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Macedo, Etiene Oliveira Silva de; Conceição, Maria Inês Gandolfo. Atendimento psicossocial a crianças e
adolescentes em situação de violência: o psicólogo e a rede de atenção

Atendimento psicossocial a crianças e adolescentes em situação de


violência: o psicólogo e a rede de atenção

Psychosocial care for children and adolescents in situation of violence: the


psychologist and the attention network

Atención psicosocial para niños y adolescentes en situación de violencia: el


psicólogo y la red de atención

Etiene Oliveira Silva de Macedo1

Maria Inês Gandolfo Conceição2

Resumo

Este estudo de caso discute o atendimento psicossocial oferecido a crianças e adolescentes em situação
de violência, em um centro de extensão universitário voltado a essa clientela, no município de Goiânia
(GO). Tratou-se de uma família que enfrentava situação de vulnerabilidade social e de violência física,
encaminhada para instituição especializada no atendimento a situações de violação de direitos. Além
do atendimento psicológico, foram necessárias ações para garantir os direitos desses sujeitos, o que
exigiu da psicóloga um posicionamento estratégico para dialogar com outros profissionais e
instituições. Entre os impasses para a eficácia dessas ações, destacaram-se a escassa e demorada
articulação entre os profissionais da rede e a falta de capacitação no sentido de superar formas
tradicionais de atendimento, correndo-se o risco de perpetuar práticas retrógradas e estigmatizantes em
detrimento da doutrina da proteção integral.

Palavras-chave: criança, adolescente, atendimento psicossocial, violência, rede de atenção.

Abstract

This case study discusses the psychosocial care offered to children and adolescents in a situation of
violence, in a university extension center addressed to this clientele, in the city of Goiânia (GO). It was
a family that faced a situation of social vulnerability and physical violence, referred to an institution
specialized in dealing with situations of violation of rights. In addition to psychological care, actions
were required to guarantee the rights of these subjects, which required the Psychologist a strategic
position to dialogue with other professionals and institutions. Among the impasses for the
effectiveness of these actions were the scarce and time-consuming articulation between the network
professionals and the lack of training in order to overcome traditional forms of care, running the risk
of perpetuating retrograde and stigmatizing practices to the detriment of the doctrine of integral
protection.

Keywords: child, adolescent, psycho-social care, violence, network of attention.

1
Doutoranda em Psicologia Clínica e Cultura (UnB). Psicóloga (SES/DF).
2
Pós-Doutora em Psicologia. Professora Associada do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica e
Cultura (UnB).

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Resumen

Este estudio de caso discute la atención psicosocial que se ofreció a niños y adolescentes en situación
de violencia, en un centro de extensión universitario dirigido a esta clientela, en la ciudad de Goiânia
(GO). Fue una familia que se enfrentó a una situación de vulnerabilidad social y violencia física,
referida a una institución especializada en atender situaciones de violación de derechos. Además de la
atención psicológica, se requerían acciones para garantizar los derechos de estos sujetos, lo que exigía
de la psicóloga una posición estratégica para dialogar con otros profesionales e instituciones. Entre los
impases para la efectividad de estas acciones estaban la escasa y demorada articulación entre los
profesionales de la red y la falta de formación para superar las formas tradicionales de atención,
corriendo el riesgo de perpetuar las prácticas retrógradas y estigmatizadoras en detrimento de la
doctrina de protección integral.

Palabras claves: niño, adolescente, atención psicosocial, violencia, red de atención.

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A violência é um fenômeno Hamby, 2005) e com diferentes efeitos


milenar. Ela está presente de diversas (Finkelhor & Dziuba-Leatherman, 1994).
formas na cultura e na sociedade, A violência psicológica é difícil de
legitimada e naturalizada nas relações ser definida operacionalmente devido à
entre grupos (Sudbrack & Conceição, diversidade cultural que legitima algumas
2005). No caso de crianças e adolescentes, práticas violentas, conforme o contexto em
a violência acontece tanto no interior das que ocorrem. O consenso percebido entre
famílias como no contexto extrafamiliar. os autores é de que a violência psicológica
Nos dois casos, trata-se de uma violação traz uma mensagem cultural de
aos direitos sociais básicos, em que as depreciação e rejeição que prejudica a
vítimas são submetidas a relações socialização e o desenvolvimento
interpessoais de violência física, psicológico da criança e do adolescente,
psicológica ou sexual (Conselho Federal provocando grande sofrimento (Abranches
de Psicologia, 2009; Faleiros, 2004; & Assis, 2011; Guerra, 2001).
Habigzang, Hatzenberger & Koller, 2013). As diversas formas de violência são
Em razão da diversidade de também descritas pelas expressões
sintomas e consequências produzidos por negligência e maus-tratos. De acordo com
cada tipo de violência, critérios normativos a Organização Mundial de Saúde, a
foram criados na tentativa de apreender, negligência é um dos tipos de violência
teórica e historicamente, como ela se que deve ser estudada, pois resulta em
materializa nas relações sociais. Essa prejuízos específicos ao desenvolvimento
tentativa de apreensão não esgota suas cognitivo e emocional de crianças e
sutilezas e variações. Neste trabalho, adolescentes (World Health Organization,
optou-se pelas definições apresentadas 2002). A negligência é entendida como a
pelo Conselho Federal de Psicologia omissão dos pais ou cuidadores em suprir
(2009) nas referências técnicas para o as necessidades básicas, físicas ou
atendimento do psicólogo a crianças, emocionais da criança e adolescente,
adolescentes e famílias em situação de mesmo quando as condições estruturais
violência, por considerá-las abrangentes e possibilitam tais cuidados (Guerra, 2001).
fundamentadas em conceituações de Os diferentes tipos de maus-tratos,
importantes autores (por exemplo, que também incluem a violência física e a
Azevedo & Guerra, 1989; Faleiros, 2004; violência psicológica, referem-se às
Guerra, 2001; Souza & Koller, 2013). situações que envolvem ato ou omissão de
Conhecida também como maus- um sujeito em condição superior, capaz de
tratos, a violência física pode ser entendida causar dano físico ou psicológico à vítima.
a partir da intencionalidade daquele que, As situações de maus-tratos que tipificam a
por meio de ação única ou repetida, em vez violência psicológica são aquelas em que,
de assegurar a proteção e cuidado, pratica repetidamente, os adultos convencem a
atos que ferem ou comprometem a criança de que ela é indesejada,
integridade física da criança. Comumente inadequada e sem valor. As situações de
circunscrita à família ou ao convívio com a maus-tratos físicos envolvem todas as
criança, essa forma de violência é situações em que a força física é utilizada
praticada por pais, mães, responsáveis ou de forma intencional para ferir, lesar ou
outra criança e adolescente mais velhos destruir a vítima (Abranches & Assis,
(Pires & Miyazaki, 2005; WHO, 2002). 2011; Pires & Miyazaki, 2005; World
Merece destaque a constatação de que as Health Organization, 2002).
vítimas da violência intrafamiliar com A violência sexual, caracterizada
frequência são objeto de múltiplas pelo abuso e pela exploração sexual, é
vitimizações (Finkelhor, Ormrod, Tuner, & premeditada, intencional, entendida como

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atuação que vêm se estruturando no Brasil,


todo ato ou jogo sexual, relação hetero ou desde a década de 1980, como um campo
homossexual entre um ou mais adultos e prático e simbólico que reflete a retomada
uma criança ou adolescente, tendo por
finalidade estimular sexualmente esta
da democracia no País. Sua composição é
criança ou adolescente ou utilizá-los para permeada por laços institucionais e
obter uma estimulação sexual sobre sua também por relações interpessoais,
pessoa ou de outra pessoa. (Azevedo & concretizados na forma de parcerias que
Guerra, 1989, p. 42) envolvem o poder público e a sociedade
civil nos vários campos de atuação,
Trata-se de qualquer relação em exigindo ações compartilhadas e
que a vontade do adulto é sobreposta à interdisciplinares, dispostas
vontade da vítima, extrapolando os limites horizontalmente do ponto de vista
de poder, de papéis, de regras sociais, de hierárquico (Carvalho, Luz & Assis, 2007;
tabus, familiares, de direitos humanos, Malaquias, 2014).
ultrapassando o que a vítima compreende, No caso do atendimento às vítimas
consente ou faz (Faleiros, 2004). de violência, são requeridas integrações
Embora tais distinções sejam complexas – não necessariamente
necessárias, elas não são terminologias complicadas – em suas diversas frentes de
excludentes. A violência física, por atuação, como Conselhos Tutelares,
exemplo, é também psicológica, e a sexual Juizados Especiais, Centros de Referência
inclui, ao mesmo tempo, violência física e Especial da Assistência Social (Creas),
psicológica. Assim, as variações de Centros de Referência da Assistência
conceituação atuais nada mais são do que Social (Cras) e demais centros de
uma tentativa de abarcar o fenômeno em atendimento especializados. É preciso que
sua complexidade e subsidiar intervenções cada profissional envolvido reflita sobre
concretas. Nenhuma classificação, sua função articuladora na busca do
contudo, esgota a complexidade e o caráter restabelecimento dos direitos violados, a
multideterminado da violência. O que há fim de ir além de uma atuação tecnicista e
em comum nas tipificações da violência é mecânica, na direção de uma prática
a relação de assimetria e desigualdade dinâmica e reflexiva, o que vai exigir um
entre o sujeito dominador e o sujeito nível de elaboração maior para
dominado (Faleiros, 2004; Santos, Ippolito potencializar as ações coletivas (Carvalho,
& Neumann, 2004; Souza & Koller, 2013). Luz & Assis, 2007; Malaquias, 2014). Isso
Embora o Brasil tenha uma das porque, ainda que essa articulação já esteja
legislações mais modernas sobre direitos instituída, do ponto de vista estrutural,
da criança e do adolescente, a violação como no caso do atendimento ancorado no
desses direitos é evidente. Um dos motivos sistema de garantia de direitos, os atores
dessa dificuldade de mudança de precisam saber como se integrar, o que não
paradigma pode ser a lentidão na mudança é tarefa fácil. Parcerias, discussões e
cultural sobre as concepções de infância e planejamentos que se efetivam apenas no
adolescência, que se faz sentir também nos plano político e de gestão são difíceis de
espaços de atendimento (Souza & Koller, serem consolidados na ponta. A literatura
2013). É necessário saber o que fazer (Malaquias, 2014; Santos 2007; Souza &
diante da violação de direitos e, no caso da Koller, 2013) sinaliza a necessidade de
violência que engendra uma complexa estabelecer metodologias que sejam
trama de outros fenômenos, como prioritárias para as equipes de atendimento,
promover o diálogo e a articulação entre as capazes de superar as questões políticas
instâncias de atendimento. Nesse ponto, o que atravancam a prática.
trabalho em rede ganha relevância. Essas dificuldades devem-se
As redes de atenção são formas de

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também ao despreparo dos profissionais da diz respeito a analisar a situação por meio
rede, nas suas diferentes áreas de atuação: de uma leitura mais contextualizada das
saúde, educação ou âmbito jurídico. A queixas trazidas pelos sujeitos atendidos,
atuação fica, então, fragmentada e capaz de compreender a realidade
desarticulada. No entanto, além dos subjetiva e, ao mesmo tempo, as condições
investimentos estruturais e hierárquicos, é objetivas que, simultaneamente, provocam
por meio de uma prática reflexiva que ou mantêm o sofrimento psicológico e
possibilite mudança de paradigma na cerceiam os direitos fundamentais. Assim,
abordagem ao problema da violência o psicólogo deve atuar no sentido da
contra crianças e adolescentes que tem sido emancipação e transformação da realidade
possível articular profissionais e famílias dos envolvidos (Alberto, Almeida, Dória,
no atendimento (Malaquias, 2014, Guedes & França, 2008; Almeida & Goto,
Habigzang et al., 2013). 2011).
Na rede, as ações devem ser Dentro do paradigma da proteção
especializadas e também articuladas para integral, o psicólogo tem um papel menos
promover e garantir direitos das crianças, tecnicista e mais articulador, no sentido de
adolescentes e de suas famílias. É viabilizar direitos. Para isso, ele precisa
fundamental que os profissionais conhecer a legislação, lidar com a
envolvidos se articulem de modo descentralização das tarefas, propor
intersetorial e, também, interdisciplinar, de debates e reflexão na direção da autonomia
modo que se configure a rede de apoio dos sujeitos atendidos (Alberto et al.,
social e de proteção para o enfrentamento 2008).
da violência (Habigzang et al., 2013). A intervenção psicológica fica
Nesse sentido, os serviços então menos focada no fenômeno psíquico
oferecidos em rede devem manter estreita em si e busca sempre as conexões com a
relação com as demais instâncias do poder vida concreta e seus efeitos na vida das
público, como Juizados Especiais, pessoas. De acordo com Alberto et al.
Delegacias, Conselhos Tutelares e (2008), a atuação do psicólogo deve
Ministério Público, a fim de acelerar os orientar-se nos seguintes eixos: diagnóstico
processos decisórios e buscar, em tempo da situação, planejamento das ações e
hábil, resolutividade para os casos. Em estratégias para enfrentamento das
relação à prática do psicólogo no situações de risco, mobilização dos
atendimento a crianças e adolescentes em profissionais da rede em seus eixos de
situação de violência, há uma série de atuação e ações especializadas, com vistas
aspectos presentes que vão muito além da à prevenção e tratamento, conforme a
prática clínica tradicional. Tal demanda.
complexidade exige desse profissional um Neste estudo, optou-se pela
posicionamento ético-político, por meio de nomenclatura atendimento psicossocial,
ações que se estendem também ao âmbito dado o entendimento de que as estratégias
psicossocial (Silva & Vecina, 2002). Além utilizadas nesse atendimento envolvem,
de buscar a redução dos prejuízos concomitantemente, aspectos psicológicos
psicológicos sofridos, o atendimento deve e sociais, tornando imperativo, por
visar à mudança nas condições objetivas exemplo, que os serviços oferecidos se
geradoras ou facilitadoras da dinâmica da estendam à família por meio da articulação
violência, incluindo atenção física, com a rede de atenção. A intervenção
psicológica, econômica e social, oferecidas psicossocial refere-se a uma prática
a todos os envolvidos, ou seja, à vítima, à comprometida com o empoderamento do
família e ao autor da violência. sujeito e com o incentivo na busca de
Esse compromisso ético-político soluções para suas dificuldades que façam

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sentido em sua história de vida, em total de demanda espontânea ou por


consonância com o contexto social, encaminhamento pela Vara da Infância e
político, econômico e cultural do sujeito Juventude, Conselho Tutelar ou Creas. As
(Costa & Penso, 2010). parcerias firmadas com esses órgãos
Assim, pretende-se, por meio de viabilizam a articulação política e a criação
um relato de experiência, discutir a atuação de condições para atendimento às famílias
da psicóloga com crianças e adolescentes em situação de violência.
em situação de violência, a partir de sua Entre os objetivos da instituição
inserção na rede de atenção. Para essa estão: desenvolver de forma sistemática e
reflexão, objetivou-se conhecer como se contínua o atendimento individual ou
efetiva a prática do psicólogo em grupal às famílias e capacitação de
instituição especializada no atendimento a profissionais e pesquisadores que estudam
essa população. a temática. Como ações destacam-se:
atendimento individual e grupal, visitas
Método domiciliares, reuniões técnicas, palestras,
visitas a escolas e apoio pedagógico.
O estudo de caso foi adotado como
metodologia. As reflexões aqui presentes Caracterização dos participantes
foram ocasionadas pelo atendimento
psicossocial oferecido a uma família em A família participante deste estudo
um Centro de Extensão Universitária, no era composta por cinco membros: a mãe,
município de Goiânia, especializado na padrasto, duas filhas e um filho. Ela foi
oferta de serviços a crianças, adolescentes encaminhada à instituição por um dos
e famílias em situação de violência. Na Creas do município e selecionada para este
doutrina da proteção integral, esses estudo em função da problemática de
serviços situam-se no eixo dos serviços violência intrafamiliar por eles
especiais de atendimento psicossocial às apresentada, considerada relevante para se
vítimas da violência em suas múltiplas aprofundar no conhecimento sobre a
formas de expressão. atuação do psicólogo nesse espaço. O
Os serviços oferecidos por esse quadro 1 apresenta a caracterização do
centro de extensão incluem acolhimento às grupo familiar:
famílias em situação de violência, a partir

Quadro 1. Características sociodemográficas (grau de parentesco, idade, escolaridade,


ocupação e renda) dos membros da família participante do estudo

Grau de Idade Escolaridade Ocupação Rendimento


parentesco
Mãe (J.) 26 anos Ensino Fundamental incompleto Doméstica 1salário mínimo
Padrasto (A.) 23 anos Ensino Fundamental incompleto Auxiliar de 1salário mínimo
construção civil
Filha (R.) 14 anos 7º ano do Ensino Fundamental Estudante Sem renda
Filho (I.) 12 anos 4º ano do Ensino Fundamental Estudante Sem renda
Filha (M.) 10 anos 2º ano do Ensino Fundamental Estudante Sem renda

A mãe e o padrasto não eram escola municipal e todos estavam cursando


casados legalmente e trabalhavam cerca de o ensino fundamental. A renda mensal
10 horas por dia, sem carteira assinada: ela total da família era de aproximadamente
como doméstica e ele como auxiliar de dois salários mínimos. Moravam em casa
construção civil. Os filhos estudavam em de alvenaria alugada e não participavam de

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nenhum programa de complementação de coloridas e lavabo. Os participantes


renda. A convivência nesse grupo familiar compareciam semanalmente ou
era conflituosa: os irmãos se agrediam quinzenalmente às sessões, que tinham
física e verbalmente; a mãe queixava-se duração de 1h30. Nessas ocasiões,
das dificuldades de estabelecer limites para oferecia-se escuta, apoio e orientação às
os filhos e a distribuição de tarefas e demandas por eles trazidas, que se
responsabilidades entre os membros do referiam às dificuldades relacionadas tanto
grupo era desequilibrada. A queixa da mãe à dinâmica familiar quanto às encontradas
estava relacionada à filha caçula que, com no contexto do qual a família fazia parte.
frequência, fugia de casa e retornava As dificuldades eram: extensa jornada
somente dois ou três dias depois. diária de trabalho da mãe; ausência da
participação do padrasto na educação dos
Aspectos éticos adolescentes; inexistência de supervisão na
realização das atividades escolares;
O caso apresentado foi desorganização na distribuição das tarefas;
desenvolvido no contexto de estágio inexistência de regras e acordos sobre a
obrigatório do curso de graduação em rotina da família; necessidades financeiras
Psicologia, na clínica-escola da instituição. básicas e dependência de terceiros para
Por se tratar de serviços oferecidos no satisfação de necessidades materiais como
contexto do ensino, pesquisa e extensão, os roupas e calçados.
participantes foram informados de que o Para a coleta e organização das
atendimento oferecido poderia ser utilizado informações, foram utilizados o diário de
para fins acadêmicos. O estudo está de campo, a observação participante e a
acordo com o art. 16 do Código de Ética leitura dos registros dos atendimentos nos
Profissional do Psicólogo. Quando prontuários. Os atendimentos realizados na
receberam informações sobre o caráter instituição tinham o objetivo de escutar,
voluntário de sua participação e o sigilo identificar as demandas trazidas pela
das informações, eles assinaram o termo de família e instrumentalizá-la quanto aos
consentimento livre e esclarecido e seus direitos sociais básicos. Além disso,
aquiesceram em participar da pesquisa. foram realizados: visita domiciliar, visita
Foram também informados de que ao local de trabalho da mãe,
poderiam interromper sua participação no encaminhamentos e relatórios ao Conselho
estudo a qualquer momento, sem prejuízos Tutelar responsável e reuniões com os
no atendimento oferecido pela instituição. atores integrantes da Rede de Atenção para
discussão do caso. O atendimento foi
Procedimentos delineando-se à medida que as demandas
surgiam, o que exigiu flexibilidade e
A família foi acompanhada por criatividade para ajustar as atividades às
aproximadamente nove meses. Todo o necessidades da família. Havia situações
processo foi realizado nas dependências da em que nem todos os membros do grupo
instituição, em salas para atendimento compareciam, o que demandava adaptação
psicológico com uma mesa redonda, cinco na abordagem que estava prevista. Além
cadeiras, uma estante com brinquedos, disso, eram recorrentes os episódios de
bonecas e jogos, tapete com almofadas fuga de uma das crianças. Os quadros 2 e 3

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exibem como foi estruturado o atendimento.

Quadro 2. Procedimentos, participantes previstos, participantes presentes, objetivos dos


atendimentos e instrumento ou técnica utilizada

Procedimentos Participantes Participantes Objetivos Instrumento ou


previstos presentes técnica
utilizada
Acolhimento Mãe, padrasto e Mãe e a filha (10a) Conhecer a família, Conversa
filhos Filho (12a), filha identificar as demandas informal em
(14a) e padrasto para atendimento e círculo e
ausentes esclarecer sobre o apresentação do
atendimento psicossocial local de
atendimento
1º encontro Mãe e os três Mãe, filho (12a) Fortalecer vínculo com as Conversa em
filhos filha (10a) crianças atendidas e mesa redonda,
Filha (14a) ausente orientar sobre o ECA ECA, papel e
caneta
2º encontro Mãe e os três Mãe e filho (12a) Oferecer escuta e dar Conversa em
filhos Filhas (10a e 14a) orientações quanto aos mesa redonda,
ausentes direitos individuais ECA, papel e
caneta
3º encontro Mãe e os três Mãe e filho (12a) Oferecer escuta e dar Conversa em
filhos Filhas (10a e 14a) encaminhamentos mesa redonda
ausentes

4º encontro Mãe e os três Mãe, filho (12a) e Orientar, estabelecer Uso de


filhos filha (10a) acordo com a família para fantoches
Filha (14a) ausente evitar fugas da filha
5º encontro Mãe e os três Mãe, filho (12a) Identificar potencialidades Uso de
filhos Filhas (10a e 14a) da família almofadas para
ausentes apresentação da
família
6º encontro Mãe e os três Todos os previstos Explorar as potencialidades Uso de
filhos compareceram da família fantoches com
figuras humanas
para simular
diálogo entre os
participantes
7º encontro Mãe e padrasto Mãe Conhecer a dinâmica do Conversa em
Padrasto ausente casal e como ela interfere sala de
na relação com os filhos atendimento
8º encontro Mãe e os três Mãe Oferecer escuta, orientar a Conversa em
filhos Filhos ausentes mãe sobre educar/criar sala de
filhos atendimento
9º encontro Mãe e os três Filho (12a) e filha Trabalhar laços afetivos, Brincadeira
filhos (14a) promover momento de colaborativa
Mãe e filha (10a) trocas com blocos de
ausentes montar e
mediação de
diálogos

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10º encontro Mãe e os três Mãe, filha (10a) e Oferecer escuta, orientar Conversa em
filhos filho (12a) quanto ao andamento do sala de
Filha (14a) ausente caso atendimento

Quadro 3. Outros procedimentos relacionados ao atendimento psicossocial, participantes


previstos, participantes presentes e objetivos

Procedimento Participantes Participantes Objetivos


previstos presentes
Visita domiciliar Mãe, padrasto e filhos Filho (12a) e filha Conhecer o contexto da família – visita
(10a) realizada por uma psicóloga e uma
estagiária.
Visita ao local de Mãe Mãe Conhecer o ambiente da mãe, distância
trabalho da mãe até a residência, jornada diária
trabalhada.
Visita à escola Diretora da escola Diretora da escola Conhecer o contexto escolar da criança
das crianças referida na queixa e pleitear possível
parceria no atendimento.
Reunião de Psicóloga, estagiária Psicóloga, estagiária de Discutir o caso, fazer
articulação com de Psicologia, Psicologia e encaminhamentos e definir tarefas.
Conselho Tutelar Assistente social e Conselheiro Tutelar
Conselheiro Tutelar

Resultados mostrava-se vulnerável, com carências


extremas, de até, por exemplo, recurso
Os resultados a seguir descrevem a financeiro para comparecer ao local do
trajetória percorrida pela família durante o atendimento e também com o mínimo
atendimento psicossocial e problematizam conhecimento sobre seus direitos. O que a
as especificidades dessa abordagem, a mãe sabia era que, “esse negócio a gente
partir do envolvimento da psicóloga nos sabe que tem que chamar o Conselho
diferentes momentos do atendimento. Tutelar” [sic], ao se referir às fugas da
filha mais nova, evento que motivou o
Caracterização do atendimento encaminhamento para atendimento
psicossocial psicossocial.

Qualquer que fosse o atendimento O acolhimento


pretendido com a família, ele estava
demarcado por um lugar específico: de um O primeiro contato com a família
lado, as demandas afetivas trazidas por teve o objetivo de escutar sua queixa,
eles, e de outro, a situação material, oferecer orientações sobre seus direitos e
concreta, na qual essas demandas criar vínculo para um possível
compareciam, envolvendo situações de atendimento. Nesse contato, a mãe (J.) e o
necessidades econômicas, exploração e filho (I.) de 12 anos compareceram. Na
relações desiguais, tanto no ambiente ocasião, a psicóloga e a estagiária de
familiar quanto no contexto social. A psicologia acolheram a família e
família, desde o primeiro contato, explicaram o funcionamento e a rotina da

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instituição, mostrando também as polegadas colorida e alguns porta-retratos.


dependências físicas do local. Além do No quarto das crianças havia duas camas,
atendimento familiar, o adolescente foi sendo que a filha mais velha (R.), de 14
convidado a participar das atividades anos, dormia no sofá ou no chão.
desenvolvidas na biblioteca da instituição e As crianças estudavam em turnos
na sala de informática, disponível para que alternados porque “brigavam muito”, disse
jovens e adolescentes da comunidade I. (12 anos). Naquela tarde, a menina havia
realizassem pesquisas, atividades faltado à escola porque o uniforme não
educativas e acadêmicas. No acolhimento, estava limpo, de acordo com seu relato.
o contrato foi estabelecido, resguardando- Quando perguntadas sobre a rotina diária,
se a privacidade, o sigilo e a importância as crianças afirmaram que a mãe deixava o
do envolvimento da família no almoço pronto no dia anterior e que elas se
atendimento. Firmou-se com a mãe uma organizavam ao longo do dia. Segundo M.
agenda de encontros semanais em que seria (10 anos), a mãe sempre solicitava auxílio
importante a participação da família, com à vizinha que residia na casa da frente,
duração aproximada de 1h30 para para observar se os filhos permaneceriam
orientações e mediação dos conflitos em casa.
familiares relatados. M. (10 anos) afirmou que a família
não compareceu ao atendimento porque a
A visita domiciliar mãe não dispunha do recurso financeiro
para deslocamento até o local de
A visita domiciliar foi realizada atendimento. No momento da visita, foram
pela psicóloga e pela estagiária, na terceira feitas tentativas de contato com a mãe,
semana de atendimento, já que, após o pelo celular, mas, sem sucesso. Então, a
acolhimento, a família não compareceu ao psicóloga deixou um recado por escrito
atendimento agendado para a semana informando que ela poderia comparecer na
seguinte. Na ocasião, buscou-se conhecer a semana seguinte, pois seria ressarcida do
realidade socioeconômica da família, as gasto realizado com esse deslocamento.
imediações e as condições da residência, Pelo fato de a mãe não estar
bem como investigar os prováveis motivos presente, as profissionais não se
do não comparecimento ao atendimento. demoraram na visita. Tentou-se contato
Estavam presentes na residência com a vizinha que morava na residência da
apenas os filhos mais novos I. (12 anos) e frente, mas não havia ninguém na casa. No
M. (10 anos). Enquanto a menina dia seguinte, a mãe telefonou e afirmou
observava a rua do portão, o menino que se esquecera do atendimento marcado
soltava pipa no terreno baldio ao lado da e não sabia se poderia procurar a
residência. Sem nenhuma desconfiança ou instituição novamente. Ela afirmou: “Eu
receio, as crianças convidaram as achei que tinha perdido a vaga por não ter
profissionais para entrar, mostraram toda a ido” [sic]. Encerrada a visita, a psicóloga
casa e contaram sua rotina. A casa tinha preencheu o prontuário da família com a
dois quartos, uma sala, uma cozinha e uma descrição das observações e buscou auxílio
área de serviço vinculada ao banheiro. A financeiro no Creas para custear o
pintura, desgastada, aparentava sujeira e transporte da família ao local do
mofo. O chão também parecia sujo e havia atendimento.
uma grande quantidade de louça suja A visita domiciliar foi importante
dentro da pia, na cozinha. Na sala havia para assegurar a continuidade do
um sofá de três lugares, uma estante de atendimento, garantindo a frequência e
ferro contendo uma televisão de 21 participação nos encontros subsequentes.

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Macedo, Etiene Oliveira Silva de; Conceição, Maria Inês Gandolfo. Atendimento psicossocial a crianças e
adolescentes em situação de violência: o psicólogo e a rede de atenção

A mãe compreendeu que a instituição tinha estar previamente agendada, para


como objetivo oferecer um espaço de comunicar a fuga da filha, referindo ser ali
trocas entre os profissionais e a família, a o único local de apoio e orientação que
fim de que todos refletissem e buscassem efetivamente encontrara na busca de
soluções para os conflitos existentes em solução para a problemática vivida por sua
suas relações. família. A psicóloga fez a notificação ao
Conselho Tutelar a fim de que fossem
O atendimento na instituição tomadas as medidas legais para o retorno
da criança à convivência com a família.
A situação de vulnerabilidade Três dias depois, M. retornou para casa,
social da família contribuiu para a não por intervenção do Conselho, mas sim
compreensão das queixas trazidas pela mãe por pensar que sua mãe estaria preocupada
que ocasionaram o atendimento. Durante o e pela “saudade que sentia dos irmãos”,
período em que foram atendidos, M. fugiu disse M..
de casa três vezes, num intervalo Numa das sessões, ao se
aproximado entre 15 e 20 dias. Todas as problematizar o que levaria M. a sair de
vezes que saía de casa, procurava abrigo na casa, o irmão afirmou que ela fugia de casa
residência de vizinhos, às vezes até “porque era rebelde e precisava mesmo era
desconhecidos da família, alegando que de levar uma taca” [sic]. Essa afirmação
não poderia voltar para casa por sofrer provocou risos e brincadeiras entre eles,
maus-tratos por parte do padrasto e irmãos. inclusive a mãe endossou essa fala com
Exposta a situações de negligência, risco afirmativas tais como: “bota de castigo no
do uso de drogas e trabalho infantil, ela milho”, “só se deixar amarrada no pé da
chegou a permanecer até sete dias longe de mesa”. Eram recorrentes essas afirmações,
casa e, quando retornava, sofria rigorosas seguidas de risos e brincadeiras; todas as
punições físicas do padrasto. vezes que elas aconteciam, a psicóloga
Numa das ocasiões, a menina mediava uma reflexão a partir das próprias
procurou abrigo na residência de um frases que eram por eles mencionadas.
catador de papelão que ficava próximo à Houve uma ocasião em que a mãe
sua casa. Em troca, M. o acompanhava silenciou-se e, em seguida, afirmou não
diariamente no trabalho pelas ruas, sem saber o que fazer com os filhos,
acesso regular à alimentação, cuidados provocando comoção e lágrimas entre eles.
básicos de higiene e também sem Ao descrever o que fazia quando
frequentar a escola. Assim como nas fugia de casa, M. relatava atividades até
ocasiões anteriores, quando soube onde se mais penosas do que fazia em casa, tais
encontrava a filha, a mãe foi buscá-la, mas como trabalho infantil e riscos de
não obteve sucesso. Mesmo após ter exploração sexual. Mas, afirmava também
acionado a polícia, a mãe (J.) sofreu que “pelo menos ali não apanhava, fazia
ameaças desse vizinho por insistir em levar amigos e era melhor do que ficar em casa”.
a filha. Segundo relata, no momento em Porém, ao mesmo tempo, ela mencionava
que ela tentou explicar a situação aos saudade dos irmãos, da mãe, e o desejo de
policiais, eles orientaram-na a retornar para viver em harmonia com a família,
casa, supondo que esse vizinho dizia a sentindo-se ora rejeitada, ora valorizada
verdade. Sem argumentos, sentiu-se pelos irmãos, pelo padrasto e pela mãe.
coagida, obedeceu aos policiais e voltou
para casa sem a filha. A articulação com a rede de atenção
No dia seguinte, a mãe compareceu
ao local dos atendimentos, mesmo sem A participação do Conselho

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adolescentes em situação de violência: o psicólogo e a rede de atenção

Tutelar, da escola e da Delegacia de pedia ajuda ao Conselho Tutelar.


Proteção à Infância, também foram Segundo a diretora, a escola lidava
solicitadas pela psicóloga. Depois da diariamente com a evasão de grande
notificação ao Conselho Tutelar, foi quantidade de alunos, contava com
realizada também uma reunião a fim de limitado número de professores e possuía
estudar o caso e definir uma estratégia de condições físicas precárias. Ficou acordado
atendimento. O conselheiro tutelar, a que, em caso de ausência dos filhos de J. à
psicóloga e a estagiária de psicologia escola, o Conselho Tutelar e a psicóloga
compareceram à reunião. As informações seriam informados. Caso essas ausências
sobre a situação da família foram continuassem ocorrendo, cogitou-se a
compartilhadas e o Conselho Tutelar possibilidade de acionar o Juizado da
solicitou uma avaliação psicológica de M., Infância e Juventude e o Ministério
alegando ser possível que ela fosse Público para outras providências locais que
portadora do transtorno de déficit de pudessem assegurar a frequência das
atenção e hiperatividade. A psicóloga crianças à escola e proteger a família.
afirmou não considerar prioritária a Devido às peregrinações de M. pela
avaliação, já que se tratava de uma casa de vizinhos e pessoas estranhas que a
situação de vulnerabilidade social de toda a exploravam, a mãe (J.) procurou a
família e não um sintoma isolado da Delegacia de Proteção à Infância, a fim de
criança. A reunião foi breve, não resolutiva realizar uma denúncia. Essa experiência,
e deixou a impressão de isolamento, de segundo relatou, foi constrangedora, pois
que, ao final, cada profissional da rede foi advertida pela autoridade local de que
executaria o que fosse de sua competência, seria a única responsável caso algum fato
em sua própria área de atuação e sem grave ocorresse com sua filha. A mãe
interlocução intersetorial. também relatou que saiu da delegacia com
Durante visita à escola, os medo de perder a filha, pois se sentiu
primeiros resultados também não foram ameaçada e culpada pela situação que
promissores. A intenção da conversa foi estava vivenciando. Depois dessa
identificar, na escola, o que poderia ocorrência, não houve contato da delegacia
contribuir para o fortalecimento de com a instituição responsável pelo
vínculos dos filhos de J. e também protegê- atendimento para troca de informações e
los, propondo, por exemplo, atividades que providências.
pudessem ser incluídas na rotina
extraclasse deles, em tarefas que Discussão
estimulassem sua participação.
A diretora da escola informou que O atendimento psicossocial em
M. era uma criança inteligente, mas situações de violência demanda diálogos,
atrapalhada, que conversava muito e interlocuções e metodologias que possam
prestava pouca atenção às aulas. ser constantemente repensadas conforme o
Mencionou que sentia pena da mãe, porque fluxo estabelecido na articulação em rede.
ela trabalhava longas jornadas diárias e não Ferrari (2002) aponta a necessidade de que
podia “controlar” o que os filhos faziam. essa atuação seja viabilizada por uma
Quando foi perguntado qual era o equipe multidisciplinar, a fim de se
procedimento da escola em caso de faltas estabelecer conjuntamente as ações
recorrentes dos alunos, a diretora informou terapêuticas, legais e de proteção, dentro
que tentava contatar os pais por telefone, dos eixos da defesa, promoção, controle e
mas que, na maioria das vezes, isso era efetivação dos direitos humanos.
difícil. Quando isso se tornava inviável, É certo que, em se tratando de

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adolescentes em situação de violência: o psicólogo e a rede de atenção

atendimento em rede, a prática Nesse ponto, questiona-se: qual a


interdisciplinar é desejável, se não concepção de infância, de
condição indispensável para a efetiva desenvolvimento infantil que deve embasar
articulação, mediante discussão, a avaliação psicológica de uma criança que
planejamento e atuação conjunta. Nesse sofre maus-tratos por parte de pessoas que
quesito, o atendimento em questão oscilava deveriam oferecer cuidados e proteção?
entre potencializar o entrelaçamento de Qual diagnóstico psicológico é esperado
ações, visando à transformação da para justificar a intervenção em uma
realidade encontrada ou manter os situação evidente de risco social?
profissionais da rede em seus Embora se reconheça a importância
“especialismos” e saberes, resultando e a necessidade desse instrumento,
numa prática de pouco alcance para a principalmente em situações de violência
complexidade das demandas. sexual, o que se observa é o risco de o
No caso citado, o acolhimento foi profissional de Psicologia fortalecer
de extrema importância para a criação do modelos normativos homogêneos de
vínculo com a família. A escuta empática, classificação do que é considerado normal
acolhedora e a abstenção de julgamentos e patológico, sem considerar os espaços
morais foram fundamentais para o onde essas patologias acontecem. Por sua
atendimento subsequente. Desde o vez, a avaliação psicodiagnóstica pode
primeiro contato até a busca espontânea da estar a serviço da revitimização da criança,
família por ajuda na instituição, nos ao se endereçar a ela a responsabilidade
episódios de fuga de M., foi a psicóloga por sua condição de sofrimento.
quem compareceu como referência e elo De acordo com Cruz e Guareschi
entre a família atendida e os outros (2004), num contexto de vulnerabilidade
profissionais da rede de atenção. como o exposto, a falta de um
Durante a reunião para estudo do posicionamento crítico do profissional no
caso, mesmo sabendo da situação de desenvolvimento das estratégias de
violência física e psicológica de M., o enfrentamento da violência pode fortalecer
Conselho Tutelar solicitou o a ideia de que famílias pobres são
psicodiagnóstico da menina, sob a hipótese incapazes de cuidar de seus filhos, o que,
de que suas recorrentes fugas estariam não por coincidência, reproduz as práticas
relacionadas a alguma psicopatologia. Não psicológicas que ocorriam durante a
obstante o contexto familiar evidenciasse a vigência dos Códigos de Menores de 1927
situação de vulnerabilidade de todo o e 1979.3
grupo, a medida prioritária do Conselho foi
a de atribuir uma causalidade interna à 3
Historicamente, houve duas doutrinas anteriores
própria criança por suas fugas, quando à postulada pelo ECA (Brasil, 1990) que
deveria ser a de zelar pelo cumprimento inspiraram o Estado e a sociedade na forma de
dos direitos e sugerir as medidas conceber e tratar a criança e o adolescente: a
adequadas de proteção à criança. A Doutrina do Direito Penal do Menor expressa no
Código de Menores de 1927 e a Doutrina da
avaliação psicodiagnóstica não foi Situação Irregular, do Código de Menores de
realizada porque mais urgente era buscar 1979. A normativa proposta por esses dois
os indicadores relacionados à violência instrumentos tinha sua gênese fundamentada na
vivenciada pela família e o planejamento concepção histórica sobre as crianças e
de ações que pudessem oferecer à família adolescentes como seres inferiores aos adultos e
propunha a categoria “menor” para designar um
subsídios para enfrentar tal situação, e não grupo específico de crianças e adolescentes. O
a obtenção de um perfil psicológico para ECA faz uma ruptura com essa concepção e, a
justificar as fugas da criança. partir disso, realoca crianças e adolescentes como
sujeitos em condição especial de

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adolescentes em situação de violência: o psicólogo e a rede de atenção

Somado a isso estão os entraves mãe, ele afirmava não ter responsabilidade
que perpassam a atuação do Conselho com os adolescentes por não ser o pai
Tutelar. O desconhecimento jurídico e biológico. Entretanto, assumia práticas
técnico, por exemplo, compromete a educativas coercitivas no cotidiano,
resolutividade dos casos. Conselheiros e quando não conseguia o controle sobre o
profissionais da rede precisam discutir e se comportamento deles. Segundo relataram
organizar sobre o fluxo do atendimento, as crianças, ele usava de violência física
assumindo cada um a sua competência. O com M. quando ela retornava para casa,
Conselho Tutelar precisa saber encaminhar após as fugas. Apesar de malsucedida,
e apontar quais procedimentos serão mais havia ali uma tentativa de negociação da
adequados às especificidades dos casos hierarquia das relações. Porém, a mãe o
atendidos. O que ocorre com frequência, desqualificava e não permitia qualquer
entretanto, é que muitos desses conselhos forma corretiva com os filhos, o que
são tidos como pequenas delegacias, onde provocava discussões e xingamentos entre
a criança e o adolescente são levados pela os membros da família.
família ou pela escola, como último pedido Os episódios vivenciados pela
de ajuda (Batista & Cerqueira-Santos, família de negligência de outros
2012; Conceição & Penso, 2014). equipamentos sociais e a abordagem
O que parece ocorrer é que ainda policialesca e punitiva por parte das
não há uma sólida construção da autoridades acionadas pela mãe mostram
identidade do Conselho Tutelar. Talvez como é urgente uma revisão
seja porque esse órgão não conseguiu se paradigmática. Muitas vezes, o profissional
consolidar, o que o leva a mostrar uma está despreparado para o enfrentamento da
ação fragilizada e improvisada no percurso violência, para a medida que sua
do caso (Batista & Cerqueira-Santos, 2012; complexidade requer. A limitada
Malaquias, 2014). capacitação daqueles que estão envolvidos
Em relação ao atendimento na rede de atenção parece ser outro desafio
realizado no interior da instituição, a ser superado (Souza & Koller, 2013).
considerando-se as dificuldades de No evento em que a mãe não
comparecimento de todos os membros do conseguiu retornar para casa com sua filha,
grupo familiar ao mesmo tempo, procurou- quando foi buscá-la, por exemplo, era
se valorizar a participação daqueles que inviável à psicóloga exercer nesse contexto
estavam presentes, como agentes a voz de polícia e ordenar que aquele
cuidadores de sua família. Não é novidade desconhecido devolvesse a criança à
que as situações de violência enfrentadas família. Ambos, profissional e família,
por crianças e adolescentes sejam ainda ficaram na expectativa de uma ação mais
hoje banalizadas e aceitas pela sociedade assertiva da Polícia e do Conselho Tutelar,
como formas educativas. Isso ressoa o que não ocorreu. Pelo contrário, a
diretamente na forma como o grupo abordagem do policial foi extremamente
familiar lida com as situações identificadas ameaçadora, cabendo, ali, outra denúncia
e se fez presente nesse caso. de violação do direito fundamental à
Por exemplo, o padrasto dos convivência familiar e de abuso de poder.
adolescentes não comparecia aos encontros Nesse ponto, a psicóloga sentia-se
quando era convidado. Segundo relatou a impotente, ao tentar movimentar-se
sozinha na rede de atenção. Obviamente,
buscar responsáveis pelos entraves do
desenvolvimento, prioridade absoluta, atendimento não contribuiria para sua
independentemente de sua condição
socioeconômica.
resolução. Por sua vez, o trabalho

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fragmentado e isolado contribui ainda principalmente, ficavam limitadas, na


menos para que o atendimento alcance medida em que careciam da
bons resultados. complementaridade da intervenção
Desde o encaminhamento do caso conjunta da psicóloga e dos demais
feito pelo Creas até a sua resolução, que profissionais da rede de atenção.
necessitou da articulação de outros Contraditoriamente, essa
profissionais da rede de atenção, percebe- complexidade de fatores é que tornou
se uma lacuna entre a proposta teórica da possível repensar tais estratégias,
atuação em rede de atenção e sua possibilitando a reflexão sobre o lugar do
concretização. As dificuldades encontradas psicólogo nessa rede que é,
durante o atendimento oferecido à família eminentemente, um lugar educativo-
corroboram a afirmativa dos autores político. Cabe ao psicólogo ratificar o
citados sobre os desafios para a atuação status de sujeitos em desenvolvimento
dessa rede (Conceição & Penso, 2014; conferido à criança e ao adolescente. Eles
Malaquias, 2014; Santos, 2007; Souza & não devem ser subjugados, mas alocados
Koller, 2013). com proeminência nas ações e políticas
As ações precisam ser efetivadas sociais.
por meio de um planejamento Por ocasião do encerramento do
sistematizado e integrado, em termos de estágio, o caso foi repassado a outro
procedimentos e encaminhamentos, e por profissional da instituição para
uma prática constante de reflexão pautada continuidade das ações desenvolvidas. O
no compromisso ético-político com atendimento psicossocial oferecido
sujeitos que têm o direito de participar dos possibilitou um processo prático-reflexivo
processos decisórios relacionados à sua visando a incentivar a família a buscar
própria vida (Souza & Koller, 2013). De autonomia e valorizar seu potencial
igual modo, o potencial do atendimento cuidador, do ponto de vista de sua inserção
fica restrito à limitação do profissional e à na rede de atenção. A partir da análise do
sua capacidade de se posicionar contexto familiar, tentou-se fazer a
criticamente dentro da rede, de saber a sua articulação com os demais órgãos de
função e também o alcance desse proteção, como a Delegacia de Proteção à
atendimento no combate e na prevenção da Infância e o Conselho Tutelar, na tentativa
violência. de discutir o fluxo do atendimento e,
Segundo Contini (2003) e também, trocar informações sobre o papel
Malaquias (2014), as dificuldades dessa de cada profissional como agente de
articulação se devem ao fato de ainda proteção.
serem incipientes as reflexões sobre a Porém, a rede de atenção falhou
prática nesses espaços. Sem uma reflexão quanto à efetiva articulação, no sentido de
contínua, dificilmente será possível promover ações para garantir direitos. Em
garantir direitos. Pelo contrário, corre-se o vez de ser o alvo da ação, a família foi
risco de, equivocadamente, manter práticas considerada a única responsável por seu
tutelares e assistencialistas sob o discurso aparente desajuste. Nesse aspecto, o
de emancipação e cidadania. atendimento oferecido pela psicóloga foi
Talvez por isso a articulação complicado, pois não era possível avançar
durante o atendimento psicossocial nas estratégias de atendimento, já que os
oferecido a essa família tenha ocorrido de parceiros da rede não executaram em
forma tão descontinuada. O percurso desse tempo as ações planejadas e discutidas.
atendimento foi sinuoso, as estratégias Infelizmente, meses depois de
foram criadas e modificadas, mas, encerrado o atendimento desse caso, foi

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noticiado pelos veículos de comunicação eficiência e da eficácia das ações em


que a primogênita de J., (R.), de 14 anos de situações complexas como a relatada
idade, havia sido assassinada por requer a atuação em rede dos serviços de
envolvimento com drogas. atenção e proteção. Mas, se não há
interconectividade na rede e os setores não
Considerações finais dialogam nem se complementam, não se
pode sequer afirmar que haja uma rede de
Conforme ilustrado nesse atenção e sim serviços estanques que
atendimento, a morosidade do processo de esgotam seus fazeres e suas competências
articulação da rede, os equívocos na em intervenções isoladas. Também é certo
abordagem à família, a desqualificação de que o mero encaminhamento a outro
profissionais envolvidos e as concepções serviço sem o devido acompanhamento
de infância e adolescência subjacentes ao não se configura como uma ação efetiva de
atendimento podem tipificar uma prática trabalho em rede, pois se trata de uma ação
que ainda demanda muita produção de isenta de compromisso e responsabilidade
conhecimento. Como limites do diante do caso, bem como ao seu
atendimento oferecido, destacam-se: interlocutor, e não garante necessariamente
irregularidade na frequência dos membros o desfecho almejado.
da família aos encontros, tempo restrito de Uma vez que o objetivo é garantir
atendimento por se tratar de um campo de direitos fundamentais, pergunta-se neste
estágio; ausência de um protocolo para ponto: como prover à criança e ao
supervisão e orientação da prática da adolescente as condições para que sua
estagiária, o que impediu um melhor e integridade física e psicológica seja
maior alcance das intervenções. preservada? Como garantir o direito à
Além disso, uma escuta de gênero convivência familiar e social de modo
teria sido fundamental para orientar a mãe saudável?
e mantenedora da família. Produzir Não há respostas simples. As
conhecimento sobre esse tema e propiciar possibilidades de uma prática integradora e
novos diálogos com a família poderia ter articulada implicam a revisão de
sido outro caminho, outra direção paradigmas éticos, morais, sociais,
construída com a família. Entretanto, as políticos e jurídicos, para que a proteção
questões de gênero sequer foram integral seja garantida (e não a reprodução
abordadas ao longo da formação. da visão dos Códigos de Menores). O
Em relação aos temas crianças, sistema de garantia de direitos implica uma
adolescentes e violência, faz-se necessário, visão holística no atendimento a essas
acima de tudo, uma mudança de paradigma famílias, a fim de preencher lacunas e
sobre as concepções de infância e superar a distância entre o que está
adolescência, a fim de se propor uma proposto na lei e o que realmente é
atuação diferenciada dos profissionais que efetivado.
visem a oferecer assistência por meio dos Pode-se afirmar que a superação de
equipamentos legais de proteção. formas tradicionais de atendimento a
Estruturalmente, a rede de atenção está crianças e adolescentes em situação de
posta, mas sua efetiva atuação perpassa violência requer uma mobilização
aspectos de ordem subjetiva e constante no sentido da capacitação e
epistemológica, inteiramente relacionados avaliação dos profissionais envolvidos, de
à capacitação profissional (Malaquias, modo que o reordenamento do
2014; Souza & Koller, 2013). atendimento previsto na doutrina da
Em suma, sabe-se que a garantia da proteção integral alcance com eficácia seus

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adolescentes em situação de violência: o psicólogo e a rede de atenção

objetivos. A complementaridade técnica serviços? In M. L. Oliveira, & S. M.


entre os profissionais deve substituir os G. Sousa (Eds.). (Re)Descobrindo as
modelos verticalizados de atuação. Para faces da violência sexual contra
isso, é necessário que cada um saiba crianças e adolescentes (pp. 19-51).
refletir sobre seu papel dentro dessa rede, Goiânia: Cânone.
comprometido ética e politicamente com a Conceição, M. I. G., & Penso, M. A.
promoção e defesa dos direitos da criança (2014). O Estatuto da Criança e do
e do adolescente. Adolescente e as atribuições do
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