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PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO
19ª VARA DO TRABALHO DE CURITIBA
ATSum 0000915-90.2020.5.09.0028
RECLAMANTE: LEDINEA APARECIDA ARAUJO
RECLAMADO: LIDERANCA LIMPEZA E CONSERVACAO LTDA

SENTENÇA

Dispensado o relatório, em razão do rito processual adotado.

Decide-se:

A autora afirma ter sido contratada em 11/02/2019, mas registrada apenas em


09/05/2019.

A contestação nega (fls. 60).

A única testemunha ouvida confirmou os fatos como descritos na inicial. Como as


datas de vigência do contrato da testemunha são as mesmas, torna-se plausível a afirmação de conhecer o
período de duração do contrato de terceiros, atribuindo credibilidade ao depoimento. Além disso, a
testemunha afirmou que foram submetidas a exame médico admissional juntas, também no mês de fevereiro,
de onde bastaria ao empregador comprovar documentalmente que esse não foi o momento do exame
admissional, para desqualificar o depoimento, mas não teve tal iniciativa probatória.

Assim, concluo que o empregador não praticou corretamente os atos que lhe eram
devidos no momento da admissão. Acolhe-se o pedido para reconhecer como correta a data de admissão em
11/02/2019, determinando à ré que promova a alteração desse registro na CTPS digital da autora, no prazo de
cinco dias após o trânsito em julgado desta sentença, sob pena de multa diária de R$ 100,00.

Quanto aos deveres do empregador, no ato da extinção, também foram


negligenciados.

Ao promover a dispensa sem justa causa de empregado, e dever inexorável do


empregador, no prazo legal, pagar o valor das rescisórias e formalizar adequada e integralmente o ato,
fornecendo-lhe toda a documentação, como impõe o artigo 477, da CLT.

Art. 477. Na extinção do contrato de trabalho, o


empregador deverá proceder à anotação na Carteira de Trabalho e Previdência

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Social, comunicar a dispensa aos órgãos competentes e realizar o pagamento das


verbas rescisórias no prazo e na forma estabelecidos neste artigo.

§ 6o A entrega ao empregado de documentos que


comprovem a comunicação da extinção contratual aos órgãos competentes bem
como o pagamento dos valores constantes do instrumento de rescisão ou recibo de
quitação deverão ser efetuados até dez dias contados a partir do término do
contrato.

§ 8º - A inobservância do disposto no § 6º deste artigo


sujeitará o infrator à multa de 160 BTN, por trabalhador, bem assim ao
pagamento da multa a favor do empregado, em valor equivalente ao seu salário,
devidamente corrigido pelo índice de variação do BTN, salvo quando,
comprovadamente, o trabalhador der causa à mora.

Diz a contestação (fls. 62) que houve o registro da extinção do contrato de


emprego na CTPS física da trabalhadora. Não há prova disso, mas há prova do registro eletrônico da extinção
do contrato na CTPS (fls. 85), o que supre a exigência legal, nesse ponto, segundo o disposto, atualmente, no
artigo 29, §7º, da CLT.

Porém, quanto aos documentos para o saque do FGTS (TRCT e chave de


conectividade), bem como à guia RSD, para habilitação no programa público do seguro-desemprego, não há
prova alguma de que teriam sido fornecidos à trabalhadora. Diz a contestação que a documentação
necessária teria sido enviada pelos correios (fls. 64). Contudo, não há nos autos nenhum comprovante de
envio ou de recebimento dos documentos pela trabalhadora, imprescindíveis para o saque do FGTS e para a
habilitação no programa público do seguro-desemprego.

O extrato analítico do FGTS, às fls. 52, mostra que a autora, embora dispensada
em outubro de 2019, somente conseguiu sacar o FGTS em setembro de 2020, quase um ano depois, e pelo
COD 19E, que se refere ao saque emergencial em razão de calamidade pública decorrente da pandemia.

Portanto, concluo que, além do não pagamento integral das rescisórias (pelo
cálculo incorreto, desconsiderando a duração integral do contrato), a desídia do empregador obstou à
trabalhadora o saque oportuno do FGTS e a habilitação no seguro-desemprego, acarretando indenização e
multa para o empregador.

Assim, embora rejeitando o pedido de aviso prévio indenizado (pois foi cumprido,
conforme documento de fls. 89), condena-se a ré a pagar diretamente à autora as seguintes diferenças de
parcelas, decorrentes da rescisão contratual, abatendo o que foi parcialmente pago sob os mesmos títulos:

1. Nove duodécimos de gratificação natalina: R$ 267,52 (872,52-605,00);


2. Nove duodécimos de férias indenizadas com 1/3: R$ 353,26 (1163,36-810,10);
3. Multa do artigo 477, §8º, da CLT: R$ 1.163,36;

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4. Diferenças de depósito de FGTS com a multa rescisória: R$ 387,20;


5. Indenização do valor equivalente às parcelas do seguro-desemprego que a autora deveria ter recebido
do respectivo programa público e ficou obstada de receber por ato omissivo culposo do empregador,
em razão do vencimento do prazo legal para habilitação, decorrente do não fornecimento das guias
CD/RSD: R$ 3.300,00.

Assim, conclui-se por uma condenação no valor líquido de R$ 5.471,34, em valor


válido para a data de 31/10/2019.

Por outro lado, verifico que as obrigações convencionais do empregador, no ato


rescisório (cláusula 17ª da CCT, fls. 29) são buscar a assistência para aqueles com contratos superiores a um
ano, registrar a extinção do contrato em CTPS e efetuar o pagamento reconhecido no prazo legal. Não há
negociação sobre penalidade para a hipótese de não fornecimento de documentação, como existe na fonte
legal. Portanto, não acolho o pedido referente à multa convencional.

Da mesma forma, considero que o objeto desta pretensão são direitos patrimoniais,
de onde não verifico amplitude à dimensão dos direitos de personalidade da trabalhadora, para a imposição
de uma reparação por danos extrapatrimoniais. Rejeito também este pedido.

Sucumbente a ré, com amparo no art. 791-A, da CLT, é condenada ao pagamento


de honorários advocatícios aos procuradores do autor, no percentual de 10% (dez por cento) sobre o valor da
condenação em obrigações de crédito.

Para as finalidades do §3º, do art. 832, da CLT, estabeleço como de natureza


salarial as parcelas contempladas nesta condenação, exceto FGTS, indenizações e multas, determinando o
recolhimento das contribuições previdenciárias e fiscais porventura incidentes sobre o valor a ser pago, no
futuro, ao trabalhador, tanto a parcela a ser retida de seu crédito, na fonte, como também aquela devida pela
empresa.

As contribuições previdenciárias do trabalhador deverão ser apuradas mês a mês,


com referência ao período da prestação de serviços, mediante a aplicação das alíquotas e dos limites máximos
do salário-de-contribuição vigentes em cada uma das competências abrangidas, conforme o artigo 43, §3.º, da
Lei n.º 8.212/1991 e o artigo 276, §4.º, do Decreto n.º 3.048/1999, com juros incidentes sobre os valores
históricos, aplicáveis a partir do mês subsequente ao do vencimento e correspondentes à taxa SELIC, salvo
no mês de pagamento, em que os juros serão de um por cento, em conformidade com o artigo 35 da Lei n.º
8.212/1991 e os artigos 5.º, §3.º, e 61, §3.º, da Lei n.º 9.430/1996.

Ainda quanto às contribuições previdenciárias do trabalhador, responde


exclusivamente a empresa pela diferença entre o valor que resultar da aplicação dos juros previstos na
legislação previdenciária e o valor que resultaria da aplicação dos índices de correção monetária previstos na
legislação trabalhista, conforme a OJ EX SE 24, XVI, c.3, do TRT/PR.

Com relação às contribuições previdenciárias da empresa, seu recolhimento deverá

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ser efetuado no mesmo prazo de pagamento dos créditos do trabalhador, conforme o art. 43, §3.º, da Lei n.º
8.212/1991, com os juros previstos na legislação previdenciária, sob pena de multa diária de trinta e três
centésimos por cento, até o limite de vinte por cento, conforme o art. 35 da Lei n.º 8.212/1991 e o art. 61,
"caput" e §2.º, da Lei n.º 9.430/1996, além de imediata apreensão dos bens da parte ré, para pagamento,
observados os limites da competência material da Justiça do Trabalho, que alcança a execução do SAT, mas
não a execução das contribuições sociais devidas a terceiros, consoante a Súmula 454 do TST e os itens
XXVI e XXVII da OJ EX SE 24 do TRT.

As contribuições fiscais, por sua vez, deverão ser calculadas mediante a utilização
de tabela progressiva resultante da multiplicação da quantidade de meses a que se refiram os rendimentos
pelos valores constantes da tabela progressiva mensal correspondente ao mês do recebimento ou crédito, na
forma do art. 12-A da Lei n.º 7.713/1988.

Para as finalidades do §1º do art. 832 da CLT, determina-se que as obrigações de


pagar quantia certa sejam cumpridas pelo réu no prazo de quinze dias após a ciência dos valores
contemplados nesta condenação, já em valores líquidos, sob pena de acréscimo de multa de 10%, com
imediata apreensão judicial de seus bens, para pagamento.

DISPOSITIVO

Isto posto, DECIDE a MM. 19ª Vara do Trabalho de Curitiba/PR, ACOLHER


PARCIALMENTE as pretensões formuladas por LEDINEA APARECIDA ARAUJO em face de
LIDERANÇA LIMPEZA E CONSERVAÇÃO LTDA. para determinar a retificação do registro de
admissão na CTPS da autora, sob pena de multa, bem como para condenar a ré ao pagamento do valor
líquido de R$ 5.471,34, válido para a data de 31/10/2019, com atualização monetária e juros de mora na
forma da decisão STF ADCs 58 e 59, nos prazos e condições expostas, além de honorários advocatícios.
Custas pela ré sobre o valor provisoriamente estimado da condenação, considerando os acréscimos legais, de
R$ 7.000,00, no importe de R$ 140,00. Intimem-se. Nada mais.

CURITIBA/PR, 23 de agosto de 2021.

PAULO HENRIQUE KRETZSCHMAR E CONTI


Juiz Titular de Vara do Trabalho

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