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= Escola Superior Tecnologia =) SETUBAL MAQUINAS DE CORRENTE CONTINUA Manuel Guerreiro 2003 MAQUINAS DE CORRENTE CONTINUA 1. Introdugio No funcionamento da maquina de corrente continua (CC) como gerador podemos detectar aos terminais do seu induzido uma tensto continua, embora esta apresente algum “wemor", Nao significa isto que os seus enrolamentos sejam sede de fe.m.’s continuas. Pelo contrério, nos condutores induzem-se f.e.m.'s alternadas que sero somadas entre sie rectificadas. © comutador (colector) € a pega que permite esta rectificagtio, conseguindo que, nos instantes apropriados uma edo troque de ramo (de via interna) através da mudanga da posigdo relativa das escovas com as laminas daquele colector. O comutador permite transformar a corrente alternada em corrente continua, Embora hoje, a comutago electrénica, por uso de elementos semicondutores (dfodos, tiristores, transistores) permita obter uma corrente continua por rectificagdo a designagao vulgarmente aceite méquinas de corrente continua pressupde a existéncia de um comutador mecinico associado a um jogo de escovas. Devido ao principio da reversibilidade dos fenémenos electromeciinicos, estas maq nas podem funcionar como geradores (dinamos), transformando energia mecanica em eléctrica, ou como motores através da transformagao inversa de energia. Comparativamente com os motores trifisicos de indugo de rotor em curto-circuito, os motores CC sfio mais caros, de manutengdo mais exigente e com maiores probabilidade de avaria. O seu uso é, no entanto, justificado pela facilidade com que é possivel regular a sua velocidade, Encontramo-los aplicados em tracgo eléctrica (locomotivas, metropolitano, etc.), em gruas, laminadores, em dispositivos auxiliares de accionamento (automéveis, tractores), etc. Estima-se que em 2000 o volume de negécio de motores CC tenha representado a terga parte do volume correspondente as maquinas de corrente alternada (CA). ACC é obtida a partir de redes de CA por uso de rectificadores ou a partir de dinamos. Actualmente estes sdo pouco usados e talvez apenas se encontrem nas instalagdes industriais mais antigas de baixa tensto e consumo elevado de corrente como ¢ 0 caso de instalagées electroliticas, galvanicas ou de soldadura. A excitagdo dos grandes alternadores também era vulgarmente originada por um dinamo acoplado no mesmo veio (excitatriz). 2. Gerador Elementar 2.1. Principio de Funcionamento Suponha-se uma espira rodando com uma velocidade angular « constante, no interior de um campo magnético uniforme de indugdo B (Fig. 2-1) Fig. 2 Espira rodando em campo magnético © fluxo § que atravessa a superficie $ da espira depende da posigdo relativa entre a espira ¢ as linhas de forga do campo magnético. Admitindo que no instante inicial 1 = 0 0 plano da espira é perpendicular as linhas do campo, o fluxo é descrito por (1). $ = BS coset a Assim, como consequéncia do movimento de rotagdo, o fluxo através da espira é vari- vel no tempo, pelo que, por aplicagdo da Lei Geral da Indugao Electromagnética (Lei de Faraday) resulta (2). e= ~% _ B50 sinot @ dt A fem. e é, nestas condigdes, alternada sinusoidal e esta atrasada 90° em relagfo a0 fluxo (Fig. 2-2). Constituiu-se, assim, um gerador elementar de corrente alternadal A fem. e podia ser visualizada num osciloseépio se os terminais a ¢ b estivessem ligados a dois anéis continuos © sobre os quais assentassem duas escovas fixas e respectivos condutores. Estes condutores estabeleceriam © contacto com as pontas de prova do osciloscépio. No gerador real, aos terminais de cada espira, ou de cada secgaio (conjunto de espiras), também ¢ induzida uma f.e.m. alternada. ig. 22 Fluxo através da espira e f.eam. induzida Fig, 2-3 - Ligaeio ao exterior por semi-anéis ‘Transformemos um pouco aquele gerador elementar. Em vez de usarmos dois anéis continuos em contacto com as escovas, para a recolha de correntes, usemos dois semi: (Fig. 2. maximo (fem, nula) as escovas deixam de fazer contacto com um semi néis ). A posigdo relativa escovas/semi-angis € tal que, no instante em que o fluxo € nel e passam a fazé-lo com 0 outro semi-anel (esta mudanga de contacto designa-se por comutagao). Deste modo, a carga exterior (ou o voltimetro V) & submetida a uma fe.m. uni- direccional (Fig. 2-4), pois no preciso momento em que a fe.m. (¢ a corrente) teria o seu sentido invertido, 0s contactos so trocados. Assim, obtém-se na carga uma corrente rectificada enquanto na espira a corrente continua a ser alternada, Na Fig. 2-4 os dois semi-anéis estdo planificados e a fem. rectificada deste exemplo apresenta um maximo de 250 V e um valor médio de 159 V. Usando duas secgdes e anéis divididos em quatro sectores, a carga seria alimentada por uma fe.m. semelhante & indicada na Fig. 2-5, a trago continuo, no exemplo, com um. valor médio de 225 V. Neste caso, as comutagdes tiveram lugar nos instantes em que aconteciam as intersecgées das fe.m.'s rectificadas. De cada uma das f.e.m's sto aproveitados os valores mais elevados e o resultado final fica mais proximo de um valor constante, ‘Ainda mais se aproximaria de um valor constante se 0 niimero de secgdes ¢ de sectores (laminas) fosse mais elevado, uunidireccional Fig. 2-5- Fy 1m. mais préxima da continua Embora estejamos a caminhar para a maquina real notamos ainda que, num determina- do instante, sé aproveitamos a fem. desenvolvida numa espira, nao obstante todas as outras desenvolverem simultaneamente fie.m.'s. Para ultrapassar este inconveniente ligam-se as espiras umas &s outras, em série (isto 6, deixamos de ter um enrolamento aberto para passarmos a ter um enrolamento fechado'), para que as fe.m.’s se possam somar (vectorialmente) ¢ o seu valor final seja substancial- mente acrescido, Na Fig. 2-6 podemos ver parte de um induzido em forma de anel, apenas com algumas espiras. O anel ¢ de ferro, com uma permeabilidade magnética relativa elevada, pelo que o seu interior se pode considerar blindado magneticamente. Os condutores internos néio cortam linhas de forga e, portanto nao induzem f.e.m.'s, Este tipo de induzido nao € usado pois 0 induzido em tambor (Fig. 2-7) aproveita me- Ihor o cobre existente pois todos os condutores, os de ida e os de volta, estdo situados sobre a superficie e contribuem para a fe.m. global da maquina. Fig. 2-7- Induzido em tambor ‘Notemos que, na Fig. 2-6, entre as escovas A ¢ B ¢ através do enrolamento do induzido existiriam dois caminhos. Um caminho seria pela lado direito do enrolamento (1,2,....9) € 0 ‘outro seria pelo lado esquerdo (1,16....,9). Isto é, para que se atinja uma escova a partir de outra, através dos condutores do enrolamento, temos duas vias. Cada caminho entre duas escovas, passando pelos condutores do induzido, designa-se por via interna, © gerador € compardvel a uma associagao de pilhas elementares (Fig. 2-8). A cada piha corresponde no alternador um conjunto de espiras ligadas a duas laminas consecutivas do colector. Cada uma das vias internas € percorrida por 1/2 sendo I a corrente debitada para a carga exterior. HHHHHHHh SHHMHHHHH Fig. 2-8- Um par de vias internas 2, 2 A fem, e induzida num condutor de comprimento / que corta as linhas de forga de um . Volume da maquina e fem. ‘campo de indugio magnética B a uma velocidade v ¢ obtida através da expressio (3). e= Bly @) Adiitindo que 0 condutor & um dos muitos existentes no enrolamento do induzido da ‘maquina e que pretendemos que esta desenvolva uma f.e.m. elevada, devemos coneluir que 6s factores B, /¢ v devem ser os mais altos possiveis. Para conseguirmos uma indugdo B elevada seré necessério dispor de uma excitagdo magnética H elevada (até & saturagdio magnética) e usar materiais cuja permeabilidade j. apresente grandes valores. ferro tem uma permeabilidade magnética elevada (mas no constante) e é economi- camente interessante, pelo que € escolhido para a construgao das maquinas. A subida de H dependeria do valor da forga magnetomotriz de excitagdo, e esta depen- de do niimero de espiras ¢ da corrente indutora. Subir a corrente indutora significa aumen- tar as perdas por efeito de Joule nos enrolamentos ou aumentar a secgdo dos condutores. Tal conduziri a. um aumento de temperatura, ou a um aumento de tamanho encarecendo 0 seu custo. " Um enrolamento fechado & um circuit elétrco tal que, partindo de um ponto e caminhando sempre no Sublinhe-se que fazer crescer 0 valor de H apés a entrada na saturagdo nao tem qualquer interesse. Isto ¢, a partir de um determinado valor a subida de H nao é acompanhada por uma subida idéntica de B. O B elevado é obtido principalmente pela escolha do material. Um comprimento grande é sinénimo de uma maquina longa, comprida. Por fim, exigir uma velocidade linear elevada, tomando como eritério uma mesma ve- locidade angular imposta por forga motriz exterior, conduz a um grande raio da armadura. Destas consideragdes podemos concluir que as fie.m.'s elevadas se obtém & custa de mequinas grandes e pesadas. 2.2, Niimero de pélos e poténcia Considere-se como situagao inicial um dinamo bipolar com N condutores sobre o indu- Zido, com duas vias intemas. Cada uma destas vias internas teré N/2 condutores ou seja NA espiras. Cada uma das condutores sofre uma variagdo média de fluxo A@ no intervalo de tempo Ar. A fe.m, média E desenvolvida ¢ (4). N Ae 4° Mt E @) Consider ¢ agora que foi duplicado o niimero de pélos, isto €, a maquina passou a ser tetrapolar, e que os condutores do induzido foram reagrupados, para estarem de acordo com a mudanga dos pélos, em quatro vias internas. Evidentemente cada via interna destas terd apenas N/4 condutores, isto é, N/S espiras, Em contrapartida para que uma espira sofra a mesma variacao de fluxo necessita apenas de metade do tempo que anteriormente porque © nlimero de pélos é © dobro, considerando que o fluxo por pélo € a velocidade do rotor sdo os mesmos que na situagdo inicial. Agora a fe.m. média sera E' (5). wile isto é, 6) ‘mesmo sentido, se atinge o ponto de partida Assim, por via interna, a fem, desenvolvida seré a mesma para as méquinas bipolar e tetrapolar. Numa ou noutra situagdo a limitagao de corrente nos condutores ser a mesma pois es- tamos a admitir que os condutores so os mesmos e que a corrente admissivel pelas escovas €, para ambos os casos, superior as correntes a debitar pela maquina. Assim, no primeiro caso (Fig. 2-9) teremos a possibilidade de cada via interna ser atra- vessada por 1/2, ¢ a carga exterior sera percorrida por J. ‘No segundo caso (Fig. 2-10), cada via interna continua a poder ser atravessada por 1/2, pelo que uma carga exter f pode ser percorrida por 21. ‘Comparando as poténcias concluirfamos que para a maquina tetrapolar a poténcia seria ‘© dobro da poténcia da maquina bipolar. Estes raciocinios justificam que os dinamos muito potentes tenham um elevado niémero de polos. TOTO Ns Fig. 2-9 - Gerador bipola PEL Fig. 2-10 - Gerador tetrapola 2.3. F.eam, de uma via interna Admitamos que os N condutores do induzido esto regularmente dis ibuidos pela armadura, formando 2a vias internas iguais entre si. Admitimos pois que a maquina é electricamente equilibrada, pelo que a fie.m. de uma via interna é também a fie.m. da pro- pria maquina pois as vias internas esto ligadas em paralelo entre si, através das escovas 10 Fig. 2-11- Induzido com 2a vias internas Cada via interna tem N/2a condutores € a sua f.e.m. instantnea e é: C56 Fe tut ey a Os condutores, solidarios com a armadura, tém todos a mesma velocidade v e o mesmo comprimento /, pelo que: e (aomsnrese ) 2% A distribuigdo da indugdo B ao longo do espago correspondente a um pélo, isto € a um asso polar Ty , esté representada na Fig. 2-12, onde Byea & indugo média cortada por aqueles condutores. es Sr Fig. 2-12 - Indusdo magnética num passo polar ty O valor médio da fie.m. £ é entdo dado por (9). 9) onde: Byyeg =— few (10) Fig. 2-13 ~ Superficie correspondente a um pélo Sendo S a superficie da armadura através da qual o fluxo magnético a penetra (Fig. 2-13), r 0 raio do induzido, + o passo polar medido em unidades de comprimento sobre 0 induzido, o valor médio da indugdo pode ser calculado em fungo do fluxo ¢ correspon dente a um polo: o _ Pb B, =f u met Sa] Darl ~ rl a 2p Sendo a velocidade linear v = ar, onde w a velocidade angular em rad/s a fem. é: (12) E=Kyop (13) Como @ =2rn sendo ma velocidade traduzida em rps ter-se-d a fem. E apresentada na forma (14): (4) onde K € dado pela expresso (15). k=nh a RK (15) A expressio para a fie.m. (14) é conhecida como equacao fundamental dos dinamos ¢ nela pode notar-se que, para além de caracter icas construtivas da méquina, a fie.m depende do fluxo indutor, € portanto da corrente de excitagaio, e da velocidade a que 0 rotor da méquina gira. 2.4, Bindrio electromagnético da maquina Um condutor, atravessado por uma corrente eléctrica, situado num campo magnético fica sujeito a uma forga, de acordo com a lei de Laplace. ‘No funcionamento da méquina como gerador em carga existe uma corrente nos enrola- mentos do induzido pelo que, como estes estio mergulhados num campo magnético, € previsivel a existéncia de uma forga electromagnética. Considere-se que a armadura de uma maquina esté rodar num determinado sentido (Fig. 2-14). A fie.m. induzida em cada condutor (cujo sentido pode ser determinado pela regra da palma da mao direita, por exemplo) origina uma corrente que o atravessa. Este condutor fica submetido a uma forga f,, com o sentido determinado pela regra dos trés dedos da mao direita, por exemplo. Constatamos que esta forga tem 0 sentido contrério a0 do movimento. Esta oposigiio a0 ‘movimento nao é mais que uma manifestagio da lei de Lenz. fin Kf SSS Nox NORTE f= 1 4 Fig. 2-14 - Forgas electromagnétieas sobre um condutor do induzido da maquina CC Nas méquinas reais as linhas de forga ao entrarem ou ao sairem do rotor fazem-no perpendicularmente (ou quase) & sua superficie em virtude de a permeabilidade do ferro rotor ¢ dos pélos ser muito superior & permeabilidade do ar existente no entreferro porque o entreferro € relativamente pequeno. Assim, a indugio By é praticamente perpendicular ao condutor que transporta a corrente i,. Em consequéncia, a forga f, & praticamente tangencial & superficie do rotor e contribui para o bindrio global através de um binario elementar de médulo T, (16). T= fer (16) Onde f, 0 médulo da forga dado por (17). an *r 0 condutor. Na As forgas elementares fy dependem da indugao By no local onde e: zona polar esta indugdo néio € constante mas podemos raciocinar em termos de valor médio, como fizemos em pardgrafo anterior. bindrio correspondente a um pélo sera: SP Bpeiliar (18) Atendendo a que o valor médio da indugao é dado por (11), ¢ que a corrente total da armadura € (19), I, =2ai, (19) © bindrio electromagnético total, considerando os 2p pélos Te &: T, =2pT, =——NF19 20) a on Com um aspecto mais compacto a expresso para o bindrio é (21) e a constante construtiva K, & dada por (22). @1) (22) Podiamos ter obtido esta mesma expresso para T, a pi da definigao (25) de poténcia transformada ou poténcia electromagnética P. que no gerador € a parcela da poténcia mecdnica que é transformada em poténcia eléctrica e, no motor € o inverso, isto é, € a poténcia eléctrica transformada em mecénica. P= El, (23) Usando ainda a relagdo da poténcia com grandezas de natureza mecdinica (24) ¢ igualando as duas expressdes obtém-se (25) que ¢ igual a (21). P, =0T, 24) eqd. (25) 15 3. Con: ituicho da maquina CC As méquinas eléctricas rotativas compreendem essencialmente duas partes: uma fixa designada por estator e outta mével em tomo de um veio chamada rotor, Na méquina CC © estator desempenha a fungaio de indutor e o rotor a fungao de induzido. Assim, ¢ Quadro de ligagdo das laminas do colector no estator que correntes indutoras ou de excitagao provocam campos magnéticos que atravessando o rotor em movimento desenvolvem nos enrolamentos deste f.e.m.'s induzidas que, no funcionamento como gerador, podem alimentar electricamente uma resistén de carga, 3.1.- Rotor O rotor (Fig. 3-1) ¢ basicamente um cilindro de ferro macio, com ranhuras abertas a0 lon- g0 das suas geratrizes (Fig. 3-2). Os enrolamentos, constituidos por secgdes e bobinas, estdo alojados naquelas ranhuras e rodam solidariamente com todo o conjunto mével. As varias formas que as ranhuras podem apresentar dependem essencialmente da poténcia da méquina, da secgao dos condutores que constituirio enrolamento da armadura para que colocagao destes seja to facil quanto possivel e simultaneamente suportem as forgas centrifugas a que véo estar submetidos durante o funcionamento. Podem classificar-se em ranhuras semi-abertas para condutores até cerca de 2 mm de did metro, abertas para condutores rectangulares, nas méquinas de pequena e média poténcia ¢, ainda, abertas com tampo de madeira para maquinas de poténcia elevada. Fig. 3-1- Rot F de miquina CC Os enrolamentos séo designados por enrolamentos do induzido ou induzido apenas, ¢ 0 cilindro (tambor), laminado, ¢ conhecido por micleo do induzido ou armadura (Fig. 3-2). 16 “team A armadura, atravessada por fluxo varidvel, é formada por laminas comprimidas umas contra as outras (Fig. 3-3), A laminagdo diminui as correntes de Foucault pelo que me- Thora 0 rendimento © diminui a temperatura, As laminas podem ser furadas longi- tudinalmente e os furos alinhados constituem canais de ventilagao (ventilago axial). Por vezes, as léminas estiio agrupadas em pacotes ¢ as aberturas entre eles também permitem, «a ventilago (ventilagao radial), © enrolamento do induzido ¢ constituido por secgdes (conjunto de espiras) cujas extremidades estio ligadas galvanicamente as laminas de cobre do colector (Fig. 3-4). Por vezes duas ou trés secgdes sdo associadas formando bobines. Neste caso as ranhuras. das armaduras conterdo quatro ou seis lados de seogdo. © induzido ¢ as laminas estao ligados electricamente ao citcuito exterior (carga no funcionamento como gerador, ou fonte de alimentagéo no funcionamento como motor) através das escovas, Para diminuir 0 risco de arcos de fogo em redor do colector, a tensdo média entre laminas no deve ultrapassar 16 V para as méquinas sem enrolamentos de compensagaio ou 20 V se forem dotadas com estes enrolamentos. Fig. 3-4 - Colector (ou comutador) de maquina CC As laminas do colector devem ter uma largura no inferior a 2,5 mm para méquinas com um diametro do induzido até 0,5 m de didmetro, ou 4 mm para didmetros superiores. As laminas esto isoladas entre si por placas de micanite com aproximadamente 0,8 mm de espessura. 3.1.1 - Enrolamentos do induzido As bobines do enrolamento do induzido dispdem-se em duas camadas nas cavas ou ra- nhuras da armadura (fig. 19). Cada uma destas camadas leva um ou varios lados de secgdes. ‘Uma ranhura elementar é uma ranhura ficticia que contém apenas um lado de ida ¢ um de volta. As ranhuras reais podem ter uma ou mais ranhuras elementares (nao ultrapassando , em geral). Uma ranhura real com apenas uma ranhura clementar designa-se por ranhura simples (Fig. 3-5). a ») °) Fig. 3-5~a) Ranhura simples. b) Duas ranhuras elementares c) Trés ranhuras elementares © enrolamento € constituido por secgdes © as secgdes por espiras. A secgtio é 0 elemento fundamental do enrolamento (Fig. 3-6). ow , \ / —_— —— Fig, 3-6-Seecdo de um enrolamento Uma secgao é um circuito eléctrico cujas extremidades esto ligadas (soldadas) a duas laminas do colector. Uma secgio tem dois lados: 0 de ida, do colector para a cabega do enrolamento e o de volta. Muitas vezes refere-se o lado anterior e o lado posterior do enrolamento. Para usar estas designagdes supde-se a maquina posicionada com o colector do lado do observador. Assim, a cabega do enrolamento corresponde ao lado posterior. 18 Em cada ranhura elementar existe um lado de ida de uma secgdo e o lado de volta de outra secgao. Se o lado de ida de uma secgao e: fer sob um pélo Sul o lado de volta deve estar co- locado sob um pélo Norte, para que as f.e.m.'s desenvolvidas em ambos os lados se possam somar, contribuindo para o aumento da f.e.m. total. Classificagao 0s enrolamentos do induzido em tambor (jé no referiremos enrolamentos em anel por- que © seu interesse & meramente histérico) podem classificar-se em imbricados ¢ on- dulados, sendo as secgdes diferentes (Fig. 3-7). Os enrolamentos podem ser simples ou miitiplos e ter fecho simples ou miiltiplo, OOM Fig, 3-7- Seceio de enrolamento a) imbricado b) ondulado Representasies Os enrolamentos do induzido podem ser desenhados usando um esquema paralelo ou radial, No primeiro supomos que a superficie do cilindro que ¢ a armadura do rotor é planifi- cada com as suas ranhuras ¢ secgées desenhadas. Os lados activos destas seogdes so seg ‘mentos paralelos entre si. A Fig. 3-8a) apresenta um exemplo de esquema paralelo de um enrolamento imbricado. Da lamina 1 0 condutor segue a ranhura | e regressa na 5 ligando- se entdo a lamina 3 pelo que a distancia entre a lamina de chegada e a de partida de uma seegdio € 2,0u seja, 0 passo ao colector é 2. No esquema radial, a posi¢do considerada do rotor é antero-posterior, isto é, 0 lado do colector esté do lado do observador. Na Fig. 3-8 b) pode observar-se parte do esquema ra- dial de um enrolamento do induzido. A partir da lamina 1 do colector, 0 lado de ida da ranhura 1, que se encontra na camada superior dessa ranhura, regressa pelo lado da secga0 colocado na camada inferior da ranhura 9 ¢ liga lamina 16 do colector. Isto é, uma secgao 19 parte de uma lamina do colector e chega a lamina adjacente de niimero anterior pelo que 0 passo ao colector é -1. gop Fig. 3-8 a)- Esquema paralelo Passos No estudo das maquinas CC, em particular no estudo dos enrolamentos da armadura, tornam-se titeis alguns conceitos sobre a distribuigdo dos elementos na maquina, nomeada- mente sobre passo polar, passo a0 colector, passo de bobine, passo de ligaglio e passo resultante. passo polar r é a parcela do induzido correspondente a um polo, Pode ser expresso de varias maneiras: em angulo mecanico ou eléctrico, em unidades de comprimento (metro ou centimetro), em néimero de ranhuras ou lados de secgao, Mede, portanto, a distancia entre dois eixos polares, Por exemplo, uma maquina tetrapolar (Fig. 3-9) tem um passo polar de 90° mecanicos (360° a dividir por 4) ou 180° eléctricos (a um pélo corresponde sempre uma alternancia da fem. induzida, ou seja, meio ciclo ou m radianos eléctricos). ‘Um Angulo mecanico an. esté relacionado com a geometria da méquina enquanto um Angulo eléctrico a,,, esté associado aos fenémenos eléctricos desenvolvidos na maquina. Numa volta completa (360° mecanicos) da armadura, e portanto da espira xy, desenvolve- se nesta espira dois ciclos completos (720°) de fe.m. induzida. 20 Sr Fig. 3-9- Angulos mecdnicos ¢ eléctricos. Passo polar. A expressdo (26) permite passar de um tipo de éngulo para outro. ate = PO mec (26) Se pretendermos a medida do passo polar em unidades de comprimento, sobre a superficie da armadura, devemos conhecer o raio r desta. Viré ento (27) onde p, tal como mente, € 0 nimero de pares de polos 7) O interesse da medida, tanto em Angulo como em comprimento, é reduzido. A medida do passo polar em ranhuras ou lados de secgao permite prever com mais facilidade a distri- buigdo do enrolamento na armadura e é, por isso, mais usada. Seja Zp o niimero de ranhuras elementares da armadura. O passo polar é 0 niimero de ranhuras elementares correspondentes a um pélo, pelo que serd: Ze t 2p (28) Para obtermos a medida do passo polar em lados de secgao lembremo-nos que cada ranhura elementar contém dois lados de secgao. 2 A distribuigio das secgdes pela armadura faz-se com espagamentos regulares 0 que permite definir outros passos, nomeadamente, 0 passo ao colector, 0 passo de bobine, 0 asso de ligago ¢ o passo resultante do enrolamento. Passo a0 colector, Yo, é a distincia entre as léminas do colector ligadas s extremidades de uma secgo. Este passo é expresso, normalmente, em nimero de laminas ou divisdes do colector. Passo posterior ou de bobine, ¥7, é a distancia entre os lados da mesma secgdo, isto é, entre o seu lado de ida e 0 lado de volta. Passo anterior ou de ligacio, Y2, é a distancia entre os lado de volta de uma secgdo e 0 lado de ida da seegao seguinte. Passo total ou resultante, Y, é a distancia entre os lados de ida (ou de volta) de duas seogdes electricamente adjacentes. O passo resultante é a soma algébrica dos dois anteriores, isto é: ¥=%+%, (29) Nesta expresso admite-se que o passo de ligagdo ¥, pode ter valores negativos. Nesta abordagem os valores negativos de Y, caracterizam os enrolamentos imbricados e os positivos referem-se a enrolamentos ondulados. Na literatura da especialidade encontramos também a expressao (30) para 0 passo resultante, sendo ¥1 ¢ ¥,_positivos. O sinal (+) da expresso refere-se entdo a enrolamen- tos ondulados € 0 sinal (-) a imbricados. Y=¥th 30) ‘Um enrolamento pode caracterizar-se pela disposigto relativa que as suas secgdes ocu- pam. No imbricado uma secgiio sobrepde-se parcialmente sobre a secgo anterior (Fig. 3-10). No enrolamento ondulado (Fig. 3-9) uma secgio é colocada a seguir outra, em redor da armadura da maquina. Sendo $ 0 niimero de secgdes do enrolamento, Ko ntimero de kiminas do colector e Ze ‘o niimero de ranhuras elementares da armadura tem-se, em geral: S=K=ze GB) pois cada secedo tem 2 lados e cada ranhura elementar contém também 2 lados (logo $ = Ze) ¢ ainda porque a cada lamina do colector se soldam duas extremidades de secgdes cada secgio tem, evidentemente, duas extremidades (entéo K = S). Havendo esta correspondéncia podemos concluir que Y = Ye. s_, ie My N S N, ¥ 1805 em enrolamento ondulado Cileulo do passo de bobine. Interessa que os lados de uma secgao distem entre si cerca de um passo polar (por- qué?). Por isso deve ser : Hes (32) Se desta fracg%o resultar um numero ndo fo (0s passos de bobine, de ligagto & resultante medidos em nimero de ranhuras tem que ser inteiro. Porqué?) devemos somar algebricamente uma parcela e, uma fracgdo de ranhura, que torne inteiro o resultado. Assim, 0 passo de bobine em ranhuras elementares é: Yactte (33) 23 Se € = 0, os passos de bobine e polar sdo iguais a 180° eléctricos. Diremos, nestas cir- cunstncias, que o passo é diametral. Se © > 0 0 passo € alongado ¢ com ¢ < 0 0 passo € encurtad ‘Uma seegio com passo diametral consegue, em determinadas posigdes, ser atravessada por todo o fluxo itil por pélo. Para o passo alongado encontramos posigdes para as quais todo 0 fluxo atravessa a secgdo contudo, nestas posig6es, @ secg%io também ¢ atravessada por linhas de forga em sentido contrério, pelo que o fluxo total & menor que o correspondente ao fluxo de um pélo. Para 0 passo encurtado, a secg%o nunca consegue abarcar todo 0 fluxo disponivel. O fluxo através da secgao é muito importante pois a fie.m. € 0 bindrio da maquina so proporcionais ao seu valor. Em resumo, nos passos alongado e encurtado o fluxo através da espira ¢ inferior ao do asso diametral, pelo que se deve evitar 0 afastamento deste titimo passo. Entre o enrolamento alongado € 0 encurtado podemos usar aquele que necesita de um menor valor absoluto de ©. Seria um critério justificavel pela maior fluxo a atravessar a seegao. Contudo, 0 enrolamento alongado conduz a um problema adici condutores terdo um maior comprimento ¢ a cabega do enrolamento Além disso, como o nimero de ranhuras é, em geral, relativamente elevado, 0 facto de se perder uma fracgdo de ranhura (até e1) constitui uma perda relativamente pequena em ter- mos de fluxo aproveitado pela secgao pelo que se pode usar o enrolamento encurtado. Na Prética o enrolamento alongado raramente é usado. Enrolamento imbricado simples Um enrolamento imbricado € considerado simples se o fim de uma secgao for ligar lectricamente a uma lamina do colector adjacente 4 lamina que esta ligada ao principio daquela secgao. Um enrolamento imbricado simples tem entio um passo ao colector unitario. Ye G4) Avangando as secges sobre a armadura ao mesmo “ritmo” que as ligagdes das secgdes as laminas do colector, existe correspondéncia entre 0 passo a0 colector € © passo re- sultante do enrolamento (35). 24 Y=¥o=41 (35) O sinal (+) corresponde a uma sequéncia de ligagdes ao colector no sentido crescente da sua numeragao. E um enrolamento progressivo (Fig. 3-12). Ao sinal (—) corresponde a situagdo inversa e 0 enrolamento é designado de regressivo. Para os enrolamentos imbricados progressivos, o lado de volta de uma secgiio vai ligar a lamina seguinte ndo havendo, do lado colector, cruzamento entre o lado de volta ¢ o lado de ida da mesma secgio. Por este motivo, estes enrolamentos também se designam por enrolamentos imbricados nao cruzados. Se 0 enrolamento imbricado for regressivo entio Rearessive Yer+1 Fig. 3-12- Enrolamento imbricado a) progressivo (nko cruzado)_b) regressive (cruzado) Enrolamento ondulado simples Nos enrolamentos ondulados, os lados das secgdes seguem sempre no mesmo sentido sobre a armadura, ligando-se as liminas do colector. Apés cerca de uma volta completa um dos lados ir-se~A ligar a uma lamina vizinha daquela donde partiu o primeiro lado. Se esta lamina for adjacente & de partida o enrolamento ondulado € considerado simples. passo total ow o passo ao colector de um enrolamento ondulado simples é traduzido pela expresso (36). G6) 25 Os enrolamentos ondulados também podem ser progressivos ou regressivos. S80 progressivos simples se, aproximadamente apés uma volta completa dos enrolamentos sobre a armadura, a extremidade da seccdo se liga & lamina adjacente que esta a seguir & lamina de partida da primeira secgao. Evidentemente que, se o condutor dé a volta completa a armadura e vai ligar & lamina seguinte 4 de partida, cruza o lado da primeira secgdo considerada (Fig. 3-13). Um enrolamento ondulado progressivo é cruzado. Inversa- mente um enrolamento ondulado regressivo ¢ no cruzado. a on woae) CD COC Cr ON} Fig, 3:13- Enrolamentos ondulados simples progressive (cruzado) ¢ regressivo (no cruzado) Exemplo Uma méquina tetrapolar tem um enrolamento imbricado simples com 20 seegées distri- buidos pelas 20 ranhuras da sua armadura. O colector tem 20 léminas. Calcule os passos do enrolamento. Desenhe 0 quadro de ligagdes dos lados das secede: Desenhe 0 quadro de ligagdes das laminas do colector. Resolugao Dados: K = S = Z= Ze =20p=2 Y=Ye=41 Calculemos o passo posterior ¥;, usando a expressto: n-4 te donde ¥)=5. 2p Considerar 0 valor 5 para este passo, significa que se escolheu um passo diametral, que corresponde a ¢ = 0. Para o passo anterior Y>, utilizaremos : Y= ¥; + Yo. Resulta ¥2 -4 ou Y=-6. Escolhemos © primeiro destes valores que corresponde, em relagdo ao outro, um comprimento de secgo menor, no lado da cabega do enrolamento. A designago "cabeca” 26 significa 0 lado da armadura contrério ao do colector. Implica tal escolha que o enrolamento seja progressivo (Y= +1), © quadro de ligagdes dos lados das secgdes € uma figura simples que pretende ilustrar modo como as secgdes se ligam entre si (Fig. 3-14). Podemos usar a seguinte conveng&o: numerar as ranhuras elementares ¢ atribuir aos lados das secgdes uma numeragdo idéntica da ranhura onde esto colocados. A distingao entre os lados de ida e de volta contidos na mesma ranhura faz-se através de uma plica (’) ou duas ("), respectivamente. Assim, 5" é 0 lado de volta da ranhura elementar nimero 5. W Wa WW iy e 7 s xy 4 Vy Fig. 3-14 —Quadro de ligagio dos lados das secges Fig, 3-15 ~Q. de ligagdes das laminas do colector Para fazermos 0 quadro podemos comegar num lado qualquer. Na Fig. 3-14 comegou- se pelo lado de ida na ranhura 1 (lado 1), que regressa 5 ranhuras (Y; = 5) mais a frente, ou seja, no lado de volta 6”, Esta primeira secedo é, entio, constituida pelos lados 1" ¢ 6", lado 6" liga-se a lamina 2 do colector e, como o enrolamento é imbricado, a secgaio seguinte vai sobrepor-se a anterior, pelo que o lado de ida desta nova secgio esta a esquerda de 6", Esse lado & designado por 2' (Y, = 4). E quadro continua a construir-se ora somando 5, ora subtraindo 4, até se obter o fecho do circuito na ligagdlo 5" a1 Repare-se que a numeragtio dos vértices superiores esté por ordem crescente, da esquerda para a direita. Esta ordem é uma consequéncia do enrolamento ser progressivo. © quadro de ligagdes das laminas do colector (Fig. 3-15) pretende indicar dum modo rapido as ligagdes entre aquelas laminas. Os mimeros considerados na figura indicam a lamina do colector. Assim a lamina 1 esté ligada (atrav. ivamente, ligada a 3, ¢ assim suces O Angulo mecénico entre duas ranhuras consecutivas € 360° : 20 = 18°, 0 Angulo mecanico entre os dois lados de uma sece4o € aimee = 5 x 18°= 90° 27 0 ngulo eléctrico entre os dois lados de uma secgio € aeje =2 x 90°= 180° ele. Resultado que podiamos ter atingido de imediato, pois o enrolamento é diametral. Nos enrolamentos diametrais os lados de uma secgao esto colocados de igual modo em relagio a polos de nomes opostos. Significa isto que a fe.m. induzida num dos lados da secgtio esta em oposigdo de fase (desfasamento de 180°) a fie.m. desenvolvida no outro lado. Pelo facto de os dois lados de uma secedo estarem ligados entre si nao significa que a f.e.m. seja nula, Os dois lados da seego esto ligados em série (Pig. 3-16a) pelo que a fem. resultante numa secgao €: O diagrama fasorial da Fig. 3-16b) da-nos a composigdo fasorial das f.e.m.’s dos lados de uma secgao e a Fig. 3-17 mostra-nos a f.e.m. de duas secgSes consecutivas. Neste enrolamento, a fe.m. de uma secgdo estar desfasada 2 x 18° = 36%Je da ante- rior. Notamos ainda que o segundo fasor (ei) est inclinado para a direita em relagio ao fasor da primeira secgdo (¢,) devido ao facto de o enrolamento ser progressivo. Seguindo este proceso podemos desenhar um poligono so as fe.m.'s das varias seogdes do enrolamento, Pvorea & le Fig. 3.46 9) —Fem.’s numa seesio ) — Diagrama fasorial das fem.’s de uma seesio Saliente-se que entre as escovas existem 4 caminhos que so as 4 vias internas (2a) deste enrolamento, Na verdade, num enrolamento imbricado simples © nimero de pares de vias internas é igual a0 niimero de pares de pélos (a = p). Fig, 3:17- Fem, de duas secgdes consecutivas Deve notar-se também que a incluso das fem.’s das 20 seeg6es do enrolamento corresponde a um varrimento angular de 20x36? = 720° . Trata-se de um poligono duplo, isto é, a cada lado do poligono correspondem duas fie.m.’s de duas secgdes diferentes. Como exercicio sugere-se ao leitor que desenhe o poligono das fe.m.’s eo esquema paralelo do enrolamento. 3.2.-Estator O estator € constituido essencialmente por uma carcaga, pelos pélos magnéticos (um ou varios pares) e pelos dispositivos de contacto (escovas) com a parte mével da maquina ¢ acessérios (porta-escovas, hastes de fixagao). A carcaga faz parte da estrutura exterior da maquina, é de ago vazado, envolve suporta os pélos auxiliares (se existirem) € os principais, bem como os respectivos enrolamentos ¢ todo 0 rotor. as decorrentes do A carcaga deve resistir as vibragdes ou outras solicitagdes meca seu funcionamento ¢ deve constituir um circuito magnético da maquina que permita que 0 fluxo magnético que se fecha através dela apresente valores relativamente elevados. As escovas so grafiticas ou de aglomerado carvao com metal para as maiores inten- sidades de corrente. As escovas so fixas, fazem parte do estator, e estiio colocadas nos porta-escovas (Fig. 3-18 - Porta-escovas e escova), que através de molas as pressionam sobre 0 colector. A pressio adequada € o resultado do compromisso entre o desgaste de escovas e colector eo bom contacto eléctrico, sem faiscas (pressdio = 2 N/em2). A medida que as escovas se gastam a pressdo da mola pode ser ajustada. As escovas da mesma polaridade ligam-se clectricamente entre si Os porta-escovas estiio, muitas vezes, montados em hastes. As hastes, em numero igual a0 de pélos principais, ligam-se mecanicamente (nao electricamente), através de uma coroa, ao estator. Nas maquinas pequenas, 0 niimero de escovas pode ser inferior ao niimero de polos devido A falta de espago. ;recepticulo p Sppara escova < e Fig. 3:18 - Porta-escovas ¢ escova 30 As correntes indutoras atravessam os enrolamentos de excitagio que envolvem os pé- los principais (| Enclameito de Expense Palo polar pina Polo wuxiliar Fig. 3-19- Polos ¢ enrolamentos Se 0 enrolamento de excitagio for do tipo série (Fig. 3-20) seré percorrido pelas correntes do induzido (armadura). A seco do fio sera, entio, elevada e o nlimero de espi- ras € pequeno. Fevslenerto ig + amacire > ® sgn SAN See (g) ee escovs — Fig. :20- Gerador CC com excitagfo série ‘Fig. 3.21 - Gerador CC com exe, Derivagio (shun, Se o enrolamento de excitagdo for do tipo derivagtio (shunt) estard ligado em paralelo com 0 induzido (Fig. 3-21). O fio fino facilita a formagio de um enrolamento com um numero elevado de espiras o que permite que uma pequena intensidade de corrente origine a forga magnetomotriz adequada. Se a excitagdo for independente (Fig. 3-22), o enrolamento terd os terminais isolados dos restantes circuitos eléctricos da maquina, mas acessiveis ao exterior para que uma fon- te de alimentagdo separada Ihe possa aplicar a tenso uye fornecer a necesséria intensidade de corrente indutora iy. A seccao do condutor ¢ o niimero de espiras dependem da fonte de alimentagao prevista 31 in ip ph “| 3 ) Uf LRe Fig. 3-22 - Gerador CC com excitagio independente Qualquer que seja o tipo de excitagdo & sempre necessério assegurar um bom isola mento eléctrico entre espiras e entre 0 enrolamento ¢ a parte metilica constituinte dos polos. Os enrolamentos devem estar solidamente montados para que apresentem uma resisténcia suficiente as solicitagdes de natureza mecanica. ‘A temperatura de funcionamento de uma maquina é um factor limitativo 4 sua pot cia. E conveniente que a energia térmica desenvolvida seja evacuada, pelo que os enrolamentos de excitago podem ser formados por bobines afastadas umas das outras por separadores de madeira seca e envernizada, Assim 0 fluido envolvente circularé mais ilibrio sera entdo mais facilmente ¢ arrastaré consigo 0 ar quente. A temperatura de eq baixa. Para que 0 fluxo dos pélos seja mais facilmente distribuido para o rotor, os pélos apre- sentam, do lado da armadura, saliéncias laterais designadas por sapatas ou expansdes polares (Fig. 3-19). Estas, por vezes, sao laminadas pois na sua vizinhanga a sequéncia de cavas e dentes do rotor provoca variagdes de fluxo. Em méquinas de poténcia mais elevada podemos encontrar enrolamentos em ranhuras abertas na superficie (a face virada para o entreferro) das expansdes polares. Sao os enro- Jamentos de compensagio (Fig. 3-19) € destinam-se a minimizar os efeitos magnéticos que as correntes do induzido provocam sobre o campo magnético principal, isto é, devem. compensar a reacgdio magnética do induzido. Os pélos auxiliares destinam-se a melhorar as condigdes em que a comutagdo se pro- cessa. Se existirem, esto colocados a meia distancia entre os pélos principais. No funcionamento da maquina como motor, a maquina recebe energia eléctrica nos enrolamentos de exci j0 ¢ da armadura. As correntes nestes enrolamentos provocam ‘campos magnéticos que interactuam. Os condutores da armadura ficam submetidos a 32 forgas de natureza electromagnética que tendem a fazer girar o rotor. Com as condigdes adequadas, obteremos energia mecénica no veio. No funcionamento gerador, os enrolamentos de excitagao so alimentados electrica- mente € 0 rotor recebe energia mecdnica de um outro accionamento motor. Nos conduto- res do rotor, ao cortarem as linhas de forga do campo magnético principal, desenvolvem- se fie.m/s induzidas (dat a designagao de induzido). 3.2.1. - Colocacao das escovas sobre 0 colector As escovas (Fig. 3-23) devem ser colocadas sobre o colector, de tal forma que entre elas exista a maior fem. desenvolvida na maquina. As escovas devem estabelecer o contacto eléctrico com os condutores que atravessam a zona neutra magnética. E, regra geral, assim acontece. Por vezes, no entanto, eram deslocadas de um certo Angulo - calagem das escovas - para melhorar as condigdes de comutagdo. Actualmente esta prética € muito rara, Escova Fig. 3-23 — Escova retirada do seu recepticulo A cada par de vias internas deve corresponder um par de escovas. Assim, nos enrolamentos imbricados simples este némero também € igual ao nimero de pares de Pélos. Nos enrolamentos ondulados simples, que apenas tém um par de vias internas, ser suficiente um par de escovas. Contudo, chega a utilizar-se em niimero igual ao nlimero de pares de pélos, o que permite diminuir a corrente que as atravessa. A densidade de corrente através das escovas nao deve ultrapassar muito os 7 A/em?, acréscimo do niimero de escovas tem o inconvenient de tornar mais elevado o niimero de secgdes curto-circuitadas, no entanto, ndo se perde muito se o nimero de seeges for elevado quando comparado com o nimero de escovas. 33 3.2.2. - Largura das Escovas As secgdes, conforme a sua posi atravessadas por correntes que ora tém um sentido, ora tém outro. ‘A mudanga de sentido da corrente numa secgio (comutagdo) tem lugar quando a sec- fo deixa de pertencer a uma via interna e passa a pertencer a outra, Para que a troca de sentido da corrente na sece@o nfo seja muito violenta, adopta-se uma largura de escova igual a pelo menos a largura da lamina do colector. Assim, antes da inversio de corrente, a secgdo € seguramente curto-circuitada pela escova permitindo que o intervalo de tempo durante 0 qual se processa a comutagdo seja mais longo, logo mais, suave, sem tantas faiscas entre escovas ¢ colector. Usar escovas mais largas significa que a densidade de corrente que as percorre diminui, (© que termicamente € vantajoso. Pode também significar um maior nimero de secgoes curto-circuitadas. Contudo, um nimero excessivo de secgdes curto-circuitadas pode dimi- nuir de forma visivel a fem. da méquina pois, pelo facto de estarem curto-cireuitadas, estas seegdes nao contribuem para a fie.m. global. A largura das escovas €, portanto, 0 resultado do compromisso entre uma boa comuta- iduzidas, no entanto, ndo devem ultrapassar 25 mm no sentido tangencial e 40 mm no sentido axial iio eo melhor aproveitamento do fluxo disponivel para a produgao de f.e.m.' para que o assentamento de toda a sua superficie sobre o colector seja assegurado. 34 4, - Cireuito magnético: f.m.m. de excitagao € fluxos ‘A méquina CC necessita de um fluxo magnético indutor que proporcione as condigées para a produgo de uma fe.m. induzida ou de um bindrio electromagnético motor, para que © seu funcionamento, como gerador ou como motor, resulte. Para que num circuito magnético se obtenha um determinado fluxo ¢ é necessério dis- por de uma forga magnetomotriz (abreviatura: fm.m., simbolo 3) suficiente para que seja vencida a oposigto traduzida pela relutancia magnética 9 dos seus varios trogos. Num circuito magnético existe uma lei compardvel A lei d’Ohm de um circuito eléctrico. Essa lei é a lei de Hopkinson cuja expresstio ¢ dada por (37). I=RG G7) ‘A partir da caracteristica de magnetizagao do ferro constituinte do circuito da maquina é possivel indicar um valor adequado para a indugio magnética B, ou usando as dimen- s6es dos trogos podemos encontrar um valor aproximado para o fluxo da maquina. Contudo, para originar um determinado fluxo devemos ser capazes de excitar a méquina com uma determinada fm.m. Devemos entdo resolver um problema do tipo: Com que fm.m, devemos dotar a maquina para que o seu fluxo ou a sua indugdo magnética apresente um dado valor? © fluxo que atravessa um pélo no € 0 mesmo que atinge a armadura, ou o que petcorre a carcaga (Fig. 4-1). O fluxo gy que sai do pélo, passa pelo entreferro e entra na armadura é designado por {luxo principal. O fluxo total do pélo gp € obviamente maior pois inclui também uma parcela de fluxo cujas linhas de forga tém um caminho mais curto, um caminho que nao inclui a armadura. Esta parcela de fluxo designa-se por fluxo de dispersio dg, A relagao entre 0 fluxo do polo e o fluxo principal chama-se coeficiente de dispersao o. $ x G8) 35 Em geral, o valor de ¢ cerca de 1,2,, isto €, 0 fluxo de dispersio é cerca de 20 % do fluxo principal. Fig. 4-1 —Fluxos da méquina ‘A partir de um dado fluxo principal podemos conhecer, com algum rigor, os fluxos nos varios trogos do circuito magnético, desde que estejam disponiveis os seus dados geomé- tricos (dimensées) ¢ as caracteristicas de magnetizagdo dos seus materiais constituintes. Aplicando a lei de Ampere ao caminho fechado pela linha de forga que segue aproxi- ‘madamente a meio do pélo (Fig. 4-2) obteremos: G9) 4 Hdl = 3 (40) ‘Onde Ny € 0 ntimero de espiras de um enrolamento de excitagao (em torno do pélo principal), i, ¢ a corrente de excitagdo que atravessa aquele enrolamento e Si representa a Em.m. por par de pélos da maquina, 36 Admitindo que, num numero finito de trogos, a excitagdo magnética H se pode considerar constante, a igualdade (40) transforma-se em: YaAa @) Ao longo do percurso da linha de forga podemos distinguir alguns trogos que constituem 0 circuito magnético da méquina, nomeadamente entreferros (8), dentes (d), armadura (a), pélos (p) € carcaga (c), representados respectivamente nas parcelas do 2° membro de (42). 3=2H56+2H,d+H,a+2H,|, + Hc (42) Cada uma destas parcelas traduz uma diferenga de potencial magnético entre os extre- mos de cada trogo, ou, por outras palavras, a porgdo de fmm. que é necessario utilizar para vencer a reluténcia magnética do trogo. Estabelecendo a indugio magnética B, no pélo, com um valor situado no cotovelo da curva de magnetizagdo, 0s fluxos g, © g, so aproximadamente conhecidos. As intensidades H do campo magnético nos varios trogos podem entdo ser determinadas. Por exemplo, no entreferro His = oe , onde S; éa superficie do entreferro atravessada pelo HSs fluxo que do pélo se dirige para a armadura através do entreferro. Embora 0 percurso da linha de forga no entreferro tenha um comprimento bastante ‘mais pequeno que 0 restante, como a permeabilidade do ar é muito menor que a do ferro, a de 60% do total. primeira parcela ¢ a de maior peso, sendo normalmente m Assim, a nivel de projecto da maquina para a determinagdo da fim.m. de excitagao interessa considerar todas as parcelas, em especial a que se refere ao entreferro. A espessura do entreferro € o resultado de um compromisso entre as partes eléctrica e mecdnica. De facto, para que a fim.m. de excitagdo e consequentemente a corrente de excitagdlo iy sejam tio pequenas quanto possfvel interessa um entreferro minimo. Por outro lado, o entreferro ndo pode ser to pequeno que haja o risco de as oscilagdes mecéni cas do rotor fagam com que este roce nos pélos. 37 - Comutagio No funcionamento do gerador CC em vazio a corrente que circula nos enrolamentos da armadura (induzido) & nula, Na situago de carga as fie.m.’s induzidas na armadura do origem @ corrente da armadura ou corrente do induzido que na sua totalidade ou em parte © gerador entregaré a um receptor externo. Cada uma das secgdes dos enrolamentos da armadura € atravessada por uma corrente eléctrica num determinado sentido até que uma escova a curto-circuite e posteriormente, através da propria secgAo, circularé uma corrente com o sentido contrério, Esta inversio do sentido da corrente numa secgto é designada de comutagao ¢ dard origem a que nela se desenvolva uma fem. de auto-indugdo, que seri tanto maior quanto maior for o coeficiente de auto-i \ducdo da seegtio € quanto maior for a taxa de variagiio da corrente a0 di inverter 0 scu sentido de acordo com a expressio a ad oa Cae “EU = Fig. 5-1 —Correntes confluindo para uma escova Num determinado instante as seegdes de um dos lados da escovas, ou seja de uma dada via interna do enrolamento, sao todas atravessadas por correntes num determinado sentido, Na Fig. 5-1 as seegées A, B...., sfo atravessadas da esquerda para a direita enquanto do outro lado as secgdes Z, W,... sto atravessadas da direita para a esquerda. Isto é, para a escova esto a confluir correntes de ambos os lados que seréo canalizadas para uma resisténcia de carga, Devido a0 movimento, a escova fara contacto entre as laminas do colector que esto soldadas aos terminais da secgdo A, curto-circuitando-a e dando origem a uma corrente i que circulard entre a secgo, lminas ¢ escovas. De acordo com a lei de Lenz, 0 sentido desta corrente € contrério ao sentido da corrente (da secgo Z) que se vai estabelecer ou, 0 que € 0 mesmo, tem o mesmo sentido que a corrente que estava estabelecida na via interna a que a secgo pertencia (secgo B, por exemplo). 38 my fom my Comey Alguns instantes depois ja a secgdo esté a ser percorrida por uma corrente de sentido contrario ao que inicialmente tinha. Assim, a comutagdo demora um intervalo de tempo At js 1, relativamente curto durante o qual a corrente varia de um valor igual a 1, = “2 — ( Como exemplo considere-se uma maquina CC com I, = 10 A tendo um colector com 60 laminas e rodando 2 1250 rpm, Para uma escova com a largura igual & de uma lamina o intervalo de tempo de comutagio € apro | =0,0008s e 0 ritmo de comutagtio de corrente & 12,5 kA/s. Se © coeficiente de auto-indugio da sec¢3o comutada for L=1mHa fem. de 0,001 1250 comutacdo & 2,5 Vo que seria um valor excessivo para os recomendados 2 V ara as méquinas sem pélos auxiliares ou mesmo para os 6 V_ para as méquinas com pélos auxiliares. ‘A comutagao pode dar origem a faiseas eléctricas mais ou menos intensas entre as escovas € 0 colector, deteriorando-os. Embora a secgdio sujeita & comutagdo (secgdo A) esteja numa zona magnética praticamente neutta, a f.e.m. de auto-indugao devida a comutagao origina a corrente de circulago i com o sentido igual ao das correntes nas secgdes que ainda se encontram sob 0 pélo anterior (pélo Sul, como pode ver-se na secgio B do exemplo da Fig. 5-2), Convém ento criar um fluxo com um sentido tal que induza na secgao uma fi m, com o sentido contrario a fe.m, devida 3 comutagdo. Este fluxo pode entio ser criado por um polo de nome contrario, isto é, um pélo Norte. Assim, @ minimizagdo do problema originado pela comutagiio passa muitas vezes pela inclusio de pélos auxiliares ou de comutagdo entre os polos principais. No funcionamento da maquina como gerador, um pélo principal é antecedido por um pélo auxiliar do mesmo nome, 39

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