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Verdadeiramente LIVRES 10 ex-padres contam suas hist6rias RICHARD BENNETT FEL! Editora Fiel da Missio Evangélica Literaria VERDADEIRAMENTE LIVRES Traduzido do original em inglés: Far FROM Rome, Near To Gop Copyright © Richard Bennett Primeira edigao em portugués - 2004 Todos 0s direitos reservados. E proibida a reproducao deste livro, no todo ou em parte, sem a permisso escrita dos Editores. Editora Fiel da Missao Evangélica Literaria Caixa Postal 81 12201-970 Sao José dos Campos - SP PREFACIO .....ccccceeeseeeeeeeeesseeeeeeeeaneeseeeteneeer aes INTRODUCAO....... cece eee esetteeeeeeeaeeeeeeeenesaeeeene eens 1 JOSEPH TREMBLAY .........00:.0cccccsceeeeeeeeeeeeeeeee Um sacerdote que nao conhecia a Deus 2 RICHARD PETER BENNETT ..........000eeeceeeeeeeeees 21 Da tradicéo a verdade - A historia de um padre 3 JOSEPH CHERUCHERIL ..............:::ceeeeceeseeteeees 37 O caminho é iluminado 4 AnipaL Pereira Res .. vee 47 Depois de muitos anos coi encontrei Jesus! 5 CIPRIANO VALDES JAIMES .........0000ecceseeseeeee eee 55 Um chamado irresistivel 6 ALEXANDER CARSON .......00.ccccceeceeeeee eee eeeeenes 61 Verdadeiramente livre 7 BARTHOLOMEW F. BREWER ..........0000sesrseeeeeee 67 Deixando Roma 8 Micuret CarvasaL 79 Por que deixei o mosteiro 9 EDOARDO LABANCHI .......0.0ccccceeeeeceeenereeeeen ee 85 Recebi misericordia 10 CUTHBERT DZINGIRAL.......... 006i cecceeseeeeeeeeees 95 Resgatado pela graca de Deus PREFACIO A leitura deste livro causou-me grande prazer e, a0 mesmo tempo, pesar. Causou-me grande prazer, porque em cada capitulo temos um recordacdo do que é 0 verdadeiro cristianismo. Em | Corintios 15.3-4, o apéstolo Paulo apresentou a morte e a ressur- reicao do Senhor Jesus Cristo como as verdades fundamentais da fé. Por conseguinte, um verdadeiro cristao é alguém que entende 0 significado da morte que Cristo sofreu no lugar dele; é também uma pessoa que entrou na experiéncia de conhecer a Cristo como 0 Salvador vivo. O reino de Deus nao é algo em que entramos por meio da morte; porém, como Cristo disse em Jodo 3, no momento em que somos nascidos de novo, entramos nesse reino e comeca- mos a “ver”, pela primeira vez, as coisas espirituais. Este livro narra o testemunho de varios homens, que, em sua maioria, sio desconhecidos uns dos outros e vive em lugares di- ferentes, mas que vieram, por meio da graca de Deus, ao conheci- mento salvifico de Jesus, nosso Senhor. O interesse deles em tor- nar conhecida a sua experiéncia, nestas paginas, nao é 0 de atrair a nossa aten¢do para si mesmos, nem para qualquer organizacao, nem mesmo para qualquer igreja. O desejo deles é que 0 préprio Senhor Jesus seja conhecido e que homens e mulheres sejam trazi- dos ao mesmo gozo que eles encontraram. 6 VERDADEIRAMENTE LIVRES No entanto, este é também um livro de pesar, visto ser uma prova de que alguns podem imaginar que sao verdadeiros cristaos e até servir como ministros de igrejas que confessam ser cristas, mas, apesar disso, em todo o tempo, assim como Nicodemos, tais pessoas nao sabem nada a respeito da verdadeira salvacdo. Neste livro, encontramos 0 testemunho de homens descobrindo que a Igreja de Roma, em vez de ser um guia seguro que conduz a Cristo, real- mente os estava levando para longe dEle. Quando o cardeal Heenan estava morrendo, ele declarou: “A Igreja me deu tudo”. O testemunho destes homens fara com que o leitor questione se 0 que a Igreja de Roma professa transmitir 6 verdadeiro, Esta é uma pergunta que pode ser respondida com exatiddo, somente se tomarmos a Biblia como regra; e, quem fizer isso com sincera ora¢ao a Deus, rogando por esclarecimento e ajuda, experimentar4 0 mesmo resultado que encontramos na vida dos escritores deste livro. Todavia, precisamos lembrar que nao é somente na Igreja de Roma que as pessoas podem ser enganadas. Qualquer igreja que ensina as pessoas a colocarem qualquer confianga no homem, e a nao confiarem tao-somente em Cristo, essa igreja esta na mesma cegueira. Creio que os testemunhos encontrados nas paginas deste livro serio usados para que Deus seja glorificado, porque nao buscam promover a si mesmos. Eles apenas refletem o desejo de homens cujo alvo é honrar a Cristo e sua Palavra. Um verdadeiro cristao é um pecador miseravel redimido, para quem Cristo deu todas as coisas. Que este livro seja usado para fortalecer esta verdade em todo o mundo! Tain H. Murray INTRODUCAO Fizemos um grande esforco para selecionar testemunhos que refletem os princfpios biblicos da salvac4o exclusivamente pela gra- ¢a, por meio da fé unicamente em Cristo, fundamentada apenas na autoridade das Escrituras, de modo que somente Deus seja glorifi- cado, Esta selec&o foi realizada com um propésito pastoral: a salva¢4o de almas. Nao produzimos um manual de teologia, nem mesmo temos a intengéio de endossar todas as declaragées doutri- narias apresentadas nos testemunhos. Entretanto, louvamos realmente o Senhor pela unidade de fé manifestada entre nds. Richard Bennett SEPH TREMBLAY Um sacerdote que néo conhecia a Deus Deus pode salvar qualquer pessoa, a qualquer hora, em qual- quer lugar. Nao importa onde ela se encontre, qual seja a sua profissao ou a sua raga, Deus ainda é capaz de salvar, em nossos dias, qualquer pessoa que se arrependa de seus pecados e confie em Jesus Cristo para a salvagao. Minha vida é um exemplo deste fato. Tudo comegou em 1964, no Chile, quando eu era um missiona- rio da Congregaga4o dos Padres Oblatos de Maria Imaculada, e ter- minou no Canadé em 1966. O que aconteceu entre esses dois anos foi a salvacao da minha alma. Eu havia desejado me entregar com- pletamente a Deus. E pensava realmente que ja 0 tinha feito, pelo fato de pertencer a religiao na qual eu nasci. Um dia, porém, Deus abriu meus olhos, fazendo-me compreender meu pecado e 0 cami- nho da salvagao. Eis como isso aconteceu: Nasci em Quebec (Canada), no ano de 1924, Desde a infancia, meus pais inculcaram em mim um profundo respeito por Deus. Eu desejava intensamente servi-Lo com o melhor de minhas habilida- des e consagrar-Lhe toda a minha vida, a fim de agrada-Lo, de 10 VERDADEIRAMENTE LIVRES conformidade com as palavras do apéstolo Paulo: “Rogo-vos, pois, irm4os, pelas misericérdias de Deus, que apresenteis 0 vosso cor- po por sacrificio vivo, santo e agradavel a Deus, que é 0 vosso culto racional” (Romanos 12.1), Este desejo de agradar a Deus foi 0 que motivou a minha decisao de tomar parte nas Santas Ordens da Igre- ja Cat6lica Romana. UM MISSIONARIO NA BOLivIA Apés muitos anos de estudo, fui ordenado padre em Roma. Um ano depois, fui enviado como missionério para a Bolivia ¢ Chile, onde servi por mais de treze anos. Gostava muito de meu estilo de vida e tentava cumprir minhas responsabilidades da melhor manei- ra possivel. Desfrutava da amizade de todos os colegas, os quais, embora vissem com ironia meu intenso gosto pelo estudo da Biblia, seus convites para compartilhar com eles os resultados de meus estudos evidenciavam a aprovagao deles. Quando me chamavam de “Joe, o Biblia”, eu sabia que, apesar do sarcasmo da expressao, eles me invejavam. Os fiéis de minha paréquia também aprecia- vam tanto a ministracao da Palavra de Deus, que organizaram um clube de estudo biblico doméstico. Fui compelido a dedicar-me ao estudo zeloso das Escrituras, a fim de preparar-me para os encon- tros improvisados nas casas, tanto quanto me preparava para os sermées de domingo. Estupo BiBLICO SERIO O estudo da Biblia, que até entio era apenas um passatempo, logo se tornou uma obrigagio profissional. Tornei-me consciente da clareza com que certas verdades eram ensinadas e, por outro lado, descobri que as Escrituras nao continham nada a respeito de muitos daqueles dogmas que eu havia aprendido. O estudo da Biblia revelou que, na verdade, eu nao a conhecia. Disse aos meus supe- riores que gostaria de me aprofundar nos estudos bfblicos, quando chegassem minhas férias, Nesse interim, os jesuitas em Antofagasta me convidaram para ensinar Biblia na Escola Normal da universi- dade que eles dirigiam. Nao sei como souberam de meu interesse pela Biblia. Apesar da falta de preparo, aceitei o convite, reconhe- JosEPH TREMBLAY 11 cendo que esta nova responsabilidade exigiria mais estudo sério da Palavra de Deus. O EVANGELHO PELO RADIO Muitas horas, dias e noites foram dedicados a preparacao de aulas, reunides e sermées. Para manter boa disposicéo, durante a leitura e o estudo, eu cultivava o hébito de ouvir misica. Havia ganhado um pequeno radio, com o qual podia ouvir boa musica, sem me preocupar em trocar os discos. Deste modo, um dia perce- bi que estava ouvindo misicas e hinos religiosos, por meio do pe- queno radio. Escutava a palavra “Jesus”, enquanto lia a Biblia ou comentarios biblicos. O ambiente era muito propicio. Os hinos, porém, nao duravam por muito tempo. Eram segui- dos por uma breve leitura da Biblia. O ultimo versiculo lido chamou minha atencao: “Aquele que nao conheceu pecado, ele o fez peca- do por nés; para que, nele, f6ssemos feitos justiga de Deus” (2 Corintios 5.21). Este versiculo foi a base da pregacao que veio em seguida. A principio, fui tentado a mudar de estac4o, porque ouvir alguém falar, enquanto tentava estudar, me distraia muito, Além disso, pensei comigo mesmo: afinal de contas, o que este pregador pode acrescentar a alguém como eu, que tenho todos estes diplo- mas? Poderia até ensinar-lhe uma ou duas coisas. Apés um mo- mento de hesitacao, decidi ouvir 0 que ele tinha a dizer. E, verda- deiramente, aprendi algumas das coisas mais maravilhosas concernentes 4 pessoa de Jesus Cristo. Fiquei muito envergonhado, ao reconhecer que, sem divida, nunca poderia ter pregado tio bem quanto o homem que acabara de pregar. Parecia-me que o préprio Jesus Cristo estivera ali, em minha frente, falando comigo. E quao pouco eu conhecia a Jesus, que, apesar disso, era 0 motivo de meus pensamentos e estudos! Senti que Ele estava muito distante de mim. Foi a primeira vez que expe- rimentei tal sentimento sobre Jesus Cristo. Ele parecia um estra- nho para mim. Era como se todo o meu ser fosse um imenso vazio, ao redor do qual eu havia construfdo uma estrutura de principios e dogmas teolégicos, muito bonitos, bem elaborados, bem ilustrados, mas que no haviam tocado minha alma, nem mudado o meu ser. Sentia apenas um grande vazio em meu intimo. E, apesar de conti- 12 VERDADEIRAMENTE LIVRES nuar estudando e me empanturrando com leituras, orac¢do e medi- tagdo, este vazio tornava-se maior a cada dia. CONHECI A SALVACAO PELA GRACA Continuei ouvindo a mesma estacio de radio, sintonizando cada programa que conseguia. Logo descobri que a estagao ficava em Quito. Era a HCJB. Também soube que era uma estagao de radio dedicada exclusivamente 4 pregacao do evangelho em todo o mun- do. As vezes, me sentia profundamente tocado por tudo o que ouvia e, em tais ocasides, escrevia diretamente 4 HCJB, para agradecer- jhes e pedir informagées. O que me deixou mais perplexo, de tudo 0 que ouvi, foi a insis- téncia com que um dos pregadores falou sobre a salvacao pela gra- ¢a, afirmando que todo o crédito pela salvac4o do homem deveria ser dado nao aquele que foi salvo, e sim ao Senhor Jesus Cristo, 0 Unico Salvador; que o homem nao poderia orgulhar-se de nada, pois suas obras eram apenas trapos de imundicia; que a vida eterna po- deria ser recebida no corag4o como um dom gratuito — no era uma recompensa em troca de méritos adquiridos, e sim um dom imerecido, outorgado por Deus a todo 0 que se arrepende de seus pecados e recebe Jesus Cristo em seu corac&o, como seu Salvador pessoal. Tudo isto era novo para mim. Era contrario a teologia que eu havia aprendido: 0 paraiso e a vida eterna eram ganhos através de nossos préprios méritos, fidelidade, caridade e sacrificios. Este era 0 objetivo pelo qual estava me empenhando, durante tantos anos. Mas, qual foi o resultado de meus esforgos? A medida que pensava nesta questao, disse a mim mesmo: Nao estou progredindo nem um pouco. Se cometer um pecado mortal e morrer nesse estado, irei para o inferno. Minha teologia me ensinou que a salvacao vem pelas obras e sacrificios. Descobri na Biblia uma salvacdo gratuita. Minha teologia nao me dé qualquer seguran- ¢a de salvagGo; a Biblia me oferece essa seguranca. Estou confuso. Talvez eu deva parar de ouvir os programas evangélicos. Minha luta interior estava assumindo proporgoes alarmantes. Eu sofria no corpo e no coracéo, com dores de cabega, insdnia e medo do inferno. Nao tinha qualquer desejo de celebrar a missa, nem de ouvir as confissdes. Sentia uma necessidade cada vez mai- JosePH TREMBLAY 13 or de perdao e consolo, mais do que todas as Outras pessoas com as quais eu estava em contato. Eu evitava a todos. Mas Deus continuou a falar comigo na solidao de meu coragao angustiado. Tantas questées surgiram em meu espirito; tantos re- ceios ardiam em meu coragao. A Palavra de Deus veio resgatar-me, espalhando balsamo refrescante em minhas turbulentas emogées. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigénito, para que todo o que nele cré nao perega, mas tenha a vida eterna” (Joao 3.16). “Pois todos pecaram e carecem da gléria de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graga, mediante a redengdo que ha em Cristo Jesus” (Romanos 3.23-24). “Porque o salario do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 6.23). Muitos outros textos me vieram 4 mente, textos que eu conhecia porque os ouvia freqiientemente no radio, por intermédio da HCJB. SANTA MADRE IGREJA Ocorreu-me a idéia de que deveria falar com meu superior. Um homem muito sdbio e verdadeiro pai para todos nds. Ele ja havia percebido minha mudanga de atitude. Eu havia mudado, ele comentou; alguma coisa estava errada. Contei-lhe porque havia mudado, Ele me deixou falar, Concluindo minha confissio, disse- the: “Gostaria nao apenas de ler e estudar a Biblia, mas também de tentar adaptar minha vida a ela, comportando-me de acordo com os seus ensinos, sem quaisquer imposicdes dos homens”. A resposta foi muito vaga. Ele nao queria me ofender, de modo que me acon- selhou a continuar lendo a Biblia, mas lembrou-me de que deveria manter a fidelidade para com os ensinos de nossa “mie, a santa igreja”, a quem devemos nos submeter, mesmo nas coisas que nao compreendemos. Ouvi as palavras de meu superior com todo o res- peito que Ihe devia. Ele mesmo nao tinha certeza de sua salvagao. No entanto, eu ja havia perdido a fé em minha igreja, porque ela nao me ensinava a certeza da salvacio. Em meu coragiio, havia uma ruptura que cresceria cada vez mais, rompendo tudo, de uma maneira mais rapida do que eu podia imaginar. Uma luz resplandeceu em meu corac&o, quando eu menos es- perava. Isto aconteceu ao retornar 4 pregacgaéo em minha paréquia. 14 VERDADEIRAMENTE LIVRES Naquele domingo, decidi falar sobre o tema “Hipocrisia Religio- sa”, utilizando o seguinte texto biblico: “Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entraré no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que esta nos céus. Muitos, naquele dia, hio de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, nao temos nés profetizado em teu nome, e em teu nome nao expelimos deménios, e em teu nome nao fizemos muitos milagres? Entao, lhes direi explicitamen- te: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniqitidade” (Mateus 7.21-23). O Espirito Santo AGE Eu conhecia os fiéis da paréquia. Queria chamar-Jhes a aten¢ao quanto a vangléria manifestada por certas pessoas, no que diz res- peito as suas boas obras; tais pessoas esqueciam freqiientemente que estas boas obras camuflavam um coracao corrupto. A medida que pregava, tornava-me consciente de que a Palavra de Deus se voltava para mim, como uma bola de ping-pong que retorna e acer- ta 0 jogador bem no rosto. curioso perceber como o espirito hu- mano, em apenas alguns segundos, pode construir uma estrutura de pensamento que demandaria horas para ser colocada em palayras. Deste modo, enquanto eu apresentava a mensagem, outra Pessoa falava ao meu Coragao e pregava um sermao adaptado exatamente 4s minhas necessidades. Pensei que, por ser um religioso (um pa- dre), eu era melhor do que todos aqueles que ali me ouviam. No entanto, estas palavras ainda retiniriam em meus ouvidos: “Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim”. Ouvi meus préprios argumentos em face desta ameaca e con- denacao: Como é posstvel, meu Deus, que nao me conhecerdas? Nao sou teu sacerdote? Nao sou alguém religioso? Olha todos os sacrift- cios que fiz por Ti: os anos de estudo, a separacdo de meus pais e de minha terra, meus votos de pobreza, obediéncia e castidade, consa- grando-Te todas as minhas riquezas, vontade e meu proprio corpo, a fim de servi-Te melhor. E Tu me dirds que nunca me conheceste? Considera todos os sofrimentos pelos quais tenho passado durante a vida missiondria: tenho me privado de comer o suficiente, a ponto de ndio satisfazer o meu apetite, tenho chorado com os que choram, Ja batizei centenas e centenas de criancas; tenho ouvido todos os Josep TREMBLAY 15 tipos de confissGo e confortado tantas pessoas entristecidas e desencorajadas; tenho passado frio, solidéo, desprezo, ingratiddo, ameacas... estou pronto até para dar a vida por Ti... Mas, apesar de todos os argumentos que apresentei a Deus, a mesma condenacio continuava a ecoar em meus ouvidos: “Nunca vos conheci”, Eu jé nao tinha mais argumentos e estava no fim de minhas forcas. Sentia que estava a ponto de sucumbir e chorar ali mesmo, diante dos fiéis, que também podiam sentir uma tempesta- de se aproximando, E logo a tempestade irrompeu. As lagrimas me impediram de continuar 0 sermao. O desencorajamento, resultante de confrontar-me com a terrivel frustrago do propésito de toda a minha vida, em face dos meus pecados e da condena¢io de Deus, era demais para que eu 0 suportasse. Entao, me refugiei no escrité- TIO, LA, ajoelhado, esperei até que a calma retornasse. Para onde me voltaria agora? Talvez minha teologia me salvaria, se me vol- tasse para ela, seguindo fielmente todos os seus dogmas e preceitos. Mas essa teologia, a qual considerei me apegar novamente, ja tinha comegado a me fazer experimentar grande desordem, mudanga e destruigéo. Meus pensamentos se voltaram para os amigos. Eles, porém, estavam na mesma situa¢4o em que eu me encontrava: in- certeza, Confiar em mim mesmo? Eu jé nao podia mais contar com as boas obras. Ao olhar para mim, via apenas completa misé- ria. Eu nao podia fazer mais nada; estava em total exaustao, deprimido e desencorajado. Este era 0 momento no qual Deus esta- va me outorgando sua graca. “Os extremos dos homens sao as oportunidades de Deus.” Ap6s A CONVICCAO, A RESPOSTA Durante todas as minhas reflexdes, Deus estava preparando sua Palavra de salvagao: “Porque pela graca sois salvos, mediante a fé; e isto nado vem de vés; é dom de Deus; nao de obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2.8-9), Nesta ocasiaio, entendi meu erro earazao por que Deus me rejeitava. Estava tentando salvar a mim mesmo, por meio de obras; mas Deus queria me salvar pela graga. Outra Pessoa j4 havia tomado sobre Si os meus pecados e 0 julga- mento que os acompanhava. Esta pessoa foi o Senhor Jesus. Foi por 16 VERDADEIRAMENTE LIVRES isso que Ele morreu na cruz. Ele morreu pelos pecados de outros, pois Ele mesmo nunca pecou. Pelos pecados de quem Ele morreu? Poderia ser pelos meus? Sim, pelos meus. Recordei as palavras de Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarrega- dos, e eu vos aliviarei” (Mateus 11.28). Entendi que deveria ira Jesus, caso desejasse ter a certeza da salvagdo e paz em minha alma. Tive a intengao de pergunta-Lhe:; “Mas, onde Tu estas, Se- nhor Jesus, para que me apegue a Ti?” Antes mesmo que este clamor impaciente avultasse em meu coragao, lembrei-me de outra pala- vra que havia escutado: “Eis que estou 4 porta e bato; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo” (Apocalipse 3.20). Agora eu sabia onde Jesus estava. Ele estava mais préximo do que eu havia imaginado. Apressei-me em convida-Lo a entrar em meu coragao, nao perdendo tempo em pedir autorizagao a qualquer homem: “Entre, Senhor Jesus; entre em meu coragdo. Seja meu Lider, meu Senhor, 6 amado Salvador”, Naquele momento, eu sa- bia que estava livre da puni¢éo que me ameagara por tanto tempo. Estava salvo, perdoado; tinha a vida eterna. Deus comegara sua obra em mim. Agora entendia a mensagem que tinha ouvido tantas vezes € que se tornou real para mim, “Aquele que nao conheceu pecado, ele o fez pecado por nés; para que, nele, féssemos feitos justiga de Deus” (2 Corintios 5.21); “Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressdes e mojdo pelas nossas iniqilidades; 0 castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Isaias 53.5). A LUTA PARA PERSEVERAR O que aconteceu depois? A principio, continuei em meu servico paroquial, fazendo-o da melhor maneira possivel. Mas, pouco a pouco, comecei a sentir-me um estranho naquela posig4o. Percebi que a graca tinha me salvado e me transformado em um filho de Deus, e, cu estava entrando em conflito com as “obras” sob as quais eu tentava viver. Estava feliz porque tinha a certeza da salva- ¢ao. Mas estava sufocado em um sistema no qual eu era levado a fazer boas obras, para merecer a salvagdo. Eu ja possufa a salva- JoserH TREMBLAY 17 ¢&o; portanto, todas aquelas obras comecaram a ser deixadas de lado, uma a uma. A orientacdo e a apresentacao de meus serm6es mudaram. Tudo o que me interessava era Jesus Cristo: quem Ele era e 0 que havia feito. Abandonei todos os assuntos preparados antecipadamente pela organizacao litirgica da diocese, a fim de dedicar todos os esforcos a pessoa ¢ a obra de meu amado Salva- dor, apresentando-O assim aos fiéis, que estavam confusos, mas eram edificados. Pedi para ser exonerado da funcdo de padre paro- quial, visto que nao podia mais pregar aquilo que contradizia a Pa- lavra de Deus. Meus superiores aceitaram minha resignacdo, em- bora nao entendessem a raz4o por que eu desejava sair. Na verda- de, eles haviam me tratado muito bem, favorecendo-me de varias maneiras, pois estavam preocupados com que eu nao passasse qual- quer necessidade. Isto era verdade no que diz respeito a comida, roupas e moradia. Mas agora eu tinha a seguranga da salvacao. Cristo era meu Senhor. Eu nao tinha mais nada a fazer para ganhar a salvacao; ela tinha sido ganha por Outro. Por esta raz4o, 0 Se- nhor Jesus tomaria sobre Si o encargo de continuar a obra comecada, pois nunca faz sua obra pela metade. CRENTES ME VISITAM Retornei a Quebec (Canad4), em 1965, para gozar um longo periodo de descanso. Pouco depois, fui visitado por crentes evangé- licos. Como ficaram sabendo a respeito de meu interesse pela Palavra de Deus? Eles foram sinceros comigo: meu nome hes ha- via sido dado pelo pessoal da HCJB. No entanto, embora eu tenha achado a conversa deles muito edificante, nao me envolvi comple- tamente com eles. Havendo sido subjugado, durante muitos anos, pelo sistema no qual eu nasci, fora educado e vivera por quarenta anos, eu n&o queria cair em outro sistema teolégico. Todavia, orei ao Senhor, para que me mostrasse onde encontrar irmaos e irmas com quem pudesse me reunir, a fim de nao me sentir tao sozinho. Eu sabia da experiéncia dos primeiros cristéos, de acordo com o relato de Atos: “E perseveravam na doutrina dos apéstolos e na comunhao, no partir do pao e nas oracdes” (Atos 2.42). Seria pos- sfvel que, em nossos dias, os cristaos ainda se reunissem para celebrar a Ceia do Senhor, enquanto aguardam a sua volta? Deus, 18 VERDADEIRAMENTE LIVRES que ja me havia trazido 4 salvacdo da alma, agiria novamente, a fim de me fazer conhecer a existéncia de seus filhos. Novo sERVICO Um dia, meus superiores em Montreal me chamaram para subs- tituir um professor de teologia de uma faculdade em Rouyn. Hesitei em aceitar a posicao, principalmente porque nunca gostara da re- gido de Abitibi, da qual Rouyn é a cidade mais importante. No entanto, aceitei, visto que seria apenas por alguns meses. O assunto sobre 0 qual eu deveria ensinar era “A Igreja”. Tive acesso a todos os livros que seriam necessarios para preparar as aulas. Comecei minha preparacao usando apenas a Biblia. Expliquei aos alunos 0 que é a Igreja, de acordo com a Biblia. Admito que tive dificuldades em entender o que estava ensinando. Havia um imenso contraste entre 0 ensino biblico e a igreja hier4rquica na qual eu ainda estava. Gostei muito de estudar este assunto. Usava um pe- queno gravador para ilustrar as li¢des, apresentando aos alunos algumas entrevistas que havia feito com o ptblico, em diferentes partes da cidade. Um dia, li no jornal que seria apresentado um programa de televisio que teria como tema “A Igreja”. Gravei 0 programa, para us4-lo em minhas aulas, e descobri que o assunto foi abordado do ponto de vista ensinado pela Biblia. Fiquei tao impressionado pela similaridade da apresentag&o desta pessoa desconhecida (que mais tarde descobri ser um crente evangélico) e a minha propria apresenta¢ao, que enviei uma carta de agradecimento ao pregador, convidando-o a visitar-me, se fosse possivel. Ele veio, e logo o re- conheci como alguém que ja conhecia o Senhor. Depois de diversas visitas, ele me convidou a passar um domingo com ele e a familia, em sua casa. Nesta ocasiao, participei de um culto quando foi cele- brada a “Ceia do Senhor”, pela primeira vez. DEUS RESPONDE A ORACAO Reconheci neste culto aquilo que foi descrito em 1 Corintios 11 € percebi que Deus havia respondido & minha orago, levando-me aos irmaos e irmas no Senhor e mostrando-me que ainda em nossos JosEPH TREMBLAY 19 dias os crentes se retinem como igreja local, para recordarem a morte do Senhor, enquanto aguardam a sua volta. “Porque, todas as vezes que comerdes este pao e beberdes o célice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha” (1 Corintios 11.26). Pouco depois, escrevi aos meus superiores em Montreal, co- municando-lhes que havia encontrado minha familia e solicitando-lhes minha dispensa de todos os votos que havia feito 4 Igreja Catélica Romana, visto que nao me considerava mais um de seus membros. Minha vida agora pertencia ao Senhor e doravante seria direcionada por Ele. Nova vipa NO SENHOR Foi deste modo que o Senhor me libertou, nao apenas de meus pecados e de sua condenac4o, mas também de um sistema humano que sobrecarrega e oprime. “Agora, pois, j4 nenhuma condenacao ha para os que est&o em Cristo Jesus. Porque a lei do Espirito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte” (Ro- manos 8. 1-2). Joseph Tremblay O autor deste testemunho é fluente em francés, es- panhol e inglés; tem evangelizado em varios paises. Em 1995, esteve na Irlanda, apresentando o evangelho, bem como 0 seu testemunho € o contraste que existe entre o cristianismo biblico e 0 catolicismo romano. Seu enderecgo é: P.O. Box 665 Riviere-du-Loup QC GS5R 3Z3 Canada 2 RICHARD PETER BENNETT Da tradicdao a verdade A historia de um padre Os PRIMEIROS ANOS Nasci na Irlanda, em uma familia de oito pessoas, e tive uma infancia muito feliz. Meu pai era coronel do Exército Irlandés, até que se aposentou, quando eu tinha nove anos de idade. Como familia, gostavamos muito de jogar, cantar e fazer apresentagGes, no campo militar, em Dublin. 7 Eramos uma familia cat6lica tipicamente irlandesa. As vezes, meu pai se ajoelhava para rezar, com reveréncia, ao lado de sua cama. Minha mie falava com Jesus, enquanto costurava, lavava lougas ou mesmo fumava seu cigarro. Na maioria das noites, nos ajoelhavamos na sala de visitas para rezarmos, juntos, 0 rosario. Nenhum dos membros da familia perdia uma missa aos domingos, ando ser que estivesse muito doente. Quando eu tinha cinco ou seis anos de idade, Jesus Cristo era uma pessoa muito real para mim, assim como o eram Maria e todos os santos. Posso entender com facilidade a atitude de outras pessoas tradicionalmente catdlicas, na Europa, bem como de hisp4nicos e filipinos, que colocam Jesus, 22 VERDADEIRAMENTE LIVRES Maria, José e todos os santos no mesmo caldeirao de fé. Aprendi 0 catecismo na Escola Jesuita de Belvedere, onde cur- sei o Ensino Fundamental e o Ensino Médio. Assim como todos os meninos que estudavam em escolas jesuitas, eu era capaz de citar, de mem6ria, as cinco razdes por que Deus existia e por que o papa era 0 cabe¢a da nica igreja verdadeira; e isto, com apenas dez anos de idade. Livrar as almas do Purgatério era um assunto muito sério. As palavras que repetfamos com freqiiéncia: “Rezar pelos mortos, a fim de que sejam libertos de seus pecados, é um pensamento santo e agradavel”, eram decoradas mesmo que nao soubéssemos 0 seu significado. Aprendiamos que o papa, como cabeca da igreja, era o homem mais importante na terra. O que ele dissesse se tornava lei, e os jesuitas eram seu brago direito. Embora a missa fosse celebrada em latim, tentava assisti-la todos os dias, porque me intrigava muito com 0 profundo senso de mistério que a cercava. Também aprendiamos que a missa era a forma mais importante de agradar a Deus. Eramos encorajados a rezar aos santos e tinhamos nossos padroeiros para os mais diversos aspectos da vida. Eu nao praticava isso, com apenas uma excecao — Santo Anténio, 0 padroeiro dos objetos perdidos — visto que eu perdia muitas coisas. Quando cheguei a idade de quatorze anos, senti um chamado para ser mission4rio. Este chamado, no entanto, nao afetou a maneira como eu conduzia minha vida, naquela época. Entre os dezesseis e os dezoito anos, passei pelos momentos mais divertidos e satisfatérios que um jovem poderia ter. Durante esse periodo, estava indo muito bem tanto na escola quanto nos esportes. Freqiientemente, eu tinha de levar minha mie ao hospital, para tratamentos. Enquanto esperava por ela, encontrei um livro que citava Os seguintes versiculos do Evangelho de Marcos: “Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém ha que tenha deixado casa, ou irmaos, ou irmas, ou mae, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho, que nao receba, j4 no presente, o céntuplo de casas, irmaos, irmas, mies, filhos e campos, com perseguic¢édes; e, no mundo por vir, a vida eterna” (Marcos 10.29-30). Nao tendo a menor idéia da verdadeira mensagem de salvacao, decidi que realmente havia sido chamado para ser um missionério. RicHarD PETER BENNETT 23 TENTANDO GANHAR A SALVACAO Deixei minha familia e amigos em 1956, para ingressar na Ordem Dominicana. Passei oito anos estudando o que significava ser um frade, as tradigdes da igreja, filosofia, a teologia de Sao Tomas de Aquino e um pouco da Biblia, sob 0 ponto de vista cat6lico. Se eu tinha alguma fé pessoal, ela foi institucionalizada e ritualizada no sistema religioso dominicano. A obediéncia a lei tanto da igreja quanto da Ordem Dominicana era apresentada como meio de santificagado. Freqiientemente, conversava com Ambrose Duffy, nosso Deao de Alunos, sobre a lei como 0 meio de alguém se tornar santo. Além de me tornar “santo”, também desejava ter a certeza de minha salvacao. Decorei parte dos ensinos do papa Pio XII, nos quais ele disse: “A salvacio de muitos depende das oragées e sacrificios do corpo mistico de Cristo oferecidos com esta intengao” . A idéia de ganhar a salvagao por meio do sofrimento e oragdes também é a mensagem basica de Fatima e Lourdes. Eu procurava ganhar minha propria salvagdo, assim como a de outros, por meio de tais sofrimentos e oragdes. No convento dominicano, em Tallaght (Dublin), realizei muitos sacrificios a fim de ganhar almas, tais como: tomar banho gelado durante o inverno e agoitar as costas com uma pequena corrente de aco. O De&o dos Alunos sabia 0 que eu estava fazendo, e sua propria vida de austeridade era parte da inspiragao que recebi das palavras de Pio XII. Com rigor e deter- minacao, eu estudava, rezava, fazia peniténcias, tentava cumprir os Dez Mandamentos, bem como a imensa quantidade de regras e tradi¢des dominicanas. OSTENTACAO EXTERIOR, VAZIO INTERIOR Em 1963, com vinte e cinco anos, recebi a ordenagao como padre catélico romano. Em seguida, fui Universidade Angelicum, em Roma, para terminar meus estudos sobre Tomas de Aquino. Mas ali tive dificuldades tanto com minha ostentacao exterior quanto com meu vazio interior. Com o passar dos anos, eu havia formado, em minha mente, por meio de fotos e livros, imagens da Santa Sé e da Cidade Santa. Poderia esta ser a mesma cidade que eu havia imaginado? Na Universidade Angelicum fiquei chocado, ao saber 24 VERDADEIRAMENTE LIVRES que centenas daqueles que participavam de nossas aulas matinais pareciam completamente desinteressados por teologia. Percebi que muitos liam as revistas Time e Newsweek durante as aulas. E os mais interessados no que estava sendo ensinado se mostravam pre- ocupados apenas com seu diploma ou posigdes na Igreja Catdéli- ca, em sua terra natal. Certo dia, fiz um passeio ao Coliseu, para que meus pés pisassem 0 solo onde o sangue de tantos cristaos havia sido derramado. Caminhei até 4 arena, no Férum. Tentei formar, em minha mente, uma imagem daqueles homens e mulheres que conheciam tao bem a Cristo, que se dispuseram alegremente a serem queimados vivos ou devorados por animais selvagens, por causa do amor irresistivel de Jesus. No entanto, a alegria desta experiéncia foi arruinada quan- do, ao voltar de énibus, varios jovens me insultaram, gritando pala- vras que significavam “esc6ria, lixo”. Senti que a motivacdo dos insultos deles nao era o fato de que eu estava ao lado de Cristo, como os crist&os primitivos, e sim 0 fato de que viram em mim 0 sistema catélico romano. Rapidamente, exclui de minha mente esse contraste; todavia, o que eu havia aprendido sobre as glérias pre- sentes de Roma agora parecia irrelevante e vazio. Uma noite, pouco depois daquele dia, rezei por duas horas em frente ao altar principal na Igreja de Sao Clemente. Lembrando- me do chamado missionario, recebido na juventude, e da promessa do céntuplo, apresentada em Marcos 10.29-30, resolvi nao terminar meus estudos para obter o diploma de teologia, que havia sido minha ambigao, desde o inicio dos estudos da teologia de Tomas de Aquino. Esta era uma deciséo muito importante, e, depois de muito tempo rezando, tive a certeza de que era a decisao correta. O padre que supervisionaria minha tese nao quis aceitar minha decisaéo. A fim de tornar as coisas mais faceis, ele me ofereceu uma tese ja pronta, escrita varios anos antes. Disse que eu poderia usd-la como se fosse minha e teria apenas de fazer a defesa oral. Isto me deixou irritado. Assemelhava-se ao que eu tinha visto, algumas semanas antes, em um parque da cidade: prostitutas elegantes desfilando pelas ruas, com suas botas pretas de couro. O que ele estava me oferecendo era igualmente pecaminoso. Mantive a decisdo, concluindo os estudos universitérios em nivel académico normal, sem qualquer titulo especial. Ricuarp Peter BENNETT 25 Ao voltar de Roma, recebi uma carta oficial designando-me a fazer um curso de trés anos na Universidade Cork. Rezei sinceramente a respeito de meu chamado missionario. Para minha surpresa, no fim de agosto de 1964, recebi ordens para ir, como missionario, a Trinidad, na América Central. ORGULHO, QUEDA E NOVO ANSEIO Em 1° de outubro de 1964, cheguei a Trinidad. Durante sete anos, fui um padre muito bem sucedido, nos termos romanos, cumprindo todas as minhas responsabilidades e trazendo grande numero de pessoas 4 missa. Em 1972, estava bastante envolvido no movimento catélico carismatico, Em uma reunido de oragao, no dia 16 de margo daquele ano, agradeci ao Senhor por ser um padre tao bom e pedi-Lhe que, se fosse a sua vontade, me humilhasse, a fim de que me tornasse ainda melhor. Mais tarde, naquela mesma noite, sofri um estranho acidente, fraturando meu cranio e lesionando aespinha em muitos lugares. Se nao tivesse chegado tao proximo da morte, duvido que algum dia eu teria saido do estado de auto- satisfagao no qual me encontrava. As rezas rotineiras e pré- estabelecidas demonstraram sua inutilidade, quando clamei a Deus naquele momento de dor. Com 0 sofrimento, nas semanas posteriores ao acidente, comecei a achar conforto nas oragdes pessoais e diretas. Parei de rezar 0 breviario (a reza oficial da Igreja Catdlica Romana para os clérigos) € 0 rosario; comecei a orar usando trechos da prépria Biblia. Foi um processo bastante lento, visto que eu nao a conhecia. O pouco que eu havia aprendido sobre a Biblia, em meus anos de estudo, me havia ensinado mais a desconfiar dela do que a confiar nela. Meu treinamento em filosofia e na teologia de Tomas de Aquino me deixou completamente desamparado, de modo que recorrer a Biblia, para encontrar o Senhor, era como entrar em uma imensa floresta obscura, sem qualquer mapa. Quando fui designado para uma nova paréquia, mais tarde naquele mesmo ano, descobri que trabalharia junto com um padre dominicano que havia sido um irmao para mim, ao longo dos anos. Trabalhamos juntos por mais de dois anos, buscando a Deus da melhor maneira que conhecfamos, na pardquia de Pointe-a-Pierre. 26 VERDADEIRAMENTE LIVRES Liamos, estudd4vamos, rezdvamos e colocavamos em pratica tudo o que haviamos aprendido no ensino da igreja. Edificamos comunidades em Gasparillo, Claxton Bay e Marabella, mencionando apenas as vilas mais importantes. No que se refere 4 religido catélica, fomos bem-sucedidos. Muitas pessoas participavam da missa. O catecismo era ensinado em muitas escolas, incluindo escolas piblicas. Continuei minha investiga¢ao pessoal na Biblia, mas tal investigagao nao chegou a afetar muito o trabalho que realizavamos; pelo contrério, mostrou-me 0 quao pouco eu realmente conhecia o Senhor e sua Palavra. Nesta época, Filipenses 3.10 tornou-se o grande clamor de meu coragdo: “Para 0 conhecer, e 0 poder da sua ressurrei¢ao”. O Movimento Catélico Carismatico estava crescendo muito naqueles dias, e o introduzimos na maioria de nossas vilas. Por causa desse movimento, alguns catélicos do Canada vieram a Trinidad para um tempo de comunhfo conosco. Aprendi muito por intermédio da mensagem deles, especialmente o que se referia a rezas em favor de curas. O impacto total do que eles disseram foi muito orientado pela experiéncia, mas, apesar disso, foi realmente uma béngao, visto que me levou a examinar profundamente a Biblia como fonte de autoridade. Comecei a comparar Escritura com Escritura e a citar capitulos e versiculos! Um dos versiculos que os canadenses utilizaram foi Isaias 53.5: “Pelas suas pisaduras fomos sarados”. Estudando este versiculo, descobri que a Biblia trata o problema do pecado por meio de substituigéo. Cristo morreu em meu lugar. Tentar ajuda-Lo ou cooperar com Ele para pagar 0 prego dos meus pecados era uma atitude errada. “E, se é pela graca, j4 no é pelas obras; do contrario, a graga j4 nao é graga” (Romanos 11.6); “Todos nés andévamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas 0 SENHoR fez cair sobre ele a iniqitidade de nés todos” (Isafas 53.6). Um de meus pecados mais comuns era ficar irritado com as pessoas, as vezes, até com raiva. Embora suplicasse 0 perdao de meus pecados, ainda nao havia compreendido que era um pecador por natureza, a qual todos herdamos de Addo. A verdade das Escrituras afirma: “Nao ha justo, nem um sequer” (Romanos 3.10); “Pois todos pecaram e carecem da gloria de Deus” (Romanos 3.23). A Igreja Catélica, no entanto, me havia ensinado que a depravagao RicHArD Peter BENNETT 27 do homem, chamada “pecado original”, fora lavada em meu batismo, na infancia. Ainda guardava na mente esta crenca, mas, no coragao, sabia que minha natureza depravada nao havia sido conquistada por Cristo. “Para o conhecer, e o poder da sua ressurreicao” (Filipenses 3.10) continuava a ser o clamor de meu corac&o. Sabia que somente por meio do poder de Cristo eu poderia viver a vida crista. Coloquei este versiculo no painel do meu carro e em outros lugares. Ele se tornou a minha motivagao; e o Senhor, que é fiel, comecou a me responder. A PERGUNTA CRUCIAL Primeiramente, descobri que a Biblia, a Palavra de Deus, é absoluta ¢ inerrante. No catolicismo, havia aprendido que a Palavra € relativa e que sua veracidade, em muitas d4reas, deveria ser questionada. Agora, comegava a entender que, na realidade, poderia confiar na Biblia. Com a ajuda da Strong’s Concordance (Concordancia Exaustiva de James Strong), comecei a estudar a Biblia, para entender o que ela dizia a respeito de si mesma. Descobri 0 ensino claro de que ela vem de Deus, sendo absoluta em tudo o que diz. A Biblia é verdadeira em suas histérias, nas promessas que Deus fez, nas profecias, nos mandamentos que cla nos dé e na maneira como devemos viver a vida crista. “Toda a Escritura é inspirada por Deus e Util para o ensino, para a repreensao, para a correc4o, para a educacao na justi¢a, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2 Timéteo 3.16-17). Fiz esta descoberta quando visitava Vancouver (Colimbia Briténica, no Canadé) e Seattle (nos Estados Unidos). Quando me pediram que falasse ao grupo de oracao na Igreja Catélica de Santo Estévao, escolhi como assunto a absoluta autoridade da Palavra de Deus. Esta foi a primeira vez que entendi tal verdade ou falei a respeito dela. Retornei a Vancouver e numa imensa igreja paroquial, diante de 400 pessoas, preguei a mesma men- sagem. Com a Biblia em maos, proclamei: “A autoridade final e absoluta em todas as questées morais e de fé é a Biblia, a Palavra de Deus”. Trés dias depois, o arcebispo de Vancouver, James Carrey, me 28 VERDADEIRAMENTE LIVRES chamou ao seu escritério. Entao, fui oficialmente silenciado e proi- bido de pregar em sua diocese. Disseram-me que minha punig&o sé nao seria mais severa por causa da carta de recomendacao recebi- da de meu arcebispo, Anthony Pantin. Pouco depois, retornei a Trinidad. DILEMA - A IGREJA OU A BiBLIA Enquanto eu ainda era o padre paroquial de Point-a-Pierre, pediram a Ambrose Duffy que me assistisse; ele fora 0 Dedo de Alunos que me ensinara com tanto rigor. A maré tinha virado. Apés algumas dificuldades iniciais, acabamos nos tornando bons amigos. Compartilhava com ele o que estava descobrindo. Ele ouvia € comentava com grande interesse, desejando saber 0 que me motivava daquela maneira, Considerava-o um canal para alcangar meus irmaos dominicanos e mesmo aqueles da casa do arcebispo. Quando Ambrose Duffy morreu subitamente, de um ataque cardiaco, fiquei muito triste. Em minha mente, eu 0 via como aquele que seria capaz de mostrar-me algum significado no dilema entre a igreja e a Biblia, com o qual eu lutava intensa- mente. Esperava que ele seria capaz de explicar para mim e os irm4os dominicanos as verdades com as quais eu lutava. Pre- guei em seu funeral; meu desespero era profundo. Continuei a rezar, citando o texto de Filipenses 3.10: “Para o conhecer, e o poder da sua ressurreigéo”. Contudo, para aprender mais a respeito do Senhor Jesus, primeiramente tinha de reconhecer a mim mesmo como pecador. Com base nas Escrituras (1 Timéteo 2.5), Vi que era incorreto o meu papel como mediador sacerdotal; isto era o que a Igreja Catdlica ensinava, porém era contrario ao que a Biblia dizia. Eu realmente gostava de ser respeitado e, de certo modo, idolatrado pelas pessoas. Racionalizava meu pecado, argumentando que, afinal de contas, se isso era o que a maior igreja do mundo ensinava, quem era eu para questiona-la? Mas 0 conflito ainda permanecia em meu intimo. Comecei a ver a adoracao de Maria, dos santos e dos préprios padres como 0 pecado que tal adora¢ao realmente 6. Todavia, enquanto desejava renunciar Maria € Os santos, como mediadores, nao podia renunciar o sacerdécio, pois nele havia investido toda a minha vida.

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