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PRÁTICAS PEDAGÓGICAS NO

LETRAMENTO DO ALUNO SURDO

Celeste Azulay Kelman


Faculdade de Educação e PPGE/UFRJ
cel.azul@superig.com.br

Outubro 2011
PROCESSOS DE SIGNIFICAÇÃO
 Vigotski:

internalização

processos mentais superiores

Lei Geral do Desenvolvimento
 Bruner:

Significado: fenômeno culturalmente
intermediado que depende da existência prévia
de um sistema compartilhado de símbolos

Teoria do andaime –um auxílio visível ou
audível que um membro mais experiente de
uma cultura pode dar a um aprendiz
PROCESSOS DE SIGNIFICAÇÃO (II)

 O papel do intérprete educacional


 Evitar metáforas
 Explicar metáforas
 Fornecer as ferramentas culturais
para que a criança surda possa
interpretar o mundo
 Atividade iniciada pela criança
SEMIOSE NA CRIANÇA SURDA

gestos

Língua de sinais classificadores

 mímica
expressões faciais
Sistemas de comunicação

 Língua de sinais
 Datilologia
 Comunicação intermodal
Comunicação multimodal
 Bilinguismo
Sistemas de comunicação (II)

 A exposição precoce à LS permite uma forma


eficaz de se comunicar e interagir com o mundo à
sua volta
 A proficiência comum às duas línguas facilita a
transferência de habilidades cognitivas acadêmicas
ou de habilidades ligadas ao letramento de uma
para outra língua
Sistemas de comunicação (III)

 Linguagem como base para o letramento de


crianças surdas (Cameron Miller, 2011)

explicação do texto em Libras

leitura orientada

leitura compartilhada

biblioteca na sala de aula

“silêncio sustentável”
LETRAMENTO
 O principal objetivo do letramento é de natureza política
(Paulo Freire).
 Inicia-se antes da entrada na escola (TFOUNI, 2006;
SOARES, 2000). Conhecimento das práticas letradas.
 Letramento determina a alfabetização.
LETRAMENTO (II)

 Letramento: É mais que leitura e escrita. É o uso


da língua em contexto significativos.
 Inclui contexto e cultura permite uma forma
eficaz de se comunicar e interagir com o mundo à
sua volta
 Como a palavra impressa se vincula aos
conceitos internalizados pelos
surdos
LETRAMENTO E SURDEZ

 Nas crianças surdas, enquanto processo, faz


sentido se significado por meio da Libras. A LP
será portanto a segunda língua (L2), sendo
significada pela criança na forma escrita com as
funções sociais representadas no contexto
brasileiro (QUADROS, 2006, p. 17)
LETRAMENTO E SURDEZ

Mediação
Semiose Semiótica
Imagética

Comunicação Meta
inter e comunicação
multimodal
Semiótica Imagética

 Deriva da História da Arte


 Os signos pertencem à categoria da
terceiridade, já que eles unem um
primeiro aspecto, o veículo do signo
(representâmen), a um segundo, o
objeto representado no signo, em um
terceiro, a consciência interpretativa”
(NÖTH & SANTAELLA, 1998, p. 143)
Semiótica Imagética(II)

A natureza dos signos



Estruturalismo de Saussure

“O único liame natural verdadeiro é o do
som”. (1988, p.35)

Concepção triádica (Peirce)

imagens icônicas

imagens indiciais

imagens simbólicas

Santaella: semiótica estuda
todas as linguagens possíveis,
todos os fenômenos de produção de
significação e sentido
Mediação Semiótica

 Ocorre por meio de signos compartilhados entre os


sujeitos pertencentes a uma mesma cultura.

 Os signos se expressam por meio de múltiplos sistemas

 A mente humana é semiótica e está imersa em relações


dialógicas e sígnicas
Comunicação Inter e Multimodal
¤ Um signo linguístico é representado por
diferentes meios, por múltiplas modalidades

¤ Texto + imagem + som

¤ Letramento em tempos de internet: blogs, chats

¤ Linguagem multimodal  o aluno deve se


apropriar da variedade de representações:
desenhos, cartazes, movimentos corporais...

¤ Integração de diferentes modos semióticos


Metacomunicação

 Dimensão relacional que fala sobre a qualidade do


contexto comunicativo  o significado oculto do padrão
comunicativo

 Mensagem metacomunicativa é de natureza ambígua e


polissêmica

 Os significados têm que ser


interpretados
INTERLÍNGUA

Sistema linguístico que resulta da aquisição de uma


segunda língua, desde seu início até a estabilização do
processo.
 Quanto mais línguas você fala mais fácil será aprender a
próxima
 São necessários cinco ou mais anos de exposição para
se adquirir competência linguística.
 O aluno surdo transfere a estrutura da língua que mais
domina para a língua que está aprendendo (QUADROS,
2006)
INTERLÍNGUA (II)

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INTERLÍNGUA (III)
(Brochado, 2006)

Interlíngua I:

texto apresenta frases curtas, sem elementos
gramaticais da LP

dificuldades ortográficas

uso inadequado de flexão

 Interlíngua II:

uso de artigos, preposições e expressões gramaticais

emprego de flexão verbal de forma adequada

Interlíngua III:

uso de muitos elementos gramaticias da LP

texto adquire características de narrativa
Práticas Pedagógicas:
pesquisa com uma pedagogia visual
 Vigotski: relação entre palavra e pensamento

 Peirce: relação entre olho e pensamento

 Conclusão: aprendizado da criança surda precisa ser


conduzido através de uma pedagogia visual

 A apropriação da L2 se constitui de diversas etapas; nem


todos aprendem da mesma maneira.

 Brochado (2006): A interlíngua marca os diferentes graus


de estabilidade que refletem uma competência transicional.
Práticas Pedagógicas:
pesquisa com uma pedagogia visual

 Ele se utiliza de estratégias da sua primeira língua (L1)


em diferentes graus, como, por exemplo:

ausência de elementos gramaticais

erros ortográficos

uso inadequado da flexão Ex: o televisão
Método

 Abordagem qualitativa: pesquisa colaborativa


 Local: uma escola municipal da rede do MRJ
 Participantes: cinco alunos surdos de 4º ano, professora
da SR. Intérprete, pesquisadora e duas auxiliares,
estudantes de Pedagogia
 Reunião com as mães autorizando a pesquisa

 Aspectos indesejáveis:

Instrutor surdo só atua no horário da SR. No horário
da pesquisa encontra-se em outra escola

Professora regente não pode participar

Impossibilidade de realização do Centro de Estudos
Método

 Abordagem qualitativa: pesquisa colaborativa


 Local: uma escola municipal da rede do MRJ
 Participantes: cinco alunos surdos de 4º ano, professora
da SR. Intérprete, pesquisadora e duas auxiliares,
estudantes de Pedagogia
 Reunião com as mães autorizando a pesquisa

 Aspectos indesejáveis:

Instrutor surdo só atua no horário da SR. No horário
da pesquisa encontra-se em outra escola

Professora regente não pode participar

Impossibilidade de realização do Centro de Estudos
Participantes surdos
 Jonas: 12 anos. Quando chegou à escola, há seis anos,
era muito agressivo, beliscava, jogava coisas no chão, em
decorrência da impossibilidade de comunicação
 Geraldo: 13 anos. Tem comprometimento visual devido a
síndrome de .Waardenburg. “De todo o grupo é o que tem
menos iniciativa, então a toda a hora tenho que cutucar.”
(professora da sala de recursos).
 Ivan: 12 anos. Tem resíduo auditivo. Também chegou à
escola, há seis anos. Esquece com facilidade.
 Lúcia: 13 anos. Excelente aluna: esperta, atenta e curiosa;
possui ambiente familiar estimulante; mãe falante de Libras.
 Tânia: 11 anos, surdez pós lingual. Está há oito anos em
tratamento fonoaudiológico. Atua como intérprete dos pares.
Instrumentos

.
Instrumentos
Gato de rato medo os rato medo dogato
Casa juntos sino pescoço gato
Quem sino gato?
Falar fácil fazer difícil
-------------------

A história do gato e dos ratos


A Barbie .
Autor: Esopo
Cabelo e loura Era uma vez um gato e os ratos.
Olho e azul Eles tinham medo do gato e resolveram botar
Vestido e rosa o sino no pescoço do gato.
Boca e rosa o sorriso Mas quem ia botar o sino no pescoço do gato???
Fundo foto azul Falar é fácil, fazer é difícil.
Boneca e brincar a Tania as Amiga
ea)
------------------

A Barbie tem cabelo louro , olho


azul , vestido rosa , boca rosa e está
sorrindo .
A foto tem fundo azul
Tania e as amigas brincam de
boneca
Resultados

 Temas e textos: Cadernos Pedagógicos



Gêneros textuais

Jornal: manchete, chamada, lide

Receita: culinária, médica, bula

Descrição
. de personagens
“Ivan, circula o LIDE nesse jornal.”
Ivan imediatamente circula apenas o título. Intérprete
diz:
“Vou te dar mais um chance, se você não acertar, vai
ficar sem almoço!”
Ao perceber a expressão de incômodo de uma das
pesquisadoras a intérprete diz:
“Tem que ser assim, só funciona sob pressão.”
Resultados

 Melhoria na escrita do português de duas


alunas;
.
 Alguns alunos foram capazes de articular
temas trabalhados nos encontros com o
conteúdo que estava sendo trabalhado na
sala de aula e na sala de recursos .

 Percebemos que com a utilização de


alguns materiais diferenciados, o interesse
no ensino da LP tornou-se maior.
Conclusões

 A semiose imagética contribui para a elaboração de uma


competência linguística baseada em imagens e
expressa pela escrita. A experiência visual é uma forma
por excelência para que a criança surda construa
significados.
 Os diferentes níveis de interlíngua não podem ser
entendidos como “erros de português”, mas como
diferentes fases de aprendizado da segunda língua. É
exatamente por esse motivo que buscam no ato de
copiar do colega um apoio para que desvendem, juntos,
uma habilidade desafiadora: a de escrever em
português.
Referências:

BOTELHO,P. Linguagem e letramento na educação dos surdos -


Ideologias e práticas pedagógicas. 3ª ed. - Belo Horizonte: Autêntica
Editora, 2010.
BROCHADO, S. M. D. A apropriação da escrita por crianças surdas. In:
QUADROS,. R. (Org.) Estudos surdos I. Petrópolis, RJ: 2006.
KELMAN, C.A. Significação e aprendizagem do aluno surdo. In
MARTÍNEZ, A.M. e TACCA, M.C.V.R. (Orgs.) Possibilidades de
aprendizagem: ações pedagógicas para alunos com dificuldade e
deficiência.Campinas, SP: 2011.
PIMENTA, S. G. Pesquisa-ação crítico-colaborativa: construindo seus
significado a partir de experiências com a formação docente.
Educação e Pesquisa, São Paulo, v.31, n 3, PP.521-539, set./dez.,
2005.
QUADROS, R.; SCHMIEDT, M. L.P.Ideias para ensinar português parra
alunos surdos. Brasília: MEC, SEESP, 2006.
SANTAELLA, L.; NÖTH, W. Comunicação e Semiótica. São Paulo:
Hacker Editores, 2004.

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