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BAHIA E SERGIPE: R$ 3,50 www.atarde.com.

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OUTROS ESTADOS: R$ 7,00 .
FECHAMENTO: 21H58

Salvador, Domingo,
FUNDADOR: ERNESTO SIMÕES FILHO
20 de junho de 2021
ANO 109 / Nº 37.310

Cineasta Júlia
Ferreira conta
histórias de
CAPA dificuldades

Mercado
audiovisual
enfrenta
agravamento
da crise 1 e 2
Rafael Martins / Ag. A TARDE

SÃO JOÃO Comidas típicas, trajes juninos e encontros online com os parentes embalam a festa

Famílias preservam a
Uendel Galter / Ag. A TARDE

tradição junina em casa


O São João na Bahia chega ajudará o pai, o projetista

Rafael Martins / Ag. A TARDE


sem tradições, como as fo- Weliton Aragão, no preparo Vestida a caráter,
gueiras e as quadrilhas ju- das comidas típicas, e no dia Sofia passará o
ninas nas ruas, realidade da festa eles farão uma live São João em casa
causada pela pandemia do com os familiares para man-
Zeus tem medo do novo coronavírus pelo se- ter a tradição. A4
barulho dos fogos gundo ano consecutivo.
Com a necessidade do cui-
dado contra a Covid-19 den-
BARULHO tro de casa, pais e respon-
sáveis buscam alternativas
“A gente faz
Veja como para fortalecer a cultura um esforço
nordestina no imaginário
proteger pets das crianças. A secretária para fortalecer
do estresse Maristela Buarque, 49, vai
arrumar a filha Sofia, 7, com
o imaginário”
dos fogos B2 trajes juninos. A pequena MARISTELA BUARQUE, secretária

LUTO
UM JORNAL DE OPINIÃO
Brasil chega
D. SERGIO DA ROCHA CEIÇA SCHETTINI
à marca de
500 mil mortos “As vacinas da “Por que insistimos
Covid-19 trazem em guardar
pela Covid-19 esperança de garrafinhas
superação” A3 de fel?” A3
O Brasil superou os 500 mil
mortos pela Covid-19 e en-
cara a ameaça da terceira on- OPINIÃO \ LEITOR
da, agravada, segundo espe- “Liberdade, que não seja tarde, traga
cialistas, pela oposição do
governo federal às medidas
consigo o prazer alegre da existência” A2
de combate à doença. A7 ANTONIO CARLOS CAIRES ARAÚJO

Adilton Venegeroles / Ag. A TARDE


PROTESTO

Brasileiros vão Vitória vira jogo e ganha


às ruas contra a primeira na Série B B5

o governo CINEMA
federal no DF e Um Bairro de
em 24 capitais Nova York é
Milhares de pessoas foram às
retrato latino
ruas contra o governo do pre- nos EUA B7
sidente Jair Bolsonaro e em
defesa da vacinação contra a
Covid-19. Os atos pacíficos
ocorreram em 24 capitais e
ANOTA BAHIA
no Distrito Federal. A8 Alceu Valença
vai apresentar
QUALIFICAÇÃO BAHIA uma live
Sebrae firma Leão superou o
especial dia 25 B8

convênios de Tricolor busca manter Brusque, que


cooperação com sequência contra o Timão B6 tinha 3 triunfos

setor produtivo B4
ABRE ASPAS
AEDO KHOURI E
OS CUIDADOS
COM FOGOS
DE ARTIFÍCIO
DOM atarde.com.br/muito
muito@grupoatarde.com.br
E AS MÃOS 4
SALVADOR
20/6/2021 Uendel Galter / Divulgação

João Ramos / Divulgação

O longa Nina,
da Araçá
Filmes, chega a
Ilhéus no mês
de agosto

AUDIOVISUAL Apesar do pessimismo com o mercado, aprovação da Lei Paulo Gustavo acenaria com perspectivas para o setor

Abatido e sufocado
GILSON JORGE Impacto direção Denise Moraes e Bruno em Rede, produzido pelo Obser- sual, no Brasil a crise da parali-

E
A produtora Solange Lima, que Torres, filhos de Geraldo. Inspirado vatório da Economia Criativa sação das atividades da Ancine foi
stá prevista para o próximo tem outros dois filmes à espera de em um grupo de rap indígena, o (Obec), aponta que 55% das pro- agravada pelo contexto da pan-
mês de agosto a primeira lançamento, diz que o impacto da filme foi rodado no Mato Grosso do dutoras locais estão pessimistas. demia”, afirma Daniele.
exibição pública, em nova lei seria imenso. Sul. O terceiro filme é Longe do Daniele Canedo, coordenadora Para 79% das produtoras au-
Ilhéus, do longa-metra- “Somente para a Bahia seriam paraíso, de Orlando Senna, com do Obec, considera que as expec- diovisuais da Bahia, o impacto da
gem Nina, novo projeto da R$ 187 milhões no audiovisual. Emanuelle Araújo, Caco Monteiro tativas ruins da classe estão re- pandemia na atuação de suas em-
produtora Araçá Filmes com Ingra Uma verba que nunca foi injeta- e Bertrand Duarte. lacionadas diretamente ao des- presas foi classificado como ne-
Liberato, Marcos Pasquim e Nelson da”, declara Solange, que é pre- A expectativa em torno da Lei monte do setor audiovisual pro- gativo ou muito negativo, segun-
Freitas no elenco. A maneira como sidente da Associação de Produ- Paulo Gustavo contrasta com a rea- movido pelo governo Bolsonaro. do o relatório. Um impacto vio-
o filme foi concebido daria uma tores e Cineastas da Bahia lidade do setor, abatido pela falta “Enquanto observamos que em lento no orçamento de quem tra-
nova produção audiovisual. (APC). de financiamento e sufocado pelas outros países estão desenvolven- balha profissionalmente com ci-
Em 2006, a produtora Solange Um dos seus projetos é o filme dificuldades em produzir diante de do políticas para amparar o setor, nema e vídeo.
Lima e o marido, o cineasta Ge- A pele morta, desenvolvido pelo um contexto de pandemia. tendo em vista o potencial eco-
raldo Moraes, falecido em 2017, seu falecido marido e que tem na O relatório Audiovisual Baiano nômico e simbólico do audiovi- CONTINUA NA PÁGINA 2
receberam o roteiro de um des-
conhecido, que os encontrou por
uma rede social. Era Samuel Ma- Rafael Martins / Ag. A TARDE
chado, empresário ilheense, dono
de postos de gasolina, que sonha-
va enveredar pelo cinema.
Vendeu seus bens, tornou-se
produtor associado do filme que
tem sua filha, Raíra Machado, no
papel-título, mudou-se para o Rio,
montou um quiosque na Barra da
Tijuca e atualmente serve refeições


para sets de filmagem.
A saga de Samuel ilustra o de-
safio de financiar o setor audio-
visual longe do eixo Rio-São Paulo.
Uma realidade que pode mudar,
caso o Congresso Nacional aprove
a Lei Paulo Gustavo, apresentada Conheço uma
pelo senador Paulo Rocha (PT-PA),
que prevê a utilização de R$ 4,3
pessoa que
bilhões em projetos culturais, sen-
do R$ 2,8 bi especificamente para
se dedicou a
o audiovisual. vender livros;
Isso não envolve a criação de
recursos novos, mas o aproveita- outra teve
mento do imposto pago pelas em-
presas de telecomunicação através que deixar
da Contribuição para o Desenvol-
vimento da Indústria Cinemato-
os filhos com
gráfica Nacional (Codecine).
Recursos que ficaram congela-
os avós”
dos quando o governo federal Julia Ferreira,
transferiu a Ancine do Rio para cineasta e roteirista
Brasília e anunciou que haveria
controle sobre o conteúdo dos pro-
jetos financiados.
2 SALVADOR DOMINGO 20/6/2021

Stella Carvalho / Divulgação

GILSON JORGE

«
N
esses tempos de obstru- Sérgio Machado crê
ção da Ancine, as pes- em explosão do
soas têm procurado for- audiovisual em 2022
mas de sobreviver. Co- nas plataformas

possíveis
nheço uma pessoa que
se dedicou a vender livros; outra

Produções
teve que deixar os filhos com os
avós”, conta a cineasta Julia Fer-
reira, roteirista e diretora da série
Sonhadores, que no ano passado
entrou para o catálogo da Amazon
Prime, através de licenciamento
feito pela produtora 02 Filmes.
O filme rodado em Salvador,
com Aicha Marques e Fernando
Alves Pinto no elenco, despertou o
interesse da produtora de Fernan-
do Meirelles depois que o trailer
circulou em grupos de WhatsApp
de pessoas ligadas ao audiovisual,
conta Julia, que tem dado oficinas
de roteiro para cinema. Ela tam-
bém está escrevendo um roteiro de
um longa-metragem para um pro-
dutor do Rio, e outro longa para
um produtor de São Paulo: “Onde
está o dinheiro”, diz.
Julia tem esperança que a even-
tual aprovação da Lei Paulo Gus-
tavo beneficie as pessoas do setor
como um todo, não apenas quem
já está inserido no mercado. Fi-
n CAPA

nanciada em 2016 com recursos da


Ancine e da Secult, Sonhadores foi
filmada em 2018. Quando foi des-
coberta casualmente pela 02 Fil-
mes e licenciada junto à Netflix, a
produtora paulista ganhou o di-
reito a 30% do valor de licencia-
mento da obra. “Sempre tem que
passar por Rio e São Paulo”, co-
menta. Daniele Canedo
defende retomada
Plataformas de autonomia
As plataformas de streaming exi- da Ancine
bem duas categorias de conteúdo.
Quando um filme ou série já está
pronto, é feito um contrato de li-
cenciamento. Isso vale para um
clássico de Hollywood ou uma pro-
dução audiovisual feita recente-
mente através de edital.
A segunda possibilidade são as
produções originais, em que as
próprias plataformas financiam as
produtoras para depois terem a
obra com exclusividade em seus
catálogos. Normalmente, as pro-
dutoras contratadas são as que já
estão estabelecidas no mercado e,
quase sempre, estão no Sudeste.
Sérgio Machado, que estreou re-
centemente o documentário Neo-
jiba – Música que transforma, na
Netflix, aposta que o mercado de
audiovisual vai explodir no ano
que vem, por causa das cinco gran-
des plataformas de streaming no
mercado brasileiro: Netflix, HBO,
Amazon, Disney e a brasileira Glo-
boplay.
“Nunca houve tanta competi-
ção”, aponta o diretor baiano (Tro- Rafael Martins / Ag. A TARDE
ca de cabeças, Cidade Baixa), res-
salvando, entretanto, que o au-
mento de trabalho no setor deve
beneficiar enormemente as gran-
des e conhecidas produtoras do Rio
e, sobretudo, de São Paulo.
O cineasta, que tem contratos
assinados para os próximos três
anos, acha que pode até ter muita
produção usando Salvador e ou-
tras localidades baianas como ce-
nário. “Há uma grande demanda
por diversidade, histórias de ne-
gros, mulheres, LGBT, mas as pro-
dutoras serão as que já são co-
nhecidas”, considera.
Machado, que começou a tra-
balhar num momento de retoma-
da do cinema brasileiro, na década
de 1990, deixa claro que não vê
com bons olhos a concentração do
setor, mas destaca que para a for-
mação de polos audiovisuais em
outras regiões é fundamental a
participação estatal. “Pernambuco
quando começou a desenvolver
um polo audiovisual fez editais que
duravam anos”, lembra.
Ele considera que na Bahia nun-
ca houve esse desejo por parte do
estado de formar profissionais e de Suzana Argollo,
criar um ambiente de desenvol- da Sala de Arte:
vimento do setor audiovisual. “A sem receita há
gente teve um período com Edgard mais de um ano
Santos, o Cinema Novo, o teatro, a
Tropicália. Mas o que acontece Adilton Venegeroles / Ag. A TARDE
agora é que as pessoas vão se
organizando com esforços pes-
soais. Podia haver uma formação a democratização dos recursos pa- cada estado estão abordando os manece fechada há um ano e três funcionando”, afirma.
única”, defende. ra os diferentes modelos de ne- senadores, tentando convencê-los meses. Suzana Argollo, uma das Na semana passada, o comitê
gócios do audiovisual em cada es- a votar a favor do projeto de lei. sócias, afirma que ainda não está realizou uma live, batizada de En-
Autonomia tado brasileiro. Na Bahia, uma das integrantes claro o impacto que a lei poderia ter contro Paulo Gustavo, com a par-
Em um cenário de concentração “Também é importante mencio- do comitê é a atriz e vereadora sobre o negócio. ticipação de políticos e artistas. En-
das atividades, essa intervenção nar a necessária regulamentação Maria Marighella. “A crise não in- O texto fala em verba para ma- tre os nomes ligados ao comitê
do estado ganha uma importância do vídeo sob demanda, tendo em venta nada, ela agudiza problemas nutenção de salas, mas no caso da estão os senadores Jaques Wagner
ainda maior. Daniele Canedo, da vista o crescimento do consumo e prévios. A pandemia acentuou os Sala de Arte, as salas de rua ocu- e Otto Alencar, a deputada federal
Obec, avalia que as principais de- dos serviços de streaming de au- problemas das cidades que não pam imóveis públicos, a Escola de Lídice da Matta, o secretário mu-
mandas das produtoras poderiam diovisual durante a pandemia. Es- têm cinema de rua, que não têm Administração da Ufba, o Museu nicipal de Cultura, Fernando Guer-
ser resolvidas com a retomada do tas grandes empresas internacio- vida coletiva. Salvador não tem Geológico da Bahia, na Vitória, e o reiro, e Vovô do Ilê Aiyê.
funcionamento autônomo da An- nais fazem lobby político para man- livrarias de rua, isso depõe contra Museu de Arte Moderna, na Con- “A gente defende uma lei como
cine. Isso representaria, segundo ter um sistema no qual pouco se a cidade. Precisamos colocar o de- torno. a Paulo Gustavo porque é uma
avalia, a liberação de verbas do comprometem com a geração de do nessa ferida”, diz Maria, que Sem receita há mais de um ano maneira de dividir os investimen-
audiovisual que estão represadas, recursos e de espaços para o au- está em seu primeiro mandato. e com dívidas acumuladas, o grupo tos públicos a partir da população,
segurança jurídica e institucional diovisual brasileiro”, afirma. deve lançar no mês que vem uma com critérios mais democráticos”,
na contratação de projetos, e o Solange Lima, da APC, destaca Salas campanha de arrecadação virtual diz Maria. A Lei Paulo Gustavo es-
desenvolvimento de políticas de que nesses dias que precedem a Maior grupo exibidor de cinema de para fazer frente às despesas. “E tabelece ainda uma contrapartida
promoção do audiovisual que con- votação do projeto, os comitês de arte do Nordeste, com quatro salas caso o MAM reabra, como foi anun- de estados e municípios contem-
tribuam para a descentralização e aprovação da Lei Paulo Gustavo em (três de rua), a Sala de Arte per- ciado, o nosso café de lá vai estar plados com verbas.

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