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INVESTIGATE TO LEARN:
READINGS OF A CURRENT FORMATION PROCESS
ABSTRACT: The article consists into exercise reflexive readings of the teaching/
learning/creation process that compose the initial walk at Dance Programme from the
Federal University of Paraíba (UFPB). With reference to the experiences of two teachers
of the course, we seek to reflect the investigative processes that presenting teaching-
learning in dance. In order to establish relationships between artistic and academic
research from the ethics / aesthetics in dance the contents offered at the Degree, the
research concepts, ideas and authors are working in the text from the necessity of
investigative approaches that make desirable conducts for the classes.
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O presente artigo teve como impulso inicial o desejo de duas professoras do curso
de Licenciatura da UFPB de refletir sobre as inquietações oriundas dessa nova condição
profissional no ensino da dança em um contexto institucional dentro de um curso recém
inaugurado. Tais inquietações giram em torno do problema de como ensinar a dança de
uma maneira em que a investigação seja a principal conduta, onde o processo criativo
esteja presente na formação dos estudantes em todas as disciplinas. E ainda, de que
maneira o pensar/fazer dança não esteja pautado na reprodução de padrões e modelos
pré-estabelecidos, mas que seja criador, no sentido de ser transformador e de possibilitar
a emergência do novo. A busca por traduzir tais inquietações em um formato de artigo
ainda não nos leva à criação de metodologias mas a uma reflexão teórica sobre o ensinar
e o aprender a dança de uma forma investigativa. Além disso, aponta para como certos
processos de ensino- aprendizagem podem gerar possibilidades de configurações
estéticas abertas ao mundo e à atualidade e às questões pessoais dos estudantes.
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Ao mencionar dois pontos de semelhança entre o hip hop e as danças aprendidas em academias, não
ignoramos as diferenças fundamentais entre os processos de ensino-aprendizagem encontrados nas
práticas dessas danças. Para citar algumas dessas diferenças apontamos o maior uso do espaço da rua
para a prática e apresentação, a presença da improvisação, o autodidatismo mais associados ao primeiro
tipo de dança.
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Explicar alguma coisa a alguém é, antes de mais nada, demonstrar-lhe que não
pode compreendê-la por si só. Antes de ser o ato do pedagogo, a explicação é o
mito da pedagogia, a parábola de um mundo dividido em espíritos sábios e
espíritos ignorantes, espíritos maduros e imaturos, capazes e incapazes,
inteligentes e bobos (RANCIÉRE,2002, p.20)
A educação se sustentaria, portanto, por meio de “hierarquias de mundos da
inteligência” (RANCIÈRE, 2002, p.21), entre um mestre sábio, detentor e transmissor do
conhecimento e dos meios para que o aluno atinja a compreensão, e o aluno ignorante,
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incapaz de aprender por si só. A educação baseada na desigualdade, que separa uma
inteligência superior de outra inferior, é regida pelo que Jacotot chama de princípio do
embrutecimento. Contrapondo-se a esse princípio o educador propõe o princípio da
emancipação, fundado na verificação da ideia de igualdade entre professor e aluno. A
igualdade reconfigura a suposta distância entre o conhecimento do mestre e a ignorância
do aluno ao reconhecer que as duas inteligências, do mestre e do aluno, são
equivalentes. Para isso o mestre deve dissociar seu saber do ato de ensinar e permitir
que a inteligência do aluno haja por ela mesma sobre o objeto a ser conhecido. Nesse
sentido, a emancipação acontece na medida em que a inteligência do aluno não está
subordinada à do mestre. Apenas o que poderia se identificar nesse processo seriam as
vontades do mestre e do aluno, uma impulsionando a outra.
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seria a noção de que as ações atribuídas aos primeiros seriam ativas e as atribuídas ao
segundo passivas. Podemos assim perceber que se trata de uma análise cuja abordagem
envolve problemas cognitivos e perceptivos.
Da mesma forma que Rancière (2002, 2007) e Paulo Freire (2013) nos ajudam a
entender que a aprendizagem não acontece em apenas uma via, do professor ao aluno
(um como detentor do conhecimento e o outro como depósito de informações), Varela et
al. (2001) nos ensina que a nossa cognição também não se processa por um único canal,
seja ele do mundo à mente, ou da mente ao mundo. Nossa capacidade de
compreensão, segundo o autor, não estaria definida pela representação de um mundo
pré-existente em uma mente também pré-existente, mas sim na interação entre uma
mente/corpo e o seu meio, um modificando o outro mutuamente na ação. O processo de
ensino-aprendizagem é o processo de conhecer o mundo que se dá na experiência do
aluno com este mundo, ou entre o aluno e o livro, inspirado pelo professor, no caso de
Jacotot. A cognição pensada por Varela et al. (2001), se dá também na experiência do
viver, na ação com o mundo. Nesse sentido, não há uma mente passiva espelhando o
mundo, mas uma mente e um mundo que estão em interação. Há ação nos dois sentidos
e pensar na relação entre professor e aluno, assim como público e espectadores também
a atividade se dá de mão dupla.
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dança evoca. Ao abordar configurações em dança como lugares para aprender, a autora
Eeva Anttila (2009) trabalha a ideia de lugar trazida como metáfora de espaços físicos nos
ambientes que envolvem o aprendizado. Este aprender poderia relacionar pessoas a
ambientes vividos e também imaginados acionando e corporalizando o sentido de lugar.
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que o leva a afirmar que “[...] toda percepção é intrinsecamente pensante”. Perceber,
portanto, “[...] é ter sensações que se compreende” (NÖE, p. 33, 2004).
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imediatez da cognição enquanto ação espontânea está ligada ao know how que conecta o
saber/aprender com o como saber que se refere ao ato perceptivo do que aprendemos.
Isto sugere que movemos o mundo a partir do momento que percebemos, e perceber é
uma ação. A dança enquanto possibilidade de organização dos pensamentos do corpo
constitui-se como modo de ação, como já discutido por KATZ (2005). Assim, os processos
de ensino-aprendizagem em dança articulam aspectos criativos e inventivos que atenuam
a separação daquilo que se aprende com, e, como se aprende, com, e, como agimos em
relação ao aprender. A conexão entre o que se aprende e o que se vive pode atenuar a
separação entre teoria e prática, educação e criação nos processos de ensino-
aprendizagem em dança.
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Para Paulo Freire (2013), a intuição e a percepção tácita que envolvem o ensinar
atrelam modos de viver que necessitam a consciência do inacabamento. Esta consciência
do inacabamento sugere que aprender nunca se completa e sim, apronta-se
provisoriamente em atos da própria existência nos modos de viver continuamente. Em
dança, este viver continuamente está atrelado ao que Kastrup (2005) ilumina enquanto
direito ao inacabamento, ou seja, ao trazer a possibilidade de reconhecer o processo de
ensino-aprendizagem em dança como aprendizagem inventiva há a possibilidade de
exercitar um constante desaprender que permite a sensibilização e abertura necessária
para o constante aprender. Esta ideia está conectada à compreensão da educação em
dança como uma forma de intervenção no mundo que exige disponibilidade para o
diálogo, assim como curiosidade e “convicção de que a mudança é possível” (FREIRE,
2013, p. 74).
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pensamento e criação em dança sugerindo a diminuição das distâncias entre aquilo que
se ensina e que se aprende. A diminuição entre o que é ensinado e aprendido conecta
novamente a ideia das “hierarquias de mundos da inteligência” de Rancière (2002, p.21),
que sugere a existência de lugares determinados para o ensinar e o aprender. Se
voltarmos para a ideia de Anttila (2009) agregada à ideia deste autor, a possibilidade de
tratar a dança como lugar para aprender conecta a necessidade do corpo que ensina-
aprende dança a partir da emancipação destes lugares. O corpo-propositor em dança
propõe a emancipação das ações de ensino-aprendizagem a partir de situações que
conectam estas ações.
É possível dizer que todo ser humano tem um corpo propositor pelas suas
potencialidades inerentes, pela via biológica de acesso, mas, para que essa
proposição aconteça efetivamente, é necessário que o sujeito perceptor proponha-
se a se relacionar com outros aspectos do corpo que também são inerentes (o
físico, o mental, o emocional e o cultural). E que se permita a novas descobertas
que essa experiência sensória traz, mobilizando aspectos inerentes, transgredindo
modos de estar e dançar no mundo. (SILVA, 2013, p.65)
Considerações Finais
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Além disso, foi observado que aprender dança trata-se de um exercício sobre
certas habilidades perceptuais, intrinsecamente pensantes (NÖE, 2004). Ao aprender
dança, se aprende novas formas de ver e conhecer o mundo e a se conhecer e a se
perceber como sujeito. Processos que envolvam a problematização e não a repetição de
padrões de movimento podem possibilitar talvez, maneiras propositivas de estar no
mundo, mais críticas, e gerar mais escuta, mais abertura ao mundo e ao próprio corpo.
É preciso ressaltar ainda que ao propormos este texto com caráter reflexivo
tivemos o intuito de produzir uma primeira reflexão sobre as nossas experiências
recentes. Entretanto, temos a percepção de que o assunto pode e deve ser expandido
para o debate sobre as atuais maneiras de ensinar dança dentro e fora da universidade
não comprometidas com o ensino de modelos pré-estabelecidos. Além disso, a partir das
limitações desta discussão, apontamos para a necessidade de se produzir mais
pensamentos e compartilhamentos de experiências de procedimentos e processos em
sala de aula baseados na investigação. Que este texto seja apenas um convite a nós
mesmas e a outros professores-artistas de continuar questionando nossas formas de
ensinar.
Referências
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ANTTILA, Eva. Dance as a place for learning: a case study in Kartanonski School, Vantaa,
Finland, 2009. Disponível em http://pt.slideshare.net/WAAE/dance-as-a-place-for-learning-
eeva-anttila Acesso em: setembro de 2014.
ARAÚJO, Miguel Almir Lima de. Os sentidos da sensibilidade: sua fruição no fenômeno
do educar. 1ª Ed. Salvador: EDUFBA, 2008.
CÉSAR, Maria Rita de Assis. DUARTE, André. Hannah Arendt: pensar a crise da
educação no mundo contemporâneo. Revista da Faculdade de Educação da USP, São
Paulo, 2010. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/ep/article/view/28265 Acesso em:
outubro de 2014.
DEWEY, John. Arte como experiência. Tradução Vera Ribeiro. 1ª ed. São Paulo: Martins
Fontes, 2010.
KASTRUP, Virgínia. Experiência Estética para uma Aprendizagem Inventiva: notas sobre
a acessibilidade de pessoas cegas a museus. Informática na Educação: teoria e prática,
Porto Alegre, v.13, n.2, jul./dez. 2010, p.38-45.
KATZ, Helena. Um, dois, três: a dança é o pensamento do corpo. Belo Horizonte: FID
Editorial, 2005.
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SILVA, Rosemeri Rocha da. Uno, mapa de criação: ações corporalizadas de um corpo
propositor num discurso de dança. Tese de Doutorado, Artes Cênicas, Programa de Pós
Graduação em Artes Cênicas, Universidade federal da Bahia, 2013.
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