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O 3227a:
um livro de apontamentos

O MS 3227a é um Hausbuch ou «li- rém, Eric Burkart aventura que pude-


vro de notas» — todo um género da ra tratar-se duma soa pessoa, ao lon-
literatura medieval e renascentista go de vários anos. Esta pessoa teria
— datado vagamente «nas redonde- compilado uma série de notas inici-
zas de 1389». O original encontra-se ais ao aprender a Arte, e expandido
no Germanisches Nationalmuseum nelas segundo o seu conhecimento
de Nüremberg. Pode ser consultado aumentava. Embora seja apenas uma
on-line na Wiktenauer. Existem vári- especulação, esta hipótese tem su-
as traduções ao inglês, muitas dis- ficiente atrativo para, na mínima, ser
poníveis na Net (ver bibliografia). considerada.
É atribuído frequênte e errada- Os textos de artes marciais foram
mente ao crego (sacerdote) Hanko escritos independentemente, talvez
Döbringer, mas ele é apenas um de em cadernos separados (ver hipóte-
quatro autores dum apêndice. A mai- se de criação) e encadernados final-
or parte do texto é portanto anónimo. mente numa ordem que o autor es-
Além das artes marciais, o ma- colheu. Após abandonar o projeto de
nuscrito contem um tratado de fogos escrever mais acerca de artes mar-
de artifício, formulas mágicas, recei- ciais, a mesma pessoa acrescentou
tas para a criação de tinturas, alqui- outras notas no meio daquelas, de
mia e medicina, textos astrológicos matérias diferentes, aproveitando o
e outro material similar. papel em branco.
No que às artes marciais se refe- Do conjunto da obra, a tradução
re, possui textos de vários tipos: en- que aqui apresento cobre apenas os
saios, versos e comentários explica- fólios 13 – 88 (ignorando vários no
tivos de estes. Trata principalmente da meio a recolher notas sem relação).
luta com espada a duas mãos sem ar- A parte mais depurada da tradução
nês (Bloßfechten mit dem Langen corresponde com o material dedica-
Swert) mas contém também informa- do à espada sem arnês. A matéria
ção para a luta em arnês (Harnischfe- do combate a cavalo e combate com
chten) com cavalo (zu Roße) e a pé (zu armadura apresenta uma tradução
Fuße). Finalmente acrescenta sec- preliminar, mas deve ser revista no
ções muito breves de luta com bastão futuro. Porém, acho importante in-
ou armas de haste, escudo, Messer, e cluir esses trechos porque com cer-
fecha com uns trechos mais longos a teza completam a leitura, e vemos
explicar combate com adaga e a luta neles elementos das lições que os
corpo a corpo (Ringen). precedem.
Os textos puderam parecer de vá-
rias mãos diferentes pela mudança
no estilo de escrita e caligrafia. Po-
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dos antes da numeração original, já


Descrição Fisica
que esta ignora a sua ausência. O pe-
Trata-se dum volume de 10x14 cm. núltimo caderno (XI na numeração de
Capa dura (madeira e couro, restau- Burkart) parece estar formado ape-
rada). 169 folhas na atualidade, prin- nas de fólios colados, não cosidos,
cipalmente papel com algumas de como se se tratasse de páginas sol-
pergaminho (17, 162 e 169). Há indí- tas reunidas para a encadernação
cios de que possuiu 190 fólios no final. Na mínima alguns destes ca-
passado. Traz um índice de conteúdo dernos possuíram capas em perga-
final que não inclui as amplas sec- minho, que protegeriam o interior de
ções de artes marciais, mas sim o papel mais delicado, mas estas ca-
resto do material, mais breve e frag- pas foram utilizadas também para
mentário. Por anotações marginais escrever nelas.
que foram cortadas podemos ver que O papel do interior só apresenta
as páginas foram ajustadas nalgum uma única marca de água, parcial,
momento para fazer o conjunto, tal- o que faz muito complicado identi-
vez por provirem de cadernos de ta- ficar procedência e data. Porém, o
manhos diferentes. reduzido tamanho do original junto
Apresenta foliação dupla: os ver- com a ausência de mais marcas de
sos trazem números contemporâne- água parece indicar que o papel não
os à criação do manuscrito em tinta foi comprado e utilizado ex-profes-
vermelha, e os rectos foram nume- so para criar os cadernos: seriam
rados recentemente a lápis. A folia- retalhos sobrantes da produção
ção contemporânea parece ter sido doutros livros, aproveitados para
acrescentada depois da escrita: es- criar um suporte em que tomar ano-
quiva as áreas onde o texto está tações pessoais.
apertado, e não à inversa. Comparan- Há uma certa planificação, po-
do ambas foliações deduzimos que rém: foram deixados espaços em
várias folhas foram perdidas: talvez branco que se encheram mais tarde.
até 21. Ver diagrama anexo para uma Tinha portanto a intenção de criar
hipótese de reconstrução. uma forma de ensaio ou obra, ou na
O livro está fisicamente formado mínima de expandir essas notas.
por uma coleção muito diversa de 12 Muitas vezes fracassou este propó-
cadernos cosidos ou colados. Algum sito, deixando partes incompletas e
destes traz 38 páginas (19 folia), en- noutras tendo que acrescentar pági-
quanto outros apenas 20 (10). Nal- nas. Nalgum momento passou a ou-
guns dos cadernos foram adiciona- tros projetos e encheu com parte de-
dos, além do múltiplo de 4 páginas les os ocos.
(2 bifolia) produto da encadernação O conteúdo das secções não con-
cosida, fólios soltos, colados, quan- tinua dum caderno para o seguinte.
do quem escrevia ficou sem espaço Todos eles iniciam com um texto no-
e necessitou adicionar papel. Nou- vo, ou bem com páginas perdidas ou
tros pontos há folia em falta que pa- em branco. Isto parece indicar que o
recem ter sido perdidos ou arranca- autor tomou notas em cadernos sol-
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tos, para depois unir o conjunto. A or- to. Em aparência isto são acrésci-
dem em que os uniu mostra uma es- mos, mas a mão que escreve parece
trutura de «introdução» + «Zedel e ser sempre a mesma.
glossa» + «epílogo», mas resulta Porém, há também variações na
aparente que a introdução foi escri- qualidade da caligrafia, no estilo de
ta após a Zedel e os comentários, já prosa e no cuidado com que as ano-
que fala deste material em passado. tações foram tomadas. Algumas pá-
O livro tem um desgaste unifor- ginas respeitam as margens que o
me no bordo das páginas que indica autor desenhou para o texto, enquan-
uso intenso durante um período pro- to outras aparecem escritas em letra
longado, e que parece apontar a uma apertada desde o bordo superior até
encadernação original mais flexível, o inferior. Ainda outras páginas mos-
que protegeu menos o papel. tram toda a superfície ocupada, in-
O índice final e a numeração mais cluindo acréscimos nas margens.
antiga parecem escritos pela mesma Segundo Burkart, foram colados
mão que o conteúdo. Nalguns casos folia soltos adicionais nos cadernos
esta numeração desapareceu, des- que formam o conjunto, talvez por-
gastada pelo uso das páginas ou cor- que o autor ficou sem espaço para
tada ao ré-encadernar a obra. Os dí- continuar a escrever um tema.
gitos esquivam o conteúdo mudando A tinta muda de cor em vários
de tamanho e lugar, mesmo nas pá- pontos, por vezes na mesma página.
ginas mais apertadas, e não à inver- Isto pudera indicar simplesmente que
sa. Isto parece descartar que se tra- quem escrevia parou para continuar
te dum texto reunido e ordenado a mais tarde com diferente tinta, mas
posteriori por terceiras pessoas: a nalgum caso a mudança de cor re-
ordem possivelmente foi estabeleci- torna à tinta original umas linhas por
da pelo autor original. baixo, o que parece indicar que o pri-
Adicionalmente, as páginas foram meiro e segundo trecho foram escri-
escritas com frequência até o bordo tos antes do intermédio.
interno da encadernação sem mos-
trar dificuldade. Isto parece compatí-
Hipótese de criação
vel com a ideia de cadernos soltos,
que permitiriam a quem escreveu À vista das caraterísticas indicadas,
manter as páginas planas. Burkart aventura uma hipótese que
Está escrito em gótica bastarda. acho plausível: estamos a ver uma
Mostra em numerosas páginas letras coleção de apontamentos tomados
capitulares decoradas em tinta ver- por alguém que, na minima, reflexio-
melha. A cor vermelha é também uti- nou muito acerca da Kunst des Fech-
lizada para encabeçados em trechos tens durante um período prolongado,
do texto, para sublinhar ou destacar voltando uma e outra vez a acrescen-
palavras e divisões de versos, e pa- tar, corrigir ou mudar partes do tex-
ra decoração em geral. O resto da tin- to. Escreveu este texto em partes in-
ta é geralmente de cor castanha, mas dependentes, que depois uniu para
nalguns pontos vira para azul ou pre- formar um conjunto, em certa forma
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para «arquivar» todo esse conheci-


estrutura
mento, deixando de escrever e pas-
FIsica
sando assim a um estágio em que
considerava este fixado. Conteúdo dos cadernos e fólios :
Burkart propõe a hipótese de que
Caderno I: fólios [1 - 16]:
quem escrevia estava a receber for-
Liber Igneum + receitas várias
mação marcial na Kunst des Fech-
+ ensaio inicial da Arte
tens. Inicialmente copiaria a Zettel ne
Caderno II: fólios [17 - 35]:
forma como lhe foi transmitida, e
Zedel da Bloßfechten + Glossa
progressivamente iria acrescentan-
Caderno III: fólios [36 - 48]:
do explicações e ainda novos versos,
Zedel + Glossa + Outros Mestres
talvez de criação própria. Nalgum
Caderno IV: fólios [49 - 62]:
momento começou a estender a Ar-
Floreio + Zedel da Roßfechten
te para outras áreas como a luta com
Caderno V: fólios [63 - 73]:
Messer, escudo ou armas de haste,
Conclusão da Zedel + textos e
indicando em todas elas que têm fun-
receitas mágicos e astrológicos
damento no combate com espada,
Caderno VI: fólios [74 - 83]:
origem da sua formação. Porém, nal-
Outros ensinamentos (hastes,
gum momento perdeu interesse nes-
escudo, Messer) + receitas
te projeto, e acabou por ré-utilizar os
Caderno VII: fólios [84 - 99]:
cadernos para anotar uma variedade
Mais lições (adaga, Ringen)
de receitas acerca doutras temáticas.
Caderno VIII: fólios [100 - 116]:
Ainda mais aventurosamente,
Receitas
Burkart avança uma especulação
Caderno IX: fólios [117 - 128]:
com que certamente posso simpati-
Receitas
zar: que talvez o autor acabou por do-
Caderno X: fólios [129 - 140]:
minar a Arte em plenitude e, em con-
Receitas
sequência, deixou de ter interesse
Caderno XI: fólios [141 - 161]:
em fixar as suas lições em papel. A
Receitas
escrita da Zettel e o seu comentário,
Caderno XII: fólios [162 - 169 ]:
bem como a extensão para outras ar-
Receitas e índice.
mas, seriam portanto parte do pro-
cesso de aprendizado e auto-discur-
so da pessoa que autorou o manus-
crito. Escrevia para aprender, e quan-
do entendeu suficiente, deixou de ne-
cessitar arrumar por escrito os seus
pensamentos.
Apenas uma mostra das variações de densidade e composição do tratado.
Fólios [ 22V ], [ 23R ], [ 26V ], [ 27R ], [ 34V ], [ 35R ], [ 43R ] e [ 44R ].
Imagens de baixa resolução tomadas da Wiktenauer com fins ilustrativos, sob licença CC-BY-NC-SA .
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Notas de tradução
e edição

No original a separação de versos, li- inteiras, margens incluídas, ou com


nhas e parágrafos é bem arbitrária. caligrafia mais densa e apertada.
Para criar o texto em galego-portu- Por causa da flutuação na densi-
guês moderno acrescentei pontua- dade e tamanho da letra há no origi-
ção e divisões onde achei adequado, nal páginas completamente escritas
tentando agrupar conceitos em pa- que nesta edição ainda não enchem
rágrafos sem alterar a ordem do tex- todo o espaço disponível, enquanto
to (onde foi possível, pois nem sem- outras mais apertadas chegam até ao
pre o autor expus as ideias de forma rodapé. Não achei forma fácil de so-
ordenada). Deves ter presente que lucionar isto mantendo a foliação, mas
esta divisão é uma escolha própria. para dar uma ideia incluí em vários
«Desempacotei» os versos da Ze- pontos desta edição reproduções dos
del, os acrescentados, e demais po- folia originais, onde podes comprovar
emas como o dos «Outros Mestres». este fenómeno. O diagrama gentil-
No original aparecem numa única li- mente proporcionado pelo Dr. Eric
nha, mas resulta melhor leitura des- Burkart que acompanha estas pági-
ta forma. Utilizei a rima como crité- nas também indica em certa medida
rio de divisão destas linhas. a densidade de informação de cada
Tentei rimar a Zedel e outros ver- página do manuscrito.
sos, para ajudar à mnemotécnica. De forma semelhante, onde no
Acrescentei aspas nas citações original o texto inicia no meio da pá-
da Zedel embutidas nas glossas, se- gina, como na lição do Twere [ 27R ]
parando aquelas das frases que as ou deixa espaços em branco no meio,
envolvem. também mantive essa apresentação.
Onde o original traz páginas em
Densidade textual,
branco, conservo as mesmas quando
paridade,
se trata duma ou duas. Se houver mais
páginas em branco
de duas páginas em branco seguidas,
Com a intenção de fazer visível até junto a numeração de várias na esqui-
que ponto o texto original é à vez frag- na superior direita ou esquerda, se-
mentário e um trabalho acumulativo, gundo seja necessário para manter a
tentei refletir em certa medida a den- paridade, evitando assim longos tre-
sidade de informação das páginas do chos de folhas vazias. Aguardo que
manuscrito nesta maqueta. Isto in- um par transmita suficientemente a
clui manter os trechos em branco: as incompletude do documento.
páginas onde há apenas umas linhas
Notas marginais
de texto são assim no original. Ou-
tras, onde o texto chega até ao pé da As minhas anotações ao texto vam nu-
página, aparecem no 3227a escritas meradas, para cada página (1, 2, etc).
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Onde o original mostra acrésci- tomei como referência seis traduções


mos, insertos e marginália, frequen- já existentes ao inglês por David
temente indicados com cruzes ou as- Lindholm, James Wallhausen, Grze-
teriscos, utilizei esses símbolos. gorz Zabinski, Jeffrey Hull, Jens P. Klei-
Tentei manter as anotações ao tex- nau (parcial) e Thomas Stoeppler.
to na mesma página. Num par de luga- Devo agradecer a essas pessoas
res isto não foi possível pela extensão o trabalho feito no decifrado do tex-
das anotações e onde assim sucede, to, que me proveu duma variedade
continuam na página seguinte. de hipóteses acerca de qual poderia
Mantenho a numeração (foliação) ser a intenção do original. Também
acrescentada ao manuscrito original devo a Keith Farrell a inestimável aju-
indicando na esquina superior direi- da na hora de comparar esses tex-
ta o número, e se se trata do recto ou tos, e a achega de mais uma tradu-
do verso, assim: [ 1R ], [ 1V ], etc. ção ao inglês da Zedel no seu AHA
German Longsword Study Guide.
Estrutura
Esta tradução que tens nas mãos
e Apresentação
parte, portanto, duma sorte de «ver-
Em geral, como podes ver na foliação, são composta» ou «super-versão»
apresento todo o conteúdo por ordem do texto original: tomando como re-
de aparição no 3227a como se con- ferência as transcrições alemãs de
serva na atualidade. Há alguma exce- Lindholm e Hagedorn, estudei e com-
ção nos textos dos apêndices, onde parei as escolhas feitas pelos dife-
decidi agrupar os conteúdos por te- rentes tradutores. Quando estas
mática, para facilitar o estudo. eram consistentes entre si, coeren-
As páginas com títulos entre sec- tes com a minha experiência da Kunst
ções («A Arte da Espada», «A Zedel des Fechtens e o meu entendimento
da Bloßfechten», etc) são acréscimos do original alemão, o trabalho foi re-
para ajudar a estruturar e fazer atra- lativamente simples. Quando, por
ente a maqueta. Não são parte do ori- contra, existiram discrepâncias entre
ginal, que não traz nenhuma forma as diferentes versões, fiz um estudo
de capas nem mais divisão entre sec- cuidadoso dos posíbeis significados
ções que iniciar nova página, fre- para chegar à tradução que achei
quentemente com uma capitular mais acertada. Frequentemente es-
mais florida, de mais tamanho, ou sa escolha coincidiu com algum dos
com um parágrafo em tinta vermelha tradutores ingleses, mas nem sem-
com estilo de incipit. pre. Há algum ponto em que delibe-
radamente decidi redigir uma inter-
Metodologia:
pretação divergente. Na medida do
línguas de origem
possível, tentei documentar este
Embora o ótimo seria, sempre, po- processo nas notas que podes en-
der fazer uma tradução direta do ori- contrar em companhia da tradução.
ginal, o meu conhecimento da língua Acho que isto produziu um texto
alemã é limitado e específico da ver- coerente e beneficiado de todos os
são contemporânea. Por esse motivo, olhos que por ele passaram.
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Traduttore, traditore
POLÍTICA de tradução

That servile path thou nobly dost decline


Of tracing word by word, and line by line.
A new and nobler way thou dost pursue
To make translations, and translators too:
They but preserve the ashes, thou the flame;
True to his sense, but truer to his fame.

A ti, valente, que o caminho declinas


de traçar as palavras linha por linha;
a ti que procuras nobre e nova forma
de criar traduções das velhas obras:
há quem guarda cinzas, tu manténs a chama;
fiel ao seu sentido, e ainda mais à fama.

Os problemas da tradução não são novidade:


Sir John Denham já em 1647.

Sem pretender a soberbia de me fa- com a prática da Kunst des Fechtens


zer destinatário dos versos que John como é entendida na Arte do Comba-
Denham dedicou a Richard Farnshaw te. Esta tradução é por necessidade
pela tradução inglesa de Il Pastor Fi- interpretativa, e também por neces-
do, invoco as suas palavras para es- sidade de (relativa) simples leitura.
clarecer que nunca foi o meu objecti- Não tenho interesse em criar um tex-
vo uma tradução literal do MS 3227a. to de excessivo «sabor medieval»,
A origem deste projeto está na nem uma edição crítica que sirva co-
necessidade de encontrar formas de mo ponto de partida duma investiga-
transmitir ao estudantado da Arte do ção académica — quem quiser fazer
Combate conceitos e atitudes que isto dispõe de amplos recursos já,
acho fulcrais para a Kunst des Fech- como as traduções e transcrições da
tens: prudência, deslocamentos bre- bibliografia.
ves e controlados, segurança e con- Tampouco achei de interesse tra-
trolo da arma contrária, vontade de duzir ou trasladar elementos do tex-
ganhar a iniciativa, etc. Para isto foi to tangenciais ou não relacionados
necessário criar uma tradução que com a Arte do Combate. É por isto
possa ser lida sem a barreira idiomá- que este livro não inclui as partes a
tica que uma língua estrangeira (in- referir receitas para fabricar aço, al-
glês, espanhol, alemão) representa, quimia, o calendário ou o tratado Li-
mas que fosse também consistente ber Igneum que dá início ao manus-
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crito, etc. Decidi incluir, como ultimo pósito do texto original. Porém, mo-
apêndice, umas poucas das receitas difica o que do meu ponto de vista é
mágicas. Acho serem engraçadas, e currículo oculto — ideologia, no sen-
servem para ver a forma de pensar tido clássico do materialismo dialé-
das pessoas que escreveram o texto tico. Da mesma forma em que o po-
que lemos. Esta consideração não é ema atribuído a Hanko Döbringer
trivial: se achamos as suas crenças acrescenta a sua visão do código da
mágicas disparatadas, quanto pode- cavalaria de Ramon Llull à Zedel,
mos fiar de que o seu critério como acho-me legitimado para sobrepor
combatentes seja melhor? aqui um marco ético que eu possa
Finalmente, fiz propósito delibe- defender e utilizar nas minhas aulas
rado de descartar ou adaptar as refe- com gente muito diversa, num con-
rências ideológicas, religiosas e ape- texto contemporâneo.
lações a Deus que o texto original Em benefício da transparência do-
contém. Esta não é uma decisão pa- cumentei estas mudanças nas notas
ra ser tomada à ligeira, por quanto al- à margem, e incluí também traduções
tera decididamente o conteúdo e pro- mais literais do texto original.
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Bibliografía

Fontes primárias Fontes secundárias

Anónimo; Döbringer, Hans; Burkart, Eric


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AHA German Longsword Study Guide
Żabiński, Grzegorz Glasgow, Escócia: Fallen Rook
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Kleinau, Jens P.
traktaty/doebringer.html
Traduções parciais do 3227a em
[consultado em 2014-10-05]
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Historical Martial Arts blog:
https://talhoffer.wordpress.com
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Cod.HS.3227a or Hanko Döbringer
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http://www.thearma.org/
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