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JESUS DE NAZARÉ

E AS SEPARAÇÕES
DO SEU TEMPO*

Ildo Perondi**

Resumo: o judaísmo oficial da época de Jesus era marcado por muitas separações, como
puro - impuro; judeu - estrangeiro; homem - mulher; escravo - livre. Muitas
dessas separações eram fruto das tradições que foram desenvolvidas no período
pós-exílico e prejudicavam, sobretudo, os pobres e marginalizados. Jesus de
Nazaré enfrentou várias delas. Mesmo sendo acusado de não cumprir a Lei, Ele
desmascara a hipocrisia daqueles que, baseados na tradição, acabavam anulando
e desprezando a própria vontade e os mandamentos de Deus para observar as
suas próprias tradições (Mc 7,9). Em sua prática, Jesus supera essas separações
e acolhe as pessoas excluídas, promovendo a justiça. Ao propor uma ruptura
diante do ensinamento dos mestres da época, Jesus não vai contra a revelação das
Sagradas Escrituras, mas, usando de critérios objetivos, dá aos textos sagrados
a justa interpretação, colocando a Palavra de Deus a serviço da vida do povo e
revelando o verdadeiro rosto de Deus. Esta prática de Jesus ilumina a realidade
atual marcada por sintomas de discriminação, intolerância e pelos novos muros de
separação e nos convida a práticas de inclusão, misericórdia e justiça.

Palavras-chave: Superação. Separações. Jesus. Justiça. Excluídos.

U
 m olhar sobre o que acontece no mundo aponta para nuvens estranhas no ar.
Os movimentos intolerantes crescem. Ideias perigosas são difundidas por lide-
ranças políticas, mediáticas e, sobretudo, religiosas, e que proliferam graças à
utilização de meios modernos e recursos poderosos para difundir suas propostas.

–––––––––––––––––
* Recebido em: 13.09.2018. Aprovado em: 12.10.2018.
** Doutor em Teologia Bíblica (PUC-Rio). Mestre em Teologia Bíblica (Universidade Urba-
niana de Roma). Professor de Sagradas Escrituras no Curso de Teologia e no Programa de
Pós-Graduação em Teologia (PPGT - PUC PR). E-mail: ildo.perondi@pucpr.br

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Para tanto, aproveitam-se da falta de uma visão crítica do povo; produzem Fake
News com aparência de verdade. São movimentos sectários, reacionários de ul-
tradireita, com caráter autoritário e excludente e com forte discurso de aparência
religiosa. As vítimas são os mais pobres e frágeis da sociedade.
Com o objetivo de buscar luzes que iluminem a realidade, este artigo tem por objetivo
analisar a prática de Jesus diante das situações de exclusão e marginalização
de pessoas e grupos do seu tempo. Para tanto, um retorno ao Jesus histórico e
sua prática tornam-se necessários, ainda que a atenção seja sobre os conflitos
enfrentados por Jesus e as propostas concretas de superação que ele propôs.
O judaísmo oficial do período pós-exílico se estruturou com base em muitas separa-
ções. Considerando-se uma nação eleita, separada dos demais povos, havia
uma preocupação de preservar a comunidade, evitando a contaminação com
aquilo que estes judeus julgavam que não fosse próprio da sua identidade e que
pudesse macular a comunidade.
Com seus rituais de purificação e santificação, a religião oficial de Israel conservou al-
guns costumes que “serviam para separar Israel do meio pagão que o cercava
e para lhe inculcar a ideia da santidade transcendente de Iahvé e da santidade
que o povo que ele tinha escolhido devia observar” (VAUX, 2003, p. 498).
No entanto, ainda segundo Vaux (2003, p. 501), o judaísmo pós-bíblico foi mais longe
do que os rituais de pureza exigidos nas leis do Levítico: “O que inicialmen-
te tinha servido para expressar a santidade de Deus e de seu povo tornou-se
um tipo de coleira”. É no período intertestamentário que algumas normas se
tornaram mais exigentes, sobretudo pelos grupos mais sectários que tentavam
impor a todo o povo o rigor de certas observâncias práticas.
Jesus é um judeu da Galileia, da periferia, portanto tinha mais liberdade de ação diante
do judaísmo oficial do Templo de Jerusalém, embora incomodasse e sofresse
ataques dos seus representantes. S. Freyne (2008), com sua obra Jesus, um
Judeu da Galileia, destaca que a Galileia não era uma região sem importância,
mas com maior relevância econômica, social e cultural do que os às vezes
possamos deduzir dos relatos dos evangelhos. É importante situar o lugar da
ação de Jesus e “estar consciente que a Galileia não foi o único cenário da vida
e do ministério de Jesus” (FREYNE, 2008, p. 7). Enquanto Marcos e Mateus
dão mais ênfase à atividade na Galileia, a maior parte do Evangelho de Lucas
é dedicada à longa caminhada a Jerusalém (Lc 9,51-19,44) e depois aos even-
tos que nela se seguiram (Lc 19,45-24,53). Já o Quarto Evangelho dá menos
destaque à Galileia e narra a atividade itinerante de Jesus. É nestes diferentes
lugares que Jesus se defronta com seus adversários.
Outra constatação importante é a dificuldade que se encontra na identificação dos adep-
tos e dos reais adversários de Jesus, pois deveríamos falar dos diversos juda-
ísmos, dos diferentes grupos no período do segundo Templo e que, devido

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à sua pluralidade de interpretações, gerou uma diversidade de movimentos,
como observa Paulo R. Garcia (2008, p. 91), “o judaísmo estava povoado de
um grande número de movimentos com ênfases legais, reivindicatórias, apo-
calípticas, visionárias e extáticas”. Não foi todo o judaísmo que se opôs a
Jesus e foi entre grupos judaicos desejosos de mudanças que Jesus encontrou
aceitação do seu projeto.

AS PRINCIPAIS SEPARAÇÕES

Seguindo o esquema dos evangelhos sinóticos, o projeto do Reino de Deus, inaugurado


por Jesus, inicia pela periferia, pela Galileia e não pelo centro, em Jerusalém.
É no contato direto com a realidade que Jesus vai se defrontar com normas
práticas e legais que dificultavam a vida do povo. Serão elencadas a seguir
algumas das principais separações e que foram objeto de conflito com os seus
adversários:
- Santo - profano: O Templo de Jerusalém era o lugar considerado mais santo; dentro
dele havia as separações até se chegar ao lugar mais santo, o Santo dos Santos,
o lugar da morada de Deus ou do seu Nome Santo (1Rs 8,27-29). Neste lugar,
o acesso popular era proibido e somente a pessoa mais santa (o Sumo Sacer-
dote) podia entrar uma única vez por ano, no dia mais santo, o Dia da Expia-
ção (Yom Kippur). O povo, para se aproximar do sagrado, devia se purificar,
oferecendo os animais em sacrifícios e holocaustos (animais que deviam ser
puros, por isso, não podiam ser trazidos de fora, mas comprados no comércio
do Templo).
- Pessoas puras - impuras: Pessoas com deficiências ou doentes, como os leprosos
(Lv 13-14) ou com outras doenças; pessoas com sangramentos; mulheres no
período da menstruação (Lv 15,19); pessoas que exercessem certas profissões
consideradas imorais, como publicanos e cobradores de impostos, pastores,
açougueiros, etc. eram consideradas impuras e o contato com elas devia ser
evitado para não contrair também a impureza. J. Jeremias (2005, p. 368-472)
elaborou um quadro completo de todas as categorias que não eram bem vistas,
seja por não serem considerados judeus puros ou por exercerem atividades
consideradas impuras.
- Alimentos puros - impuros: O sistema de alimentação era muito rígido (Lv 11,1-23),
pois estabelecia quais os animais que podiam ser consumidos e quais os que
eram impróprios por serem impuros. Além disso, com a tradição, estabele-
ceram-se rituais de purificação que deviam ser praticados antes de tomar as
refeições (Mc 7,3-4).
- Sábado: O Shabbat, o descanso semanal, foi uma conquista importante para o povo.
A observância do Sábado estava prevista nas duas versões do Decálogo, com

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motivações diferentes. Segundo o Êxodo, porque na Criação o Senhor des-
cansou no sétimo dia (Ex 20,11); segundo o Deuteronômio, era para recordar
que o povo foi escravo do Egito e de lá foi libertado (Dt 5,15). Era o dia de
descanso do trabalho e valia tanto para os israelitas, como para os escravos e
animais (Ex 23,12). É difícil estabelecer a origem da prática do Sábado. Tal-
vez seu início tenha sido pré-monárquico e intensificado a partir da monarquia
e no período pós-exílico. Os israelitas, que foram escravos no Egito, onde o
trabalho era contínuo, agora livres, deviam ter compaixão e misericórdia da-
queles que eram obrigados a trabalhar (Dt 5,12-15). Assim, o sábado foi uma
das observâncias mais específicas do judaísmo; identificava os judeus e os
distinguia dos gentios e se tornou um autêntico sinal do judaísmo. O problema
foi o que o judaísmo transformou o Sábado num peso para o povo (Ne 13,15-
22). Alguns rabinos enumeravam até 39 tipos de trabalhos que eram proibidos;
algumas destas proibições eram mesquinhas e ridículas, como: acender fogo;
bater palmas; saltar; dar palmadas na coxa, visitar doentes. Impedia-se tam-
bém de fazer caminhadas no dia de sábado, no máximo 2000 côvados, cerca
de 900 metros (At 1,12) (McKENZIE, 1984, p. 810).
- Judeus - estrangeiros: Os judeus se julgavam um povo separado dos demais povos.
Havia até um ditado que considerava os estrangeiros como cães. A esse respei-
to, ver o caso da mulher cananeia ou siro-fenícia em Mateus 15,21-28; Marcos
7,24-30. O Apóstolo Paulo também faz uma alusão aos cães em Fl 3,2. Um
judeu praticante não entrava na casa de uma pessoa estrangeira. Era costume
também que ao regressarem de uma viagem, fora da terra de Israel, os israeli-
tas deviam bater as sandálias para não trazerem o pó da terra estrangeira.
- Homem - mulher: O homem tinha privilégios em relação à mulher; a religião era uma
religião do homem, que devia cumprir a Lei; na sinagoga, o espaço era do ho-
mem. A mulher, considerada inferior ao homem, não podia estudar os textos
sagrados. As escolas rabínicas eram unicamente para os meninos e vedadas às
meninas. Alguns rabinos chegavam mesmo a afirmar que era melhor queimar
a Torá do que dá-la a uma mulher (PAGOLA, 2013, p. 259). Em casa, à mesa
elas não podiam pronunciar a bênção e nos tribunais “não tinham o direito de
prestar testemunho, pois eram consideradas mentirosas, conforme interpreta-
ção de Gn 18,15” (JEREMIAS, 2005, p. 492).

- Senhores - escravos: Enquanto os senhores eram livres, os escravos não tinham li-
berdade. Embora haja controvérsias em torno de se em Israel houve a prática
da escravidão ou em que períodos históricos, é evidente que se há leis sobre
como tratar os escravos é porque existiam escravos e, consequentemente, tam-
bém senhores que escravizavam. No tempo de Jesus havia várias formas de
escravidão, tanto de judeus como de estrangeiros (JEREMIAS, 2005, p. 403-

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463). Porém, a escravidão em Israel não devia ter as proporções de como era
praticada entre outras nações: “Nem em Israel, nem entre seus vizinhos havia
aqueles enormes rebanhos de escravos que na Grécia e em Roma foram uma
causa permanente de insegurança social” (VAUX, 2003, p. 105). No entanto,
continuava a ideia que separava e qualificava os seres humanos entre as pes-
soas livres e aquelas sujeitas à escravidão.

As três últimas separações geraram até uma oração de louvor a Deus, por meio da qual
o sábio judeu se dirige ao Criador agradecendo porque não o fez gentio (não
nasceu estrangeiro), nem escravo, nem mulher (McKENZIE, 1984, p. 636).
Com este sistema de separações, o judaísmo oficial excluía justamente as pessoas mais
vulneráveis, os mais fracos, os pobres e sofredores. Algumas destas separa-
ções eram fundamentadas em textos da Torá, mas foram radicalizadas por tra-
dições orais elaboradas ao longo da história.

JESUS SUPEROU ESTAS SEPARAÇÕES

Jesus de Nazaré apresenta-se diante do povo anunciando um projeto novo: o Reino


de Deus, uma novidade esperada pelos pobres e marginalizados. Em sua pre-
gação e, sobretudo em suas ações práticas, estas separações eram pontos de
frequentes discussões e controvérsias com os fariseus, doutores da Lei e as
autoridades do Templo em Jerusalém. Vejamos a seguir algumas das mais im-
portantes posturas de Jesus:
- O Sagrado: Jesus é o Emanuel, “Deus conosco” (Mt 1,23). Ele vai onde o povo
está, nas casas, no trabalho, no caminho; no deserto, nos montes, lugares que
passam a ser local de oração e encontro com Deus. Ele é o novo Templo; a
“casa”, sobretudo no Evangelho de Marcos, passa a ser a nova sinagoga: lugar
de estudo, explicação e interpretação da Palavra de Deus (Mc 2,1; 3,20; 7,17;
9,28.33; 10,10). Ele promete estar presente na sua comunidade: “Onde dois ou
três estiverem reunidos em meu nome, ali eu estou no meio deles” (Mt 18,20).
- Doentes: Jesus vai à casa de Pedro cuja sogra está enferma e com febre alta, aproxi-
ma-se, inclina-se, toca nela e a cura (Mc 1,29-31; Lc 4,38-39); cura o homem
da mão atrofiada e o convida a vir para o meio da comunidade (Mc 3,1-5);
permite que uma mulher com fluxo de sangue toque seu manto e seja curada
(Mc 5,25-34); cura o paralítico transportado por quatro homens (Mc 2,1-12);
em dia de sábado, sem que alguém o peça, cura a mulher encurvada (Lc 13,10-
17); cura um hidrópico (Lc 14,1-6); cura cegos (Mc 8,22-26; 10,46-52; Jo 9,1-
38), e pessoas acometidas de toda sorte de doenças físicas e atormentados por
enfermidades (Mt 4,23-25; Lc 4,40). Ao agir deste modo diante das ameaças à
vida, Jesus se aproxima daquele judaísmo que busca a essência na tradição da

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Escritura e na ética da tradição judaica que podemos ver na afirmação lapidar
do Talmud “Aquele que salva uma vida, salva o mundo” (Sanhedrin, 37a), pois
“a atenção que devemos dar à vida humana compromete a totalidade do nosso
ser, assim como a essência da relação que mantemos com o mundo que nos
cerca” (MEYER, 2012, p. 9).
- Endemoninhados: Pessoas que sofriam de epilepsia; depressão, estresse, surdos-mu-
dos, pessoas cujas doenças não se conheciam as causas e nem como curá-las
eram consideradas endemoninhadas (Mc 1,23-28.32-34; 3,11). Jesus liberta
estas pessoas destes males desconhecidos e restitui a dignidade e a paz.
- Leprosos: Sente compaixão diante da exclusão do leproso (Mc 1,40-45; Mt 8,1-4),
toca nele e o cura (purifica); também purifica (cura) outros dez leprosos, in-
clusive um deles sendo estrangeiro, um samaritano (Lc 17,11-19). Jesus não
exclui os leprosos, mas ouve seus gritos pedindo socorro, toca neles, conversa
com eles, sente compaixão deles, purifica-os e os integra novamente à comu-
nidade que os havia excluído.
- Publicanos e pecadores: Jesus acolhe publicanos, cobradores de impostos. Chama
Mateus e vai almoçar em sua casa e, à mesa, estavam sentados publicanos e
pecadores (Mt 9,9-10). Ele mesmo se autoconvida para hospedar-se na casa
de Zaqueu e leva a salvação à sua casa e o faz mudar de vida (Lc 19,1-10).
É criticado pelos escribas e doutores da Lei por acolher publicanos e pecadores
e comer com eles, mas são eles que vêm para escutar sua Palavra (Lc 15,1-3).
Jesus por duas vezes indica o publicano como exemplo aos fariseus: “Zaqueu
pela sua cândida confissão de arrependimento (Lc 19,1ss), e o publicano da
parábola pela sua oração, que era uma súplica humilde de misericórdia por um
pecador (Lc 18,10-13)” (McKENZIE, 1983, p. 687). E os adverte de que os
publicanos e pecadores os precederão no reino dos céus (Mt 21,31). Novamen-
te Jesus é coerente entre o seu ensinamento e a sua prática. Da mesma forma
como um alimento considerado impuro (e não estragado) não pode contaminar
o interior da pessoa, também o convívio com as pessoas consideradas impuras
não pode tornar Jesus um impuro. Ele ensina que a impureza pior é aquela que
vem de dentro da pessoa: “A contaminação verdadeira do homem nasce do
mal que está dentro dele e se materializa em decisões e ações” (BARBAGLIO,
2011, p. 472-473).
- Mulheres: São muitas as ações benéficas de Jesus em favor das mulheres. “Jesus não
se contenta de elevar a mulher acima do nível em que a tradição a mantinha;
enquanto Salvador, enviado a todos (Lc 7,36-50), coloca-a em pé de igualdade
com o homem (Mt 21,31-32)” (JEREMIAS, 2005, p. 494). Fala em púbico
com uma mulher samaritana (Jo 4); permite que as mulheres o sigam e sejam
discípulas e o sirvam com as suas possibilidades (Lc 8,1-3), o que nenhum
Rabí da sua época fazia. O grupo das mulheres torna-se o grupo mais fiel de

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Jesus e elas estão presentes na cruz (Mc 15,40.47) e são as primeiras testemu-
nhas da ressurreição (Mt 28,1-10). Maria Madalena torna-se a anunciadora da
Ressurreição (Jo 20,18) e, por isso, é identificada como “Apóstola dos Após-
tolos”. Este título já atribuído a ela por Hipólito Romano e pela Patrística,
sobretudo no Oriente, foi retomado por Tomás de Aquino, e ultimamente por
Bento VI e pelo Papa Francisco.
- Estrangeiros: cura o servo do centurião estrangeiro (Lc 7,1-10); passa pelo territó-
rio dos samaritanos (Lc 9,51); valoriza um samaritano (Lc 10,33-37); vai ao
território de Tiro e Sidônia, cura a filha de uma mulher siro-fenícia e aprende
com ela (Mt 15,21-28; Mc 7,24-30); sua mensagem final é universal, dirigida
a todos os povos (Mt 28,19).
- Alimentos: Jesus ensina que todos os alimentos são puros, que não é o que entra no
ventre que torna uma pessoa impura, mas são as coisas más que saem da boca
dessa pessoa que a tornam impura (Mt 15,11.17-18; Mc 7,14-23). Não se trata
de alimentos que fazem mal à pessoa, mas de consumo de animais que sim-
plesmente eram considerados impuros.
- Abluções: Jesus contesta a halakah, o conjunto de preceitos e prescrições herdados
da tradição e permite que os seus discípulos tomem as refeições sem a prática
do rito de purificar as mãos (Mt 15,1-2.17-20). Os discípulos de Jesus são
acusados de praticarem a impureza (adjetivo koinós). A crítica não se referia a
uma norma higiênica, de comer com as mãos sujas, mas de não fazer o rito de
ablução. Os fariseus e doutores da Lei, vindos de Jerusalém, queriam esten-
der e impor ao povo práticas da tradição oral. A Lei exigia o mandamento da
ablução ritual das mãos apenas para o sumo sacerdote e os sacerdotes quando
faziam as ofertas no Templo (Ex 30,17-21). Por isso, é Jesus que critica estas
autoridades, pois manipulam o mandamento de Deus, apegando-se às tradi-
ções: “Sabeis muito bem desprezar o mandamento de Deus para observar a
vossa tradição” (Mc 7,9). Eles infringem um mandamento maior, “honrar pai
e mãe” (Mc 10,7; Ex 20,12; Dt 5,16), para defender seus interesses; omitem
as coisas mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade (Mt
23,23) e priorizam costumes que não possuem mais nenhum valor diante do
Deus Libertador que se preocupa com a defesa da vida.
- Sábado: Jesus questiona o rigorismo da Lei de Sábado que impede de fazer o bem
e declara que o sábado foi feito para o homem e não o contrário e que ele,
o Filho do Homem, é também senhor até do sábado (Mc 2,28-29). Ele não
desobedece à Torá, mas interpreta o preceito do descanso sabático em chave
de bênção para o ser humano, e o faz não apelando à Torá, mas à vontade do
Criador (BARBAGLIO, 2011, p. 472). Jesus recupera o verdadeiro sentido do
sábado, colocando o dia de repouso a serviço do ser humano (Mt 12,1-12; Mc
2,27; Jo 7,23-24).

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- Próximo e não próximo: Diante do escriba, que procura justificar-se, Jesus responde
com a parábola do Bom Samaritano (Lc 10,29-37) e ensina que o próximo é
todo aquele que sabe se aproximar das pessoas necessitadas, independente de
sua raça ou religião. Não se trata de perguntar: “Quem é o meu próximo?” e
então analisar se ele é digno da atenção e do recebimento da caridade. A ques-
tão é ser próximo das pessoas que se encontram caídas à beira dos caminhos.

AS ESCRITURAS COMO FUNDAMENTO PARA A PRÁTICA DE JESUS

As inovações que Jesus propõe o tornam uma pessoa perigosa, porque contrapõe a
estrutura socio-econômica-religiosa de seu tempo consolidada pelo sistema
opressor do império romano e pelos dirigentes judeus, por isso era visto pelas
autoridades religiosas e políticas como um subversivo. O fundamento para a
salvação para Jesus vem das Sagradas Escrituras. No entanto, a novidade que
ele apresenta provém do fato de que ele não as utiliza como os mestres da
época. “O que se está ensinando em Israel já não serve como ponto de partida
para construir a vida como Deus a quer” (PAGOLA, 2010, p. 289). Então Jesus
propõe um modo de responder à nova situação criada pela irrupção do Reino
de Deus.
Jesus se mantém fiel àquilo que é o essencial revelado nas Escrituras; porém entende
que não é possível remendar o que já está caduco e superado. Propõe uma
reforma radical sem colocar remendos em roupa velha, “mas vinho novo em
odres novos” (Mt 9,17; Lc 5,38). Neste sentido, Jesus não recorre às Sagradas
Escrituras para analisá-las e extrair delas o seu conhecimento, a exemplo do
que faziam os mestres da Lei e os fariseus. Nos textos sagrados, Jesus busca a
fonte para revelar a vontade de Deus que ilumina o projeto do Reino de Deus
(PAGOLA, 2010, p. 289).
Ao ouvir seu ensinamento, as pessoas ficavam admiradas e maravilhadas porque Jesus
“ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” (Mc 1,22; Lc
4,32). Este reconhecimento vem da parte do povo simples, trabalhador, exclu-
ído e marginalizado, cansado de ouvir as pregações, baseadas nas Escrituras,
que procuravam justificar a sua condição de povo oprimido: “Este povo que
não conhece a Lei, são uns malditos” (Jo 7,49). Jesus, ao contrário, interpreta
as Escrituras a serviço da vida, evidencia que “o cumprimento da Lei sem con-
siderar a vida e a necessidade das pessoas era equivalente a invalidar a Palavra
de Deus” (NAKANOSE; MARQUES, 2004, p. 100).
As pessoas sabiam que Jesus não era um Mestre como os doutores da Lei e que não
havia estudado com os mestres famosos da época, como Gamaliel, Hillel ou
Shammai, mas o reconhecem pela autoridade que tem em falar de Deus e do
seu projeto. Também o lugar de ensinar não é o mesmo dos mestres. Jesus vai

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até onde o povo está, vai à beira-mar, senta-se nos barcos, sobe as montanhas,
entra nas casas. O conteúdo do seu ensinamento também não são as tradicio-
nais sentenças ou armadilhas que os escribas faziam. Jesus ensina de modo
simples, conta parábolas, utiliza elementos do cotidiano da vida do povo. Ele
age e ensina com o seu jeito de ser e viver; aproxima-se das pessoas; as vê e
toca; sacia a sua fome de pão e de justiça.
Jesus não buscou seus discípulos nas academias, mas no chão da vida do povo. Seus
primeiros discípulos foram chamados enquanto pescavam, consertavam as re-
des (Mc 1,16-20) ou sentados na coletoria de impostos (Mt 9,9). Entre o seu
grupo mais próximo, há também membros dos zelotes (Mt 10,4). E permite
que um grupo de mulheres seja suas discípulas e seguidoras (Lc 8,1-3).
Assim Jesus se diferencia do judaísmo oficial, tão pouco preocupado em revelar o
verdadeiro rosto de Deus. As autoridades preocupavam-se mais em defender
a Tradição e a Lei por si mesmas. “Muitas vezes, na mão deles, a Tradição
anulava a Lei (Mc 7,13), a Lei anulava a vida (cf. Mc 2,27). Sem se dar conta,
parte do clero da época defendia uma religião alienada que já não promovia
nem defendia a vida do povo nem revelava o rosto de Deus” (MESTERS,
2012, p. 18-19).
Citando texto dos profetas, Jesus demonstra quem de fato cumpre as Escrituras: “Bem
profetizou Isaías a respeito de vós, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo
honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim. Em vão me
prestam culto; as doutrinas que ensinam são apenas mandamentos humanos”
(Mt 15,8-9; Is 29,13). Ele critica os mestres porque abandonam o mandamento
de Deus, apegando-se à tradição dos homens, assim invalidam a Palavra de
Deus pela tradição que transmitem (Mc 7,6-13).

A METODOLOGIA DE JESUS

Ao colocar-se em conflito com as tradições judaicas, Jesus não está se posicionando


contra as Sagradas Escrituras, mas procura dar-lhe o pleno cumprimento e
uma nova interpretação (Mt 5,17).
O que Jesus faz é diferente do que alguns escribas da sua época faziam que era a inter-
pretação literal – diríamos hoje “ao pé da letra” – dos textos sagrados. E segue
um método que era empregado por outros mestres. Diante de situações em que
as normas da Lei já estavam ultrapassadas pelo tempo, utilizava-se um esque-
ma que visava ao cumprimento das Escrituras e que consistia em três pontos
fundamentais que A. Vanhoye (1993, p. 41) define como continuidade, ruptura
e superação. Este esquema pode ser resumido desta forma:
a) Ruptura / novidade: devia-se propor algo que não fosse semelhante ao que
já fora anunciado, do contrário, estaríamos ainda no nível das preparações

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em vez de passar ao nível da realização definitiva. Um cumprimento divino
não é nunca uma mera repetição do que já foi dito e do que já se fez, mas
supõe sempre uma diferença, uma novidade melhor e proporciona também
uma ruptura com aquilo que já está superado e que se encontrava em outro
nível.
b) Continuidade: era necessário que houvesse continuidade entre o novo ensi-
namento que se estava propondo e que este se situasse dentro dos desígnios
de Deus já revelados. Não poderia ser algo que substituísse de todo o que
estava sendo questionado; portanto, que fosse uma inovação pura, totalmen-
te nova.
c) Nova prática: As novidades apresentadas precisam eliminar os limites e as
imperfeições antigas e precisam encaminhar-se em direção a um progresso
decisivo que manifesta a intenção criadora de Deus. Caso contrário, haveria
unicamente uma variação de valor discutível.

Estes três pontos: ruptura, continuidade e nova prática geram a superação de uma situação
para que se realize um verdadeiro cumprimento entre a realidade nova que se es-
tabelece e que segue em continuidade com a revelação antiga. Este esquema está
presente em todas as superações daquelas situações em que Jesus propõe uma
superação. Jesus torna-se, assim, o verdadeiro intérprete das Sagradas Escritu-
ras, sem anulá-las. E retira dos textos sagrados aquelas normas rígidas e quase
impossíveis de serem praticadas que a tradição acrescentou às Escrituras.

AS PRIMEIRAS COMUNIDADES CRISTÃS

As primeiras comunidades cristãs levaram adiante o projeto de Jesus e na expansão


missionária precisaram enfrentar os mesmos desafios. É verdade que o judaís-
mo da dispersão não era tão rigoroso quanto o judaísmo palestinense. Vivendo
em meio a outras culturas havia mais flexibilidade diante de algumas normas
e costumes; porém, em parte, algumas destas separações continuavam sendo
praticadas e foram a origem de conflitos entre os cristãos e judeus.
O fundamento das primeiras comunidades era a vida como irmãos (At 2,42-47) e, com
isso, davam testemunho da mensagem de Jesus, incluindo as mulheres, os estran-
geiros. O texto que marca a abertura aos gentios é retratado pela superação dos
alimentos considerados impuros. Pedro recebe a visão de que todos os alimentos
são puros. Pedro recebe também a autorização, através da visão, que igualam
judeus e gentios e que ele pode hospedar-se na casa de um pagão (At 10).
O chamado “Concílio de Jerusalém” (At 15) foi um momento decisivo para a superação
da questão da circuncisão e não exigência do cumprimento de toda a lei judai-
ca aos gentios (At 15,22-29).

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Um dos textos bíblicos mais importantes e que demonstra como as separações já não
tinham sentido é do Apóstolo Paulo, quando afirma que: “Não há judeu e nem
grego; não há escravo e nem livre; não há homem e nem mulher; pois todos
são um em Cristo Jesus” (Gl 3,28).
A Carta aos Efésios é enfática ao afirmar o fim destas separações, sobretudo aquela que
dividia judeus e gentios: “Mas agora, em Cristo Jesus, vós que outrora estáveis
longe, fostes trazidos para perto, pelo sangue de Cristo. Ele é a nossa paz, de
ambos os povos fez um só, tendo derrubado o muro de separação e suprimido
em sua carne a inimizade” (Ef 2,11-14). Este muro que dividia e separava os
filhos de Deus foi derrubado com o evento Jesus Cristo!
Ainda em relação aos alimentos, é importante a passagem da Primeira Carta a Timóteo
ao condenar a hipocrisia daqueles mentirosos que tentam se infiltrar nas co-
munidades e ensinar doutrinas estranhas. Estas pessoas “têm a própria cons-
ciência marcada por ferro quente; proíbem o casamento, exigem a abstinência
de certos alimentos, quando Deus os criou para serem recebidos, com ação de
graças, pelos que têm fé e conhecem a verdade. Pois tudo o que Deus criou é
bom, e nada é desprezível, se tomado com ação de graças, porque é santificado
pela Palavra de Deus e pela oração” (1Tm 4,2-5).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao superar o sistema de separações, Jesus de Nazaré corrige as injustiças que eram


impostas aos mais fracos e excluídos. As separações não só dividiam as pesso-
as, mas também criavam muros intransponíveis. Ao mesmo tempo, o sistema
legalista proposto pelos defensores da tradição tornava-se impossível de ser
cumprido pelos pobres e que acabavam sendo considerados culpados por re-
tardarem a vinda do Messias.
Jesus não separa, mas unifica, valoriza as pessoas pelo que elas são: imagem e seme-
lhança de Deus. Sente compaixão das suas misérias e exclusões. O fim das
separações corrige esta injustiça e favorece a inclusão e a igualdade. Em seu
ensinamento, utiliza uma linguagem popular de modo que todos possam ouvir
e entender. Deixa claro que não há nada que possa tornar as pessoas impuras
por causa daquilo que provém de fora do seu corpo: nem os alimentos, nem o
contato, nem as relações. Ao contrário, é o que vem de dentro do ser humano
que pode torná-lo impuro, pois isso se manifesta em seu comportamento, nas
ações e nas relações que estabelece com os outros. É do interior humano, do
coração, que emergem as palavras, os sentimentos e as intenções. Porém, é
necessário ter em mente que Jesus não coloca o interior e o exterior humano
como duas realidades opostas. Estas duas realidades fazem parte do todo que
é o ser humano, inseparável e indiviso.

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Ao dar uma nova interpretação à Lei, Jesus promove seus discípulos e ajuda a eles e à
nova comunidade para terem um discernimento prático. Era preciso distinguir
qual era a vontade de Deus e o que eram as tradições, os costumes humanos
que foram acrescidos a ela e que não tinham a força das Sagradas Escrituras.
Jesus enfrenta as autoridades, desmascara a hipocrisia daqueles que queriam
absolutizar a Lei, e com isso torná-la um obstáculo para ser praticada, cheia
de normas que nem mesmo os mestres conseguiam cumprir (Mt 23,13-33).
Assim, ele resgata o verdadeiro sentido da Palavra de Deus que é a defesa da
vida, a proteção dos mais fracos e a revelação do verdadeiro rosto e imagem
de Deus.
A prática de Jesus responde aos anseios das camadas marginalizadas do seu tempo.
Jesus revela-se em sua plena humanidade: “O Jesus histórico tem realmen-
te rosto humano, tem consciência humana, coração e sentimentos humanos”
(RICHARD, 2004, p. 33). Além disso, há o “movimento de Jesus” formado
por seus discípulos e discípulas. Esta novidade também responde aos anseios
de tantos grupos judaicos, principalmente aqueles menos influenciados pelo
judaísmo oficial do Templo, que esperavam por novos tempos.
Uma atualização para a realidade de hoje é mais do que necessária. Nesse sentido,
foram grandes as contribuições dos estudos sobre o Jesus histórico realiza-
dos na América Latina abordando a prática de Jesus a partir da sociologia do
conflito e do materialismo histórico (ECHEGARAY, 1990; SEGUNDO, 1985;
SOBRINO, 1983; BOFF, 1972), pois aproximam Jesus de Nazaré da realida-
de dos empobrecidos e marginalizados. É importante destacar o número da
Revista de Interpretação Bíblica Latino-Americana: Jesus Histórico (NAKA-
NOSE, 2004). Esta prática de Jesus alimenta o sonho da construção de uma
sociedade de comunhão onde haja partilha e solidariedade e o fim de tantas
formas de opressão e exclusão. Assim, as palavras e ações realizadas por Jesus
são situadas como denúncias contra os poderes vigentes e, ao mesmo tempo,
soam como anúncios proféticos em favor de todas as pessoas marginalizadas
que são convidadas a participar do Reino de Deus. “Os ditos de Jesus são uma
espécie de mecanismo de conscientização dos mecanismos de opressão na
sociedade” (VALDEZ, 2004, p. 27).
Nota-se que mundo de hoje cresce e nele se difunde a intolerância e a discriminação
religiosa, de classe, de gênero e de tantas outras formas. As vítimas destas
práticas são justamente as comunidades ou pessoas mais fracas e vulneráveis:
imigrantes, negros e índios, pobres, desempregados, mendigos e população de
rua, mulheres, comunidades LGBTI, doentes, idosos, enfim, a lista é longa de
todas as pessoas ou grupos que não cabem no modelo capitalista do mercado e,
que na visão de tantas pessoas dos grupos mais privilegiados, deveriam desa-
parecer e serem exterminados da face da Terra. Para este modelo, os excluídos

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são considerados os novos ‘malditos’, que atrapalham e se tornam um estorvo.
Os movimentos populares são acusados de subversivos e perigosos para a elite
dominante e, por isso, defendem que devem ser criminalizados.
Jesus ensina que as mudanças surgem da base, das periferias, da união e fortalecimento
das massas excluídas e que devem ser elas mesmas protagonistas de sua liber-
tação, construindo uma sociedade da inclusão e da partilha. A mensagem de
Jesus de Nazaré ensina também que somos todos irmãos, filhos do mesmo Pai
e, a exemplo do Pai bondoso e compassivo (Lc 15,13-35), os excluídos devem
ser acolhidos como filhos, como irmãos, para participar da festa, na qual há
lugar para todas as pessoas.

JESUS OF NAZARETH AND THE SEPARATIONS OF HIS TIME

Abstract: the official Judaism of the time of Jesus was marked by many separations, as
pure X impure; Jew X Foreign; man X woman; slave X free. Many of these sepa-
rations were the fruit of the traditions that developed in the post-exilic period
and especially affected the poor and marginalized. Jesus of Nazareth confronted
several of them. Even though he is accused of not complying with the Law, he un-
masks the hypocrisy of those who, based on tradition, eventually nullifying and
neglecting God’s own will and commandments to observe their own traditions
(Mk 7, 9). In his practice, Jesus overcomes these separations and welcomes the
excluded, promoting justice. In proposing a break from the teachings of the mas-
ters of the time, Jesus does not go against the revelation of the Holy Scriptures,
but using objective criteria, he gives the sacred texts the correct interpretation,
placing the Word of God at the service of the people’s life and revealing the true
face of God. This practice of Jesus illuminates the current reality marked by
symptoms of discrimination, intolerance and by the new walls of separation and
invites us to practices of inclusion, mercy and justice.

Keywords: Overcoming. Separations. Jesus. Justice. Excluded People.

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