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USO DE CARVÃO DE COCO-DA-BAÍA PARA FILTRAGEM DE ÁGUA

CONTAMINADA COM IMPUREZAS SÓLIDAS


Anne Karoline Feitoza Mendonça¹

Universidade de Brasília – UnB


Faculdade Gama – FGA
Área especial de Industria Projeção A UnB
Setor Leste – Gama
72444240 – Brasília, DF – Brasil
Telefone: (61) 3107-8201
{akfm96@hotmail.com}

ABSTRACT

The present work had as main objective the study of the application of products of the
combustion of the bay coconut for filtering water contaminated with solid impurities. The
residue was chosen due to its abundance in Brazil. The production of coal from this product
is an energetic, economically and environmentally advantageous alternative that can
generate several applications. Biomass was characterized by immediate analysis after
carbonization, where three samples were subjected to heat at different time intervals to
obtain the best coal to be applied in the filtration process. Thus, it was possible to conclude
that coconut residue is an important energy source that opens the door to several
applications such as filtration.

Keywords: Carbonization, coal, bay coconut.

RESUMO

O presente trabalho teve como principal objetivo o estudo da aplicação de produtos da


combustão do coco-da-baía para filtragem de água contaminada com impurezas sólidas.
O resíduo foi escolhido devido sua abundância no Brasil. A produção de carvão a partir
deste produto é uma alternativa energética, econômica e ambientalmente vantajosa o que
pode gerar diversas aplicações. A biomassa foi caracterizada por meio da análise imediata
após a realização da carbonização, onde, três amostras foram submetidas ao calor por
intervalos de tempo diferentes para que fosse possível obter o melhor carvão a ser
aplicado no processo de filtragem. Assim, foi possível concluir que o resíduo do coco é
uma importante fonte energética que abre margem para diversas aplicações como a
filtragem.

Palavras-chaves: Carbonização, carvão, coco-da-baía.


1 INTRODUÇÃO

Nos últimos anos a demanda energética mundial vem aumentando


assustadoramente devido ao rápido crescimento da população e urbanização. Cidades
que a alguns anos apresentavam uma população consideravelmente pequena hoje são
ditas grandes cidades com até o dobro de habitantes. Com isso, cresceu o índice de
produção diário de resíduos sólidos.

Desde o ano de 1973 o consumo de resíduos sólidos foi duplicado em países


desenvolvidos, atualmente esse consumo ultrapassa essa média e aumenta a cada dia
[2]. Assim, busca-se aplicações para esses resíduos seja na indústria energética ou em
qualquer outra.

O coco-da-baía é um fruto comercializado em grande escala do Brasil, devido a


quantidade de áreas de plantio desse. O destaque de venda desse produto ocorre nas
regiões litorâneas o que gera uma grande quantidade de resíduos após o consumo. A
quantidade de resíduo gerado é, na maioria das vezes, descartada de forma indevida o
que gera poluição e aumenta a potencialidade de doenças nas regiões de descarte [1].

Deste modo, a biomassa gerada pela casca do coco pode ser utilizada na produção
de carvão vegetal aplicado na produção de energia, gás combustível ou ainda na filtragem
de água contaminada. O uso dessa biomassa na produção de carvão pode agregar valor
e constituir renda a comunidade onde se descarta esses produtos, bem como diminuir os
impactos causados a natureza [1].

Uma aplicação que vem ganhando visibilidade nos últimos anos é a utilização de
resíduos na forma de carvão para filtragem de água. O processo de filtragem comum é
constituído por um conjunto de processos e operações que visam adequar as
características físico-químicas e biológicas da água bruta, visando o consumo humano [3].

Por mais que seja essencial a saúde humana a água encontrada em rios e lagos
contêm compostos inorgânicos e orgânicos que são prejudiciais a saúde humana caso
não sejam eliminados ou reduzidos [3]. O processo de adsorção em carvão ativado tem
sido uma das técnicas mais utilizadas para complementar o tratamento de água
convencional, pois é capaz de remover substâncias causadoras de cor, odor e sabor.
O presente trabalho busca aplicar esses conceitos apresentados criando um carvão
de casca de coco-da-baía. O carvão obtido será empregado na forma de carvão vegetal
como alternativa para filtragem de água suja da chuva ou de rios e lagos poluídos.
Experimentos foram realizados com o intuito de analisar a eficácia do carvão produzido.

2 METODOLOGIA

Todo o material estudado no presente trabalho é resíduo proveniente da utilização de


coco para culinária, isto é, o fruto já sem a casca verde (epicarpo) e a camada fibrosa
(mesocarpo) comercializado em mercados e feiras. O resíduo utilizado é composto
apenas pelo endocarpo do fruto que é a camada pétrea muito dura que envolve a polpa e
a água.

Estes resíduos de coco-da-baía foram coletados em mercados do setor urbano de


Taguatinga no Distrito Federal. Os pedaços de endocarpo foram cortados de maneira que
tivessem a mesma massa em cada porção, sendo que apenas três amostras foram
utilizadas. Em seguida as amostras foram submetidas a secagem a sombra em meio
ambiente por duas semanas. Posteriormente o material foi submetido a temperatura
400C° por períodos variando de 30 a 60 minutos em um forno caseiro de metal.

2.1 Caracterização dos produtos

As amostras escolhidas apresentaram uma massa inicial de 6g e cada uma foi


submetida a uma um tempo específico de carbonização. O método de conversão
termoquímico utilizado foi a combustão, onde a biomassa foi queimada diretamente na
presença de oxigênio para que a energia química armazenada pudesse ser transformada
em calor.

Essa técnica foi escolhida pois, é possível queimar quase que qualquer tipo de
biomassa com teor de umidade menor do que 50% e devido à falta de equipamentos
adequados para aplicação de outras técnicas. Após, passar pelo processo de pré-
tratamento de secagem e corte o material foi inserido no forno caseiro confeccionado. O
intuito inicial de se utilizar um forno caseiro foi facilitar a aplicação desse método de
filtragem por meio do carvão produzido.

O forno consiste em uma lata de tinta (900ml) de aço preenchida com areia grossa
com um tubo centralizado de ar, onde as amostras foram inseridas. O forno possui uma
tampa com um furo de 2mm de diâmetro no centro que evita a entrada excessiva de ar. A
base do forno é submetida ao calor da chama constante de forma a aquecer todo
invólucro.

A primeira amostra foi submetida a uma temperatura de aproximadamente 400C°


por 30 min, a segunda por 45 min e a terceira por 60 min. Após saírem do forno as
amostras foram dispostas ao ar para esfriarem e posteriormente serem moídas. Com o
carvão pronto e já moído foi preparado três recipientes com uma mistura de água + areia
de rio que foi deixada em descanso por 48 horas corridas e posteriormente foi adicionado
o carvão moído.

Figura 1 – Amostras de coco-da-baía utilizados.

Fonte: Autor, (2019).

A mistura final de água + areia + carvão descansou por mais 48 horas para que a
eficácia da filtragem de cada um pudesse ser avaliada. Após esse tempo de descanso as
misturas foram passadas por um papel filtro para que pudesse avaliar a qualidade da água
depois do processo de filtragem.
Figura 2 – Mistura água e areia antes da adição de carvão.

Fonte: Autor, (2019).

2.2 Análise Imediata

Para determinar o teor de umidade final dos carvões produzidos seguiu-se a norma
ASTM D 3175-85. O teor de umidade foi obtido por meio da aplicação da equação (1), a
seguir.

(𝑃0 + 𝐶 ) − 𝑃1
%𝑈𝑚𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 = [ ] × 100%
𝐶

O teor de material volátil foi obtido por meio do método apresentado por Sánchez et al,
(2009). Onde se utiliza a massa do carvão antes e depois de ser submetido a uma
temperatura de aproximadamente 800C° na ausência de oxigênio. O valor final do material
volátil foi calculado com a aplicação da equação abaixo.

𝑃1 − 𝑃2
%𝑀𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑉𝑜𝑙á𝑡𝑖𝑙 = [ ] × 100%
𝐶
No caso do teor de cinzas cerca de 6g da biomassa foram pesadas e submetidas a uma
temperatura de 900C° por 20 minutos na presença de oxigênio. Seu valor final foi
calculado a partir da equação a seguir.

%𝐶𝑖𝑛𝑧𝑎𝑠 = (𝑃1 − 𝑃0 ) × 100%

O teor de carbono fixo foi obtido pela diferença de 100% menos os percentuais
encontrados anteriormente, de acordo com a equação a seguir.

% 𝐶𝑎𝑟𝑏𝑜𝑛𝑜 𝐹𝑖𝑥𝑜 = 100 − (% 𝑈𝑚𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 + % 𝐶𝑖𝑛𝑧𝑎𝑠 + % 𝑀𝑎𝑡𝑒𝑟𝑖𝑎𝑙 𝑉𝑜𝑙á𝑡𝑖𝑙)


3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a caracterização do material em estudo, como descrito acima, obteve-se o valor


da massa das amostras. A partir dessas massas foi possível calcular os teores de cinzas,
umidade, material volátil e carbono fixo.

Tabela 1 – Massa das amostras.


Amostra Tempo (min) Massa inicial (g) Massa final (g)

1 30 6,001 2,709

2 45 6,003 2,041

3 60 6,002 2,021

Fonte: Autor, (2019).

A Tabela 2 apresenta os resultados obtidos nas análises imediatas da fibra do


carvão de fibra de coco.

Tabela 2 – Análise imediata da fibra de coco.


Amostra Cinzas (%) Umidade (%) Material Volátil (%) Carbono Fixo (%)

1 32,90 16,46 11,01 39,63

2 39,62 19,81 7,16 33,41

3 39,81 19,90 6,59 33,70

Fonte: Autor, (2019).

O teor de cinzas encontrado pelo método aplicado está diretamente ligado a presença
de substâncias minerais, tais como, cálcio, potássio, fósforo, magnésio, ferro sódio
concentrados principalmente na área do mesocarpo. Deste modo, valores elevados de
cinzas representam baixo poder calórico e consequentemente um carvão de má
qualidade.
A umidade por sua vez está relacionada a perda, em peso, sofrida pelo produto quando
este é aquecido até sua água e outras substâncias voláteis serem removidas. Assim,
quanto maior o teor de umidade, menor é o poder de combustão do produto, devido ao
processo de evaporação da umidade que absorve a energia em combustão.
A determinação de material volátil e carbono fixo são fundamentais para a obtenção de
energia, uma vez que, valores altos de material volátil e baixo teor de carbono fixo estão
relacionados a um combustível com queima rápida. Portanto, para o caso de análise do
atual trabalho esses valores são possuem grande valor.

Figura 3 – Misturas areia, água e carvão após a deposição.

Fonte: Autor, (2019).

A figura apresentada acima, mostra a mistura de areia + água + carvão depois da


deposição. A água utilizada apresentava uma certa quantidade de impurezas para que a
eficácia do carvão pudesse ser avaliada. Por meio de uma análise visual foi possível
perceber que a amostra 1 apresentou uma maior adsorção, onde os grânulos do carvão
se ligaram as partículas de impureza sólida presente na mistura.
Nesse processo de adsorção das moléculas do adsorvato (impurezas) foram transferidas
para a superfície do adsorvente (carvão) permanecendo aí retidas. Esse fenômeno só
ocorreu devida a presença da interface líquido/sólido. Assim, pode-se dizer que a amostra
1, utilizando o carvão com menor teor de umidade e menor teor de cinzas foi o mais
eficiente no processo de filtragem da água do rio.

4 CONCLUSÃO

O uso de coco-da-baía para filtragem de água contaminada com impurezas sólidas é


uma alternativa de minimização de quantidade de resíduos sólidos urbanos, uma vez que,
a grande quantidade desse produto em praias, parques e restaurantes. O processo de
carbonização da biomassa constituída do resíduo de coco apresentou um bom rendimento
para ser aplicado como filtro natural. Além, destas vantagens a biomassa em estuda
apresentou uma possibilidade de ser utilizada como fonte alternativa de uso energético,
devido a quantidade de calor gerado ao ser carbonizado.

REFERÊNCIAS

[1] Paz, Elaine da Cunha Silva, et al. "ESTUDO DO POTENCIAL DE ADSORÇÃO DE


CARVÃO OBTIDO A PARTIR DE BIOMASSA DA AGROINDUSTRIA DO
COCO." Forum Internacional de Resíduos Sólidos-Anais. 2017.

[2] Goyal, H. B., Diptendu Seal, and R. C. Saxena. "Bio-fuels from thermochemical
conversion of renewable resources: a review." Renewable and sustainable energy
reviews 12.2 (2008): 504-517.

[3] Fernandes, Kendra AN, FA dos SANTOS, and GW BRUN. "Uso de carvão ativado
de endocarpo de coco no tratamento de água." Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química (2010).

[4] Antal MJ, Gronli M. The art, science, and technology of charcoal production. Ind.
Eng. Chem. Res. 42(8), 1619–1640 (2003).

[5] Biochar for Environmental Management. Lehmann J, Joseph S (Eds). Earthscan,


London, UK (2009).

[6] Cao X, Ro KS, Chappell M, Li Y, Mao J. Chemical structure of swine-manure chars


with different carbonization conditions using advanced solid-state 13C NMR
spectroscopy. In Print. Energ. Fuel (2011).

[7] Demir-Cakan R, Baccile N, Antonietti M, Titirici M. Carboxylate-rich carbonaceous


materials via one-step hydrothermal carbonization of glucose in the presence of
acrylic acid. Chem. Mater. 21(3), 484–490 (2009).
[8] Lehmann J, Joseph S. Biochar for environmental management – an introduction.
In: Biochar for Environmental Management: Science and Technology. Lehmann J,
Joseph S (Eds). Earthscan, London, UK, 1–12 (2009).

[9] Mochidzuki K, Sato N, Sakoda A. Production and characterization of carbonaceous


adsorbents from biomass wastes by aqueous phase carbonization. Adsorption 11,
669–673 (2005).

[10] Pratt K, Moran D. Evaluating the cost–effectiveness of global biochar mitigation


potential. Biomass Bioenerg. 34(8), 1149–1158 (2010).

[11] Sohi S, Krull E, Lopez-Capel E, Bol R. A review of biochar and its use and function
in soil. Adv. Agron. 105, 47–82 (2010).

[12] Santos Pimenta, Alexandre, et al. "UTILIZAÇÃO DE RESÍDUOS DE COCO (Cocos


nucifera) CARBONIZADO PARA A PRODUÇÃO DE BRIQUETES." Ciência Florestal
(01039954) 25.1 (2015).

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