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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

FACULDADE DE DIREITO - FAD

DISCIPLINA: DIREITO CONSTITUCIONAL I

MARIA EDUARDA ALVES

DOCENTE: Lauro Gurgel de Brito

MOSSORÓ-RN

2021
A CONSTITUIÇÃO CIDADÃ FOI CONSTRUÍDA ESSENCIALMENTE SOB UM PRISMA
IDEOLÓGICO NEOLIBERAL

A Constituição Federal de 1988 pode ser considerada como marco jurídico devido a sua
promulgação ser consolidadora da redemocratização do país após um longo período de
regime militar. Em um contexto social e econômico esse evento fora marcado por intensa
luta política entre classes sociais no processo constituinte. Contudo, em razão do
crescimento hegemônico do movimento neoliberalista no Brasil, o cenário que materializou
a constituinte de 1988 foi formado, em sua maioria, pelos velhos atores políticos que
defendiam um modelo baseado na preservação da ordem social vigente amparado pela
conservação do modelo liberal e dos interesses das classes dominante
Partindo desse contexto cabe afirmar que a Constituição Federal de 1988 fora construída
essencialmente sob um prisma ideológico liberal com base nos seguintes argumentos:

● A INFLUÊNCIA DO CONTEXTO SOCIOECONÔMICO


Partindo do pressuposto de que a realidade social é fruto de uma constante interação
dialética entre grupos sociais distintos, dos quais cada um possui interesses próprios, que
podem se aproximar ou se repelir dependendo das circunstâncias materiais, temporais ou
territoriais. Ademais, reconhecendo que, em um sistema capitalista, esses grupos sociais
situados na infraestrutura relacionam-se entre si, bem como os da superestrutura em uma
constante interação dialética. Consequentemente, se torna impossível não considerar o
desenvolvimento do sistema social brasileiro ou dissociá-lo da inter-relação dos demais
elementos sociais e ideológicos na Constituição.
Segundo o cientista político Paulo Bonavides, as constituições modernas influem e são
proporcionalmente influenciadas pela realidade socioeconômica, uma vez que sintetizam os
fundamentos jus-políticos que regem a sociedade. Essas que são indubitavelmente
permeadas pelos ideais políticos. Assim, abrigando ideologias dominantes. Elas serão
criadas, mantidas ou alteradas segundo os padrões dominantes.
Seguindo o pensamento de Bonavides se pode afirmar que a Constituição de 1988 fora
elaborada por ideias sociais num contexto de mobilização política, concedendo ao Estado
um papel relevante no âmbito socioeconômico. Concomitantemente, o Estado brasileiro era
dominado pela matriz ideológica neoliberal, assim, indiscutivelmente, tendo influência sobre
a Constituição.

● A CLASSE BURGUESA COMO PRINCIPAL PROTAGONISTA


O cenário que materializado na constituinte de 1988 fora formado majoritariamente por
velhos atores políticos defensores de um modelo fundamentado na conservação da
ordem social vigente amparado pela perpetuação do modelo liberal e dos interesses
burgueses. Dessa forma, os desdobramentos políticos que emanaram das suas ações
tiveram o fito de preservar os elementos que se configuravam em uma sociedade
excludente e garantidora da miséria, além de assegurar apenas os interesses de uma
pequena parcela desta sociedade. Segundo o professor Adriano Pilatti o processo
constituinte de 88 teve, desde o início, sua estruturação pautada em um princípio a saber: o
da construção de um texto legal que não alterasse profundamente o status quo. A exemplo
dessa prática há o artigo de Título II – Dos Direitos e garantias Fundamentais que vai do
art. 5º ao artigo 17 (os quais fundamentam o título de Constituição Cidadã), adotam
a linha progressista, quando relacionada às Constituições anteriores, mas não foge
dos modelos constitucionais liberais, pois asseguram os interesses essenciais da
economia e das classes detentoras do poder.

● A INFLUÊNCIA DA REVOLUÇÃO FRANCESA E DO ILUMINISMO


Apesar de ter sido promulgada em 1988, a Constituição Cidadã apresenta influências
diretas dos ideais iluministas que surgiram na França no século XVII e teve seu movimento
mais intensificado pela Revolução Francesa, cujo lema era: Liberdade, Igualdade e
Fraternidade. Consequentemente, esses movimentos também trouxeram influências liberais
em seus ideais. Isso se dá devido ao iluminismo ser o principal influenciador do liberalismo
e seu caráter antropocentrista por natureza, que tinha a defesa da liberdade e igualdade
como pilares filosóficos. Contudo, no Brasil mostrou paulatinamente sua deficiência
intrínseca, separando os indivíduos em dois segmentos opostos e distintos, de uma lado se
tinha a pequena classe dos detentores dos meios de produção, os capitalistas e do outro se
tinha a grande massa dos fornecedores de mão de obra, o proletariado. Portanto, a
influência do Iluminismo e seu antagonismo de classes também tomaram espaço na
Constituição de 1988 contribuindo para o caráter neoliberal da Constituição.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

RESENDE, Glariston. Uma análise dos fundamentos ideológicos da Constituição


Federal de 1988. Universidade do Maranhão, Maranhão, p. 11-133, 23 out. 2009.

MARINI, Ruy. A Constituição de 1988. Revista InSURgência , Brasília, v. 2, n. 1ª, p.


406-419, 10 jun. 2016.

SANTOS, Madson et al. As influências ideológicas no processo de construção da


Constituição “cidadã” de 1988. Revista Espaço acadêmico, Bahia, v. 1, n. 200, p. 95-
102, 1 jan. 2018.

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