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Modelos Andragógicos

Módulo 1
Compreender o modelo andragógico de Malcolm Knowles

Definição
Esclarecimento de como pesquisadores de várias áreas evidenciaram a
capacidade de aprendizagem de adultos a partir de metodologias adequadas.

Propósito
Apresentar as teorias de Knowles, Furter e Feuerstein que incorporam o valor
das experiências, da autonomia, da maturidade e da finalidade nos processos de
aprendizagem de adultos.

Objetivos

Introdução

Apresentaremos as principais linhas de pensamento que definiram os


conhecimentos sistematizados em torno da educação de adultos, envolvendo os
conceitos de Andragogia ou educação continuada; para toda a vida; melhor idade;
aprendizagem permanente; modificabilidade cognitiva; entre outros aspectos.

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Esses conceitos, embora tratem da mesma temática, trazem em si seus
diferenciais. A preocupação com o aprendiz adulto é um ponto em comum, assim
como dar soluções e fazer com que ele se mantenha em ambientes favoráveis para
o seu bem-estar, desempenhando tarefas e participando de ações educacionais
para enfrentar suas realidades.

Ao longo dos módulos, você conhecerá:

O modelo andragógico de A visão sobre a As contribuições de base


Malcolm Knowles (1913- aprendizagem de adultos teórico-empírica de Reuven
1997), educador norte- de Pierre Furter, Feuerstein (1921-2014),
americano reconhecido pesquisador suíço que pesquisador e psicólogo
por sua obra com foco na apresentou o conceito de israelense que se aprofundou
educação de adultos educação permanente, nos aspectos da cognição
entre as décadas de 1950 incentivado humana e ampliou as teorias de
e 1970. posteriormente por outros Piaget, com destaque para a
estudiosos como aprendizagem a partir de fatores
educação continuada de flexibilidade das funções da
(lifelong learning), cognição e para o conceito de
principalmente a partir modificabilidade cognitiva.
das décadas de 1960 e
1970, época em que
havia um forte movimento
em prol de uma visão
mais crítica, social,
econômica e
antropológica para
diferentes áreas da
educação, incluindo a de
adultos.

Saiba mais
Lifelong learning é o conceito que aborda a mudança das sociedades com
relação ao tempo. Uma vez que a expectativa de vida delas é quase dobrada,
ocorre uma crise entre o aprendizado tradicional e a base do novo aprendizado.
Nesse contexto, a nova tecnologia torna-se uma demanda e não uma escolha

Essas visões reforçam a ideia de que o adulto tem a capacidade de se manter


ativo socialmente e de que isso não significa necessariamente recuperar um tempo
que fora perdido na infância e na adolescência em que não teve a oportunidade de

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cumprir seus estudos. Por conseguinte, os autores restituem a esperança da
aprendizagem de adultos em virtude das possibilidades de expansão dessas
competências para continuar aprendendo.

A reflexão instaurada neste tema se insere em um espaço educacional que se


distingue entre a educação de adultos, a Andragogia, e a de crianças, a Pedagogia.
Embora exista atualmente muita discussão em torno dessas diferenças, o que deve
permanecer é a preocupação de melhorar continuamente a educação e os aspectos
da aprendizagem para o público-alvo.

Mas, como a Andragogia se destaca no suporte à educação de adultos?


Para responder a essa pergunta, estudaremos as perspectivas de Knowles,
Furter e Feuerstein, entendendo seus modelos metodológicos, bem como suas
discussões epistemológicas, que produzem novos sentidos na forma de ensinar o
público adulto.

Módulo 1
Compreender o modelo andragógico de
Malcolm Knowles

Vamos conhecer Malcolm Knowles


Malcolm Knowles conheceu o termo
Andragogia por meio de um educador

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especializado em educação de adultos chamado Dusan Savicevic, que na década
de 1960 frequentou a Universidade de Boston onde ambos tiveram contato.

Há décadas esse tema é direta ou indiretamente trabalhado e, atualmente,


reconhece-se a profundidade e notoriedade que Knowles deu ao conceito de
Andragogia, expandindo-o.

Andragogia

É atribuído a Alexander Kapp, pesquisador e educador alemão que atuou em época


muito anterior à de Knowles, a paternidade do termo Andragogia, no século XIX. O
uso do termo Andragogia, nesse contexto, foi feito para descrever a filosofia
educacional da antiga Grécia pela atuação na forma de ensinar atribuída ao mestre
Platão.

Importante
Barros (2018) reconhece um ponto de convergência marcante entre
Knowles e Paulo Freire, o renomado educador brasileiro, que também criou
métodos de ensino-aprendizagem de adultos, principalmente ligados à
alfabetização. Esse ponto não está somente relacionado ao método de
alfabetização, nem ao modelo dialógico, mas à crença na capacidade de
autonomia que o adulto tem para tomar decisões relativas à aprendizagem e para
acreditar em seu potencial.

Nenhuma novidade educacional surge, de fato, sem a identificação de uma


necessidade no contexto social e, por conseguinte, sem a procura por uma solução
imediata. No caso da Andragogia, no contexto histórico-social de Knowles,
observou-se uma grande mudança nos adultos, principalmente após o fim da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945), quando se demandou a oferta de
treinamentos rápidos de profissionais, trazendo diferenciais metodológicos e
instituindo um movimento de formação continuada de adultos.
Introduziu-se, então, a relevância da chamada educação ao longo da vida,
que buscava se alinhar com os desafios da empregabilidade e da emergência na
mudança tecnológica. Isso porque o conteúdo que as pessoas haviam aprendido no

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período escolar deveria ser atualizado, revisado e ampliado para abranger as novas
necessidades da sociedade e da produção no trabalho.
O adulto teria que conhecer as novidades, revisar suas capacidades e
competências, voltar à vida escolar e fazer cursos para acompanhar as novas
demandas do mundo do trabalho. Mas, segundo Knowles, esse estudante seria
visto de modo diferente, principalmente por conta da sua maturidade e da diferente
condição para os estudos.

O educador e o ensino de adultos


Com a publicação, em 1980, do livro The modern practice of
adult education: from pedagogy to andragogy, Knowles acentua a
necessidade de atender diferentemente o adulto aprendiz e traça
um percurso entre a Pedagogia e a Andragogia, entendendo a
última como a arte combinada à ciência para auxiliar os adultos a
aprender.
Malcolm Knowles introduziu o conceito de Andragogia no
cenário acadêmico, escolar, profissional e na sociedade americana.
Como vimos, a Andragogia já era um termo conhecido na Europa desde o século
XIX, mas foi resgatado e ampliado por Knowles a partir dos anos 1970.
A sua ideia era contrapor a Andragogia ao conceito tradicionalmente
estabelecido de educação escolar, entendido pela Pedagogia. A ideia desse autor
fundamenta-se, desde o início, em dedicar-se a uma causa que viabilize criar
condições, ponderações e soluções sobre o bem-estar social do adulto quando este
retorna ao processo educativo.

“Trata-se de defender, para os dias atuais, uma mediação preocupada


fundamentalmente em intervir para melhorar, com as pessoas, o seu bem-estar
social. E, em educação para adultos, esta é, na essência, a definição do papel do
educador.”
(BARROS, 2018)

Knowles (1980), ao fundamentar um caminho próprio para a educação de


adultos, entendeu que a Andragogia deveria ter um olhar especial, justamente por
se tratar da educação de pessoas experientes que haviam finalizado seus estudos
há muito tempo na escola obrigatória, também categorizada como formal. Assim, o

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autor preocupava-se com a maturidade construída ao longo da vida desses
aprendizes, suas experiências, a consciência sobre suas opções, sobre o que e de
que modo estudar, a sua relação de mediação educacional com seus professores
ou tutores, entre outros aspectos.
O adulto se autodirige e pode, consequentemente, autogerir seu processo de
aprendizagem, uma vez que é consciente sobre o ato de aprender. Nessa
perspectiva, Knowles faz ponderações não só sobre os conteúdos e a metodologia
de ensino adequados, como também sobre as relações de aprendizagem que
devem ser estabelecidas entre os sujeitos envolvidos, sejam colegas ou
professores. Para o autor, o aprendiz adulto deseja ser reconhecido nessas
capacidades de aprender com o outro e ser mediado por profissionais preparados
para tratar seus diferenciais.

Exemplo
Conhece esta fábula?

Um senhor rico e bem-sucedido estava em um barco e perguntou ao pescador


qual o último livro que ele havia lido.

O pescador respondeu que não sabia ler e escrever. Ouvindo isso, o senhor rico
alegou que o pescador havia perdido a metade da sua vida.

Durante a viagem, o barco teve um problema e afundou.

O homem culto falou que não sabia nadar e perguntou ao barqueiro o que fazer. A
resposta que recebeu foi:

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“Nadar. Se você não sabe, perdeu sua vida inteira.”.

Essa história trágica é, na verdade, uma provocação à hierarquia do


conhecimento. Adultos não devem, em um ambiente de aprendizagem, estar
diante de uma disputa pelo novo conhecimento. Pelo contrário, o conjunto de
seus conhecimentos pode ser útil para adquirir, de múltiplas formas, o novo
conhecimento.

Ao tornar-se continuamente um aprendiz, há também o interesse pelo


alcance do bem-estar social do adulto, pois à medida que é incentivado a se manter
produtivo, atuante e atualizado no cenário profissional, preserva suas formas de
convivência.
Nos escritos de Knowles, constata-se uma abordagem predominantemente
fundada na Psicologia humanista, que aposta nas qualidades da pessoa – do Eu –
em função de valorizar suas experiências em uma visão subjetivista, em que
sobressaem o respeito à liberdade pessoal e o direito de escolha sobre o que se
quer continuar estudando (ARROYO, 2002).

Visão de Knowles sobre o adulto aprendiz


Pode-se destacar alguns pontos centrais da visão de Knowles (1970) sobre o
adulto aprendiz:

Já viu um adulto que, na idade “normal”, não aprendeu a andar de bicicleta?

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Primeiro, observa-se a negação: “eu não aprendo mais.”
Depois, o desafio: “poxa, se todos conseguem, eu consigo”,
motivando-se.

Com as técnicas reajustadas, afinal, ele não vai aprender


como uma criança. Os movimentos de quem aprendeu
nessa fase parecem desengonçados, mas é uma forma de
usar a musculatura e a experiência para atingir o fim. E ele
consegue. Somos sempre capazes de aprender coisas
novas ao longo da vida.

Repare: esse adulto não andou de bicicleta por causa de uma


turma regular em que era obrigado a fazer isso. Ele precisou se
motivar e, em seguida, mediar as informações recebidas com seu
corpo, seu equilíbrio.

Diferentemente de uma criança que executa e repete a


execução, o adulto media a execução, mede a
consequência, relaciona as experiências e estabelece os
processos.

Quem ensina um adulto a andar de bicicleta? Qual a metodologia?


Qual a mecânica? Pergunte a um colega que dominou essa
habilidade quando jovem e a resposta possivelmente será: “repete...

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viu, é fácil!”. Ele não pensa, pois introjetou a operação, mas o adulto que não sabe
precisa construí-la.

Isso pode ocorrer com o auxílio de um jovem, que ainda guarda em si as dores de
uma queda, ou de um profissional, que sabe como seu corpo irá mediar esse novo
conhecimento e achar na experiência as respostas.

A bicicleta, o passeio, a floresta, a praia: a motivação que vai


transformar a busca do novo conhecimento em algo especial e, por
isso, vale se expor, trocar e construir.

Pedagogia e Andragogia
Antes de entrarmos nas questões relacionadas ao modelo de Knowles,
destacaremos a diferença entre Pedagogia e Andragogia. No vídeo a seguir, a
professora Marilene Garcia nos explica a diferença entre Pedagogia e Andragogia,
exemplificando essa relação. Vamos assistir! (Video)

Knowles, em sua obra The modern practice of adult education: andragogy


versus pedagogy (1970), defende a Andragogia como forma antagônica à
Pedagogia, com o uso literal da palavra “versus” em seu título. Contudo, essa noção
foi amenizada em sua obra The modern practice of adult education: from pedagogy

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to andragogy (1980), ao substituir “versus” por “de... para", procurando passar uma
ideia de continuidade e não de ruptura entre as duas ciências (BARROS, 2018).

Essa posição dicotômica é ainda criticada por outros estudiosos, até em


estudos recentes, como é o caso de Barros (2018).

“A Pedagogia significa, literalmente, ‘a arte e ciência de ensinar crianças’, então a


definição de Andragogia poderia ser ‘a arte e ciência de ajudar os adultos a
aprender’ ”
(KNOWLES, 1980, apud BARROS, 2018)

Saiba mais
De acordo com Oliveira (2019), a palavra Pedagogia tem sua origem no grego
antigo e é formada pelos elementos: paid, que significa criança, e I, que significa
indicar ou conduzir a um caminho. Já Andragogia, também de origem grega, é
formada pelos elementos: añer e andr, cujos significados são adulto e agogus.
Veja a relação comparativa, a partir de Knowles (1970, 1980), entre os
modelos pedagógico e andragógico.

Pedagogia Andragogia
Foco no aluno em formação. Foco no aluno e na retomada de seus estudos.

Há maior dependência do papel do professor, O aluno tem a mediação do professor, porém


que demonstra responsabilidade sobre como o este trabalha para facilitar o processo de
aluno vai ser globalmente educado, como vai autodirecionamento da aprendizagem,
aprender, de que forma e em que momento. fornecendo orientações e respeitando o ritmo e
o processo.
O aluno é mais inexperiente em dois aspectos:
sobre o que e como aprender. Contudo, com A experiência e a maturidade do aluno são
sistemas de autoaprendizagem desencadeados valorizadas na aprendizagem e direcionam a
por tecnologias mediadoras, esse fundamento busca por novos conhecimentos. O aluno pode
está se modificando, pelo menos nas classes interferir, negociar e solicitar personalizações de
com acesso à tecnologia. seu próprio interesse.

O aluno é preparado em diferentes estágios de O aluno já foi preparado em situações


aprendizagem, de acordo com o anteriores de educação formal e agora busca
desenvolvimento de sua maturidade, os estilos aprender o que pode ser aplicado em sua vida
de aprendizagem etc. real. A finalidade torna-se fundamental.

A formação escolar desse aluno, para atender A formação continuada desse aluno depende da
aos requisitos mínimos educacionais, é de sua escolha e de outras formas de demanda
responsabilidade da família e da sociedade, que que o impulsionem a fazer novos cursos e a se
o direciona à educação formal. preparar para a vida profissional.

Para esse aluno, o currículo é pensado para O aluno terá propostas de estudos baseadas
proporcionar uma formação mais geral, com em currículos mais personalizados, que atinjam

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várias matérias. objetivos mais pontuais.

As questões apresentadas por Knowles objetivavam fortalecer o argumento


de que o adulto deveria ter um tratamento educacional e didático diferenciado.

“Essa distinção, mas sobretudo a oposição maniqueísta estabelecida entre a


Andragogia e a Pedagogia, é expressamente reforçada por Knowles, ao
considerar o modelo pedagógico idealista, enquanto o modelo andragógico se
apresenta como ‘um sistema contra-hipóteses’, sendo esta a diferença
fundamental entre ambos.”
(COSTA, 2016)

Assim, o professor usaria métodos mais adequados ao seu perfil e a seus


interesses. Vamos refletir sobre os pressupostos que direcionam a aprendizagem de
adultos e os benefícios a serem alcançados.

Cinco pressupostos para a aprendizagem de adultos a partir de Knowles


Em The modern practice of adult education: from pedagogy to andragogy,
Malcolm Knowles expõe cinco pressupostos, expandidos posteriormente em outros
estudos, para a aprendizagem de adultos.

Autonomia: relaciona-se à maturidade do adulto e à


capacidade de decidir sobre o que aprender, como
aprender e como se relacionar com o seu mediador. O
aluno tem a possibilidade de gerenciar o conteúdo que
aprende e gosta de que o seu professor ou tutor perceba
tal capacidade na hora de
ensiná-lo.

Experiência: o mediador deve levar em conta a


experiência de vida e de aprendizagens do aluno
adulto. Isso serve de base para desencadear novas
aprendizagens, conceitos e experiências.

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Prontidão para aprendizagem: o adulto demonstra uma inclinação especial pela
aprendizagem de conteúdos relacionados às situações reais de sua vida.
Aplicação do que aprende: o adulto visa normalmente
aprender algo que tenha aplicação imediata. Assim, uma
possibilidade sugerida é trabalhar metodologias orientadas
a problemas, contextualizadas de acordo com os
interesses da classe.

Motivação para aprender: comumente esses


aprendizes são afetados por motivações
internas, que priorizam valores e objetivos pessoais, e
por motivações externas, relacionadas ao
reconhecimento, às premiações, aos elogios e às
compensações.

Esses pressupostos estão orientados à Psicologia do adulto aprendiz e se


apoiam em elementos voltados à progressão, bem como à tarefa do professor,
facilitador ou tutor, para que o aluno se torne cada vez mais autônomo e gestor de
sua aprendizagem.
Agora que você viu os pressupostos de Knowles, vamos testar seus
conhecimentos?

Ademir tinha três filhos e trabalhava


em uma fábrica consertando pequenas
coisas. Ganhava pouco e, por isso,
resolveu voltar a estudar.

Cada um de seus colegas tinha uma


ideia: uns propunham que ele fizesse
um curso para aprender a consertar
coisas mais difíceis; outro defendia

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que ele cursasse Direito para, no futuro, confrontar o patrão; outro ainda dizia:
“Estudar não adianta nada. Deixa de bobeira!”
Ademir voltou a estudar no supletivo à
noite. Pensava em terminar o ensino
médio e ir à faculdade, mas era difícil, já
que estava cansado, tinha problemas em
casa, filhos, esposa, chefe... Perguntava-
se: “O que eu faço na escola?”

Um dia a professora disse: “Vou


passar só o básico para vocês.”
Ademir queria saber mais, gostava
de matemática, mas a resposta que
recebeu foi: “Vocês não vão para a
faculdade, não precisam aprender
isso.” Ademir disse que gostaria de

tentar e a professora respondeu: “Você


não é capaz.”

Ademir levou a questão até a direção,


onde os funcionários andavam lendo
Knowles…

Vamos, é a sua vez! Incorpore Knowles e pense na forma correta de agir


caso a escola quisesse verdadeiramente promover uma oportunidade a Ademir.
Resposta:
Segundo Knowles, precisamos entender que um adulto nos traz vivências e
tem necessidades educacionais diferentes das do ensino de crianças. A escola
precisa debater com os professores sobre o que é Andragogia. Mostrar que o

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aprendizado do adulto é diferente do da criança. Não adianta criar uma métrica de
alcance. Uma vez traçada uma meta em conjunto entre o professor e os alunos,
eles devem desenvolver, então, processos que permitam que tais metas sejam
atendidas. Logo, valorizar a autonomia e a capacidade de aprender, dar sentido aos
conhecimentos, valorizando as experiências e as expectativas. Com essa base,
direcionar e demonstrar a aplicabilidade. A motivação do adulto em se transformar
pela educação, associada ao respeito pelos conhecimentos que ele possui, é a
chave da motivação. Ademir queria uma vida diferente; não sabia como; buscou o
caminho da educação. O desestímulo poderia ser fatal na sua confiança e
motivação, o que levaria o processo andragógico ao fracasso. Entendendo isso, a
professora poderia criar, vincular, organizar seu planejamento para que juntos
atingissem seus objetivos.

As sete fases do ciclo de aprendizagem adulta de Knowles


O fluxo de aprendizagem adulta está estruturado em sete fases, as quais
constituem um modelo, ou um referencial, que abrange tanto os diferenciais
metodológicos quanto às condições psicológicas e de ambiente de aprendizagem
que possam amparar o perfil do aluno:

Criação de um ambiente favorável à aprendizagem adulta


Uma sala de aula organizada, bem equipada e decorada, além de um local
para expor os trabalhos produzidos, faz com que os alunos se sintam bem
acomodados. Deve-se também propiciar um ambiente psicológico de aceitação,
trocas e respeito. No caso de o professor ser mais jovem que seus alunos, é
necessário aproveitar e conciliar tanto a experiência didática do professor quanto a
experiência de vida dos aprendizes adultos, proporcionando a exposição de
opiniões e o debate de ideias. Uma dica é memorizar os nomes dos alunos para que
eles se sintam pertencentes ao grupo.
Fornecimento de uma estrutura organizacional que possibilite a participação
do adulto aprendiz no planejamento da ação educacional
Os alunos devem ser convidados a participar da estrutura da ação
educacional, seja comunicando-se com os professores e gestores, dando
sugestões, relacionando-se com os colegas em busca de objetivos comuns, ou
trazendo ideias novas a partir de suas experiências da vida e do trabalho.

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Elaboração e aplicação de um diagnóstico das necessidades de aprendizagem
Ter um diálogo com os aprendizes para descobrir seus interesses e de que
forma gostam de aprender. Esse diagnóstico é um passo muito importante em sua
proposta metodológica.
Estabelecimento dos objetivos de aprendizagem
Colocar os objetivos negociados, agregando-os e expandindo-os em termos
da experiência didática do professor. Prazos, recursos e condições para o alcance
desses objetivos devem estar bem claros a fim de que o fluxo possa acontecer.
Concepção de um plano de aprendizagem
Fazer um roteiro das atividades a serem realizadas e seus inter-
relacionamentos com os recursos, além das formas de avaliação; buscar assuntos
atuais e adequados, ter transparência ao negociar os objetivos a serem alcançados
e as formas de avaliar, mostrar as limitações e deixar claras as responsabilidades.
Garantia da operacionalidade das atividades programadas no plano de
aprendizagem
Buscar e aplicar, em conjunto, os recursos programados para as atividades a
fim de que sejam utilizados. Esses recursos podem ser materiais (espaços, mesas,
livros, cadernos) ou digitais (aplicativos, boa conexão com a internet, entre outros).
Reavaliação do diagnóstico sobre a necessidade de aprendizagem
Rever todas as fases avançadas e avaliar se estão de acordo com o
esperado, se algum passo deve ser refeito ou aprimorado e se a aprendizagem
atingiu os objetivos firmados.

Etapas do trabalho do andragogo


Com o trabalho de Knowles, emergem ações que orientam o trabalho do
andragogo. Krajnc (1989) propõe uma orientação do papel do andragogo
estruturada em cinco etapas, ampliando as relações trabalhadas por Knowles:

Cinco etapas do trabalho do andragogo

1ª etapa - Identificar as necessidades educacionais


Após identificar as necessidades educacionais do aprendiz adulto, o
andragogo deve estabelecer objetivos a fim de alcançá-las, abrangendo tanto os
aspectos sociais quanto os individuais.

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2ª etapa - Planejamento de um programa de ensino
Ao planejar o programa de ensino, deve-se ter em conta a experiência prévia
de aprendizagem dos alunos e incluir suas sugestões e opiniões.
3ª etapa - Planejamento de métodos
Os métodos devem estar adequados à maturidade dos estudantes para não
os frustrar, caso não consigam utilizá-los ou achem que algumas abordagens estão
infantilizadas.
4ª etapa - Implementação do programa de ensino
Dois aspectos são importantes: criar as condições para a implantação do
programa e adaptá-lo, caso seja necessário; e ter flexibilidade e atenção contínua
ao que está ocorrendo para tomar atitudes em tempo quando algo não for ao
encontro dos objetivos iniciais.
5ª etapa - Avaliação
Desenvolver os instrumentos avaliativos mais adequados. A proximidade
didática com o grupo de alunos fornecerá informações sobre como fazer isso da
melhor forma. Após a avaliação, pode-se firmar novos rumos para o aprimoramento
de ações.

Fica claro o cuidado com a aplicação dos modelos andragógicos às


necessidades dos aprendizes adultos, evidenciando seus diferenciais, a partir de
perfis psicossociais, habilidades, responsabilidades, modo de aprender, entre outros
aspectos, que devem ser levados em consideração pelo andragogo no momento de
planejar e aplicar seu programa de ensino.
Knowles, sem dúvida, abriu um espaço necessário, nos anos 1970 e 1980,
para incorporar as preocupações de formação e de orientação didática referentes ao
aluno adulto. As suas contribuições despertaram e disseminaram no contexto
educacional a necessidade de se olhar e tratar o adulto de uma forma diferente, não
necessariamente em função do fator idade, mas por conta da exigência do preparo
contínuo para enfrentar os novos desafios do mundo contemporâneo.

Vamos praticar?
Agora que você conheceu as contribuições de Knowles para a educação de adultos,
teste seus conhecimentos fazendo as atividades a seguir.

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Verificando o aprendizado
1. As ideias de Knowles tiveram ressonância em sua época ao propor um modelo
andragógico principalmente por se identificarem com alguns contextos emergentes.
Escolha a alternativa que melhor responde a tais contextos.

Resposta: B) O adulto começou a demandar atenção para atender a novas


demandas da sociedade e do emprego, tendo de ser absorvido em alguma forma de
educação.
Explicação: O adulto começou a demandar atenção em virtude de novas demandas
da sociedade e da empregabilidade, tendo de ser absorvido em alguma forma de
educação. Isso justifica a ressonância de Knowles, principalmente pelo estudioso
absorver as demandas de sua época e alertar para o fato de que o adulto não
estava sendo atendido devidamente, nem metodologicamente, nem com relação
aos seus diferenciais de experiência, maturidade e tratamento cognitivo no
momento da aprendizagem.

2. Barros (2018) identifica algumas divergências e convergências entre o


pensamento de Knowles e de Paulo Freire. Escolha a alternativa que encontra um
ponto em comum em ambos os autores ao tratarem da educação de adultos.
Resposta: c) Ambos reconhecem a capacidade de autonomia que os adultos têm
para aprender.
Explicação: O reconhecimento da capacidade da autonomia, do resgate da
experiência, do conhecimento de vida são fatos convergentes tanto na obra de
Knowles como de Paulo Freire.

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