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IX Congresso Brasileiro de Geotecnia Ambiental (REGEO 2019)

VIII Congresso Brasileiro de Geossintéticos (Geossintéticos 2019)


São Carlos, São Paulo, Brasil © IGS-Brasil/ABMS, 2019

Dimensionamento de Geodrenos Para Um Aterro Sobre Solo Mole,


a Partir de Coeficientes de Adensamento Obtidos em Ensaios
Oedométricos e de Piezocone
Maria Mariana Azevedo dos Santos
Universidade Federal de Pernambuco, Caruaru, Brasil, mary.mmas@gmail.com

Maria Isabela Marques da Cunha Vieira Bello


Universidade Federal de Pernambuco (PPGECAM), Caruaru, Brasil, isabelamcvbello@hotmail.com

Yago Ryan Pinheiro dos Santos


Universidade Federal de Pernambuco (PPGECAM), Caruaru, Brasil, yago_ryan@hotmail.com

RESUMO: Uma das técnicas mais utilizadas para acelerar o processo de adensamento em solos moles
é a aplicação de drenos verticais, cuja técnica promove a aceleração dos recalques por meio da perda
de água. Este trabalho consiste no dimensionamento de geodrenos para um aterro de solo mole em
Suape/PE, localizado no Complexo Industrial Portuário de Suape, a partir de coeficientes de
adensamento obtidos em ensaios oedométrico e de piezocone. Foram definidas as necessidades do
projeto (profundidade dos drenos, tempo e grau de adensamento), as grandezas geométricas dos
geodrenos e comparados os valores de espaçamento entre os geodrenos considerando a média dos
coeficientes de adensamento obtidos nos ensaios considerados. Também foram comparados o tempo
de adensamento na situação com e sem o uso de geodrenos. Em relação ao espaçamento dos
geodrenos considerando os dados dos dois ensaios, os resultados demonstraram valores semelhantes,
variando em torno de 2,5 m. Os elementos dimensionados mostraram-se mais eficazes quanto maior
o valor do coeficiente de permeabilidade horizontal, aumentando o espaçamento entre eles, reduzindo
consequentemente o número de drenos necessários para obtenção do resultado desejado. Quanto ao
tempo de adensamento para a obtenção do grau de adensamento pretendido, os resultados mostraram-
se vantajosos, onde, quanto mais espessa a camada de solo estudada, maior o ganho de tempo
adquirido com a sua utilização. Em relação ao coeficiente de adensamento vertical, foi observado
que, quanto menor for o seu valor, maior será a vantagem em termos de tempo de adensamento na
utilização de drenos verticais.

PALAVRAS-CHAVE: Geodrenos, Solo Mole, Adensamento, Ensaio Oedométrico, Ensaio de


Piezocone.

ABSTRACT: One of the techniques most used to accelerate the consolidation process in soft soils is
the application of vertical drains, whose technique promotes the acceleration of the settlements
through the loss of water. This work consists of the geodrains sizing for a soft soil embankment in
Suape / PE, located in the Suape Port Industrial Complex, from the consolidation coefficients
obtained in oedometric and piezocone tests. The design requirements (depth of drains, time and
degree of consolidation), geometric magnitudes of the geodrains and the spacing values between the
geodrains were defined considering the average of the consolidation coefficients obtained in the tests
considered. We also compared the time of consolidation in the situation with and without the use of
geodrains. Regarding the spacing of the geodrains considering the data of the two tests, the results
showed similar values, varying around 2.5 m. The dimensioned elements proved to be more effective
as the value of the horizontal permeability coefficient increased, increasing the spacing between them,
consequently reducing the number of drains needed to obtain the desired result. As to the time of
consolidation to obtain the desired degree of consolidation, the results were advantageous, where the

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thicker the soil layer studied, the greater the gain of time acquired with its use. In relation to the
coefficient of vertical consolidation, it was observed that the lower the value, the greater the
advantage in terms of the consolidation time in the use of vertical drains.

KEY WORDS: Geodrains, soft soil, consolidation process, oedometric test, piezocone test.

1 INTRODUÇÃO da metade da distância horizontal entre drenos


(Almeida e Marques, 2010).
A rápida expansão da cidade nas últimas décadas Ainda segundo Almeida e Marques (2010), os
tem provocado escassez de locais com melhor geodrenos consistem em uma das opções para
capacidade de suporte, resultando nas frequentes drenagem em áreas de argilas moles, cujo
construções sobre depósitos de solos moles. material é composto por um núcleo de plástico
Devido à alta compressibilidade e baixa com ranhuras em forma de canaleta, envolto em
resistência, a presença destes depósitos é motivo um filtro de geossintético não tecido de baixa
de preocupação nas obras de engenharia, gramatura. Dentre as vantagens de sua utilização
reduzindo a área de instalação de estruturas civis, estão a facilidade de instalação, que é muito
como fundações, estradas e grandes edificações superior se comparado aos drenos verticais de
(Bello, 2011). areia, a alta capacidade drenante, uniformidade e
Esse processo faz surgir a necessidade de qualidade da fabricação industrializada,
conhecer as propriedades mecânicas dos enquanto que a qualidade de drenos de areia
depósitos de argila mole, a fim de estudar depende muito dos materiais e dos sistemas
técnicas de melhoramento que permitam a construtivos utilizados.
construção nesse tipo de solo, que são evitados Neste trabalho será realizado o
devido às suas características pouco propícias dimensionamento de drenos verticais de
para fundação. geotêxtil, a partir dos coeficientes de
Camadas de argilas moles, caracterizadas pela adensamento obtidos em ensaios odométrico e
sua alta compressibilidade, devem ser de piezocone realizados em três trechos de um
cuidadosamente estudadas, e, para isso, alguns depósito de argila mole em Suape/PE estudados
procedimentos para analisar seu comportamento por Bello (2011). Para cada trecho, serão
para as condições de fluxo vertical e deformação comparados o tempo de adensamento na situação
unidimensional foram inicialmente apresentados com e sem o uso de geodrenos. Também serão
por Terzaghi e Frolich (1936), tornando-se uma comparados os valores de espaçamento obtidos
das teorias mais utilizadas na engenharia com uso do geodrenos dimensionados,
geotécnica. Apesar das hipóteses simplificadoras considerando a média dos coeficientes de
feitas, a teoria do adensamento permite avaliar adensamento obtidos no ensaio de piezocone e
de forma aproximada a velocidade dos recalques oedométrico.
devido ao adensamento, com base nos resultados
obtidos através de ensaios de laboratório.
Existem várias soluções que permitem a 2 ÁREA DE ESTUDO
utilização das áreas de solo mole. A escolha de
uma delas dependerá de inúmeros fatores, como O complexo Industrial e Portuário de Suape é o
as condições do solo, o nível de recalque mais completo polo para a localização de
aceitável, o espaço disponível, além de custos e negócios industriais e portuários da Região
prazos de execução. Nordeste. Está localizado no município de
Uma das técnicas mais utilizadas para acelerar Ipojuca, ao sul da cidade do Recife, à 52 km da
o processo de adensamento em solos moles é a capital de Pernambuco. Este município é
aplicação de drenos verticais. A utilização de limitado ao norte pelo município de Cabo de
drenos verticais promove a aceleração dos Santo Agostinho, ao sul com o município de
recalques ao diminuir o caminho de drenagem Sirinhaém, a leste com o Oceano Atlântico e a
dentro da massa de solo compressível para cerca oeste com o município de Escada.

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A área de estudo nomeada AE-1 (Figura 1) Coutinho (2007), para verificar os efeitos do
está localizada no Complexo Industrial e amolgamento do solo que, segundo Hvorslev
Portuário de Suape, em uma área de mangue (1949), compreende o enfraquecimento da
virgem, caracterizada pela presença de solos adesão entre as partículas ou no rearranjo
moles/ orgânicos, com restos de plantas e raízes, estrutural das partículas sólidas do solo.
tratando-se de uma via de acesso no sentido Segundo a proposta de Coutinho (2007), a
continente – mar. relação Δe/eo é utilizada como critério de
avaliação do amolgamento da amostra, onde Δe
é a variação no volume de vazios e eo o índice de
vazios inicial. São apresentadas quatro faixas de
classificação de amostra: muito boa a excelente,
boa a regular, pobre, e muito pobre.
Na área de estudo AE-1, verificou-se que 13
amostras foram classificadas como satisfatória,
em um total de 30 amostras (43% das amostras
obtidas), como observado na Tabela 1.

Tabela 1. Resultados da classificação da qualidade de


amostra, segundo critério de Coutinho (2007).
Área de Estudo AE-1
Estaca Prof.(m) Δe/eo Classificação da amostra
Figura 1. Área de estudo AE-1. 2,2 0,11 Pobre
4,2 0,16 Muito Pobre
E98
6,2 0,06 Boa à Regular
O aterro da área AE-1 foi dividido em dois
trechos longitudinais. O trecho 1 foi escolhido 8,2 0,04 Excelente
para estudo deste trabalho. Nesse trecho foram 2,2 0,24 Muito Pobre
retiradas amostras e realizados ensaios nas 4,9 0,17 Muito Pobre
E102
estacas (E98, E102, E112 e E120). Foram 6,7 0,1 Pobre
coletadas 19 amostras indeformadas tipo pistão 8,7 0,1 Pobre
estacionário de paredes finas, com tubo aço-inox
2,2 0,11 Pobre
com diâmetro 4’’ e 4,5’’ (100 e 110mm) e
comprimento 1000mm. O perfil geotécnico do 4,2 0,11 Pobre
trecho é mostrado na Figura 2. 6,2 0,1 Pobre
Segundo Bello (2011), a camada superficial do E112 8,2 0,07 Boa à Regular
trecho é formada por uma argila orgânica muito 10,2 0,1 Pobre
turfosa com pouca areia fina, seguida por 14,2 0,03 Excelente
camadas também de argila orgânica turfosas,
17,7 0,13 Pobre
com muito pouca a muita areia fina. Foram
investigadas até uma profundidade de 9,0 m para 2,2 0,07 Boa à Regular
a estaca E98, 18,0 m para a E102, 17,0 m para a E120
4,2 0,06 Boa à Regular
E112 e 16,0 m para a E120. 6,2 0,06 Boa à Regular
No estudo realizado por Bello (2011), a 9,2 0,05 Boa à Regular
avaliação da qualidade das amostras obtidas foi
feita utilizando a proposta apresentada por

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Figura 2. Perfil geotécnico do trecho 1.

3 MATERIAIS E MÉTODOS
Tabela 2. Resultados de cv e ch obtidos do ensaio de
3.1 Considerações Iniciais adensamento oedométrico.
Estacas Prof. (m) cv (m²/s) ch (m²/s)
Para o dimensionamento dos geodrenos na área 2a3 0,0146x10 -6
0,0126x10-6
de estudo, foram considerados os cálculos e 4 a 4,74 0,0142x10-6 0,0134x10-6
considerações geométricas do diâmetro de E98
6a7 0,0068x10-6 -
influência e espaçamento, diâmetro equivalente -6
8a9 0,0183x10 -
e a influência do amolgamento na instalação do
-6
dreno. A resistência hidráulica do dreno não foi 2a3 0,0215x10 0,3022x10-6
considerada pois, segundo Hansbo (2004) a 4,65 a 5,65 0,0151x10-6 0,1036x10-6
E102
maioria dos geodrenos disponíveis no mercado 6,5 a 7,5 0,0494x10-6 -
tem capacidade de descarga suficiente, de forma 8,5 a 9,5 0,0389x10 -6
-
a tornar essa questão desprezível em projeto.O
2a3 0,0336x10-6 -
dreno utilizado no estudo foi um dreno vertical
pré-fabricado, conformado por camada 4a5 0,0117x10-6 -
polimérica, coberto em ambas as faces por um 6a7 0,0275x10-6 0,3202x10-6
geotêxtil permeável não tecido. A fixação do E112 8a9 0,0171x10-6 -
conjunto se dá a partir de um envolvimento em 10 a 11 0,0499x10 -6
0,2919x10-6
membrana de látex. Suas dimensões são 10 cm 14 a 15 0,0317x10-6 -
de largura e 0,4 cm de espessura. . O -6
17,5 a 18,5 0,0254x10 0,3306x10-6
dimensionamento foi feito considerando as
hipóteses simplificadoras de Terzaghi. Os 2a3 0,0374x10-6 -
-6
cálculos foram feitos para os ensaios de 4a5 0,0141x10 0,1258x10-6
E120
piezocone e oedométrico obtidos por Bello 6a7 0,0853x10-6 0,1361x10-6
(2011). A Tabela 2 apresenta os valores de Cv e 9 a 10 0,1229x10-6 -
Ch obtidos pelo ensaio oedométrico.

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A Tabela 3 apresenta esses mesmos valores um diâmetro equivalente (dw) conforme
mas agora para o ensaio de piezocone. apresentado na Figura 3. Para a determinação do
diâmetro equivalente do dreno foi utilizada a
Tabela 3. Resultados de cv e ch obtidos do ensaio de Equação 2, proposta por por Hansbo (1987):
adensamento oedométrico.
Estacas Prof. (m) ch (m²/s) cv (m²/s)
dw = (a+b)/2 (2)
4 5,90x10-7 3,93x10-7
6 1,10x10-6 7,33x10-7
E98
8 5,70x10-7 3,80x10-7
10 4,00x10-7 2,67x10-7
4 1,60x10-7 1,07x10-7
6 9,30x10-8 6,20x10-8
E102
8 1,00x10-8 6,70x10-9
10 1,20x10-6 8,00x10-7
5,30x10-9 Figura 3. Diâmetro equivalente dos geodrenos.
4 8,00x10-9
6 5,70x10-8 3,80x10-8
10 4,00x10-8 2,67x10-8 3.4 Influência do amolgamento na instalação
E112
12 9,10x10-8 6,07x10-8 do dreno
16 3,80x10-9 2,50x10-9
Nos cálculos levou-se em consideração o
18 1,50x10-7 1,00x10-7
amolgamento do solo compressível ao redor e ao
4 9,10x10-7 6,07x10-7 longo do dreno, devido a sua instalação.O
E120
8 3,00x10-7 2,00x10-7 amolgamento reduz a permeabilidade horizontal
do solo, e em consequência, a velocidade do
Foi desenvolvido um roteiro de cálculo adensamento (Almeida & Marques, 2010). O
analisando cada um dos três trechos amolgamento pode ser encontrado por (Hansbo,
compreendidos entre as estacas E98 e E102 1981):
(Trecho 01), E102 e E112 (Trecho 2) e E112 e
𝑘 𝑑𝑠
E120 (Trecho 3). Cada trecho tem 20m de 𝐹𝑠 = [( ℎ′ ) − 1] . 𝑙𝑛 ( ) (3)
𝑘ℎ 𝑑𝑤
extensão, sendo considerada uma profundidade
de 10m, 12 m e 18m respectivamente para cada
O mandril foi escolhido de modo a ter a menor
trecho entre as estacas.
área possível para que o amolgamento fosse
minimizado. Almeida e Marques (2010)
3.2 Diâmetro de Influência e Espaçamento
recomendam que para solos muito moles o
mandril deve ter área externa na ordem de
Os geodrenos foram dimensionados para
70cm², desse modo um mandril de cravação de
instalação em malhas triangulares de lado igual
12 cm x 6 cm foi escolhido para os cálculos.
a 𝑙. A escolha da malha triangular foi feita por
esta ser mais eficiente do que a malha quadrada.
3.5 Roteiro de Dimensionamento
O diâmetro de influência da malha triangular foi
calculado igualando a área do hexágono com a
O dimensionamento de um sistema de drenos
do círculo equivalente, como mostra a Equação
tem como objetivo determinar o espaçamento
1:
entre os drenos, a fim de se obter o grau de
adensamento médio da camada desejada em um
ⅆe = 1,05 ⋅ l (1)
período de tempo considerado aceitável.
Com os parâmetros geotécnicos 𝑐ℎ , 𝑐𝑣 e 𝑘ℎ /𝑘′ℎ
3.3 Diâmetro Equivalente dos Geodrenos
definidos de cada trecho a ser analisado foi
definido o padrão de cravação da malha. A partir
Os geodrenos possuem formato retangular e por
isso suas dimensões devem ser representadas por

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disso determinou-se as grandezas geométricas em relação à profundidade dos três trechos de
pertinentes ao dreno 𝑑𝑤 , 𝑑𝑠 , 𝑑𝑚 e ℎ𝑎𝑟𝑔 . estudo. A Figura 4 mostra a variação dos valores
Considerou-se um grau de adensamento médio dos coeficientes de adensamento horizontal (Ch)
desejado para a camada de 90% e um tempo de e vertical (Cv) obtidos no ensaio de piezocone
projeto aceitável de 1 ano. O tipo de drenagem para o trecho 1 (4.a), trecho 2 (4.b) e trecho 3
utilizada foi a radial devido à drenagem vertical (4.c). Os valores médios para o Ch e o Cv foram
ter mais influência para camadas de solo de 5,15x10-7 m²/s e 3,43x10-7 m²/s
inferiores à 10m e também por ser mais respectivamente para o trecho 1, de 1,97x10-7
conservativa. Foi realizada uma estimativa m²/s e 1,31x10-7 m²/s para o trecho 2 e de
inicial para o espaçamento 𝑙 e calculado o valor 1,89x10-7 m²/s e 1,26x10-7 m²/s para o trecho 3.
de 𝑑𝑒 .
Foi encontrado o efeito do amolgamento do solo
devido à instalação do dreno, sendo este valor
adicionado à função de densidade de drenos na
análise do adensamento com drenagem
puramente radial:

𝐹(𝑛) = ln(𝑛) − 0,75 (4)

Neste tipo de drenagem 𝑈̅̅̅̅ℎ = 𝑈


̅, logo pode- se
(a)
isolar o fator tempo 𝑇ℎ na equação do grau de
adensamento médio da camada, obtendo:
̅̅̅̅
− ln(1−𝑈 ℎ ).𝐹(𝑛)
𝑇ℎ =
8
(5)

O tempo necessário para obtenção do


adensamento desejado é:

𝑇ℎ .𝑑𝑒2
𝑡𝑐𝑎𝑙𝑐 =
𝑐ℎ
(6) (b)

O valor de 𝑙 foi reduzido tentativamente até que


o tempo calculado fosse menor ou igual ao
desejável para o projeto. Segundo Almeida e
Marques (2010) as recomendações atuais no
Brasil indicam um espaçamento mínimo entre os
drenos de 1,5m.
Para fins de comparação, foi realizado o cálculo
do tempo de adensamento para uma situação sem (c)
a utilização de drenos, utilizando a seguinte Figura 4 a-c. Coeficientes Cv e Ch para os trechos 1 (a), 2
equação (7): (b) e 3 (c).

𝑇.𝐻𝑑2 A Figura 5 mostra a variação dos valores dos


𝑡= (7) coeficientes de adensamento horizontal (Ch) e
𝑐𝑣
vertical (Cv) obtidos no ensaio oedométrico para
o trecho 1 (5.a), trecho 2 (5.b) e trecho 3 (5.c).
4 RESULTADOS Os valores médios para o Ch e o Cv foram
repectivamente de 1,08x10-7 m²/s e 2,24x10-8
Foram determinados os valores médios do m²/s para o trecho 1, 2,54x10-7 m²/s e 2,9410-8
coeficiente de adensamento horizontal e vertical m²/s para o trecho 2 e 2,41x10-7 m²/s e 4,15x10-
8
obtidos do ensaio de piezocone e oedométrico m²/s para o trecho 3.

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estudo pois só dependem das dimensões do
dreno e do mandril de cravação adotados.

Tabela 5. Valores obtidos para dm, dw, ds e Fs.


dm dw ds Fs
(mm) (mm) (mm)
95,77 70 191,54 0,5

A Tabela 6 e 7 apresentam, repectivamente


(a) para os ensaios de peizocone e oedométrico, os
resultados obtidos a partir de uma estimativa
inicial (I) para o valor do espaçamento entre os
drenos e os valores finais (F) encontrados que
atenderam às condições previstas no projeto. A
partir dos valores de espaçamento foi possível
calcular o diâmetro de influência do dreno (𝑑𝑒 ),
a função de densidade de drenos (𝐹𝑛 ), o fator
tempo para drenagem horizontal (𝑇ℎ ) e
finalmente encontrar o valor para o tempo de
(b) adensamento (𝑡𝑐𝑎𝑙𝑐 ). Para os resultados
encontrados foram utilizados os valores de
coeficiente de adensamento do ensaio de
piezocone.

Tabela 6. Estimativa inicial e final de espaçamento entre


os drenos, para o ensaio de piezocone.
L De F Th tcalc
Trec. (m) (m) (n) (anos)
I F I F I F I F I F
(c)
Figura 5 a-c. Coeficientes Cv e Ch para os trechos 1 (a), 2 1 4 3,6 4,2 3,8 3,9 3,7 1,1 1,1 1,2 0,9
(b) e 3 (c). 2 3 2,4 3,1 2,5 3,6 3,3 1,0 0,9 1,6 0,9
3 3 2,3 3,2 2,4 3,6 3,3 1,02 0,9 1,7 0,9
A Tabela 4 apresenta os valores médios de 𝑐ℎ
e 𝑐𝑣 para o ensaio oedométrico e de piezocone. Tabela 7. Estimativa inicial e final de espaçamento entre
os drenos, para o ensaio oedométrico.
Tabela 4. Valores médios de ch e cv para o ensaio L De F Th tcalc
oedométrico e de piezocone. (m) (m) (n) (anos)
Trec.
ch(m²/s) cv(m²/s) I F I F I F I F I F
trecho
Piez. Oedom. Piez. Oedom. 1 2 1,8 2,1 1,9 3,1 3,1 0,91 0,9 1,2 0,9
-7 -7 -7 -8
1 5,15x10 1,08x10 3,43x10 2,24x10 2 3 2,7 3,1 2,8 3,6 3,4 1,0 1,0 1,3 1
-7 -7 -7
2 1,97x10 2,54x10 1,31x10 2,94x10-8 3 3 2,6 3,1 2,7 3,6 3,4 1,0 0,9 1,3 0,9
3 1,89x10-7 2,41x10-7 1,26x10-7 4,15x10-8
Os resultados encontrados para espaçamento
A Tabela 5 apresenta os valores obtidos para o entre os drenos nos dois ensaios estão
diâmetro do mandril de cravação (𝑑𝑚 ), diâmetro apresentados na Tabela 8. O número aproximado
equivalente do dreno (𝑑𝑤 ), diâmetro da área de drenos necessários em cada trecho também é
afetada pelo amolgamento (𝑑𝑠 ) e amolgamento mostrado.
do solo (𝐹𝑠 ). Para os cálculos foi considerado um
mandril de 120 x 60 mm, e o dreno que possui
dimensões de 100 x 40 mm. Os valores
encontrados são comuns aos três trechos de

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Tabela 8. Comparação de resultados obtidos do ensaio de ensaio de piezocone. Para o coeficiente de
piezocone e ensaio oedométrico. adensamento vertical foi observado que os
Prof. L(m) N° Drenos valores obtidos do ensaio oedométrico variaram
Trec.
(m) Piez. Oedom. Piez. Oedom. numa ordem de grandeza 10 vezes menor que do
1 10 3,6 1,8 6 12 ensaio de piezocone.
2 12 2,4 2,7 9 8 Para o trecho 2 e 3 os valores de espaçamento
3 18 2,3 2,6 9 8 encontrados nos dois ensaios foram semelhantes,
variando em torno de 2,5m. Para o trecho 1, os
A Tabela 9 apresenta uma comparação do tempo valores para o espaçamento apresentaram
de adensamento da camada de argila, para cada discrepância, sendo maiores para o ensaio de
ensaio, na situação com e sem a utilização de piezocone e menores para o oedométrico. A
geodrenos. Os resultados mostram que a diferença entre os valores encontrados para o
vantagem na utilização de geodrenos, em termos espaçamento é explicada devido à divergência
de tempo para obtenção do grau de adensamento entre os valores de coeficiente de adensamento
pretendido, foi diretamente proporcional à horizontal obtidos para o trecho 1. Os geodrenos
espessura da camada, pois quanto mais espessa a são mais eficazes quanto maior o valor do
camada maior será a distância de drenagem coeficiente de adensamento horizontal, pois a
vertical, o que irá favorecer a drenagem velocidade em que a partícula de água irá
horizontal, resultando em um maior ganho de percorrer a massa de solo será maior,
tempo adquirido com a utilização dos geodrenos. aumentando a distância necessária entre os
drenos para obtenção do adensamento desejado.
Tabela 9. Comparação do tempo de adensamento com e Os resultados mostram que a vantagem na
sem uso de geodrenos. utilização de geodrenos, em termos de tempo
tempo com uso para obtenção do grau de adensamento
tempo sem uso
Prof. de drenos
de drenos (anos)
pretendido, foi diretamente proporcional à
Trec. (anos)
(m) espessura da camada, pois quanto mais espessa a
Piez. Oedom. Piez. Oedom. camada maior será a distância de drenagem
1 10 0,95 0,92 1,96 30,08 vertical, o que irá favorecer a drenagem
2 12 0,98 1 7,37 32,92
horizontal, resultando em um maior ganho de
tempo adquirido com a utilização dos geodrenos.
3 18 0,93 0,96 17,29 52,47
Em relação aos valores encontrados para cada
ensaio, pode-se perceber que os valores para o
tempo sem utilização de drenos foram muito
5 DISCUSSÃO
maiores para o ensaio oedométrico do que para o
ensaio de piezocone. Esse resultado pode ser
É de fundamental importância avaliar
explicado devido à diferença entre os valores
corretamente a qualidade das amostras, cujo
para coeficiente de adensamento vertical obtidos
amolgamento em amostras de solos moles, que
através dos ensaios. O coeficiente de
consiste no enfraquecimento da adesão entre as
adensamento vertical médio obtido do ensaio
partículas dos grãos do solo, podem influenciar
oedométrico é cerca de 10 vezes menor que o
nos resultados de ensaios de laboratório. As
obtido pelo ensaio de piezocone. Quanto menor
amostras classificadas como boa a regular
o coeficiente de adensamento vertical menor será
apresentadas por Bello (2011) e que serviram
a velocidade em que a água irá percorrer a
como base para este estudo ainda apresentam um
camada de argila verticalmente, favorecendo a
pequeno amolgamento, sendo este causado
drenagem horizontal e, portanto, será observada
possivelmente pela construção de um aterro
uma maior vantagem em termos de tempo de
provisório na área de estudo, o que resultou na
adensamento na utilização de drenos verticais.
perturbação do solo presente no mangue virgem.
Devido à divergência entre os resultados
Os valores encontrados para o coeficiente de
obtidos a partir do ensaio de piezocone e do
adensamento horizontal nos dois ensaios foram
ensaio oedométrico é recomendado que sejam
próximos para o trecho 2 e 3, para o trecho 1
utilizados os dados obtidos do ensaio de
foram encontrados valores superiores a partir do

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laboratório (oedométrico) para realizar o valores para coeficiente de adensamento vertical
dimensionamento dos geodrenos. Os ensaios de obtidos através dos ensaios. Observou-se que
laboratório costumam apresentar valores mais quanto menor o coeficiente de adensamento
precisos que os ensaios de campo por causar vertical, maior a vantagem, em termos de tempo
menos perturbação nas amostras coletadas. de adensamento na utilização de drenos
verticais.

6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Este trabalho apresentou o dimensionamento de
geodrenos para um aterro sobre solo mole em Almeida, M.S.S., Marques, M.E.S. (2010). Aterros sobre
Suape/PE, localizado no Complexo Industrial solos moles: projeto e desempenho. São Paulo: Oficina
de Textos.
Portuário de Suape, a partir de coeficientes de
adensamento obtidos em ensaios de laboratório Bello, M.I.M.C.V. (2011). Parâmetros Geotécnicos e
(oedométricos) e de campo (piezocone). Foram Banco de Dados de Argilas Moles: o Caso de Suape.
considerados 3 trechos para o dimensionamento, Tese de Doutorado. D. Sc. Thesis. Federal University
sendo calculadas as médias dos coeficientes de of Pernambuco, p.319.
adensamento e posterior espaçamento dos Coutinho, R.Q. (2007) Characterization and Engineering
drenos e tempo de adensamento. Cada trecho foi Properties of Recife Soft Clays – Brazil. The Second
analisado separadamente, sendo todos os International Workshop on Characterization e
resultados comparados. Engineering Properties of Natural Soils. Tan, Phoon,
Os resultados do dimensionamento dos Higth and Leroueil (editors). Singapore, p. 2049-2100.
geodrenos demonstram que para o trecho 2 e 3 Hansbo, S. (1981). Consolidation of fine-grained soils by
os valores de espaçamento encontrados nos prefabricated drains. In: INT. ONF. ON SOIL MECH.
ensaios oedométricos e de piezocone foram AND FOUNDATION ENGINEERING, 10., 1981,
semelhantes, variando em torno de 2,5m. Para o Estocolmo. Proceedings... Estocolmo, v. 3, p. 677-682.
trecho 1, os valores para o espaçamento
Hansbo, S. (1987). Facts and fiction in the field of vertical
apresentaram discrepância, sendo maiores para o drainage. In: INT. SYMP. ON PREDICTION AND IN
ensaio de piezocone e menores para o GEOT. ENG., 1987, Alberta, Canada. Proceedings...
oedométrico. Alberta, p. 61-72.
Os geodrenos se mostraram mais eficazes
quanto maior o valor do coeficiente de Hansbo, S. (2004). Band drains. In: MOSELEY, M. P.;
KIRSCH, K. (Eds.). Ground improvement, Chapter 1.
adensamento horizontal, aumentando o Taylor & Francis, p. 4-56.
espaçamento entre os drenos, e
consequentemente reduzindo o número de Hvorslev, M.J. (1949) – Subsurface Exploration and
drenos necessários para obtenção do resultado Sampling of Soils for Civil Engineering Purposes –
desejado. Waterways Experiment Station – Vicksburg,
Mississsipi-USA.
Quanto ao tempo de adensamento, os
resultados mostraram que a vantagem na Terzaghi, K. (1943). Theoretical soil mechanics. New
utilização de geodrenos, em termos de tempo York: John Wiley & Sons, 1943. p. 510.
para obtenção do grau de adensamento
pretendido, foi diretamente proporcional à Terzaghi, K.; Frohlich, O. K. (1936). Theorie der Setzung
von Tonschichten. Viena: Franz Deuticke.
espessura da camada. Para camadas mais
espessas o ganho de tempo adquirido com a
utilização dos geodrenos foi maior.
Em relação aos valores encontrados para cada
ensaio, pode-se perceber que os valores para o
tempo de adensamento sem utilização de drenos
foram muito maiores para o ensaio oedométrico
do que para o ensaio de piezocone. Resultado
este explicado devido à diferença entre os

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