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POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

Direito
Constitucional
Sumário

Teoria Geral dos Direitos Fundamentais 3


Direitos Individuais e Coletivos 9
Remédios Constitucionais 20
Direitos Sociais 24
Nacionalidade 27
Direitos Políticos 33
Poder Executivo 37
Segurança Pública 41
Ordem Social 44
POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL
Policial Rodoviário Federal

Direito Constitucional

Dica inicial: Este material escrito visa aprimorar e complementar seu caderno
de aulas, principalmente para que você revise os temas vistos em cada videaula.

A Rota de Estudos não substitui as mais de 500 aulas do curso, principalmente


os exemplos que cada professor traz (anote-os!). O segredo de um “bom caderno”
está nas suas próprias palavras. O caderno é muito pessoal. Isto porque, escrever
diariamente um “bom caderno” lhe ajudará a fixar e memorizar toda a matéria (o
que é muito mais eficiente do que apenas ficar lendo). Prefira, inclusive, anotações
manuscritas (torna o estudo mais atencioso).

Ou seja, a Rota de Estudos visa complementar doutrinariamente as videoaulas


e suas anotações pessoais, a fim de que você tenha uma alta performance na sua
prova - que, aliás, é iminente!.

A preparação para Concursos é um tripé: videoaulas (“bom caderno”) + Rota


de Estudos (leitura resumida da doutrina) + questões (treino prático da matéria).

Temas de Direito Constitucional da Rota de Estudos:

I) Teoria Geral dos Direitos Fundamentais;

II) Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos;

III) Remédios Constitucionais;

IV) Dos Direitos Sociais;

V) Da Nacionalidade;

Todos os direitos reservados. É terminantemente proibida a reprodução total ou parcial deste material didático, por qualquer meio ou processo.

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VI) Dos Direitos Políticos e Dos Partidos Políticos;

VII) Poder Executivo;

VIII) Segurança Pública

IX) Ordem Social.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS

Nota introdutória: Tratando-se de banca CESPE, é costumeiro que a questão


contemple pontos doutrinários e, principalmente, jurisprudencial (e não a mera lei
seca). Por isto, este tópico (Teoria Geral dos Direitos Fundamentais) é fundamental
para que haja a adequada compreensão do próximo tópico (Direitos Individuais e
Coletivos), seguramente o tema mais cobrado em seu concurso).

Vejamos, então, os pontos importantes da doutrina sobre os Direitos Fundamentais.

1) Características dos Direitos Fundamentais: A doutrina majoritária aponta 6


características aos Direitos Fundamentais:

a) Historicidade: Os Direitos Fundamentais não surgiram da noite para o dia.


Ao contrário, eles decorrem de uma longa evolução no tempo, de acordo com as
necessidades humanas. Lembre-se que os Regimes Absolutistas vigeram por muito
tempo, e o princípio da liberdade demorou séculos para se formar (e ainda continua
em aperfeiçoamento);

b) Universalidade: Os Direitos Fundamentais ultrapassam as fronteiras territo-


riais de cada país e beneficiam indistintamente o ser humano. Cuidado, contudo,
com a literalidade do art. 5º, CF, que fala apenas em “brasileiros e estrangeiros
residentes”. Tal como explicamos em aula, é preciso ficar atento ao modo como a
pergunta é feita no concurso. Se a questão cobrar “segundo o texto expresso na
CF”, você deve se ater à literalidade do art. 5º, que não contempla o estrangeiro não
residente (vulgo, turista);

c) Irrenunciabilidade: Os Direitos Fundamentais podem deixar de ser exercidos


(temporariamente), mas o indivíduo jamais pode abrir mão de sua titularidade – ex.:
participação no BBB (renuncia-se apenas o exercício, jamais a titularidade (perma-
nente) do Direito Fundamental à privacidade);

d) Inalienabilidade: Por não possuírem conteúdo econômico, os Direitos Fun-


damentais não podem ser alienados/comercializados;

e) Imprescritibilidade: Justamente por não ter conteúdo patrimonial ou econô-


mico, o eventual não exercício dos Direitos Fundamentais não retiram eles da esfera
jurídica do indivíduo – ex.: o fato do indivíduo não ter se associado a um partido
político ou associação por quarenta anos não retira o Direito Fundamental dele se
filiar no futuro.

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f) Relatividade ou limitabilidade (é oa mais importante de todas as caracte-


rísticas): Não existem Direitos Fundamentais absolutos, nem mesmo o direito à vida
(que encontrará mitigações na legítima defesa, estado de necessidade etc). A razão
é simples: todos os Direitos Fundamentais coexistem.

Observação: Embora seja improvável que a Banca lhe cobre tal conteúdo, guar-
de que Norberto Bobbio vislumbra apenas dois Direitos Fundamentais como absolu-
tos: direito de não ser torturado e direito de não ser escravizado (nunca vi uma
questão do seu Concurso chegar nesta profundidade. Mas é bom guardar).

2) Dimensões/gerações dos Direitos Fundamentais: De início, precisamos


fazer duas observações:

I) Qual a diferença entre Direitos Fundamentais e Direitos Humanos? Direitos


Humanos seriam os direitos essenciais do Homem assegurados na Ordem Interna-
cional e Direitos Fundamentais seriam os Direitos Humanos positivados na Ordem
Interna, isto é, os Direitos Humanos que estão escritos nas leis internas.

Consequência: Todo Direito Fundamental é um Direito Humano, mas nem todo


Direito Humano é um Direito Fundamental (esta frase já foi cobrada em um concurso
de Procurador da República/MPF).

Vamos simplificar? Veja abaixo a “teoria dos círculos concêntricos” de Direitos


Humanos e Fundamentais:

Direitos
Humanos

Direitos
Fundamentais

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Neste Tópico, usaremos ambas as expressões como “sinônimas”.

II) Embora exista doutrina apontando 4ª, 5ª e até 6ª Dimensão dos Direitos Funda-
mentais, os Concursos cobram apenas as 3 Dimensões que são incontroversas. O pró-
prio criador das 3 Dimensões (Karel Vasak) não reconhece as Dimensões subsequentes.

a) Primeira dimensão: Representam os Direitos Civis e Políticos. Aqui, há a


garantia de liberdade do indivíduo, impondo uma abstenção ao Estado (= direitos
negativos). Ou seja, está ligada as liberdades públicas clássicas ou negativas.

b) Segunda dimensão: Não basta o indivíduo apenas ter liberdade, ele precisa
também ter direito a certas prestações do Estado (= direitos positivos). Quando o
Estado se abstém em demasia, verifica-se na sociedade graves desigualdades. Dou
sempre este exemplo nas aulas: do que adianta um tetraplégico sem família possuir
liberdade política, religiosa, quiçá de locomoção, se ele não possui o direito básico
à saúde, alimentação, moradia? Apenas com a primeira dimensão, parte da huma-
nidade estaria condenada à morte. Por isto, determinados indivíduos terão neces-
sariamente de ser auxiliados pelo Poder Público. É daqui que surge esta Dimensão.
São os direitos sociais, econômicos e culturais. Visam garantir o Direito à Igualdade.

c) Terceira dimensão: Até então a preocupação era o indivíduo (se ele teria
liberdade e se ele teria direitos prestacionais). Esta dimensão, então, amplia o al-
cance dos Direitos Humanos/Fundamentais. Traz a preocupação, agora, com os
Direitos Transindividuais, Coleltivos ou Difusos. Ou seja, a preocupação aqui é com
a coletividade. Trata-se da fase da fraternidade, pois se garante uma solidariedade
entre todos os indivíduos. O exemplo clássico desta fase são os direitos ambientais.

E como guardar estas 3 dimensões e não inverter sua ordem?

Resposta: Com os “processos mnemônicos”.

O que são processos mnemônicos? São técnicas de memorização que ativam


uma parte do cérebro apta a resgatar temas aparentemente esquecidos. É a famosa
cura do “deu branco”. Em vários momentos fui auxiliado por eles. São ferramentas
importantes para as provas objetivas, sobretudo para memorizar: rol, quóruns, exce-
ções e competências. Vejamos.

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Eis nosso primeiro “processo mnemônico”. Vejamos se ajuda:

Processo mnemônico: Dimensões dos Direitos Fundamentais / Humanos: L I F

1ª = Liberdade

2ª = Igualdade

3ª = Fraternidade

3) Sujeitos ativos (ou titulares) dos direitos fundamentais

São titulares dos Direitos Fundamentais:

• Brasileiros natos;

• Brasileiros naturalizados;

• Estrangeiros residentes;

• Estrangeiros não residentes – (turista que apesar do silêncio do art. 5º, caput,
da CF/88, é incluído por interpretação extensiva da doutrina e jurisprudência – con-
forme vimos no item anterior).

• Pessoas jurídicas na medida do possível, isto é, mesmo sendo uma ficção jurí-
dica, a pessoa jurídica é titular de alguns direitos fundamentais, desde que compatí-
veis à sua estrutura jurídica.

4) Sujeitos passicos (ou eficácia) dos Direitos Fundamentais

Quando se pergunta quem são os sujeitos passivos dos Direitos Fundamentais,


deseja-se saber qual a eficácia dos direitos fundamentais. Ou seja, contra quem
eles poderão ser opostos?

Há quatro correntes sobre a eficácia dos Direitos Fundamentais:

a) Teoria da ineficácia horizontal / state action: Nega a produção de efeitos


dos direitos fundamentais nas relações entre particulares, pois a ideia de direitos
fundamentais seria exclusiva na relação Estado X Particular. É a corrente adotada
nos Estados Unidos.

b) Teoria da eficácia horizontal indireta: A incidência dos direitos fundamentais


nas relações entre particulares aniquilaria a autonomia privada, razão pela qual ca-

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DIREITO CONSTITUCIONAL

beria ao legislador a tarefa de mediar a aplicação dos direitos fundamentais. Ou seja,


esta corrente reconhece a eficácia dos direitos fundamentais entre particulares, mas
exige uma lei expressamente determinando. É a corrente adotada na Alemanha.

c) Teoria da eficácia horizontal direta: Diz que há vinculação direta dos direi-
tos fundamentais entre particulares independentemente de qualquer intermediação
legislativa. Ou seja, os direitos fundamentais deveriam ser observados não apenas
pelo Estado, mas também por outros particulares. Caberia ao Estado, ainda, zelar
para que terceiros não violassem os direitos fundamentais. É a corrente adotada
no Brasil, Portugal e Espanha. Vários exemplos a ilustram – ex.: direito de ampla
defesa e contraditório em uma associação civil; inviolabilidade domiciliar perante
outros particulares; pedido de tratamento médico perante o plano de saúde (direito
à saúde) etc.

Mais recentemente, contudo, os concursos vêm cobrando uma nova classificação.

d) Teoria da eficácia diagonal: Disciplina a relação dos direitos fundamentais


entre particulares que estão em níveis hierárquicos diferentes. Para alguns seria
mero desdobramento da anterior. Para outros, seria uma “terceira” eficácia dos di-
reitos fundamentais (ao lado da vertical e horizontal). Já tivemos a oportunidade de
abordar esta recentíssima classificação em outra obra, também afeta aos concursos
públicos1. São exemplos da eficácia diagonal: relações consumeristas e trabalhistas.
Em ambas, vislumbram-se particulares desiguais, pois evidentemente que o forne-
cedor e o empregador serão mais fortes que o consumidor e o empregado. Aqui, os
direitos fundamentais incidiriam com mais intensidade em prol dos mais frágeis –
ex.: inversão do ônus probatório seria uma decorrência.

5) Taxonomia dos Direitos Fundamentais: Direitos e Garantias Fundamentais


são o gênero, que abrange as seguintes espécies:

• os Direitos Individuais e Coletivos (art. 5º, CF);

• os Direitos Sociais (arts. 6º a 11, CF);

• a Nacionalidade (arts. 12 e 13, CF);

• os Direitos Políticos (arts. 14 a 16, CF); e

• os Partidos Políticos (art. 17, CF).

1 – BARONOVSKY, Ricardo Sanchez e outros. Direitos das Pessoas com Deficiência para provas de
concurso. 1. ed. São Paulo: SaraivaJur, 2019. p. 120.

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Vejam este desenho que resume o “Título II” da CF (“Dos Direitos e Garantias
Fundamentais”).

• Direitos Individuais e Coletivos (art. 5º);


• Direitos Sociais (arts. 6º a 11º);
Direitos e Garantias
• Nacionalidade (arts. 12º e 13º);
Fundamentais
• Direitos Políticos (arts. 14º a 16º);
• Partidos Políticos (art. 17).

São estas 5 espécies de “Direitos e Garantias Fundamentais” que estudaremos


nos próximos tópicos (e que representam cerca de 60 a 70% das questões de Direi-
to Constitucional do seu Concurso).

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DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS

I) Incisos mais cobrados em prova: O art. 5º da CF possui 78 incisos, contudo,


vejamos, então, em 10 tópicos um resumo que representa mais de 90% das ques-
tões da sua prova. Recomendo fortemente que você leia diversas vezes o art. 5º da
CF inteiro. Aliás, do art. 5º serão extraídas não apenas questões de Direito Cons-
titucional, mas também de Processo Penal, Penal, Administrativo, quiçá Legislação
Especial - tal como ocorreu na última prova, em 2018.

A fim de realizar uma análise mentoreada do art. 5º, vejamos os principais tópi-
cos abaixo:

I) Direito à vida: Traz 3 proteções ao indivíduo:

a) Direito de nascer (protege contra o aborto);

b) Direito de continuar vivo (protege contra o homicídio e infanticídio); e

c) Direito de ter uma vida digna.

Contudo, mesmo sendo um dos Direitos Fundamentais mais importantes, ela


encontra mitigações na Ordem Jurídica:

• Mitigações do direito à vida

a) Legítima defesa: Trata-se da excludente de ilicitude que garante o direito


de autopreservação, isto é, que a vítima tire a vida de seu algoz sem que cometa
um crime. Vejamos o conceito do art. 25 do Código Penal: “Entende-se em legítima
defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agres-
são, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Parágrafo único. Observados os
requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa
o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima
mantida refém durante a prática de crimes”.

b) Estado de necessidade: Trata-se de excludente de ilicitude que depende de


uma situação de perigo. Nesta, o indivíduo poderá tirar a vida de alguém quando pre-
sente um conflito de interesses lícitos. Vejamos o conceito do art. 24 do Código Penal:
“Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo
atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito
próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se”.

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c) Aborto legal e jurisprudencial: Há três hipóteses no Brasil de “aborto per-


mitido”. Duas do Código Penal (art. 128, CP) e uma tolerada pelo STF (ADPF 54):
I) Aborto necessário ou terapêutico (ocorre quando há risco à vida da gestante); II)
Aborto sentimental ou piedoso (ocorre quando a gravidez resultante de estupro); e
III) Aborto de feto anencéfalos (chamada pelo STF de “antecipação terapêutica da
gestação de feto anencefálico”).

Observação: Cuidado. O fato do STF ter permitido o aborto de anencefálicos


não significa que ele tolera o aborto de outras más-formações (como a microcefalia).
Isto incidiria no odioso aborto eugênico, praticado na Alemanha nazista, com intuito
de purificar a raça ariana. A discussão na ADPF 54 é diversa.

d) Pena de Morte em caso de guerra declara: O Brasil não adota em regra a


pena de morte, mas excepcionalmente ela poderá ocorrer em caso de guerra de-
clarada (art. 5º, XLVII, “a”, CF/88).

e) Outras hipóteses espalhadas pela ordem jurídica: Há, ainda, outras hipó-
teses, como a lei do abate, constitucionalidade da lei de biossegurança – conforme
vemos em aula.

II) Princípio da legalidade: A Constituição prevê dois tipos de legalidade – a


legalidade administrativa e a legalidade civil. Na legalidade civil o particular pode
fazer tudo que a lei não proíbe, enquanto na legalidade administrativa o agente
público só pode fazer o que lei determina. Isso acarretará implicações práticas im-
portantes: enquanto o agente público possui o dever de licitar antes de realizar uma
contratação (indisponibilidade do interesse público), o particular é livre para adquirir
o que bem entender, pelo preço que for (autonomia privada).

III) Direito à liberdade de manifestação do pensamento: O gênero é a “li-


berdade de pensamento”, da qual extraímos várias espécies: liberdade religiosa,
liberdade artística, liberdade de cátedra, liberdade de expressão, liberdade de ma-
nifestação e outras.

• Pontos importantes na liberdade de pensamento

a) Não recepção da lei de imprensa: O STF declarou não recepcionada a Lei


de Imprensa (ADPF 130). Esta Lei impunha limitações descabidos à liberdade de
imprensa e de expressão, o que é incompatível com a atual Constituição Federal.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

b) Desnecessidade do diploma de jornalista: A Constituição de 1988 diz que é


livre a atividade de comunicação, independentemente de licença prévia ou censura
posterior. Ou seja, não caberia ao legislador fazer exigências (diploma de jornalista)
para divulgação de notícias.

c) Investigação de “Fake News”: Embora a liberdade de pensamento seja um


princípio com “grande peso” e alta “hierarquia material”, ele não é absoluto e convi-
ve com outros direitos. Em junho/2020, o STF entendeu lícita a abertura de Inquérito
Policial para apurar “fake news” e/ou acarretassem crimes contra a honra e a segu-
rança do STF, membros ou familiares.

Observação: A investigação ainda não terminou e este é um tema polêmico na


doutrina. Por ora, guarde que a liberdade de pensamento encontra limitações na
própria Ordem Jurídica.

d) Possibilidade de humor em período eleitoral: O STF declarou inconstitu-


cional a Lei Eleitoral que proíbe trucagem, montagem e sátira em época eleitoral
(ADI 4451). Isto violaria a liberdade de pensamento e de expressão assegurada pela
Constituição de 1988.

e) Possibilidade de proselitismo religioso: STF entendeu inconstitucional a lei


que proíbe o proselitismo religioso. Lembram do que se trata o proselitismo? Represen-
ta a conduta de convencer várias pessoas sobre suas ideias. Assim, o legislado não
pode proibir a conduta do religioso que deseje converter outras pessoas. Trata-se de
decorrência da liberdade de pensamento religioso e da dignidade da pessoa humana.

f) Vedação do anonimato: A Constituição assegura a liberdade de pensamento,


mas veda o anonimato. Isto é, o garante-se uma liberdade com responsabilidade,
pois embora o indivíduo seja livre para se manifestar, ele deverá ser responsável
pelas consequências de sua manifestação.

g) Escusa de consciência (ou imperativo de consciência ou objeção de


consciência): A liberdade religiosa e de convicção política são constitucionalmente
asseguradas, mas podem sofrer restrição em uma hipótese: descumprir obrigação
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa. Trata-se da cha-
mada “escusa de consciência”, ”imperativo de consciência” ou “objeção de cons-
ciência”. Exemplo: jurado, mesário eleitoral e alistamento eleitoral. A Constituição
permite que o indivíduo invoque uma convicção política ou religiosa para se eximir

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destas obrigações legais a todos imposta (indivíduo anarquista que não deseja ser
mesário eleitoral ou indivíduo pacifista que não deseja servir às forças armadas).
Contudo, ele deverá cumprir uma prestação alternativa, cujo descumprimento acar-
retará a suspensão dos seus direitos políticos (art. 15, IV, CF/88).

h) Escusa de Consciência x Concurso Público: Em novembro/2020, o STF


decidiu que, nos termos do art. 5º, VIII, da CF/88, é possível a realização das provas
de um concurso público em datas e horários distintos dos previstos em edital, por
candidato que invoca escusa de consciência por motivo de crença religiosa, desde
que (i) presentes a razoabilidade da alteração, (ii) a preservação da igualdade entre
todos os candidatos e (iii) não acarrete ônus desproporcional à Administração Públi-
ca, que deverá decidir de maneira fundamentada. Embora o Brasil seja um País lai-
co (sem religião oficial), ele protege a liberdade religiosa – ex.: se uma avaliação cair
no sábado de manhã, eventual membro da Igreja Adventista do Sétimo Dia poderia
pedir a remarcação da prova, pois estão impossibilitados de exercer atividades pro-
fissionais ou acadêmicas entre o por do Sol de sexta-feira e o por do Sol de Sábado.

Fique atento! Esta é minha aposta como tendência de prova neste ano!

i) Escusa de Consciência x Vacinação obrigatória: Em dezembro/2020, o


STF entendeu que a vacinação obrigatória é constitucional e não viola a liberdade
individual. Em razão do direito à saúde coletiva, entendeu o STF que a imposição
da vacina prevaleceria sobre a liberdade de consciência e de convicção filosófica.

j) Crucifixos em repartições públicas: Segundo o CNJ, a fixação de crucifixos


em repartições públicas não viola o princípio da laicidade do Estado (neutralidade de
religiões). Laicidade (neutralidade) não se confunde com laicismo (negação de reli-
gião). O que o Estado não pode ser é confessional, isto é, adotar determinada religião.

IV) Direito à privacidade, intimidade e segredo: A privacidade representa o


“outro lado da moeda” do direito à informação (consequência da liberdade de pen-
samento). Isto porque, a livre circulação de ideias e pensamentos na sociedade
fatalmente afetará a privacidade de determinado indivíduo.

• Qual a diferença entre privacidade, intimidade e segredo: Essa é uma ques-


tão rara de aparecer em provas objetivas, mas quando aparece se torna de difícil
resolução. Vejamos:

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Vejam o seguinte desenho idealizado por Heinrich Hubmann (criador da “Teoria


dos Círculos Concêntricos da Privacidade”):

ESFERA PRIVADA

ESFERA DA INTIMIDADE

ESFERA DO SEGREDO

Vejamos o que significa cada “camada” deste círculo concêntrico:

Esfera da privacidade: Representa a circunferência mais abrangente, ou seja,


de maior amplitude. A privacidade representa algumas informações do indivíduo que
podem ser de interesse público, embora ele também deseje sejam resguardadas –
ex.: o direito à imagem.

Esfera da intimidade: Representa a camada intermediária, que abrange menos


situações que a anterior, mas é mais ampla que a esfera do segredo. A intimidade
tutela informações particulares do indivíduo que pouco número de pessoas conhe-
cem. Ou seja, tem menor alcance público e tocam apenas as pessoas de confiança
do indivíduo – ex.: sigilo domiciliar, sigilo profissional.

Esfera do segredo (ou dados pessoais): Representa a esfera mais oculta e


restrita da vida privada. O segredo tutela informações que apenas o próprio indiví-
duo conhece, e não deseja que mais ninguém tenha acesso – ex.: senhas do banco
e redes sociais, opção sexual, opção política.

V) Direito à inviolabilidade de domicílio: Estatisticamente, representa o direito


fundamental mais cobrado no seu concurso.

• Mitigações à inviolabilidade de domicílio

Para otimizar o tempo do amigo concurseiro, esquematizo em aulas as seguin-


tes exceções ao Direito à Inviolabilidade de Domicílio:

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EXCEÇÕES MOMENTO
I) Consentimento do morador
II) Flagrante delito
DURANTE O DIA OU NOITE
III) Desastre
IV) Estado de sítio*
VI) Determinação judicial SOMENTE DURANTE O DIA

Recomendo a leitura desta tabela nas vésperas de prova. Sempre haverá uma
questão envolvendo estas seis exceções à inviolabilidade de domicílio.

Eis aqui o segundo processo mnemônico: Se alguém entrar no Domicílio de ou-


tra pessoa fora das exceções acima, a pessoa se C F O D S S

Consentimento do morador

Flagrante delito

Ordem judicial

Desastre

prestar Socorro

estado de Sítio

• Pontos importantes da inviolabilidade de domicílio

Conceito de “dia”: Há três correntes na doutrina para definir “dia” no caso de


cumprimento de determinação judicial: Conceito de noite para fins de cumprir deter-
minação judicial: Dois critérios: I) Critério físico-astronômico: Dia e noite seriam
revelados pela aurora e pelo crepúsculo de cada lugar. Aponta esta corrente que o
Brasil é um País continental, razão por que o sol nasce e se põe nos mais diversos
horários (STF já adotou essa corrente); II) Critério cronológico: Dia corresponde
ao período das 6h da manhã até às 18h da tarde. Ainda que não acompanhe as
peculiaridades geográficas de todo País, trata-se do critério mais seguro e objetivo
para evitar a nulidade da diligência (é a corrente majoritária na doutrina); e III) Crité-
rio misto: Sugere a adoção combinada das duas anteriores. Contudo, resvala em
problemas práticos, em exigir minudente conhecimento do executor da medida e
potencializar o risco de nulidade do cumprimento do mandado judicial.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

b) Conceito de “casa”: O STF tem adotado interpretação ampliativa (ou exten-


siva) do conceito casa, a fim de abranger não apenas o domicílio tradicional das pes-
soas, mas também os lugares que ela utiliza reservadamente – ex.: trailers, qualquer
compartimento habitado ou lugar onde se exerce a profissão ou atividade.

Observação: O art. 150, §§ 4º e 5º do Código Penal auxiliaram o STF a conceituar


“casa” para fim de cumprimento de determinação judicial: “§ 4º - A expressão “casa”
compreende: I - qualquer compartimento habitado; II - aposento ocupado de habita-
ção coletiva; III - compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão
ou atividade. § 5º - Não se compreendem na expressão “casa”: I - hospedaria, estala-
gem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n.º II
do parágrafo anterior; II - taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero”.

c) Autoridade expedidora do mandado judicial: Apenas o Juiz pode expedir


mandado à baila, relativizando a inviolabilidade de domicílio. Isto é, Ministério Públi-
co, delegados de polícia, autoridades administrativas em geral não possuem compe-
tência constitucional para determinar a invasão ao domicílio.

VI) Direito ao sigilo (ou Direito à Liberdade de Comunicação Pessoal)

A constituição protege os seguintes tipos de sigilo (art. 5º, XII):

– o sigilo de correspondência;

– o sigilo das comunicações telegráficas;

– o sigilo das comunicações de dados (bancário e fiscal); e

– o sigilo das comunicações telefônicas.

• Pontos importantes sobre a “quebra judicial” do sigilo

a) Qualquer quebra é excepcional e depende de autorização judicial;

b) Qualquer dessas quebras somente podem ocorrer para investigação criminal


ou instrução processual (persecução penal);

c) Nada impede que a prova produzida na persecução penal sirva de prova em-
prestada no processo cível e administrativo – ex.: demissão do servidor público de-
corrente de uma interceptação do processo penal;

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d) CPI pode determinar a quebra de sigilo bancário, fiscal e dados (inclusive tele-
fônico, ou seja, o extrato da conta e não o conteúdo/grampo da conversa). Contudo,
a CPI não pode determinar, por si só, a interceptação telefônica e a quebra do sigilo
das correspondências. Estas exigem autorização judicial.

VII) Direito de reunião e direito de associação: Ambas decorrem direta ou in-


diretamente da liberdade de pensamento, pois sem esta, não seria possível alcançar
a consequência: reunião ou associação.

Logo, também representa conquista importante da redemocratização do país.


Representa, simplesmente, o direito de todos se agruparem para exercerem a livre
expressão de suas ideias.

Distinção doutrinária entre o direito de reunião e o direito de associação:


Embora seja um ponto raro de ser cobrado, essa distinção feita por Gilmar Mendes
ajuda a compreender as razões delas serem tratadas em dois incisos diferentes:

I) O Direito de Reunião pressupõe o vínculo físico dos reunidos – ex.: Marcha da


Maconha, Marcha para Jesus, Marcha contra a corrupção. Já o Direito de Associa-
ção não pressupõe esse vínculo físico, assumindo um vínculo abstrato – ex.: filiados
de um partido político, filiados de um sindicato, filiados de uma ONG, associação de
defesa do meio ambiente. Pode ser que estes sequer se conheçam pessoalmente; e

II) O Direito de Reunião possui um caráter mais efêmero/transitório, isto é, atin-


gido seu objetivo, os reunidos se dispersam – ex.: as citadas marchas duram poucas
horas, em regra. Já o Direito de Associação possui caráter mais duradouro, pois
tendem a se protrair no tempo – ex.: os filiados daquelas associações tendem a se
manter filiados por tempo indeterminado (só lembrar que uma associação de defesa
do meio ambiente deve(ria) durar centenas de anos).

Ponto que realmente é cobrado nas provas objetivas: Vejamos os incisos XVI
e XVII do art. 5º do Texto Constitucional:

“XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao


público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião
anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à
autoridade competente”; e

“XVII - é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de cará-


ter paramilitar”.

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16
DIREITO CONSTITUCIONAL

No destaque em vermelho está o ponto cobrado nas múltiplas escolhas.

Eis aqui o terceiro processo mnemônico: AL RP

Reunião = fins Pacíficos

Associação = fins Lícitos

Em resumo:

I) Direito de reunião = fins pacíficos + desnecessidade de autorização prévia


(exige apenas aviso prévio).

II) Direito de Associação = fins lícitos + sem caráter paramilitar.

VIII) Direito à propriedade e à função social propriedade: Como dito no tópico


anterior, não existem direitos fundamentais absolutos. Logo, a propriedade também
não é absoluta, encontrando mitigações. Desta sorte, a função social da propriedade
imporá que a propriedade atenda sua finalidade coletiva. Isto é, não será possível
uma propriedade inútil para toda a sociedade – ex.: propriedade que viole o meio
ambiente estará violando sua função social.

Cultivo de drogas na propriedade: A consequência será a expropriação, sem


direito de qualquer indenização ao proprietário. Isto ocorre, segundo o STF, mesmo
que o bem esteja alugado. No caso, o locador (proprietário) terá o ônus de provar
que não agiu com culpa in vigilando ou culpa in eligendo para não perder seu bem.
Trata-se de decorrência da função social da propriedade.

IX) Mandados de criminalização: De modo bastante resumido, o concurseiro


precisa saber diferenciar três incisos da Constituição que ordenam ao legislador cri-
minalizar condutas com mais severidade.

Eis nosso quarto processo mnemônico:

XLII – Racismo = Inafiançável, Imprescritível e Reclusão  I I R.

XLIII – Tortura, Tráfico, Terrorismo e Hediondos (3T H)  Inafiançáveis e sem


Graça e Anistia  I G A.

XLIV – Ação de grupos armados, civis ou militares, contra Ordem Constitu-


cional e Estado Democrático de Direito  Inafiançáveis e Imprescritíveis  I I.

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ROTA DE ESTUDOS | POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

X) Outros Direitos Fundamentais: Como dito inicialmente, o artigo 5º conjuga


ao menos 78 direitos fundamentais, muitos deles tipicamente de direito constitucio-
nal (analisamos os relevantes acima), mas há outros direitos fundamentais que são
penais, processuais penais, civis, processuais civis etc.

Ou seja, do art. 5º da Constituição se extrairão outros direitos fundamentais im-


portantes, como: inafastabilidade da jurisdição, ampla defesa e contraditório, devido
processo legal, juiz natural, presunção de inocência, direito à herança e outros que
serão mais bem examinados em cada ramo específico.

2) Parágrafos mais cobrados: O art. 5º da CF possui 4 parágrafos. Apenas


dois, contudo, exigem aprofundamento neste momento.

I) Princípio da não taxatividade dos Direitos Fundamentais (art. 5º, § 1º, CF):
Embora tenhamos 78 incisos no art. 5º da Constituição Federal, este rol é meramen-
te exemplificativo. Ou seja, é possível que o Brasil adote outros direitos e garantias
advindos de tratados internacionais de que faça parte – ex.: embora o duplo grau
de Jurisdição não esteja expresso no Texto Constitucional, ele está expresso na
Convenção Americana de Direitos Humanos, razão por que pode é pacificamente
adotado no Brasil.

II) Hierarquia dos Tratados Internacionais (art. 5º, § 3º, CF): Estatisticamente
– ao lado dos princípios da liberdade de pensamento e do direito à inviolabilidade de
domicílio – trata-se de um dos temas mais cobrados em Direito Constitucional.

É possível vislumbrar 3 hierarquias de Tratados Internacionais dentro do


País. Vejamos:

a) Status Constitucional: Representa os tratados internacionais de Direitos Hu-


manos que tenham alcançado o quórum de aprovação do art. 5º, § 3, CF/88 – isto é,
aprovação, em cada Casa do Congresso Nacional, por três quintos dos votos, nas
duas Casas, em dois turnos.

Vejamos, então, nosso quinto processo mnemônico:

Processo mnemônico: 3 5 2 2 = isto é, TRÊS QUINTOS nas DUAS casas, em


DOIS TURNOS.

Observação 1: Hoje, temos apenas dois tratados internacionais nestes mol-


des: a Convenção de Nova York e seu Protocolo Facultativo e o recente Tratado
de Marraqueche.

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DIREITO CONSTITUCIONAL

Observação 2: No “topo da pirâmide” se encontra o chamado Bloco de Cons-


titucionaldade, que é composto pelos 250 artigos da Constituição Federal, pelas
108 Emendas Constitucionais (até janeiro/2021) e pelos 2 Tratados Internacionais
anteriores. Por consequência, é possível afirmar que o controle de constitucionali-
dade possui como parâmetro de controle não a Constituição Federal, mas o Bloco
de Constitucionalidade.

b) Status supralegal: Representa os tratados internacionais de Direitos Hu-


manos que não tenham alcançado o quórum de aprovação do art. 5º, § 3, CF/88
(por exemplo, apenas atingiu o quórum de maioria absoluta ou maioria relativa).
Esta categoria estaria acima das leis ordinárias, mas abaixo das normas consti-
tucionais. É nesta categoria que se insere a famosa Convenção Americana dos
Direitos Humanos.

Observação: Foi a partir deste argumento (norma supralegais) que o STF proi-
biu a prisão civil do depositário infiel (art. 5º, LXVII, CF/88). Segundo a Convenção
Americana, a única prisão civil admitida seria a do devedor de alimentos (art. 7º,
item 7, da Convenção). Confiram o que diz a Súmula Vinculante nº 25: “É ilícita a
prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito”.

c) Status de lei ordinária: Representa os tratados internacionais que não tratem


de direitos humanos (demais tratados, como, por exemplo, algum que tratasse de
mera questão aduaneira). Tais tratados internacionais teriam a mesma hierarquia do
Código Civil, Código Penal, Código de Processo Civil etc.

A fim de resumir estes 3 níveis hierárquicos e facilitar a revisão na véspera de


prova, guardem o desenho abaixo:

BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE
CF + EC + Tratados Internacionais do art. 5º, §3º, CF/88
(apenas dois até hoje: Convenção de Nova York e Tratado de Marraqueche)

NORMAS SUPRALEGAIS
Tratados de Direitos Humanos que não alcançam
o quórum do art. 5º, §3º, CF/88

LEIS ORDINÁRIAS
Demais leis e Tratados Internacionais que não
tratem de Direitos Humanos

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POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

Direito
Processual Penal
Sumário

Disposições constitucionais aplicáveis ao processo penal 3


Disposições preliminares do CPP 5
Sujeitos processuais 6
Inquérito policial 11
Ação penal 18
Provas 22
Procedimentos 31
Prisão e liberdade provisória 35
POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL
Policial Rodoviário Federal

Direito Processual Penal

Cara aluna / caro aluno,

Preparei este material de processo penal com a finalidade de fornecer um resu-


mo da matéria, com dicas, mapas e tabelas dos pontos cobrados nos últimos editais
para PF e PRF. Com isso, você terá uma base, um guia, para saber qual deve ser o
seu foco na disciplina.

Importante destacar, desde já, que este material contempla alguns temas que,
em tese, não constam do edital. Todavia, são assuntos que tangenciam aqueles co-
brados pela banca, ou são tidos como pressupostos para seu efetivo entendimento.
A ideia, então, é trazer toda a base necessária, ainda que passando por temas não
cobrados de forma expressa no edital.

Abordaremos, assim, os seguintes tópicos:

1. Disposições constitucionais aplicáveis ao processo penal;

2. Disposições preliminares do CPP;

3. Sujeitos processuais;

4. Inquérito policial;

5. Ação penal;

6. Provas;

7. Procedimentos;

8. Prisão e liberdade provisória.

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1
ROTA DE ESTUDOS | POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

Claro que o material não é exaustivo e não exime da leitura da lei e da resolução
de questões como forma de treino, mas deve servir como um bom aliado na sua
revisão e na consolidação da matéria.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

DISPOSIÇÕES CONSTITUCIONAIS APLICÁVEIS AO PROCESSO PENAL

Para o entendimento do processo penal, é interessante, inicialmente, passarmos


pelas principais previsões constitucionais que dão base a essa matéria. Assim, ain-
da que o edital não traga este tópico de forma expressa, selecionei alguns princípios
para auxiliar em seus estudos:

Princípio do juiz natural: Art. 5º, LIII, CF

Está relacionado à proibição de tribunal de exceção, no art. 5º, XXXVII, CF.

Por este princípio, as partes não podem escolher o juiz que atuará no proces-
so. O juiz, então, deve ser designado conforme as regras legais e constitucionais
de competência.

Devido processo legal: Art. 5º, LIV, CF

Trata-se de princípio que assegura que o processo penal tramitará dentro dos
limites legais e constitucionais, sem abusos ou exceções. O desrespeito a esse prin-
cípio pode acarretar a anulação do processo.

Assim, por exemplo, se uma prova for colhida em audiência de forma diversa da
prevista em lei, o ato pode ser anulado.

Contraditório e ampla defesa: Art. 5º, LV, CF

São princípios que incidem no processo, mas não incidem no inquérito policial,
pois este é procedimento, não processo.

Contraditório é a ciência bilateral dos atos processuais e a possibilidade de mani-


festação das partes a respeito. Ampla defesa envolve a defesa técnica, exercida por
advogado (irrenunciável), e a autodefesa, exercida pelo próprio réu (renunciável).

Presunção ou estado de inocência ou de não culpabilidade: Art. 5º, LVII, CF

É o princípio segundo o qual ninguém será considerado culpado antes de decisão


condenatória definitiva (transitada em julgado, contra a qual não cabe mais recurso).

Tem reflexo em diversos pontos do direito processual penal, nunca sendo permitido
considerar como culpado aquele contra o qual não há decisão condenatória definitiva
– por essa razão, por exemplo, a prisão, durante o processo, é sempre excepcional.

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ROTA DE ESTUDOS | POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

Direito ao silêncio: Art. 5º, LXIII, CF

Apesar de a previsão em questão dizer respeito ao direito ao silêncio no mo-


mento da prisão, ela é interpretada de forma ampla, como o direito de não produzir
provas contra si mesmo.

Observação: não vale para a identidade da pessoa, apenas para fatos (nesse
sentido: Súmula 522 do STJ).

*Note que há diversas outras disposições constitucionais que se aplicam ao pro-


cesso penal, no entanto, para fins de introdução, esses foram escolhidos como os
mais relevantes.

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4
DIREITO PROCESSUAL PENAL

DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DO CPP

Este tópico também não consta de forma expressa do edital, mas é essencial
para o entendimento da matéria, especialmente quanto à aplicação e à interpretação
da lei processual penal.

Artigo 1º do CPP: aplicação da lei processual penal no espaço.

Segue-se o princípio da territorialidade – o ato é regido pela lei do local em


que praticado.

No Brasil, incide a unidade do CPP, com as exceções previstas nesse artigo.

Observação 1: A Constituição referida no artigo 1º não é a atual!

Observação 2: As hipóteses IV e V do artigo 1º não são mais aplicáveis.

Artigo 2º do CPP: aplicação da lei processual penal no tempo.

Segue-se o princípio do efeito imediato – uma nova lei processual penal deve ser
imediatamente aplicada, mesmo aos processos em curso, permanecendo válidos os
atos praticados em conformidade com a lei anterior.

Observação: cuidado para não confundir com a aplicação da lei penal no tem-
po, em que deve ser observada a irretroatividade da lei penal mais gravosa, dentre
outros aspectos. As questões de concursos sobre o tema, comumente, tentam con-
fundir o candidato nesse sentido.

Artigo 3º do CPP: interpretação da lei processual penal.

Observação: Os artigos 3-A a 3-F, incluídos pelo Pacote Anticrime e que tratam
do juiz de garantias, estão com a eficácia suspensa por decisão cautelar proferida
na ADI 6299. Dessa forma, não são, atualmente, aplicáveis, razão pela qual o pre-
sente material não os abordará.

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ROTA DE ESTUDOS | POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

SUJEITOS PROCESSUAIS

Também este tópico não está expresso no edital. Todavia, a fim de se entender
a relação processual e o papel de cada um dos sujeitos, torna-se importante o seu
estudo, até mesmo para a compreensão de cada sujeito e de sua atuação nos tópi-
cos que são expressamente exigidos.
Arts. 251 a 281 do CPP
O nosso processo penal é acusatório, de modo que as funções de julgar, acusar
e defender são atribuídas a diferentes órgãos, considerando-se o réu como um su-
jeito de direitos.
Assim, para um melhor entendimento da disciplina, cumpre entender, de início,
o papel que cada parte desempenha no processo.

Veja, a respeito, os seguintes mapas mentais:

SUJEITOS DO PROCESSO

Ministério
Juiz Ofendido Acusado Defensor
Público

Peritos e intérpretes Funcionário Serventuários da Justiça

equidistância das partes

art. 251, CPP


autoridade jurisdicional

Juiz
Impedimento – art. 252, CPP

Incompatibilidade – art. 253, CPP


imparcialidade
Suspeição – art. 254, CPP

vitaliciedade

inamovibilidade
garantias e vedações
irredutibilidade de subsídio

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6
DIREITO PROCESSUAL PENAL

Para manter a imparcialidade do juiz, além de ser designado conforme as regras


de competência (juiz natural), não pode estar presente hipótese de suspeição, im-
pedimento ou incompatibilidade. A presença de uma dessas hipóteses prejudica a
sua imparcialidade e torna de rigor o seu afastamento do processo, chamando-se o
seu substituto para atuar.

Confira, abaixo essas hipóteses, que são muito cobradas em provas, inclusive
com a finalidade de criar confusão entre cada um dos institutos, que, embora te-
nham a mesma consequência (afastamento do juiz), são diferentes:

Suspeição - art. 254, CPP Impedimento - art. 252, CPP


Se for amigo íntimo ou inimigo Tiver funcionado seu cônjuge ou
capital de qualquer deles. parente, consanguíneo ou afim, em
linha reta ou colateral até o terceiro
grau, inclusive, como defensor
ou advogado, órgão do Ministério
Público, autoridade policial, auxiliar
da justiça ou perito.
Se ele, seu cônjuge, ascendente ou Ele próprio houver desempenhado
descendente, estiver respondendo a qualquer dessas funções ou servido
processo por fato análogo, sobre cujo como testemunha.
caráter criminoso haja controvérsia.
Se ele, seu cônjuge, ou parente, Tiver funcionado como juiz de outra
consanguíneo, ou afim, até o terceiro instância, pronunciando-se, de fato
grau, inclusive, sustentar demanda ou ou de direito, sobre a questão.
responder a processo que tenha de
ser julgado por qualquer das partes.
Se tiver aconselhado qualquer das Ele próprio ou seu cônjuge ou
partes. parente, consanguíneo ou afim
em linha reta ou colateral até o
terceiro grau, inclusive, for parte ou
diretamente interessado no feito.
Se for credor ou devedor, tutor ou
curador, de qualquer das partes.
Se for sócio, acionista ou
administrador de sociedade
interessada no processo.

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ROTA DE ESTUDOS | POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

Incompatibilidade – art. 253, CPP

Nos juízos coletivos, não poderão servir no mesmo processo os juízes que forem
entre si parentes, consanguíneos ou afins, em linha reta ou colateral até o terceiro
grau, inclusive.

Observação: as hipóteses de suspeição também se aplicam aos funcionários e ser-


ventuários da justiça, assim como aos peritos e intérpretes (arts. 274, 280 e 281, CPP).

imparcialidade

titular da Ação Penal Pública

fiscalizar a execução da lei – art. 257, II, CPP


Ministério Público

impedimento/suspeição – art. 258, CPP

unidade

princípios indivisibilidade

autonomia e independência funcional

sujeito passivo da ação penal

impossibilidade de identificação civil do acusado não


Acusado
retardará a ação penal, se certa a identificação física.

poderá ser conduzido coercitivamente


se não atender à intimação necessária

Segundo STF a condução coercitiva


não é válida para fins de interrogatório

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

É irrenunciável

por instrumento de
mandato (procuração)
constituído pelo acusado
no interrogatório
exerce a defesa técnica dativo ou nomeado, se o
acusado não tiver um constituído honorários arbitrados pelo juiz

Defensor todos os réus devem ter defensor


Réu só não aga se for pobre

multa se abandonar o processo


sem prévia comunicação

Atenção: o art. 262, CPP não possui mais aplicação – isso porque, desde o ad-
vento do atual Código Civil, a maioridade civil também é atingida aos 18 anos, assim
como a penal, e não mais aos 21 anos.

atuação limitada no art. 271, CPP

corréu não pode ser assistente

Ofendido/Assistente cônjuge
de acusação
ascendente
se falecer, podem atuar em seu lugar: CADI
descendente

irmão

por meio do advogado

atua facultativamente a qualquer momento


(parte não essencial)
deve formular pedido de habilitação

contra decisão do juiz, não cabe recurso

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Peritos e Intérpretes

São nomeados pelo juiz, para questões técnicas de conhecimentos específicos


– podem ser oficiais (concursados) ou particulares.

A esse respeito, vale ler os arts. 275 a 281, CPP.

Atenção: o art. 279, I, CPP faz menção ao art. 69, IV, do CP, mas essa previsão
está desatualizada, encontrando-se, atualmente, no art. 47, I e II, do CP.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

INQUÉRITO POLICIAL

Este tópico está expresso no edital e é de suma importância para o seu estudo,
razão pela qual deve ser detalhadamente estudado, a partir das diretrizes aqui postas.
Artigos 4º a 23 do CPP
I) Conceito:
É um procedimento administrativo destinado à colheita de provas das infrações
penais e sua respectiva autoria, realizado pela Polícia Judiciária (Polícia Civil e Polí-
cia Federal) e conduzido / presidido pela autoridade policial – artigo 4º do CPP.
II) Características:
1. Obrigatório: presentes os requisitos, o delegado tem o dever de instaurar,
não sendo uma escolha pessoal.
2. Escrito: artigo 9º do CPP.
3. Inquisitivo: é procedimento desenvolvido sem contraditório e ampla defesa
(que se aplicam aos processos judiciais e aos administrativos, conforme art. 5º, LV,
da CF) – não tem partes, não tem acusação e não tem, ao menos diretamente, apli-
cação de sanção ou punição.
Em razão da natureza inquisitiva, o inquérito policial tem força probatória relativa
(art. 155 do CPP).
4. Dispensável: para o início da ação penal (art. 12 do CPP).
Há outros procedimentos igualmente capazes de colher os elementos de convic-
ção exigidos para a propositura da ação penal.
Observação 1: na apuração das infrações de menor potencial ofensivo (compe-
tência do JECRIM), o IP é substituído pelo termo circunstanciado.
Observação 2: art. 39, § 5º, CPP – O órgão do Ministério Público dispensará o
inquérito, se com a representação forem oferecidos elementos que o habilitem a pro-
mover a ação penal, e, neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de quinze dias.
5. Oficioso: os atos são praticados de ofício, não havendo necessidade de pe-
dido das partes.
6. Sigiloso: art. 20 do CPP.

O sigilo não se estende ao juiz e ao membro do Ministério Público.

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ROTA DE ESTUDOS | POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

Quanto ao defensor, aplica-se a Súmula Vinculante 14, de modo que ele tem
direito de acessar os elementos já documentados, para fins de exercer o direito de
defesa, podendo ser negado acesso às diligências ainda em andamento que pos-
sam ser prejudicadas pelo seu conhecimento.

A negativa desse direito, por configurar violação de direito líquido e certo do ad-
vogado, pode ensejar a impetração de mandado de segurança. De outro lado, por
se tratar da violação de Súmula Vinculante, é possível também a utilização da via da
Reclamação Constitucional ao STF.

7. Oficial: é responsabilidade do Delegado de Polícia Judiciária (civil ou federal)


a presidência do IP.

8. Indisponível: conforme o art. 17 do CPP, a autoridade policial nunca poderá


mandar arquivar os autos do inquérito policial, mesmo que conclua pela atipicidade
da conduta investigada.

Atenção: essa característica é muito cobrada em provas, em que o examinador


elabora diversas hipóteses para questionar sobre a possibilidade de arquivamento
do IP pelo delegado, mas ele NUNCA pode arquivar!

art. 9º, CPP


Escrito

sem contraditório e sem ampla defesa


Inquisitivo

art. 12º, CPP


Dispensável

porém discricionário
Oficioso

IP – Características
Súmula Vinculante 14
Sigiloso art. 20, CPP

presidido pelo Delegado


Oficial

para o Delegado
Obrigatório

art. 17, CPP


Indisponível

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

III) Formas de Início (art. 5º, CPP):

As formas de início do IP dependem da ação penal de cada crime (sendo esse


um dos motivos pelos quais, na sequência, veremos os principais aspectos do tema
da ação penal, ainda que não conste de forma expressa do edital).

Nos crimes de APPI – Ação Penal Pública Incondicionada

1. Instauração de ofício – é feita pelo delegado, ao tomar conhecimento


de fato delituoso.

A instauração de ofício pelo delegado pode decorrer das seguintes situações:

a. notitia criminis de cognição imediata ou espontânea – acontece por meio de


suas atividades rotineiras, sem a provocação de um terceiro (nesse caso, a instau-
ração ocorre por meio de portaria).

b. notitia criminis de cognição coercitiva – acontece pela prisão em flagrante.

c. delatio criminis – é a notitia realizada por terceiro que não a vítima ou seu
representante legal

Observação 1: delatio criminis inqualificada – é a anônima, situação em que


não se pode determinar de imediato a instauração do IP, sendo necessárias inves-
tigações preliminares.

Observação 2: note que o edital cobra o conhecimento dessas situações, men-


cionando expressamente as expressões em latim aqui postas. Assim, mostra-se de
extrema importância a diferenciação entre as situações.

2. Por requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público

Neste caso, o juiz ou o membro do Ministério Público é que tomam o conheci-


mento do crime, determinando ao delegado que instaure o inquérito policial.

Observação: o delegado não pode negar a requisição, salvo se manifestação


ilegal. Veja, aqui, que sempre incide a obrigatoriedade na instauração do inquérito
policial pelo delegado, mas ele pode entender, por exemplo, pela atipicidade do fato
e, assim, não instaurar inquérito. Todavia, diante da requisição judicial ou ministerial,
ele não deve fazer esse juízo de valor, devendo limitar-se a cumprir a requisição.

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ROTA DE ESTUDOS | POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

3. Requerimento do ofendido ou de seu representante legal

Neste caso, a própria vítima – ou seu representante legal – é que requer a ins-
tauração do inquérito policial ao Delegado. Por se tratar de um requerimento feito
por particular, o Delegado pode negar o pedido – nunca arbitrariamente, já que,
como visto, presentes os requisitos, ele é obrigado a instaurar o inquérito policial;
mas, entendendo não haver requisitos, ele pode negar.

Observação: se o delegado negar, cabe recurso administrativo ao seu superior.

Nos crimes de APPC – Ação Penal Pública Condicionada

1. Por delatio criminis postulatória: na ação penal pública condicionada, a instau-


ração do IP depende da mesma condição prevista para a ação penal (representação
do ofendido ou requisição do Ministro da Justiça, conforme o caso).

Observação: muitas questões, neste ponto, afirmam que a condição prevista


para a ação penal não interfere na forma de instauração do inquérito policial, o que,
como visto acima, não é verdadeiro.

Nos crimes de APP – Ação Penal Privada

1. Por requerimento do ofendido ou de seu representante legal: se o crime for


de ação penal privada, somente pode haver a instauração do inquérito policial por
provocação da vítima – ou de seu representante legal –, não podendo o Delegado
agir de ofício ou mesmo por requisição judicial ou ministerial.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

requerimento do ofendido
Crimes de ou seu representante legal
A P Privada

por representação do ofendido


ou seu representante legal
Crimes de A. P.
Formas de Início
Púb. Condicionada por requisição do Ministério da Justiça

noticia criminis de cognição


imediata ou espontânea
de ofício noticia criminis de cognição coercitiva
delatio criminis
juiz
Crimes de A. P. por requisição
Púb. Incondicionada MP

requerimento do ofendido
ou de seu representante legal

IV) Desenvolvimento:

O delegado preside o inquérito com discricionariedade, realizando as diligências


que entender oportunas e convenientes.

Observação: note que, embora o laudo de exame de corpo de delito seja obri-
gatório, nos termos do art. 158, CPP, tal fato não afeta a discricionariedade do dele-
gado na condução do inquérito policial.

Sobre a atuação do delegado, verificar, com atenção: arts. 6º, 7º, 13, 13-A, 13-B
e 14 do CPP.

Presentes indícios suficientes de autoria, o delegado indicia o investigado, for-


malizando a suspeita, mediante fundamentação, nos termos da Lei 12.830/13 – o
indiciamento não é obrigatório e nem vincula o juiz ou o Ministério Público, mas é
atribuição exclusiva do delegado e só pode ocorrer durante o inquérito policial. As-
sim, são falsas afirmações no sentido de que o Ministério Público pode/deve interfe-
rir no indiciamento, de que ele seria indispensável à ação penal, de que o Ministério

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15
ROTA DE ESTUDOS | POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL

Público ou o juiz teriam atribuição para fazê-lo ou de que pode ser feito durante a
ação penal, após a finalização do inquérito policial.

Observação: muita atenção à inovação do art. 14-A, trazida com o Pacote


Anticrime, segundo a qual, aos casos em que servidores vinculados às instituições
dispostas no art. 144 da Constituição Federal figurarem como investigados em
inquéritos policiais, inquéritos policiais militares e demais procedimentos extraju-
diciais, cujo objeto for a investigação de fatos relacionados ao uso da força letal
praticados no exercício profissional, de forma consumada ou tentada, incluindo as
situações de excludente de ilicitude, o indiciado poderá constituir defensor.

Para tanto, o investigado deverá ser citado da instauração do procedimento


investigatório, podendo constituir defensor no prazo de até 48 (quarenta e oito)
horas a contar do recebimento da citação.

Esgotado o mencionado prazo sem a nomeação de defensor pelo investigado, a


autoridade responsável pela investigação deverá intimar a instituição a que estava
vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para que essa, no prazo
de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação do investigado.

V) Prazo:

Previsão Legal Preso Solto


Art. 10, CPP 10 30 (prorrogáveis)
IP Federal 15 + 15 30
Lei de Drogas 30 + 30 90 + 90
Crimes contra economia
10 10
popular
Prisão temporária em IP
para crimes hediondos e 30 + 30 não aplicado
equiparados

Observação 1: no caso do investigado preso, o prazo é contado a partir da efe-


tivação da prisão.

Observação 2: o artigo 3º-B do CPP, incluído pelo Pacote Anticrime, traz pos-
sibilidade de prorrogação do IP em caso de investigado preso, mas essa previsão,
como já mencionado, está com a eficácia suspensa, conforme decisão cautelar pro-
ferida no STF.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

VI) Finalização:

Ao finalizar as investigações, o delegado elabora um relatório final, o qual não


vincula o juiz e o Ministério Público e não é indispensável ao início da ação penal. Os
autos do inquérito policial, então, são enviados ao juiz competente, juntamente com
os instrumentos do crime e os objetos que interessarem à prova.

A partir disso, a sequência é diferente conforme o tipo de ação penal previsto


para o crime:

Crimes de Ação Penal Pública Incondicionada ou Condicionada

Observação: Pelo Pacote Anticrime, o procedimento do arquivamento foi al-


terado, retirando-se a necessidade de homologação pelo juiz, mas a previsão foi
suspensa por decisão na ADI 6299. Assim, este material está de acordo com o pro-
cedimento anterior, o qual ainda é aplicável.

Os autos são encaminhados ao MP, o qual poderá: I) oferecer denúncia; II) re-
quisitar novas diligências ao delegado; III) promover o arquivamento – esse arquiva-
mento é ato complexo, pois depende de homologação do juiz.

Nos termos da redação anterior do art. 28, CPP, atualmente aplicável: o juiz, no
caso de considerar improcedentes as razões invocadas para o arquivamento, fará
remessa do inquérito ou peças de informação ao procurador-geral, e este oferecerá
a denúncia, designará outro órgão do Ministério Público para oferecê-la, ou insistirá
no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz obrigado a atender.

Observação 1: não se aceita o arquivamento implícito.

Observação 2: atenção ao art. 18, CPP – prevalece, em razão dessa previsão,


que a decisão judicial de arquivamento só faz coisa julgada formal. Para o STF, há
coisa julgada material e o caso não pode ser retomado, se a decisão for fundada em
atipicidade ou extinção da punibilidade.

Crimes de Ação Penal Privada

Segue-se o art. 19, CPP.

Atenção: o art. 15, CPP não possui mais aplicação – isso porque, desde o ad-
vento do atual Código Civil, a maioridade civil também é atingida aos 18 anos, assim
como a penal, e não mais aos 21 anos.

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