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O cliente é então convidado para uma segunda reunião, dessa vez com toda a
equipe. É hora de planejar a primeira sprint do projeto. Backlog novamente
esparramado na mesa. A equipe pede para o cliente apontar o que é mais
importante. Convicto, ele resgata da pilha de cartões um item descrito como
“Construção de novo website dinâmico”. O cliente explica:
Até esse ponto você provavelmente identificou um projeto Ágil típico. Uma
abordagem “by the book”, eu diria. Mas isso é o que está dito; e o meu desafio
aqui é mostrar o que não está. Porque o que não está dito é o que faz a diferença
entre um time que entrega o que o cliente pede (um time eficiente) e um time que
entrega o que o cliente precisa (um time eficaz). E eu digo, sem nenhuma
hesitação, que é nessa segunda categoria que estão os grandes times.
Vamos começar com uma simples definição para você entender melhor a
argumentação que será travada aqui: ser eficiente é fazer do jeito certo. Ser eficaz
é fazer a coisa certa [1] — uma pequena amostra do brilhantismo do Peter Drucker
em duas sentenças curtas. Russell Ackoff pegou essa deixa e avançou um pouco
mais na direção que queremos ir: “A performance de qualquer sistema tem duas
dimensões: a eficiência com a qual ele faz o que faz (fazer do jeito certo), e a
eficácia daquilo que é feito (fazer a coisa certa)” [2]. Eficiência e eficácia são,
assim, duas dimensões complementares, mas, como veremos em breve, sujeitas a
leis de funcionamento bastante diferentes entre si.
Quando o cliente conduz a interação para que você faça o que ele quer, ele está
direcionando você para uma solução antes mesmo que você tenha dominado o
entendimento do problema. Como você pode participar do processo de definir a
coisa certa, de definir a solução para o problema que o cliente tem, se você nem
sequer tem um entendimento mínimo sobre ele? Fazendo assim, o cliente
posiciona você como um mero implementador das soluções que ele cria. Você se
torna um mero executor de pedidos, desperdiçando inteiramente seu potencial
como um solucionador de problemas. Como um executor de pedidos, você será
cobrado pela sua eficiência; agora, como um solucionador de problemas, você
seria premiado pela sua eficácia. A eficiência, nessa situação, é remunerada, fixa e
tratada como custo para o contratante. A eficácia é premiada, variável e pode ser
tratada como um investimento.
Assim, como um eficiente executor de pedidos, você será avaliado pela sua
capacidade de entregar mais, mais rápido ou de forma mais barata aquilo que está
sendo requisitado. Esse conjunto de benefícios é fruto do seu processo, não do
valor do produto em si que ele gera. Já como um eficaz solucionador de
problemas, você será avaliado pela capacidade de resolver bem os problemas que
servem de obstáculos para que o negócio do seu cliente evolua e prospere. Esse,
por sua vez, é um benefício do produto final que você cria, não da capacidade de
produção do seu processo em si.
Assim, quando o “Time Alfa" alcançar sua meta no final da primeira sprint ,
produzirá software, mas não resolverá nenhum problema concreto que o cliente
tenha em seu negócio. Zero problemas resolvidos não é progresso, e se não há
progresso, a meta que se persegue não é uma meta que valha a pena ser
perseguida.
1. Login;
2. Cadastro de cidades e países;
3. Cadastro de escolas;
4. Cadastro de cursos e tipos de curso;
5. Tipos de hospedagem;
6. Upload de fotos das escolas, cidades e países.
O “Time Alfa” usa um método Ágil, mas não culpe o método. Poderíamos estar
diante de qualquer metodologia ou processo. Falta ao time a sabedoria que vai
além do conhecimento procedimental que qualquer método pode oferecer. Falta ao
time entender que há um custo caro a se pagar na dinâmica de apenas “fazer o
que é pedido”; e que há grande valor em “ajudar o cliente a descobrir o que fazer,
e fazer”. Você pode até se tornar bastante eficiente em fazer o que é pedido, mas
a eficiência é de pouco valor quando aplicada à coisa errada. Como já dizia Peter
Drucker: “ Não há nada tão inútil do que fazer com grande eficiência aquilo que
não deveria ser feito”. Antes da eficiência revelar o seu valor, é preciso descobrir
qual é a coisa certa a se fazer; e esse processo de descoberta é a base do que
significa ser eficaz.
2 ACKOFF, Russel. Re-creating the Corporation . New York, NY: Oxford University
Press, 1999.