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FACULDADE CATÓLICA SANTA TERESINHA

CURSO BACHARELADO EM SERVIÇO SOCIAL

HALLANA INÊS MEDEIROS SANTOS

SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE: A INSERÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE


SOCIAL NA POLÍTICA DE SAÚDE

CAICÓ-RN
2021
HALLANA INÊS MEDEIROS SANTOS

SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE: A INSERÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE


SOCIAL NA POLÍTICA DE SAÚDE

Monografia apresentada à Faculdade


Católica Santa Teresinha como requisito
parcial para obtenção do título de bacharel
em Serviço Social.

Orientadora: Prof.ª Esp. Ozeane Araújo de


Albuquerque da Silva.

CAICÓ/RN
2021
FICHA CATALOGRÁFICA

CATALOGAÇÃO NA FONTE
Faculdade Católica Santa Teresinha
Biblioteca Madre Francisca Lechner

S237 Santos, Halana Inês Medeiros.

Serviço Social na Saúde: A Inserção Profissional do Assistente


Social na Política de Saúde. / Halana Inês Medeiros Santos. – Caicó,
RN, 2021.

53f.

Orientador(a): Prof. Esp.Ozeane Araújo de Albuquerque da Silva.

Monografia (Bacharelado em Serviço Social) – Faculdade Católica


Santa Teresinha. Curso de Graduação em Serviço Social.

1. Política de Saúde- Monografia. 2. Projeto de Reforma


Sanitária- Monografia. 3. Sistema Único de Saúde- Monografia.
4. Norma Operacional Básica- Monografia. 5- Serviço Social. I.
Santos, Halana Inês Medeiros. II. Faculdade Católica Santa
Teresinha. III. Título.

RN/BU/FCST CDU 364.444


Catalogado por Régio Neri Galvão de Araújo CRB15-897/0
HALLANA INÊS MEDEIROS SANTOS

SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE: A INSERÇÃO PROFISSIONAL DO ASSISTENTE


SOCIAL NA POLÍTICA DE SAÚDE

Monografia apresentada à Faculdade


Católica Santa Teresinha como requisito
parcial para obtenção do título de bacharel
em Serviço Social.

Orientadora: Prof.ª Esp. Ozeane Araújo de


Albuquerque da Silva.

MONOGRAFIA APROVADA EM 26/04/2021.

BANCA EXAMINADORA

________________________________________________
Prof.ª Esp. Ozeane Araújo de Albuquerque da Silva
Faculdade Católica Santa Teresinha
Orientadora

_________________________________________________
Profa. Ma. Raquel Sales de Medeiros
Faculdade Católica Santa Teresinha
Examinadora

_________________________________________________
Prof. Me. Sebastião Caio dos Santos Dantas
Faculdade Católica Santa Teresinha
Presidente
Dedico, primeiramente, a Deus e a todos que de
uma forma ou de outra me ajudaram a chegar até
aqui. Em especial, a minha família, meus pais, meu
namorado, e meus colegas e amigos que conquistei
ao logo dos anos de graduação.
AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me dado força e coragem de vencer essa caminhada que não
foi nada fácil;
Aos meus pais que sempre me ajudaram e estavam dispostos no que fosse
preciso para a conclusão desse curso;
Ao meu namorado que sempre me deu forças e esteve o tempo todo me
apoiando e me motivando;
Aos meus amigos, Judson, Kércia, Márcia, Vânia, Iankia, Ana Beatriz, pelas
conversas no corredor da faculdade, pelos momentos vividos durante esses anos,
pelos conselhos e motivações que iriamos sim conseguir concluir a faculdade, pelo
apoio na hora dos aperreios e pelas risadas que foram muitas;
Aos professores/as que colaboraram para a minha formação profissional, e em
especial à minha orientadora Ozeane Araújo de Albuquerque da Silva, pela paciência
e compreensão;
Por fim, gostaria de agradecer a todas as pessoas que contribuíram para a
minha formação profissional. Sou grata a tudo.
RESUMO

Este estudo tem como objetivo discutir sobre o trabalho do assistente social no
Sistema Único de Saúde. O interesse pelo tema surgiu por meio de familiares que
atuam na área da saúde, e da disciplina Seguridade Social II: Saúde. Com isso,
buscou-se compreender a inserção dos assistentes sociais na política de saúde; o
histórico da política de saúde no Brasil desde os períodos anteriores à ação estatal
até os dias de hoje; a construção do Projeto de Reforma Sanitária e as propostas
elaboradas nesse projeto; a Lei 8.080 de 1990 que constitui o Sistema Único de Saúde
apontando seus princípios e diretrizes; a Norma Operacional Básica que define
estratégias para a sua operacionalidade; a relação do Serviço Social com a saúde
desde o surgimento da sua profissão, e as determinações históricas que influenciaram
a profissão; por fim, a importância da ação do profissional de serviço social nesta área.
Foi utilizado como referencial teórico, autores que abordam a temática em discussão,
dentre eles, Bravo (2006), Matos (2004), Iamamoto (2002), Vasconcelos (2002), entre
outros. A princípio, a proposta era fazer uma entrevista com uma assistente social,
porém não foi possível. Portanto, foi feita uma análise de conteúdo e uma leitura do
material coletado para desenvolver as categorias de análise. Ainda sobre a
metodologia, o trabalho utilizou a pesquisa bibliográfica através de dados do Scientific
Electronic Library Online (SciELO), Katálysis, Serviço Social & Sociedade. Por fim,
considera-se que os resultados desse trabalho possam interessar aos alunos e
profissionais, visto que na Faculdade Católica Santa Terezinha não há tantas
pesquisas relacionadas às problemáticas que envolvem a inserção dos assistentes
sociais na saúde.

Palavras-chave: Política de Saúde. Projeto de Reforma Sanitária. Sistema Único de


Saúde. Norma Operacional Básica. Serviço Social.
ABSTRACT

This study aims to discuss the job of the social worker in the Health Unic System.
Interest in the topic arose through family members who work in the health field, and in
the subject Social Security II: Health. With this, we sought to understand the insertion
of social workers in the health policy; the historic of the health policy in Brazil from the
periods prior to state action to the present day; the construction of the Sanitary Reform
Project and the proposals elaborated in this project; Law 8,080 of 1990, which
constitutes the Health Unic System, pointing out its principles and guidelines; the Basic
Operating Standard that defines strategies for its operation; the relationship of Social
Work with health since the beginning of their profession, and the historical
determinations that influenced the profession; finally, the importance of the action of
the social service professional in this area. It was used as a theoretical reference,
authors who approach the topic under discussion, among them, Bravo (2006), Matos
(2004), Iamamoto (2002), Vasconcelos (2002), among others. At first, the proposal
was to do an interview with a social worker, but it was not possible. Therefore, a content
analysis and a reading of the material collected was carried out to develop the analysis
categories. Still on the methodology, the work used bibliographic research through
data from the Scientific Electronic Library Online (SciELO), Katálysis, Social Service &
Society. Finally, it is considered that the results of this study may be of interest to
students and professionals, since at Faculdade Católica Santa Terezinha there is not
so much research related to the problems that involve the insertion of social workers
in health.

Keywords: Health Policy. Health Reform Project. Unified Health System. Basic
Operating Standard. Social service.
LISTA DE SIGLAS

ABESS - Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social.


ANAS - Associação Nacional dos Assistentes Sociais.
ABRASCO - Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva.
CAPs - Caixas de Aposentadoria e Pensões.
CEAS - Centro de Estudos e Ação social.
CFAS - Conselho Federal de Assistentes Sociais.
CEBES - Centro Brasileiro de Estudos de Saúde.
CNS - Conselho Nacional de Saúde.
IAPs - Institutos de Aposentadorias e Pensões.
INAMPS - Instituto Nacional de Assistência e Previdência Social.
NOB - Norma Operacional Básica.
RSB - Reforma Sanitária Brasileira.
SUS - Sistema Único de Saúde.
SINPS - Sistema Nacional de Assistência e Previdência Social.
SBPC - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 10
2 A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL E ELEMENTOS HISTÓRICOS
DA REFORMA SANITÁRIA 12
2.1 HISTÓRICO DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL 12
2.2 A CONSTRUÇÃO DO PROJETO DA REFORMA SANITÁRIA 15
3 A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE(SUS) 21
3.1 NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (NOB-
SUS/96) 30
3.2 DESAFIOS ENFRENTADOS PELO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE 32
4 O SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE E A INSERÇÃO PROFISSIONAL 33
4.1 PARÂMETROS DO SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE 36
5 A INSERÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE SAÚDE 41
5.1 UNIVERSO DA PESQUISA 41
5.2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA 41
5.3 APRESENTAÇÃO E DISCURSÃO DOS DADOS 43
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 47
REFERÊNCIAS 49
10

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho abordou o tema Serviço Social na Saúde: a inserção profissional


do assistente social na política de saúde. Esse teve como objetivo compreender a
inserção do serviço social na saúde, destacando as garantias e conquistas do Projeto
de Reforma Sanitária, em particular o Sistema Único de Saúde. Também foi discutido
o enfrentamento do profissional de Serviço Social que no decorrer de seu
conhecimento teórico e metodológico busca a consolidação desse direito.
Através da disciplina Seguridade Social II: Saúde e por influência de familiares
que atuam na área da saúde, surgiu o interesse em discutir sobre a temática, que
adotou como objetivo: analisar a inserção do assistente social na política de saúde. A
relevância desse estudo se faz em trazer uma reflexão sobre a temática, despertar
interesses em alunos e profissionais ao se aproximar mais a respeito da relação entre
Serviço Social e saúde, e analisar o contexto sobre os enfrentamentos e conquistas
ao longo dos anos.
Para alcançar os objetivos deste trabalho, foi utilizado a pesquisa bibliográfica
a partir de consulta a diversas referências teóricas, fazendo análises em livros e
artigos que abordassem a temática sobre serviço social na saúde para compreender
a construção do Projeto de Reforma Sanitária e do Sistema Único de Saúde, buscando
assim, direcionar o profissional de Serviço Social.
Assim, para a construção desse trabalho, foram utilizados artigos; livros;
Constituição Federal; Lei Orgânica da Saúde – Lei 8.080; Norma Operacional Básica
(NOB-SUS/96) e o Projeto ético-político profissional do Serviço Social; Parâmetros
para Atuação dos/as Assistentes Socais na Política de Saúde; e o Código de
Ética Profissional do Assistente Social.
O presente trabalho fez uma trajetória das políticas de saúde no Brasil; uma
análise da construção do Projeto de Reforma Sanitária do Sistema Único de Saúde;
uma análise da Norma Operacional Básica do Sistema Único de Saúde e também da
atuação do profissional de Serviço Social.
Dessa forma, este trabalho está dividido em seis partes. Na primeira, a
introdução que traz um panorama geral do trabalho. A seguir foi feito um resgate do
contexto histórico da política de saúde no Brasil, destacando desde os períodos
anteriores à ação estatal na área da saúde até a atualidade. Ainda nessa parte,
11

explorou-se a construção do Projeto de Reforma Sanitária, apontando os principais


avanços e desafios para sua consolidação.
Na terceira parte foi abordado a constituição do Sistema Único de Saúde
(SUS), apresentando seus princípios e diretrizes como também a Norma Operacional
Básica e as dificuldades deste sistema. Antes da implementação do SUS, o modelo
de saúde dividia os brasileiros em três categorias: os que podiam pagar por serviços
de saúde privados; os que tinham direito à saúde por serem segurados pela
Previdência Social (os trabalhadores que tinham carteira assinada); e os que não
tinham condições de arcar com os serviços de saúde e não possuíam nenhum direito.
Na quarta parte destacou-se a trajetória histórica do Serviço Social em relação
à saúde. Já na quinta, foi discutido a atuação do profissional de Serviço Social junto à
área da saúde. Ainda nessa parte, foram apresentados os resultados da pesquisa que
apontaram a inserção do assistente social na política de saúde, revelando a
precarização do trabalho, e as atribuições e competências do profissional.
Por fim, temos as considerações finais que apontam as reflexões sobre a
inserção profissional do assistente social, alguns desafios, possiblidades e
contribuições para atuação profissional.
12

2 A POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL E ELEMENTOS HISTÓRICOS DA


REFORMA SANITÁRIA

Neste capítulo será apresentado um pouco da história da Política de Saúde


no Brasil, apresentando os principais avanços e desafios até à chegada da Reforma
Sanitária que amplia o conceito de acesso à saúde como direito de todos.

2.1 HISTÓRICO DA POLÍTICA DE SAÚDE NO BRASIL

No século XVIII não havia assistência médica para a população, os


atendimentos que eram ofertados só existiam em hospitais particulares, que por
muitas vezes eram sustentados pela igreja católica. Ao longo dos séculos foram
surgindo mudanças na economia e política, também algumas iniciativas no âmbito da
saúde. Segundo Bravo (2006, p. 80), “nos últimos anos do século, a questão saúde já
aparece como reivindicação no nascente movimento operário. No início do século XX,
surgem algumas iniciativas de organização do setor saúde”.
No ano de 1923 foram criadas as Caixas de Aposentadoria e Pensões (CAPs),
que forneciam aos operários assistência médica, medicamentos, e a aposentadoria
por velhice ou invalidez. Cohn et al (1999, p. 13) trazem que as CAPs “são instituídas
como um contrato compulsório, organizadas por empresas, geridas através de
representação direta de empregados e empregadores, tendo finalidade puramente
assistencial”.
Dito isso, Bravo (2006) traz que na década de 30 a política de saúde se
organizou em dois subsetores: o de saúde pública e o de medicina previdenciária.
Houve, também, modificações na sociedade brasileira, o Estado redirecionou seu
papel, fazendo com que a industrialização se tornasse marcante nesse período,
acelerando a urbanização e ampliando a massa trabalhadora.
Neste período, houve a substituição das CAPs pelos Institutos de
Aposentadorias e Pensões (IAPs), com o objetivo de aumentar o número de
categorias vinculadas ao Instituto, para que não houvesse reivindicações no âmbito
da ampliação da cobertura da política de saúde.
No período de 1930 a 1940, foram tomadas algumas alternativas para
organizar a saúde pública, segundo Braga e Paula (1986):
• Ênfase nas campanhas sanitárias;
13

• Coordenação dos serviços estaduais de saúde dos estados de fraco poder


político e econômico, em 1937, pelo Departamento Nacional de Saúde;
• Interiorização das ações para as áreas de endemias rurais, a partir de 1937,
em decorrência dos fluxos migratórios de mão de obra para as cidades;
• Criação de serviços de combate às endemias (Serviço Nacional de Febre
Amarela, 1937; Serviço de Malária do Nordeste, 1939; Serviço de Malária da
Baixada Fluminense, 1940, financiados, os dois primeiros, pela Fundação
Rockefeller – de origem norte-americana);
• Reorganização do Departamento Nacional de Saúde, em 1941, que incorporou
vários serviços de combate às endemias e assumiu o controle da formação de
técnicos em saúde pública.

Nesse período para se ter acesso à medicina previdenciária, era preciso estar
vinculado ao mercado de trabalho com a carteira assinada, se não, a única opção
seria recorrer aos serviços privados, mas só quem tinha condições de custear os
serviços. E quem não tinha, procurava as instituições filantrópicas e hospitais do
estado, todavia, essas pessoas não eram consideradas cidadãos de direito. Assim,
existia uma desigualdade, pois o Estado não atendia as demandas da sociedade.
A ditadura militar modelou o Brasil com o desenvolvimento econômico e
social, ampliando a política assistencial, e aumentando o poder de regulação do
Estado sobre a sociedade para amenizar as tensões sociais e tornar o regime militar
legítimo.
A Previdência Social e os IAPs se uniram em 1966, crescendo a medicina
previdenciária e assim debilitando a saúde pública. Nesse período, foi implantado o
modelo de privilegiamento do produtor privado, o qual apresentou a cobertura
previdenciária a quase toda população urbana e, em 1973, aos trabalhadores rurais,
autônomos e domésticas.
A ditadura militar tentava consolidar sua hegemonia, mas ao longo de dez
anos não foi possível, sendo necessário modificar sua relação com a sociedade civil.
Dessa forma, a política social de 1974 a 1979 buscou efetividade no enfrentamento
da questão social. Nesse sentido, Bravo (2006, p. 86) afirma que:

A política nacional de saúde enfrentou permanente tensão entre a


ampliação dos serviços, a disponibilidade de recursos financeiros, os
14

interesses advindos das conexões burocráticas entre os setores


estatal e empresarial médico e a emergência do movimento sanitário.
As reformas realizadas na estrutura organizacional não conseguiram
reverter a ênfase da política de saúde, caracterizada pela
predominância da participação da Previdência Social, através de
ações curativas, comandadas pelo setor privado. O Ministério da
Saúde, entretanto, retomou as medidas de saúde pública, que,
embora de forma limitada, aumentaram as contradições do Sistema
Nacional de Saúde.

Nesse período, a assistência à saúde era insuficiente e desorganizada.


Apesar de existir vários órgãos que prestavam o serviço de saúde, esses não
possuíam nenhuma qualidade.
Em 1975, foram criados o Sistema Nacional de Saúde através da lei 6.229 e
o Sistema de Vigilância Epidemiológica, através da lei 6.259/75. Esse último,
enfatizado por Paim (2009), era separado da vigilância sanitária.
Em 1977, surge o SINPS (Sistema Nacional de Assistência e Previdência
Social), junto a esse sistema foi criado o INAMPS (Instituto Nacional de Assistência e
Previdência Social) que passou a ser um órgão do governo que prestava serviços e
assistência médica, dominando até a criação do SUS. Muitos dos seus procedimentos
ainda continuam enraizados no SUS.
Após décadas de crise no Sistema de Saúde e depois de lutas organizadas
por um movimento social, o Movimento da Reforma Sanitária Brasileira, o qual seus
membros eram pesquisadores, profissionais e estudantes da saúde, ajudou na
implantação do SUS. A esse respeito, Paim (2007, p. 150) afirma que:

O movimento da democratização da saúde, “movimento sanitário” ou


“movimento da Reforma Sanitária, enquanto conjunto de práticas
ideológicas, políticas e culturais que tomam a saúde como referente
fundamental, emerge com o Cebes e atravessa as conjunturas
examinadas na presente investigação.

Esse movimento defendia a democratização da saúde e a reestruturação dos


serviços e ficou conhecido como movimento da Reforma Sanitária Brasileira ou
Movimento Sanitário. Com isso, foi possível afirmar que a proposta de Reforma
Sanitária e o Sistema Único de Saúde foram projetos emanados da sociedade civil e
não dos representantes governamentais. Nessa direção, Paim (2009, p. 40) coloca
que:
Ao apresentar o documento, A questão democrática na área da saúde,
no I Simpósio de Política Nacional de Saúde da Comissão de Saúde
15

da Câmara dos Deputados, em 1979, o Cebes formulou, pela primeira


vez, a proposta do SUS, justificando um conjunto de princípios e
diretrizes para a sua criação. Desse modo, tanto a RSB quanto o SUS
nasceram da sociedade, e não de governos ou partidos. Embora tal
proposta só tenha sido incorporada à Constituição da República nove
anos depois, é possível comemorar presentemente três décadas do
SUS.

No ano de 1982 foi criado o PAIS (Programa de Ações Integradas de Saúde),


um programa direcionado à atenção primária muito parecido com o que temos
atualmente, o PSF (Programa de Saúde da Família), no qual se constituía a porta de
acesso ao sistema de saúde. No fim da ditadura, em 1986, aconteceu a VIII
Conferência Nacional de Saúde, a qual constituiu um grande marco histórico. Devido
à grande participação social, essa conferência foi de fundamental importância, pois foi
discutida a ideia de saúde em um sentido amplo, que contribuiu para as leis 8.080/90
e 8.142/90, que configurou a implantação do SUS. Como afirma Paim (2009, p. 40):

Durante a VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986,


foram sistematizados e debatidos por quase cinco mil participantes
diversos estudos e proposições para a RSB. O relatório final do evento
inspirou o capítulo “Saúde” da constituição, desdobrando-se,
posteriormente, nas leis orgânicas da saúde (8.080/90 e 8.142/90),
que permitiriam a implantação do SUS. Na medida que essas
propostas nasceram da sociedade e alcançaram o poder público,
mediante a ação de movimentos sociais e a criação de dispositivos
legais, é possível afirmar que o SUS representa uma conquista do
povo brasileiro.

Para o povo brasileiro, a Implantação do SUS foi um marco importante na


história, pois é um direito garantido a todos os cidadãos brasileiros, independente de
classe social. Diante disso, tal sistema se configura como um grande avanço na
garantia da inclusão social.

2.2 CONSTRUÇÃO DO PROJETO DA REFORMA SANITÁRIA

A década de 1980 foi o momento de superação do regime de ditadura, que


existia no Brasil desde 1964, e da crise econômica mundial que perdurava desde
1970, momento este que a saúde pôde contar com a participação de novos sujeitos
sociais, passando a discutir as condições de vida da população e as propostas
apontadas pelo governo.
16

O Movimento de Reforma Sanitária contou com diversas categorias


(estudantes, movimentos sociais, segmentos populares, pesquisadores e
profissionais da saúde de orientação progressista, gestores) que se reuniram para
propor mudanças para uma nova direção da política de saúde com a ideologia de
reestruturação nos serviços de saúde, a partir da chamada Reforma Sanitária
Brasileira. Com essa, a saúde pública brasileira ganha um novo rumo e uma nova
concepção de cidadania, rompendo com o modelo de saúde anterior, exclusivamente
biológica, centrada na clínica, passando a ser considerada como uma questão social
e política.
Baseado nas reflexões de Miranda (2009), as concepções de saúde que
nortearam o Movimento Sanitário no Brasil constituíram o “paradigma sanitário”
centrado na Medicina Preventiva e na Medicina Comunitária.
A base essencial para impulsionar as reformas no setor da saúde e propor um
novo fornecimento à saúde pública, foram as instituições acadêmicas e sociedade
científicas denominadas de Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (CEBES), fundada
em 1976, e a Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva
(ABRASCO), fundada em 1979.
Na 28ª reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), realizada em Brasília, teve a participação de profissionais ligados aos
departamentos de medicina preventiva e social do Rio de Janeiro e São Paulo. Nessa
reunião, foi lançada a proposta de criação do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
(CEBES). No mês de novembro, o CEBES lançou a Revista Saúde em Debate com o
objetivo de acrescentar e levar adiante as discussões e a análise do setor saúde.
A formulação das propostas para implementação do SUS surgiu do CEBES e
pensadores do Movimento de Reforma Sanitária, que apresentou um conjunto de
princípios e diretrizes para sua criação (PAIM, 2007). Sendo assim, vale citar que:

Mais do que atuar na trincheira do aparato estatal o CEBES tem como


missão a luta pela hegemonia, participando na construção e ampliação
da consciência sanitária e na constituição de sujeitos políticos
emancipados. A disputa por projetos de sociedade – da liberal à
socialista – se dá com cada vez maior intensidade, incidindo no campo
social por meio da difusão de valores individualistas, consumistas e
submissos a uma inexorabilidade que prescinde da história e da
política. Ao lutar pela compreensão da saúde coletiva, como um bem
público e socialmente determinado, propugnando sistemas de atenção
baseados nos valores da solidariedade e na garantia de direitos; nas
práticas integrais da promoção à reabilitação; na exigência da
17

participação ativa dos cidadãos nas decisões sobre sua saúde e sobre
a política de saúde, estamos permanentemente lutando por uma
sociedade mais justa (I DOCUMENTO DE ESTRATÉGIA DO CEBES,
2007, p. 1).

Dentre os sujeitos sociais que entraram nessa conjuntura estavam: sociedade


civil, movimentos sociais urbanos; os partidos políticos de oposição; profissionais da
saúde que defendiam a melhoria das condições de vida e saúde da população, e
buscavam o fortalecimento do setor público. Nesse sentido, Bravo (2006, p. 86) traz
as propostas que foram debatidas:

• Universalização do acesso à saúde, isto é, deixando de ser restrita


ao trabalhador;
• Saúde como direito social e dever do Estado;
• Reestruturação do sistema através da estratégia do Sistema Único
de Saúde (SUS);
• Descentralização do processo decisório, para que as decisões
pudessem ser tomadas em esfera estadual e municipal;
• Democratização do poder local, através de mecanismos de gestão
democrática como os conselhos.

Essas propostas foram de suma importância para a realização da 8ª


Conferência Nacional da Saúde. A esse respeito, Arouca (1998) afirma que:

Está em curso uma reforma democrática não anunciada ou alardeada


na área da saúde. A Reforma Sanitária brasileira nasceu na luta contra
a ditadura, com o tema Saúde e Democracia, e estruturou-se nas
universidades, no movimento sindical, em experiências regionais de
organização de serviços. Esse movimento social consolidou-se na 8ª
Conferência Nacional de Saúde, em 1986, na qual, pela primeira vez,
mais de cinco mil representantes de todos os seguimentos da
sociedade civil discutiram um novo modelo de saúde para o Brasil. O
resultado foi garantir na Constituição, por meio de emenda popular,
que a saúde é um direito do cidadão e um dever do Estado. 1

Arouca (1998) destaca que foi a partir da Conferência Nacional de Saúde, que
surgiu o movimento pela emenda popular, a primeira emenda constitucional que
nasceu do movimento social, sendo assim, considerado um sucesso da Reforma
Sanitária.

1
Disponível em: <https://bvsarouca.icict.fiocruz.br/sanitarista05.html>. Acesso em: 19 de abril de
2021.
18

A 8ª Conferência Nacional de Saúde, em 1986, representou um grande marco


na luta por melhores condições de saúde. As novas propostas que foram pauta de
reivindicações marcaram o início da participação popular nos debates das
conferências, propondo e aprovando propostas que viessem a contribuir com a
ampliação do conceito de saúde. Nesse sentido, Carvalho (1995, p. 53) diz que:

A 8ª Conferência foi um evento duplamente inédito. Inédito na história


das políticas de saúde porque não se tem notícia de que o poder
executivo brasileiro jamais tenha convocado a sociedade civil para o
debate de políticas ou programas de governo, menos ainda no estágio
ou momento de sua formulação na escala de que o fez naquele
momento. Todas as sete conferências de saúde anteriores pautaram-
se por um caráter eminentemente técnico e pela baixíssima
representatividade social marcada pela participação praticamente
restrita a gestores e técnicos governamentais.

A Conferência Nacional teve grande participação dos usuários que introduziu


no cenário da saúde a sociedade como um todo, referindo-se não somente ao Sistema
Único de Saúde, mas também a Reforma Sanitária. Assim, a Constituição Federal de
1988 representou a consolidação dos direitos sociais e em especial o direito à saúde.
Foi a partir dessa conferência que foram levadas as propostas para a
Assembleia Constituinte que desencadeou nos artigos 196 ao 200 que falam sobre a
saúde:

Constituição do Sistema Único de Saúde integrando todos os serviços


públicos em uma rede hierarquizada, regionalizada, descentralizada e
de atendimento integral, com participação da comunidade; A
participação do setor privado no sistema de saúde deverá se
complementar, preferencialmente com as entidades filantrópicas,
sendo vedada a destinação de recursos públicos para subvenção às
instituições com fins lucrativos. Os contratos com entidades privadas
prestadoras de serviços far-se-ão mediante contrato de direito público,
garantindo ao Estado o poder de intervir nas entidades que não
estiverem seguindo os termos contratuais; Proibição da
comercialização de sangue e seus derivados (TEIXEIRA, 1989, p. 50-
51).

A política de saúde na década de 1980 tem como aspectos centrais, segundo


Teixeira (1989 p. 50-53) a politização da questão saúde, a alteração da norma
constitucional e a mudança do arcabouço e das práticas institucionais. Mesmo com
todos os obstáculos colocados, em 1987 a tendência de unificação institucional se
consolidou com a criação dos Sistemas Unificados e Descentralizados de Saúde
19

(SUDS) da Previdência Social, sendo posteriormente transformado com a


Constituição de 1988 em Sistema Único de Saúde (SUS) (MIRANDA, 2009).
Esta conferência foi considerada importante na trajetória da política pública de
Saúde no Brasil, na qual foi assegurada proposta que garantiu uma Reforma Sanitária,
que, mais tarde, serviria de base a seus defensores na reformulação da Constituição
Federal de 1988 (BRAVO, 2004), “a reforma sanitária é simultaneamente bandeira
específica e parte de uma totalidade de mudanças” (AROUCA, 1988, p. 3). Assim,
pode-se concluir que a Reforma Sanitária é uma proposta que encerra um conjunto
de princípios e proposições.
Na área da saúde, a constituição atende grande parte das reivindicações do
movimento sanitário, prejudicando assim os interesses dos empresários do setor
hospitalar, mas não altera nenhum fator na indústria farmacêutica.
Portanto, o artigo 196 da Constituição Federal de 1988, traz aspectos sobre a
saúde:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação
(BRASIL, 2000).

A constituição traz outros pontos importantes como as ações e serviços que


se tornaram de relevância pública, cabendo ao poder público a ação de
regulamentação, fiscalização e controle, integrando-os em uma rede regionalizada e
hierarquizada. Eles constituem um sistema único com descentralização, atendimento
integral, participação da comunidade e veda a destinação de recursos públicos para
auxílio às instruções privadas com afins lucrativos.
Porém, a Constituição Federal não absorveu todas as propostas da Reforma
Sanitária, pois não ficou definido se os trabalhadores tinham direitos de recusar o
trabalho em locais insalubres e o direito de ter informações sobre a toxidade dos
produtos que deveriam ser manipulados.
Na década de 80, havia incertezas sobre a implementação da Reforma
Sanitária, pois a ineficácia do setor público, a fragilidade das medidas e a falta de
resultados ocasionaram a redução do apoio da população.
Nos anos 90, há um direcionamento influenciado pela política Neoliberal, a
força conservadora brasileira entrou em cena para que a constituição não fosse
20

regulamentada, lutando para reduzir os direitos sociais e trabalhistas, reduzindo a


previdência social, e retornando a ideia de que só pode ter direitos quem for
contribuinte.
Desse modo, as transformações societárias, que ocorreram no Brasil por volta
da década de 1980 e início de 1990, mudaram as relações entre o Estado e Sociedade
Civil, proporcionando atuar na formulação, gestão e controle das políticas sociais.
Assim, a gestão precisou mudar para atender as novas demandas da gestão,
precisando adquirir novos conhecimentos técnicos e políticos. Nesse sentido, os
assistentes sociais foram solicitados para assumir novas demandas devido à
capacidade profissional de conhecimentos sobre política social e mobilização social.
21

3 A CONSTRUÇÃO DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE(SUS)

O segundo capítulo vai trazer elementos sobre o Sistema Único de Saúde


(SUS) e a Norma Operacional Básica (NOB-SUS/96), trazendo uma reflexão sobre os
elementos históricos, e os principais avanços e desafios que foram enfrentados ao
longo dos anos.
Na década de 1990, a saúde brasileira teve avanços na reorganização da
política de saúde com a implementação do Sistema Único de Saúde, que foi uma
estratégia da Reforma Sanitária, a partir de uma nova concepção de acesso aos
serviços de saúde. Um desses avanços, proporcionados pelo poder público, foi
assegurar como direito social, serviços de saúde, independentemente, da condição
econômica do usuário.
Pensando na consolidação do controle das políticas de saúde e na
participação da comunidade, foi criada a Lei Orgânica da Saúde - Lei 8.142/90, a qual
estabelece normas e diretrizes que orientam o novo sistema de saúde, legalizando a
participação da comunidade com um direito.
A Lei 8.142/90 dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do
Sistema Único de Saúde (SUS) e sobre as transferências intergovernamentais de
recursos financeiros na área da saúde e dá outras providências, e denomina em seu
art. 1º que:

O Sistema de Único de Saúde (SUS) de que trata a Lei nº 8.080, de


19 de setembro de 1990, contará, em cada esfera de governo, sem
prejuízo das funções do Poder Legislativo, com as seguintes
instâncias colegiadas: I - Conferência de Saúde; II – O Conselho de
Saúde (BRASIL, 1990).

A Lei Orgânica da saúde - 8.080/90 de 19 de setembro de 1990 dispõe sobre


as condições para a promoção, proteção e recuperação da Saúde, organização e
funcionamento dos serviços correspondentes. No seu artigo 4º traz que:

O conjunto de ações e serviços de saúde, prestados por órgãos e


instituições públicas federais, estaduais e municipais, da
Administração direta e indireta e das fundações mantidas pelo Poder
Público, constitui o Sistema Único de Saúde (SUS) (BRASIL, 1990).
22

A universalidade é o princípio que garante o acesso livre a todos os serviços


ofertados na saúde. A lei 8.080/90 garante aos cidadãos o acesso à assistência da
saúde, sendo embasada pelos princípios de integralidade, universalidade e equidade.
Nesse sentido, Brasil (1990, p. 4) considera a universalidade como:

A garantia de atenção à saúde por parte do sistema, a todo e qualquer


cidadão. Com a universalidade, o indivíduo passa a ter direito de
acesso a todos os serviços públicos de saúde, assim como aqueles
contratados pelo poder público. Saúde é direito de cidadania e dever
do governo: municipal, estadual e federal.

Além desses princípios doutrinários, existem também os que administram a


organização do SUS, que são regionalização e hierarquização, resolubilidade,
descentralização, participação dos cidadãos e complementariedade do setor privado.
As ações dos SUS são nacionais, mas também são definidas no âmbito municipal e
estadual. A regionalização refere-se às ações de atenção integral à saúde
especializada, de maneira regionalizada e hierarquizada, o que contribui para a
atenção integral à saúde da população.
A regionalização e hierarquização compreendem as ações de saúde de
acordo com os níveis de complexidade, o acesso à saúde ocorre na atenção primária.
Nessa direção, Brasil (1990, p. 5) relata:

Regionalização e hierarquização – os serviços devem ser organizados


em níveis de população a ser atendida. Isto implica na capacidade dos
serviços em oferecer a uma determinada população todas as
modalidades de assistência, bem como o acesso a todo tipo de
tecnologia disponível, possibilitando um ótimo grau de resolubilidade
(solução de problemas).

Outro princípio é a descentralização, em que a responsabilidade da gestão é


prioritariamente do município, garantindo o acesso da população à rede de saúde
nacional. Sobre a descentralização, Paim (2009, p. 49) aborda:

A descentralização busca adequar o SUS, à diversidade regional de


um país continental como o Brasil, com realidades econômicas,
sociais e sanitárias muito distintas. Significa que a gestão do sistema
de saúde passa para os municípios, com a consequente transferência
de recursos financeiros pela União, além da cooperação técnica.
Nesse sentido, as decisões não devem estar centralizadas em
Brasília, sede do governo federal. As decisões do SUS seriam
tomadas em cada município, estado e Distrito Federal, por meio das
23

respectivas secretarias de saúde, cabendo ao Ministério da Saúde


coordenar a atuação do sistema no âmbito federal: Isso é o que a
Constituição define como diretriz da descentralização com comando
único em cada esfera do governo.

Outro princípio organizativo do SUS é a Resolubilidade. Este se liga


diretamente à capacidade de solução diante de um problema de saúde, que impactou
coletivamente. Nesse sentido, cabe o atendimento necessário no qual as ações de
saúde devem estar capacitadas para resolver determinada situação.
A participação da comunidade é uma espécie de controle social, em que as
políticas de saúde sejam voltadas à população. Assim, Paim (2009, p. 51) considera:

[...] Além da perspectiva do exercício da democracia no cotidiano dos


serviços de saúde, esta diretriz busca assegurar o controle social
sobre o SUS. Assim, a comunidade pode participar na identificação de
problemas e no encaminhamento das soluções, bem como fiscalizar e
avaliar as ações e os serviços públicos de saúde.

O princípio da complementaridade do setor privado é assegurado pela


Constituição Federal, na qual preconiza que o setor privado pode participar de
maneira complementar na política de saúde.
As ações e serviços que integram o SUS são desenvolvidas de acordo com
as diretrizes previstas na Carta Magna - a Constituição Federal de 1988 - e obedece
aos seguintes princípios:
• Universalidade, todas as pessoas devem ter acesso aos serviços de saúde,
é um direito de cidadania, com isso deixam de existir os ditos como “indigentes” que
eram os brasileiros excluídos no mercado de trabalho e por isso não eram incluídos
nos programas de saúde. Este princípio é a maior conquista das lutas em favor da
Reforma Sanitária;
• Preservação da autonomia das pessoas, visando a sua integridade física ou
moral;
• Igualdade da assistência médica, sem preconceitos ou privilégios, buscando
assim a equidade. Pois, todo cidadão é igual perante o SUS e deve ser atendido
conforme sua necessidade. Cada grupo, região ou classe social tem seus problemas
específicos, seu modo de viver e adoecer, com isso devem ser realizadas ações
diferentes para que se possa buscar a igualdade;
24

• Integralidade, entendida como um conjunto articulado de ações e serviços


que visem atender o indivíduo como um ser humano integral, vê-lo como um ser
biologicamente, psicologicamente e socialmente exposto aos riscos de vida.
Necessitando assim, de ações de promoção, prevenção e recuperação.
Essas ações buscam controlar ou eliminar causas das doenças e agravos, e
estão relacionadas à educação, assistência social, habitação, meio ambiente e outras
áreas que possam alterar as condições sociais de vida do indivíduo. Elas podem estar
relacionadas, também, a fatores psicológicos, ou seja, estado emocional, ou também
a fatores biológicos como herança genética.
Proteção são ações específicas para manter o estado de saúde, prevenindo
os riscos e exposição à doença, ações de prevenção das DST – AIDS, carie dental,
câncer de mama, próstata, imunizações e outras ações.
As Ações de Recuperação atuam sobre o dano como no atendimento
ambulatorial básico e especializado, internações, exames e outras ações que possam
evitar a morte e a sequela nas pessoas que já se encontram adoentadas.
• Outro princípio do SUS é a resolutividade, ou seja, quando um indivíduo
busca o atendimento ou quando surge algum impacto coletivo da saúde o serviço
correspondente deve estar capacitado para resolver o atendimento com eficácia e
eficiência;
• A participação da comunidade é garantida na formulação das políticas de
saúde e no controle da execução em todos os níveis federal, estadual e municipal.
Essa participação pode acontecer através dos conselhos de saúde e nas conferências
de saúde que são instâncias máximas de deliberação;
• A descentralização político-administrativa é entendida como redistribuição
de responsabilidade entre as esferas de governo, na norma operacional básica do
Sistema Único de Saúde, da qual falaremos adiante, define-se o que é de obrigação
de cada esfera de governo.
Além desses princípios e diretrizes, Brasil (1990, p. 5) ressalta que:

A rede de serviços do SUS deve ser organizada e hierarquizada,


permitindo um conhecimento maior dos problemas de saúde da
população de uma área delimitada, favorecendo ações de vigilância
epidemiológica, sanitária, controle de vetores, educação em saúde,
além das ações de atenção ambulatorial e hospitalar em todos os
níveis de complexidade.
25

A rede de serviços, organizada de forma hierarquizada e regionalizada,


permite um conhecimento maior dos problemas de saúde da população da área
delimitada, favorecendo ações de vigilância epidemiológica, sanitária, controle de
vetores, educação em saúde, além das ações de atenção ambulatorial e hospitalar
em todos os níveis de complexidade.
Quando se fala em níveis de complexidade estão se referindo aos tipos de
atendimento. No nível primário estão os centros de saúde dos bairros e distritos, estes
estão em esfera municipal, e esse atendimento deve estar qualificado para resolver
os principais problemas que demandam serviços de saúde. Já os problemas que não
forem resolvidos nesse nível, deverão ser encaminhados para os serviços de nível
secundário, que se encontram nos hospitais e policlínicas. Este nível atende várias
especificidades no âmbito regional, e caso essas demandas não sejam atendidas
nesses níveis de complexidade, devem ser “tratadas” no nível terciário, nos hospitais
especializados.
É importante ressaltar que a Constituição Federal de 1988 prevê casos em
que pode haver a contratação de serviços privados, por exemplo, quando o setor
público não tiver dando conta da demanda de serviços. No entanto, essa contratação,
somente, poderá ocorrer se a instituição privada estiver de acordo com os princípios
básicos e normas técnicas do SUS, e se a rede de serviços estiver regionalizada e
hierarquizada. Contudo, os serviços privados não lucrativos devem ter preferência.
Na Constituição Federal, o art. 199 traz “a assistência à saúde é livre à
iniciativa privada”, (BRASIL, 2000, p. 58). Ainda diz no parágrafo 1º

as instituições privadas, poderão participar de forma complementar do


Sistema Único de Saúde, segundo diretrizes deste, mediante contrato
de direito público ou convênio tendo preferências às entidades
filantrópicas e as sem fins lucrativos (BRASIL, 2000, p. 58).

O SUS é direcionado por três princípios, a universalidade que é o acesso às


ações e serviços que devem ser garantidos a todas as pessoas independentes de
sexo ou renda; a equidade que garante a igualdade da assistência à saúde, sem
preconceitos ou privilégios; e a integralidade que considera a pessoa como um todo.
Ao analisarmos a trajetória do SUS, Santos (2007, p. 430) traz alguns dos
avanços do SUS:
26

O SUS transformou-se no maior projeto público de inclusão social em


menos de duas décadas: 110 milhões de pessoas atendidas por
agentes comunitários de saúde em 95% dos municípios e 87 milhões
atendidos por 27 mil equipes de saúde da família. Em 2007, 2,7 bilhões
de procedimentos ambulatoriais, 610 milhões de consultas, 10,8
milhões de internações, 212 milhões de atendimentos odontológicos,
403 milhões de exames laboratoriais, 2,1 milhões de partos, 13,4
milhões de ultrassons, tomografias e ressonâncias, 55 milhões de
seções de fisioterapia, 23 milhões de ações de vigilância sanitária, 150
milhões de vacinas, 12 mil transplantes, 3,1 milhões de cirurgias, 215
mil cirurgias cardíacas, 9 milhões de seções de radioquimioterapia, 9,7
milhões de seções de hemodiálise e o controle mais avançado da Aids
no terceiro mundo. São números impressionantes para a população
atual, em marcante contraste com aproximadamente metade da
população excluída antes dos anos oitenta, a não ser pequena fração
atendida eventualmente pela caridade das Santas Casas.

Segundo Santos (2007, p. 430), esses avanços só foram possíveis:

Graças à profunda descentralização de competências com ênfase na


municipalização, com a criação e funcionamento das Comissões
Intergestores (Tripartite nacional e Bipartites estaduais) e dos fundos
de saúde com repasses fundo a fundo, com a extinção do INAMPS
unificando a direção em cada esfera de governo, com a criação e
funcionamento dos conselhos de saúde, e fundamentalmente, com o
belo contágio e a influência dos valores éticos e sociais da política
pública do SUS perante a população usuária, os trabalhadores de
saúde, os gestores públicos e os conselhos de saúde. Esta
configuração permitiu a emergência de expectativas de alcançar maior
garantia dos direitos sociais, aliadas à intensificação da pressão
exercida pelo social.

Estes dados nos levam a refletir que se compararmos o SUS que vivenciamos,
com a saúde que tínhamos antes da criação do SUS, podemos observar que há
muitos avanços e conquistas, embora haja ainda alguns desafios sobre alguns
recursos serem insuficientes e a dificuldade de acesso para alguns usuários.
Portanto, a sociedade civil luta para que os serviços de saúde sejam
acessados de forma gratuita e de qualidade. Antes da consolidação da reforma
sanitária, o acesso à política de saúde só ocorria em caso de doença, pois nesse
período o modelo de assistência à saúde era baseado nas intervenções curativas, na
qual o médico era o centro e as ações de saúde eram baseadas nas internações
hospitalares. Com a implantação do Sistema Único de Saúde, a política de saúde
passou a ser baseada na prevenção, promoção e reabilitação da saúde. Para melhor
compreensão, Paim (2009, p. 13-14) considera que:
27

De início e de forma muito simples, poderíamos dizer que um sistema


de saúde é o conjunto de agências e agentes cuja atuação tem como
objetivo principal garantir a saúde das pessoas e das populações.
Essas agências (instituições e empresas) e agentes (profissionais e
trabalhadores de saúde) fazem parte de algo maior, ou seja, o sistema
de saúde. Tais organizações e pessoas que integram o sistema são
partes de um todo, mas cabe alertar que o todo pode ser mais que a
mera soma de partes.

Nesse sentido deve considerar que o sistema único de saúde, apesar de ser
um sistema que busca garantir a saúde do indivíduo e da comunidade, o fato de não
ser, totalmente, estatal enfraquece de certa forma sua abrangência. A ideia de sistema
de saúde vai além dos serviços de saúde prestados em instituições desta modalidade,
como relata Paim (2009, p. 16):

Portanto, a ideia de sistema de saúde é mais ampla do que o conjunto


de estabelecimentos, serviços, instituições, profissionais e
trabalhadores de saúde, tal como descrita de forma simplificada no
início deste capitulo. Neste momento, é desejável ampliar um pouco
essa noção, lembrando que o sistema de saúde é integrado não só
pelos serviços de saúde, mas também pela mídia, escolas,
financiadores, indústrias de equipamentos e de medicamentos,
universidades, institutos de pesquisa etc.

De acordo com Cohn et al. (1999, p. 72):

O Programa Metropolitano de Saúde (PMS), propõe uma ampliação


da participação da comunidade no sistema, para fiscalizar o
funcionamento das unidades, que, através da estruturação
regionalizada e hierarquizada dos serviços de saúde, deveria
possibilitar um planejamento mais adequado de distribuição territorial
dos equipamentos.

Há também outras instâncias de participação, que podem contribuir para o


fortalecimento do controle social no SUS, a saber:
• Ministério Público;
• Ouvidorias;
• Movimentos Sociais /Saúde;
• Plenárias/Fóruns de Saúde;
• Organizações não governamentais;
• Partidos Políticos;
• Órgão de defesa do Consumidor;
28

• Redes Sociais.
Os Conselhos e Conferências foram adotados por diversas áreas sociais e
estão, hoje, consolidados como mecanismos de democracia participativa. Esses
mecanismos de participação democrática estão presentes em todas as políticas
sociais, porém, apesar dos desafios, foi notado um avanço no setor da saúde em
virtude das propostas de mudanças legais adotas por esta política.
A área da saúde foi pioneira nesse processo devido ao entusiasmo político
que se caracterizou no final da década de 1970 e a organização do movimento de
reforma sanitária, que reuniu movimentos sociais, intelectuais e partidos de esquerda
“médico-assistencial privatista”.
A gestão participativa representa a construção de uma nova forma de
organização social, pautada na aproximação do Estado e da sociedade no
redirecionamento das políticas sociais, na busca pelo consenso nas decisões, as
quais devem levar em consideração o bem comum e não mais os interesses
individuais, rompendo com o modelo burocrático que cerceava qualquer forma de
expressão popular.

A ideia de participação disseminada na 8ª Conferência Nacional de


Saúde é estabelecida de forma ampliada, onde a população torna-se
protagonista da gestão e dos serviços de saúde. Clamava-se pela
atuação da Sociedade Civil na arena decisória das políticas de saúde.
Contudo, o processo de controle social que começou a ser fortalecido
a partir da 8ª Conferência esbarra em alguns limites derivados da
própria fragilidade da Sociedade Civil em participar e se organizar
politicamente para defender os interesses da coletividade (MIRANDA,
2009).2

Os conselhos de Saúde são considerados uma conquista na História da


Política de Saúde Brasileira, estabelecendo uma relação dialética nas relações entre
diversos atores sociais. As funções estabelecidas no Decreto n° 99.438, de 7 de
agosto de 1990 são adaptadas às esferas competentes, assim, as leis municipais e
estaduais têm o dever de assegurar aos conselhos as seguintes funções:

• Formular e deliberar sobre a política de saúde, inclusive nos


aspectos econômicos e financeiros, sendo suas decisões
homologadas pelo chefe do Poder Executivo, em seus respectivos
níveis de atuação. A homologação deverá ocorrer em 30 dias, caso

2
Disponível em: <https://ufrb.edu.br/servicosocial/tccs/category/5-tcc2013-1?download=62:eliane-
maria-arajo-souza-lima#>. Acessado em: 19 de abril de 2021.
29

contrário, elas retomam ao plenário do conselho para nova votação


que deverá ser acatada;
• Definir estratégias e mecanismos de coordenação e gestão do SUS,
articulando-se com os demais colegiados em níveis nacional, estadual
e municipal;
• Propor medidas para o aperfeiçoamento da organização do
funcionamento do SUS;
• Convocar e estruturar a Comissão Organizadora das Conferências
estaduais e municipais e distritais de Saúde, marcando com
antecedência as datas de realização;
• Aprovar critérios e parâmetros para o repasse de verbas de sua
esfera de competência para níveis mais descentralizados, respeitando
a legislação vigente e propor a destinação de pelo menos 10% dos
orçamentos municipais, estaduais e federal para a saúde, assim como
30% do orçamento da Seguridade Social;
• Propor critérios para a programação e para a execução financeira e
orçamentária dos fundos de saúde, deliberando sobre a destinação
dos recursos, fiscalizando e controlando seu funcionamento;
• Estabelecer critérios e diretrizes quanto à localização e ao tipo de
unidades prestadoras de serviços de saúde públicas ou privadas no
âmbito do SUS, fiscalizando seu funcionamento por meio de seus
membros ou de comissões designadas pelo conselho (BRASIL, 1990).

As Conferências de Saúde são espaços democráticos de construção da


política de Saúde, portanto é o local onde o povo manifesta, orienta e decide os rumos
da saúde em cada esfera, reforçando essa participação conforme apresenta a
Constituição Cidadã em seu art. 1º. “todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”
(BRASIL, 2000).
A conferência teve duração de quatro dias, resultando no desdobramento de
sugestões importantes para os serviços do SUS terem mais qualidade. Foi discutido
algumas propostas para fortalecerem o SUS e ficou decidido as seguintes propostas:

Fortalecer o controle social autônomo, paritário, democrático e


deliberativo em todas as agências de fiscalização para a defesa dos
direitos da cidadania e do bem comum, legitimando os Conselhos de
Saúde como espaços estratégicos de gestão participativa para
pactuação e estabelecimento de compromissos entre a gestão
pública, os trabalhadores e os usuários, visando o desenvolvimento e
qualificação dos serviços e das políticas públicas de saúde, como
política de governança, impactando na melhoria da qualidade de vida
da população, com fiscalização dos prestadores de serviços
contratados/conveniados quanto à efetiva disponibilização dos
procedimentos, medicamentos e insumos necessários ao tratamento
de usuários do SUS sob sua responsabilidade, com acesso irrestrito,
nos termos da lei, a todas as informações necessárias sobre os
serviços de saúde, incluindo média e alta complexidade e pesquisas
30

de opinião pública com usuários e trabalhadores, dando publicidade


adequada aos resultados (BRASIL/MS, 2012, p.15).

As conferências e conselhos de saúde são pedidos de caráter permanente,


deliberativos e paritário, considerado como um dos mecanismos de democracia direta,
tendo como representação usuários, gestores da saúde, prestadores de serviços
públicos e privados, composto por 50% de usuários e 50% por gestores e
trabalhadores em Saúde. Seus objetivos são discutir, elaborar e fiscalizar a política de
saúde em cada esfera, com base na universalização dos direitos e na ampliação do
conceito de cidadania.
No Brasil, atualmente, os conselhos estão organizados em Conselho Nacional
de Saúde (CNS), Conselhos Estaduais em todos os estados brasileiros e Conselhos
Municipais em diversos municípios.

3.1 A NORMA OPERACIONAL BÁSICA DO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (NOB-


SUS/96)

O Sistema Único de Saúde foi decretado na Constituição Federal de 1988 e


foram muitas as dificuldades da sua efetivação. Após muitos debates e processo de
discussão, foi criada a Norma Operacional Básica (NOB-SUS/96) que culminou com
a assinatura da Portaria n°. 2.203, publicada no Diário Oficial da União de 06 de
novembro de 1996.
Com a intenção de viabilizar o processo de descentralização do SUS, foram
criadas três Normas Operacionais Básicas, a NOB 91, a 93 e a 96. Estas buscaram
estabelecer aparatos para o modelo de assistência à saúde. Mas, foi a NOB 96 que
desenvolveu o processo de descentralização, instituindo outras condições para gestão
de saúde entre Estados e municípios norteando, de fato, a maneira de funcionamento
da gestão dos municípios na saúde. Nesse sentido, Magalhães (2011, p. 27) afirma:

De acordo com a Norma Operacional Básica - NOB/SUS 01/96, a


criação e o funcionamento desse sistema municipal, impulsionado
pelo processo de descentralização imposto pelo SUS possibilitaram
uma grande responsabilização dos municípios, no que se refere à
saúde de todos os residentes em seu território.
31

A Norma Operacional Básica define estratégias e movimentos táticos, para o


aperfeiçoamento da gestão do SUS e a operacionalidade deste sistema. Sua
finalidade é promover e consolidar os princípios do SUS com a redefinição das
responsabilidades dos estados, do Distrito Federal e da União. Para Nogueira (2008,
p. 220) “as inovações mais radicais relativas ao modelo de atenção proposto pela
legislação do SUS somente teve início com essa norma operacional”.
Conforme a NOB- SUS/96 (1997, p. 6):

Assim, esse poder se responsabiliza como também pode ser


responsabilizado, ainda que não isoladamente. Os poderes públicos
estadual e federal são sempre corresponsáveis, na respectiva
competência ou na ausência da função municipal (inciso II do Artigo
23, da Constituição Federal). Essa responsabilidade, no entanto, não
exclui o papel da família, da comunidade e dos próprios indivíduos, na
promoção, proteção e recuperação da saúde. Isso implica aperfeiçoar
a gestão dos serviços de saúde no país e a própria organização do
Sistema, visto que o município passa a ser, de fato, o responsável
imediato pelo atendimento das necessidades e demandas de saúde
do seu povo e das exigências de intervenções saneadoras em seu
território.

A NOB aperfeiçoa a gestão do SUS, mas também reordena o modelo de


atenção à saúde, pois redefine os seguintes pontos (1997, p. 7):

a. os papéis de cada esfera de governo e, em especial, no tocante à


direção única;
b. os instrumentos gerenciais para que municípios e estados superem
o papel exclusivo de prestadores de serviços e assumam seus
respectivos papéis de gestores do SUS;
c. os mecanismos e fluxos de financiamento, reduzindo progressiva e
continuamente a remuneração por produção de serviços e ampliando
as transferências de caráter global, fundo a fundo, com base em
programações ascendentes, pactuadas e integradas;
d. a prática do acompanhamento, controle e avaliação no SUS,
superando os mecanismos tradicionais, centrados no faturamento de
serviços produzidos, e valorizando os resultados advindos de
programações com critérios epidemiológicos e desempenho com
qualidade;
e. os vínculos dos serviços com os seus usuários, privilegiando os
núcleos familiares e comunitários, criando, assim, condições para uma
efetiva participação e controle social.
32

3.2 OS DESAFIOS ENFRENTADOS PELO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

O SUS está consolidado na Constituição Federal e tem os princípios postos


na Lei Orgânica da Saúde (Lei n° 8.080/90), suas Normas Operacionais Básicas, ou
seja, o sistema tem sua base pautada na lei, mas o problema é que não são todos
que conseguem ter acesso ao SUS. Uma parte da população está aguardando filas
de espera para se ter direito a uma consulta, exames, cirurgias e encaminhamentos
para alguns serviços especializados, em que muitas vezes essa espera pode demorar
anos.
Em alguns municípios faltam médicos na atenção básica, medicamentos,
insumos básicos, entre outros. As condições de trabalho, muitas vezes, estão
precárias a ponto de chegar a atrasar salários, e isso pode resultar em um
atendimento desumano e preconceituoso. Em outras situações, há profissionais que
ainda atendem no modelo hegemônico, ou seja, só focando apenas na doença,
precarizando o atendimento emergencial, atendimentos aos idosos, vítimas de
violência e a assistência em saúde mental.
Isso reflete na procura de serviços privados, contribuindo assim, para o
fortalecimento do capital. Há quem diga que não precisa do SUS, por motivos de ter
um plano de saúde privado, mas, mesmo assim, é o SUS que oferece serviço de alta
complexidade, tais como: transplante de órgão, medicamentos que possuem um alto
custo, procedimentos cirúrgicos, entre outros.
A consolidação do SUS encontra ausência de interesse político de alguns
governantes e na falta de estrutura da sociedade, em especial a população em
situação precária e de extrema pobreza. Muitas vezes, essas pessoas não têm
conhecimento dos seus direitos e por isso não pressionam as autoridades que estão
responsáveis na garantia do direito à saúde.
Enfim, mesmo com suas falhas na oferta de alguns serviços, somos usuários
do SUS, cotidianamente, seja na nossa alimentação; nas vacinas; ou até mesmo nos
serviços estéticos. O que se espera é que esses problemas que dificultam o acesso à
saúde, sejam superados para que, assim, o cidadão passe a ter acesso a esses
serviços de forma universal e igualitária.
33

4 O SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE E A INSERÇÃO PROFISSIONAL

Este capítulo aborda um pouco da história do Serviço Social no Brasil e sua


inserção nas políticas sociais, tendo como foco de estudo sua atuação no âmbito da
Política de Saúde e suas contribuições no fortalecimento do controle social no SUS.
A relação entre Serviço Social e saúde no Brasil deu-se por volta de 1930,
quando a igreja católica tinha forte influência no ensino dos primeiros assistentes
brasileiros. Após um curso intensivo de “formação social para moças”, organizado
pelas Cônegas de Santo Agostinho de 1° de abril a 15 de maio de 1932, surgiu o
Centro de Estudos e Ação social (CEAS), entidade que fundou a primeira escola de
Serviço Social do país, com direção da Melle Adéle de Loneux (YASBEK, 2009).
Na década de 1940 o Serviço social ainda tinha suas ações direcionadas a
entidades da igreja católica e empresas privadas. Após um período, o Estado passa
a intervir no processo de reprodução das relações sociais, assumindo o papel de
regulador e fiador dessas relações, tanto na viabilização do processo de acumulação
capitalista, como no atendimento das necessidades sociais das classes subalternas.
(YASBEK, 2009). Assim, a profissão passa a atuar em outras instituições e
abandonando seu viés caritativo.
A profissão só foi reconhecida em 1957 com a Lei 3.252, mas no decorrer da
sua trajetória, a profissão começa a trilhar novos caminhos e passa a ser
regulamentada pela Lei 8.662 de 1993 que estabelece, no seu artigo 4º, como
competências do assistente social: “elaborar, implementar, executar e avaliar políticas
sociais junto à órgãos da administração pública direta ou indireta, empresas,
entidades e organizações populares” (BRASIL, 1993).
De 1974 a 1979, o serviço passou por um processo organizativo, surgindo
outras possibilidades de intervenção para o assistente social, possibilitando a sua
atuação em diversas áreas da política. Com a Constituição Federal de 1988, a saúde
se estabeleceu como um direito de todos e dever do Estado, assim, juntamente à
assistência social e previdência social passam a integrar a Seguridade social.
O serviço social sofreu influências, passando por um processo interno de
revisão e negação do serviço social tradicional, neste período deu início a tendência
hegemônica atual da profissão, conforme Bravo (1996) apud Bravo e Matos (2004, p.
198):
34

Num balanço do Serviço Social na área da saúde dos anos 80, mesmo
com todas essas lacunas no fazer profissional, observa-se uma
mudança de posições, a saber: a postura crítica dos trabalhos em
saúde apresentados nos Congressos Brasileiros de Assistentes
Sociais de 85 e 89; a apresentação de alguns trabalhos nos
Congressos Brasileiros de Saúde Coletiva; a proposta de intervenção
formulada pela Associação Brasileira de Ensino de Serviço Social
(ABESS), Associação Nacional dos Assistentes Sociais (ANAS) e
Conselho Federal de Assistentes Sociais (CFAS) para o Serviço Social
do INAMPS; e a articulação do CFAS com outros conselhos federais
da área da saúde.

Na mesma década, o projeto da Reforma Sanitária é questionado e o projeto


de saúde articulado ao mercado ou privatista, com isso, o Estado modifica a sua
atuação garantindo o mínimo para aqueles que não tem como pagar. Nesse sentido,
Bravo e Matos (2004, p. 200) afirmam:

O projeto privatista requisitou, e vem requisitando, ao assistente


social, entre outras demandas: seleção socioeconômica dos usuários,
atuação psicossocial através de aconselhamento, ação fiscalizatória
aos usuários dos planos de saúde, assistencialismo através da
ideologia do favor e predomínio de práticas individuais. Entretanto, o
projeto da reforma sanitária vem apresentando, como demandas, que
o assistente social trabalhe as seguintes questões: busca de
democratização do acesso às unidades e aos serviços de saúde,
atendimento humanizado, estratégias de interação da instituição de
saúde com a realidade, interdisciplinaridade, ênfase nas abordagens
grupais, acesso democrático às informações e estímulo à participação
cidadã.

As forças conservadoras que fortalecem o projeto privatista contrariam o


Serviço Social e interferem no posicionamento de que o marxismo não apresenta
respostas nas demandas atuais. Portanto, o profissional de serviço social, que tem
conhecimento sobre as expressões da questão social na saúde, precisa criar formas
para que os usuários tenham conhecimento que tem direito à saúde e é dever do
Estado garantir esse direito. O profissional deve realizar trabalhos de prevenção, de
proteção e educativos para a comunidade, fortalecendo os serviços e ações da
atenção básica, visto que, é a porta de entrada do sistema de saúde.
O Serviço Social tem um papel muito importante no ordenamento das relações
sociais, na luta pelo resgate da hegemonia rompida pelo sistema capitalista e no
enfrentamento das latentes expressões da questão social; na perspectiva de
estabelecer uma sociedade mais igualitária, livre e emancipada, tendo em vista que
os direitos sociais, principalmente, o direito à saúde “com vista a contribuir para
35

qualidade do espaço público, para o controle social e, em última instância, para a


construção de uma nova ordem social” (VASCONCELOS, 1997, p. 133).
O Brasil é o país que concentra maior riqueza do mundo, mas existe milhares
de pessoas que vivem em condições precárias e até vivendo em situação de miséria.
Diante desse cenário, o serviço social tenta romper com as desigualdades existentes
na sociedade brasileira.

Defendemos a luta pela democratização da política e garantia dos


direitos sociais como estratégia de ganhos de acúmulo de forças da
classe trabalhadora, e como mediação necessária e inadiável no
percurso de construção de uma sociedade emancipada (CFESS
MANIFESTA, 2009).3

Os profissionais de Serviço Social estão atuando cada vez mais em outras


políticas públicas. As demandas do mercado de trabalho exigem uma atuação
capacitada. Com isso, é necessária uma formação profissional traçada nas
competências teórico-metodológica, técnico-operativa e técnico-política. Assim, as
transformações ocorridas na contemporaneidade impostas pelo modelo econômico
vigente – o capitalismo – exige o redimensionamento das funções do assistente social,
como também, uma maior qualificação para o exercício da profissão.
O código de Ética do assistente social apresenta dimensões que devem ser
seguidas na saúde, como a prestação de serviços diretos à população, no
planejamento, na assessoria, na gestão e na mobilização e participação social.
Portanto, os Parâmetros de Atuação do Assistente Social na Política de Saúde dizem
que realizar uma atuação competente e crítica do Serviço Social na área da saúde
consiste em:

• estar articulado e sintonizado ao movimento dos trabalhadores e de


usuários que lutam pela real efetivação do SUS;
• conhecer as condições de vida e trabalho dos usuários, bem como os
determinantes sociais que interferem no processo saúde-doença;
• facilitar o acesso de todo e qualquer usuário aos serviços de saúde da
instituição e da rede de serviços e direitos sociais, bem como de forma
compromissada e criativa não submeter à operacionalização de seu
trabalho aos rearranjos propostos pelos governos que
descaracterizam a proposta original do SUS de direito, ou seja, contido
no projeto de Reforma Sanitária;

3
Disponível em: <http://www.cfess.org.br/arquivos/cfess_manifesta_campanha.pdf>. Acessado em:
19 de abril de 2021.
36

• buscar a necessária atuação em equipe, tendo em vista a


interdisciplinaridade da atenção em saúde;
• estimular a intersetorialidade, tendo em vista realizar ações que
fortaleçam a articulação entre as políticas de seguridade social,
superando a fragmentação dos serviços e do atendimento às
necessidades sociais;
• tentar construir e/ou efetivar, conjuntamente com outros trabalhadores
da saúde, espaços nas unidades que garantam a participação popular
e dos trabalhadores de saúde nas decisões a serem tomadas;
• elaborar e participar de projetos de educação permanente, buscar
assessoria técnica e sistematizar o trabalho desenvolvido, bem como
realizar investigações sobre temáticas relacionadas à saúde;
• efetivar assessoria aos movimentos sociais e/ou aos conselhos a fim
de potencializar a participação dos sujeitos (CFESS, 2010, p. 30).

Ao planejar suas atividades para o exercício profissional deve-se levar em


conta a demanda institucional, sem perder de vista a demanda do usuário; intervindo
de forma a contribuir nas demandas que estão ao seu alcance; desenvolvendo suas
ações com base no Código de Ética e seu compromisso profissional; e trabalhando
com conhecimento da legislação profissional, das atribuições e competências da sua
profissão, e também com os limites postos pela instituição.

4.1 PARÂMETROS DO SERVIÇO SOCIAL NA SAÚDE

O Serviço Social tem como foco, na prática profissional e no âmbito da saúde,


a garantia do acesso aos serviços de saúde através de eixos. Desse modo, fica
amparado no artigo 196 da Constituição Federal de 1988:

A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de
doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação
(BRASIL, 2000).

Além disso, há eixos na Lei de Regulamentação da Profissão de Assistente


Social (Lei n° 8.662/93), a qual representa a institucionalidade legal da profissão; no
Código de Ética Profissional do Assistente Social (1993); e por fim nos Parâmetros
para a Atuação de Assistentes Sociais na Saúde (2010).
Historicamente, o serviço social na saúde se deu no âmbito curativo, foi a
partir da organização do Sistema Único de Saúde (SUS), entre as décadas de 1980 a
37

1990, que houve o reconhecimento da necessidade da saúde enquanto direito


humano com o que prescreve a Constituição Federal de 1988.
Na saúde, o momento histórico foi a implementação do projeto de Reforma
Sanitária, que foi construído por volta dos anos setenta. Este projeto tinha relação
direta com o projeto profissional dos assistentes sociais, cuja preocupação central era
identificar os impasses para efetivação desses projetos (CFESS, 2010).
O projeto da Reforma Sanitária exigiu do assistente social uma prática
profissional que trabalhasse a democratização do acesso às unidades e aos serviços
de saúde; estratégias de aproximação das unidades de saúde com a realidade;
trabalho interdisciplinar; ênfase nas abordagens grupais; acesso democrático às
informações e estímulo à participação popular.

Assim, compreende-se que cabe ao Serviço Social – numa ação


necessariamente articulada com outros segmentos que defendem o
aprofundamento do Sistema Único de Saúde (SUS) – formular
estratégias que busquem reforçar ou criar experiências nos serviços
de saúde que efetivem o direito social à saúde, atentando que o
trabalho do assistente social que queira ter como norte o projeto ético-
político profissional tem de, necessariamente, estar articulado ao
projeto da reforma sanitária (MATOS, 2003 apud BRAVO; MATOS,
2004, p. 17-18).

Com isso, observamos que o projeto ético-político e o da Reforma Sanitária


se relacionam, pois abordam os mesmos objetivos e defendem a universalização das
políticas socais e a garantia dos direitos.
O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) construiu um documento
intitulado “Parâmetros para Atuação do Assistente Social na Saúde” para referenciar
a intervenção do assistente social no âmbito da saúde. Esse objetiva contribuir com o
exercício profissional através das repostas, a partir da identificação das demandas
postas tanto pela instituição, quanto pelos usuários na garantia e ampliação dos
direitos conquistados no processo de redemocratização da sociedade brasileira.
Este documento declara o compromisso de ofertar uma qualidade de
atendimento à população usuária.

Procura, nesse sentido, expressar a totalidade das ações que são


desenvolvidas pelos assistentes sociais na saúde, considerando a
particularidade das ações desenvolvidas nos programas de saúde,
bem como na atenção básica, média e alta complexidade em saúde
(CFESS, 2010, p. 12).
38

A saúde do trabalhador se configura como um campo de intervenção dos


assistentes sociais devido as suas condições de saúde, e isso é um reflexo da
precarização do trabalho. As ações de atendimento do assistente social são voltadas
à prevenção e à promoção da saúde; à fiscalização e condições de trabalho; e ao
acesso aos direitos previdenciários e trabalhistas.

O assistente social atua no atendimento aos trabalhadores, seja


individual ou em grupo, na pesquisa, no assessoramento e na
mobilização dos trabalhadores, compondo muitas vezes, equipe
multiprofissional. Os desafios são muitos. Apesar dos avanços, a
exemplo da realização da III Conferência Nacional de Saúde do
Trabalhador em 2005, muito tem de se construir na implementação da
política e no combate a atuação segmentada dos diferentes órgãos e
instituições, como órgãos públicos da saúde, previdência social,
trabalho e emprego, poder judiciário, empregadores, pesquisadores,
movimentos dos trabalhadores, com destaque para a organização
sindical, entre outros (CFESS, 2010, p. 40).

O trabalho multiprofissional foi uma estratégia fundamental na identificação


dos problemas de saúde, já que vários olhares e conhecimentos diferentes
contribuíram para a elaboração de ações que, em conjunto, analisam e buscam
formas de intervir capazes de responder as demandas.
Portanto, planejando um relacionamento do assistente social com outras
categorias profissionais, o Código de Ética dos/as assistentes sociais em seu Capítulo
III, descreve acerca das relações da categoria supracitada com outros/as
profissionais, precisamente em seu art. 10º:

Incentivar, sempre que possível, a prática profissional interdisciplinar;


respeitar as normas e princípios éticos das outras profissões; ao
realizar crítica pública a colega e outros/as profissões fazê-lo sempre
de maneira objetiva, construtiva e comprovável, assumindo sua inteira
responsabilidade (CFESS, 1993).

No cotidiano profissional, os assistentes sociais enfrentam questões, a saber:


demora no atendimento; precariedade dos recursos; burocratização; ênfase na
assistência médica curativa; problemas com a qualidade e quantidade de
atendimento; e o não atendimento aos usuários. Segundo os Parâmetros de Atuação
dos/as Assistentes Sociais na Saúde, essas demandas se expressam da seguinte
forma no cotidiano dos serviços:
39

• Solução quanto ao atendimento (facilitar marcação de consultas e


exames, solicitação de internação, alta e transferência);
• Reclamação com relação à qualidade do atendimento e/ou ao não
atendimento;
• Não entendimento do tratamento indicado e falta de condições para
realizar o tratamento, devido ao preço do medicamento prescrito, do
transporte urbano necessário para o acesso à unidade de saúde, ou
horário de tratamento incompatível com o horário de trabalho dos
usuários;
• Desigualdade na distribuição e cobertura dos serviços de saúde, nos
municípios e entre os municípios;
• Agravamento das situações de morbidade e mortalidade por
doenças passíveis de prevenção (CFESS, 2010, p. 42).

Os Parâmetros de Atuação dos/as Assistente Social na Saúde trazem alguns


debates acerca de algumas abordagens de profissionais no seu exercício profissional
que fogem de suas competências. Desse modo, esses apresentam algumas ações a
serem desenvolvidas pelos assistentes sociais que estão inseridos nos serviços de
saúde:

• Democratizar as informações por meio de orientações (individuais e


coletivas) e/ou encaminhamentos quanto aos direitos sociais da
população usuária;
• Construir o perfil socioeconômico dos usuários, evidenciando as
condições determinantes e condicionantes de saúde, com vistas a
possibilitar a formulação de estratégias de intervenção por meio da
análise da situação socioeconômica (habitacional, trabalhista e
previdenciária) e familiar dos usuários, bem como subsidiar a prática
dos demais profissionais de saúde;
• Enfatizar os determinantes sociais da saúde dos usuários, familiares
e acompanhantes por meio das abordagens individual e/ou grupal;
• Facilitar e possibilitar o acesso dos usuários aos serviços, bem como
a garantia de direitos na esfera da seguridade social por meio da
criação de mecanismos e rotinas de ação;
• Conhecer a realidade do usuário por meio da realização de visitas
domiciliares, quando avaliada a necessidade pelo profissional do
Serviço Social, procurando não invadir a privacidade dos mesmos e
esclarecendo os seus objetivos profissionais;
• Conhecer e mobilizar a rede de serviços, tendo por objetivo viabilizar
os direitos sociais por meio de visitas institucionais, quando avaliada
a necessidade pelo Serviço Social;
• Fortalecer os vínculos familiares, na perspectiva de incentivar o
usuário e sua família a se tornarem sujeitos do processo de
promoção, proteção, prevenção, recuperação e reabilitação da
saúde;
• Elaborar estudos socioeconômicos dos usuários e suas famílias,
com vistas a subsidiar na construção de laudos e pareceres sociais
40

a perspectiva de garantia de direitos e de acesso aos serviços sociais


e de saúde;
• Buscar garantir o direito do usuário ao acesso aos serviços (CFESS,
2010, p. 44).

No âmbito hospitalar a prática do Serviço Social consiste em desenvolver


orientações sociais que visem à ampliação do acesso aos indivíduos.

O assistente social, ao participar de trabalho em equipe na saúde,


dispõe de ângulos particulares de observação na interpretação das
condições de saúde do usuário e uma competência também distinta
para o encaminhamento das ações, que o diferencia do médico, do
enfermeiro, do nutricionista e dos demais trabalhadores que atuam na
saúde (CFESS, 2010, p. 46).

Nessa direção, Iamamoto (2002, p. 41) afirma que: “são as diferenças de


especializações que permitem atribuir unidade à equipe, enriquecendo-a, ao mesmo
tempo, preservando aquelas diferenças”. Sendo assim, mesmo com as atribuições e
competências estabelecidas em lei, os profissionais da área da saúde enfrentam
alguns desafios institucionais.
O serviço social na saúde atua também em níveis de planejamento, que
buscam a integração de ações na saúde no âmbito da Seguridade Social; na gestão
e coordenação de equipes; e nos programas e projetos. Portanto, sua atuação deve
ser embasada em estudos e pesquisas que abordem as reais condições de vida e
demandas da classe trabalhadora. Com o intuito de melhorar a qualidade dos
atendimentos e serviços prestados aos usuários, os profissionais estão sempre se
qualificando. Essa qualificação envolve uma educação permanente, e esse processo
profissional é norteado pelo trabalho interdisciplinar e os princípios do SUS.
Além dos Parâmetros de Atuação do Assistente Social na Política de Saúde,
a resolução CFESS nº 383/99 de 29/03/1999 declara que as ações de saúde devem
se dar na perspectiva interdisciplinar, a fim de garantir a atenção a todas as
necessidades da população usuária na mediação entre seus interesses e a prestação
de serviços. Por isso, caracteriza-os como profissional da saúde, todavia ratifica no
art. 2º que não pode ser um profissional, exclusivamente, da saúde, pois há a
possibilidade do assistente social estar inserido em outras áreas, dependendo do local
em que atua e da natureza de suas funções.
41

5 A INSERÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NA POLÍTICA DE SAÚDE

Este capítulo aborda a pesquisa social, que foi realizada no período de agosto
de 2019 a julho de 2020, sendo intitulada como a Inserção do Assistente Social na
Política de Saúde. Ela destaca o trabalho do assistente social no âmbito hospitalar,
particularizando suas atribuições.
A proposta dessa pesquisa foi trazer os aspectos metodológicos e a discussão
dos resultados.

5.1 UNIVERSO DA PESQUISA

O processo da pesquisa teve como finalidade conhecer a inserção do


assistente social na política de saúde; entender como era realizado o serviço desses
profissionais, e se havia alguma dificuldade em relação ao conhecimento do trabalho
do assistente social; e, por fim, destacar as suas atribuições e competências na
política de saúde.
No que diz respeito aos aspectos metodológicos, foram feitas pesquisas de
estudos publicados no Scientific Electronic Library Online (SciELO), Katálysis, Serviço
Social & Sociedade. Além dessas fontes, foram consultados outros materiais, a saber:
os Parâmetros de Atuação do Assistente Social na Política de Saúde, o Código de
Ética do Assistente Social e outros, que abordam o tema da inserção dos assistentes
sociais na Política de Saúde.
Foram observadas nos artigos várias hipóteses, tais como: precarização do
trabalho; muitas demandas acima da capacidade de atendimentos; a falta de
estruturas em vários setores que fazem com que as demandas cheguem
sobrecarregadas para os profissionais de serviço social; outra hipótese observada
foram os eixos de inserção do trabalho profissional dos assistentes sociais na saúde.

5.2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

A princípio, a proposta era fazer uma entrevista, através de um questionário.


Porém, não foi possível realizar a entrevista. No lugar dessa, foi feita uma análise de
conteúdo por meio da leitura do material coletado para desenvolver as categorias de
análise. Em meio a pandemia que estamos vivenciando, tivemos que nos adaptar a
42

algumas mudanças. Assim, o tipo de pesquisa adotada foi a bibliográfica, baseada


nos seguintes dados: Scientific Electronic Library Online (SciELO), Katálysis, Serviço
Social & Sociedade. Depois de realizada a pesquisa nestas bases de dados, foi
possível encontrar 44 artigos, que abordassem o tema assistente social na saúde.
Em seguida, foram selecionados artigos que abordassem o tema da inserção
do serviço social na saúde, sem priorizar os anos de publicação dos artigos. Assim,
foram analisados pelo resumo, título e metodologia, com o intuito de explorar se havia
alguma relação com o tema abordado. Nos casos em que o resumo não deixava claro
o objetivo da pesquisa, já era descartado.
Após a seleção dos resumos, surgiu a necessidade de se aprofundar em 14
artigos. Apesar de ter escolhido esses 14 artigos, foram lidos e analisados outros
artigos, mas os demais foram excluídos, pois não tinham foco no tema abordado. Dos
14 artigos selecionados, apenas 04 abordavam o tema serviço social e saúde.

Quadro 1: Artigos selecionados para análise


Titulo Autores Ano Objetivo
Serviço Social e o campo da Sodré, Francis 2010 Analisa a política de saúde e o trabalho do
Saúde: para além de plantões assistente social a partir de dois momentos
e encaminhamentos. distintos das formas de gestão do trabalho: o
modelo fordista e o modelo de acumulação
flexível.
O trabalho do assistente Martinelli. Maria 2011 Aponta dimensões éticas que estão
social em contextos Lúcia. presentes no trabalho e que são constitutivas
hospitalares: desafios da identidade da profissão, expressando-se
cotidianos. em diferentes níveis desde a ética dos
cuidados até a ética militante e de proteção
social.
Educação em saúde e Santos, Marta Alves; 2017 Este artigo traz questões para reflexão sobre
Serviço Social: Instrumento Senna, Mônica de a dimensão ético-política da Educação em
político estratégico na pratica castro Maia. Saúde como campo de intervenção do
profissional. assistente social.
Precariedade e Faleiros, Vicente de 2019 Este artigo aponta para a precarização do
interdisciplinaridade no Paula; Araújo, trabalho social no contexto de
trabalho da Assistente Social Adelina Almeida de neoliberalização, com consequências de
na esfera pública. Heldler, Helga sobrecarga e de estresse no cotidiano das
Cristina. profissionais.
Fonte: dados da pesquisadora, 2020.

Em outras fontes de pesquisa, foi possível adquirir mais materiais que


discutissem sobre o tema, neles estão inclusos o livro Serviço Social e Saúde:
formação e trabalho profissional (MOTA, 2014); A inserção do assistente social na
saúde: desafios atuais (NOGUEIRA e SARRETA, 2016); e O trabalho nos Serviços
43

de Saúde e a Inserção dos(as) Assistentes Sociais (COSTA, 2009). Assim, deu-se


início a coleta de dados para as análises da pesquisa.

5.3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

Após dados coletados da pesquisa denominada A inserção do assistente


social na política de saúde, cujo os principais objetivos foram compreender o contexto
histórico da saúde; entender a relação entre serviço social e saúde, e as atribuições e
competências do assistente social nesta política. A pesquisa foi realizada de forma
bibliográfica, através de estudos publicados, para coletar o corpus da pesquisa.
“A partir da década de 1960, iniciou-se na categoria o movimento de
reconceituação que buscou a ruptura com a prática do Serviço Social tradicional, e
teve como resultado a definição da direção política e ideológica da profissão”.
(NOGUEIRA e SARRETA, p. 02, 2016). Assim, o Serviço Social passou por um
processo de renovação e amadurecimento teórico, destacando a força do movimento
da Reforma Sanitária, que lutou pela universalização do acesso à saúde,
compreendendo que é direito de todos e um dever do Estado.
O trabalho do assistente social na saúde deve ter como eixo central a busca
criativa e incessante da incorporação dos conhecimentos e das novas requisições à
profissão, articulados aos princípios da Reforma Sanitária e do projeto ético-político
do Serviço Social (BRAVO; MATOS, 2004).
O assistente social, quando está exercendo sua profissão, deve considerar o
projeto profissional, sem perder de vista a demanda do usuário, intervindo de forma a
contribuir nas determinadas situações que estão ao seu alcance e desenvolvendo
suas ações com base no Código de Ética e com o seu compromisso profissional.
Nessa perspectiva, Nogueira e Sarreta (2016, p. 08) afirmam que:

Para uma prática profissional coerente a categoria deve levar em


conta o conceito ampliado de Saúde, não mais compreendida
enquanto ausência de doença, mas sim enquanto fruto das relações
sociais e destas com o meio físico, social e cultural. Dessa forma, o
agir profissional deve superar a perspectiva biologista e distanciar-se
de práticas paramédicas e da fragmentação do conhecimento, pois o
trabalho com os aspectos sociais que determinam o processo saúde-
doença exige o conhecimento e visão generalistas, que trabalhem com
sujeito em sua totalidade.
44

Assim, deve-se considerar a realidade dos usuários; as suas relações sociais;


o que causou a doença, e não só ter um olhar direcionado, exclusivamente, à cura da
doença, mas para seu convívio social e cultural.
A atuação do assistente social é importante para a consolidação do SUS,
como traz Costa (2009, p. 310),

o assistente social se insere, no interior do processo de trabalho em


saúde, como agente de interação ou como um elo orgânico entre os
diversos níveis do SUS e entre este e as demais políticas sociais
setoriais, o que nos leva a crer que o seu principal papel é assegurar
a integralidade das ações.

Considerando Costa (2009), é possível desenvolver atividade educativas e de


apoio a mobilização da participação social da comunidade, garantindo a prevenção e
recuperação das doenças.
Ainda sobre o assistente social, este deve assegurar que os usuários tenham
acesso aos serviços de saúde, garantindo que suas demandas sejam resolvidas.
Portanto, o Código de Ética traz no art. 5º os deveres do/a assistente social nas suas
relações com os usuários/as:

• Contribuir para a viabilização da participação efetiva da população


usuária nas decisões institucionais;
• Garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e
consequências das situações apresentadas, respeitando
democraticamente as decisões dos/as usuários/as, mesmo que sejam
contrárias aos valores e às crenças individuais dos/os profissionais,
resguardando os princípios deste Código;
• Democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis
no espaço institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à
participação dos/as usuários/as.

As atribuições e competências dos assistentes sociais são orientadas e


norteadas por direitos e deveres que estão postos no Código de ética e na Lei que
regulamenta a profissão, que devem ser observados e respeitados, tanto pelos
profissionais, quanto pelas instituições. No art. 7º, o Código de Ética deixa claro isso,
quando estabelece as relações com as instituições empregadoras dos assistentes
sociais:

Dispor de condições de trabalho condignas seja em entidade pública


ou privada, de forma a garantir a qualidade do exercício profissional.
45

Ter acesso a informações institucionais que se relacionem aos


programas e políticas sociais e sejam necessárias ao pleno exercício
das atribuições profissionais (CFESS, 1994, p. 31).

De acordo com os Parâmetros de Atuação do Assistente Social na Saúde, a


atuação dos assistentes sociais na saúde pauta-se em quatro eixos importantes:
atendimento direto aos usuários; mobilização, participação e controle social;
investigação, planejamento e gestão; e assessoria, qualificação e formação
profissional. O atendimento direto aos usuários se dá nos diversos espaços de
atuação profissional na saúde, sendo a atenção básica, os serviços que se organizam
a partir de ações de média e alta complexidade, os Centros de Apoio Psicossocial
(CAPs), e os hospitais gerais de emergência e especializados.
Estes eixos, podem ser desenvolvidos juntamente aos atendimentos de
usuários, envolvendo diversas unidades, setores e outros profissionais.
No cotidiano profissional dos assistentes sociais, eles presenciam diferentes
questões, como a demora no atendimento; precariedade dos recursos;
burocratização; ênfase na assistência médica curativa; problemas com a qualidade e
quantidade de atendimento; e o não atendimento aos usuários.
De acordo com os Parâmetros para Atuação do Assistente Social na Saúde,
alguns profissionais ainda exercem ações que fogem de suas competências. É
importante que o profissional esteja ciente de suas competências e atribuições para
que não fique realizando ações que já foram superadas em meio aos avanços
conquistados pela profissão. Assim,

Os assistentes sociais precisam atentar para não repetir o modelo de


produção em massa, que no caso da saúde-fábrica pode ser
compreendido por plantões e encaminhamentos. Aquele arquétipo
resumido em uma sala, um livro preto, um assistente social e uma
agenda antiga com contatos telefônicos desatualizados. O que poderia
ser equiparado ao médico que só entrega receitas. Este modelo não
condiz com o discurso que foi criado pelo Serviço Social, que apregoa
a emancipação humana como princípio (SODRÉ, 2010, p. 460).

A instituição hospitalar proporciona instrumentos utilizados na dimensão


histórica que, muitas vezes, fazem perder informações importantes, resultando assim,
na perda da demanda do assistente social.
O profissional precisa trabalhar com cuidado ético, humanização da prática e
busca pela qualidade no atendimento dos atos profissionais. Por isso, a importância
46

da ética dos cuidados, pois se o trabalho é um uso de si, pressupõe-se na mesma


medida um cuidado de si, destacando a importância:

• do espaço da escuta, tanto no diálogo como no silêncio;


• do espaço do acolhimento, de ter a sensibilidade de oferecer o
acolhimento no momento do desconforto
• da dignidade no trato, da sensibilidade de perceber a condição do
outro naquele momento tão peculiar de sua vida;
• do reconhecimento do sofrimento psíquico, da tristeza, do desconforto
emocional, que acompanham o adoecimento e o agravamento do
quadro de saúde;
• da ética no trato da informação;
• da verdade como base do diálogo, na justa medida, tanto com o
paciente quanto com seus familiares;
• da responsabilidade social partilhada, criando relações de parceria
com o cuidador e familiares, e estimulando-os a criar também vínculos
de pertencimento (MARTINELLI, 2011, 502).

Dessa forma, é importante trabalhar de acordo com os princípios e diretrizes


que norteiam a profissão de serviço social na saúde, garantindo os direitos de
cidadania dos usuários e de seus familiares.
Portanto, o serviço social, enquanto profissão, tem como compromisso ético
e político a defesa dos direitos sociais e da classe trabalhadora. Seguir de acordo com
os princípios que regem a profissão como as diretrizes que norteiam o serviço social
na área da saúde e ter um olhar profissional que identifique as necessidades do
usuário para além do que está transparecendo naquele determinado momento são
essenciais para o assistente social.
47

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho intitulado como Serviço Social na Saúde: A inserção


profissional do assistente social na política de saúde buscou discutir, através do
contexto histórico, fatores que levaram a inserção profissional do assistente social,
apresentando como marco histórico da Constituição Federal Brasileira de 1988, pois
foi uma abertura no campo dos direitos civis, políticos e sociais da população.
As fontes que foram analisadas para a construção desse trabalho revelaram
que, historicamente, a Política de Saúde e o Serviço Social ao longo de sua trajetória,
passaram por um processo de renovação, assumindo suas teorias e categorias de
pensamento que dispararam maior legitimidade e amadurecimento. Sobretudo, no
Serviço Social, que passou a adotar uma intervenção pautada em um projeto,
essencialmente, político e crítico afastando-se de práticas conservadoras e
assistencialistas.
Nesse contexto, havia uma desigualdade social, em que os cidadãos eram
classificados em primeira e segunda classe. Os cidadãos de primeira classe eram os
que integravam o mercado de trabalho, ou seja, aqueles que possuíam carteira
assinada tinham acesso à medicina previdenciária. Já os de segunda classe tinham
suas necessidades de saúde atendidas, unicamente, através de um sistema precário
criado pelas Santas Casas, que funcionava pela boa vontade da classe médica e pelos
raros serviços mantidos pelo Ministério e Secretarias Estaduais de Saúde.
Um marco que merece destaque nas mudanças que ocorreram na política de
saúde no Brasil foi o acordo da constitucionalização da participação popular como um
de seus princípios. Porém, é a Lei nº 8.142/1990 que dispõe sobre a participação
social no SUS, definindo que a participação popular estará incluída em todas as
esferas de gestão do SUS. Legitimando assim, os interesses da população no
exercício do controle social (BRASIL, 2009).
A luta pela Construção do Projeto de Reforma Sanitária foi e é de grande
importância para toda a sociedade brasileira, pois o Brasil é um dos países do mundo
com a melhor legislação em relação à saúde e tem posto em lei a conquista da
universalidade e da equidade do atendimento à saúde.
O Sistema Único de Saúde (SUS), a Norma Operacional Básica (NOB-SUS)
e a Lei Orgânica da Saúde são avanços visíveis para a sociedade, no entanto a
discordância entre a lei e a sua execução é visível, pois como foi apresentado neste
48

trabalho, as dificuldades do atendimento à saúde ainda são muitas. Contudo,


devemos ressaltar que esses direitos foram decretados há pouco tempo se
visualizarmos toda a história.
Ressaltamos, também, que a saúde da população não depende somente do
SUS, mas também de investimento de recursos de políticas econômicas e sociais. A
garantia de emprego, salário, moradia, saneamento básico, comida, educação, lazer
e transporte interferem nas condições de saúde e de vida. Saúde não é só
atendimento médico, mas também prevenção, educação, recuperação e reabilitação,
conforme estão previstas no aparato legal.
Por fim, caminhar em direção ao projeto ético-político profissional do Serviço
Social é caminhar ao contrário do projeto capitalista neoliberal. Com isso, o trabalho
do profissional de serviço social deve estar na perspectiva de possibilitar que os
usuários conheçam os seus direitos e se comprometam no envolvimento da
fiscalização, do acompanhamento do atendimento; e organizem-se e reivindiquem
melhorias, que possam propor e decidir ações, através dos instrumentos de
participação,
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REFERÊNCIAS

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