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1. Bíblia. N. T. — Critica e interpretação 2. Bíblia N. T. — Introduções
i i " l u a . Paul, 1859-1933. Introdução ao Novo Testamento. II. Título.
INTRODUÇÃO
II! n.M CDD-225.6
1 . Conteúdo
FATHEL
602 C. O LIVRO DO APOCALI
ALIPSE DE JOÃO 603
piedade houver sido provada pela morte, e o julgamení J i n c n t o u , não escreve uma sabedoria secreta, suposta-
de Satanás que, entretanto, novamente depois dos m i l aa • r oriunda dos tempos primitivos; ao invés disto, ele
vai ser deixado solto ( 2 0 , 1 - 1 0 ) , o julgamento do mund •Cr uma clara profecia escatológica e uma exortação re-
( 2 0 , 1 1 - 1 5 ) , e a Jerusalém celeste ( 2 1 , 1 - 2 2 , 5 ) . pada com o presente ( 2 2 , 1 0 ) .
A conclusão (22,6-21) contém a confirmação do A I O livro tem como meta u m amplo círculo: as sete
calipse como um testemunho profético da verdade d i v i B como sendo a Igreja na perspectiva de João. A es-
e como uma promessa repetida da parusia de Cristo. O I fera literária em que se situa o Apocalipse, inclusive
vro termina de forma epistolar com uma bênção. um prefácio (14ss) e a conclusão ( 2 2 , 2 1 ) , constitui
rrminiscência da forma literária em que a literatura
I primitiva aparece inicialmente e com maior freqüên-
B e r § 1 1 ) . Tudo isso permite-nos constatar que A p
2. O Apocalipse de J o ã o
•BCTIIO com a idéia de ser lido alto nas reuniões de
c o m o u m l i v r o apocalítico e profético
Io. de modo que, também aqui, as práticas da existên-
B i i t ã primitiva moldaram decisivamente a forma lite-
O Apocalipse está intimamente associado à literatuB I..
apocalíptica do judaísmo contemporâneo (ver § 3 3 ) . í • Em sua visão da história, o livro apocalíptico do N T
material mítico, os números secretos, as visões e os fert" « s t a ainda mais fortemente com o tipo judaico.
menos do céu como meios a serviço da revelação de coí Na história do seu tempo, João vê um poderoso drama
sas do mundo do além, a representação das visões atravéá Mtá sendo representado. O palco é a terra, mais exa-
de imagens fantásticas e ricamente embelezadas, bem como] IHc o mundo dominado pelo Império Romano e prin-
a freqüente dependência do A T caracterizam o Apocalipse] Jbncnte a parte onde João vive, a província da Ásia.
como uma obra pertencente ao mesmo gênero literário d o i lomunidade cristã e o poder civil pagão defrontam-se
apocalipses judaicos. thocante oposição. O Estado romano fornece as cores
Numa trilha de imagens visionárias representam-se:| a Besta, o cruel inimigo da igreja ( 1 3 , l s s ) ; a Roma
"as coisas que devem acontecer muito em breve" ( 1 , 1 ; ! é a Prostituta que está sentada sobre a Besta ( 1 7 , l s s ) .
2 2 , 6 ) , "as coisas presentes como as que deverão aconte- a quer tomar a ofensiva contra o cristianismo: as igre-
cer depois destas" ( 1 , 1 9 ) ; a fase final na história das re- da Ásia Menor têm de sofrer sob seus ataques (2,3.
lações de Deus com o homem e com o universo. B , 8 ) , o sangue dos mártires já correu em Pérgamo ( 2 ,
Contudo, em mais de uma ocasião, o vidente do Apo- ) . Já nas visões dos selos aparece, diante dos olhos do
calipse liberta-se — de maneira bem característica — do lente, uma multidão de mártires cristãos sob o altar no
esquema da literatura apocalíptica, e esboça uma imagem 1(6,9).
histórica de estilo bastante diferente do apocalíptico ju-
daico. I Concluir, por causa d o caráter apocalíptico da revelação de João,
• lambem o nome de J o ã o é pseudônimo (Becker) é arbitrário.
O A p não é um livro pseudônimo: João escreve usan- > ' Assim pensam, por exemplo, Rissi. 26; L i n d b l o m , 220ss. O úl-
do o seu próprio nome ( 1 , 1 . 4 . 9 ; 2 2 , 8 ) . Ele não se esconde D pensa distinguir, entre os casos particulares, o quadro d o que é
|o extática pura daquilo que é construção literária. Dificilmente con-
por trás da máscara de alguma pessoa importante do pas- i" porém.
JHHTÁ-i
C. O LIVRO DO APOCALI ALIPSE DE JOÃO 605
604
Entretanto, estes acontecimentos do passado e do p (dócio imperial nas províncias ( o u algum indivíduo
sente constituem apenas uma espécie de prelúdio da g r •fite do meio delas) com a promoção fanática do
de batalha decisiva que o futuro próximo trará, "a h Imperial \ O Dragão, que fica à espreita da criança
de tentação que virá sobre o mundo inteiro, para col I no céu * e que tenta provocar um cataclisma nos
3
à prova os habitantes da terra" ( 3 , 1 0 ) , em que o num ( 1 2 , 4 . 7 ) é a força oculta que dirige a perseguição dos
de mártires divinamente predeterminado ficará compl |os ( 1 2 , 1 7 ) que se recusam a participar da adoração
( 6 , 1 1 ) , a hora em que os cristãos que permanecerem fi lesta.
até a morte receberão a coroa da vitória (2,10;3,11;1JL I N ã o obstante, a resistente comunidade de cristãos pos-
10, entre o u t r o s ) . O vidente já observa o número i n f i n i t a • m senhor que se mostra cada vez mais forte: Cristo,
de mártires que vêm do tempo da grande tentação, vestfl •Jho do H o m e m ( 1 , 1 3 ; 14,14), o Cordeiro com a fe-
dos com roupas brancas e trazendo ramos de palmeirasj mortal que está curada ( 5 , 6 ) , aquele que, como p r i -
com o sinal da vitória em suas mãos, de pé diante dai ito ressuscitou dos mortos para subir ao céu, e que,
trono de Deus à beira do mar de vidro (7,9ss; 15,2). Ela ndo à direta de Deus, é o Senhor que está acima
ouve o hino de louvor que os mártires cantam, o hino] os os reis da terra ( 1 , 5 ) . Ele é o conquistador, o
dos anjos (12,10ss); vê-os como participantes do governa or ( 5 , 5 ; 3 , 2 1 ) , o Senhor da nova era.
e da alegria do reino de m i l anos ( 2 0 , 4 . 6 ) . Por isso, João] O Deus onipotente, até agora, reduziu a zero os ata-
conclama-os apaixonadamente para o combate e para a vM is de Satanás. Salvou das mãos deste a criança celeste
tória nesse tempo de tentação: "Felizes os mortos, os que 2,5), e o próprio Satanás, juntamente com seus anjos,
desde agora morrem no Senhor. Sim, diz o Espírito, que expulso do céu ( 1 2 , 9 ) .
descansem de suas fadigas, pois suas obras os acompa- A vitória de Deus no céu garante a vitória que deve
nham" (14,13). r alcançada sobre a terra. A vontade de Deus vai deli-
Este drama, porém, desenvolve-se, por assim dizer, ndo deste modo o curso da história. E ele o faz de tal
apenas na frente do pano-de-boca do palco, porque com ele ncira que os guerreiros, que combateram a seu lado,
e por detrás dele existe uma operação de muito maior berão o prêmio dos vencedores. Trata-se daqueles "que
peso, da qual o céu e o inferno participam: a luta entre o unham adorado a Besta, nem sua imagem, e nem rece-
Deus e Satanás (ver principalmente o cap. 12ss). O ani- ido a marca sobre a fronte ou na m ã o " ( 2 0 , 4 ) .
mal com sete cabeças e com dez chifres, que emerge do
fundo do mar — um símbolo apocalíptico do Imperiunt A inalterável vontade de Deus em relação ao último
Romanum — , recebe o poder do Dragão, da antiga ser- to do drama do mundo já se acha escrita no livro secreto
pente, a sedutora do mundo. Ele é o servo do Diabo e Com sete selos, que o vidente apocalíptico vê à direita da
executa a vontade deste sobre a terra ( 1 3 , 2 ) . O Império
Romano representa o poder satânico do mundo porque ' Ver B e c k w i t h , Bousset, Brütsch, Lohse sobre A p 13,1 lss.
promove e exige o culto ao imperador (13,4ss). A ativi- »* A interpretação — amplamente considerada como evidente — ,
dade blasfema do império é mostrada ainda mais grossei- jundo a qual o nascimento da criança (12,5) refere-se ao nascimento
de Jesus em Belém (cf. recentemente Brütsch e Lohse, ad loc.) é posta
ramente pela figura secundária do segundo animal, que se cm questão por diversos motivos. A interpretação cujo ponto de vista
ergue da terra e seduz os habitantes do mundo, desviando- vê uma referência à "irrupção do tempo e do juízo da salvação mes-
os e incitando-os a adorarem a imagem do primeiro ani- siânicos" ( H . Collinger, Das 'Grosse Zeichen' von Apk 12, StBM 11,
1971, 151ss, espec. 167) é mais convincente no conjunto, embora a
mal (13,12ss). Com boas razões, este segundo animal f o i ênfase sobre " u m f i l h o d o sexo masculino" não seja inteiramente e x p l i -
identificado como " o falso profeta" ( 1 6 , 1 3 ; 1 9 , 2 0 ; 2 0 , 1 0 ) , cada com essa interpretação abstrata.
*. APOCALIPSE DE JOÃO
606 C. O LIVRO DO APOCALIPSE 607
Majestade divina no trono celeste ( 5 , 1 ) . Diante dos olhos bor sua morte redentora ( 1 , 5 ; 7 , 1 4 ; 12,11) e sua exalta-
do vidente, Cristo recebe este livro, o testamento de Deus, U i > triunfante ( 3 , 2 1 ;5,5;7,14; cf. 1,7) — constitui o pon-
a f i m de executar o que aí está contido o mais rápido pos- | d decisivo da virada escatológica da história, o penhor da
sível, traço por traço, ponto por ponto (5,7.9; caps. 6ss). lonsumação divina da história.
Apesar dos horrores temíveis que aí se encontram, seu A idéia de Heilsgeschichte (história redentora, histó-
conteúdo básico é o evangelho: a consumação da redenção l i * sagrada), em que Jesus Cristo ocupa o centro, repousa
( 1 4 , 6 ; 1 0 , 7 ) . O poder do império será interceptado por fcbre a visão da história apresentada no A p , e enriquece a
Cristo, o qual conquista e há de destruir os dois oposito- •rópria noção de história com a ênfase que dá à certeza
res dos fiéis, a Besta e o falso profeta ( 1 9 , l l s s ) . Segue- •a redenção: ganhou-se a batalha no céu, Satanás f o i ven-
-se o triunfo dos mártires no reino de m i l anos, durante cido ( 12,7ss): " A g o r a atuou a salvação, o poder e a reaie-
o qual os guerreiros que passaram pela provação ressur- m do nosso Deus, e a autoridade do seu C r i s t o " ( 1 2 , 1 0 ) *.
gem e começam a governar com Cristo, ao passo que Sa-
O vidente profético que fala no A p escreve um livro
tanás fica acorrentado no abismo ( 2 0 , l s s ) . Depois, por um
conforto para a igreja que se acha na iminência de trans-
lapso breve de tempo, Satanás é libertado para que possa
rmar-se numa igreja mártir. Tendo isso em vista, ele i n -
expandir sua terrível fúria final sobre a terra; vem, então,
preta os acontecimentos do presente e do passado re-
a última destruição do arquiinimigo de Deus (20,7ss). E ,
nte, e prediz a evolução dos fatos num curto espaço de
depois do julgamento do mundo ( 2 0 , l l s s ) , abre-se o lu-
tipo, até o f i m do mundo, quando o reino de Deus há
minoso espetáculo de u m novo mundo maravilhoso, com
ser estabelecido.
uma nova Jerusalém e com a bem-aventurada participação
dos combatentes vencedores na amizade eterna de Deus Uma base segura para a interpretação que o próprio
(21,1-22,5). to do Apocalipse exige encontra-se na situação especí-
das comunidades cristãs primitivas, que certamente se-
O que há de novo no A p é uma total recriação da
m levadas, dentro de muito pouco tempo, a uma per-
visão apocalíptica da história, fora dos modelos judaicos
guição sangrenta que atingiria toda a Igreja. Encontra-se
e segundo o modelo cristão. A visão apocalíptica da his-
mbém na confiança em face da vitória, a qual propicia
tória recebeu uma nova infra-estrutura mediante o apare-
rspectivas que ultrapassam o tempo de sofrimento já bem
cimento histórico de Jesus. Sobre este repousa todo o peso
óximo, e que fazem a atenção voltar-se para a parusia
da estrutura.
Cristo e para a destruição de todos os poderes e forças
Diversamente do que acontece com a apocalíptica ju- üe se opõem a Deus.
daica, aqui não existe nenhum olhar voltado para o pas-
sado, nem nenhuma visão supostamente antecipada, oriun- O Apocalipse é um livro do seu tempo, que nasceu
da de um passado fictício para ser apresentada ao presente. mo fruto desse tempo e que foi escrito para esse tempo,
Para João, o ponto de partida de sua esperança escatoló- fio para gerações posteriores do f u t u r o , nem mesmo para
gica consiste antes na crença alicerçada no ato salvífico de ''o fim dos tempos. Ele é u m texto ocasional, da mesma
Deus em Jesus, e na sua obra redentora, que significa v i - Jorma que o são as epístolas d o N T . Ele tem de ser com-
tória. Neste evento, que os primeiros cristãos experimen- preendido e encarado basicamente em seu contexto histó-
taram diretamente, está o fulcro da confiança de João em wico específico e peculiar.
Deus, que delineia a história.
Embora o A p dedique pouca atenção à vida terrena 4
Relativamente á visão da história no A p cf. Wendland, H o r t z , .
de Jesus, seu aparecimento — caracteii^ado principalmente 5*s. 212ss, Rissi, 60ss.
608 C. O LIVRO DO APOCALI 34. APOCALIPSE DE JOÃO 609
A o dizer isso, queremos mostrar a necessidade de dam entre si de maneira alguma. E, com isso, outras d i -
combinar a atenção dispensada às tradições já existentes visões vieram a ser cogitadas por motivos igualmente jul-
estilo apocalíptico, de um lado, com a nova visão cris gados justificáveis . 9
profética que caracteriza o livro, do outro. Por outro lado, quando olhamos para o Apocalipse
pomo um todo, mais depressa conseguimos afirmar que " o
livro não apresenta nenhuma estrutura discernível" . Além 1 0
' A suposição, freqüentes vezes avançada, segundo a qual as ins- pondo que o A p , na forma transmitida pela tradição, re-
truções dadas ao vidente: "Escreve, pois, o que viste: tanto as coisas
presentes como as que deverão acontecer depois destas" ( 1 , 1 9 ) , seriam sultou da junção de dois textos diferentes, escritos pelo
expostas em ordem l,10-18;2,3;4,l-22,5 (assim, por exemplo, pensam
Bousset, H a r r i n g t o n , Lohse, ad loc, e na sua Inlr., 12' ed.) muito d i -
ficilmente é exata uma vez que a indicação do conteúdo refere-se, antes, 9 Ver entre os recentes, H o p k i n s ( 2 secções, 4-11 e 12-20 com 3
ao l i v r o como u m todo (ver B e c k w i t h , Caird, ad loc., Fiorenza, CBQ, subsecções), e Fiorenza (4 secções: l-3;4-16;17-20;21,22).
540, nota 2 2 ) .
10 Piper. , ,
Cf., entre os mais recentes, por exemplo, Charles, Lohmeyer,
4
" Ver o relatório em B e c k w i t h , 224ss, Bousset, 108ss; Lohmeyer,
Lohse, Rist; Albertz, de Zwaan; Bowman, Coppelt e os nomeados em ThR 1935, 35s.
Feuillet, Apocalypse, 24s. 12 Charles; McNeile-Williams; W i n d i s c h ; G i e t , 182ss consideram 19,
' Cf. Bowman: 12.1-18; 13.1-10; 13,11-18; 14,1-5; 14,6-13;14,14-20; 15,2-4. 9-22,21 como u m acréscimo posterior; segundo Rissi, 83ss, teria havido
Cf. a tábua em Bowman, 444.
8
interpolação de 13,18b; 15,2; 179b-17 numa segunda edição do livro.
610 C O LIVRO DO APOCALIPSI I . APOCALIPSE DE JOÃO 611
Temos, então, de distinguir dois fatos: 1) a forma i l o . o autor não só escreve num estilo hierático forte-
literária de A p não pode ser atribuída unicamente às m- fliii i mitizante — a tal ponto que seu modo de expri-
tenções estilísticas do seu autor, e 2 ) nem fontes conjul •le a respeito do A T pode ser utilizado como um au-
gadas nem interpolações secundárias podem ser demonstr B para a crítica do texto — , mas ainda "ao longo de
17
isolados, consiste em saber se este complexo particular ( JC* do A p , certamente não resulta de uma "cuidado-
tradição ou esta concepção provêm de uma origem pa B r a d u ç ã o do aramaico , nem parece provir de algum
19
judaica ou cristã. Para a nossa compreensão da origem á. V e i o literário do vidente apocalíptico; deve antes ser
A p como um todo, porém, esta pesquisa da história dal] fiulhl.i t o m base no fato cie que " o autor pensava em
religiões possui amplo significado, porque, em quali|iieí ^ B c o , mas escrevia em g r e g o " . 20
dos casos, João já encontrou seu material dentro de um » Além desta qualidade especial da linguagem no sen-
modelo judaico, se não até mesmo cristão, e dele usou d l ^fcais estrito, o A p mostra, nos seus hinos e cânticos de
maneira completamente livre. fer, uma grande abundância de material poeticamente
M u i t o importantes são as formas lingüística e esti mo: I , 5 s ; 4 , 8 . 1 1 ; 5 , 9 s . l 2 s ; 7 , 1 0 . 1 2 ; l l , 15.17s;12,10-12;
tica segundo as quais o autor reelaborou, o material q B|;16,5s;19,ls.5-8;22,13. Freqüentemente se supôs que
ele extraiu de sua experiência visionária pessoal e da sit" ^•stivesse citando elementos litúrgicos do culto cristão
ção em que vivia a igreja de seu tempo.
B Provas cm Charles I , L X V s s .
• O . Lohse, Z N W 1961.
1 3
de Zwaan: visões do ano 70 e 79-96; E. Hirsch, Studiem zuM P Bousset, 159. Quanto à linguagem do apocalipse, ver Bousset,
Ev., B H T h 11, 1936, 156ss: os caps. l,l-3,7;4,2-22,10.18s o r i g i n a m - Charles I , C X V I I s s ( " A Short Grammar of the Apocalypse");
nos anos 68/69 e 1.4-6;l,18-3,22;22,ll-17.20s são d o f i m do reinado I J. Schmid, Studies zur Geschichle des griech. Apk-Texles, II,
Domiciano. M . Goguel, La naissance du Chrislianisme, 1946, 57ls: 1 . v o l . supl., 1955. 173ss.
-3,22 são dos anos 80/85; 4,lss, d o final do reinado de Domiciano. Concorda Torrey.
m a r d : dois textos paralelos foram fundidos, u m dos quais começa J. Schmid. T h R v 62, 1966, 306. Cf. sobretudo as provas de
10,2 e foi composto sob o reinado de Nero, o outro, que começa , K g u n d o o qual a escolha inconsciente das categorias verbais
4,1, foi escrito no começo do reinado de Domiciano; por f i m , os pelo autor do A p deve ser explicada com base na sua língua
1-3 ainda mais tarde. • U icmftica ( p p . 349,353). Isto, porém, não exclui que u autoi
M Cf. também Michaelis, Einl., 307s. H p use expressões típicas gregas (assim, por exemplo, admite W .
" Assim pensam, ultimamente, Feuillet, Apocalipse, 27, Piper; Vai K U n n i k , " M I A r N Í Í M H , Apocalypse of John X V I I 13,17", Slu- .
lhauser (ver $ 33), 439. B John. Festschr. }. N. Sevens/er, supl. NovTest 24, 1970, 209ss).
612 C. O LIVRO DO APOCALIPSE H APOCALIPSE DE JOÃO 613
É antes a seqüência dos eventos escatológicos esperados, e *"os concluir que João procura descrever, por meio do
provavelmente também as experiências visionárias do autor (erial conceptual que a tradição lhe oferece, o tempo
que constituem elementos determinantes da estrutura do h Fim, que começou na sua época e que deverá consu-
texto como um todo. Não obstante, este modelo de even- -se em breve.
tos escatológicos esperados parece ser interrompido por Neste caso, entretanto, é preciso dizer também que a
meio de rápidos retornos e repetições (ver p. 6 0 9 ) . Não I.I real da apresentação apocalíptica profética não con-
se percebe a presença de uma linha única de seqüência te no curso dos eventos escatológicos, mas em seu signi-
lógica de eventos escatológicos, de modo que dificilmente ado para o sofrimento da igreja de seu tempo. Assim
se pode falar do Apocalipse como sendo " f r u t o de um tron- do, o conhecimento das circunstâncias externas das o r i -
co ú n i c o " . Mais plausível é a suposição que remonta à
2 5
movimento que ultrapassa as visões das trombetas. Prova- menos no f i m do reinado de Domiciano ( 8 1 - 9 6 ) .
velmente a hipótese de Bornkamm está certa quando diz
2 7
O próprio testemunho do livro indica que ele surgiu
a província da Ásia numa época de severa opressão dos
21 Por exemplo, Lohse. excurso sobre 7,17; O . Cullmann, Urchri-
ristãos, dado que mais prontamente se concebe sob o do-
stentum und Gotlesdienst, A T h A N T 3, 1962, 4 ' ed., 1 1 ; contra Jòrns, ínio de Domiciano. Através das cartas incluídas no A p ,
180ss.
22 Lãuchli.
21 Prigent, 77. lização". Fiorenza, CBQ, espec. 553, 565, 567, sublinha que a seqüên-
2* Ver Delling, Jòrns (espec. 167, 178). cia dos ciclos setenários não é determinada cronologicamente, e sim te-
A tese segundo a qual o vidente tomou parte nalguma ação Ü-
2 4 a
maticamente.
túrgica celeste não suporta provas (contra Feuillet, Apocalypse, 71, 28 Ver o exame geral em Beckwith, 318ss, Bousset, 49ss. Entre os
Prigent, 10; Staufer, Die Theologie des N T , 1948, 4 ' ed., 181). mais recentes, sobretudo Piper, Fiorenza. A contestação do caráter apo-
2 ' Goppelt, E K L I I , 366. calíptico d o A p (Fiorenza, G Á N T , 331, mais amplamente ainda Kallas)
26 De modo semelhante, Rissi, 19s. é tão infundada quanto a afirmação de que a finalidade do A p é anti-
27 É o que pensa Vielhauer (ver § 3 3 ) , 438. Jõrns, 177s, o qual gnósiica ( N e w m a n , Prigent, 11).
propõe uma divisão diversa, e fala de uma "prolepse" e de uma "rea- 29 E m Ireneu, Haer., V,- 30, 3.
614 C. O LIVRO DO APOCALI APOCALIPSE DE JOÃO 615
percebe-se que são esperadas perseguições por parte ibeu um novo templo i m p e r i a l . E assim é que, exa-
32
poderes oficiais ( 2 , 1 0 ) , que o sangue dos mártires já cor- cnte na província da Ásia, a terra clássica do culto i m -
reu ( 2 , 1 3 ; 6 , 9 ) , que todo o cristianismo se acha ameaçado jdal, na época de Domiciano estavam presentes todos os
por um perigo tremendo ( 3 , 1 0 ) : a perspectiva imediata ' requisitos para um sério conflito entre o cristianismo e
é a da irrupção de uma perseguição geral aos cristãos em V u l t o do Estado, que constitui o dado que o A p tem em
todo o Império Romano. |» (cf. também l P d ) . O vidente, em parte alguma, re-
E m 17,6, João vê a Prostituta, que é Babilônia-Roma, -se diretamente a Domiciano como o imperador então
embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das ante, e o Anticristo, a "Besta" ( 1 3 , l s s , e t c ) , não de-
testemunhas de Jesus (cf. 6,10; 16,6; 18,24; 1 9 , 2 ) . E m 20,4, pstra possuir os traços de nenhum governante histórico
a participação no reino de m i l anos é prometida aos már- vi fico, mas antes revela feições semelhantes às da for-
tires que foram decapitados por causa de seu testemunho diabólica de Nero redivivus, que ainda continuava sen-
a favor de Jesus e da palavra de Deus, que não adoraram uma expectativa popular naquela época. Mas as cenas
a Besta e sua imagem, e que não aceitaram seu sinal em borais que o A p esboça não se aplicam a nenhum perío-
sua testa e em suas mãos, ou seja, aqueles que recusaram d o cristianismo p r i m i t i v o , senão o do tempo das per-
prestar honras divinas ao imperador (13,4.12ss;14,9.11; ições de Domiciano.
16,2; 1 9 , 2 0 ) . O cristianismo colidiu com o Estado e com Infelizmente, com base nos caps. 13 e 17, é impossí-
a religião do Estado; o culto a Cristo colidiu com o culto calcular que imperador romano reinava na época em
imperial. N o interesse da fé, o A p ergue viva oposição a t o A p foi escrito.
Roma e ao culto imperial. Isso corresponde à situação v i - Segundo 17,9s, as sete cabeças dos animais ( 1 3 , 1 ) re-
gente sob o governo de Domiciano. bentam sete imperadores: "cinco já caíram, u m [ o sexto]
Antes de Domiciano, a religião do Estado não inves- sie e o outro [ o sétimo] ainda não veio, mas quando
tiu diretamente contra os cristãos. Os atos loucos de Nero r deverá permanecer por pouco tempo" ( 1 7 , 1 0 ) . E m
em Roma, ao agredir os cristãos e sacrificá-los, nada têm hum capítulo, porém, o interesse se concentra no últi-
a ver com o culto imperial. Sob Domiciano, que segundo p> da série: a atenção dirige-se, especialmente em 13,3,
os padrões orientais reclamou honras divinas para si como Mra uma das cabeças da Besta, que parece ter sido fatal-
imperador durante toda a sua v i d a , desencadeou-se pela
x lente ferida, mas cuja ferida é curada. 17,11 ultrapassa
primeira vez a perseguição aos cristãos, promovida pelo Es- I número sete e propõe o enigma: " A Besta que existia
tado e com bases religiosas. E m 96, em Roma, membros «• não existe mais é, ela própria, o oitavo e também um
da corte imperial foram chamados à ordem sob acusação B s sete". A q u i , como anteriormente, a idéia é de que a
de atheótes, isto é, de violação da religião do Estado. E, Igura diabólica de Nero volta novamente depois da mor-
na tradição cristã, Domiciano é unanimemente considerado p : o Anticristo encarna-se no poder demoníaco da ima-
3 >
o primeiro perseguidor de cristãos depois de N e r o . 3 1 gem de Nero, que retorna do reino dos mortos, como um
K u r o imperador que não tem o direito de existir, por-
N a província da Ásia, o culto imperial era promovido
com zelo especial. Durante o governo de Domiciano, Éfeso
Schütz, 18ss. A afirmação de que Vespasiano deu ênfase especial
, 2
3 0
O título Dominus ac deus nosler, em Suetônio, Domiciano 13, e gO culto do César ( G i e t ) , contradiz tudo o que conhecemos a respeito
L.^Cerfaux e J. T o n d r i a u , Le culle des souverains dans la civilisation ffCcrfaux-Tondriau [ver nota 3 0 ] , 354).
gréco-romaine, 1957, 355ss. Sobre a lenda de Nero, ver B e c k w i t h , Bousset; Charles sobre o .
, J
3 1
Melitão, em Eus, H E I V , 26, 9 entre outros. Mp 17.
616 C. O LIVRO DO APOCALIPSE
§ 34. A P O C A L I P S E DE JOÃO 617
que viola a lei do número sete cósmico, mas que, não obs- gula sua lista dos imperadores inimigos de Deus, exata-
tante, já esteve uma vez na seqüência dos sete. mente como o fez o autor de 4Esd, que usa uma nume-
O interesse do autor, contudo, não se dirige para o ração especial para os três Flavianos por causa da hosti-
último da série, mas para um que ainda está sendo espe- lidade deles contra os j u d e u s . Se tal suposição estiver
37
rado (sétimo) e oitavo imperador. Apesar disto, de acor- certa, então Domiciano seria o sexto imperador depois de
do com 17,9a, o autor acha importante que o leitor obser- Calígula, e a numeração dos imperadores romanos feita
ve quem deve ser considerado o sexto imperador. Mas, pelo autor confirmaria a origem do A p sob o governo de
para nós, persiste a dificuldade, porque não sabemos com Domiciano. Provavelmente, porém, — ao que parece — ,
que imperador devemos começar o elenco. Se começarmos tal suposição permanece apenas como uma hipótese e não
a contar a partir de Augusto, como pareceria óbvio, Ves- possibilita uma designação certa para a data do A p sob
pasiano terá de ser aceito como o sexto imperador ( A u - Domiciano.
gusto — Tibério — Calígula — Cláudio — Nero — Ves- O número secreto 666 ( 1 3 , 1 8 ) não pode ser apro-
pasiano; os "imperadores militares", Galba — O t o — V i - veitado para objetivos relacionados com a fixação de da-
télio, em 68/69, deixam de ser considerados). Outros pre- tas; já que sua solução é completamente incerta e, com
ferem começar a contar de Júlio C é s a r , e consideram
34
bons fundamentos, vários nomes imperiais poderiam ser
Vespasiano o sétimo ou o décimo imperador. Esta posição, propostos.
porém, despreza o fato de que, segundo 17,12, os "dez
Para reforçar o f i m do século I como época provável
reis" ainda são totalmente futuros.
da origem do A p existe o fato de que, segundo 2,8-11, a
Seguindo a prática mais comum de contar desde A u - igreja de Esmirna já vinha perseverando há muito tempo,
gusto, é preciso supor ou que o A p tenha sido escrito no ao passo que, de acordo com Policarpo ( F l 1 1 , 3 ) , na épo-
tempo de Vespasiano (embora contra esta hipótese exista ca de Paulo tal igreja ainda não existia; e 3,17 descreve
o fato de que Vespasiano não foi o promotor do culto i m - a comunidade de Laodicéia como rica, quando esta cidade
perial nem o perseguidor dos cristãos), ou que o autor te- havia ficado quase totalmente destruída por um terremoto
nha incorporado ao texto um fragmento proveniente do em 60761 d.C.
tempo de Vespasiano, sem adaptar a numeração ao presen- Com toda probabilidade, portanto, o A p f o i de fato es-
te (isto, porém, é contrariado pelo fato de que 17,7ss crito em fins do reinado de Domiciano, isto é, mais ou
constitui indubitavelmente a interpretação do próprio a u t o r ) . menos em 90-95, na Ásia Menor , a f i m de encorajar as
37a
Uma suposição meramente arbitrária é a de que um comunidades cristãs ameaçadas por uma perseguição des-
autor, que escreveu no tempo de Domiciano, ficticiamente truidora, de incentivá-las à paciência e à perseverança e de
datou sua obra como se houvesse sido escrita na época de torná-las confiantes na iminente vitória de Cristo sobre as
Vespasiano . Restam apenas duas possibilidades: ou o au-
35 torças e o poder do Anticristo.
tor não se importou absolutamente com estabelecer uma
correspondência entre a numeração dogmaticamente fixada
e a realidade histórica e, neste caso, dificilmente ele po-
3 6
>
deria ter escrito 17,9a, ou então João começou com Calí- 37 Assim pensam B r u n , Strobel ( o qual sublinha que são enume-
rados os imperadores que subiram ao poder depois de Cristo: Calígula,
Giet, Lipinski.
5 4
Cláudio, Nero, Vespasiano, T i t o , Domiciano, para os quais, todos, en-
quanto já mortos, o termo épson [ 1 7 , 1 0 ] = morte violenta, convém
W Feuillet, Apocalypse, 78. Contra Fiorenza, C B Q , 547s.
perfeitamente).
' Por exemplo, Bousset, Lohse.
y
" a
Becker pretende datar o A p do tempo de Trajano.
| 34. A P O C A L I P S E DE JOÃO
618 C. O LIVRO DO APOCALIPSE 619
O vidente do Apocalipse, que é o autor do livro, de- ||do século I I em diante, o A p já era considerado apostólico
clara seu nome em quatro lugares ( 1 , 1 . 4 . 9 ; 2 2 , 8 ) : ele diz te canônico, sem exceção, no Oriente e no Ocidente, de
ser João. «uma extremidade à outra, e conservou tal conceito até a
Como ele teve sua primeira visão na ilha de Patmos, metade do século I I I .
situada no lado oposto a Mileto na costa da Ásia Menor Mas, para dizer a verdade, tal opinião não era incon-
( 1 , 9 ) , e como o livro se apresenta sob a forma de uma teste. Praticamente nada significa haver Marcião rejeitado o
carta circular às sete igrejas da Ásia (1,4, cf. 1,11) cujas A p como sendo j u d a i c o . Mas o fato de os opositores
43
condições ele conhece com exatidão como o demonstram os antimontanistas de João na Ásia Menor, os chamados Alo-
caps. 2 e 3, sem sombra de dúvida ele próprio também goi (ver § 1 0 . 6 ) , e de o. antimontanista romano Gaio (c.
pertence a esta província. O autor não acrescenta nenhum 210) haverem atribuído ao gnóstico Cerinto o Apocalipse,
título para indicar sua posição aos leitores. Como "servo" tão valorizado pelos montanistas, mostra que, no início do
de Deus (ou de Jesus Cristo, 1,1) e como "irmão e com- século I I I , a autoria do A p pelo apóstolo João constituía
panheiro" dos cristãos a quem se dirige e que se acham um dado que não gozava de forma alguma do reconheci-
"na tribulação, na realeza e na perseverança em Jesus" mento geral.
( 1 , 9 ) , ele pede para ser ouvido. Baseando-nos nesta relativa incerteza, podemos com-
O simples nome de João indica uma personalidade preender que, por volta da metade do século I I I , o bispo
comumente conhecida, e a maneira auto-evidente com que Dionísio de Alexandria, conjuntamente com sua polêmica
ele coolca seus apelos no sentido de ser ouvido mostra contra a falsa doutrina apocalíptica do Quiliasmo, negou
dever tratar-se de um homem que goza de grande autori- que o A p tivesse sido escrito pelo apóstolo João e o atribuiu
dade. O único dado que ele oferece a respeito de sua vida a outro homem inspirado também chamado João. Ele pro-
é o de que se encontra na ilha de Patmos " p o r causa da curou justificar esta posição apontando as grandes diferen-
palavra de Deus e do testemunho de Jesus" ( 1 , 9 ) , o que ças lingüísticas e estilísticas entre o A p de um lado, e o Evan-
significa que ele era um pregador do Evangelho e, como gelho e as Epístolas de João do o u t r o . A partir daí, a
4 4
tal, evidentemente sobressaía. Isto se a velha interpreta- origem apostólica do A p foi amplamente contestada no
ção de sua permanência em Patmos como exilado estiver Oriente. Eusébio oscilava, considerando-o ora "reconheci-
correta .3 8
d o " ora "espúrio" (ver § 3 6 . 1 ) . Assim, o A p falta em di-
Ja no século I I , o apóstolo João, filho de Zebedeu, versas listas canônicas da Ásia Menor e da Palestina, e na
era citado como autor, pela primeira vez antes de 160 maioria dos manuscritos gregos do N T até o século I X / X ' . 4
testemunho para a origem apostólica do Apocalipse. 4 ' Segundo Tertuliano, adv. Marc., 4,5.
44 E m Eus., H E V I I , 25, lss; W G K , N T , 6s.
39 Justino, Dial., 8 1 , 4 (em relação com A p 20,4).
4 ' Cf. j . Schmid (ver nota 18), I I , 31ss.
40 Clemente de Alexandria, ver nota 38.
620 C. O LIVRO DO APOCALIPSB mt. APOCALIPSE DE JOÃO 621
N o entanto, depois que o A p foi aceito nas listas cano- I principalmente os pontos de semelhança na linguagem
nicas por Atanásio em sua trigésima nona carta festiva de na visão do mundo. Mas é evidente que, em todos esses
Páscoa, e pela Igreja latina sob a influência de Agostinho • D t o s , o apocalíptico João não pode ser idêntico ao autor
em fins do século I V , não mais se discutiu oficialmente m Evangelho e das Epístolas de João. A linguagem é com-
se o Apocalipse pertencia ou não ao N T . Como Jerônimo Wetumente diferente 5 0
( p o r exemplo, no A p arnion, Ierou-
não menciona, em seu catálogo de escritores, o fato de mém, éthnos, éthen = as nações pagas; em Jo: amnós,
que o valor canônico do A p já fora discutido, a Idade Mé- mrosólyma, éthno = os judeus). Mais importante é o fato
dia também não se preocupou com isto. •ir que a escatologia do A p é formada, o mais fortemente
Foi Erasmo quem novamente veio retomar as consi- •Oasível, de conceitos apocalípticos futuristas, ao passo que
derações que contrariam a idéia de que o A p tenha sido es- • de Jo não possui absolutamente nada disso. Paralela-
crito pelo evangelista João. Lutero, que julgou o A p ques- •ente, existe o fato de que Jo se mostra interessado na
tionável por causa de seu conteúdo, explicou, em seu "Pre- Hda terrena de Jesus, ao passo que o Apocalipse traz ape-
fácio ao Apocalipse de são J o ã o " ( 1 5 2 2 ) , que ele não m» diversas referências à sua morte. A p e Jo falam e pen-
considerava o livro " n e m apostólico nem p r o f é t i c o " , e,' 46 lim, de modos tão fundamentalmente diversos, que a an-
em seu prefácio mais positivo, o de 1530, manteve igual- 11>• -1 tradição (que não é de forma alguma inconteste), ao
mente a mesma posição a respeito do autor. Embora Z w i n - irmar que os autores de Jo e de A p são idênticos, não
glio e Calvino encarassem o Apocalipse com alguma reser- ie apoiar-se numa informação digna de total confiança,
va, J. S. Semler foi o primeiro a negar uma vez mais, as precisa ser creditada a uma primitiva conclusão que se
com fundamentos teológicos e da história das religiões, fchava ligada à canonização dos dois textos.
que o A p houvesse sido escrito pelo apóstolo J o ã o . Desde 4 7
Desta maneira, a propósito do autor do A p nada sa-
então, a idéia de que o Apocalipse e o Evangelho de João bemos a não ser que ele era um profeta judeu-cristão cha-
não poderiam ter vindo do mesmo autor ficou firmemente mado João. Ele não pode ser identificado com João, filho
estabelecida , embora agora, como antes, haja muitos de-
48
de Zebedeu, já que em 18,20;21,14 o autor do A p fala
fensores da hipótese de que o apóstolo João é o autor do dos apóstolos como de outros homens, entre os quais ele
Evangelho e das Epístolas, bem como do A p o c a l i p s e . 49
não estaria incluído.
Para justificar a identificação do autor do A p com o O "presbítero" João mencionado por Pápias absolu-
autor de Jo e com o apóstolo J o ã o , têm-se usado como tamente não pertence com plena certeza à Ásia Menor, e
argumentos não só a tradição que já vem de longa data, é mais provável que se identifique com o presbítero de 2
e 3jo (e, assim, talvez também com o Evangelho de João
" Ver W G K , N T , 19s. e com l j o ) .
5 1
56 Goppelt, 369.
" Cf. H o l t z , 212ss.