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Sebenta de

Direito Processual Civil


Aulas Práticas
Prof. Dr. Fernando Pereira

Faculdade de Direito da Universidade do Porto


Nota introdutória:

Esta sebenta respeita às aulas práticas de Direito Processual Civil do ano letivo de
2019/2020, lecionadas pelo docente Fernando Pereira. A sebenta foi realizada com base nos
apontamentos da vogal do Departamento de Pedagogia Margarida Matias e na Sebenta do Prof.
Tavares de Sousa.

A sua elaboração foi realizada com o objetivo de auxiliar os estudantes para o exame de
Direito Processual Civil. Relevamos ainda que, a leitura desta sebenta não substitui a leitura da
bibliografia obrigatória ou recomendada, sendo apenas um instrumento de auxílio ao estudo.

Caso sejam detetados alguns erros, agradecemos que estes sejam comunicados através do e-
mail da CC3: cc3fdup1920@gmail.com de modo, a que o documento seja aperfeiçoado

Bom estudo!

A Comissão de Curso do 3º ano de Direito


Direito Processual Civil práticas
25/09/19

Referência breve à organização judiciária


 Organização e competência dos tribunais judiciais
Lei 62/2013 de 26 de agosto- Lei da Organização do Sistema Judiciário que terá de ser
complementada com o DL 49/2014 de 27 de março: Regime da Organização e
Funcionamento dos Tribunais Judiciais.
A Lei da Organização do Sistema Judiciário não é apenas uma lei dos tribunais
judiciários, mas de todos os tribunais. Artigos 144.º e ss: refere-se aos tribunais
administrativos e fiscais. O artigo 29.º desta lei e do 209.º da CRP estabelecem as
categorias de tribunais. Além do Tribunal Constitucional, existe a jurisdição judicial
composta pelo Supremo Tribunal de Justiça e os Tribunais Judiciais de 1.ª e 2ª instância.
A par da jurisdição judicial existe a jurisdição administrativa composta pelo Supremo
Tribunal Administrativo, e os demais tribunais administrativos. Por fim, existe ainda o
Tribunal de Contas e podem existir tribunais arbitrários e julgados de paz.
Figura do recurso per salto: recorre-se da primeira instância diretamente para o supremo.
Há outro tribunal judicial de 1ª instância: Tribunais de competência territorial alargada,
previstos no n.º 3 do art. 29.º.
Artigos importantes (LOSJ):
 Artigo 3.º/2: independência dos juízes,
 Artigo 4.º: princípio da legalidade;
 Artigo 5.º: os juízes são inamovíveis;
 Artigo 12.º, número 1: reconhecimento do papel dos advogados;
 Artigo 25.º: princípio da publicidade das audiências;
 Artigo 26: tutela jurisdicional efetiva, se uma pessoa alegar falta de meios
económicos pode pedir apoio judiciário;
 Artigo 28.º remissão para o artigo. 138.º CPC: é importante para efeitos de
contagem de prazos, os prazos não correm nas férias a não ser que seja um
processo urgente;
 Artiga. 44.º: fixa as alçadas dos tribunais, a alçada dos tribunais de 1ª instância é
de 5000€ e dos tribunais da relação é de 30000€- importante; artigos 138.º e ss da
LOSJ: tem as competências das secretárias judiciais.
A unidade básica de território para efeitos da organização judicial: é a comarca. Existem
23 comarcas. Cada comarca abarca dentro da sua circunscrição vários municípios.
Anteriormente, havia uma comarca por município sendo que agora o âmbito de
circunscrição aumentou. A LOSJ tem 3 anexos, o anexo II tem as várias comarcas
organizadas por ordem alfabética. Desapareceu quer a figura do círculo judicial com a
LOTJ de 2008 quer o distrito judicial. A circunscrição territorial dos Tribunais da Relação
era aferida sobre um distrito judiciário, como as comarcas se alargaram também
desapareceu essa figura e agora há agrupamentos de comarcas. Os Tribunais da Relação
têm competência sobre agrupamentos de comarcas.

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Olhando ao anexo I, artigo 32.º- tem os Tribunais da Relação.
Tribunais Judiciais
Supremo Tribunal de Justiça
Tribunais da Relação
Tribunais Judiciais de 1.ª instância (Tribunais de Comarca, Tribunais de Competência
Alargada)
Nota: o Tribunal Marítimo que é um Tribunal de Competência Alargada não tem
competência sobre as ilhas, mas tem competência sobre todo o restante território nacional
(o que é regra nestes tribunais).
Os Tribunais da Comarca desdobram-se em juízos.

 Quanto à competência dos tribunais:


Regras da competência: a competência interna (difere da competência internacional)
reparte-se em função de alguns critérios que têm de ser cumulativamente aplicados para
a resolução de um problema prático. Como é que se determina, dentro dos tribunais
judiciais, qual o tribunal ou juízo concretamente competente?
A primeira coisa a verificar é a petição inicial, direcionada a determinado juízo.
Os tribunais de competência territorial alargada são tribunais de competência puramente
especializada- significa que são tribunais que têm competência em razão da matéria- art.
40.º LOSJ. O que acontece neste caso é que a lei elenca quais as matérias para as quais
eles são competentes, independentemente do valor e forma do processo. É sempre
importante na resolução de casos práticos averiguar qual é a matéria. Os tribunais da
comarca dividem-se em juízos e alguns desses juízos têm competência puramente
especializada.
Outro critério é o critério do valor e a forma do processo- artigo 41.º LOSJ. Os tribunais
judiciais organizam-se hierarquicamente- artigo 42.º LOSJ.
O último critério é o critério do território- artigo 43.º LOSJ.
Estes critérios estão enumerados no artigo 37.º/1 da LOSJ- matéria, valor, forma,
hierarquia, território. Apesar do prescrito no artigo 37.º, número 1, a forma do processo
também funciona como critério de determinação de competência.
Praticamente desapareceu a figura do tribunal coletivo, mas a esse propósito há que ver
o art. 133.º, n.º 2 remissão para o artigo 127.º. O tribunal singular- um juiz; tribunal
coletivo-coletivo de 3 juízes.
1. A competência em razão da hierarquia
As ações dão entrada nos tribunais judiciais de 1.ª instância independentemente do seu
valor.A função destes valores não tem que ver com a determinação da competência destes
tribunais do ponto de vista hierárquico, sendo sim valores atribuídos aos tribunais para
efeitos de limitação da admissibilidade do recurso ordinário. O recurso dos Tribunais de

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1.ª instância para os Tribunais da Relação chama-se apelação. Do Tribunal da Relação
para o STJ chama-se de revista.
O recurso ordinário é admissível confrontando dois elementos: o valor da causa (todas as
causas têm valor, na petição inicial o autor deve indicar o valor da causa, artigo 306.º/1
CPC, o valor é fixado pelo tribunal no despacho saneador, mas deve ser logo indicado na
petição inicial) e o artigo 629.º/1 CPC: decisões que admitem recurso.
Artigo 627.º CPC: espécies de recurso. A decisão considera-se transitada em julgado logo
que não seja suscetível de recurso ordinário ou reclamação. Quando esta transita em
julgado forma-se um caso julgado. Se tiver sido uma decisão de mérito esse caso julgado
é um caso julgado material (em oposição ao formal que se reporta a uma decisão quanto
á admissibilidade).
Nota: O caso julgado é um pressuposto pessoal negativo- não pode haver esse pressuposto
para a apreciação do mérito da causa pelo Tribunal. Não podemos estar perante um caso
julgado. Outro exemplo de um pressuposto processual negativo é a litispendência (dois
processos iguais correm simultaneamente em juízo).
Admissibilidade do recurso ordinário: 629.º/1 CPC. A regra é que este seja admissível
quando a causa tenha valor superior à alçada do tribunal de que se recorre (tribunal a quo,
para que se recorre- tribunal ad quem). Pode-se fazer recuso de apelação quando o valor
da causa seja superior aos 5000€, tem sempre de ser superior, não é igual (5000€ e 0,01€).
Esta é a regra da alçada, mas também há a regra da sucumbência, que estudaremos
posteriormente.
Artigo 303.º/1 CPC: as alçadas servem para limitar a admissibilidade do recurso. O STJ
não tem alçada porque não é possível recorrer.
O artigo 629.º, n.º 3 estabelece casos em que é sempre admissível recurso para a Relação,
o n.º 2 é até ao STJ. É ainda importante a norma dos artigos 671.º/3 (regra da dupla
conforme- quando o tribunal da 2ª instância mantém a decisão da 1.ª instância com os
mesmos fundamentos, o recurso para o STJ não é admissível. O n.º 3 prevê o recurso de
revista e o art. 672.º também, remissão 629.º/2).
O STJ- artigos 45.º e seguintes da LOSJ; conhece apenas matéria de Direito em sede de
recurso de revista. Valorada a prova e aplicando as regras de prova legal, o juiz decide
em matéria de facto e depois subsume à espécie legal esses factos. Para o Tribunal de
Relação pode recorrer-se quer em matéria de facto, quer em matéria de Direito. O STJ
exerce jurisdição sobre todo o território nacional e funciona em plenário ou em pleno das
secções– artigos 52.º, 53.º e 54.º LOSJ.
Tribunal da Relação- 67 e ss., funciona como tribunal de recurso.O recurso chama-se
recurso de apelação, tem competência sobre um agrupamento de comarcas e funciona em
plenário ou em secções especializadas, artigos 72.º e 73.º da LOSJ.
02/10/19
Tribunais judiciais de 1.ª instância-
Os tribunais/juízos descritos são apenas aqueles em matéria cível (central cível, local
cível, família e menores, trabalho; comércio; execução). Artigo 33.º, n.º 1 da LOSJ.

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O tribunal judicial de primeira instância a que o artigo 33.º/3 se refere é o tribunal de
comarca. Os tribunais de 1ª instância, são, por regra, os da Comarca- art. 79.º LOSJ. No
entanto, podem existir tribunais de competência territorial alargada, sendo que aqueles
que importam em matéria cível são (art. 83.º LOSJ):
- o Tribunal da Propriedade Intelectual;
- o Tribunal da concorrência, regulação e supervisão e o
- o Tribunal Marítimo
Os tribunais mencionados nas alíneas d) e e) são de matéria penal, não interessam para
esta disciplina. Artigo 83.º/3: nomeia estes tribunais e os tribunais do art. 83.º/2: são de
competência puramente especializada(são tribunais que têm competência em razão da
matéria, independentemente do valor e da forma de processo aplicável). Se a ação em
causa envolver alguma das matérias para que os tribunais têm competência, eles são
competentes.
Algumas dessas matérias são as seguintes: art 111.º LOSJ- Tribunal da Propriedade
intelectual; art 112.º LOSJ: Tribunal da concorrência, regulação e supervisão; art. 113.º
LOSJ: Tribunal Marítimo. Anexo III LOSJ remissão art. 83.º. O Tribunal Marítimo não
tem competência nas ilhas do Açores e da Madeira.
A regra supletiva da competência dos tribunais está no artigo 80.º CPC- regra do
domicílio do réu. As regras nesta matéria encontram-se no artigos 70.º e ss. Se em caso
de navio, a situação ocorre na Madeira, quem ia ser competente não era o Tribunal
Marítimo, mas o Tribunal da Comarca da Madeira.
Os Tribunais da Comarca dividem-se em juízos. Imaginando um habitante da Maia,
olhando para o artigo 80.º, o tribunal com competência seria o Tribunal da Comarca do
Porto. São importantes os artigos 80.º/2 da LOSJ e o art. 81.º também da LOSJ.
O juízo de execução tem competência para a ação executiva (e não declarativa). Restam
os restantes juízos:
- Juízos de família e menores (arts. 122.º a 124.º), os juízos do trabalho (art. 126.º) e os
juízos de comércio (art. 128.º): estes juízos são de competência (puramente)
especializada- têm competência para determinadas matérias independentemente do valor
e da forma da ação.
- O juízo central cível (art. 117.º) e o local cível (art. 130.º), o legislador também lhes
chama juízo de competência especializada, daí o “puramente” ter sido utilizado nos
anteriores
Central cível- 117.º LOSJ. Juntar ao artigo 37.º, n.º 1 LOSJ: mas também a forma do
processo. Resulta deste artigo 117.º.
Os tribunais de comarca podem dividir-se em juízos de competência especializada e
juízos de competência genérica: são tribunais de competência residual ,ou seja, têm
competência para tudo, todas as matérias e para as ações com qualquer valor se a
competência não pertencer a nenhum outro tribunal ou juízo cabe aos mesmos.

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O legislador chama a todos os juízos especializados logo coloca-se a questão de saber em
que sentido é que o local e o central cível são especializados: Têm competência apenas
para a matéria cível. Não são juízos de competência genérica, mas apenas com
competência em matéria cível.
A competência dos juízos centrais cíveis é determinada em função do valor (superior a
50 000€) e da forma de processo (comum e especiais). Primeiro tem de se verificar se em
razão da matéria cabe num dos três juízos de competência puramente especializada. Já os
juízos locais cíveis são juízos de competência genérica só em matéria civil. A única
diferença em relação aos juízos de competência genérica é que estes julgam também
matérias criminais. Os juízos locais cíveis têm competência residual, têm-na sempre que
a competência não pertença a nenhum outro tribunal ou juízo.
Para sabermos que juízos existem dentro de determinada Comarca, temos de ir ao Regime
da Organização e Funcionamento dos Tribunais Judiciais (Anexos mapa 3- tem por ordem
alfabética cada uma das comarcas).
Nota: No porto não existem juízos de competência genérica, porque criaram juízos locais
cíveis e juízos locais criminais.
O percurso para conseguirmos localizar a competência para determinada causa tem de ser
o seguinte: a ação, salvo em casos muito excecionais, dá entrada nos tribunais de 1.ª
instância. Depois temos de ver se se insere nas competências dos tribunais de competência
territorial alargada, sendo que a competência é deles independentemente do valor e da
forma do processo. Se não se inserir em nenhum deles, então a competência é de um
tribunal da comarca. Chegados aqui temos de nos localizar territorialmente sendo que as
regras estão plasmadas nos artigos 70.º e ss. do CPC. A regra é a do artigo 80.º, n.º 1:
critério de distribuição da competência a aplicar é o domicílio do réu.
Por exemplo: o réu tem domicílio na Maia, aplicamos o artigo 80.º/1, o tribunal
competente é o Tribunal da Comarca do Porto (Anexo II da LOSJ). Dentro deste há vários
juízos. Para saber que juízos é que existem temos de ir ao DL nº 49/2014. Imaginando
que o caso não se insere em nenhuma competência especial-izada (família e menores,
trabalho ou comércio)e a ação segue a forma de processo comum e o seu valor é de
100 000€- 117.º/1/a) LOSJ- segue para os juízos centrais cíveis.

 Caso n.º 1: Admissibilidade do recurso ordinário


Refira se nas seguintes situações se pode interpor recurso ordinário:
a) Ação de responsabilidade civil na qual o autor, C, pretende que os réus, A e B, sejam
solidariamente condenados a pagar-lhe a quantia de €2 500, a título de indemnização
pelos danos sofridos. Os RR, foram totalmente absolvidos do pedido;
Relativamente ao valor da ação importam os artigos 296.º, n.º 1 e 297.º, n.º 1 do CPC:
aqui seria de 2 500€. A ação terá corrido num tribunal de 1ª instância.
Artigo 44.º/1 LOSJ: a alçada é de 5000€. Quem tem legitimidade para recorrer nos termos
da norma do art 631.º/1 CPC: é a parte que sendo parte principal tenha ficado vencida,
assim, será C, o autor, porque os réus foram absolvidos do pedido (o tribunal conheceu a
ação de mérito).

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O recurso era admissível? Era um recurso ordinário para a Relação que se chama recurso
de apelação (ordinário). Uma decisão transita em julgado quando já não pode ser objeto
de recurso ordinário ou reclamação.
Artigo 629.º/1 CPC: não era admissível porque o valor da causa não é superior à alçada
do tribunal de que se recorre (tribunal ad quo). A alçada é de 5000€, só seria admissível
se fosse 5000,01€, a não ser que houvesse uma exceção dos nºs 2 e 3, o que não é o caso.
Sem prejuízo da possibilidade de existir reclamação, feita ao próprio juiz, e uma vez que
o recurso ordinário não era admissível esta decisão irá transitar em julgado. O caso
julgado que aqui se vai formar é um caso julgado material porque foi uma decisão de
mérito, o tribunal absolve o réu do pedido. O caso julgado material tem força dentro e
fora do processo em que é deduzido o que vai impedir que seja intentada uma nova ação
dentro dos limites dos artigos 580.º e 581.º (art. 619.º).
09/10/19
b) Na mesma ação, mas agora tendo pedido o pagamento da quantia de € 25 600, os réus
foram condenados a pagar ao A, a quantia de €16 760;
O valor da causa representa a utilidade económica do pedido. O valor corresponde à
quantia que foi peticionada 25 600€- art. 297.º, n.º 1. O valor da sucumbência é a
diferença entre o pedido pelo autor e aquilo que foi que receberam.
De acordo com o artigo 631.º, ambos podiam recorrer, quer o autor, quer o réu. Ambos
são partes principais e, como a condenação foi meramente parcial (não foi total), o autor
também ficou vencido.
Este seria um recurso de apelação. Artigo 44.º/1 LOSJ: a alçada é de 5000€. Artigo 629.º/1
CPC: Aqui já seria admissível recorrer, estão verificados os requisitos de admissibilidade.
O valor da ação é superior ao valor da alçada do tribunal de que se recorre.
Nota: 2.º instância: juízos desembargadores; juízes conselheiros- 3.º instância.
c) Na hipótese anterior, os RR, recorreram da decisão, tendo o tribunal ad quem mantido
a decisão do tribunal de primeira instância. Pode ser interposto recurso?
O valor da causa é inferior ao valor da alçada do tribunal a quo. Não é possível o recurso
ordinário de revista- art. 44.º, n.º 1 LOSJ e 629.º, n.º 1 CPC. Não cabe em nenhuma das
situações do n.º 2 do artigo 629.º. Não era admissível o recurso ordinário. O valor da
sucumbência do autor também não é metade.
d) E se a ação tivesse o valor de €35 670?
É superior o valor da alçada, contudo, verifica-se uma situação de conformidade de
julgados. O Tribunal da Relação manteve a decisão do Tribunal de Primeira Instância
(art. 671.º, n.º 3).
Só se aplica esta regra,que veda a possibilidade da revista, se o acórdão proferido pelo
Tribunal da Relação tiver a mesma fundamentação e se não houver voto de vencido.
e) Ação em que o A, pretende que seja decretada a resolução do contrato de arrendamento
celebrado com os RR., marido e mulher, e que estes sejam condenados a deixarem o
locado livre de pessoas e bens, bem como a pagarem ao A, as rendas vencidas e vincendas,

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acrescidas de juros à taxa legal. O valor da ação é de €3 435. O tribunal julgou a ação
procedente, por provada, condenando os RR, nos pedidos formulados pelo A.
O valor da ação era determinado pelos termos da norma 298.º/1 CPC. Esta situação
subsume-se à aplicação do regime do art. 629.º/3/a) CPC. Neste caso o que estava em
causa era fazer cessar um contrato de arrendamento, era uma ação de despejo através da
qual o locador pretende cessar a relação de locamento e restituir a coisa locada livre de
coisas e bens. Embora o valor da ação fosse inferior ao valor da alçada, a lei aqui admite
sempre recurso para a Relação.
Pode recorrer independentemente do valor da causa: era inferior à alçada do tribunal de
que recorre, assim, segundo a regra geral não poderia recorrer (n.º 1), no entanto, há a
exceção supracitada.
f) Partindo da hipótese anterior, imagine que os RR. Intentaram recurso para o Tribunal
da Relação, tendo este revogado a decisão anterior, e, consequentemente, absolvido os
RR. do pedido.
Nota relativamente ao artigo 671.º CPC: O STJ pode absolver da instância o réu por falta
de um pressuposto processual a não ser que se tenha formado um caso julgado formal.
Recurso quanto à matéria de competência: por exemplo, pode-se recorrer do despacho
saneador e sobre esta decisão forma-se um caso julgado formal que tem força vinculativa
dentro deste processo. O Tribunal da Relação, ao analisar melhor a situação repara que
se enganou anteriormente, embora já se tenha pronunciado pelo saneador, chega a
sentença final e absolve da instância- não pode fazer isso, há um caso julgado sobre aquela
matéria e é um caso julgado que o vincula.
Relativamente ao caso, resulta do 671.º que é recorrível porque estamos perante um
Acórdão da Relação que é autonomamente recorrível, mas não diz se o recurso é
admissível ou não.
Neste caso não era admissível, embora não se verifique uma situação de dupla conforme.
Acontece, todavia, que o valor da ação é apenas de 3 450€ inferior à alçada até da 1.ª
instância, na al. anterior era possível o recurso ordinário para a 2.ª instância, aqui era um
recurso da revista, logo estamos na regra geral do n.º 1 e, portanto, o recurso não era
admissível nos termos gerais.
g) Ainda partindo da hipótese anterior- mas admitindo, agora, que o valor da ação era de
€34 450- imagine que, mais uma vez, foi intentado recurso peara o Tribunal da Relação,
tendo este, contido, confirmado a decisão do tribunal de primeira instância.
Agora o valor já permitiria o Recurso, todavia há novamente o problema da dupla
conforme, a decisão foi confirmada pela relação- 671/3, em princípio não era admissível
com todas as ressalvas que fizemos atrás: salvo se houver fundamentação diferente,
revista excecional ou voto de vencido.
h) A requer que o tribunal intime B a não divulgar factos falsos que atentam contra a
respetiva honra e reputação. É admitido recurso?
Interesses não redutíveis patrimonialmente assim iam ser definidos de acordo com o art.
303.º, n.º 1. Respeitava, desse modo, a regra do art. 629.º, n.º 1, podia-se recorrer.

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 Caso n.º 2: Tipos de ações declarativas
Identifique a pretensão material em presença, classifique as seguintes ações, atendendo
ao seu fim e à providência requerida:
a) Ação em que A, alegando ser proprietário de um imóvel e que o referido imóvel se
encontra na detenção de B, requer que o bem lhe seja entregue;
Distinção entre posse e mera detenção. A posse pressupõe dois elementos: animus e
corpus. A mera detenção reporta-se á mera detenção fática do bem, mas o mero detentor
apenas detém em nome de outrem. A não é mero detentor, é possuidor.
É uma ação de reivindicação: arts. 1311.º e 1315.º CC- diz que o proprietário pode exigir
a restituição da coisa do possuidor ou detentor. Traduz-se na condenação da entrega do
que pertence ao autor.
A ação de reivindicação tem um momento de simples apreciação, o tribunal tem de
averiguar se é efetivamente proprietário e depois tem um momento de condenação,
condena a restituir a coisa, o autor não pretende apenas ser reconhecido como titular do
direito. Ele funda este pedido na titularidade do direito e não na sua posse, não é uma
ação possessória. O mero detentor não se arroga titular de nenhum direito, possui em
nome de outrem. O possuidor possui como titular do direito, o detentor precário não o
faz, pode é chamar à ação a pessoa em nome do qual possui.
Em suma, atendendo apenas ao que é perguntado é uma ação de condenação.
b) Ação em que a “Electro Portuga, S.A.”, pede que o R. pague as faturas de eletricidade
relativas a meses anteriores e aquelas que se vençam no decurso da causa;
Ação declarativa de condenação com a particularidade de ter um pedido de condenação
“in futurum”, o autor pede que o réu pague as faturas já vencidas. Esta primeira pretensão
não é in futurum, mas pede também, para além do que já está em falta, que o réu seja
condenado pelas faturas que entretanto se vencerem, o que é possível pelo art. 577.º/1
CPC- é uma relação jurídica duradoura, o legislador processual prescinde aqui da violação
atual do direito.
O autor tem interesse em manter a relação jurídica duradoura, mas quer-se precaver face
à eventualidade de ocorrerem novas situações de incumprimento. O autor quer evitar ter
de, no futuro, intentar novas ações idênticas por incumprimento. Dá ao autor o título
executivo, e, assim, no âmbito daquela mesma relação jurídica duradoura o autor já está
munido daquele título executivo, não tendo de intentar uma nova ação executiva. O que
está em causa não é o devedor pagar imediatamente tudo, é uma questão de economia
processual, o credor tem já o título executivo para se proteger contra incumprimentos
futuros.
c) Ação em que o A. requer que o R. não o impeça de utilizar um dado caminho que passa
pelo prédio do R. e cuja servidão legal de passagem já havia sido constituída por sentença
com trânsito em julgado;
Ação de condenação inibitória: ação de condenação a um comportamento negativo, a um
non facere. A ação anterior é uma ação constitutiva que constitui a servidão legal de

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passagem (art. 1550.º), mas o autor não pretende apenas isso. O direito já existe e não há
dúvidas sobre isso, pois está constituído por sentença.
Foi constituída a servidão, o direito de constituir a servidão é um direito potestativo: a
contraparte está numa posição de sujeição: o sujeito passivo está sujeito a que ocorra uma
modificação na OJ seja através da criação, modificação ou extinção de uma relação
jurídica contra ou sem a sua vontade. Não é necessária a colaboração do sujeito passivo.
Nos casos de direito de crédito, se o devedor não cumprir, o Estado substituiu-se ao
devedor para satisfazer o interesse do credor, mas quando estamos perante um direito
potestativo não precisa da colaboração da vontade do sujeito passivo. Por se tratar de uma
prestação de facto infungível podia pedir a aplicação de uma sanção pecuniária
compulsória- art. 829.º-A CC.
d) Ação em que a “Associação de Defesa dos Consumidores do Porto” pede a abstenção
do uso ou recomendação de uma cláusula inserta nos contratos de fornecimento propostos
por uma empresa, na medida em que tal cláusula limita a responsabilidade da empresa
pelos atos dos seus auxiliares;
Ação de condenação inibitória, à prática de um comportamento negativo. O autor
pretende que a ré seja inibida de inserir determina cláusula nos seus contratos – 25.º e ss
do Regime das Cláusulas Gerais. Esta ação tem uma função cautelar, mas de caráter
definitivo e não meramente provisório, é uma tutela cautelar definitiva (é uma ação
principal).
Também havia possibilidade de se aplicar uma sanção pecuniária compulsória (829.º-A
CC). É infungível, é uma obrigação de facto negativo, têm uma infungibilidade negativa,
não pode o réu ser substituído no cumprimento.
e) Ação em que os AA. requerem a declaração de nulidade de um contrato de compra e
venda celebrado com os RR., em virtude de simulação absoluta;
Ação declarativa de simples apreciação positiva. Não é constitutiva uma vez que decorre
do regime da nulidade do negócio jurídico sendo que o NJ nulo não produz quaisquer
efeitos, a nulidade opera ipso iure e, não obstante a necessidade de existir uma sentença
judicial a declará-la, o negócio é nulo desde o momento em que foi celebrado. Não se
trata de destruir retroativamente uma RJ, mas de declarar a existência de uma situação de
nulidade.
Nota: no negócio anulável há um prazo previsto na lei para anular, no entanto, pode-se
convalidar. A nulidade do contrato pode ser a todo o tempo arguido. Outro caso é um
abuso de direito: um contrato é nulo e passados imensos anos é que vem arguir da
nulidade, aí pode ser considerado abuso do direito.
f) Ação em que o A. pede a anulação de um contrato de mútuo celebrado com o R., devido
à atuação dolosa deste último;
É uma ação constitutiva: ao contrário do que vimos anteriormente no caso de procedência
da ação há uma modificação do estado anterior das coisas, isto porque a anulabilidade
deve (art. 287.º CC) ser arguida no prazo legal sob pena de convalidação do NJ, é um NJ
que se pode estabilizar.

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O direito de provocar a declaração de anulabilidade do NJ, corresponde ao exercício de
um direito potestativo extintivo, o que se pretende é a destruição retroativa da RJ.
g) Ação em que a “Construções Lima, S.A.”, requer que o tribunal se substitua ao
promitente-comprador na emissão de uma declaração de vontade destinada à celebração
do contrato de compra e venda;
Ação constitutiva. Há um contrato-promessa, o promitente falta à obrigação que é a de
celebrar no futuro o contrato prometido, neste caso o contrato de compra e venda-
obrigam-se as partes a emitir no futuro a declaração e a vontade correspondentes ao
contrato prometido- uma obriga-se a vender e outra a comprar no futuro (bilateral)- art.
410.º CC.
É uma prestação de facto e a parte incumpriu com esta obrigação. Quando isso acontece
é possível nos termos do art. 830.º do CC intentar uma ação que se chama ação de
execução específica do contrato-promessa. É uma ação declarativa, o que ocorre da ação,
se for julgada procedente, é que o tribunal se vai fazer substituir ao promitente faltoso na
emissão da declaração em falta e com isso dá-se a celebração do contrato prometido.
Nessa medida essa ação vai sendo classificada como uma ação constitutiva, criando uma
relação jurídica nova.
O professor Antunes Varela classifica-a como condenação (é uma ação de condenação
com a particularidade que se substitui logo ao promitente), não partilhamos da mesma
opinião.
16/10/19
h) Ação em que António pede a declaração de ineficácia de um contrato de mútuo
celebrado entre o seu devedor, Bento, e um terceiro, Carlos, realizado por forma a
delapidar o património de Bento, de modo a que este não tenha bens suficientes para
cumprir a obrigação a que está adstrito para com António;
Ação declarativa constitutiva modificativa.
Um sujeito é credor de outro, António é credor de Bento e B o devedor realizou um NJ
com um 3.º, Carlos, de modo a que não haja bens suficientes para cumprir a prestação
que tem para com Bento.
Relativamente a podermos considerar esta uma situação de simulação- Não diz aqui que
fingiram esta situação, não podemos considerar uma simulação. Não diz que há
divergência entre a vontade a declaração.
Mas foi celebrado para prejudicar o credor. Art. 3.º do CIRE: a pessoa pode pedir
insolvência e não é vantajoso para o credor que esteja nesta posição. Todos os credores
do sujeito têm de recorrer à declaração de insolvência para verem o seu interesse
satisfeito. O credor fica sem garantia do cumprimento da obrigação, porque aquilo que
garante a satisfação da obrigação é o património do devedor, é a garantia geral das
obrigações. O contrato de mútuo vem previsto no 1142.º do CC.
O devedor tinha dinheiro na conta bancária, mas ingressou na esfera jurídica de 3.º, é
verdade que tem de restituir. Ex: A executa B e C é credor de B, o crédito de C é
penhorável.

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A afirmação “o património do devedor garante o cumprimento da obrigação”: em caso de
incumprimento voluntário da obrigação o credor obterá a satisfação do seu crédito através
da execução do património do devedor. Consegue-se fazê-lo através de uma ação
executiva e tem de ter um título executivo, se não o tem, tem de intentar uma ação judicial
para obter o título executivo.
No nosso caso é uma ação de impugnação pauliana- art. 610.º do CC. Atenção ao 612.º-
tem de demonstrar a má fé. A finalidade da ação de impugnação pauliana é uma ação
constitutiva. A consequência prática da ação pauliana não é a invalidade do negócio do
devedor celebrado com 3.º, o negócio entre B e C continua a ser válido, o efeito translativo
verificou-se através de um negócio válido. O objetivo é que o negócio seja ineficaz face
ao credor, autor desta ação. A ação é constitutiva, não há um efeito extintivo, mas há um
efeito modificativo, o negócio que produzia plenamente os seus efeitos tornar-se-á
ineficaz face ao autor.
Nota: outra coisa é se o autor dissesse que foi uma simulação, aí o negócio simulado é
nulo, mas não é o caso.
O que é que o credor, autor desta ação, ganha com isto (efeitos práticos): o objetivo é
precaver-se face à possibilidade de o devedor incumprir a obrigação a que está adstrito.
O património do devedor é a garantia da obrigação, quando intenta a ação executiva tem
direito na mesma ao seu crédito, é essa a diferença. O agente de execução procederia à
penhora, os bens seriam adjudicados ou vendidos. Este é o efeito prático, o credor tem
direito à restituição dos bens na medida do seu interesse podendo (art. 616.º/1 CC)
executá-los diretamente do património do obrigado à restituição, neste caso é C o
obrigado. O património do terceiro (devedor do devedor, neste caso) abre-se à entrada do
credor, mas não é seu credor, é credor da pessoa com quem o terceiro celebrou o negócio
jurídico.
Há dois casos em que é possível uma pessoa executar outra e esse imputado não é devedor
do exequente, um destes casos é este, o terceiro, o C não é devedor de A (o devedor é B),
mas em virtude da procedência da ação passam a existir bens no património do terceiro
que respondem por dívida alheia. O outro caso é paralelo em que há uma garantia de
crédito constituída por terceiro.
Exemplo: A celebra um contrato com C (C é um banco para emprestar dinheiro), D
constitui hipoteca sobre a sua casa para servir como garantia da dívida de A- esse bem
está a servir de garantia da obrigação de A. Se o devedor deixar de cumprir, pode executar
a garantia. Garantia real constituída sob bem de terceiro para garantia de obrigação de
outrem. É uma situação com algum paralelismo. Não é todo o património de C, C não é
fiador, não pode penhorar qualquer bem de C, só aqueles bens objeto de impugnação.
i) Ação em que Danilo requer que seja declarado que não apôs a sua assinatura num
determinado documento que o R. afirma, pelo contrário, ter sido assinado pelo A.;
Ação declarativa de simples apreciação negativa. Estas ações têm uma configuração
peculiar quanto ao ónus da prova (art. 343.º, n.º 1 do CC). O Réu terá o ónus de provar
que se verificou aquilo que o Autor pretende negar. Fá-lo-á na contestação.

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j) Ação em que os AA., Armindo, e esposa, Adelaide, pretendem exercer o seu direito de
preferência relativamente à venda de um prédio rústico que 1.º R., Renato, vendera ao 2.º
R., Serafim, pedindo que ambos os RR. fossem condenados a reconhecer aos AA. o
direito de haverem para si o prédio vendido ao 2.º R. (cf. ac. da RP, de 13/05/1999, CJ
1999, t. 2, 187 e ss.);
Contrato de preferência: o devedor não está obrigado a vender ao titular do direito de
preferência o objeto do negócio, mas a vender a este sujeito em igualdade de
circunstâncias. Para cumprir a obrigação a que está adstrito pode vender diretamente a
este sujeito, ao titular do direito de preferência. Assim, A está obrigado a dar preferência
a B e se A pretende vender pode dirigir-se diretamente a B(faz uma proposta, vende
diretamente ao sujeito a que está obrigado a dar preferência). Pode acontecer que A tenha
já um projeto negocial com 3.º de determinado preço e aí tem de fazer uma comunicação
para o preferente. Se o preferente está preparado para celebrar o contrato naquelas
condições, o titular da preferência pode exercer o seu direito ou não- comunicação da
preferência. Se vender sem fazer essa comunicação de preferência viola o seu direito de
preferência. O titular do direito violado pode pedir uma indemnização dependendo se tem
um direito real ou não, se tiver um direito legal de preferência pode fazê-lo, se for
convencional tem de haver um título executivo- relacionado com o princípio da
prevalência do direito real (o direito real prevalece sempre pelo direito obrigacional
independentemente de quando é constituído).
Voltando ao nosso caso:
Aqui estamos perante uma ação de preferência- art. 1410.º do CC, é uma ação
modificativa constitutiva. Visa-se operar uma modificação de uma RJ, é uma modificação
puramente subjetiva, não se pretende atacar a validade do contrato celebrado entre o
obrigado à preferência e o terceiro, os autores querem que o contrato se mantenha e
pretendem ocupar a posição jurídica do terceiro nesse contrato. Esta ação tem de ser
intentada necessariamente contra o terceiro, e tem de ser também contra o obrigado à
preferência. Essa é uma questão complicada (se se tem de intentar contra os dois ou não),
tem de se pensar no efeito prático, se se consegue o objetivo só com um réu ou com os 2.
Não é uma condenação, o pedido está mal formulado, vão ocupar a posição dos terceiros
no contrato, é tipicamente constitutiva.
k) Ação em que Antenor pede que Remígio seja condenado a reconhecer a aquisição, por
usucapião operada em benefício do A., do direito de propriedade sobre o prédio rústico
denominado “Quinta dos Ciprestes”, devidamente identificado nos autos;
A usucapião é uma forma originária de aquisição de direito que consiste no exercício de
posse durante um determinado período de tempo com determinadas caraterísticas, sendo
essa posse exercida em termos de direito de propriedade ou de outro direito real de gozo.
O autor alega que adquiriu a propriedade por usucapião. Já se adquiriu o direito, não passa
a existir com a sentença, o direito já está adquirido, constitui-se originariamente na sua
esfera jurídica por via de usucapião.Se a sentença for favorável não opera nenhuma
modificação na OJ. Assim, é uma ação declarativa de simples apreciação positiva. Não
se torna proprietário no dia da sentença. Existe a escritura de justificação notarial: ele não

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se consegue registar sem um título de aquisição. Se for um negócio translativo junta o
respetivo título de aquisição. É possível obter escritura notarial.
l) Ação em que o A., alegando ter sofrido danos não patrimoniais em virtude de um
acidente de viação da responsabilidade do R., requer, dada a impossibilidade de conhecer
a exata extensão dos danos, que o requerido lhe pague uma indemnização cujo quantum
seja determinado posteriormente;
É uma ação de condenação com a particularidade de ser um pedido de condenação
genérica porque o autor pretende que o réu seja condenado com aquilo que se vier a
liquidar (art. 556.º, n.º 1, al. b) CPC). Não esquecer a diferença entre o an debeatur e o
quantum debeatur. O que o autor não consegue fazer prova é apenas no quantitativo dos
danos. A liquidação para tornar quantificado o pedido genérico faz-se através de um
incidente da liquidação.
Nos termos do disposto no artigo 358.º, n.º 1, antes de começar a discussão da causa, o
autor deduz, sendo possível, o incidente de liquidação para tornar líquido o pedido
genérico. Não sendo isso possível, e sendo proferida sentença de condenação genérica
(artigo 609.º, n.º 2), o incidente de liquidação terá lugar em momento posterior ao do
proferimento desta decisão (art. 358.º, n.º 2).
m) Ação em que o A., alegando necessidade de sustento, requer que o R., seu pai, lhe
pague uma prestação mensal que acorra às respetivas necessidades básicas.
Constituição de uma obrigação de alimentos- art 2003.º do CC. É uma ação constitutiva.
Visa criar uma RJ nova.
23/10/19

 Caso n.º 3: Procedimentos cautelares


A “Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor- DECO” veio instaurar contra
“Portugal Telecom, S.A.”, procedimento cautelar comum “como preparatório de ação
inibitória que irá intentar”.
Foi pedido que o tribunal decretasse uma medida de natureza cautelar com o alcance de
a requerida ser condenada a “abster-se de iniciar a cobrança da nova taxa de ativação
prevista na Proposta de Tarifário junta, no ano em curso, seguindo-se os ulteriores termos
dos arts. 365.º e ss. do CPC”. Pediu ainda a requerente que a providência fosse decretada
sem audiência da contraparte e que se fixasse sanção pecuniária compulsória não inferior
a €250 000, nos termos do art. 365.º, 2, do mesmo diploma.
O juiz lavrou despacho em que indeferiu o pedido de não audição da Requerida. Desta
decisão interpôs a “DECO” tempestivo recurso.
1) O que é o procedimento cautelar comum “preparatório”?
Ainda não há decisão definitiva de litígio que se consegue através da ação principal. Na
ação principal obtém-se uma tutela definitiva para o respetivo direito.
Exceção dos casos em que é decretada a inversão do contencioso- o efeito imediato é a
inversão do ónus da ação. O procedimento cautelar está na dependência de uma causa que
tenha por fundamento um direito cautelar, podendo ser instaurado por preliminar ou

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incidente da ação declarativa ou executiva. A função das providências cautelar é garantir,
salvaguardar o direito, enquanto não se obtém uma tutela definitiva. Artigo 2.º, n.º 2 do
CPC.
O que é preciso demostrar para ela proceder: o risco de lesão do direito enquanto não se
obtém a tutela definitiva desse direito e a aparência de bom direito, isto é, se há uma
probabilidade séria da existência do direito. O que se pretende é que a PT seja condenada
a não cobrar a taxa de ativação. O problema é que a empresa iria começar desde logo a
cobrar essa taxa o que contende com o periculum in mora. Há uma proposta de tarifário,
a empresa quer cobrar a taxa de ativação e é mesmo por existir essa proposta que existe
perigo na demora. O que se tem de demonstrar é que essa cobrança não deveria ser
possível porque não respeita a lei (basta a prova sumária). Ou seja, para o tribunal decretar
a providência tem de saber que há uma probabilidade séria de que não é legítima a
cobrança pela empresa.
Existe o procedimento cautelar comum (362.º até ao 376.º) e existem providências
cautelares especificadas. As providências cautelares comuns- art. 362.º/1- só se aplicam
se não for de aplicar um procedimento cautelar especificado; 376.º/1- aplicam-se
subsidariamente.
É uma providência antecipatória porque procura antecipar os efeitos da decisão final.
Preparatório surge como sinónimo de preliminar- está a ser intentada antes de estar em
curso a ação principal. O procedimento cautelar nasce preliminarmente.
Art. 78.º/1/c- deve ser proposta no mesmo tribunal onde irá ser proposta a ação principal
de qual esta providência cautelar é dependente. Quando a ação principal é intentada, a
providência cautelar deve ser apensada à ação principal. No caso de a ação ser intentada
noutro tribunal- art. 78.º/2- os autos serão remetidos, com vista à apensação ao tribunal
do lugar da proposição da ação principal, isto, se for diferente daquele onde o
requerimento da providência deu entrada.
A razão de ser do 364.º, n.º 3: não se faz logo a apensação porque o processo não está
fisicamente no tribunal, subiu para o tribunal de recurso, é preciso esperar que o processo
desça novamente ao tribunal de primeira instância.
2) Como se carateriza a ação principal, à luz da classificação contida no art. 10.º do CPC.
É uma ação declarativa de condenação inibitória: procura-se através dela que a ré seja
inibida da prática de um determinado comportamento, neste caso, a cobrança desta taxa
de ativação (que a DECO acredita que não pode ser cobrada porque lesará os interesses
dos consumidores). É uma condenação a não fazer/realizar um determinado
comportamento, o que significa que a própria ação principal tem uma função cautelar:
pretende prevenir a lesão de um direito dos consumidores. É uma tutela cautelar definitiva
porque a decisão tomada na ação principal é definitiva quando transita em julgado(
embora ainda não esteja totalmente cristalizada porque ainda existe um prazo de 5 anos
no qual é possível intentar um recurso extraordinário de revisão). A tutela cautelar e a
tutela provisória não são sinónimos, nas ações inibitórias, ainda que sendo ações
principais, pretende-se evitar que haja uma lesão do direito.

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3) Destinando-se a ação a prevenir determinado comportamento- o que a situa no campo
da tutela cautelar-, haverá interesse jurídico relevante em requerer o procedimento
cautelar comum preliminar da ação principal?
Há interesse jurídico relevante em obter uma tutela cautelar provisória enquanto não
existe uma tutela cautelar definitiva. Tem que ver com a existência de um perigo na
demora. Enquanto não há uma decisão definitiva do litígio, a empresa cobrará esta taxa,
isso consta da proposta de tarifário apresentado e assim vai lesar os interesses dos
consumidores (até haver uma ação definitiva, já os direitos dos consumidores foram
lesados através da cobrança desta taxa).O direito está em risco, é preciso acautelá-lo
através de uma medida urgente e provisória.
4) Uma vez indeferido o pedido de não audição da requerida, que ato processual deverá
ordenar o juiz? De que peça processual deve constar tal decisão?
Uma vez que o tribunal indeferiu o pedido de não audição prévia da requerida (prévia à
decisão ou não do decretamento), o ato processual que se segue é o ato de citação da
requerida que será substituído pela notificação, a que se aplicam as regras da citação, no
caso de ser incidental.
A peça de que consta essa decisão é o despacho liminar que será um despacho de citação
aqui- 226.º/4/b) e 590.º/1 CPC.
Art. 366.º/1- a regra é que a citação e o contraditório sejam prévios, mas pode ser diferido.
Parece que aqui não faria sentido ser diferido, a empresa já se estava a preparar para
cobrar taxa, se não houvesse providência, ela ia cobrar a taxa, não vai acontecer nada
diferente se for ouvida antes. Como foi indeferido deve ser citado e quem o faz é a
secretaria.
Em suma, neste caso é a citação porque a providência cautelar é preliminar- é notificado
quando já tenha sido citado para a causa principal, nos termos do artigo 366.º, n.º 2 do
CPC.
5) De que prazo dispõe a requerente para propor a ação principal? Que consequências
podem advir da falta de respeito desse prazo?
O prazo é de 30 dias sob pena da providência caducar- art. 373.º/1/a) CPC. 30 dias a
contar da data que tenha sido o requerente notificado do trânsito em julgado da decisão
que haja decretado a providência. Se a contraparte não intentar a ação- art. 369.º (inversão
do contencioso) - a consequência é a decisão tornar-se definitiva. A decisão transita em
julgado quando não é suscetível de recurso ordinário ou de reclamação.
Ao abrigo do artigo 362.º, n.º 4, não pode repetir-se a providência se ela caducar.
6) Que finalidade tem a sanção pecuniária compulsória pedida pela requerente? Como se
distribui o produto resultante da sua aplicação?
O artigo 365.º, n.º 2 do CPC refere-se à possibilidade de aplicação de sanção pecuniária
compulsória nos termos gerais. Esta figura está prevista no artigo 829.º-A do CC, e
consiste na ameaça de uma sanção patrimonial, seguida da aplicação dessa sanção, se a
ameaça não for suficiente para que o devedor cumpra voluntariamente, sendo o objetivo
pressionar o devedor para que este cumpra a obrigação a que estava adstrito. A sua função

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é, então, pressionar ou coagir o devedor a cumprir. Pode ser utilizada nos casos em que a
prestação é infungível, as prestações de facto, são, por natureza, infungíveis. Pressiona-
se o devedor a cumprir.
O montante da sanção é dividido em partes iguais entre o credor e o Estado – art. 829º-
A, n.º 3 do CC. Os juros compulsórios estão previstos no n.º 4 do referido artigo.
7) Ficando o juiz convencido da pretensão exigida pela Requerente, pode proferir
imediata decisão quanto ao fundo da causa?
O modo como dever ser entendida a pergunta: Se o juiz estiver convencido acerca da
existência do direito, pode o juiz antecipar uma decisão imediata?
Não se trataria de o juiz tomar já uma decisão definitiva, esse não é o objetivo da inversão
do contencioso. O instituto de inversão do contencioso não tem o objetivo de converter o
procedimento cautelar numa ação principal. O efeito imediato é a inversão do ónus da
ação, se ele não intentar aí é que se converte em decisão definitiva do litígio.
A inversão do contencioso só pode ter lugar mediante determinados requisitos: tem de ser
requerido ao juiz. Este tem de ter uma convicção segura da existência do direito, e é
necessário que a natureza da providência se preste a essa possibilidade de inversão do
contencioso-art. 369.º/1 do CPC. Aqui tratar-se-ia de uma providência cautelar
antecipatória por isso cumpre o último requisito.
É preciso ter claro que a consequência da inversão não é decidir o fundo da causa, mas
inverter o contencioso que ,só mediatamente, se pode converter numa decisão definitiva.
8) No curso da ação foi eliminada a possibilidade de recurso da providência cautelar. Não
tendo sido prevista nenhuma solução de Direito transitório, será o recurso de admitir?
Princípio geral- art. 12.º/1 do CC, que aplicamos a casos particulares um dos casos é a
aplicação de leis no tempo sobre recursos embora aí haja dois regimes, o das alçadas não
se aplica aqui, não foi alterada. Assim sendo, não seria possível o recurso porque a lei
entrou em vigor porque ainda não foi tomada a decisão. Aplica-se a lei de recurso em
vigor à data da prolação/proferimento da sentença: aqui temos de adequar, porque é um
despacho, da prolação do despacho decisório (e que segue a estrutura da sentença). A lei
nova veda a possibilidade de recurso e era a lei em vigor no momento da decisão, logo
não seria possível recurso.
30/10/19

 Caso n.º 4: Procedimentos cautelares; arresto e arrolamento


D veio requerer, como preliminar da ação de anulação do casamento que vai propor contra
o marido E, que fosse decretado o arrolamento de uma fração autónoma de prédio urbano
e de determina quota em sociedade comercial por quotas. Alegou tratar-se de bens
comuns do casal, tendo o casamento sido celebrado sem convenção antenupcial. Juntou
prova documental destas alegações e requereu que fossem ouvidas duas testemunhas.
1) Como se qualifica a ação principal? É admissível a dedução de pedido cautelar
relativamente a ações de semelhante natureza?

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É uma ação constitutiva extintiva, visa extinguir a relação jurídica matrimonial. Se essa
ação proceder subsequentemente vai acontecer o seguinte- os cônjuges são casados em
comunhão de bens, existem bens comuns do casal e vai haver uma partilha desses bens já
que é essa a decorrência da extinção da relação matrimonial.
Relativamente ao pedido cautelar, D tem direito a estes bens em virtude do regime de
bens em que são casados. Aqui o que se pretende saber é se é possível acautelar o direito
(são direitos potestativos).O direito aqui em causa não é cautelar, é um direito potestativo
que vai ser exercido na ação principal, visando-se acautelar uma posição jurídica que
decorre da procedência da ação.
O que nos temos de questionar é se o interesse que se pretende acautelar se considera
atendível no sentido de recorrer a uma providência cautelar. O Código dá resposta a esta
pergunta no art. 362.º, n.º 2- compreende-se que os procedimentos cautelares se estendam
a situações jurídico-materiais dependentes da decisão de mérito favorável em futura ação
constitutiva, pois, de outro modo, poderiam ser criados obstáculos, no sentido de impedir
as modificações visadas ou de esvaziar de conteúdo o exercício de direitos decorrentes da
procedência da ação. A proteção concedida através da tutela cautelar abrange direitos que
ainda não têm existência atual, mas que surgirão na esfera do requerente se proceder a
ação constitutiva. É, portanto, possível acautelar direitos que ainda não tenham existência
atual.
Exemplo semelhante: Uma pessoa morre e vai ser intentada uma ação, alguém pretende
ser reconhecido como filho daquela pessoa, se for reconhecido como filho será também
herdeiro. Pretende intentar uma providência cautelar para acautelar a entrega futura dos
bens que pertencem à herança. É uma situação de arrolamento. Aqui o requerente não tem
nenhum direito sobre os bens, mas se a ação proceder ela terá direito aos bens, é isso que
ele quer acautelar, não é o direito de ser reconhecido como filho que ele quer acautelar, é
uma consequência disso.
2) Admita que a requerente indiciou que pretendia o arresto dos bens que discriminou na
peça escrita que enviou ao tribunal. O tribunal, depois de produzida a prova que a
requerente apresentou, julgou o pedido da tutela cautelar improcedente, com o
fundamento de que a medida concretamente adequada a enfrentar a situação era o
arrolamento. Que comentários lhe merece semelhante decisão?
A providência adequada neste caso não era o arresto, era o arrolamento.
O tribunal devia ter reconduzido o pedido instaurado para a correspondente medida tutelar
adequada à causa- art. 376.º, n.º 3, 1.ª parte. Em último caso encontra-se no plano de
disponibilidade do tribunal as providências cautelares que vão ser adotadas, ou seja, existe
o poder-dever de reconduzir o pedido de tutela provisória ao modelo processual que
permita alcançar as medidas mais ajustadas à defesa temporária do direito atingido pelo
periculum in mora. É um desvio ao princípio do pedido, mas que deve ser corretamente
interpretado para responder à finalidade que a parte quer. Aquilo que a parte pediu foi
acautelar um direito, o juiz apenas deu a forma processual adequado- o pedido está lá, é
uma questão de interpretação. Não é uma exceção, quanto muito pode ser um desvio.
Os requisitos podem ser diferentes e isso tem de ser tido em consideração, por exemplo,
o artigo 376.º/1, diz “as disposições constantes deste capítulo são aplicáveis aos

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procedimentos cautelares regulados no capítulo subsequente, em tudo quanto nele se não
encontre especialmente prevenido”- se estamos no plano de uma providência especificada
esta norma não se aplica, mas se o tribunal redireciona para uma providência comum já
tem de ter em conta este requisito.
O juiz a quem o requerimento foi distribuído decretou de imediato o arrolamento, sem
ouvir sequer as duas testemunhas apresentadas pela requerente D.
3) Em que termos podia o tribunal dispensar o contraditório prévio do requerido E?
Artigo 3.º, n.º 2 do CPC e artigo 366.º, n.º 1. Este não é um dos casos em que há sempre
diferimento. O diferimento só se dá quando a audiência representa um risco sério. O
perigo é que o marido extravie os bens mesmo antes de ser aplicada a medida, de serem
arrolados os bens, isto é, os atos materiais implicados no arrolamento. Artigo 406.º, n.º 1-
definição de arrolamento. Antes mesmo de ser decretado o arrolamento, já os bens podem
ter sido extraviados, daí ser requerido ao tribunal para tomar a iniciativa para diferir o
contraditório- art. 226.º, n.º 4, al. b).
Se o contraditório for diferido, aplica-se o preceituado no artigo 366.º, n.º 6.
Posteriormente o requerido pode reagir nos termos do artigo 372.º. O prazo de oposição
é de 10 dias, por força da remissão para os incidentes processuais.
4) A providência podia ser decretada sem produção da prova testemunhal indicada pelo
requerente D?
O juiz decretou o arrolamento logo no despacho liminar. Art. 3.º, n.º 2 e art. 226.º/4/b)- a
secretaria promove a citação do réu que vai ter um prazo para contestar. No entanto, aqui
o contraditório pode ser diferido sendo que a secretaria não pode decidir isso e, portanto,
é preciso que haja um despacho liminar, para saber se o requerido vai ser ouvido ou não.
Se não houvesse a possibilidade de ser diferido, tudo decorria normalmente. Esta
possibilidade do contraditório ser diferido é excecional. O artigo prevê expressamente
essa possibilidade.
Pode o juiz decretar logo a providência cautelar no despacho liminar? Art. 367.º, n.º 1- só
tem lugar quando é necessário, pode não haver necessidade de produção de prova e aí
audiência tem lugar quando necessário. Se os elementos apresentados juntos do
requerimento inicial forem suficientes para a imediata tomada de uma decisão, é possível.
O caso, aqui, é outro porque ele não foi previamente ouvido. Se o tribunal achasse
necessário ouvir, tinha-o feito no devido momento sem estar na presença do requerido
(que pode ouvir as gravações posteriormente-havia quem dissesse que feria o princípio
do contraditório). A audiência desdobrava-se, ouvia-se as testemunhas e depois o
requerido. Aqui o juiz julgou que não era necessário ouvir as testemunhas. O processo foi
distribuído ao juiz e este decreta o arrolamento e pode fazê-lo sendo assim desencadeadas
as medidas para o arrolamento se realizar. Art. 366.º, n.º 6- após a efetivação das medidas
decretadas, arrola-se os dois bens e posteriormente, dá-se a citação do requerido (é
chamado pela 1.ª vez ao processo).
Posteriormente pode o requerido exercer o contraditório de acordo com o art. 372.º: pode
recorrer (a decisão já foi tomada) ou pode deduzir oposição, sendo que se deduzir
oposição há nova audiência.

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Este é o seguimento: Requerimento- Despacho liminar (audiência): decretamento da
providência (decisão)- citação- contraditório (372.º)- recorre ou deduz oposição. Pode
haver nova audiência se deduzir oposição, recorrendo não.
Caso não se desse o diferimento: Requerimento- Despacho liminar- citação- oposição (é
um ónus) - art. 367.º/1 (audiência final para produção de prova “quando necessária”)-
Artigo 293.º/1 aplicável por remissão do n.º 3 do artigo 365.º- Decisão- Recurso.
O juiz, depois de citado o requerido, de este ter contestado e de produzida toda a prova
que as partes apresentaram, indeferiu o arrolamento peticionado, fundamentando a
decisão de improcedência na falta de prova, ainda que sumária, do justo receio de
extravio, ocultação ou dissipação dos referidos bens, requisito estabelecido no n.º 1 do
art. 421.º do CPC.
5) Em que momento da tramitação teve lugar a audição das duas testemunhas?
O contraditório não foi diferido, por isso segue a regra do contraditório prévio. Art.
367.º/1 CPC- a audiência das duas testemunhas tem lugar em audiência final, que existirá
quando necessário.
6) Que comentário lhe merece a fundamentação do despacho que recusou o arrolamento?
Na pele de requerente recorríamos imediatamente pois ocorre um erro de Direito. Artigo
409.º, n.º 3- o juiz violou esta norma que dispensa a prova do justo receio de extravio,
dispensa a prova do periculum in mora-há uma presunção iures et de iure. Para obter esta
providência é preciso alegar e provar o seguinte: fazer prova do casamento (prova-se
documentalmente); fazer prova sumária da titularidade sobre os bens comuns ou próprios
sobre a administração do outro cônjuge e anunciar que propôs uma ação de anulação do
casamento- art. 409.º, n.º 1.
A competência territorial é do tribunal onde deve ser interposta a ação principal, ou no
lugar onde se encontram os bens- art. 78.º, n.º 1, al. a).
7) Qual o recurso ordinário que podia ser interposto da referida decisão?
O recurso que podia ser interposto é o recurso de apelação, artigo 644.º, n.º 1, al. a) CPC.
8) Se o Tribunal da Relação confirmasse a decisão impugnada, ainda seria possível
recorrer para o Supremo Tribunal de Justiça?
O artigo 370.º, n.º 2 diz que não cabe recurso para o STJ, sem prejuízo dos casos em que
é sempre admissível- art. 629.º, n.º 2.
Aqui estamos perante uma situação de dupla conforme, assim, de acordo com o artigo
671.º, n.º 3, só seria admitido recurso no caso de haver voto vencido ou se a
fundamentação fosse essencialmente diferente.
06/11/19

 Caso n.º 5: Procedimentos cautelares


1) Daniel celebrou com Francisco um contrato de mútuo, por via do qual o primeiro
entregou ao segundo a quantia de € 30.000,00, obrigando-se este, por sua vez, a restituir

19
essa quantia, acrescida de juros, calculados à taxa de 3%, até ao dia 15 de setembro de
2018.
Acontece, porém, que, uma vez verificado o termo do prazo, Francisco nada pagou a
Daniel e vem-se furtando aos seus contactos, tendo, para além disso, Daniel tomado
conhecimento de que Francisco se prepara para alienar os únicos bens existentes no seu
património, concretamente um apartamento e uma quota de uma sociedade comercial, na
tentativa de impedir a execução desses bens em eventual ação executiva que contra ele
venha a ser intentada.
O que poderá Daniel fazer, face ao comportamento de Francisco?
Estamos perante um contrato de mútuo consagrado no art. 1142.º do CC que se presume
oneroso- foi convencionada uma taxa de juro logo é oneroso.
Se estes negócios jurídicos se concretizarem, a venda (a alienação desses bens descritos)
o credor, Daniel, poderia intentar uma ação de impugnação pauliana para que fosse
declarada a ineficácia dos negócios. Esta ação está sujeita a determinados requisitos mais
apertados no caso de serem NJ onerosos- 610.º CC.
Só que, ainda antes disso, podia-se fazer uso da providência cautelar de arresto- art. 391.º
CPC. O arresto tem como finalidade a garantia patrimonial do crédito.
O facto de o bem ter sido arrestado não significa que o titular não possa praticar atos sobre
esses bens. O executado pelos bens penhorados ou o arrestado perdem os poderes de gozo,
mas não de disposição. Os atos de disposição serão ineficazes face ao credor. O arrestado,
tal como executado que vê bens seus serem penhorados, perde o poder de gozo porque os
bens vão ser judicialmente apreendidos. Não perde, contudo, os poderes de disposição na
medida em que o bem pode ser vendido ou onerado mas esses atos são ineficazes face ao
credor- art. 824.º do CC. O arrestado pode em qualquer momento pagar a dívida: aí
levanta-se o arresto e o ato de disposição ou oneração que tenha ocorrido, entretanto
adquire eficácia plena. Os direitos adquiridos por terceiros caducam se houver arresto.
Claro que se a garantia fosse anterior, prevaleceria, por exemplo, se houvesse um hipoteca
anterior era eficaz perante o credor.
Deste modo pode aplicar-se o arresto: apreensão judicial de bens à qual são aplicadas as
disposições relativas à penhora- arts. 391.º, n.º 2 e 735.º e ss do CPC.
O arresto consiste numa providência cautelar destinada à conservação de garantia
patrimonial de uma obrigação em que não é permitida a inversão do contencioso. O
contraditório é sempre diferido.
A providência caducará se não for intentada no prazo previsto no art. 337/1/a).
O arresto, nos termos da lei, é convertido em penhora pelo agente de execução. Não tem
um direito sobre estes bens e quer conservar a garantia patrimonial do seu crédito através
do património do devedor.
Situação prática: um sujeito que alegadamente se apropriou da quantia de 4 000 000€ e
foi requerida uma providência de arresto, os autores alegam que têm um crédito de
restituição do valor e pedem arresto. Para provarem o fumus bonni iuris alegam como
indício que o requerido acumula vasto património que não corresponde ao salário que
aufere. O juiz diz que aqui não estava verificado o periculum in mora, porque não estava

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em risco o crédito dado que estava sempre a acumular património. Indeferiu o pedido.
Aconteceu que posteriormente ele se livrou do crédito.
2. No início de setembro de 2018, Armando faleceu, vítima de doença súbita, sendo que,
até então, vivia no Porto, juntamente com o seu filho mais novo, Bernardo, de 25 anos de
idade.
Armando era colecionador de antiguidades e possuía uma valiosa coleção de notas,
avaliada em cerca de € 45.000,00.
Sucede que, alguns dias após o funeral, Carolina, filha mais velha de Armando, emigrante
na Suíça, tomou conhecimento de que o seu irmão mais novo, mesmo antes de se proceder
à partilha dos bens do falecido pai de ambos, se prepara para vender a Diogo, proprietário
de um estabelecimento comercial de antiguidades, a referida coleção de notas, pelo preço
de € 10.000,00.
O que poderá Carolina fazer para impedir essa alienação?
A definição de sucessões está prevista no art. 2032.º CC. É direito da família. Enquanto
os bens não forem partilhados pelos seus sucessores, a herança até à sua liquidação é
administrada pelo cabeça de casal- a herança está jacente. Neste caso seria Bernardo o
cabeça de casal- 2080.º, n.º 3 CC.
Há aqui um prejuízo evidente para a herança: existe um interesse na salvaguarda do
património hereditário em que se poderia requerer a providência cautelar especificada do
arrolamento- art. 403.º, n.º 1 CPC. Carolina tem um direito sobre esse bem por sucessão,
é herdeira legitimária.
Nos termos do art. 405.º, n.º 1 CPC- o requerente faz prova sumária: tem de mostrar que
o pai faleceu e que era sucessora sendo que ambas as coisas podiam ser demonstradas
mediante prova documental. Não é um arrolamento especial, assim, era preciso verificar
os factos que provavam o periculum in mora. O juiz decretará o arrolamento se for feita
esta prova sumária da existência do direito aos bens e que existe o risco sério.
O arrolamento consiste numa avaliação, descrição e depósito dos bens sendo lavrado um
rol, do qual fica a constar a descrição e avaliação dos bens. Distingue-se do arresto porque
no arresto se visa a apreensão de bens do devedor para garantir um direito de crédito, para
conservar a garantia patrimonial de uma obrigação, enquanto no arrolamento o que está
em causa é a conservação de uma coisa a que é objeto mediato ou imediato da ação da
qual o arrolamento depende.
Na prática acontece que se for decretada sem audiência prévia do requerido, depois é
notificado. Se era entre cônjuges dispensa-se a prova do periculum in mora. Os bens
arrolados numa ação de divórcio são os bens comuns e os bens do requerente que estejam
sob a administração do outro (art. 409.º, n.º 1 CPC).
3. António reside no Porto e é proprietário de um terreno situado na Maia.
Em meados de setembro de 2018, António decidiu vender esse terreno, tendo, para o
efeito, publicitado essa sua intenção através da colocação de uma placa, com a expressão
“Vende-se”, no terreno em causa.
Alguns dias mais tarde, António tomou conhecimento de que Berto, residente na Maia,
arroga-se titular de um direito de servidão de passagem sobre esse terreno, sendo certo
que a divulgação dessa informação junto de potenciais interessados que se deslocaram ao

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local a fim de inspecionarem o terreno em causa acabou por motivar o desinteresse de
todos eles na aquisição do mesmo.
Indignado com esta situação, António pretende reagir judicialmente, no sentido de o
tribunal declarar que Berto não é titular de qualquer direito de servidão de passagem sobre
este terreno, tendo, para o efeito, intentado ação judicial contra Berto no dia 1 de outubro
de 2018.
Nota: O direito de servidão de passagem é um direito real de gozo, é potestativo quando
o tribunal confere esse direito. Art. 1302.º do CC. Cap III- a faculdade de exigir a
constituição de servidão é que é um direito potestativo.
a) Que tipo de ação foi intentada?
Ação de simples apreciação negativa, pretende que o tribunal declare a inexistência do
direito de servidão de que este sujeito se arroga. O ónus da prova aqui é do réu.
b) Qual a forma de processo adequada?
Pode ser processo comum ou processo especial- 545.º. O processo comum aplica-se a
todos os casos em que não se aplique os processos especiais (previstos no livro V). Este
processo não seguia estas formas especiais, assim, seguia a forma comum.
c) Suponha que, entretanto, António teve conhecimento de que Berto, para além de ter
colocado uma tabuleta no imóvel, com a indicação de que esse bem está onerado com
uma servidão de passagem, continua a transmitir a todos os potenciais interessados que
se deslocam ao local que esse bem está onerado com uma servidão, inviabilizando, dessa
forma, qualquer possibilidade de venda do bem. O que poderia António fazer no sentido
de impedir que Berto persista com essa sua conduta?
Como dever ser entendida a pergunta: A ser intentada uma providência cautelar com vista
à cessação deste comportamento, prestação de facto negativo, que PC seria essa?
Providência cautelar não especificada, inominada. Teria de ser uma providência
inominada, em que o requerente devia mostrar a aparência do direito e em termos do
perigo na demora seria a inviabilização da venda do terreno.
Numa ação de simples apreciação negativa, o réu provoca o autor a vir alegar e provar a
existência do direito. O requerente devia mostrar a aparência do direito sendo que o réu
não deveria interferir com o mesmo. Ia ser requerido que o réu se abstivesse de colocar
na placa e de dizer a todas as pessoas que tem o direito: é a imposição de um
comportamento negativo, as prestações de facto negativo são, por natureza infungíveis,
pode-se aplicar uma sanção compulsória para coagir o réu a adotar o comportamento
negativo.
4. Berto é proprietário de uma pequena oficina de reparação de veículos automóveis.
No início de outubro, António celebrou com Berto um contrato de prestação de serviços,
por via do qual este se obrigava a efetuar uma reparação no veículo automóvel de que
António é proprietário, pelo preço de € 1.500,00. Nessa ocasião, as partes acordaram que
António entregaria de imediato a Berto o veículo automóvel em causa e, bem assim, que

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a reparação ficaria concluída no prazo de dois dias, data em que António procederia ao
levantamento do seu veículo, contra o pagamento do preço devido pela reparação.
Ocorre, porém, que, dois dias depois, quando António se dirigiu à oficina de Berto a fim
de proceder ao pagamento do preço devido pela reparação e ao subsequente levantamento
do seu veículo automóvel, este recusou-se a restituir o veículo em causa, proibindo,
simultaneamente, o acesso de António ao interior das instalações oficinais.
a) Sabendo que António carece de utilizar diariamente esse veículo automóvel por
motivos familiares e profissionais haveria algum meio processual ao seu dispor,
suscetível de permitir a recuperação, ainda que provisória, da posse do veículo?
Se entendermos que houve esbulho violento, a providência é a providência especificada
de restituição provisória da posse (art. 377.º do CPC); sem violência, era possível o
decretamento de uma providência nos termos gerais, uma providência cautelar comum-
o 379.º CPC prevê essa possibilidade.
Para caber no artigo 377.º, teria de alegar e provar: a posse (art. 1251.º CC- dois
elementos da posse, o corpus e o animus possidendi); o esbulho e que o esbulho foi
violento.
Quem tem legitimidade para intentar essa providência cautelar? O sujeito que arroga ter
sido esbulhado que tinha a posse em nome próprio. A legitimidade ativa resulta da posse
em nome próprio e a legitimidade passiva corresponde a quem esbulhou e a quem
impediu ao proprietário para usufruir da sua posse.
A doutrina e a jurisprudência no conceito de esbulho divide-se relativamente a se pode
só incidir sobre pessoas ou também sobre bens. Para uma corrente mais restritiva só pode
haver esbulho sobre pessoas (recorremos à definição do artigo 1261.º, n.º 2 do CC que
considera violenta a posse quando o possuidor usou de coação física ou de coação moral);
para uma corrente mais ampla a violência no esbulho pode recair também sobre coisas
desde que suscetível de atingir, ainda que de modo indireto, a pessoa do possuidor,
coagindo-o a suportar uma situação contra a sua vontade.
No nosso caso, apesar de não ter sido exercida diretamente nenhuma violência sobre a
pessoa, António, à luz da tese mais ampla, o esbulho pode ser considerado violento se se
entender que a retenção forçada do veículo, associada ao facto de o António ter sido
proibido de entrar no interior das instalações, é suscetível de provocar junto do António
um sentimento de ameaça e intimidação. A resposta vai depender de aderirmos ou não a
uma tese mais ampla ou restritiva.
O direito de pedir a restituição da posse caduca passado um ano sobre a data do esbulho
ou do conhecimento do esbulho pelo esbulhado (no caso de o esbulho ter sido feito às
escuras)- art. 1282.º do CC. O prazo não começa a correr enquanto o esbulho não cessar-
art. 1267.º do CC.
b) Poderia o juiz inverter o contencioso mediante o requerimento de António nesse
sentido?
Para o tribunal a decretar tem de ter uma convicção segura sobre a existência do direito,
se for esse o caso e mediante requerimento, esta é uma providência que é apta para realizar

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a composição definitiva do litígio porque é antecipatória. Art. 376, n.º 4 CPC- a resposta
é que sim. Isto entendendo-se que houve violência.
c) Suponha que o juiz decretou a restituição provisória da posse e decidiu inverter o
contencioso. Como poderia Berto reagir perante essas duas decisões?
A reação face à inversão do contencioso consoante tenha havido ou não diferimento do
contraditório:
Se for a providência cautelar especificada tem uma especificidade, caso em que o
contraditório é diferido- art. 372.º, é um sancionamento da violência. Nos termos do n.º 2
do artigo 372.º, do 369.º, n.º 2, 2.ª parte e 370.º, n.º 1, Bento pode recorrer da decisão da
inversão do contencioso, mas conjuntamente com a decisão do decretamento da
providência.

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13/11/2019
As questões n.ºs 5 e 6 do caso n.º 5 não foram resolvidas na aula.
 Caso n.º 6: Pressupostos processuais
Maia Som, Lda., sociedade comercial sediada na Maia, celebrou um contrato pelo qual
se obrigou a fornecer, durante oito meses, determinada quantidade de «Cd-Roms» a Vox
Editora, Lda., com sede em Faro.
Desde março de 2018 a vendedora deixou de fazer as entregas contratualizadas, situação
que causou a Vox Editora, Lda, até ao momento da proposição da ação, prejuízos no
valor de €12 876, 00, incluindo juros vencidos.
Esta última sociedade comercial resolveu o contrato de fornecimento, após diligências –
que se revelaram infrutíferas – junto da fornecedora para efetuar as prestações em falta.
Vox Editora, Lda, propôs ação de condenação contra a sucursal em Faro de Maia Som,
Lda, pedindo o pagamento dos aludidos € 12 876, 00, a que acrescem os juros que se
vencerem até à reparação integral dos prejuízos causados.
Na contestação, a Ré arguiu a sua incapacidade judiciária, visto tratar-se de uma simples
sucursal sem poderes decisórios a nível da empresa, e também a ilegitimidade da Autora,
por se tratar de uma sociedade comercial em liquidação, logo, sem poderes para conduzir
o processo.
1) Caracterize os elementos fundamentais da causa.
Elementos fundamentais objetivos e subjetivo: sujeitos, pedido e a causa do pedido. Parte-
se de uma noção formal de parte, as partes são, então: a autora é a Voz Editora, Lda. e a
ré é a sucursal em Faro da Maia Som, Lda. O pedido é uma pedido de condenação da ré
no pagamento da quantia de 12 876 €, é uma ação declarativa de condenação. Aquilo que
a autora pretende é que a ré seja condenada. A causa de pedido: pretende provar-se a
aplicação do instituto da responsabilidade civil contratual, estes prejuízos decorrem do
incumprimento do contrato. Tem de provar a existência do contrato, que o contrato foi
incumprido e a existência destes danos. São os elementos da responsabilidade civil é isso
que constitui a causa de pedir. O contrato e o respetivo incumprimento do contrato, desse
incumprimento resultam determinados prejuízos.
2) Qual forma de processo segue a presente ação?
Quanto à forma do processo, é uma ação declarativa, segue a forma de processo comum.
O valor da ação é de 12 876€ nos termos do artigo 297.º, n.º 1 CPC.
Ação declarativa especial para cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de
contrato com valor não superior a 15 000€- DL 269/98. Este diploma tem um anexo com
2 capítulos- no primeiro prevê esta ação declarativa especial- só se aplica nos casos
previstos no art. 1.º do documento preambular. Se for uma transação comercial não está
limitado aquele valor, no procedimento de injunção (cap II- não é nenhuma ação é um
procedimento que se destina a obter um título executivo). O requerimento dá entrada no
Balcão Nacional da injunção, o requerido é notificado- se não se opuser o requerimento
passa a ter força obrigatória (art. 14.º do diploma). Se se opuser dá origem a uma ação
declarativa.

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O valor no qual a autora pede que a ré seja condenada é de 12 876 €, inferior a 15 000€.
Ele não está a exigir uma prestação emergente do cumprimento do contrato, ele está a
exigir uma indemnização por não cumprimento do contrato. A autora é que tinha de pagar
o preço dos bens fornecidos, a sociedade-mãe podia intentar uma ação se não efetuasse o
pagamento, mas não é o que acontece aqui. Aqui é uma obrigação que resulta do
incumprimento do contrato. A causa de pedir é o contrato e o seu não cumprimento, mais
concretamente o não fornecimento dos bens, é daqui que decorre alegadamente o direito
de crédito de que a autora se arroga titular. O contrato não foi cumprido e isso causou um
dano. Exige uma ação pecuniária do valor da indemnização do prejuízo decorrente do não
cumprimento do contrato. Segue-se o processo comum.
3) Verifica-se a incapacidade judiciária da Ré com base no fundamento por ela
invocado?
Aqui o verdadeiro problema é de personalidade judiciária que diz respeito à
suscetibilidade de ser parte. Ao abrigo do art. 13.º as sucursais têm personalidade
judiciária quando o ato tenha sido por elas praticado. Neste caso o contrato foi celebrado
com a sociedade-mãe, não com a sucursal, portanto o ato em causa foi praticado pela
sociedade mãe. A Administração principal está sediada na Maia, assim não se aplica o n.º
2. Elas têm personalidade judiciária quando o facto tenha sido praticado por estas ou, não
tendo sido praticada, quando tenha sede ou domicílio no estrangeiro, está sediada na
Maia. Não está verificada a factis espécie do n.º 2. Não se verifica nem a hipótese legal
do n.º 1, nem a do n.º 2, neste caso não teria personalidade judiciária assim não podia a
ação ser contra si intentada, só contra a sociedade mãe.
A capacidade judiciária tem por base a capacidade de exercício dos direitos, as sociedades
comerciais têm-na de acordo com o princípio da especialidade e a sua representação dá-
se pelos órgãos normais de expressão da sua vontade, caso de representação orgânica- art.
25.º CPC.
Falta um pressuposto processual que é o pressuposto da personalidade judiciária, estamos
perante uma exceção dilatória. Foi uma contestação de defesa e o réu defendeu-se por
exceção dilatória ao invocar a falta de um pressuposto processual- art. 576.º; 577.º/1/c);
art. 278.º/1/c).
A falta de personalidade judiciária não é por regra sanável, mas ao abrigo do art. 14.º é
preciso que seja citada a administração principal e esta ratifique o processo, ou caso não
faça, que seja repetido o processado relativamente a todos os atos em que não teve
intervenção, contando-se novamente o respetivo prazo. Sendo sanável, por aplicação do
artigo 6º número 2, o juiz tem o poder-dever de oficiosamente ordenar a realização das
diligências necessárias ou convidar as partes para a regularização da instância, neste caso
era preciso ordenar que a Autora requeresse a citação da administração principal.
O tribunal deve providenciar pelo suprimento da exceção dilatória no despacho pré-
saneador- 590.º/2/a). Se não for regularizada a instância, deve, no despacho saneador,
absolver a ré da instância.
4) A circunstância de a Autora se encontrar em liquidação interfere com a legitimidade
ativa para a ação em curso*.

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160.º, 2 Código das Sociedades Comerciais: “A sociedade considera-se extinta,
mesmo entre os sócios e sem prejuízo do disposto nos artigos 162.º a 164.º, pelo registo
do encerramento da liquidação.”
160.º/2 CSC- é esta norma que nos leva para o artigo 162.º CSC. Ela adquire
personalidade jurídica nos termos do art. 12.º, no momento em que há registo definitivo
e depois considera-se extinta pelo registo do encerramento da liquidação, e aí aplica-se o
artigo 162.º. Art. 146.º CSC- ela liquida-se com o encerramento da liquidação.
Quanto ao facto de a autora estar em liquidação, aplicava-se esta norma, ela mantém a
personalidade jurídica e pelo princípio da equiparação continua a ter personalidade
judiciária, havendo liquidação, seria substituída pelos sócios, continua a ação-
importantes as normas 146.º e 162.º do CSC.
5) Em que fase do processo deve o juiz pronunciar-se sobre a defesa apresentada
por Maia Som, Lda.?
Seria na fase do saneamento- art. 595.º/1/a)- este é um despacho decisório, o tribunal vai
conhecer das exceções dilatórias que tenham sido invocadas pelas partes ou que deva
conhecer oficiosamente. Todavia, se for sanável, o juiz deve lançar mão do despacho pré-
saneador, deve promover a sanação, antes do saneador- art. 590.º, n.º 1- ordena a prática
de atos à regularização da instância ou convidando as partes a sanar. No saneador
pronuncia-se sobre isto, se não for sanada, absolve o réu da instância ou se for insanável
o resultado é o mesmo, se for sanada, continua o processo.
6) Será possível a sanação de algum dos aspetos em que essa defesa se
fundamentou?
A ré, neste caso, não teria personalidade judiciária, a suscetibilidade de ser sujeito da
relação processual e, portanto, de na sua esfera jurídica se fazerem sentir os efeitos da
decisão. Em princípio não é sanável, mas será neste caso de acordo com o art. 14.º- fica
sanada se a autora promover a citação da administração principal dentro do prazo que o
juiz concedeu para esse fim ao abrigo do artigo 6.º/2 e no processo pré-saneador, sob pena
de absolver da instância a sucursal- 278.º/1/c e 577.º/c. Uma vez citada a administração
principal deve distinguir-se a atividade produzida em juízo seja ou não por si ratificada.
Se for, o processo seguirá os seus termos como se a parte preterida tivesse intervindo
desde o início, se não correm de novo os atos previstos para os atos não ratificados-
14.º/parte final.
Questão de saber qual é a consequência que decorre do facto de administração principal
não dizer nada no prazo concedido pelo tribunal para ela definir a sua posição. Ela vai ser
citada com a indicação que deverá pronunciar-se acerca da ratificação ou não do
processado- art. 227.º/2. Tavares Sousa diz que há uma recusa tácita de ratificar e adverte
ainda para o facto de que se a administração principal se recusar a ratificar o processado
ainda que tacitamente mas não promover a renovação dos atos que tiverem ficado sem
efeito se deve aplicar o regime em termos paralelos do art. 29.º, n.º 2, parte final.
7) Imagine que a Autora moveu a ação contra Artur Marques, gerente de Maia
Som, Lda. Quais são as partes da ação?

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É um sociedade comercial seria representada pelos seus associados. A ação foi intentada
contra o gerente da sociedade. As partes na ação serão: a autora que é a Voz Editora e o
réu que é o Artur Marques. Os sujeitos da relação material controvertida, são a Vox e a
Maia Som, tal como são apresentados pelo autor. A sociedade incumpriu o contrato, tem
legitimidade para pedir a indemnização, ou seja, a legitimidade passiva pertente à
sociedade, aqui era um problema de falta de legitimidade processual. A consequência
seria a absolvição da instância deste gerente. A falta de legitimidade não é sanável.
8) A ação é admissível?
Artur Marques não é sujeito na relação material controvertida, tal como foi configurada
pela Autora e ele não estava a atuar como representante da empresa pelo que temos uma
exceção dilatória ao abrigo do art. 30.º, n.ºs 1 e 3.
20/11/19

 Caso n.º 7: Pressupostos processuais


CONFEÇÕES – T, LD.ª, propôs uma ação em que pediu a condenação de UNIX, S.A., no
pagamento da importância de € 134 738, 00, correspondente aos prejuízos que alegou ter
sofrido com o não cumprimento pela Ré do contrato celebrado entre ambas as partes. Nos
termos desse contrato, segundo o alegado na p. i., UNIX, S.A. tinha-se obrigado a fornecer
mensalmente a CONFEÇÕES – T, LD.ª, durante o período de dois anos, 850 metros de
tecido para confeção de peças de roupa que a Autora destinava à exportação. Sem aviso
prévio, as entregas do mencionado tecido foram interrompidas ao fim de oito meses, o
que levou a Autora a optar pela resolução do mencionado contrato. Agora, CONFEÇÕES
– T, LD.ª pretende ser ressarcida dos prejuízos resultantes do não cumprimento, que
considerou atingirem o valor da importância peticionada, à qual acrescem juros de mora
contados à taxa legal, a partir da citação da Ré e até ao pagamento integral do montante
da condenação.
Na contestação, UNIX, S.A. alegou que, como a Autora bem sabia, o tecido em questão é
fabricado pela empresa espanhola VORTEX, S.A.. A Ré foi incumbida pela Autora de
funcionar como intermediária nos contactos a estabelecer com a empresa fabricante do
tecido, sendo o contrato de fornecimento concluído, na realidade, entre CONFEÇÕES – T,
LD.ª e VORTEX, S.A.. Em conformidade com o exposto na contestação, a Ré pediu a
absolvição do pedido.
O Tribunal, depois de analisada a prova, convenceu-se de que a Ré interviera no contrato
como simples intermediária, que pusera em contacto a Autora com a sociedade espanhola
fabricante do tecido. Perante isto, considerou que tinha sido levantada na defesa a questão
da ilegitimidade passiva e, por isso, absolveu UNIX, S.A. da instância na sentença final.
A ré disse que fora mera intermediária, o contrato de fornecimento foi na verdade
celebrado com a Confeções e a Vortex, então não é parte daquela relação material
controvertida. Importa aqui o artigo 39.º do CPC, a Confeções Lda podia deduzir um
pedido subsidiário contra Vortex S.A. em caso de dúvida, ficava numa posição de reserva
estratégica, mas isso não aconteceu. Entretanto, perante a contestação apresentada pela
Ré o que podia a autora fazer? A contestação veio suscitar a dúvida sobre quem faz parte
da relação controvertida podia recorrer à intervenção provocada do art. 316.º, n.º 2.

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Perante a dúvida, a autora podia chamar a Vortex, SA através do incidente da intervenção
provocada atendendo ao art. 39.º. Mas isso também não aconteceu.
O tribunal chega à conclusão que efetivamente as partes da relação processual não
coincidem com as partes da relação material. Depois de produzida prova o tribunal chega
a esta conclusão. A questão que nasce daqui é saber se a ré, Unix, tem ou não legitimidade
processual. Isso tem influência na decisão a tomar pelo tribunal perante a conclusão a que
chegou. Importa para saber se absolve a ré do pedido ou se absolve a ré da instância. Na
absolvição do pedido, o tribunal toma uma decisão de mérito- há uma absolvição total do
pedido, contratualmente a ré não pode responder por um incumprimento de um contrato
que não celebrou. Esta decisão, uma vez transita em julgado, vai dar lugar a um cado
julgado material. A decisão transita em julgado quando não é suscetível de recurso
ordinário ou de reclamação- art. 628.º. O caso julgado material tem força fora e dentro do
processo- art. 619.º. Quer dizer que a autora não podia intentar uma ação com o mesmo
pedido, causa de pedido e com as mesmas partes, sob pena de nessa nova ação faltar um
pressuposto processual negativo, o pressuposto negativo da ausência de caso julgado-
arts. 278.º, n.º 1, al. e); 577.º, al. i); arts. 580.º, 581.º (definição de caso julgado, muito
importante) e 582.º CPC.
Caso em que há dois casos julgados materiais ou formais contraditórios- art. 621.º CPC-
dá-nos resposta, prevalece o primeiro.
Já na absolvição da instância, o tribunal toma uma decisão sobre a relação processual,
forma-se um caso julgado formal que tem força dentro do processo- art. 620.º
O tribunal deve tomar uma decisão sobre o mérito da causa desde que se verifiquem os
pressupostos de admissibilidade processual, o pressuposto que aqui estamos a tratar é o
pressuposto da legitimidade singular passiva. Se entendermos que a Unix SA tem
legitimidade processual, o tribunal deve absolver do pedido. Se entendermos que não,
sem prejuízo do art. 278.º CPC, o tribunal não deve entrar no mérito da causa.
1) Caracterize os elementos fundamentais da causa.
Elemento subjetivo: Partes- a Confeções T. Lda e a Unix, S.A.
Elementos objetivos:
Pedido- pedido de condenação ao pagamento da quantia indemnizatória. É uma ação
declarativa de condenação. O efeito jurídico pretendido é a imposição de um dever de
prestar.
Causa de pedido- o incumprimento do contrato, o não fornecimento do tecido, foi nisso
que consistiu o respetivo incumprimento que constitui a causa desse pedido.
2) A absolvição da instância fundada na ilegitimidade processual pode ter lugar
na sentença final ou deve essa decisão ser proferida em fase processual anterior?
Sim, nos termos do artigo 608.º, n.º 1 CPC. Não era desejável que chegasse a este
momento, mas pode acontecer. Não faz muito sentido porque se tinha de admitir toda a
tramitação processual para nada.
3) Como aprecia a decisão do Tribunal proferida na sentença?

29
A Unix tinha legitimidade processual nessa medida devia ser absolvida do pedido e não
da instância. Concluímos que tem legitimidade, apesar de não ser parte da relação
controvertida, por causa da segunda parte do art. 30.º/3 que resultou de uma discussão
doutrinal na qual o legislador tomou posição neste atual artigo 30.º. Há uma pluralidade
subjetiva subsidiária, o interesse para a aferição do pressuposto da legitimidade
processual é o interesse- titularidade que é definido nos termos do art. 30.º/3, os titulares
da relação material controvertida. Se houvesse um ponto final aqui não teria legitimidade
processual, porque só teria legitimidade processual quem tinha legitimidade material, os
conceitos coincidiam. Mas há um acrescento: tal como configurada pelo autor. Assim
parte-se da titularidade da relação material controvertida, mas como essa foi configurada
pela autora. E a autora configurou-a da forma que vimos, alega que celebrou o contrato
com a ré. Aplicam-se as regras de titular de direito material, partindo da configuração a
ré responde materialmente.
A conclusão é que a Unix SA tinha legitimidade processual, mas não material, logo, deve
ser absolvida do pedido que contra si foi intentado. Partindo da lei, a relação material é
uma condição da ação e não um requisito de admissibilidade- a ação só pode ser julgada
procedente se ela é efetivamente parte da relação material controvertida, é um requisito
de procedibilidade e não de admissibilidade.
4) Teria UNIX, S.A. interesse processual na interposição de um recurso?
Art. 631.º, n.º 1- A Unix ocupa a posição da ré, ocupa posição principal na ação. A ré foi
absolvida da instância, formalmente não ficou vencida, foi absolvida. O ponto é que foi
absolvida da instância quando deveria ter sido absolvida pela razões que vimos agora,
devia ter sido absolvida do pedido. O interesse que tem em recorrer tem a ver com a força
dos respetivos caso julgados, porque o caso julgado material ao contrário do caso julgado
formal, não tem apenas força obrigatória dentro, mas também fora do processo dando
origem à exceção do caso julgado. Ele devia ter obtido um caso julgado material. Então
poderia interpor um recurso, pediu para ser absolvido do pedido, mas foi só da instância,
entende-se que pode recorrer.
5) De que forma poderia CONFECÇÕES – T, LD.ª garantir o efeito útil daquela
concreta ação?
A ré foi absolvida da instância. Aplicação do artigo 279.º, n.º 2- podem aproveitar-se os
efeitos anteriores à nova ação.
Nota: Os recursos ordinários são o recurso de apelação e o recurso de revista. O recurso
extraordinário pode ocorrer no prazo de 5 anos- só aí fica efetivamente cristalizada a
decisão.
27/11/19

 Caso n.º 8: Pressupostos processuais


F propôs contra G ação em que pediu o reconhecimento do seu direito de propriedade
sobre determinado imóvel e a condenação do R. na respetiva entrega ao A. em resultado
da procedência do pedido- ação de reivindicação- 1311.º CC. Requereu, ainda, que fosse
cancelado o registo de propriedade existente em nome de G. Na petição inicial, expôs um

30
conjunto de factos tendentes a demonstrar a aquisição daquele prédio por usucapião
(artigos 1293.º e ss. CC). A usucapião é uma forma de aquisição originária.
Contestou G, que alegou ter adquirido validamente a H o referido imóvel, mediante
escritura pública (art. 875.º CC) lavrada em 20 de Novembro de 2018- é um contrato de
compra e venda formalmente válido (o requisito de validade formal foi verificado), pelo
qual pagou o preço de € 225 600, 00, mostrando-se efetuado a favor do adquirente o
registo da propriedade. Por conseguinte, a ação devia ter sido proposta contra a pessoa
que vendeu o prédio ao R., ou seja, contra o indicado H, uma vez que foi este quem
invocou a qualidade de proprietário do imóvel em questão, conforme se alcança do teor
da escritura pública junta à contestação e que faz prova plena quanto a essa facto. Logo,
o R. (G) devia ser absolvido da instância, visto a legitimidade passiva pertencer a H, pois,
no caso de ação proceder, é sobre ele que recai a obrigação de restituir ao comprador (G)
o preço recebido (art. 894.º, 1 CC) e o dever de indemnizá-lo dos prejuízos causados (art.
898.º a 900.º CC).
Em despacho proferido no dia 25 de setembro de 2019, o Tribunal suspendeu a instância
e ordenou à secretaria que promovesse a citação de H para vir ao processo ocupar a
posição de co-réu, junto de G. Na fundamentação desse despacho invoca-se, como
argumento central, que o caso presente envolve, do lado passivo, uma situação de
litisconsórcio necessário resultante de a decisão a proferir só poder regular
definitivamente as questões da validade da venda, da restituição do preço e da
indemnização se G e H ocuparem simultaneamente a posição de Réus.
Alega o réu que se esta ação proceder, ele réu, terá um direito contra o H. O direito à
restituição do preço.
O objetivo da ação é a restituição do bem. Assim é uma ação de reivindicação que tem
por base um direito, neste caso o direito de propriedade e é isso que permite que seja
condenado à restituição. É a ação típica dos direitos reais. A causa de pedido é o facto
jurídico de que deriva o direito de propriedade- a aquisição do prédio por usucapião. Para
a que a ação seja julgada procedente, o autor tem o ónus de alegar e provar os factos de
que deriva a aquisição por usucapião. Tem o ónus de provar o facto, são os factos
constitutivos. O autor põe em causa os factos constitutivos do direito. A usucapião
consiste em ter a posse do bem durante um determinado período temporal estabelecido
no CC.
Para ser um direito por impugnação o réu tinha que negar a verdade destes factos. Se ele
não impugna o facto, há uma admissão pelos factos. Confessar um facto é admitir a
realidade de um facto desfavorável ou negar a verdade de um facto favorável. Em
observância do ónus de impugnação especificada conduz à admissão do ónus.
Defesa por exceção perentória, ele vem dizer que não tem legitimidade para figurar
como parte na ação, outra pessoa é que seria parte legítima, por isso pede absolvição da
instância. Situa a sua defesa no plano da admissibilidade do processo.
Do ponto de vista das posições materiais. Tem de se saber o momento da prescrição
aquisitiva. O F alega que num determinado momento temporal operou a usucapião e
depois o H vendeu ao G. A aquisição do F, partindo da sua alegação, é uma aquisição
originária, ou seja, significa que ele não adquiriu de ninguém. A posição de H é uma

31
posição real, mas a partir do momento em que F adquire originariamente, o direito de H
extingue. Só na compropriedade pode haver vários proprietários.
Se ele conseguir provar dos requisitos de que depende a aquisição originária, quando H
vende o bem a G, é uma venda a non domino. O facto de haver registo a favor de F não
significa que ele tenha o direito.
Quem tem legitimidade ativa é F, é o proprietário, segundo aquilo que o autor alega.
Quem tem legitimidade passiva é o possuidor ou mero detentor- 1311.º CC- quem tem o
animus possidendi que é G. Se a ação proceder, o réu tem um direito sobre H, à restituição
do preço, tem de intentar uma nova ação contra H. Nessa ação, H não pode defender-se
dizendo que a propriedade é sua porque está vinculado pela decisão anterior que fixa a
propriedade como de F. Isso vai relevar nessa nova ação.
Relativamente à segunda parte já vimos que a questão da restituição do preço por G a H
não integra o objeto do processo. Por um lado, não se verifica aqui nenhuma situação de
litisconsórcio necessário, a questão não integra o objeto do processo, não há aqui
litisconsórcio nenhum. Se existisse litisconsórcio necessário, o tribunal devia convidar as
partes a suprirem a falta dos pressupostos já que não pode o tribunal oficiosamente
ordenar a citação- art. 6.º/2/2.ª parte. As partes para a sanação da instância recorriam ao
incidente da intervenção provocada. O tribunal devia ordenar esse suprimento (590.º/2/a)
no despacho pré-saneador.
1) Analise o pedido, as partes e a causa de pedir.
1.1) Como se qualifica o pedido ou os pedidos dirigidos contra o Réu?
Nos termos do artigo 1311.º do CC, a ação de reivindicação não é uma ação com duplo
pedido é uma ação unitária em que aquilo que sustenta o pedido de condenação é o
reconhecimento do direito. A questão do reconhecimento do direito de propriedade
precede a consideração da questão da condenação à entrega. Como refere o Prof Tavares
de Sousa: o legislador traçou no n.º 1 do art. 1311.º do CC um modelo de ação de
reivindicação que proporcionou um reconhecimento, embora incidental, do direito de
propriedade.
É uma ação de condenação, embora tenha um momento prévio de simples apreciação que
tem a ver com o reconhecimento do direito de propriedade ou de outro direito real de
gozo, mas no caso seria direito de propriedade e depois a restituição da coisa tem por base
esse reconhecimento do direito.
1.2) Em que consiste a causa de pedir? Qual o critério seguido pelo legislador na
sua definição? Identifique este elemento da instância na hipótese apresentada?
Se o pedido consiste no efeito jurídico que o autor pretende obter, solicitação de tutela
jurídica que o autor dirige ao tribunal, por causa de pedir deve-se entender os factos que
permitem sustentar uma qualquer regra jurídica que suporte o pedido. Por exemplo, A
pede a anulação do contrato, é uma ação constitutiva extintiva, a causa de pedido será
integrada pelos factos que permitem integrar uma das causas de anulação do contrato. Se
o autor alega que o réu o ameaçou fisicamente caso não celebrasse o contrato- situação
de coação moral. A causa de pedir não é a anulabilidade, a causa de pedir é integrada
pelos factos que integram esta situação de coação moral.

32
Para resolver esta questão temos de fazer referência à matéria do caso julgado.
Confrontam-se duas teorias fundamentais:
Teoria da individualização- bastava ao autor indicar o pedido com, com que todas as
possíveis causas de pedir podiam ser consideradas no processo. Ou seja, se a resposta à
pretensão deduzida pelo autor fosse afirmativa ou fosse negativa, a sentença decidia em
absoluto sobre a existência ou inexistência da situação jurídica afirmada pelo autor. No
nosso exemplo, se a ação improcedesse ficariam improcedentes todas as causas de
anulação.
Teoria da consubstanciação: a afirmação da situação jurídica tem de ser fundada em factos
que exercem a função de individualizar a pretensão, com efeito de conformação do objeto
do processo. O caso julgado fica limitado aqueles concretos factos que integram a causa
de pedido. O nosso Código segue esta teoria, como é visível no artigo 552.º/1/d).
Releva nesta matéria atender ao disposto no artigo 581.º/4. Esta é uma ação real, assim a
causa de pedir é constituída pelos factos que integram o usucapião. O pedido é a entrega
da coisa e o registo.
1.3) Como se qualifica a presente ação: petitória ou possessória?
Esta é uma ação petitória, são aquelas em que o autor age em defesa de um direito, neste
caso do direito de propriedade- 1315.º CC. Nas possessórias, o autor age em defesa da
posse. A de reivindicação é petitória.
2) Qual a fase do desenvolvimento da ação em que se integra o despacho proferido a
25/09/2019? Que função lhe está destinada dentro da instância?
É a fase de condensação e saneamento do processo, a que o Código chama desde 2013
fase da gestão inicial do processo e da audiência prévia, é uma fase que se destina a
identificar as questões de facto e direito mais relevantes e se destina a averiguar a
regularidade da instância. Inicia-se com o despacho pré-saneador e termina com o
despacho saneador.
3) Como se determina a legitimidade ativa na ação sob análise?
Ela determina-se segundo o critério geral do artigo 30.º/3, deve ser o alegado proprietário
a agir em juízo, F teria legitimidade ativa, ele é o alegado proprietário. Ele terá o ónus de
provar os factos constitutivos do direito.
4) Em que termos se afere a legitimidade passiva, quanto ao pedido de condenação
formulado por F?
Nos termos da norma 1311.º do CC, dispõe de legitimidade passiva para esta ação de
reivindicação qualquer possuidor ou detentor da coisa. A ação, contudo, há de estruturar-
se de modo diferente se se tratar de possuidor ou de mero detentor porque o mero detentor
não se arroga titular de nenhum direito ao contrário do possuidor, já que a posse pressupõe
o animus, isto é, o exercício de poderes de facto como se fosse proprietário.
No primeiro caso o autor pedirá a restituição da coisa, no segundo caso, apenas a entrega.
O mero detentor poderá chamar à ação a pessoa em nome de quem possuí através do
incidente da intervenção principal provocada ou através do incidente da oposição. Um

33
coisa é se o réu estiver disposto a cumprir aquilo que o autor pede, mas não sabe a quem
tem de cumprir, outra coisa é o réu ter que discutir a existência do direito.
5) A contestação apresentada por G altera o modo como deve ser aferida a sua
legitimidade para a ação?
Não é o caso aqui. Tem legitimidade passiva para a ação G, a contestação apresentada
pelo mesmo não vem afastar a sua legitimidade. Parte-se da configuração que o autor deu
da relação material controvertida e quem estava na posse do bem era G. Nada do que o
réu alega põe em causa a sua primitiva legitimidade, introduz é novos elementos que
permitem o ingresso de H na ação.
6) Perante os termos em que a questão se apresenta após a contestação, que incidente de
intervenção principal se mostra adequado para acautelar os direitos que G refere no seu
articulado de defesa? De que mecanismo ou mecanismos processuais dispõe G para
assegurar os direitos que invoca na contestação?
O H não tem legitimidade como parte principal nos termos da contestação intentada por
G, H não é proprietário, não tem legitimidade para a ação. G não vem dizer que o
proprietário é H, aí já podia ser chamado, mas não é nada disso que aqui se passa. Poderá
ser introduzido o incidente da intervenção acessória- art. 321.º, para que a sentença
vincule o assistente- art. 332.º ex vi 323/1.
7) Qual o prazo de que G dispõe para a respetiva dedução?
É o prazo da contestação- art. 322.º, n.º 1.
8) Que apreciação lhe merece a análise do problema da legitimidade passiva feita no
mencionado despacho de 25-09-2019 e a solução que lhe foi dada?
A questão da restituição do preço não integra o objeto do processo, não há nenhum
litisconsórcio necessário passivo, é uma relação material distinta. Por outro lado, já vimos
que mesmo que existisse litisconsórcio necessário, uma vez que a regularização da
instância depende de um ato praticado pelas partes, estaria em causa o ingresso de uma
nova parte no processo, o que pressupõe o recurso ao incidente da instância da intervenção
provocada, não estando nas mãos do tribunal regularizar a instância oficiosamente, deve
convidar as partes a fazê-lo- art. 6.º, n.º 2, 2.ª parte.
9) Admitindo que G era menor e que havia sido citado em exclusivo para a ação, que
decisão deveria proferir o tribunal?
O problema coloca-se ao nível da capacidade judiciária- art. 15.º. Os menores têm
capacidade de exercício de direitos salvo as exceções do artigo 127.º do CC. O modo de
sanar esta incapacidade é através da representação, por regra, dos seus pais- art. 16.º. O
tribunal devia ordenar a citação simultânea dos pais de G e teria de correr novamente o
prazo para a contestação. A falta de capacidade judiciária pode e deve ser sanada
oficiosamente através do despacho pré-saneador, por regra não existe despacho liminar,
o juiz só tem contacto com o processo após a fase dos articulados. Esta é sanável
oficiosamente ao contrário do exemplo anterior.
04/12/2019

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 Caso n.º 9: Legitimidade processual
A propôs ação contra D em que pediu que lhe fosse reconhecido o direito de propriedade
e, consequentemente, ordenada a entrega de um prédio rústico que o R. havia comprado
a C. Alegou que lhe cabia a preferência na aquisição, dado que o terreno vendido por C
a D se encontra encravado, estando o prédio confinante, de que é proprietário o A.,
onerado com servidão de passagem constituída em benefício do terreno comprado por D.
Invocou como base legal da sua pretensão o disposto no artigo 1380.º, 2, a) CC.
Resulta do artigo 1380.º- que este tem direito de preferência na alienação no prédio
dominante.
Na contestação, D alegou que o prédio indicado na p. i. como sendo propriedade do A.
pertencia, na realidade, a A e a B, que eram os respetivos comproprietários. Juntou
certidão do registo predial para comprovar o alegado.
No despacho saneador, o tribunal absolveu D da instância, com fundamento na existência
de ilegitimidade ativa.
Era preciso que a ação fosse intentada por A e B, isto é, há aqui uma litisconsórcio
necessário ativo? Se assim for, ocorre aí uma exceção dilatória, falta um pressuposto
processual, o pressuposto da legitimidade plural que só está assegurado com a presença
simultânea na instância do lado ativo de A e B, por outras palavras, só a presença
simultânea de ambos podia regularizar a instância. O tribunal devia providenciar a
regularização da instância- art. 6.º /2. Para regularizar a instância é necessário (para o
tribunal reconhecer o mérito da causa) que ocorra uma modificação subjetiva da instância
que consiste no ingresso de uma nova parte na instância, no ingresso de B, que é
coproprietário deste prédio, através dos incidentes de intervenção de terceiros. Estamos a
partir do pressuposto que existe um litisconsórcio necessário. Trata-se da intervenção de
um sujeito como parte principal, para ocupar um lugar ao lado de uma das partes
primitivas através do incidente da intervenção principal. A regularização da instância
tanto podia ocorrer através da intervenção principal provocada como espontânea. Tanto
o autor como o réu podem ter iniciativa de desencadear este incidente. O tribunal não
pode ordenar oficiosamente a citação de B, o juiz utilizaria o despacho pré-saneador para
providenciar a regularização da instância- art. 6.º/2 e 590.º/2/a).
Se não fosse regularizada, devia absolver o réu da instância no despacho saneador-
595.º/1/a)- o tribunal conhece das exceções dilatórias e das nulidades processuais que
sejam de conhecimento oficioso ou de conhecimento pelas partes. É de conhecimento
oficioso- 578.º, mas o réu provocou o conhecimento do tribunal desta matéria, mas
independentemente disso, é de conhecimento oficioso.
1) Como se qualifica a ação proposta por A contra D, em atenção ao critério utilizado no
art. 10.º, 3, do CPC?
O autor tem um direito potestativo de aquisição. Tratando-se de um direito legal de
preferência (o direito de preferência pode ter fonte legal ou convencional), permite ao
sujeito intentar uma ação de preferência, não é uma ação de reivindicação- art. 1380.º, n.º
2, al. a) do CC. A ação de reivindicação (que é uma ação petitória) está em contradição
com a de preferência- a de reivindicação pressupõe que o proprietário ou titular de outro

35
direito real de gozo haja ficado privado do domínio fáctico da coisa, já a segunda,
pressupõe que um não proprietário, pelo efeito da sentença, se torne proprietário. Como
efeito da sentença de mérito ele torna-se proprietário, mas ele não tem o direito de
propriedade, só de preferência, o pedido está mal formulado, portanto, tem de se olhar ao
pedido e fixar-se o seu sentido juridicamente relevante. O autor deve indicar a causa de
pedido e o pedido na petição inicial- art. 552.º/1/d) e, neste caso, a causa de pedir nesta
ação é a alegada violação do direito de preferência. Esta é uma ação de preferência- 1380.º
CC- é uma ação constitutiva. Aqui a mudança consiste na colocação do preferente na
posição jurídica da preferência.
Há uma figura que vamos estudar no 2.º semestre que é a inaptidão da petição inicial, um
dos casos que a gera é a contradição entre o pedido e a causa de pedido. Quando a petição
inicial sofre deste vício isso faz com que todo o processo seja nulo, não se salva sequer a
peça do primeiro processo que é a petição inicial, cai, gera a nulidade de todo o processo
que é uma exceção dilatória- arts. 577.º/b), 278.º/1/b) e 186.º/2/b) (artigo da ineptidão).
Podia levantar-se aqui esse problema. Pede o autor que seja reconhecido o seu direito de
propriedade quando na verdade a causa de pedir é o direito de preferência, não há dúvida
que há uma contradição. A solução aqui podia ser esta, mas são casos mais graves.
Noutras situações o juiz pode convidar a que o autor esclareça o articulado. Mas aqui
entende-se, consegue-se interpretar o sentido útil da petição inicial, assim não parece que
resultaria nesta exceção dilatória que é insanável e que ia resultar na absolvição de
instância do réu.
2) A que figura processual dá origem a ilegitimidade plural ativa?
Dá origem a uma exceção dilatória- art. 577.º, al. e), devendo o juiz de abster-se de
conhecer o pedido e absolver o réu da instância- art. 278.º/1/d)- não sem antes convidar à
respetiva regularização- art. 6.º/2.
3) Se não houver recurso da decisão proferida no despacho saneador, que tipo de caso
julgado se produz?
Produz-se um caso julgado formal porque se trata de uma decisão que incide sobre a RJ
processual- art. 620.º com força obrigatória apenas dentro do processo, ou seja, não
obstando à proposição de uma nova ação com o mesmo objeto- art. 628.º.
4) Perante os elementos fornecidos, existirá na situação presente ilegitimidade ativa?
Estamos perante uma situação de litisconsórcio ou de coligação? Trata-se de um RJ com
pluralidade de partes, assim litisconsórcio. O litisconsórcio por regra é voluntário, mas
poderá ser necessário se isso ocorrer de um negócio jurídico ou da lei. Neste caso,
independentemente de ser ou não necessário, B podia sempre intervir, ele tem
legitimidade para ser parte principal. Se fosse voluntário, podia ser chamado apenas para
o réu, se fosse necessário podia ser chamado quer pelo réu, quer pelo autor, isto porque
havia uma exceção dilatória e que podia ser sanada por ambos.
Por ser uma ação de preferência- art. 419.º/1 CC- pertencendo o direito de preferência aos
vários titulares, só pode ser exercido por todos, temos aqui um litisconsórcio necessário
de fonte legal por disposição expressa na lei.

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Se fosse uma ação de reivindicação- 1405.º/2- cada comproprietário tem legitimidade
para sozinho reivindicar a coisa comum, é uma hipótese de legitimidade extraordinária-
um sujeito que tem uma quota parte está legitimado a agir sozinho. Depois é a situação
do caso julgado da lide.
Existe uma situação de ilegitimidade ativa porque a lei impõe neste caso a presença dos
vários titulares do direito de preferência que resulta do 419.º/1 do CC e assim a
legitimidade só estaria assegurada com a presença simultânea de A e B.
5) Se a resposta for afirmativa, que decisão devia proferir o tribunal e em que momento?
Tratando-se de uma falta sanável de pressuposto processual, implica essa sanação uma
modificação subjetiva da instância através da intervenção de uma nova parte. Assim, o
que podia fazer era convidar as partes para regularizar a instância no despacho pré-
saneador (art. 590.º/2/a) CPC), despacho eventual e tem como uma das possíveis funções
justamente esta, o exercício do poder-dever previsto no art. 6.º/2. A sanação poderia ser
feita quer por iniciativa do autor, quer por iniciativa do réu – artigos 316.º, n.º 1 e 311º.
Podia também fazê-lo no despacho liminar, que pode existir ou por força da lei ou por
determinação do juiz- 591.º e 226.º/4. A exceção é de conhecimento oficioso assim podia
convidar logo o autor a fazê-lo aqui sob pena de indeferimento liminar.
Pode conhecer de exceções dilatórias também na sentença final e ainda através de
despacho inominado.
6) Não houve recurso do despacho saneador em que D foi absolvido da instância. Será
ainda possível a regularização do pressuposto processual que o tribunal considerou
encontrar-se em falta?
Se não foi interposto recurso, a decisão já transitou em julgado- art. 628.º. Aqui temos de
olhar ao art. 261.º, n.º 2 CPC- a instância ainda pode ser regularizada nos 30 dias
subsequentes e considera-se a instância renovada, mas continuam a ser condenados nas
custas do processo. O art. 318.º/1/a)- relativo ao chamamento de terceiro, chama a atenção
para este artigo anterior. O chamamento está sujeito a despacho liminar- art. 226.º/4/d)
Continuação
Agora, admita que, no despacho saneador, o tribunal se pronunciou no sentido da
existência da legitimidade de A, sem necessidade de qualquer intervenção de B na
instância, baseando-se no argumento da analogia com o disposto no art. 1405.º, 2, CC.
7) Como se caracteriza a legitimidade processual prevista no art. 1405.º, 2 CC?
Trata-se de um situação de legitimidade extraordinária. Em que alguém, que não é o único
titular da respetiva posição jurídica, é autorizado a agir sozinho ou a conduzir sozinho a
ação destinada à sua defesa. Em matéria de compropriedade vale a regra de que todos os
comproprietários exercem em conjunto os direitos que pertencem ao proprietário
singular- 1405.º/1
Todavia para a reivindicação da coisa comum atribui o legislador legitimidade
extraordinária, cada um pode reivindicar a comum.
Como lugar paralelo ver os atos relativos à herança- art. 2091.º; 2068.º/1.

37
8) Quais limitações decorrem dessa legitimidade, no que respeita à eficácia da decisão
final de mérito?
Se a decisão for desfavorável os demais titulares dessa RJ podiam intentar novas ações.
Caso julgado segundo o resultado da lide- caso julgado secundum eventu litis- caso
julgado favorável atingiria os restantes comproprietários, é uma forma de atingir o
objetivo de uniformidade sem impor um litisconsórcio necessário. Há uma litisconsórcio
voluntário ativo.
9) Terá sido correta a invocação do argumento da analogia, para nele se fundamentar a
inexistência do litisconsórcio necessário ativo?
Não há nenhuma lacuna, há uma norma expressa o art. 419.º/1 CC. Não faz sentido,
apenas há analogia na aplicação do art. 10.º, n.º 2 CC, isto é, se há razões justificativas da
regulamentação do caso previsto na lei, portanto, se há razões para estender ao caso não
expressamente previsto o previsto neste artigo.
Aqui não se estende, a razão de ser desta regra do 1405.º prende-se com o propósito que
é o propósito da ação de reivindicação de obter a reintegração do domínio físico do bem
uma vez turbada a posse. Tem como objetivo o de que haja uma correspondência entre o
titular jurídico e o possuidor do bem. É justamente para facilitar esta reintegração da
regularidade dominial, que a cada um dos comproprietários é conferido o poder de
isoladamente cada um dos titulares reivindicar a coisa. Não há nenhum paralelismo de
razão.
Continuação
Suponha que, no despacho saneador, o tribunal se limitou a absolver o R. D da instância,
com o fundamento de que havia ilegitimidade passiva, visto entender que a ação devia ter
sido também proposta contra C (vendedor do prédio dominante).
10) Que tipo de ilegitimidade estava em causa?
A ação deve ser só intentada contra o terceiro adquirente ou também contra o vendedor,
o C? Há litisconsórcio passivo? Por previsão expressa na lei não há. C vendeu a D, C é
que vendeu, era ele que estava obrigado a respeitar o direito de A. Contudo, A quer ocupar
a posição em que se encontra D. A doutrina diverge aqui. Se pretender indemnização por
violação da obrigação, tem de intentar também contra o obrigado. Se considerarmos uma
ilegitimidade passiva, estaríamos perante uma exceção dilatória (art. 278.º, al. d))- tinha
de absolver o réu da instância, mas não sem antes providenciar pela regularização da
instância- art. 6.º/2.
11) Que fundamento legal se podia invocar nesse sentido?
Este é o problema de fundo, saber se a ação pode ser intentada contra o terceiro adquirente
ou se só está assegurada com a presença em simultânea desde que o obrigado à preferência
esteja presente. Remete para a matéria de obrigações.
Ac. STJ 14/05/1991 Relator: Vassanta Tamba. Processo n.º 410/87- ler. É um ponto que
suscita dúvida. Conclui-se que este seria um caso de litisconsórcio necessário passivo.

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 Caso n.º 10: LITISCONSÓRCIO VOLUNTÁRIO PASSIVO – SOLIDARIEDADE
PASSIVA – CHAMAMENTO À INSTÂNCIA DO CONDEVEDOR SOLIDÁRIO
A é credor de D1 e de D2, encontrando-se a obrigação submetida ao regime da
solidariedade passiva.
Em ação declarativa sob a forma comum, o credor veio pedir a condenação de D2 no
cumprimento da totalidade da obrigação.
Findos os articulados, o juiz ordenou à secretaria que promovesse a citação de D1, com a
finalidade de ser sanada a ilegitimidade passiva e, assim, de se regularizar a instância.
Art. 317.º- importa aqui este artigo. São devedores solidários- D1 e D2.
O que o juiz não faz sentido. É um litisconsórcio voluntário porque o credor (resulta do
Direito material- art. 519.º/1 CC) pode exigir a prestação de cada um dos devedores pela
totalidade da dívida, a instância era perfeitamente regular, não há ilegitimidade. Ainda
mais errada é a decisão do tribunal porque mesmo em ilegitimidade o tribunal não podia
promover a citação do outro devedor, a sanação implicada a entrada no processo de uma
nova parte, aí a iniciativa de regularização da instância seria das partes, podendo apenas
o tribunal convidar as partes a fazê-lo- art. 6.º/2/2ª parte. Mas não era aqui o caso, não há
nenhuma irregularidade.
1) Em que fase do processo se localiza o mencionado despacho?
Fase do saneamento e condensação do processo/ fase da gestão inicial do processo.
2) A situação processual que se verifica do lado passivo integra-se no litisconsórcio ou
na coligação?
Litisconsórcio, é uma relação jurídica que pode ter uma pluralidade de partes.
3) Admitindo que existia ilegitimidade passiva, concorda com aquilo que o juiz
determinou?
Não, art. 6.º/2-a regularização da instância aqui depende de um ato das partes, parte final.
É uma situação de modificação subjetiva da instância nos termos do art. 262.º, al. b) do
CPC, devia convidar as partes a regularizar a instância dando-lhes um prazo para isso.
4) Como se qualifica a legitimidade processual do lado passivo? Havia alguma exceção
dilatória carecida de sanação?
O litisconsórcio é voluntário, assim não há nenhuma exceção a sanar. Neste caso, é o
próprio regime de Direito material que permite que seja exigida a um só dos
obrigados/condevedores solidários a totalidade da obrigação, devendo o tribunal conhecer
da totalidade do pedido- art. 512.º CC e art. 32.º, n.º 2 CPC.
Se a ação merecer provimento, o tribunal deverá conhecer da totalidade do pedido,
condenando o Réu na totalidade da prestação em falta. Tendo depois direito de regresso
sob os demais condevedores na parte para além daquela que era a sua quota interna de
responsabilidade.

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5) Suponha que não houve despacho do juiz, mas D2 tomou a iniciativa de requerer a
intervenção acessória do condevedor D1.
Art. 321.º- intervenção acessória provocada. São 2 problemas com dimensões diferentes:
ilegitimidade como parte principal- art. 30.º/3 (quem é parte principal) e ilegitimidade
como parte acessória.
5.1.) Como se qualifica esse incidente?
Incidente da intervenção acessória provocada- 321.º e ss.
5.2.) Que despacho devia o juiz proferir em face de tal requerimento?
Este é um dos casos em que existe despacho liminar – artigo 226.º/4/d), o réu fez o
requerimento de intervenção acessória provocada, se for admissível como se trata de citar
terceiro para causa pendente está sujeito a despacho liminar, para o juiz controlar a
regularidade do chamamento.
Não é admitida a intervenção acessória provocada porque este terceiro é parte da relação
material litigada, tem legitimidade para intervir como parte principal, portanto não se
verifica o requisito do artigo 321.º/1/parte final. Nessa altura, devia ser recusada a sua
intervenção como parte acessória.
5.3.) Que meio processual pode ser utilizado para se responsabilizar, na ação em curso,
D1 relativamente à quota-parte que lhe cabe no domínio das relações internas?
Uma hipótese é o incidente da intervenção principal provocada, mas com o regime
especial do art. 317.º, que é uma modalidade especial de intervenção principal provocada,
trata-se de chamar alguém, mas para efeitos de efetivação do direito de regresso. Ou na
contestação, ou se não quiser contestar, por requerimento apresentado no prazo que teria
para a contestação (prazo do artigo 569.º). A finalidade deste chamamento é de que os
condevedores chamados sejam condenados no direito de regresso que o réu primitivo tem
contra eles no caso de vir a ser condenado na totalidade da prestação. Estes sujeitos vão
ser partes principais, mas não são sujeitos passivos diretos do pedido principal, sendo que
ao chamá-los o réu não modifica o pedido, apenas garante que, se for condenado, já tem
o título executivo contra o seu condevedor.
5.4.) A utilização desse meio processual pode conduzir à exclusão da instância de alguma
das partes primitivas?
Art. 317.º, n.º 2- o primitivo réu é logo condenado no despacho saneador prosseguindo a
causa entre os condevedores, mas circunscrita à questão do direito de regresso. Quem sai
é o autor primitivo que já obteve uma decisão de mérito favorável. Ou seja, a causa
continuaria entre D1 e D2, saindo da instância A.

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11/12/2019

 Caso n.º 11: INCIDENTES DE INTERVENÇÃO DE TERCEIROS – AÇÕES


PROPOSTAS POR AMBOS OS CÔNJUGES - LEGITIMIDADE PARA
INTERVIR COMO PARTE PRINCIPAL E PARTE ACESSÓRIA

A e B, casados em regime de comunhão de adquiridos, celebraram com C um contrato-


promessa de cessão das quotas de que os primeiros eram titulares na sociedade comercial
Electricidade Mexia, Ld.ª (EM). Desse contrato faz parte uma cláusula nos termos da
qual C se obrigou também a assumir as responsabilidades decorrentes das garantias
prestados por A e B relativamente a financiamentos concedidos pelo Banco X à referida
sociedade comercial EM e a providenciar junto da mesma instituição bancária no sentido
de os libertar de tais garantias, o que devia ser feito antes da outorga da escritura de cessão
de quotas.
Perante a indefinição que se instalou entre as partes, A e B propuseram contra C ação
dirigida à execução específica do aludido contrato-promessa. Alegaram os AA., na
petição inicial, que o R. C ainda não tinha cumprido a obrigação de assumir as
responsabilidades dos promitentes-cedentes (A e B) perante o Banco X, requisito que,
segundo o acordado, condicionava a pretendida execução específica. Por isso, pediram
que C fosse condenado a pagar ao Banco X as quantias junto dele garantidas pelos AA.,
ordenando-se seguidamente a transmissão das quotas a favor de C.
Invocando que, perante os termos em que a ação foi proposta, o Banco X, na qualidade
de credor de EM, tem «todo o interesse em intervir no presente processo» ao lado dos
AA., estes requereram, logo na petição inicial, a intervenção principal daquele Banco,
nos termos do disposto nos artigos 316.º e ss. do CPC.
Este é um contrato-promessa de cessão de quotas. Tem de se pensar em duas questões: a
questão da legitimidade ativa que é a pergunta n.º 2 e o problema da intervenção do banco,
se este podia ser chamado a intervir e a que título.
1) Identifique o pedido e a causa de pedir.
O momento da transmissão dá-se no momento da celebração do contrato prometido, só aí
se transferem as quotas. Contudo C obrigou-se a assumir as responsabilidades de A e B
perante o banco de X. Essas obrigações constituiem-se no próprio contrato-promessa e
não no definitivo, ou seja, esta obrigação decorre do próprio contrato-promessa, portanto
A e B são credores a partir desse momento. O que eles pedem, a condenação de C a
pagar o devido ao banco- é um pedido condenatório. Por outro lado, C obriga-se a um
contrato-promessa de cessão de quotas; a emitir uma declaração negocial de compra das
quotas. Há um pedido de execução do contrato-promessa- art. 830.º, é um pedido de
execução específica. O tribunal substitui-se ao réu na emissão de declaração em falta
celebrando-se o contrato prometido.
A causa de pedir (que é integrada pelos factos que permitem operar a aplicação de
qualquer norma jurídica de que derive a procedência do pedido)- o primeiro facto é a
celebração do contrato-promessa e o segundo é C não ter realizado qualquer ato que
permitisse a extinção das dívidas perante o banco a que se obrigou.
2) Como se caracteriza a legitimidade para a propositura da presente ação?

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Art. 34.º, n.º 1, primeira parte. Temos de saber se estamos perante um bem que não possa
ser alienado apenas por um dos cônjuges. O bem em causa são as quotas de sociedades
comerciais de que eles são titulares, é um bem móvel. Tínhamos de olhar posteriormente,
então, para o art. 1682.º do CC.
No caso de se alienar todo o estabelecimento comercial- 1682.º-A, n.º 1- é necessário o
consentimento no regime de comunhão de adquiridos ou de comunhão geral de bens. Se
o estabelecimento comercial fosse propriedade de ambos ou de apenas um era necessária
a presença de ambos desde que pudesse resultar a oneração ou a perda do estabelecimento,
resulta da conjugação dos arts. 1682.º-A/1 CC e art. 34.º/1 CPC.
Quanto às quotas, o artigo que nos importa é o n.º 1 do 1682.º
Ac. do Tribunal da Relação de Lisboa 1/3 de 2012, relator Pedro Martins, processo
144/11.3, interessam as páginas 7 a 11.
Ter ainda em conta o art. 8.º/2 do CSC- a quota pertence a ambos por causa do regime
de bens. E coloca-se a questão se é preciso o consentimento do outro para alienar a
respetiva participação social. A doutrina diverge: o Dr. João Labareda entende que não é
necessário o consentimento. O n.º 3 apresenta as exceções ao n.º 2, mas só está pensado
para coisas corpóreas, portanto não se aplica. O número 2 diz que tem legitimidade para
vender aquele que tem a administração do móvel, segundo este autor aplicar-se-ia por
analogia, concluindo-se que o cônjuge sócio tem legitimidade para alienar ou onerar as
participações sociais que são bens comuns, de que tenha a administração,
independentemente do consentimento do outro cônjuge, dado que estas situações não
caberiam no n.º 3. A outra posição é a de Rita Lobo Xavier que não concorda que se
aplica por analogia o n.º 2 porque as razões de dispensa de consentimento que lhe estão
subjacentes não se verificam. Chega à conclusão de que o artigo 8.º/2 do Código das
Sociedades Comerciais só atribui poderes de administração ordinária e não poderes de
administração extraordinária. Apesar de o cônjuge administrador da quota social comum,
ter, em princípio, poderes que vão além da simples administração, abrangendo mesmo
poderes de disposição, tal não será exatamente assim, carecendo o cônjuge sócio do
consentimento do outro cônjuge para alienar ou onerar a participação social- 1682.º, n.º
1. O facto de no n.º 3 não serem mencionadas as participações sociais, não impede que
esse consentimento deva ser exigido ao abrigo dessa norma quando essa alienação ou
oneração forem qualificadas como atos de administração extraordinárias.
Por via do 34.º/1 e do 1682 chegávamos a conclusão que tinha de ser proposta por ambos
os cônjuges.
Mas outro caminho podia ser trilhado, o contrato é celebrado por ambos, assim há um
litisconsórcio natural. O art. 34.º não afasta a possibilidade de haver situações de
litisconsórcio natural envolvendo a pessoa do cônjuge, é uma ação de execução
especifica, aplica-se a clausula geral, para produção do efeito útil normal, assim é um
litisconsórcio natural, ambos celebraram o contrato-promessa.
A ação devia ser proposta por ambos os cônjuges, assim estamos perante um
litisconsórcio necessário ativo, pressuposto de admissibilidade processual. A ação foi
intentada por ambos, assim não há ilegitimidade.

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3) É a petição inicial meio idóneo para requerer a intervenção principal de outro A.?
O autor não pode chamar outros litisconsortes voluntários ativos, mas pode chamar outros
litisconsorte necessários ativos. Valoriza-se a autonomia de cada um.
Pode logo na petição inicial, assim como o réu o pode fazer na contestação, mas só o pode
fazer, o autor, se for litisconsórcio necessário, mas isso não tem a ver com o facto de ser
ou não na petição inicial. Arts. 316.º, n.ºs 1 e 2 e art. 318.º, n.º 1, als. a) e b). A petição
inicial é o primeiro articulado, assim pode fazê-lo aqui.
4) Podia o referido Banco ocupar a posição de litisconsorte voluntário a par dos AA., por
ter «interesse igual» aos destes na execução específica do contrato-promessa de cessão
das quotas? Em caso negativo, podia ser admitido a litigar ao abrigo de alguma das
posições jurídicas a seguir referenciada?
C celebrou o contrato com A e B, obrigou-se a pagar uma dívida alheia ao banco, a dívida
que A e B tinham com o banco. Partimos daqui para a aferição da legitimidade para poder
participar como parte principal do conceito de interesse-titularidade plasmado no art. 30.º.
n.º 3- os sujeitos da relação material controvertida tal como configurada pelo autor. O
banco é titular de uma posição jurídica ativa ao abrigo deste contrato, neste contrato
celebrado entre A e B e C? Não, não é parte dessa relação material controvertida.
O banco tem interesse em que C cumpra essa obrigação de pagar ao banco a respetiva
dívida? Sim, mas é um interesse meramente reflexo, económico, não tem um interesse
para efeitos de intervenção nesta ação como parte principal. A relação material
controvertida une os autores e C, o que significa que não estamos perante uma relação
jurídica que seja integrada pelo banco. Portanto não se podia formar nenhum
litisconsórcio entre A e B e o banco.
N.B.(a) art. 443.º, 1 CC: “O terceiro a favor de quem for convencionada a
promessa adquire direito à prestação, independentemente de aceitação.”
O contrato a favor de terceiro- aqui o banco já era titular de uma posição ativa, já era
titular de um direito contra C. O terceiro beneficiário pode exigir o cumprimento da
promessa, assim teria uma posição jurídica ativa ao abrigo do contrato que era um
contrato a favor de terceiro. Podia intentar uma ação a exigir o cumprimento daquilo que
o promissário se obrigou a prestar.
(b) 444.º, 3 CC: “Quando se trate da promessa de exonerar o promissário
de uma dívida para com terceiro, só àquele é lícito exigir o cumprimento da
promessa.”
Aquele é o promissário, assim sendo o banco não tinha nenhum direito, é um falso
contrato a favor de terceiro, só pode exigir o promissário e não o terceiro.
(c) 595.º, 1, a) CC: “A transmissão a título singular de uma dívida pode
verificar-se:/ a) Por contrato entre o antigo e o novo devedor, ratificado pelo
credor.”
Aqui a situação é diferente é uma situação em que os deveres da obrigação passavam de
A e B para C. O terceiro vem ocupar a posição do devedor, assim, o novo devedor passaria

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a ser C e o credor do banco, assim podia exigir o cumprimento a C desde que ratificasse,
quem deixaria de ter titularidade era A e B.
5) Admita que o Banco requereu a sua intervenção espontânea na ação. Que decisão devia
o tribunal proferir? Podia admitir, no caso, a intervenção do Banco a diferente título?
O banco tem um interesse puramente económico que não permite o ingresso como parte
principal, assim, podia o banco intervir como assistente, para assistir os autores. O banco
tem um interesse jurídico em que a decisão seja favorável aos autores porque é titular de
uma posição económica jurídica que será afetada e tem que ver justamente com a
titularidade de uma posição económica jurídica dependente daquele objeto da ação. Basta
o interesse prático ou económico.
Art. 326.º- está sujeito a despacho liminar, se não tem legitimidade para intervir, o tribunal
deve proferir um despacho de indeferimento liminar, a menos que, resulte da
interpretação do requerimento que houve um erro quanto ao meio processual de que o
interveniente se serviu, ele queria era efetivamente recorrer como parte acessória- não
queria o incidente de intervenção principal provocada mas o incidente da assistência- há
jurisprudência nesse sentido.
Com esta ressalva a decisão do tribunal era uma decisão de indeferimento liminar de
intervenção principal espontânea por falta de legitimidade nos termos da norma do art.
30.º/3 do CPC.
6) Como qualifica o interesse do Banco na procedência da presente ação?
Era um interesse reflexo puramente económico que não lhe permite o ingresso na ação
como parte principal.
7) Parece-lhe de admitir que os AA. e o Banco propusessem a ação em conjunto ao abrigo
do regime da coligação de AA.
Partindo do critério do n.º das relações jurídicas, traduz para o processo uma pluralidade
de RJs materiais. O banco não é titular de qualquer relação com C, não há nenhuma
relação material, partindo da interpretação que fizemos não há nenhuma ligação de C com
o banco. O banco é titular de uma posição meramente reflexa, sendo certo que só existe
coligação entre partes principais. Nesta ação o réu é C, não há coligação possível. Importa
aqui o art. 36.º, cujos requisitos não estão preenchidos. Mesmo havendo duas RJs a
coligação tem requisitos.
18/12/19

 Caso n.º 12: Pluralidade de partes- Legitimidade processual


A, B, C e D apresentando-se como promitentes-compradores de quatro frações autónomas
integradas no edifício H, situado na Rua…, em …, pediram a condenação da sociedade
comercial Empresa de Construções Estrela, Ld.ª (ECE) no pagamento a cada um dos
AA. das indemnizações devidas por incumprimento definitivo e culposo dos contratos-
promessa que haviam celebrado com a Ré. Dado que as frações lhes foram entregues sem
terem os acabamentos concluídos, pediram ainda o pagamento dos valores
correspondentes ao custo dos arranjos que cada um deles teve de suportar antes de
transferirem para aí as respetivas habitações. Deduziram igualmente o pedido de que a

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cada um dos AA. fosse reconhecido o direito de retenção sobre a correspondente fração
autónoma cuja venda fora prometida, até lhes ser pago o valor das indemnizações
decorrentes do alegado incumprimento definitivo.
Das alegações e documentos juntos ao processo resulta que sobre as frações autónomas
em causa existem duas hipotecas validamente constituídas a favor do Banco Z em
garantida dos créditos por este concedidos a ECE. Perante a existência da mencionada
oneração, o tribunal proferiu despacho, no sentido de convidar as partes a promoverem,
dentro de 10 dias, a intervenção nos autos do credor hipotecário, sob pena de absolver a
Ré da instância com fundamento em ilegitimidade processual. Nesse despacho, o juiz
utilizou o argumento de que, se a ação procedesse, a posição jurídica do credor
hipotecário seria substancialmente afetada com o reconhecimento do direito de retenção
dos promitentes-compradores, dado o disposto nos artigos 755.º, n.º 1, al. f), e 759.º, ns.º
1 e 2, do CC.
Se houver violação da eficácia do contrato-promessa só é possível condenar se tiver
eficácia real. Outra solução possível é a resolução seguida de indemnização. Aqui foi
pedida a tal indemnização e pediu que fosse requerido o direito de retenção- que é um
direito real de garantia- 755.º/1/e)- tem de haver um contrato-promessa com tradição da
coisa (aqui as coisas foram entregues logo houve tradição). É ainda preciso um crédito
indemnizatório nos termos do art. 442.º que ocorre quando o contrato-promessa é
sinalizado. A indemnização consiste na perda do sinal ou na restituição do sinal em dobro.
O direito de retenção prevalece sobre a hipoteca- art. 759.º, n.º 2. A hipoteca é também
um direito real de garantia.
O tribunal entendeu que existia um litisconsórcio necessário passivo sob pena de
absolvição da instância por ilegitimidade processual, porque estamos perante um
pressuposto processual.
1. Identifique o pedido e a causa de pedir.
Pedido de condenação da ré no cumprimento da indemnização- ação de condenação e por
outro lado o pedido de reconhecimento do direito de retenção ao abrigo do art. 755.º/1/f)
e aí é uma ação de simples apreciação.
A causa de pedir tem a ver com a celebração dos contratos-promessa e o incumprimentos
dos mesmos e, ainda, os arranjos que tiveram de realizar.
2. Qualifique a situação de pluralidade de partes quanto ao lado ativo.
Coligação voluntária de autores, o que temos é um feixe de relações jurídico-materiais
que dizem respeito à celebração de 4 contratos-promessa de 4 celebrações autónomas de
4 pessoas. Estes casos podem ser tramitados numa só ação desde que se verifiquem os
pressupostos negativos e positivos- arts. 36.º e 37.º. Neste caso estamos perante casos de
incumprimento análogo. Será uma caso de coligação voluntária porque a ação depende
essencialmente da apreciação dos mesmos casos.
3. Se as ações houvessem sido propostas autonomamente, poderiam ser tramitadas
em conjunto? Podem os AA. chamar à instância E, F e G, que, por seu lado, também
tinham adquirido frações autónomas à ECE?

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Podia requerer-se a apensação nos termos do art. 266.º. A apensação é externa para efeitos
de tramitação mantendo os pressupostos e a sua autonomia para não haver repetição de
atos.
Existe coligação voluntária sucessiva- é possível requer a intervenção principal destes
sujeitos de outras RJs através da intervenção de terceiros? Não há essa possibilidade, o
incidente de intervenção principal provocada está previsto apenas para os casos de
litisconsórcio. Nos casos de coligação necessária partindo da sanabilidade de exceções
dilatórias, não haverá outra forma de sanar que não seja o recurso a este incidente de
intervenção principal provocada. Assim não era possível requerer a intervenção nem que
estes interviessem espontaneamente a título principal para formar uma coligação
voluntária. A única hipótese seria intentarem eles outras ações ou outra ação. Podiam
intentar os 3 uma ação coligados, desde que verificados os pressupostos e depois podia
requerer-se ao juiz que apensasse as ações.
4. A falta do Banco Z – credor hipotecário – na instância provocada a
ilegitimidade das partes iniciais?
Ele tem um interesse em que não seja reconhecido o direito de retenção, quereria colocar-
se do lado oposto, da ré. Uma pessoa que tem legitimidade para intervir como parte
principal pode intervir como parte acessória? Sim, é admitido. O professor aceita que
pode intervir dessa forma.
Aqui não poderia ser uma oposição porque a sua posição é ao lado da ré. A procedência
do pedido do banco do reconhecimento seria compatível com o reconhecimento da
posição jurídica dos autores, assim, não se verifica o requisito da oposição.
Mas reside a dúvida se pode ou não intervir como parte principal? Há aqui uma situação
de litisconsórcio entre a ré e o banco, neste sentido- relativamente ao pedido de
condenação no pagamento de indemnização essa parte não tem nada a ver com a relação
jurídica relativa ao pedido de condenação, mas relativamente ao pedido de
reconhecimento do direito de retenção, justamente pelo facto de o banco ter um direito
real de garantia sobre o mesmo bem. Há aqui uma relação real entre o direito de retenção
e o direto de hipoteca que é uma relação de sobreposição. Por força do regime legal, há
uma prevalência do direito de retenção sobre o da hipoteca. Há uma relação real com uma
pluralidade de sujeitos. Dito de outro modo, há uma conexão material que gera unidade
para efeitos jurídicos, a ideia de “geometria variável”. Há um vínculo de conexão que
justifica que para efeitos de legitimidade processual podemos ler isto como fundamento
de litisconsórcio.
Mas há uma litisconsórcio necessário? Por regra é voluntário, é necessário que seja por
disposição legal expressa ou por aplicação do art. 33.º- é necessária a presença dos vários
sujeitos naquela relação material controvertida para que a decisão produza o seu efeito
útil normal. Se o credor hipotecário não for chamado, ele tem outra porta para impugnar
já em sede de ação executiva, por isso é que não é imposto, porque para eles fazerem
valer a sua posição, têm de intentar uma ação executiva, estando registada a hipoteca deve
o credor ser citado para vir reclamar o seu crédito- 789.º, nºs 3 e 5. Parece que o litígio,
então, pode ser definitivamente resolvido entre as partes sem a apresentação do banco,
assim produz o seu efeito normal sem vinculação do banco.

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Em suma, há uma litisconsórcio voluntário. O Banco pode intervir ou ser requerida a sua
intervenção como parte principal do lado passivo a título voluntário por ter uma relação
conexa material que ficará afetada pelo reconhecimento do direito de retenção.
Assim, a resposta à pergunta é não, porque o litisconsórcio não é necessário, a falta do
banco não gera uma situação de ilegitimidade.
5. Se o credor hipotecário não estiver presente na instância, fica vinculado pela
decisão que reconheça a existência do direito de retenção dos AA.? Qual o mecanismo
processual que podia ser usado para trazer o credor hipotecário à instância?
Não, dado os limites subjetivos do caso julgado. Pode-se provocar a sua vinda através do
incidente de intervenção principal provocada, partindo do pressuposto anterior.
6. Suponha, agora, que o tribunal entendeu não existir ilegitimidade processual,
atentos os termos em que os AA. configuraram a relação material controvertida, pelo que
não teve lugar o despacho de convite à regularização da instância. Foi proferida sentença
que reconheceu os créditos peticionados por cada um dos AA. e considerou as
indemnizações garantidas pelo direito de retenção. O credor hipotecário, que não foi
chamado à instância, pode, nesta altura, requerer a sua intervenção como parte principal?
E poderá recorrer da sentença proferida?
A intervenção principal provocada pode ser pedida de duas formas: por articulado próprio
ou por adesão aos articulados. Por articulado próprio é só até ao fim dos articulados, agora
já não podia, tinha de ser por adesão e aí podia até à fase de recurso – arts. 313.º/1, 314.º/1.

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