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TEORIA GERAL DOS CONTRATOS

2021.2

Prof. Orita
Evolução histórica

➢ Direito romano: Contrato ≠ Convenção

Espécies:
✓ Contrato
✓ Pacto

• Diferenciação entre convenções (acordo que não era suficiente para o


nascimento de uma obrigação exigível) e contratos.
• Formalismo extremo.
Evolução histórica

➢ 1ª codificação moderna: Código Napoleão (1804)

Disciplinou o contrato como mero


instrumento para a aquisição da
propriedade.
Garantia para os burgueses e
classes proprietárias.

• Eleva a aquisição da propriedade privada ao ponto culminante do direito da


pessoa (sem propriedade não haveria liberdade).
• Contrato como meio de transmissão da propriedade por si só.
• Ponto máximo do individualismo.
• Autonomia da vontade.
Evolução histórica

➢ Código civil alemão (1896)


Contrato é um negócio jurídico, que por si só não transfere a propriedade.

• Preponderância do elemento vontade.


• Autonomia da vontade, com abstenção do Estado nas relações privadas.
Evolução histórica

➢ Atualmente
Convenção, contrato e pacto: expressões sinônimas.

Direito civil - o contrato está presente nos seguintes seguimentos:


✓ Direito das obrigações (contratos em geral)
✓ Direito de empresa (contrato social)
✓ Direito das coisas (hipoteca, usufruto)
✓ Direito de família (casamento)
✓ Direito das sucessões (partilha em vida)
Evolução histórica

➢ O CC/2002 permite a liberdade de contratar das partes, desde que atendida


a função social do contrato.

Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites


da função social do contrato.

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão


do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e
boa-fé.
Função social do contrato

Segundo Araken de Assis o contrato cumprirá a sua função social “respeitando


sua função econômica, que é a de promover a circulação de riquezas, ou a
manutenção das trocas econômicas, na qual o elemento ganho ou lucro
jamais poderá ser desprezado, tolhido ou ignorado, tratando-se de uma
economia de mercado” (Comentários ao Código Civil brasileiro, v. V, p. 85-86)
Negócio jurídico

“Negócio jurídico é o meio de realização da autonomia privada, e o contrato é o


seu símbolo” (Francisco Amaral).

Antes de ser um instrumento em si, todo contrato é um negócio jurídico, razão


pela qual devem observar os requisitos de existência, validade e eficácia
previstos no CC.
Condições de validade do contrato

➢ Efeitos dos negócios jurídicos:


✓ Aquisição
✓ Modificação direitos
✓ Extinção

➢ Requisitos para validade dos negócios jurídicos:


a) De ordem geral
b) De ordem especial
Condições de validade do contrato

➢ Requisitos para validade dos negócios jurídicos:


a) De ordem geral (CC, art. 104)
1. Capacidade do agente
2. Objeto lícito
3. Forma prescrita ou não defesa em lei

a) De ordem especial
1. Consentimento recíproco ou acordo de vontades.
Condições de validade do contrato

➢ Requisitos de validade do contrato estão divididos em 3 grupos:


a) Subjetivos
b) Objetivos
c) Formais

REQUISITOS SUBJETIVOS
1. Manifestação de 2 ou mais vontades com capacidade
2. Aptidão específica para contratar
3. Consentimento
Condições de validade do contrato

REQUISITOS SUBJETIVOS
1. Manifestação de 2 ou mais vontades com capacidade
➢ Maioridade (CC, art. 5º)
Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a
pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
➢ Cessação da incapacidade (CC, Parágrafo único do art. 5º)
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante
instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou
por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos
completos;
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
Condições de validade do contrato

REQUISITOS SUBJETIVOS
1. Manifestação de 2 ou mais vontades com capacidade

Nota: Pessoa jurídica representada de acordo com o Contrato Social ou


Estatuto Social
Condições de validade do contrato

REQUISITOS SUBJETIVOS
2. Aptidão específica para contratar
Para celebrar certos contratos a lei requer uma capacidade especial
➢ Outorga uxória para alienar imóvel (CC, arts. 1.647, 1.649 e 1.650)
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do
outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
IV - fazer doação, não sendo remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura
meação.
Parágrafo único. São válidas as doações nupciais feitas aos filhos quando casarem ou
estabelecerem economia separada.

Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga, quando um dos
cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível concedê-la.

Art. 1.649. A falta de autorização, não suprida pelo juiz, quando necessária (art. 1.647), tornará
anulável o ato praticado, podendo o outro cônjuge pleitear-lhe a anulação, até dois anos depois de
terminada a sociedade conjugal.
Parágrafo único. A aprovação torna válido o ato, desde que feita por instrumento público, ou
particular, autenticado.

Art. 1.650. A decretação de invalidade dos atos praticados sem outorga, sem consentimento, ou
Condições de validade do contrato

REQUISITOS SUBJETIVOS
2. Aptidão específica para contratar
Para celebrar certos contratos a lei requer uma capacidade especial
➢ Consentimento dos descendentes e do cônjuge do alienante (CC, art. 496)

Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os


outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem
consentido.
Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do
cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória.
Condições de validade do contrato

REQUISITOS SUBJETIVOS
3. Consentimento (livre e espontâneo)
✓ Consentimento sobre a existência e natureza do contrato
✓ Consentimento sobre o objeto do contrato
✓ Consentimento sobre as cláusulas que compõe o contrato
Condições de validade do contrato

REQUISITOS OBJETIVOS
1. Licitude do objeto do contrato (não contrário a lei, moral ou bons
costumes)
2. Possibilidade física ou jurídica do objeto
3. Determinação de seu objeto (determinado ou determinável)
Condições de validade do contrato

REQUISITOS FORMAIS
Meio de revelação da vontade que pode ser o consensualismo (liberdade de
forma) ou formalismo (forma obrigatória).

Qual a forma adotada no direito brasileiro?


CC, art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma
especial, senão quando a lei expressamente a exigir.
Princípios Clássicos e Modernos dos Contratos

PRINCÍPIOS CLÁSSICOS DO DIREITO CONTRATUAL


1. Autonomia de vontade
2. Consensualismo
3. Relatividade dos efeitos do contrato
4. Obrigatoriedade dos contratos

PRINCÍPIOS MODERNOS DO DIREITO CONTRATUAL


1. Supremacia da ordem pública
2. Boa-fé objetiva
3. Função social
4. Revisão dos contratos ou onerosidade excessiva
PRINCÍPIOS CLÁSSICOS DO DIREITO CONTRATUAL
1. Autonomia de vontade
2. Consensualismo
3. Relatividade dos efeitos do contrato
4. Obrigatoriedade dos contratos
Autonomia da vontade ou consensualismo
• Contrato é um negócio jurídico consensual. Não há contratação obrigatória.
• Ampla liberdade de contratar ou não, e também de escolha do modelo
contratual
• Sem interferência do Estado
• Celebrar contratos nominados ou fazer combinações, resultando nos
contratos inominados ou atípicos

Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da


função social do contrato.

Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as


normas gerais fixadas neste Código.

Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
Relatividade dos efeitos do contrato
• Regra geral: contrato só produz efeitos para as partes que dele participam
(efeitos internos do contrato)
• As partes vinculam-se ao conteúdo do contrato
• Satisfação dos interesses individuais. Críticas.
• Há porém exceções em que são produzidos efeitos externos em relação a
terceiros (estipulação em favor de terceiros, convenções coletivas de
trabalho) – CC, arts. 436 a 438

Art. 436. O que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da obrigação.
Parágrafo único. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la,
ficando, todavia, sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar
nos termos do art. 438.
Art. 437. Se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a
execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor.
Art. 438. O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato,
independentemente da sua anuência e da do outro contratante.
Parágrafo único. A substituição pode ser feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade.
Obrigatoriedade dos contratos ou intangibilidade dos contratos ou
força vinculante dos contratos
• Necessidade de segurança nos negócios jurídicos
• Contrato faz lei entre as partes
• Não pode ser alterado nem mesmo pelo juiz
• Pacta sunt servanda (os pactos assumidos devem ser respeitados ou os
contratos assinados devem ser cumpridos)
• Também não é absoluto
• Impossibilidade de alteração unilateral do contrato (intangibilidade)
• Modificação ou revogação sempre bilateral
PRINCÍPIOS MODERNOS DO DIREITO CONTRATUAL
1. Supremacia da ordem pública
2. Boa-fé objetiva
3. Função social
4. Revisão dos contratos ou onerosidade excessiva
5. Proibição de comportamento contraditório
Supremacia da ordem pública
• Sempre foi uma exceção à autonomia da vontade, funcionando como um
elemento limitador desta.
• Interesse da sociedade deve prevalecer quando colide com o interesse
individual.
Boa-fé objetiva
• Exige que as partes se comportem de forma correta durante as tratativa,
formação e cumprimento do contrato
• Honestidade de proceder
• Maneira criteriosa de cumprir todos os deveres
• A boa-fé é presumida. A má-fé deve ser provada.
Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão
do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e
boa-fé.
Função social do contrato
• Limitação à autonomia da vontade
• Substituição da individualidade pela socialidade
• Intervenção cada vez maior do Estado, tendo em vista a economia de
massa
• Interesse social somente será analisado no caso concreto
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da
função social do contrato.
Revisão dos contratos ou da onerosidade excessiva
• Exceção à força obrigatória dos contratos
• Teoria da imprevisão
Art. 478. Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação
de uma das partes se tornar excessivamente onerosa, com extrema
vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e
imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os
efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.
Art. 479. A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar
equitativamente as condições do contrato.
Art. 480. Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes,
poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo
de executá-la, a fim de evitar a onerosidade excessiva.
Proibição de comportamento contraditório
• Venire contra factum proprium (protege uma parte conta aquela que pretende
exerer uma posição jurídica em contradição com o comportamento assumido
anteriormente)
• Ninguém pode alegar sua própria torpeza
• Decorrente da boa-fé objetiva
• Conceitos correlatos à boa-fé objetiva
➢ Suppressio: um direito não exercido durante determinado lapso de
tempo não poderá mais sê-lo, por contrariar a boa-fé.
➢ Surrectio: É a outra face da suppressio. Acarreta o nascimento de um
direito em razão da continuada prática de certos atos.
➢ Tu quoque: Proíbe que uma pessoa faça contra outra o que não faria
contra si mesmo, consistindo em aplicação do mesmo princípio
inspirador da exceptio non adimpleti contractus.
Art. 476. Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes
de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do
outro.

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