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Ricardo Ojima♣
Rafael H. Moraes Pereira♠
Robson Bonifácio da Silva♦
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Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-
MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008. Este estudo foi desenvolvido no âmbito dos projetos:
"Dinâmica intrametropolitana e vulnerabilidade sócio-demográfica nas metrópoles do interior paulista" (Fapesp
e CNPq); e “Desafios para a urbanização sustentável no espaço intra-metropolitano de Campinas e Santos:
mobilidade populacional, vulnerabilidade socioambiental e as evidências (locais, regionais e globais) das
mudanças ambientais” (Pós-Doutorado/Fapesp).
♣
Doutor em Demografia; Pesquisador Colaborador do Núcleo de Estudos de População (NEPO/Unicamp) e
Departamento de Demografia (DD/IFCH/Unicamp). Bolsista de pós-doutorado da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
♠
Sociólogo; Mestre em Demografia - Departamento de Demografia (DD/IFCH/Unicamp); Bolsista da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
♦
Geógrafo; Mestrando em Demografia - Departamento de Demografia (DD/IFCH/Unicamp); Bolsista da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
Cidades-dormitório e a mobilidade pendular: espaços da desigualdade na
redistribuição dos riscos socioambientais?1
Ricardo Ojima♣
Rafael H. Moraes Pereira♠
Robson Bonifácio da Silva♦
Introdução
O termo cidade-dormitório é recorrente na literatura brasileira, sobretudo quando se
trata de analisar os processos sociais e demográficos que se desenham dentro dos contextos
metropolitanos. Sendo assim, não é raro encontrar referências a cidades que são classificadas
dentro deste ambíguo termo, sempre associadas às situações de desvantagem econômica e
social em relação a uma cidade que polariza os fluxos regionais tanto pelos aspectos
econômicos quanto populacionais.
Mas embora esse termo seja muito presente tanto nos meios acadêmicos como no senso
comum, não há um consenso objetivo sobre o que se entende por uma cidade-dormitório.
Segundo Faria (1991), os caminhos percorridos pela pesquisa da sociedade urbana no Brasil
assumiram uma postura específica onde termos como urbano, cidade, espaço e até região
metropolitana, incorporam sentidos e significados meramente convencionais sob uma base
extensa e plural de temas e perspectivas teóricas.
Assim, o termo “cidade-dormitório” se vinculou aos processos de marginalização e
periferização da pobreza nos contextos metropolitanos, especialmente a partir de análises na
Região Metropolitana de São Paulo ao longo das décadas de maior crescimento econômico e
populacional dessa região. Conseqüentemente, o termo passou a ser empregado em um
sentido pejorativo em diversos contextos regionais e inúmeros casos facilmente encontrados
através de uma rápida pesquisa na mídia impressa e digital.
Os governos locais tendem a se proteger do rótulo de ser uma “cidade-dormitório”
devido à carga ideológica negativa que permeia essa denominação, principalmente quando se
trata de municípios onde parte significativa do crescimento populacional está relacionada à
chegada de pessoas de maior poder aquisitivo que vão residir em municípios mais distantes
do seu local de trabalho em busca de amenidades como: melhor qualidade ambiental, fuga da
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Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambú-
MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008. Este estudo foi desenvolvido no âmbito dos projetos:
"Dinâmica intrametropolitana e vulnerabilidade sócio-demográfica nas metrópoles do interior paulista" (Fapesp
e CNPq); e “Desafios para a urbanização sustentável no espaço intra-metropolitano de Campinas e Santos:
mobilidade populacional, vulnerabilidade socioambiental e as evidências (locais, regionais e globais) das
mudanças ambientais” (Pós-Doutorado/Fapesp).Este trabalho também é parte de projeto de pós-doutoramento
financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
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Doutor em Demografia; Pesquisador Colaborador do Núcleo de Estudos de População (NEPO/Unicamp) e
Departamento de Demografia (DD/IFCH/Unicamp). Bolsista de pós-doutorado da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
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Sociólogo; Mestre em Demografia - Departamento de Demografia (DD/IFCH/Unicamp); Bolsista da
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
♦
Geógrafo; Mestrando em Demografia - Departamento de Demografia (DD/IFCH/Unicamp); Bolsista da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
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violência, etc. Surge, portanto, um novo cenário no qual o termo “cidade-dormitório”
necessita ser melhor detalhado. Assim, compreender em escala regional o papel dos
deslocamentos populacionais cotidianos (entre o local de residência e de trabalho e/ou
estudo) traz novos contornos para se pensar o que se poderia chamar de cidade-dormitório.
O que este trabalho apresenta é uma breve análise das informações censitárias
disponíveis para os anos de 1980 e 2000 no sentido de captar os fluxos de deslocamentos
populacionais para trabalho e/ou estudo (deslocamentos pendulares) para entender alguns dos
empregos do termo cidade-dormitório no contexto da urbanização brasileira e como, muitas
vezes, essa característica permeia a discussão de riscos socioambientais. A seguir,
apresentamos a informação censitária de deslocamento pendular como característica mais
marcante de uma cidade-dormitório, afinal, a própria denominação faz referência à sua
condição de ser apenas local de residência e, teoricamente, a maior parte das atividades
(como trabalho e estudo) seriam realizadas fora deste município. Por fim, após este
mapeamento a partir da informação censitária, identificamos alguns casos mais emblemáticos
da condição de cidade-dormitório, selecionando alguns municípios para uma análise mais
detalhada e, deste modo, encontrar subsídios para confirmar algumas verdades e mitos sobre
o bom uso desse controvertido consenso que é a “cidade-dormitório”.
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A peculiaridade das características de Valinhos enquanto cidade-dormitório também é apontada nos trabalhos
de Cunha et all (2005) e de Jakob & Sobreira (2005).
(metropolitana ou não). Essa distinção mereceria maior atenção devido às implicações que a
estrutura política possui no desenvolvimento urbano regional, entretanto, não será abordado
neste momento, pois demandaria uma investigação de maior fôlego. Em termos da dimensão
ambiental, as cidades-dormitório são mencionadas por dois motivos. Primeiro porque são
associadas às áreas com pouca infra-estrutura urbana, sobretudo àquelas relacionadas ao
saneamento básico, abastecimento de água, transporte etc; onde as taxas de crescimento
demográfico são elevadas, principalmente no que se refere ao crescimento populacional de
baixa renda. A segunda questão que se associa às cidades-dormitório quando se discutem as
dimensões ambientais é que estão nestas áreas (normalmente à periferia dos grandes centros)
os principais focos de desmatamento e redução de áreas verdes. Assim, se reduzirmos a
questão ambiental urbana meramente à redução de áreas verdes, podemos concordar com tais
afirmações. Entretanto, seria limitado entender os problemas ambientais urbanos apenas às
questões de infra-estrutura e de redução de áreas verdes.
Estas características devem ser relativizadas em uma análise mais detalhada pois a
redução de áreas verdes nos municípios-sede (ou centros consolidados) tende a apresentar
menores índices devido ao fato de que, havendo poucas áreas verdes nestes municípios, a
redução comparativa com as áreas de expansão urbana recente se torna desproporcional. Ou
seja, é de se esperar que encontremos índices de redução de áreas verdes mais intensos em
cidades de crescimento urbano recente, pois ainda existem remanescentes florestais a serem
desmatados. No caso dos municípios centrais, restam poucas áreas verdes a serem reduzidas
e, portanto, comparativamente apresentam taxas menores.
Em termos dos riscos ambientais Alves (2007) destaca que as áreas de maior
crescimento populacional entre 1991 e 2000 são justamente as áreas de risco ambiental,
pobres e periféricas. Entretanto, há que se destacar que há uma “associação positiva entre
piores condições socioeconômicas e maior exposição a risco ambiental, mesmo no interior
das regiões pobres e periféricas de São Paulo” (Alves, 2007, p.313). A análise conduzida por
este autor foi realizada dentro do município de São Paulo, e não representa necessariamente o
panorama nacional que pretendemos analisar neste texto. De qualquer maneira, neste trabalho
Alves (2007) aponta o sentido da hipótese que analisamos no presente estudo, a hipótese de
que as cidades-dormitório são também as áreas de maiores riscos ambientais. O que se
pretende destacar aqui é a associação entre pobreza e condições de risco ambiental, muito
mais do que associá-la a uma condição periférica (geográfica).
(...) as trajetórias de entradas e as de saídas podem ser compostas por grupos sociais
distintos, e que devem ocupar também postos distintos no mercado de trabalho – o que
conformaria um caráter bastante seletivo dos deslocamentos pendulares metropolitanos (p.
107).
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Neste trabalho utilizamos a “População Ocupada” como aquela que trabalha ou estuda entre 15 e 64 anos de
idade.
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Região Integrada de Desenvolvimento (Ride).
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Para fins desta análise comparativa, foram consideradas as Regiões Metropolitanas existentes em 2000 e os
municípios que vieram a constituí-los em 1980, sobretudo nos casos das Regiões Metropolitanas criadas após a
Constituição Federal de 1988.
Tabela 1
Número de municípios e peso relativo sobre o total de municípios com mais de 20% de
pessoas ocupadas em movimentos pendulares por Região Metropolitana, Brasil 1980 e
2000
1980 2000
Região Metropolitana
N % N %
Baixada Santista 2 1,0 2 0,5
Belém 2 1,0 3 0,7
Belo Horizonte 9 4,5 19 4,7
Campinas 5 2,5 7 1,7
Curitiba 4 2,0 12 3,0
Florianópolis 6 3,0 7 1,7
Fortaleza 1 0,5 4 1,0
Foz do Rio Itajaí 3 1,5 2 0,5
Goiânia 1 0,5 6 1,5
Londrina 1 0,5 3 0,7
Maceió 3 1,5 4 1,0
Maringá 1 0,5 3 0,7
Natal 1 0,5 4 1,0
Norte/Nordeste Catarinense 0 0,0 1 0,2
Porto Alegre 9 4,5 15 3,7
Recife 5 2,5 10 2,5
Região Carbonífera 2 1,0 4 1,0
RIDE DF e Entorno 2 1,0 7 1,7
Rio de Janeiro 9 4,5 14 3,5
Salvador 2 1,0 1 0,2
São Luís 1 0,5 2 0,5
São Paulo 26 13,1 28 6,9
Vale do Aço 1 0,5 1 0,2
Vale do Itajaí 1 0,5 2 0,5
Vitória 5 2,5 4 1,0
Total das RMs 102 51,5 165 40,8
Fora de RMs 96 48,5 239 59,2
Total 198 100,0 404 100,0
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 1980 e 2000 (microdados); Tabulações Especiais dos Autores
As cidades-região, apontadas, entre outros, por Scott et al. (2001), constituem nódulos
de expressão de uma nova ordem social, econômica e política, mostrando que - ao contrário
de uma dissolução da importância regional decorrente da diluição do tempo-espaço
propiciado pela globalização - as formas espaciais regionais se tornam cada vez mais
centrais à vida moderna (OJIMA, 2007: p.48).
Tabela 2
Ranking dos municípios com maior proporção de pessoas ocupadas que realizam
deslocamentos pendulares - 2000
PEA % de
Deslocamentos
Município Região Metropolitana (15 a 64 Deslocamentos
Pendulares
anos) Pendulares
Águas Lindas de Goiás RIDE DF e Entorno 25.590 63.506 62,3
Alvorada Porto Alegre 44.492 118.171 56,4
Novo Gama RIDE DF e Entorno 16.986 45.950 56,0
Dobrada Fora RM 1.730 4.616 55,5
Almirante Tamandaré Curitiba 20.817 55.693 55,3
Ibirité Belo Horizonte 28.962 85.631 54,1
Várzea Paulista Fora RM 21.463 62.319 53,8
Ribeirão das Neves Belo Horizonte 56.925 160.703 53,4
Potim Fora RM 3.055 8.820 53,3
Nossa Senhora do Socorro Fora RM 27.001 81.492 52,7
Piraquara Curitiba 15.698 46.295 51,6
Cidade Ocidental RIDE DF e Entorno 9.656 25.993 51,2
Santa Ernestina Fora RM 1.325 3.869 50,7
Francisco Morato São Paulo 26.958 84.056 50,6
Rio Grande da Serra São Paulo 7.387 24.552 49,2
Valparaíso de Goiás RIDE DF e Entorno 20.911 60.733 49,1
Sabará Belo Horizonte 24.819 76.086 48,3
Santa Lúcia Fora RM 1.647 5.108 47,9
Senador Canedo Goiânia 11.111 33.509 47,9
Santa Luzia Belo Horizonte 38.297 121.724 47,5
Fazenda Rio Grande Curitiba 12.135 39.518 47,2
Colombo Curitiba 37.719 118.471 46,7
Viamão Porto Alegre 45.794 148.122 46,4
Santo Antônio do Descoberto RIDE DF e Entorno 8.778 31.321 46,3
Japeri Rio de Janeiro 14.766 52.513 46,2
Ferraz de Vasconcelos São Paulo 26.682 92.535 45,7
Hortolândia Campinas 30.516 100.706 45,5
Carapicuíba São Paulo 68.466 233.855 45,5
Nilópolis Rio de Janeiro 30.840 105.114 45,4
Jandira São Paulo 18.951 61.020 45,4
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000 (microdados); Tabulações Especiais dos Autores
Uma característica importante deste ranking de no Brasil é o fato de que nele estão
contidos municípios pouco conhecidos e, muitas vezes, não habitualmente identificados como
“cidades-dormitório” pela mídia. O que queremos destacar aqui é o fato de que muitos
municípios que tradicionalmente são identificados como cidades-dormitório não apresentam
necessariamente grandes proporções de pessoas realizando movimentos pendulares. Assim,
uma das hipóteses que podem ser levantadas aqui é que essa denominação atende a outras
características do município que aquelas associadas à mobilidade pendular.
Na seção seguinte avançaremos em uma análise que privilegie a característica de
mobilidade pendular como definidora de uma cidade-dormitório. Assim, ao invés de estudar
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Para essa comparação utilizamos a população entre 15 e 64 anos para considerar apenas o peso relativo de
movimentos pendulares pela População Economicamente Ativa (PEA). Além disso, ao usar apenas a PEA,
reduzimos o impacto da estrutura etária na avaliação dos movimentos pendulares uma vez que esses
movimentos são muito reduzidos entre crianças e idosos.
as características sociodemográficas daqueles municípios que são tradicionalmente chamados
de cidade-dormitório, iremos fazer uma breve análise daqueles municípios que possuem
relativamente grandes proporções de deslocamentos pendulares. Com isso, procuramos
entender quais são as principais características dos municípios que se situam entre aqueles
que se destacam no ranking nacional de proporção de deslocamentos pendulares.
Em regiões metropolitanas
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Ao atribuir aos Estados à institucionalização de regiões metropolitanas, a Constituição Federal não previu a
possibilidade de o fenômeno metropolitano envolver mais de uma Unidade da Federação (UF). Por esse motivo,
o Congresso Nacional instituiu em 1998 a Região Integrada de Desenvolvimento (Ride) como nova figura
jurídica possibilitando, dessa forma, a articulação da gestão de território em áreas que incluem mais de uma UF.
A RIDE do Distrito Federal inclui, além do próprio distrito, mais 21 municípios de Goiás e Minas Gerais.
período. Destaca-se ainda o município de Águas Lindas de Goiás que entre 2000 e 2007
apresentou uma taxa geométrica de crescimento populacional de 11,00% ao ano em média.
A crescente importância da imigração intrametropolitana recebida por estes municípios
contou também de forma decisiva para essas elevadas taxas de crescimento. Como observa
Caiado (2005a, p.71), o processo de redistribuição da população regional para os municípios
do Entorno se intensificou a partir da década de 80 com a periferização das pessoas de classes
sociais médias e baixas. Analisando dados dos Censos demográfico a autora aponta de forma
clara a crescente expulsão dessa população do Distrito Federal para o entorno regional a
partir deste período. Enquanto no período 1975-1980, 33.866 pessoas deixaram o DF para
municípios do Entorno, nos períodos seguintes de 1986-1991 e 1995-2000, os volumes desse
fluxo se elevaram para respectivamente para 46.162 e 80.942 pessoas.
Nesse contexto de quase monopólio estatal da posse e controle do solo a rápida
ocupação urbana é marcada pela ilegalidade de grileiros e especuladores propiciando a
ocorrência de loteamentos ilegais e um desenvolvimento urbano desequilibrado. As
condições desiguais de distribuição de infra-estrutura urbana e oportunidades de emprego,
principalmente concentradas no núcleo urbano de Brasília, por um lado, e a segregação
socioespacial dos segmentos populacionais de menor poder político e econômico em áreas
periféricas, por outro, apresentam-se então como “[...] a principal faceta espacial da exclusão
social a que estão submetidos esses segmentos populacionais.” (CAIADO, 2005b, p.56).
Em termos de questões ambientais, as desigualdades das condições de habitação entre
Distrito Federal e Entorno ficam patentes. Considerando variáveis relativas a abastecimento
de água, destinação e tratamento de resíduos sólidos, condições da habitação e localização da
residência em aglomerados subnormais, Caiado (2005b, p.83) avalia a “condição de
habitabilidade” dos imóveis nos anos de 1991 e 2000 para essas regiões. Segundo a autora,
no Distrito Federal observa-se entre 1991 e 2000 um aumento na proporção de chefes de
domicílio que residiamm em condições adequadas (de infra-estrutura, instalações sanitárias e
localização) chegando a 57% e 77% dependendo da condição migratória da pessoa. Enquanto
isso, na área classificada pela autora como Entorno Imediato (que inclui os cinco municípios
que estamos destacando), a proporção de chefes de domicílio em condições adequadas de
residência apresentou importante queda no período analisado. No ano de 2000 a proporção de
chefes de domicílio residentes em condições adequadas não passava de 13,5%,
independentemente da condição migratória.
A marcada desigualdade do desenvolvimento regional e o intenso processo de
periferização populacional dão contornos a um contexto de elevada dependência dos
municípios do Entorno em relação ao Distrito Federal e sua estrutura de serviços públicos de
educação, saúde e mesmo de oportunidades de emprego e outras atividades geradoras de
renda. Segundo Caiado (2005b), além das cidades satélites,
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