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Olá.

Sabemos que hoje em dia existem dezenas de técnicos novos no ramo e muitos e talvez
até mais que não possuem experiência, mas que estão migrando para a área de
conserto de placas de circuito impresso.
Analisando uma quadro geral, tanto para leigos quanto para gurus, há ainda dúvidas e
uma falta de instrução de como escrever suas dúvidas para que haja por parte de quem
de fato executa a ajuda, uma análise prévia do defeito e isso causa uma extensão de
tópicos repetidos com o mesmo assunto. Notamos isso observando pela moderação em
constante avisos para que haja mais cooperação dos membros ao iniciar um tópico com
dúvidas. Sendo assim, irei tentar ajudar de alguma forma, mesmo que atinja apenas
uma porcentagem mediana, a como realizar uma pré-análise de um defeito seja ele
qual for e a taxa de sucesso ser maior e, ao inverso, menos tarefas para quem pretende
ajudar e moderar.

PARTE I - Análise e elaboração do sintoma

Quando chegam os equipamentos em nossa assistência, o primeiro de tudo é escutar


com muita atenção o que o cliente alega estar ocorrendo com seu produto. É muito
importante saber ouvir e principalmente questionar como por exemplo, o que levou a
causar tal defeito. Isso ajuda e muito a você partir direto para um provável local em
que esteja o problema do equipamento.

EXEMPLOS

- Um cliente chega em sua loja e diz que seu notebook não liga. Certo, não liga pode
ser qualquer coisa, desde a fonte de alimentação a uma queda ou curto circuito e etc.
Perceba que há tantas possibilidades e cabe a você obrigatoriamente a questionar o que
levou a causa raiz do problema. 

Perguntas possíveis:
O que levou a causar este defeito? Foi queda, sobrecarga, fonte errada, líquido
derramado?

Respostas possíveis:
Meu filho derrubou da cama e parou de ligar! 
Estava eu tomando cerveja e derrubei sem querer...!
O cachorro mijou em cima e parou de ligar...!
Não sei!

Quando a resposta é "Não sei", fique com um pé atrás. isto significa que ou o cliente
não sabe mesmo ou é um terceiro que só levou o equipamento e tem aquele que
prefere ficar em silêncio, testando você, e aí que você precisa ter a "malandragem".
Não cabe a mim falar como proceder, pois cada cidade/estado tem uma cultura e isso
você deve sacar na hora quem é honesto e quem não.

- Um outro cliente chega e alega que seu netbook não dá vídeo. A ideia se aplica ao
ilustrado acima. Entretanto, quero deixar minha opinião e experiência com casos de
note/netbooks que não dão vídeo.
Primeiro de tudo é verificar o estado do equipamento, a "idade" e se possível procurar
saber quem é que utiliza a máquina. Pode parecer piada, mas não. Existem pessoas que
utilizam o notebook no colo, em geral mais jovens. Tem pessoas que comem enquanto
estão navegando. Não dá para tirar muito disso, mas é possível juntar idade do
notebook com a pessoa que utiliza e ter uma noção de que este equipamento sofre com
temperatura em seu grande ciclo de trabalho e temperatura é fundamental para quebra
de soldas em especial chipsets.

O que eu quis dizer é que antes da análise eletrônica, é preciso entender um mínimo do
estado "psicológico" do ciclo do equipamento. Não somos formados em psicologia rsrs,
mas é fácil observar estes detalhes e acabamos nos acostumando. Isso no final fará a
você a chegar a um diagnóstico mais preciso e terá grande chances de não cozinhar um
BGA por tentativa e erro.

Ah, jamais devemos esquecer de testar o equipamento na frente do cliente. É de praxe


isso. Como disse, há pessoas leigas que aparecem por aqui a todo tempo. 
Se você não testa de "cabo a rabo" preocupe-se com alguma coisa que irá estragar em
suas mãos e você deverá reembolsar ao cliente de preferência sem ele saber rs.
Resultado, seu lucro se tornará uma dor de cabeça.

Bom... feito tudo isso acima e claro com o seu jeito de ser, passamos adiante e em fim
a parte eletrônica. Iniciarei com o tópico falando sobre possibilidades de uma placa não
liga. Na sequência, continuarei com sintomas "sem vídeo".

PARTE II - Placa não liga

Cada um tem uma forma de expor e proceder com seus equipamentos. De uma forma
ou de outra, o final é o mesmo.

As dicas a seguir são uma ordem em que conta o tempo e boas práticas de aceitação
aos novos técnicos e novatos, pois requer apenas força de vontade.

> Tenha em sua bancada...

Além de exigir ao cliente que te entregue a fonte e bateria originais, tenha a seu dispor
peças originais e compatíveis com as grandes marcas do mercado. Certifique-se de ter
tudo funcionando, aferido e de fácil acesso. Se o cliente não trás por exemplo a fonte,
você deve ter uma para não correr o risco de no momento da entrada do aparelho você
nem realizar o teste mínimo. Lembre-se, cliente insatisfeito x 10 técnicos, cliente WINS!

Voltando. Tenha um multímetro com a bateria sempre nova. Técnicos inexperientes


acabam realizando medidas incorretas por este mísero detalhe. É bom ter
processadores, memórias, HDs, telas (LCD/CRT), fontes confiáveis e originais. Não
recomendo fontes universais, nunca encontrei uma que fosse 100% funcional, mas
também não é viável ter para cada notebook uma fonte, isto é fora do mundo real. Ter
uma fonte assimétrica é uma mão na roda, mas para quem SABE USAR. Se você não
tem curso de eletrônica médio, nem vou dizer iniciante, é médio, não use a fonte
assimétrica. Lembre-se de que partes do circuito trabalha com PWM e você não pode
injetar tensão linear (ah, mas é contínua também... É vai vendo...) e irá ferrar tudo e
vai perder o cliente e pior, o mesmo irá levar em outra assistência e perdeu! Fonte
assimétrica varia de placa para placa, pois cada uma exige um conhecimento de onde
injetar tensão e de quanto você deve injetar. No esquema elétrico costuma mostrar a
corrente de cada circuito em OCP (procurar sobre). E tem gente que injeta tensão de
OCP, já era amigo, entrega logo antes que outro problema apareça. Em resumo, fonte
assimétrica é para quem sabe usar, não sabe, não use.

Além disso tudo citado, você terá que ter o restante básico que é fluxo, estanho bom,
etc e etc.

> Colocando a placa sobre a mesa

Não foi possível diagnosticar o defeito sem ter que abrir o aparelho? Certo, agora é hora
de desmontar.

Na parte de desmontagem não tem razões para dizer que é assim ou colá que se faz.
Até porque cada aparelho tem sua particularidade. A única questão é, preocupe-se com
descarga eletrostática neste momento. A carcaça em geral é feita de um material de
plástico que é propício a ESD. É por esta razão que dentro do aparelho existem aquelas
fitas metálicas, para que a descarga saia por ali. Então, use jaleco, pulseira, manta de
aterramento e aterre a bancada, mesmo quando está desmontando o equipamento.
Você irá contribuir para o sucesso do seu reparo, te garanto.
Desmontado o aparelho, é aconselhável deixar apenas a placa, processador e memória.
Tenha a fonte e a tela ou monitor externo com fácil acesso.

Regra do 5 (instrução usada em uma empresa que fabrica placas)

- placa;
- processador;
- memória;
- fonte ou bateria;
- tela.

A partir daí, você começa a checar os defeito.

a) como realizar as medições necessárias para passar um diagnóstico nos


tópicos

Você precisa checar a fonte primária, pois evidente que dali saem todas as outras
tensões. Certifique-se de que a fonte é funcional.

Segue um exemplo bem detalhado de como realizar a análise e postar no tópico.

Se a fonte possuir um LED indicador de fonte ligada, sempre verifique se o LED se


mantém aceso ou se ele pisca ou se mantém desligado. Isso indica curto logo na
entrada e você certamente não encontrará tensão em nenhuma parte da placa, exceto
na bateria de 3V do CMOS.

Quando isso ocorrer, você deve informar no tópico que a placa está em curto e precisa
de ajuda para encontrar onde possivelmente o curto se encontra. Isto ajuda muito já
nas primeiras postagens de quem irá lhe ajudar a partir direto para as fontes de
proteção.

Se a fonte NÃO possui um LED indicador, é necessário medir o MOSFET de entrada ou o


fusível caso tenha. Abaixo exemplos disso:

Circuito sem fusível de entrada

Circuito com fusível de entrada


Ao medir ou no MOSFET de entrada ou fusível e não encontrar a tensão da fonte e
verificar que ambos estão OK, há curto na linha que é alimentada pela fonte primária.

Ao contrário, se encontrar a tensão da fonte normalmente, passamos ao seguinte


passo.

b) Placa possui tensão de entrada, verificação das principais fonte secundárias

Aqui muita gente sente dificuldade, pois varia de placa para placa a forma como é feita
a conversão das tensões secundárias. Lembre-se, estamos a falar de placa que NÃO
LIGA, portanto estamos buscando tensões que devem aparecer em standby. Em geral
são grafadas de VA, VALW, entre outros.

Sempre, buscar as tensões na saía das bobinas (chamadas CHOQUE), pois é dali que a
tensão será derivada ao resto do circuito. Se não possuir o esquema elétrico, identifique
as bobinas e vá garimpando até encontrar as tensões que devem ser 3,3VA e 5VA.
Outro importante detalhe é que estas tensões surgem de um PWM, portanto ao buscar
a bobina para medição, localize-se através daquelas que se aproximam de um CI, em
geral do tipo QFN.

Exemplo:

Observe que na figura acima, representa a saída da tensão de 3VA e que este circuito
usa diferentes PWMs para cada saída de tensão, isto é, um PWM para 5VA e outra para
3VA. É bom ficar atento a isto.
Em sua grande maioria, são apenas estas duas fontes principais secundárias que
fornecem ao restante da placa as outras voltagens. Entretanto, existem placas que
utilizam alguns sinais a mais para que a placa ligue, além de utilizar a bateria CMOS
como chaveador das outras tensões. Abaixo um caso conhecido:

Observações sobre o esquema acima:

1) Observe que esta placa utiliza como chaveador a bateria CMOS. Neste caso, nem
sempre configura o não ligar da placa, mas pode ser também que a mesma não suba
imagem. É um ou outro.
2) O sinal DD_ON# é aquele que realiza um check e em seguida cai (isso em stand-by).
É crucial analisar quando se tem nas mãos, a sequência de power de qualquer
esquema. Se ao contrário, o sinal DD_ON# ficasse sempre em nível alto, a placa não irá
ligar, mesmo tendo as outras tensões como 5VA ou 3VA.
3) Perceba ainda que no detalhe, é informado a tempo em que o sinal "rampa" de um
estado a outro. Nisso matamos que essa sequência nos diz que os 5V "nascem"
primeiro e logo em seguida com diferença de quase 500ms, surge a tensão de 3V. Se
houvesse caso de por exemplo faltar a tensão de 3V, certamente a tensão de 5V ou
quem o gera está com avaria.

c) Circuito de gerenciamento de bateria

Outro circuito que impacta ao não ligar de um aparelho é o circuito que gerencia a carga
de bateria. 
O primeiro a saber é que se este componente estiver queimado, a placa não liga.
Componente queimado significa em geral, curto em relação ao terra e portanto, fonte
primária inoperante.
Baseando neste datasheet (LINK), temos o pino 24 que recebe a tensão da fonte
(filtrada) e pino 17 que recebe tensão da bateria. Cabe ao técnico analisar partindo
destes dois pinos (neste caso), tudo que rodeia as tensões primárias. Seria fora de
escopo dizer aqui em detalhes a respeito deste circuito. Tem um vídeo
(youtube.com/watch?v=Zf4khzJ4xJE) a respeito do circuito de bateria com um pouco de
informação adicional.

d) A placa possui todas as tensões, hora de conferir sinais e pulsos

A partir daqui, entra outro aliado, o osciloscópio. É necessário para que seja feita as
medições dos sinais importantes, como pulsos de BIOS. Vale lembrar que é útil também
realizar medições nas fontes de PWM, pois ali existem frequências necessárias para o
funcionamento de FETS, porém este assunto fica para uma outra oportunidade.

> Pulsos do BIOS. Como aqui já foi dito e temos colegas que já elucidaram de forma
simples, vai aí o links para conferência.

Vídeo do colega @newtech.contato LINK
Vídeo do colega @Gilson Macedo LINK

Importante saber é que o BIOS possui relação íntima com o Super I/O, portanto é
necessário analisar ambos os casos.

> Gravação de BIOS resolve problema de não liga?

Amigos, existe um modo que placas de laptop trabalham e sim, se o BIOS estiver sem
funcionalidade, a placa deixa de ligar, mesmo apresentando todas as tensões. A vale
saber que, não é por que o BIOS está corrompido que é ele que irá não deixar startar a
máquina e sim o I/O. Pois é sabido que quem envia informações ao chipset é
justamente o EC. Ao pegarmos e lermos o datasheet de um BIOS conhecido
(LINKveremos que o pino 1 e é chamado de CS - Chip Select (/CS) é um pino que diz
ao I/O se tudo está OK ou não. Se sim, placa liga, se não placa não liga. Quando se tem
meio termo, nem é 0 ou 1 (efeito antena), o I/O não reconhece e não executa nenhuma
instrução. É por isso que a placa sem BIOS ou com ROM corrompido, não starta.

Nunca é demais apresentarmos a pinagem do BIOS. 

Note que o pino 1 (/CS) não foi englobado ao restante dos pinos I/O, pelo fato de ele
controlar o pino DO (SDO) e ainda, possuir auto-controle. Por isso chama-se FLOAT. A
tensão nesse pino varia conforme os POST que a placa realiza, assim como as formas
de onda apresentadas.

> Tenho tensões, pulsos e mesmo assim placa não liga

A partir daqui, a análise começa a ficar séria. Neste ponto é preciso extrair o máximo de
informações que o esquema nos dá. Quando não se tem esquema, é bom se basear por
datasheets dos componentes, não há outro meio.
Analisando o esquema, percebemos que trata-se do bloco de gerenciamento de power
da placa (SPM). Neste esquema não é dito diretamente (não está escrito) que trata-se
do bloco SPM, em outro esquemas isso as vezes é informado. Mas é fácil perceber isso
pelo fato de haver sinais entrando e saindo que se referem ao gerenciamento de start
da placa.

Temos PWRBTN#, PWROK e PWRSW.

Observe sempre o sentido em que o sinal é desenhado, ou ele saí, entra ou ambos.

PWRBTN# (OUTPUT) - refere-se ao sinal que é enviado ao chipset, ou seja, se este sinal
estiver OK, significa que o I/O está OK, chipset com defeito. PS.: Há casos que nos
enganam, pois pode ocorre uma probabilidade de que o chipset esteja matando este
sinal ou o próprio I/O. Isso confunde na hora da análise. Sai mais barato testar antes o
I/O do que o chipset rs.

PWROK  (OUTPUT) - outro sinal de saída que vai até o chipset, se existir este sinal, I/O
está OK.

PWRSW (INPUT) - através da chave liga/desliga este sinal entra no I/O dizendo ao
mesmo que a placa foi startada. Agora, muita atenção neste ponto. NÃO é o I/O que
derruba a tensão no momento do start do botão, esta queda de tensão é dada pela
própria chave, ora, a chave esta na posição aberta, ao fechá-la têm-se um curto
momentâneo (leva-se o sinal PWRON#ao 0V) e é por isso que ali a tensão sofre uma
queda. Portanto, o I/O não tem haver com a queda da tensão neste ponto. Entretanto é
bom saber que de acordo com o tempo em que este botão é pressionado, o I/O irá
entender como um código e por exemplo, irá ativar um sistema de carregamento via
USB. Algumas placas nota-se isso quando tem apenas a bateria conectada, há um delay
e é necessário que se pressione por mais tempo a chave power.

Chegamos no estágio mais avançado de análise de uma placa que não liga. A partir
daqui, é necessário substituir componentes (sempre do mais barato ao mais caro) e por
tentativas. Não esquecendo de mencionar que, algumas placas mais antigas possuem
cristal de clock externo ao I/O, precisa verificar o mesmo (freq. de 32.768KHz).

Básico de visual

Se você chegou até aqui, é preciso saber que tudo o que foi dito acima, só foi possível
pelo fato de você enxergar. Sendo assim, a primeira coisa que deve ser feita é um
visual, minucioso e detalhado. Cada parte da placa, face top e face bot, procurar por
componentes carbonizados ou estranhos, sujeiras em demasia, líquidos que causaram
oxidação e se possível saber a origem. O visual em placas de cliente final é tão
importante quando realizar manutenção.

Ainda, checar:

- jack DC/DC;
- flat cables e pinagem em geral;
- dobradiças que passam cabos;
- encaixe e fixação de memórias e processadores;
- tensão da bateria CMOS;
- eliminar periféricos (DVD, HDD, wireless, etc);
- com uma lupa, verificar por dentro de conectores como HDMI, RJ45, USBs, etc.

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