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A Banda Oriental sempre foi uma região de grande interesse para

a Corte Portuguesa, haja vista o imenso peso comercial da Bacia do Prata.


Não por acaso, a região de Colônia de Sacramento foi objeto de diversas
disputas entre Portugal e Espanha. Desde a celebração do Tratado de
Badajoz, que pôs fim à Guerra das Laranjas, em 1801, a região
encontrava-se sob posse espanhola. Os conflitos na região, no entanto,
só chegariam a termo com o fim da Guerra da Cisplatina, em 1828.

A eclosão da Guerra de Independência Espanhola, em 1808, em


resposta à decisão de Napoleão Bonaparte de conceder o trono espanhol
a seu irmão José Bonaparte, após forçar a abdicação de Fernando VII,
gera efeitos na América espanhola que, isolada, ganha autonomia
econômica e política. Como consequência, m 1810, inicia-se o processo
de independência da Argentina. O projeto portenho buscava integrar todo
o Vice-Reino do Prata, mas não foi bem sucedido nessas pretensões. As
elites do norte do Vice-Reino se opunham ao processo de independência
a partir de Buenos Aires, tendo em vista a centralização tributária que
assumiria. Somente Montevidéu, que viria a ser a capital do Vice-Reino,
mantem-se como aliada. O governador espanhol Francisco Javier de Elío,
promovido a Vice-Rei em Montevidéu e que, aliado à Junta de Sevilha,
dizia atuar em nome de Fernando VII, em um primeiro momento, solicitou
a cooperação de Portugal para intervir na Bacia do Prata em detrimento
dos independentistas; não tardou, contudo, de perceber as pretensões
expansionistas de Dom João.

A crise foi vista pela coroa bragantina como uma janela de


oportunidade. Sob o pretexto de preservar a dinastia espanhola que havia
sido deposta na Espanha, sobretudo ante a possibilidade de Carlota
Joaquina, filha de Carlos IV da França e irmã de Fernando II, assumir a
camada de legitimidade que lhe poderia caber em relação à Bacia do
Prata, Dom João, promove, em 1811, a primeira investida em
Montevidéu. Em contrapartida, a Inglaterra, preocupada com a
importância da Bacia do Prata na balança comercial britânica, impôs a
assinatura de um armistício e a retirada das tropas joaninas da região.

Em 1814, o chefe militar José Gervásio de Artigas, representante


dos povos interiores contra o governo central e favorável a uma república
federal e socialmente reformista, cria a Liga dos Povos Livres. Artigas
havia se tornado uma ameaça tanto para o projeto portenho quanto para
os interesses da Coroa portuguesa. Em 1816, Dom João determina uma
nova investida em Montevidéu, sob a justificativa de pacificação da
região; dessa vez, sem a oposição da Inglaterra. Buenos Aires mantem
neutralidade, principalmente após a recusa de Artigas à participação no
Congresso de Tucumã, de 1816, que conferiu independência formal às
Províncias Unidas. A vitória das tropas portuguesas garantiu a anexação
da Banda Oriental, que passou a ser designada Província da Cisplatina, ao
Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 1821. Posteriormente, a
Cisplatina foi anexada ao Império do Brasil.

Em 1825, diante da recusa D. Pedro I ao pedido, feito pelo


governo de Buenos Aires, em 1823, de devolução da Banda Oriental, Juan
Antonio Lavalleja e os 33 orientais sob a sua liderança articulam-se em
direção ao território oriental, com o objetivo de tomar a Cisplatina.
Quando o Congresso das Províncias Unidas aceita o pedido de anexação
da Banda Oriental, Dom Pedro I declara guerra. No conflito que se
estendeu de 1825 a 1828, a superioridade naval brasileira foi suplantada
pela sua inferioridade técnica: os grandes calados impediam os navios
brasileiros a contornar o raso rio Uruguai. Somada à falta de estratégia,
as tropas brasileiras foram derrotadas na Batalha de Sarandi, em outubro
de 1825. O Império Brasileiro, nesse momento, controlaria, somente
Montevidéu e Colônia do Sacramento; os demais territórios passariam
para o controle das tropas de Rivadavia, presidente da Argentina, e dos
orientais.

Não obstante, as tropas portuguesas tinham que lidar com as


ações de corsários que infringiam o bloqueio do Rio da Prata pelas tropas
brasileiras, promovidos no intuito de sufocar o porto de Buenos Aires.
Esse tipo de ação levou, inclusive, a um incidente com os Estados Unidos,
quando, em 1827, um navio corsário norte-americano foi apreendido e,
em resposta, Washington determinou o rompimento de relações
diplomáticas com o Brasil, que somente foram retomadas no ano
seguinte, com o Tratado de Navegação e Comércio celebrado entre os
dois países.

Em fevereiro de 1817, a Batalha de Passo do Rosário, ou Batalha


de Ituzaingó, para os Argentinos, evidenciou o impasse e indefinição da
guerra. Por consequência, o presidente da Argentina Bernardino
Rivadavia orientou a celebração de um acordo secreto de reconhecimento
da posse brasileira da província da Cisplatina, fato que, já em um contexto
de crise, gerou contestações populares em Buenos Aires, obrigando-o a
renunciar. Como o impasse persistia e, em 1828, as Províncias Unidas
vencem a Batalha de Juncal, mas não eram capazes de expulsar as tropas
brasileiras, a Grã-Bretanha, interessada no desbloqueio do Rio da Prata,
promove uma intervenção e sugere a criação de um Estado independente
na região sob conflito. Como consequência, foi assinada, em agosto de
1828, por Dom Pedro I, Manuel Dorrego, sucessor de Rivadavia, e o Lord
Posonby, a Convenção de Paz que deu origem à República Oriental do
Uruguai.

O prolongamento do conflito sem solução, a exaustão dos


orçamentos militares, a insatisfação do exército com as más condições de
vida, com o atraso no pagamento dos soldos, com a rígida disciplina, e o
descontentamento com as derrotas militares e a presença de oficiais
portugueses em postos de comando, contribuíram significativamente para
o agravamento da crise política do Primeiro Reinado e o desgaste da figura
de Dom Pedro I, culminando, por fim, na sua abdicação ao trono
Brasileiro, em 1831.

Grace Brito
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