que requer tempo, muita paciência e
insistência, mas não é algo impossível de se conseguir, requer dedicação e parceria
de todos os envolvidos. Em uma sala de aula os alunos estão todos acostumados
uns com os outros e convivem bem, exceto quando alguma coisa do mesmo
interesse lhes seja lançado, dai surgem conflitos, seja por um brinquedo ou por uma
atividade que exija apenas uma liderança. Isso pode provocar alguma correria e até
mesmo confrontos físicos, mas passado o incidente tudo volta ao normal. Sem
nenhum objeto de desejo especial não a razões para conflitos ou violências. Em
algumas vezes a paz é rompida quando chega um aluno novo, um estranho vindo de
outra escola, ou outra cidade. Sua conduta pode desencadear alguns conflitos e ou
violências. Muitas vezes o desconhecido fica amedrontado, isolado, se esforça para
ficar invisível. Os tradicionais donos do espaço atacam-no com provocações
gratuitas e chacotas, o novato nem se atreve a defender-se, guarda tudo consigo e
conta os dias para que isso acabe sem nem ao menos reclamar.
Demora tempo para que a aceitação aconteça se não houver intervenção.
Sotaque, estilo, visual, ideologias, local onde mora, família, gostos, costumes,
preferências e opções são elementos que desencadeiam conflitos seguidos por
violências. O que inicialmente é um conflito de diferenças que logo se assimila pode
também nunca se assimilar e transformar-se em violências psicológicas e físicas
como chacotas, isolamento, segregação, ameaças, empurrões, tapas, chutes e
espancamentos. A violência vem muitas vezes dos colegas, com quem se divide o
espaço por longas horas do dia. Crianças e adolescentes em condições propicias
podem ser muito cruéis. Quando nasce o medo dentro da escola a aprendizagem
paralisa. Isso pode ser carregado para vida adulta onde as situações em que a
pessoa sinta-se insegura irá bloquear sua inteligência impedindo-a de aprender
15

porque se esta com medo. Violência e conflito estão próximos e parecem-se muito,
porém não são iguais.
Dos conflitos podem nascer pensamentos criativos que são transformados em
arte. A criação nasce partindo do conflito entre o que se tem e aquilo que não se
tem, do que existe e do que não existe, do que não satisfaz e da perspectiva. Da
destruição para a construção. Segundo Nietzsche o conflito é importante para a
criatividade “É preciso ter caos dentro de vocês mesmos afim de dar a luz uma
estrela dançante. O preço da fertilidade é ser rico em oposições internas.” (Assim
falava Zaratustra). Comumente ouvimos professores dizendo que seus alunos são
violentos, que sua sala ou escola é violenta ao invés de dizer que estão havendo
conflitos, os quais não se estão sabendo lidar. Juntamente com essas falas vem as
justificativas, onde procuram-se culpados para as situações e não soluções para os
possíveis problemas. Isso porque é inerente do ser humano negar, esconder ou
ignorar os conflitos. Essas colocações se dão pelo despreparo e inabilidade em lidar
com eles. É relutante admitir os conflitos ou a violência, tanto os interpessoais com
também os intrapessoais “Seja para preservar a imagem da instituição e seus
funcionários, seja como estratégia de sobrevivência quando confrontados com a
incapacidade para lidar com problemas diários” (RUOTTI,2007, p.51).
Para lidar com os conflitos e com a violência são necessários três passos
iniciais. O primeiro passo é reconhecer sua existência, depois diferenciar um do
outro, por último – que demanda mais tempo – desenvolver as competências
necessárias para transformar conflitos em oportunidades de mudança no
comportamento e aprendizagem “Competência é a capacidade de agir eficazmente
em um determinado tipo de situação, apoiando-se em conhecimentos, mas sem se
limitar a eles” (PERRENOUD,2000).
Cada um tem uma opinião diferente a cerca do que são conflitos, dependendo
da idade, condição social, posição que ocupa, ideologias ou cultura. Independente
disso sabemos que conflitos tem origem nas diferenças, estão de dentro e entre os
seres humanos já que nenhum é igual ao outro. A interação se da dispondo de
diferentes condições, recursos, bens, diretrizes, valores, normas, procedimentos,
interpretações, valores, buscando chegar a um mínimo de equidade. Nos registros
históricos existe por traz de cada conquista um conflito, seja na arte, politica,
economia. Os conflitos ocasionam mudanças. Segundo Michael Fullan no ambiente
escolar o conflito bem gerido pode colaborar com o aperfeiçoamento.
16

O grupo percebe o conflito como uma oportunidade para aprender alguma


coisa em vez de ser algo a ser evitado, é o grupo que vai progredir. Não se
pode ter aprendizagem organizacional sem aprendizagem individual, e não
se pode aprender em grupo sem processar conflitos. ( FULLAN, 1993 p.36)

O diálogo se dá entre o conflito de ideias e abordagens entre pessoas que


valorizam as diferenças e desejam ampliar sua compreensão de realidade, com isso
melhorando seu fazer como já disse Paulo Freire (1970) “Dialogo é a relação
horizontal entre A e B. Nutre-se de amor, humildade, esperança, fé e confiança.”
Ainda hoje nas escolas vemos situações “antidiálogo” onde o que tem mais
poder impõe comunicados sem se comunicar e o molde de que um fala e o outro
ouve, sem interação ou contestamento ainda aplicado como foi na educação
bancária. As pessoas não dialogam, não tem segurança e confiança pra expor suas
divergências e assim a ausência de diálogo é vista como ausência de conflito. Esses
conflitos ficam camuflados e envenenam as relações explodindo em violências
psicológicas, verbais e até físicas. Muller diz que é preciso conquistar, superar e
transformar os conflitos (MULLER,2007) isso nos mostra que devemos negociar em
busca de atingir o objetivo. O conflito é essencial para que decisões deêm
resultados nas relações com escuta ativa, mutua e negociação das diferenças. No
Brasil tendemos a fugir dos conflitos visto que a discordância ou opinião contraria a
nossa é tida como hostilidade. Na história, as classes de minoria eram punidas,
castigadas, torturadas quando se colocavam contrarias as classes dominantes. A
mais de um século passado ainda vivemos essa cultura e vemos seu reflexo
atualmente em nossas movimentações ativistas. Grupos vão às ruas expondo
contrariamente algumas decisões de lideres políticos, religiosos e autoridades e logo
as represálias da poíicia acontecem, resultando num show de horrores. Conflitos são
neutros e a maneira que lidamos com eles podem determinar manifestações
construtivas ou destrutivas.
O potencial criativo e construtivo desaparece quando ele é ignorado, isso
suga a energia da equipe, impede que o trabalho colaborativo aconteça e
ressentimentos crescem e acumulam, podendo manifestar-se de forma violenta
quando o foco não é compreender as diferenças, aspirações ou desejos, negociar e
resolver as pautas mas sim atacar e destruir os outros. Quando não existe escuta
ativa e neutralidade, não há interesse em fazer perguntas e pressupõe-se que já
sabe-se o que os envolvidos sentem, pensam e querem. Se não há diálogo, o
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conflito transforma-se em confronto e daí surgem desgastes psicológicos,


agressividade e atitudes violentas. O diálogo é a ferramenta capaz de transformar os
conflitos em aprendizagem e mudanças buscando procedimentos e ferramentas que
organizem um amplo sistema de gestão produtiva do conflito “as necessidades
humanas não entram em conflito, elas coexistem. O que entra em conflito são as
estratégias que utilizamos para atender nossas necessidades” (BARTER,2007).
Não existe nenhuma organização livre de conflitos e as escolares devem
aprender a dialogar e lidar com o conflito de forma criativa. Ter autonomia para lidar
com conflitos, dialogando e buscando estratégias que não negligenciem é parte
importante no desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens, porém os
adultos devem aprender e passar pelo mesmo processo. A aprendizagem de
conviver com o conflito deve estar integrada a proposta pedagógica, a metodologia e
as interações em escolas voltadas a cidadania. “A pedagogia estimular a ação, o
dialogo, o compromisso, a cooperação e a participação, tomando o conflito como um
dos principais objetos de estudo, propiciando ferramentas para resolve-lo , o que
seria o caminho para conseguir a paz.” (GHANEN, 2004)
Segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde violência é a imposição de
um grau significativo de dor e sofrimento evitáveis. Já a Comunidade Internacional
de Direitos Humanos diz que violência é qualquer violação dos direitos civis (vida,
propriedade, liberdade de ir e vir, de consciência e culto); políticos ( direito de votar e
ser votado, participar); sociais (habitação, saúde, educação, segurança);
econômicos (emprego e salário); e culturais (dierito de manter e manifestar sua
própria cultura). A violência se difere do conflito quando pensamos em relações
desiguais, onde um tenta dominar o outro, agredir de forma física ou emocional e
ainda a omissão de seu papel para com o outro.

São manifestações de violência o abuso de poder baseado no


consentimento obrigado por meio de símbolos de autoridade, violência
verbal, institucional – marginalidade, discriminação, estratégias e praticas de
poder para fazer com que os outros se sintam inferiorizados e
menosprezados. (ABRAMOVAY,2002 p.32)

Comparando definições e interpretações de conflito e violência podemos


concluir que há diferença e interdependência. A violência existe quando não há
diálogo e sim monólogo, quando as diferenças não são respeitadas e a imposição
sobre a necessidade, desejo, aspiração ou crença sobre o outro. No conflito existe
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equilíbrio instável entre as partes que dialogam. Na violência esse equilíbrio é


rompido pela preponderância do poder de apenas um. Poderíamos fazer uma lista
de eventos consideradas manifestações de violência ocorridas em escolas
brasileiras que vão desde violação de direitos, violência física e psicológica. Essas
manifestações são consequência de conflitos negados, ignorados, mal geridos entre
diferentes concepções. Ainda existem espaços escolares equilibrados onde a cultura
do diálogo e de paz prevalecem e previnem resultados violentos. Consideramos que
uma escola esta equilibrada quando as necessidades básicas de seus membros, se
sentir-se em segurança, com autonomia e competência para enfrentar desafios
estão sendo atendidas e os conflitos existentes são manejados sem que o diálogo
se interrompa.
Quando as organizações escolares estão em equilíbrio está presente
intervenções e medidas preventivas que são implementadas para assegurar a
manutenção dessa atmosfera de diálogo. Existem as rupturas ocasionais de
equilíbrio que mesmo as escolas que são seguras e vivem clima de paz não estão
livres de servir de palco para situações ocasionais de violência. Situações de
violência contra si próprio como depressão, baixa autoestima, imagem negativa de si
mesmo, anorexia, bulimia, automutilação, tendência ao suicídio,violência física,
psicológica ou sexual contra outra pessoa, violência contra a escola como
depredação, destruição, roubo, falta de responsabilidade com a manutenção ou
preservação do patrimônio, faltar, chegar atrasado ou sair antes do permitido.
Violência contra a comunidade como vandalismo, marginalidade e comportamento
criminoso fora da escola. Situações cotidianas como professores que ofendem
alunos, alunos que ofendem professores, alunos que se agridem fisicamente,
bombas caseiras, objetos roubados, alunos que se isolam por serem negros, obesos
ou homossexuais.Nenhuma escola está livre desses episódios por mais pacificas
que sejam.
Quando esses eventos acontecessem é preciso adotar imediatamente ações
que os interrompam, recorrer a medidas que restaurem o que for danificado,
geralmente a confiança, o respeito e a segurança para que assim o equilíbrio seja
reestabelecido. Escolas que são inseguranças devem restaurar-se, não utilizando
punições como medidas a fim de reestabelecer o equilíbrio. A incivilidade é um dos
sintomas de que não se esta tendo habilidade para gerir os conflitos. Se o
comportamento grosseiro que dificulta a convivência não for considerado
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desrespeito outros seguirão. Transgredir as normas coletivamente acordadas


“impedem a construção da confiança e contaminam com medo e exclusão o
ambiente escolar”, diz Routti (2007). Se as relações forem hostis e tornarem-se
parte da cultura organizacional acontecera cada vez mais a diminuição do bem estar
e desempenho de estudantes e educadores. As lideranças desse ambiente devem
inicialmente fazer com que todos os envolvidos tomem consciência da situação a
qual estão inseridos e motiva-los despertando a força de vontade de modificar esse
quadro. É preciso selar o compromisso de interromper essas manifestações
violentas e restaurar os danos por elas provocados ao longo do tempo.
20

CAPÍTULO II - MANIFESTAÇÕES VIOLENTAS NO AMBIENTE


ESCOLAR

Ambientes onde há constante ruptura de equilíbrio e diálogo e relações hostis


predominantes estão favoráveis a ter o contexto da escola e da comunidade
infectados por situações conflituosas que tem desfecho com manifestações de
violências. Não é impossível transformar um ambiente escolar violento em pacífico,
partindo da convicção de que a realidade é feita pelos envolvidos e a mudança
começa a acontecer quando se age e soma com parceiros interessados. Agir
consiste em ouvir, discutir, procurar entender, conversar com outros, procurar
identificar as raízes dos problemas que afetam a comunidade escolar. Planejar
ações que modifiquem aos poucos a realidade. As causas externas dos conflitos não
se isolam das causas internas, umas reforçam e incentivam as outras. Esse ciclo
pode ser impedido quando a escola e a comunidade tomam a iniciativa. Essas
causas externas e internas podem acarretar a ruptura de equilíbrio e são os fatores
internos que estão sob controle da equipe escolar que irão determinar se essa
escola será segura e cidadã ou não. Já os fatores externos sejam adversos ou
benéficos podem influenciar mas não determinar que uma escola irá se tornar um
local seguro onde de fato as aprendizagem aconteçam ou um espaço caótio e de
incomunicabilidade. As características internas da escola tem um papel essencial já
que escolas seguras, em paz, em meio a entorno violento e escolas tranquilas onde
o equilíbrio foi interrompido. A desatenção ao identificar e corrigir fatores internos
que prejudicam e podem romper o equilíbrio em uma escola podem ser a principal
causa de os conflitos se expressarem de forma violenta.

2.1 FATORES EXTERNOS QUE DESENCADEIAM VIOLÊNCIA

As causas externas de violência em escolas podem vir de fatores


socioeconômicos, políticos-organizacionais e culturais. Essas causas externas estão
fora do controle direto da escola, mas isso não significa que a comunidade escolar
não possa influenciar essas causas. Em nossa sociedade embora venha se
transformando, ainda continua injusta e dividida. A gestão democrática e cultura de
diálogo ainda tem sido restritas e as necessidades básicas dos envolvidos não tem
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sido atingida. O desequilíbrio social também gera violências no que tange a privação
de direitos e imposição de sofrimentos desnecessários. A falta de tempo que as
famílias tem para dedicar-se a dialogar com os filhos e educa-los em parceria com a
escola é resultado das condições exaustivas de trabalho as quais as pessoas são
submetidas. Faltam também politicas públicas que realmente beneficiem a todos e a
participação efetivas dos membros da sociedade. A concentração de riquezas nas
mãos de poucos é um desrespeito à cidadania e os recursos insuficientes
destinados a educação nascem no contexto socioeconômico de violência e
exclusão. Dificilmente conseguimos estabelecer relações horizontais quando se tem
dificuldade em partilhar decisões e participar efetivamente de políticas que definam o
destino de suas vidas, seja pela falta de conhecimento, apropriação ou experiência.
Essa realidade dificulta o monitoramento e cobrança de ações de seus
representantes e também dos servidores públicos. Nas unidades escolares isso é
refletido na dificuldade em dialogar e expressar conflitos de forma positiva, criativa,
não violenta. A burocracia e rigidez dos sistemas de ensino não colaboram na oferta
de boas condições de trabalho e remuneração digna, obrigando os docentes a
deslocar-se por várias escolas, revelando com isso uma situação de violência que
gera outras.
A descontinuidade nas políticas públicas em relação à educação e o próprio
sistema de ensino também é outro aspecto que que afeta escolas e as impede de
construir um ambiente seguro e equilibrado. Quando um projeto é interrompido,
todos os envolvidos sentem-se desrespeitados já que muitos empenham-se e
dedicam-se totalmente para o sucesso do mesmo. Quando isso acontece muitos se
desencantam e já não aceitam outras propostas, resistem as mudanças. A ausência
de diálogo oculta conflitos e desencadeia manifestações violentas em sala de aula e
na escola. Condutas como racismo e machismo que estão enraizadas em nossa
cultura patriarcal, contribuem e muito para que a discriminação e violência contra
mulheres, negros e homossexuais sejam toleradas. Noções diferenciadas do que é
legal ou ilegal depende da circunstância, classe social dos envolvidos, consumismo
e exposição à cenas de violência na mídia que geram diferentes manifestações e
desconsideração pelas necessidades e direitos dos outros. Os meios de
comunicação colaboram como influência negativa, mesmo que não visem criar
realidades eles os expõem para a sociedade.
22

Uma exposição intensa pode promover certa confusão de perspectiva sobre


o real e o imaginário, e, por consequência, uma banalização das relações
sociais fundadas nas agressões e na eliminação do outro. No mínimo elas
não incentivam o dialogo e a solução de conflitos pela argumentação.
(NJAINE e MINAYO, 2003, pp.119-34).

É necessário refletir sobre a escola que queremos e quais alunos queremos


formar. Precisamos parar e refletir juntos sobre a escola dos sonhos e a visão de
futuro que irá impulsionar a prática do presente. Peter Senge (2005) diz que a
capacidade de formular uma visão compartilhada do futuro que se deseja alcançar é
uma das disciplinas que garantem que as organizações, inclusive que a escola
consiga aperfeiçoar e mudar. A consciência da diferença que existe entre a situação
atual e a sonhada cria uma tensão criativa. Um conflito pode impulsionar ações
transformadoras. Não se pode permitir que atitudes críticas nos estacionem devido a
distância que separa a atual realidade da qual idealizamos para amanhã. Afinal,
somos parte da realidade que criticamos e queremos mudar. Em qualquer contexto,
seja social, politico, cultural, econômico ou organizacional, assim como no sistema
educativo a característica é a criação a partir da interação entre pessoas, a ativa
participação de tais interações. Para tanto, tudo que é feito no interior da escola não
é apenas influenciado pelo contexto interno, mas pode se influenciar por este
contexto. As ações de algumas escolas são capazes de administrar conflitos,
fortalecendo diálogos e a aprendizagem. Conseguem interagir com fatores
socioeconômicos, políticos, organizacionais e culturais que geralmente estão na raiz
das manifestações de violência. Quando se aprende a reconhecer e lidar com os
conflitos, se previne e interrompe violências. Com isso, a comunidade escolar
conquista a superação de problemas e colabora na transformação de sua realidade.

2.2 FATORES ESCOLARES INTERNOS QUE DESENCADEIAM VIOLÊNCIA

Quando vínculos afetivos entre a comunidade escolar é fraco ou inexistente e


não há confiança suficiente para que diferenças possam ser discutidas, expostas e
negociadas por meio de diálogos, os conflitos se transformam em confrontos e
tendem a expressar-se de maneira violenta. Nesses casos não há como solicitar ou
oferecer apoio, situações de frustração não irão transformar o conflito em
oportunidades de superação. Escolas seguras rompem o isolamento entre os pares,
aproximam as famílias e a comunidade a que servem, trazem parceiros, alimentam
23

alianças. São capazes de dialogar com todos, mesmo em contextos problemáticos já


que também se obtem muita coisa boa, criativa, alegre e positiva.
Para manter o equilíbrio nas escolas, todos os envolvidos devem conhecer os
motivos reais que levaram a sua ruptura e estes fatores internos e externos deverão
ser os norteadores nas ações preventivas e restaurativas da nova escola segura e
de paz. Relacionamentos hostis na escola, na sala de aula ou dos professores
provoca sensações de incompetência e humilha. Isso traz frustração e mal estar no
ambiente. O desiquilíbrio inicial pode não acarretar reações de violência desde que
reconhecido podendo tornar-se fator de aprendizagem e crescimento. A mediação é
essencial e deve partir não apenas de um profissional designado a isso mas é dever
de todos os educadores, lideres e facilitadores que poderão ajudar crianças, jovens
e adultos a aprender a tolerar a frustração e transformá-la em algo novo a ser
experimentado em ações criativas de resistência. Enquanto houver resiliência
mesmo as maiores frustrações e os conflitos mais graves poderão ser positivos.
Segundo Grotberg (2006 p.15) é essa capacidade humana de enfrentar, fortalecer e
vencer situações adversas que nos permite dar a volta por cima e superar os
obstáculos na vida. Se a frustração das necessidades das pessoas não forem bem
administradas por elas mesmas ou apoiadas por outros ao invés de gerar
criatividade e evolução criará insegurança. A insegurança ameaça às necessidades
no que tange ao pertencimento, respeito, competência ou autonomia e pode levar
qualquer pessoa a despertar agressividade. A agressividade pode ser neutra se
houver apoio e for devidamente canalizada em atividades esportivas, culturais,
artísticas, atividades comunitárias oferecidas pela escola ou outras instituições
resultando em autossuperação.
A energia pode virar agressão quando nada é feito para transformá-la em
ações produtivas. As pessoas podem se manifestar de diferentes formas que vão
desde a violência contra si mesmo até para com os outros, contra os espaços onde
se esta inserido e com a sociedade no geral de forma direta depredando, roubando
ou indireta com faltas e sabotagem. A agressividade pode ser neutra, nem boa e
nem ruim, sem ela certamente não teríamos condições e nem força para nos
levantar todos os dias e enfrentar transporte, ir para o trabalho onde somos mal
remunerados, pagar preços absurdos no mercado e altos impostos. Sem ela não
conseguiríamos batalhar por nossos direitos, no entanto se perdemos o controle a
agressividade pode desencadear agressões, dando lugar a violência. Se isso
24

acontece os resultados podem ser graves. A forma como lidamos com nossa
agressividade que pode tornar-se em algo positivo ou negativo.

A agressividade é como fogo, pode fazer bem ou mal, destruir ou criar. É


minha assertividade, um componente da minha personalidade que me
permite enfrentar os outros sem fraquejar. Sem agressividade estaríamos
constantemente fugindo de qualquer ameaça que os outros nos fizessem e
seríamos incapazes de vencer o medo e lutar para que nossos direitos
sejam reconhecidos e respeitados. (MULLER 2006,pp.29-30)

Acordos coletivos e normas de convivência que favoreçam relacionamentos


saudáveis é uma estratégia para para que sejam consolidados vínculos entre a
comunidade escolar. Interações positivas tecem conexões interpessoais que
produzem sentimentos de segurança e aceitação. Allport (1954) diz que pessoas
tendem a relacionar-se de maneira hostil ou amigável, que essas relações tem como
base o sentimento de simpatia ou antipatia.Se nada for feito em relação ao
sentimento de antipatia entre as pessoas ela abrirá espaço para o preconceito. Se
ninguém se posicionar firme contra o preconceito ele irá evoluir para a
discriminação. Se a discriminação for tolerada fenômenos como a criação de bodes
expiatórios e atitudes racistas, sexistas e fascistas começarão a surgir. Para que
relações amigáveis surjam entre os membros da escola, uma postura firme,
contrária e clara deverá ser tomada frente as relações hostis, violências
psicológicas, físicas, sexuais e incivilidades deverão ser tomadas ao mesmo tempo
que se incentivem e estimulem atitudes e gestos de respeito, civilidade, tolerância,
valorização das diferenças e cooperação. As Normas de Convivência precisam ser
apresentadas, discutidas e acordadas por toda comunidade escolar. Esse processo
é fundamental para que se haja também um Código de Conduta onde ele funcionará
como uma constituição que define com clareza o que desejam e pelo que vale a
pena lutar, oferecendo as melhores condições possíveis ao desenvolvimento de
todos, que este seja aceito e praticado, revisado anualmente, avaliado e
aperfeiçoado por todos os envolvidos. Nesse documento é preciso constar que
qualquer forma de violência não será tolerada, isso inclui muitas vezes a prática
banalizada de se dizer palavrões e incomodar colegas, visto que isso é uma atitude
de bullying. Os conflitos deverão ser resolvidos conversando e as normas válidas
para todos incluindo professores, gestores, funcionários e famílias, não apenas
alunos.
25

O bullying tem sido um dos mais graves casos de violência dentro e fora de
escolas, ele vai de incivilidades, agressões físicas podendo evoluir pra fatalidades.
Ele não acontece somente entre alunos mas também entre professores e alunos,
professores e professores, trata-se de um relacionamento abusivo que deve ser
reconhecido pelas atitudes intimidadoras, uso de força física, influência psicológica e
agressões verbais. Um dos pontos de partida para uma escola ser segura, livre de
hostilidade, acolhedora e pacifica é a prevenção e prática de justiça restaurativa,
reconhecendo que os alunos desenvolvem-se melhor em um ambiente onde sintam-
se seguros. Prevenir é o caminho para que o sentimento de insegurança e
impotência diminua e o consequente endurecimento e radicalismo social que se
infiltra nas escolas também. È importante ressaltar que se a comunicação entre os
atores da escola estiver envenenada será impossível criar vínculos positivos e a falta
de transparência e comunicação direta acarretará em acusações, julgamentos e
sermões. A incapacidade de dialogar com escuta ativa procurando perceber as reais
necessidades por meio de perguntas e da observação da linguagem não-verbal, faz
com que os conflitos que poderiam ser superados por acordos se transformarem em
confrontos.Segundo Bohm, 1996 a palavra diálogo significa através da palavra e não
palavra entre duas pessoas. O diálogo pode se dar com qualquer número de
pessoas, não apenas entre duas. Até mesmo uma pessoa sozinha pode ter o
sentimento dialógico dentro de si, se o espírito do diálogo estiver presente. O diálogo
seria a amálgama que mantém juntas as pessoas e a sociedade. As vezes faltam
canais ou estes são insuficientes para permitir e estimular a participação de todos os
envolvidos em uma dada situação. Toda participação começa pela escuta. Quando
membros da comunidade escolar não são ouvidos por seus pares ou não possuem
voz, não há como se estabelecer vínculos. O diálogo é também participação,
corresponsabilidade e poder compartilhado. Todos devem agir como protagonistas
pois são agentes de mudança que necessitam sentir-se conectados à escola. As
necessidades básicas de sentirem-se competentes e autônomas precisam ser
atendidas e se isso não acontece o equilíbrio se rompe. É difícil para os alunos
sentirem –se conectados com a escola quando a mesma não faz sentido algum para
eles. Se eles sentem que não estão aprendendo e são obrigados a fazer lições que
não tem nada a ver com sua realidade, seus interesses e aspirações. A abordagem
de matérias descontextualizadas e fragmentadas que não fazem sentido e a falta de
relevância curricular, dividido em disciplinas que não se comunicam e metodologias
26

passivas aos alunos e não permitem construção de conhecimento e autonomia,


tampouco a compreensão de sua realidade “ensinar para a compreensão da
complexidade e de sua própria humanidade é uma forma de gerar prazer, alegria,
um grande antídoto para todas as formas de violência ” (MORIN,2000).Currículo que
não se conecta à vida cria frustração. A insegurança e agressão surgem mediante a
isso pois faz com que passem dos limites e com isso o equilíbrio também é
rompido. Quando alunos deixam de frequentar a escola muitas vezes a evasão não
se relaciona com falta de vagas, transporte, trabalho, saúde ou envolvimento com
drogas mas sim a falta de vontade de estudar. Escolas seguras, cidadãs,
contribuem na transformação de contextos violentos. A criação de cultura de paz
em nível micro têm poder de influenciar o contexto macro, da mesma forma como
ações globais de construção da paz afetam o nível local. Estruturas fixas,
inabaláveis compõem-se de interações estáveis entre unidades que podem ir de
países, estados, cidades, bairros, escolas, famílias e indivíduos. Haavelsrud diz que
ao mudarmos interações especificas, contribuímos para a mudança em conjunto.
Relações significativas entre as pessoas, os conhecimentos que ambas constrõem e
a realidade à qual aplicam esses conhecimentos, utilizando-os como instrumentos
de transformação. As oportunidades para diminuir os impactos que fatores externos
causam no ambiente escolar, como ruptura de equilíbrio aparecem para fortalecer
processos internos para melhoria das interações, sentido ao currículo, busca de
parcerias, redes e alianças, diálogo, pressão à órgãos públicos quando necessário.
Ações educativas contribuem não só para a aprendizagem dos alunos, mas também
para o desenvolvimento da coesão e integração social em nível local. Em uma
escola onde fatores internos manifestam atitudes violentas são equacionadas
melhora seu entorno e dá contribuição na construção de uma cultura de paz no
mundo.
27

CAPÍTULO III - ESCOLA CIDADÃ: UMA POSSIBILIDADE ENVOLVENDO


TODA A COMUNIDADE ESCOLAR

Conexão com o professorado, participação da comunidade escolar,


competência de convivência, comunicação e currículo relevante que faça sentido
para os alunos são algumas das dimensões fundamentais a serem cultivadas para
se construir uma escola segura e cidadã. Para criar uma atmosfera equilibrada,
harmoniosa, que estimule a aprendizagem e a cidadania é preciso exercitar o
vínculo entre toda a comunidade escolar, a participação de todos, com
oportunidades de desenvolvimento profissional contínuo e interação com o entorno.
Habilidade e competência para manejar conflitos, dialogar para preveni-los e
currículo relevante. Escolas seguras, em paz, são aquelas as quais o equilíbrio
prevalece mesmo que de forma instável. Esse equilíbrio traz a sensação de
segurança, essencial a aprendizagem. Sabemos que as necessidades psicológicas
da equipe e dos alunos estão sendo atendidas quando existe o sentimento de
pertença, de aceitação, a autonomia, a liberdade para fazer escolhas, a
autodeterminação e a competência em ser autoconfiante, a capacidade de superar
desafios e a realizar as propostas. O que causa a frustração e a insegurança é o
desiquilíbrio, o desrespeito às necessidades. Para se minimizar os efeitos que
causam os conflitos deve-se trabalhar de forma criativa, considerando causas
externas e internas em seu manejo. Exige também oferecer apoio para se evitar
reações agressivas contra a escola, sociedade, outros e a si mesmo, essas
manifestações são resultados das frustrações e inseguranças. São necessidades
básicas do ser humano a relação, a autonomia e a competência que podem ser
atendidas por meio de interações, instrução e gerenciamento adequado.
O cuidado com essas necessidades faz com que as relações sejam
amigáveis, criando assim vínculos fortalecidos. O desafio, apoio e confiança indicam
o poder de se criar competências e autonomia que sustentam o diálogo. Uma
instrução bem planejada e participativa, com atividades curriculares pertinentes e
aprendizagem continua atendem a essas necessidades pois quando ligadas a
autonomia, faz com que todos se sintam capazes de aceitar desafios. O manejo
adequado de tempo, espaço, conteúdo e relações contribui para a que as pessoas
possam fazer escolhas e assumir responsabilidades. Assim, o senso de
28

competências não diminui frente aos desafios da aprendizagem. Em uma escola


segura existe conexão entre todos os membros da comunidade escolar, amizade e
confiança são características. A conexão ocorre quando a nossa necessidade de ser
aceito e apreciado pelo grupo acontece. Respeito, apoio, encorajamento são
vínculos que devem ser construídos entre o corpo docente e a unidade escolar. É
preciso haver conexão entre os docentes para que isso seja também criado entre os
alunos. Em muitas vezes a desvalorização profissional, a necessidade de trabalhar
em várias escolas e a alta rotatividade da equipe dificultam o fortalecimento desses
vínculos. Quando a escola acolhe com afeto e demonstram que os sentimentos e
ideias da equipe são importantes e que todos são parte de um coletivo, que suas
competências e habilidades serão aproveitadas e desenvolvidos é possível criar
esses vínculos. O mesmo respeito e encorajamento que as lideranças esperam que
os professores ofereçam aos alunos devem ser oferecidos a eles. Todos os
envolvidos devem receber atenção e todo apoio possível. Possibilitar o diálogo, a
cooperação e o aperfeiçoamento não só no domínio de conteúdos, mas também das
técnicas de ensino, gestão da sala de aula e capacidade de atender as
necessidades de seus alunos. O diálogo deve ser prática permanente, inclusive
com as lideranças de órgãos responsáveis pela educação pública, administrando
conflitos entre escolas e órgãos centrais, a respeito das prioridades quanto a
alocação de tempo e outros recursos.
Vínculos entre estudantes e escola devem ser construídos para que o
ambiente escolar seja apaixonante. Os alunos devem se sentir parte dela,
pertencentes a escola através de uma conexão criada pelos envolvidos. Segundo
Resnick (1997), sabemos que o vínculo existe quando professores tratam alunos de
forma justa, os adultos se importam com as crianças, todos estão próximos uns dos
outros, todos sentem-se parte da escola, todos sentem-se felizes e seguros no
ambiente escolar. Podemos com isso perceber que a construção dos vínculos está
relacionada a forma com que os adultos, em especial os professores demonstram
suas expectativas e orgulho em relação a seus alunos. Assim despertando o
sentimento de acolhimento que é tão importante. Robert Blum (2005) diz que alunos
que experimentam conexão passam a gostar da escola e acreditam que seus
professores têm confiança neles e em sua capacidade de aprender; acreditam que a
educação faz diferença em suas vidas e têm amigos na escola; acreditam que a
disciplina é justa e têm oportunidade de participar em atividades extracurriculares.
29

Uma escola é apaixonante quando ao mesmo tempo em que se estabelecem altos


padrões acadêmicos associados a um forte apoio dos professores à aprendizagem
de todos os alunos, múltiplas formas de apoio são oferecidas a fim de que ninguém
fique para trás. Os professores utilizam uma ampla variedade de métodos e
tecnologias instrucionais que possibilitam a participação ativa de todos. Os
conteúdos das aulas são relevantes para a vida dos alunos. Oportunidades de
aprendizagem utilizando experiências práticas são oferecidas. Existem atividades de
recuperação. A família é incentivada a acompanhar e alimentar expectativa em
relação a vida escolar dos filhos, seus desempenhos e a possibilidade de completar
a escola básica. O ambiente deve ser seguro, as relações devem ser positivas e
respeitosas. Normas de convivência justas e consistentes, consolidadas em Código
de Conduta acordado de forma coletiva, monitoradas de forma contínua. Temas
como bullying, cyberbullying, sexting, segurança, cooperação, valores, prevenção de
gravidez indesejada na adolescência, DSTs, combate ao uso de drogas, orientação
vocacional devem ser discutidos em sala pelos professores e na escola por
funcionários e lideranças gestoras.
Oportunidade de aprendizagem através do voluntariado e realização de
projetos e serviços à comunidade devem ser oferecidas aos alunos. Os adultos
devem conhecer e respeitar as culturas dos alunos. Manifestações artísticas devem
ser valorizadas e apoiadas. Deve se usar os movimentos artísticos que fazem
apologia a violência, criminalidade ou uso de drogas para refletir com os jovens se é
isso o que realmente querem para suas vida . Para que a família e a comunidade
sintam-se conectadas à escola elas devem se sentir parceiras e corresponsáveis
pelo sucesso na aprendizagem e educação dos alunos. Conhecer sua cultura que
embora possa ser diferente da cultura escolar e valoriza-la. Promover encontros,
visitas, atendimentos, questionários, procurando enxergar e valorizar suas forças e
capacidades, que existem mesmo em condições adversas. Conscientiza-las sobre
os objetivos escolares e as estratégias resultantes da parceria escola-familia para
alcançar e envolver a todos nas tomadas de decisões e na cooperação coletiva na
resolução de conflitos. Implantar projetos escolares desenvolvidos pelos alunos que
possam ser aplicados a fim de melhorar a realidade comunitária fortalecem os
vínculos e tornam o currículo mais significativo. As pessoas precisam se sentir
conectadas umas às outras, para que vínculos positivos possam ser desenvolvidos
entre elas, aumentando a qualidade de sua participação e competência para
30

dialogar e conviver, gerenciando conflitos de forma positiva. Possibilitar a


participação de toda comunidade escolar e acreditar na sua competência, na sua
capacidade de realizar e resolver problemas de maneira autônoma ou seja confiar.
Ceccon, 2009 diz que ser protagonista é deixar o lugar de espectador e entrar
em cena, corre o risco de agir, de se mostrar. É ser o autor de sua própria vida.
Destacar o protagonismo é acreditar na capacidade que cada um tem de tomar
decisões e agir, exercendo sua autonomia...Para que de fato as ações protagonistas
aconteçam é necessário acreditar na capacidade e competência das pessoas, é
preciso escutá-los, compreender e apoiar suas ações.É preciso convidar a
comunidade escolar a pensar e repensar o futuro que se deseja para a escola e para
os estudantes. Para a realização dos sonhos é necessário construir juntos os
degraus da escada que os levará ao sucesso, por meio da participação efetiva nas
decisões que interessam a todos. A participação efetiva de docentes é a
oportunidade para o diálogo e a colaboração constante. Os docentes precisam
expressar suas opiniões, fazer apontamentos por seu olhar e também mostrar
possíveis soluções. Precisam ser tratados como pessoas autônomas e competentes,
como efetivamente são para que possam melhor organizar as situações de
aprendizagem em que os alunos também participem ativamente como protagonistas.
Assim como os alunos, os professores só podem engajar-se e se conectar a escola
se construírem juntos sua própria aprendizagem. A direção escolar ou a secretaria
de educação podem apresentar ótimas ideias mas somente funcionarão se todos se
apropriarem delas, discutirem e enriquecerem tais ideias a partir de suas próprias
experiências e conhecimentos.
Os professores precisam de tempo para que se reúnam e reflitam sobre sua
prática, mas apenas isso não garantirá aprendizagem profissional. O tempo precisa
ser muito bem utilizado. A primeira reflexão deve ser o porque se envolver numa
situação de aprendizagem profissional que trará benefícios não só a eles enquanto
pessoas e profissionais mas também a seus alunos. Ao apresentar uma proposta de
formação ou um projeto que implica aprendizagem de novos comportamentos
profissionais a escola deve oportunizar a busca de informações e tempo para que se
discuta essa nova proposta e depois de formarem uma ideia clara do que se trata é
que se convida a participar ou aderir a proposta. Eles é que farão a escolha, quem
propõe pode decidir ir em frente somente com aqueles que aderirem, mesmo que
não seja a maioria. Dar suporte ao grupo que decidiu começar e aos poucos
31

incentivar os outros a se juntarem a medida que forem percebendo a importância e


as vantagens de participar. Os envolvidos logo desenvolverão habilidades de
comunicação interpessoal, estratégias de equipe e liderança. É essencial haver um
mediador/facilitador de liderança educacional atuando como educador de
educadores. Precisa-se criar e/ou oferecer nos encontros, ou reuniões um ambiente
seguro. Não é possível impor ou forçar colaboração com atitudes autoritárias. Ela
deve ser uma escolha. McLaughlin ( 1987) diz que políticas públicas podem quando
muito, facilitar a obtenção de resultados, mas, no fim das contas,não se pode impor
o que realmente importa.
Lideranças escolares podem planejar em acordo com as necessidades
definidas pelo corpo docente, um plano de capacitação a ser implementado durante
as reuniões semanais ou mensais na escola. Participação significa que os
envolvidos tem voz, podem decidir, fazer escolhas a respeito de atividades que os
afetam diretamente no ambiente da sala de aula ou da escola como um todo,
incluindo também seu entorno. Todos devem sentir-se parte da escola, sendo
acolhidos, aceitos e bem-vindos. Ter voz sem ter vínculo com o espaço escolar pode
levar a intervenções fantasiosas ou rebeldia. Ter bom relacionamento sem ter voz
não oferecendo ideias e argumentos pode indicar submissão. Para que a
participação seja de fato transformadora é importante que as duas condições, ter
voz e pertencer sejam experimentadas e vividas.

3.1 A VOZ DOS JOVENS ALUNOS

Discussões e diálogos regulares em sala de aula promovem cidadania, pois


tornam os alunos participativos e corresponsáveis por toda a escola, com isso eles
tornam-se capazes de participar ativamente da sociedade. Quando é possibilitado
aos alunos o aprendizado de expressar suas ideias, pontos de vista e opiniões na
escola logo irão fazê-lo em outros contextos. Para o desenvolvimento dos alunos
diálogos beneficiam muito mais do que os monólogos com o professor diante da
turma. Onde há participação, há desenvolvimento intelectual e emocional, quando
ela se origina de sua identidade e convicções maior será o impacto. Os alunos
ficam mais motivados quando as possíveis soluções partem deles. Segundo a
escada de Roger Hart existe um caminho a ser percorrido até atingir de fato o
protagonismo juvenil, são oito degraus a serem percebidos pelos adultos. O primeiro
32

degrau mostra o jovem manipulado, onde o adulto usa o jovem para apoiar suas
causas e finge uma inspiração. No segundo, o jovem aparece como adereço,
decorando apenas a situação onde eles ajudam ou impulsionam uma causa de
forma indireta, os adultos então fingem que ela foi inspirada pelos jovens. No
terceiro o jovem é usado como efeito de demonstração onde aparentemente tem
voz, mas possuem pouca escolha ou nenhuma a respeito do que farão e de como
farão. Em todos esses degraus são consideradas práticas de adultismo, onde todas
as decisões são tomadas pelos adultos, e o jovem silenciado de forma direta ou
indireta. No quarto degrau os jovens recebem um papel definido, do qual serão
informados, determinado um papel especifico e informam de como e por que estão
sendo envolvidos. Nessa prática se tem um conselho comunitário com jovens. No
quinto degrau o protagonismo juvenil inicia-se já com conselhos consultivos de
jovens, onde eles são consultados e informados. Essa prática se da quando o jovem
dá assessoria em projetos desenhados e conduzidos por adultos. Oferecem
sugestões e recomendações a esses projetos.
São informados sobre como seu input será usado e sobre os resultados das
decisões tomadas pelos adultos. No sexto degrau o protagonismo juvenil surge das
participações compartilhadas, os adultos iniciam as atividades e compartilham as
decisões com os jovens. Isso ocorre quando projetos ou programas são iniciados
por adultos, mas o processo decisório é compartilhado com os jovens. No sétimo
degrau o protagonismo juvenil aparece através das atividades que são lideradas por
jovens, eles lideram, iniciam as ações e dirigem um projeto. Os adultos são
envolvidos apenas como apoio. No oitavo e ultimo degrau percebemos o
protagonismo juvenil de fato acontecendo quando existe parceria entre jovens e
adultos, juntos compartilham e tomam decisões. Isso acontece em projetos ou
programas nos quais o processo de tomada de decisões é compartilhado entre
jovens ao mesmo tempo que lhes permitem aprender com a experiência e a
expertise dos adultos.

3.2 A VOZ DA FAMÍLIA E DA COMUNIDADE

A família e a comunidade devem ser estimuladas a participar não apenas


como voluntárias que trabalham para a escola mas sim como pessoas atuantes que
pensam e apontam melhorias para as crianças que são alunos da escola e
33

moradores do bairro. A família e comunidade deve ser parceira da equipe escolar e


juntos decidirem o que se deseja para todos, poderão também planejar ações e
atrair outros parceiros na busca de atingir os objetivos. Pessoas que tenham voz e
liderança devem ser convidadas a integrar os colegiados como APM (Associação de
Pais e Mestres), Conselho de Escola e outros que se julgarem necessários. No
Plano de Ação Escolar podem ser previstas atividades como mutirões e encontros
com líderes comunitários, representantes da cidade para equacionar os problemas e
desafios causados por contextos violentos ou apoiar ações de melhoria da qualidade
da educação oferecida. Essa participação é de extrema importância na construção
de um clima de cooperação e diálogo, em que conflitos sejam trabalhados em
conjunto. Paul Soto e Sian Jones afirmam que o desenvolvimento de redes de apoio
nas comunidades as quais pertencem jovens mais pobres faz diferença no rumo que
imprimem suas vidas. Eles afirmam também que quando se assume
responsabilidades por realizar ações transformadora, as pessoas não se sentem
mais poderosas.O fator decisivo para desencadear violência em um contexto de
pobreza e desigualdade é a baixa coesão social na comunidade e o guia de
integração dos jovens nessa comunidade. Não ser objeto de auxilio alheio, mas
contribuir para a mudança, esse é o fundamento do empoderamento.A
responsabilização compreende um processo que visa modificar o equilíbrio dos
poderes.
De um lado garante espaço para que os excluídos tomem iniciativa e decidam
e controlem a própria vida. Do outro obrigar os sistemas sociais, economicos e
políticos a renunciar parte desse controle para permitir que os grupos de minoria,
excluídos participem de processos decisórios e se apropriem passando a participar
efetivamente da sociedade na qual estão inseridos.A Educação é dever não apenas
da família ou da escola, é também dever do estado, da cidade e da sociedade. A
cidade na qual se vive deve ser compreendida como uma cidade educadora, que
conecta espaços pedagógicos formais e não formais. Conectar esses espaços,
restaurando interações pessoais, sociais e de direitos desrespeitados é o caminho
para se construir uma comunidade de aprendizagem.

Comunidades de Aprendizagem é a comunidade humana organizada que


se controi e se envolve em um projeto educativo próprio, educando se a si
mesma, suas crianças, seus jovens, seus adultos no marco de um esforço
endogeneo, cooperativo e solidário, baseado em um diagnostico não
34

apenas de suas carências, mas de suas forças para superar tais


debilidades. (MELO,EDNIR e CURY, 2009 p. 38)
3.3 CONVIVÊNCIA E COMUNICAÇÃO PARA SE TER SEGURANÇA

Talvez o maior desafio das escolas seja interagir e comunicar-se com a


comunidade de forma democrática e amigável. Para tanto, apenas a existência de
um regimento interno e normas de convivência não são suficientes para desenvolver
uma pedagogia de convivência. Segundo Micha de Winter e Dolf Hautvast deve se
criar normas de forma colaborativa com participação dos alunos, docentes e família.
Constituir um código de conduta, constituição da escola ou um plano de segurança
que desenvolva em toda a comunidade escolar habilidades de mediar conflitos por
meio de diálogos. Esses documentos são norteadores que definem com clareza o
que se deseja e pelo que se vale a pena lutar, para oferecer as melhores condições
possíveis ao desenvolvimento das crianças e dos jovens. É preciso que a normas
surjam dos que vão vive-las e avalia-lás. É importante constar que conflitos serão
resolvidos através do diálogo e tudo que que estiver previsto no documento sera
válido para todos os envolvidos, alunos, funcionários, docentes e família. Elas
devem ser divulgadas amplamente por todos e para todos os envolvidos, utilizando-
se de todos os meios possíveis, já que ou únicos capazes de promover realmente a
segurança na escola são os que formam a comunidade escolar. A tarefa das
lideranças escolares é assegurar tempo e organizar situações para possibilitar que
os próprios interessados cheguem a acordos sobre comportamentos concretos entre
eles, que incluam protocolos, e tarefas que garantam que todos se sentirão
respeitados, aceitos e seguros.
Violência, agressão e bullying são temas que devem ser envolvidos em
discussões por todos os atores da comunidade escolar. Além de explicar o por que
que não se pode aprender num contexto violento é necessário ouvir as pessoas,
conversar para que nasça a parceria. Quando lideranças apresentam normas e
regras de forma protocolar, os demais aceitarão com passividade porém em casos
de desrespeito o problema será da liderança. Quando os envolvidos definem em
coletivo como desejam conviver no ambiente escolar, ao transgredirem as normas e
regras, o problema será de todos. Embora a prevenção e estratégias para lidar com
situações violentas e conflituosas estejam integradas ao currículo escolar, estas não
devem ser o objetivo da escola. Seu objetivo deve ser a formação de cidadãos
críticos, participativos, democráticos. Em uma escola democrática e cidadã os
35

alunos aprendem a resolver juntos os problemas, tomar decisões de forma


cooperativa, cuidam uns dos outros. Aprendem na prática o que significa
constituição e democracia. É preciso ensinar as famílias e as crianças a
desenvolverem escuta ativa, praticar respeito e tolerância para se ter o sentimento
de segurança.
Não se pode desconsiderar a cultura das ruas em paralelo a cultura da escola
no que tange o assunto segurança já que o assunto é preocupação de todas as
escolas. As escolas não são ilhas dentro da sociedade e a cultura das ruas esta
presente também na TV, na música, na Internet e é um modo diferente de se
distinguir de outros. As escolas precisam compreender a importância e o poder dos
grupos sociais grupais ou tribais para adolescentes independente de condição
social. São eles que ditam o comportamento que são reproduzidos dentro do
ambiente escolar. Escolas preparadas, que compreendem isso agem positivamente
com a chegada de novos alunos a escola. Essas escolas atuam numa sequência
que agita ideias, cria normas, forma, realiza, cuja eficácia é reconhecida e depois de
um tempo as normas e regras estarão estabelecidas e será bem melhor se forem
feitas com os alunos.
Um plano de Segurança identifica o Conselho Escolar como último
responsável pela segurança na escola e corresponsável pela segurança dos alunos
e de todas as pessoas envolvidas na escola e nas suas imediações. No ambiente
imediato estão o bairro, a cidade, a região, os gestores e líderes do poder público,
as autoridades e os pais os principais responsáveis pela segurança do alunos e do
pessoal da escola. Um bom plano de segurança expressa a cooperação de todas as
partes envolvidas. Convida todos a participar. Esse plano deve ser desenhado de tal
modo que todos os envolvidos e interessados possam participar, incluindo a rede de
garantia e proteção ao menor. Deve se maximizar os laços entre todas as partes
interessadas a cooperar para fortalecer escolas seguras e em paz. Medidas de
prevenção a acidentes e de violências que focalizam a segurança física do pessoal e
dos alunos. Eles incluem, entre outras, iluminação dos arredores, policiamento,
sinalizações, cuidados com a estrutura física e as instalações dos prédios para
garantir acessibilidade. Medidas que destacam a segurança psicológica e emocional
dos funcionários e estudantes. Essa parte inclui temas como: cultura escolar
(relacionada à cultura do ambiente externo), clima pedagógico, Código de Conduta
36

reforçando atitudes interpessoais positivas, gerenciamento de conflitos, com


interrupção da agressão e da violência.
CAPÍTULO IV - INTERROMPENDO VIOLÊNCIAS E REPARANDO
DANOS

Mesmo em locais pacíficos podem ocorrer eventos e comportamentos


violentos, neste caso diretores e professores tendem a restaurar a ordem das
situações caóticas apenas adotando medidas punitivas sem nem ao menos dar
respostas às situações que provocam essas explosões. Agindo dessa forma a
medida será insuficiente e ineficiente. É possível recuperar o equilíbrio perdido e
restaurar o que foi danificado ou quebrado devida a violência, ao mesmo tempo que
se reinicia um trabalho de prevenção.Muitas vezes gestores assumem escolas em
situação caótica e firmam o compromisso de ajudar a transforma-las. Essas escolas
tem as necessidades básicas de seus membros desrespeitadas e o equilíbrio
comprometido. As pessoas não se sentem comprometidas e vinculadas umas com
as outras, e esse sentimento de impotência faz com que ninguém sinta-se capaz de
mudar essa situação. A frustração reforça cada vez mais a insegurança e conflitos
mal manejados e agressividade não canalizada desembocam em atos diários de
violência maiores ou menores que se tornam parte de uma rotina. O que irá
funcionar de fato é ter a restauração do equilíbrio como foco e com isso recuperar a
sensação de segurança que fora perdida. Três passos são necessários, primeiro,
interromper as manifestações de violência; depois desenvolver os vínculos que as
agressões romperam entre as pessoas e por último discutir maneiras de lidar com
esses conflitos para que resultem em aprendizagem para todos. Reestabelecer e
construir conexões entre todos os envolvidos e interessados tornará a escola e a
comunidade ambientes mais seguros. Confiar gera confiança, saber escutar e
dialogar é a base de uma verdadeira autoridade.
O importante não é punir mas sim restaurar o equilíbrio rompido. Nossa
cultura nos leva a ideia de que comportamentos agressivos e violentos devem ser
corrigidos pela punição e que vigiar e controlar darão conta das violências que
nascem de conflitos mal administrados, das necessidades desrespeitadas ou dos
inúmeros e complexos fatores envolvidos. Segundo Melo, Ednir e Cury (2009) a
Justiça trata as infrações civis ou administrativas de forma diferente das penais. Há
37

diferenças entre as duas formas de resolução de conflitos onde a civil reconhece a


natureza negocial e participativa e a penal de cunho retributivo. Na Justiça
tradicional, a chamada retributiva, há conflitos os quais causam danos que podem
ser reparados por meio da negociação, chegando a um acordo nos termos do Direito
Civil. Outros conflitos, chamados de crimes no entanto, causam danos que, na visão
da Justiça não poderiam ser reparados , e então, só caberia punir quem os causou
nos termos do Direito Civil. Existem, entretanto Juízes, Promotores e agentes
sociais que consideram o Direito Penal falho, mal equipado para aconstrução da paz
durável entre as partes e que defendem e praticam outra forma de se fazer Justiça,
oposta ao modelo dominante. A eles se tem reservada a função de absolver ou
condenar e também aplicar as punições “cabíveis”. Essa oposição recebe o nome de
Justiça Restaurativa, um processo de resolução dos conflitos que não cabe punições
e sim reparação dos danos causados, sejam eles físicos, materiais, emocionais ou
psicológicos. A proposta é dialogar e incluir. Fundamentada na autonomia da
vontade e participação de todos os afetados direta ou indiretamente pela violência.
Conduz ao estabelecimento de um Plano de Ação para que as necessidades de
todos os afetados sejam atendidas, com garantia ampla de seus direitos e
reconhecimento voluntário das responsabilidades dos envolvidos.

O fato de que as punições disciplinares não mudavam o comportamento


dos alunos, foi interpretado não como um sinal de que punições não levam
a aprendizagem e não mudam comportamento, mas como indicio de que as
punições não estavam funcionando por serem leves demais. Portanto, era
preciso recorrer a métodos mais drásticos, como encaminhar alunos
adolescentes transgressores as delegacias de policia. Enqunto isso outras
instituições de ensino investem cada vez mais na disciplina enquanto
autodisciplina, no desenvolvimento de habilidades de convivência e em
práticas de Justiça Restaurativa no espaço escolar. (MELO, EDNIR e
CURY, 2009 p.71)

A lógica da Justiça Restaurativa é exatamente a restauração da harmonia e


do equilíbrio perdido, em que, diante de comportamentos que desrespeitam as
normas de convivência, busca-se chegar a acordos que incluam o outro, o diferente,
em lugar de puni-lo ou exclui-lo. Punições só enfraquecem ainda mais os vínculos
que já estão esgarçados. Querer acabar com a violência na escola esta relacionado
a tocar no que está provocando, desencadeado tal manifestação. Para atender as
necessidades básicas dos membros da comunidade escolar em se sentir
pertencentes, autônomos e competentes não se pode aplicar medidas drásticas e
38

severas como punições ou repressão.Isso somente favorece e aprofundam o


sentimento de insatisfação.Se a confiança for interrompida a aprendizagem será
bloqueada também. Num momento de ruptura o melhor a ser feito não é buscar
culpados para a situação mas sim soluções pertinentes, interromper ações ou tratar
seus efeitos danosos imediatamente, já que apenas apagar incêndios não adianta.
Para criar um ambiente favorável onde exista confiança e todos sintam-se
responsáveis e procurem entender as causas que desencadeiam comportamentos
de indisciplina, agressão, violência, as de natureza natural e organizacional. O que
pode ser feito para prevenir e impedir que reincidam é restaurar o equilíbrio. Por
mais pacífico que um ambiente possa ser ele não está livre de de ser atingido por
um evento crítico que desestabilize totalmente as pessoas. É importante que a
escola informe toda comunidade sobre o que ocorre e quais as providencias que tem
sido tomadas, clareza nas informações ajuda a criar o mínimo de segurança. Um
desequilíbrio por menor que seja se não for considerado pode espalhar-se levando a
consequências cada vez mais graves. É importante possibilitar ao próprios
envolvidos a construção de habilidades básicas de mediação de conflitos e práticas
restaurativas. Círculos restaurativos também são uma opção muito válida, diferente
da mediação que costuma considerar o conflito como algo que envolve dois
indivíduos, e a situação é resolvida quando há a reparação. No círculo outras
pessoas se engajam na tentativa da resolução do conflito. A rede primária de apoio
é formada pelos mais próximos, família, amigos, indivíduos da comunidade e a rede
secundária são formadas pelas organizações mobilizadas e instituições da
comunidade.
Um modo de fortalecer o diálogo comunitário e a construção de redes de
competência e de apoio na resolução de problemas é mobilizar organizações e
instituições como rede secundária de apoio para criação de círculo restaurativo.
Essa prática pode ser eficaz quando o foco não esta nas pessoas participantes do
conflito, mas no problema que eles trazem à roda, este passará a pertencer a todos.
Para o encontro deve se ter um facilitador treinado, pode se ser um membro da
comunidade, professor ou mesmo um aluno. O círculo muda as relações sociais,
busca atender as necessidades e empoderar a escola e a comunidade, envolvendo
pessoas e organizações na busca coletiva da resolução dos conflitos. As redes
primárias são redes de obrigação e respeito mútuo entre todos que se relacionam e
se preocupam uns com os outros, são comunidades de cuidado. Esses
39

colaboradores apoiam e contribuem no plano de ação que busca restaurar os danos


causados pelas violências e oferece ajuda de qualquer natureza, seja material,
doméstica, suporte emocional, afetivo, conselhos, informações, hospitalidade,
socialização, diversão... Dessa mesma forma, a rede secundária também dispõem
acesso aos serviços de saúde, assistência social entre outros, partindo de um
evento crítico que possa afetar crianças e jovens. Nesse caso coloca-se no centro
das atenções a possibilidade da mudança na qualidade das relações sociais. A
criação de uma dinâmica social com assunção de responsabilidade dos envolvidos
em situação de crise é incentivada. Cria-se um ambiente favorável ao diálogo, de
escuta à resolução de conflitos de forma concentrada.
40

CAPÍTULO V- A ORIGEM DA MEDIAÇÃO ESCOLAR

A mediação surge no Brasil em meados de 1980 como um método de justiça


informal, contra o sistema judicial, uma maneira alternativa de resolução de conflitos
para além da justiça formal, como.Não é uma ideia contemporânea, originou-se na
Grécia Antiga, passando pelo Código de Hamurabi e até mesmo pelo Antigo
Testamento. Vemos hoje a mediação como uma intervenção nas situações
difíceis entre pessoas que não conseguem resolve-las, enxerga-las, maneja-las
com base no dialogo e na restauração de situações que afetam, seja uma situação
física (agressão) ou moral (difamação), a mediação consiste no fato de transmitir a
palavra de uma pessoa que se encontra bloqueada por uma ou várias razões –
administrativa, logística ou emocional. Quando pensamos em transmitir a palavra,
tratamos o mediador como porta voz, uma pessoa neutra que trata o problema
diretamente, não busca culpados e com base no diálogo e na escuta ativa procura
formas conscientes e inteligente de levar os envolvidos a encontrar soluções.
Segundo RUOTTI(2009), a mediação auxilia na diminuição de violências em
escolas e em meios externos onde o conflito pode surgir e a falta de habilidade no
manejo faze-lo desencadear situações violentas no interior da escola. Os
mediadores auxiliam as pessoas em conflito a acalmar a raiva e chegar em um
entendimento pacífico.
A utilização do processo de mediação nas escolas foi implementada a partir
de experiências realizadas em diversos países, por meio judicial, que trazida para o
ambiente escolar pode auxiliar na diminuição das situações de violências nas
escolas. Embora haja hoje a figura do Professor Mediador devemos enteder que
mediar e prevenir conflitos deve ser papel de todos da comunidade escolar,
gestores, professores, alunos, membros da família, da sociedade e parceiros.

5.1 - O Professor Mediador Escolar e Comunitário (PMEC)


Buscando uma forma de diminuir a violência nas escolas públicas do Estado
de São Paulo, em 13 de fevereiro de 2010, o então Secretário da Educação , Paulo
Renato de Souza (1945-2011), delibera a Resolução SE (Secretaria da Educação)
41

nº 19/2010, instituindo o Sistema de Proteção Escolar, criando a função de Professor


Mediador Escolar e Comunitário.
O artigo 7º da Resolução SE 19/2010 revela as ações específicas do Sistema
de Proteção Escolar, ressaltando as atribuições desse professor que são:
I - adotar práticas de mediação de conflitos no ambiente escolar e apoiar o
desenvolvimento de ações e programas de Justiça Restaurativa;
II - orientar os pais ou responsáveis dos alunos sobre o papel da família no
processo educativo;
III - analisar os fatores de vulnerabilidade e de risco a que possa estar
exposto o aluno;
IV - orientar a família ou os responsáveis quanto à procura de serviços de
proteção social;
V - identificar e sugerir atividades pedagógicas complementares, a serem
realizadas pelos alunos fora do período letivo;
VI - orientar e apoiar os alunos na prática de seus estudos.
O projeto surgiu no Estado de São Paulo em fase de adequações, iniciando
com 1.000 professores no ano de 2.010 e em 2.016 chegou a mais de 3.000
professores com essa função. Esses professores foram capacitados através de um
curso à distância, oferecido pelo Sistema de Proteção Escolar na Plataforma EFAP
Escola de Formação e Aperfeiçoamento de Professores, e reuniões pedagógicas
promovidas pelas Diretorias de Ensino. Os 1.000 primeiros professores mediadores
participaram do “1º Encontro de Mediação Escolar e Comunitária”, ocorrido em Serra
Negra-SP em 2.010 e “1º Seminário de Proteção Escolar”, ocorrido em São Paulo-
SP em 2013.
No início do projeto em 2.010 esse profissional apresentava uma carga
horária de 24h semanais. No ano de 2.011 (Resolução SE 18/2011) a carga horária
foi ampliada para 30 horas semanais (Resolução SE 01/2011) e no ano de 2.012,
para 40h semanais (Resolução SE 07/2012). O projeto baseia-se nos princípios do
Programa de Justiça Restaurativa, instaurado pela Resolução 2002/12, da ONU. A
Justiça restaurativa se definida como um processo no qual o prejudicado e o infrator
participam ativamente na resolução das questões oriundas do crime, geralmente
com a ajuda de um facilitador (ONU, 2012/12). Não se preocupa em buscar
culpados mas sim na possibilidade de participação individual e social,
democratização do atendimento, acesso a direitos, afirmação de igualdade em
42

espaços de diálogo, valorização das diferenças, através de processos sócio-


pedagógicos que levem em consideração os danos, os responsáveis pela infração e
os prejudicados pela infração (AGUINSKY; CAPITÃO, 2008).
As práticas restaurativas vem sendo aplicadas aos sistemas de Justiça em
vários países do mundo como forma de garantia de direitos humanos e
fundamentais, como estratégias de enfrentamento da violência e para a não-
violência na resolução de conflitos. No Brasil, a Justiça Restaurativa vem sendo
aplicada desde 2003, pelo Instituto de Direito Comparado e Internacional de Brasília
(IDCB) (COSTA et al, 2008). Sobre o Professor Mediador Escolar e Comunitário,
percebe-se que há uma intensa busca pela identidade profissional. Todos estão
incertos quanto à sua função no ambiente escolar, e muitos acabam realizando
outras funções, algumas até distantes de suas atribuições. Outros nem tem um local
adequado para “mediar os conflitos”. Por tentativa e erro, vão se construindo, se
refazendo, aprendendo uns com os outros, estudando sozinhos, buscando apoio da
comunidade, mas ainda não estão seguros quanto ao seu real papel na escola. Na
verdade são professores com as mais variadas habilitações, que não tem um cargo
efetivo ou beiram a aposentadoria e que no momento estão na função de Mediador
e cientes de que a qualquer momento poderão mudar, pois como a atribuição é por
perfil, o diretor da escola poderá não reconduzi-lo. Infelizmente, são figuras
transitórias, que estão atuando sem nenhuma estabilidade, além daquela que a lei e
sua categoria oferece por enquanto.
Algumas das funções desempenhadas pelo mediador e reconhecida pelos
envolvidos são a resolução dos conflitos na escola com escuta ativa, neutra,
orientação, prevenir agressões e refazer laços de amizades. Esse fato se deve à
disponibilidade do profissional para as práticas de mediação, é um profissional que
está na escola com essa finalidade. O diretor nem sempre possui disponibilidade
para escutar e conversar com o aluno, chamar as partes envolvidas num conflito e
mediar todo o processo, devido às inúmeras tarefas requeridas pela gestão escolar.
O que toma grandes proporções e se sobressai com relação aos alunos no
ambiente escolar é a questão cultural. O PMEC muitas acaba mediando situações
que poderiam ter sido resolvidas em sala de aula pelo professor. O fato é que a
figura do PMEC na escola acabou por fazer com que os professores, não todos,
terceirizem os conflitos por menores que sejam e em muitas vezes acabam por até
perder a condução e a autoridade perante a turma. De acordo com os mais variados
43

tipos de educação e camadas sociais temos o comportamento do aluno refletindo na


escola, os envolvidos no setor da educação trabalhando sozinhos, sem parceria não
são capazes de resolver todos os conflitos, tão pouco mudar uma sociedade com a
cultura de violência e casos de indisciplina banalizados. O PMEC se tornou uma
referencia de segurança para muitos alunos, eles sentem que há alguém em quem
possam confiar, alguém disponível para ouvi-los, orienta-los. Talvez o problema
esteja no modo como a função do PMEC tenha sido colocada nas Unidades
Escolares, sem preparação prévia para a comunidade escolar recebe-lo e as vezes
sem nem ao menos estrutura física dos prédios para garantir a atuação deste
profissional com eficácia.
Apesar da rejeição por parte de alguns colegas que acreditam que a forma
de atuação do PMEC apenas favoreça ao aluno, visto que é alguém que não esta ali
para punir e sim para dialogar sabemos que é uma função importante nas escolas
públicas, pois só veio a somar na gestão da escola. A escola está enfrentando os
mais variados tipos de conflitos desde os mais simples aos mais complexos. Falta
compreender melhor, como PMECs e alunos estão enfrentando esses conflitos nas
escolas. Estes profissionais estão sempre dispostos a falar sobre a função, mesmo
não tendo uma ideia muito clara dela e também a realizar um bom trabalho, falam
com motivação, mesmo muitas vezes não tendo a formação necessária e nem os
recursos disponíveis para tal. Esses professores, mesmo enfrentando conflitos sem
o preparo adequado, se empenham para atuar corretamente. Em alguns casos não
conseguem lidar com todos os problemas indisciplinares, principalmente com o uso
e tráfico de drogas, agressões físicas envolvendo gangues e a sexualidade aflorada,
talvez esses sejam os conflitos mais difíceis de mediar.
É claro que o PMEC necessita do apoio de todos da comunidade escolar, pois
sozinho não é capaz de resolver os conflitos dos alunos e principalmente, se os pais
não o ajudarem, o PMEC pouco pode fazer para que o conflito daquele momento
não se repita. Quanto ao uso de drogas, o PMEC não se sente preparado para
media-lo, pois muitos outros fatores sociais estão envolvidos.
A escolha da função pelos PMECs geralmente se dá pela escolha ou convite
dos gestores através do estudo de perfil e é também oriunda dos mais diversos
motivos, alguns se predispuseram por terem a categoria expressa na lei, como
forma de estar fora de sala ou simlesente por não terem aulas o suficiente, no início
44

nem sabiam como seria a função. Alguns também veêm na função uma forma de
ajudar os alunos como um motivo.
Casos de discussões, provocações, fofocas no bairro e em redes sociais são
muito comuns nas escolas e para evitar que se transformem em brigas no interior
das Unidades os PMECs são chamados a orientar. Ocorrem os mais variados tipos
de conflitos no dia a dia escolar, desde alunos com algum tipo de dor,
descumprimento às normas de convivência e regras escolares, queixas de alunos
contra outros alunos até situações em que necessitam de algum outro tipo de
intervenção junto a rede de garantia e proteção ao menor.
Esta é apenas uma parcela dos problemas que o profissional tem enfrentado
como professor mediador escolar e comunitário, ele deve escolher de acordo com
suas experiências e preparo a melhor forma de mediação dos conflitos que ocorrem
na escola, já que não teve uma formação eficaz para a mediação.

5.2 Justiça Restaurativa- Uma prática alternativa para a resolução de conflitos

Muito além de ser uma alternativa, é um método de resolução não-violenta de


conflitos, um novo modelo de justiça que assume as relações prejudicadas por
situações de violência como preocupação central e que se orienta pelas
consequências e danos causados, e não pela definição de culpados e punições.A
Justiça Restaurativa valoriza a autonomia e o diálogo entre as pessoas, criando
oportunidades para os envolvidos (ofensor, vítima, familiares, comunidades) se
expressarem e participarem na construção de ações concretas que possibilitam
prevenir a violência e lidar com suas implicações.Visa também contribuir com as
demais Políticas Públicas na pacificação de violências envolvendo crianças e
adolescentes através da implementação de práticas de justiça restaurativa nas
unidades escolares.
Acerca do tema violência e indisciplina, antes de se tentar alcançar possíveis
soluções é necessário um estudo amplo e aprofundado visto que a busca da teoria e
sua relação com a prática são essenciais para a efetivação de medidas que
realmente venham a produzir o efeito desejado, ou seja, um ambiente de
aprendizagem harmônico e respeitoso, com escuta ativa e neutra.
Buscar informações e considerações de autores que se destacam em relação
ao assunto e as inovações para o enfrentamento da violência e da indisciplina nas
45

unidades escolas. A violência que desencadeia no meio escolar demanda uma


preocupação evidente de todos aqueles que fazem parte da comunidade escolar. A
procura por meios não violentos e não contundentes para mediar a relação
interpessoal merece destaque. Para tanto talvez as soluções que, ao mesmo tempo,
se enquadrem na legislação brasileira vigente e possibilitem uma cultura de paz
dentro da escola não estejam tão distante. A Justiça Restaurativa é um método
alternativo de solução de conflito que pode ser utilizado em qualquer etapa do
conflito e consiste na adoção de medidas voltadas a solucionar situações prevenindo
e não agravando. Propõem a aproximação entre vítima, agressor, suas famílias e a
sociedade na reparação dos danos causados. Dessa forma, a Justiça Restaurativa
envolve diferentes pessoas e instituições na resolução de um conflito, que auxiliam
na reparação dos danos causados e na recuperação social do agressor.
A prática é conhecida como uma técnica alternativa de resolução para os conflitos,
com criatividade e sensibilidade na escuta ativa e neutra das vítimas e dos
ofensores. Cada vez mais tem-se obtido resultados satisfatórios positivos através
de iniciativas cada vez mais diversificadas. No Estado de São Paulo inúmeras
escolas da rede pública têm utilizado na tentativa de prevenir e não agravar
conflitos. Alguns juízes também tem adotado como forma de recuperar menores
infratores em conflito com a lei, que encontram-se em cumprimento de medidas
socioeducativas ou liberdade assistida para que os mesmos não se entreguem cada
vez mais para o mundo do crime.
Justiça Restaurativa é uma metodologia que busca um conceito, trata – se de
um processo colaborativo voltado para resolução de um conflito caracterizado como
crime ou incivilidade, que envolve a participação maior do infrator e da vítima. Surgiu
no exterior, na cultura anglo-saxã. As primeiras experiências vieram do Canadá e da
Nova Zelândia e ganharam relevância em várias partes do mundo. No Brasil ainda
esta em caráter experimental, mas já em prática há dez anos. Existem algumas
metodologias voltadas para esse processo como a mediação vítima-ofensor que
consiste basicamente em colocá-los em um mesmo ambiente guardado de
segurança jurídica e física, com o objetivo de que se busque ali acordo que implique
a resolução de outras dimensões do problema que não apenas a punição, como, por
exemplo, a reparação de danos emocionais.
Um círculo restaurativo não é realizado por um juiz, mas sim um mediador,
não necessariamente alguém com formação jurídica, pode ser por exemplo um
46

membro da sociedade de amplo envolvimento como assistentes sociais, psicólogos,


policiais, líderes de bairro ou um pedagogos e também professores de qualquer
disciplina desde que esteja dentro do perfil solicitado no caso das unidades
escolares. O profissional faz o encontro entre vítima , ofensor e eventualmente as
pessoas que as apoiam e ou estão envolvidas de alguma forma. Apoiar o ofensor
não significa apoiar o crime, e sim apoiá-lo no plano de reparação de danos. Nesse
ambiente se faz a busca de uma solução que seja aceitável por todos.
O núcleo de Justiça Restaurativa foi implantado nas escolas de comunidades
carentes, regiões de grande vulnerabilidade social na capital de São Paulo e depois i
estendido para escolas de diversas cidades do interior paulista, como Taubaté,
Jacareí, Paraibuna. Na cidade de São José dos Campos, por exemplo, todas as
escolas municipais já têm núcleo de práticas restaurativas. Percebe-se que era
preciso fazer com que a prática da Justiça Restaurativa se enraizasse como um
projeto político pedagógico, na cultura da escola e dos pais, e não apenas uma ação
pontual que resolva determinado conflito. A Justiça Restaurativa não significa
impunidade nem apologia à desresponsabilizacão, mas resolver o conflito a fundo.
Os círculos não trabalham com base na punição e no castigo, mas há a
responsabilização social do adolescente pelas suas escolhas.
Na mediação realizada pela Justiça Restaurativa não é possível estabelecer
quando a situação será resolvida, chegando a uma conclusão favorável, pode
demorar dias, meses, até se construir uma solução. Na medida em que se tem um
conflito de maior gravidade, que traz uma direção maior de problemas afetados, é
preciso dedicar mais tempo. A vítima tem espaço para sugerir o tipo de reparação.
A intervenção restaurativa escolar oferece um ambiente para que se resolva
problemas relacionados com o conflito. Deve se tomar uma iniciativa com
adolescentes infratores, que exclua os processos, suspensões ou expulsões que
acarretam em abandono escolar. Isso significa abrir o ambiente para uma
negociação direta entre as partes. Se isso não for possivel, busca-se mecanismos
que são um misto de acordo com possibilidades de uma resposta punitiva e, se isso
tudo não funcionar, daí sim parte-se para outras esferas da rede de proteção como
Conselho Tutelar e ou Promotoria Pública.
O maior benefício da Justiça Restaurativa em muitos casos é a iniciativa que se
alcança a pacificação das relações sociais de forma mais efetiva do que uma
decisão judicial. 
47

CONCLUSÃO

Observa-se que a indisciplina e os conflitos sejam ocasionados por problemas


alheios à escola se isentam das consequências que trazem para a educação.
Apontar causas para tais comportamentos resultantes de toda uma situação
conflituosa necessita de estudos profundos e contínuos para que mais respostas e
possibilidades surjam. Observa-se também que, apesar de muitos professores
referirem-se cotidianamente as situações de indisciplina, esta não é uma constante.
De qualquer forma, o que se faz necessário e possível neste momento é fazer com
que professores revejam a sua prática e percebam o quanto ela pode interferir de
modo positivo nestas situações conflituosas. A indisciplina no espaço escolar é uma
excelente oportunidade para o educador repensar a sua prática e pôr de lado
convicções que se mostram ultrapassadas. É visto que a formação dada ao
professor dentro da universidade é insuficiente em inúmeros aspectos e torna-se
mais evidente quanto às relações no espaço escolar. As mudanças ocorridas na
vida pós-moderna alcançaram a escola e não se podem ignorar todas as
consequências dessas mudanças. No espaço escolar, muito se fala sobre a falta de
limites de alunos, crescendo as queixas a respeito da ingovernabilidade das novas
gerações, associando-a ao declínio das instituições e autoridades tradicionais e às
novas influências trazidas pela indústria cultural e de consumo. A disciplina e a
indisciplina são produtos sociais e escolares e não devem ser consideradas boas ou
más, pois isso depende do contexto e da lógica em que estão inseridas. No mundo
escolar algum tipo de disciplina é necessário e bem vindo, resta definir qual. É neste
momento que a comunidade escolar deve interferir e procurar saber o que acontece
neste ambiente. A revolta pura e simples não se mantém se houverem regras claras
de convivência. Em uma sala silenciosa falar, dialogar e debater podem ser um
excelente instrumento pedagógico. Há momentos também em que o silêncio e a
concentração serão necessários para que os conteúdos expostos sejam
compreendidos.
Cabe ao professor, como mediador do conhecimento, utilizar o espaço
privilegiado da escola para a construção da cidadania, baseada em princípios de
48

igualdade, tolerância e convivência. A escola apresenta-se como o caminho para a


introdução das novas gerações no mundo do conhecimento e tradições deixado
pelas antigas gerações. É possível perceber alguns caminhos que devem ser
seguidos para, senão a solução, a diminuição de situações de indisciplina.
A comunidade escolar deve estar ciente que os conflitos devem ser tratados
como um fenômeno isolado e localizado. Assim, provavelmente para a possivel
resolução destes cada caso deve ser analisado e tratado como único. A
parceria entre arte, cultura e educação é um caminho para que a violência não tome
o palco da escola e dos outros locais de acesso de nossas crianças e jovens. É
necessário haver um momento restaurativo onde há escuta de uma demanda e
espaço aberto para o dialogo. As lideranças precisam se reconhecer como parte de
um bairro,de uma cidade, onde problemas e realizações lhe dizem problemas e as
realizações da escola dizem respeito as organizações do bairro e da cidade. Quando
uma escola se mostra disposta a estabelecer conexões com o entorno, essa escola
da um passo importante para prevenir que conflitos possam vir a se manifestar de
forma violenta ou barrar as violências que possam já existir no cotidiano escolar.Um
grupo ou uma organização esta em equilíbrio quando suas necessidades, o
sentimento de segurança, autonomia e competência pra enfrentar desafios estão
sendo atendidas de maneira satisfatória e os conflitos existentes não interrompem o
diálogo. Quando causas externas ou internas interropem o equilíbrio certas
consequências poderam ocorrer e se não forem bem trabalhadas os conflitos que
poderiam representar formas de aprendizagem crescimento poderão resultar em
diferentes tipos de violência.
A criação e fortalecimento de vínculos e conexões é a forma mais eficaz de
prevenir conflitos que podem vir a se manifestar de form violenta.As lideranças
escolares muito influenciam tanto na prevenção das violências quanto na
restauração de danos por elas causados, a habilidade de tecer redes, realizar
parcerias e consolidar alianças na construção de uma escola segura, onde todos
aprendam. Articular- se a outras lideranças de fora da escola, não apenas fortalecer
conexões internas, atrair pessoas interessadas em fazer que todas aprendam
inclusive a conviver. Tecer redes de comunicação com outras escolas e outras
organizações voltadas aos direitos das crianças e dos adolescentes, realizar
parcerias entre a escola e ONGs que desenvolvam atividades que preparem os
jovem para o mercado de trabalho. Formalizar parcerias duradoras com empresas
49

que queiram investir na melhoria da qualidade da educação, universidades que


promovam a ampliação do conhecimento acadêmico.A articulação entre a escola e o
mundo do lado de fora é essencial para manter o equilíbrio tanto para mante-la
segura como para transforma-la. O professor terá função vital na questão disciplinar,
quando houver uma interação entre os alunos na sala e estes possam construir um
conceito de disciplina que não seja imposto por leis arbitrárias, mas construído por
meio da negociação de regras claras e justas. Este conceito levará os alunos a
desenvolverem autonomia e percepção crítica da realidade. Uma participação ativa
na sociedade pressupõe uma conscientização dos educandos quanto aos seus
deveres enquanto cidadãos. Assim, a educação também tem o objetivo de
desenvolver no indivíduo o interesse na vida coletiva para assumir o compromisso
de buscar ações que favoreçam o desenvolvimento da capacidade crítica de
julgamento.
Educação para cidadania é o cultivo do senso no valor moral em cada
indivíduo, na criança e nos jovens. Nesta educação comprometida com o cidadão os
direitos e deveres de todos são iguais, independentes da posição social ocupada.
Atualmente, a competição tornou-se valor comum, desenvolvendo uma visão social
eminentemente individualista. Nessa visão, cada um se fecha em seu pequeno
mundo e só se interessa por aquilo que lhe interessa diretamente. Para uma
educação voltada à cidadania faz-se necessária a educação moral. Tal educação é
o processo de auxílio que leva o aluno ao discernimento e a reflexão dos valores
que lhe são significativos e assumidos por ele. Assim, a partir das experiências dos
alunos ocorrerá a construção do seu quadro de valores.
Quando uma escola é segura isso repercute no bairro, na cidade e assim por
diante.É importante reconhecer a interdependência de todos os agentes
educacionais, dentro e fora da escola e para sermos de fato interdependentes
devemos nos libertar da dependência. A autonomia, o sentimento de que somos
competentes e responsáveis por nossa própria vida é o que nos permite enquanto
pessoas consolidar parcerias e alianças de longo prazo. Uma organização
dependente não consegue ser parceira de outra mas uma mera seguidora, Ser
independente é a condição que favorece a interdependência. A escola que tem claro
qual é sua missão e sua visão, tem consciência clara de sua identidade, seus
valores, sabe pra onde se quer ir. Isso atrai outras organizações que tem objetivos
similares e com isso a construção de uma sociedade sem violência, na qual todos
50

são capazes de desenvolver seus potenciais.Preparar a comunidade escolar para


superar ou aperfeiçoar praticas atuais que conservem equilíbrio em uma escola
segura é fazer com que todos reconheçam que medidas repressivas não promovem
segurança.
Oferecer novos olhares para os conflitos e violências é ajudar na
reprogramação da realidade.Todos os envolvidos devem ser provocados
constantemente a desenvolver conhecimentos, habilidades e atitudes para criar
escolas aprendentes e seguras. Paulo Freire é citado neste trabalho por sua frase
onde ele diz que a educação não é um ato de amor mas sim um ato de coragem.
Mesmo não sendo possível mudar tudo sempre haverá a oportunidade de mudar
pequenas coisas que farão muita diferença. Seja por meio de diálogos a longo
prazo, tentativas de transformar conflitos de diferentes naturezas em experiências
culturais, instrumentos de mudança. Assumir o risco de confiar, tentar, vincular-se e
experimentar, transformando escolas e vidas. O Estatuto da Criança e do
Adolescente tratou, em capítulo específico, do direito à educação estabelecendo
seus objetivos, os direitos dos educandos, as obrigações do Estado, dos pais e dos
dirigentes dos estabelecimentos de ensino (ECA, Capítulo IV - artigos. 53/ 59). No
artigo 2° da Lei 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases da Educação estabeleceu que a
educação visasse o preparo para o exercício da cidadania. Cabe a escola a
preparação para o exercício da cidadania. E para ser cidadão é necessário
conhecimento, memória, respeito pelo espaço público, normas de relações
interpessoais e diálogo aberto entre olhares éticos. A indisciplina escolar apresenta-
se como o descumprimento das normas fixadas pela escola e demais legislações
aplicadas. O processo de aprendizagem necessita da disciplina para que ocorra de
forma tranquila e eficaz. A disciplina em sala de aula pode equivaler a atitudes
tolerantes e de aceitação do outro. As diversas manifestações da indisciplina são o
desafio para os educadores em sala de aula e na escola, tanto na pública como na
particular. Sem autoridade não se faz educação; o aluno precisa dela, seja para se
orientar, seja para poder opor-se (o conflito com a autoridade é normal,
especialmente na adolescência), no processo de constituição de sua personalidade.
O que se critica é o autoritarismo, que é a negação da verdadeira autoridade, pois
se baseia na coisificação, na domesticação do outro. Obedecer às regras não
significa submissão ou servilismo. O sentido da obediência para a criança ou
adolescente terá valor quando aprenderem que viver em sociedade significa
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construir regras e que disciplina é sinônimo de autocontrole. O professor é o guia


dos alunos levando-os a viagem do conhecimento, redescobrindo com eles o
caminho a ser percorrido. Ao recontar as histórias das descobertas humanas, o
professor pede aos alunos imaginação e inquietude. Na formação destes cidadãos
tem-se que mostrar que o mundo apresentará vários desafios a serem vencidos.
Haverá dispensas de emprego, dias monótonos em uma fábrica, preenchimento de
incontáveis formulários em um escritório.
A atuação da direção da escola é importante para dar suporte e
encorajamento, tanto a professores como a alunos. Como em todas as outras
relações sociais e institucionais, na relação pedagógica existe um contrato implícito
– um conjunto de regras funcionais – que precisa ser conhecido e respeitado para
que a ação possa se concretizar a contento. Este contrato pedagógico encerraria
pressupostos que norteariam alunos e professores em questões tanto disciplinares
quanto avaliativas. As escolas necessitam desenvolver uma diretriz disciplinar
alicerçada em seu projeto político pedagógico. Nesta diretriz competiria o
desenvolvimento de regras e procedimentos disciplinares. Mas, a legitimação desta
diretriz só poderia ocorrer desde que tais e regras e procedimentos seriam
construídos com a participação dos estudantes e de toda a comunidade escolar. A
participação dos alunos é um elemento importante, pois favorece o sentimento de
pertença e implicam o exercício de algum grau de poder sobre as disposições
coletivas, bases na criação de um senso de responsabilidade comum e um elemento
de motivação. A escola e os professores, na medida em que cumprem os seus
papéis, têm uma tarefa importante na transformação e mudança dos alunos de
modo que, nem escola e nem professores, permaneçam indiferentes perante a
situação de indisciplina dos alunos. Algo deve ser feito pela escola e pelos
professores para contornarem a situação: a escola deve, sobretudo, criar condições
materiais, humanas e ambientais no sentido de proporcionar um clima de
convivência agradável entre os alunos. Vários dispositivos legais são criados para
fazer funcionar regras e leis como garantia de uma retaguarda ao desenvolvimento
da criança. No entanto, a escola não está conseguindo dar conta dessa atribuição
como deveria. Quando os professores de uma unidade escolar sentam-se com
seus alunos e desconstroem e sabem reconstruir a plenitude da significação e dos
tipos de disciplina, não apenas a aula corre mais facilmente e a aprendizagem se
concretiza de maneira mais saborosa como estudantes e mestres descobrem que,
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reconhecendo a disciplina como ferramenta essencial às relações interpessoais,


aprendem autonomia, exercitam a firmeza e conseguem, com mais dignidade,
construir o caráter .A disciplina envolve autodisciplina. Cabe a cada indivíduo a
busca pela autodisciplina. A indisciplina é a falta de regras, ou a desobediência às
regras sem justificativa. A complexidade das situações disciplinares enfrentadas nas
escolas é incalculável e permite abundante e variado leque de leituras e
problematizações. Os conflitos nas relações sociais e pedagógicas apresentam
dificuldades, mas também possibilidades de aprendizado, questionamento e
mudança. Assim, a questão norteadora seria pensar constantemente em que
medida as práticas disciplinares da escola estão viabilizando nossos cultivados
compromissos em torno da formação crítica e autônoma das novas gerações. Em
vista de todos os conceitos cabe ao professor atuar como mediador entre o mundo e
o aluno inserido no espaço escolar e, consequentemente, no mundo. Ao ingressar
na escola, o aluno deve ter pleno conhecimento das regras que regem a escola. Já à
escola cabe levar o aluno a um tipo de disciplina de transformação que o levará à
apreensão de saberes. Saberes estes que formarão um cidadão comprometido com
o bem estar da coletividade.
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