Você está na página 1de 35

SUMÁRIO

1. Definição...................................................................................3
2. Conceitos anatomopatológicos........................................3
3. Epidemiologia..........................................................................6
4. Fisiopatologia..........................................................................6
5. Fatores que predispõem à inflamação na EM............9
6. Quadro clínico.......................................................................10
7. Formas clínicas....................................................................15
8. Diagnóstico...........................................................................18
9. Variantes da em..................................................................25
10. Diagnóstico diferencial...................................................27
11. Tratamento.........................................................................28
Referências bibliográficas ...................................................34
ESCLEROSE MÚLTIPLA 3

1. DEFINIÇÃO autoimunidade representa o proces-


so de agressão à bainha de mielina
A Esclerose Múltipla (EM) é uma do-
do SNC por uma resposta inflama-
ença autoimune, de caráter des-
tória exacerbada e contínua. Tal ele-
mielinizante, crônica e evolutiva
mento é essencial para o curso das
que atinge a substância branca do
alterações progressivas ao indivíduo
sistema nervoso central (SNC). A
acometido por essa patologia.

SAIBA MAIS!
A EM foi descrita em 1865 por Jean Martin Charcot, ao observar três pacientes que apresen-
tavam sintomas neurológicos há 10 anos. Assim, ele elaborou a tríade sugestiva da doença:
nistagmo, disartria e ataxia. São sinais resultantes de comprometimento das estruturas do
tronco cerebral e conexões cerebelares. Além disso, definiu a cronicidade da doença, com
evolução composta por períodos de remissão dos sintomas. Já na América Latina, a primeira
descrição de EM foi realizada no Brasil em 1923 por Aloísio Marques.

Em geral, o curso clínico da doen-


ça ocorre com eventos recorrentes CONCEITO! A Esclerose Múltipla (EM)
e períodos de remissões, fato que é uma doença autoimune, de caráter
desmielinizante, crônica e evolutiva que
determina o padrão sintomatológico
atinge a substância branca do sistema
e grau de incapacitação dos pacien- nervoso central (SNC). Como ocorre
tes acometidos. Em associação, outro a agressão? Por uma autorreação do
determinante é a fase da doença em sistema imune, gerando processos in-
flamatórios recorrentes que alteram
que o indivíduo se encontra. A EM, o funcionamento normal da bainha de
junto a outras doenças como encefa- mielina por perda de suas partes cons-
lomielite disseminada aguda e ence- tituintes, fenômeno denominado des-
falomielite necrotizante hemorrágica mielinização. Assim, há prejuízo na
condução dos impulsos nervosos e
aguda, compõe o grupo das doenças são evidenciadas manifestações clínicas
denominadas desmielinizantes do características.
SNC.

2. CONCEITOS
ANATOMOPATOLÓGICOS
Aspectos macroscópicos
As lesões macroscópicas são iden-
tificadas pela presença de placas
desmielinizadas dispostas de forma
ESCLEROSE MÚLTIPLA 4

difusa no SNC, acometendo regi- de acordo com a evolução e curso


ões do encéfalo e medula espinhal. da doença, sendo determinadas pela
As placas têm diâmetro e localiza- distribuição no SNC. Na fase inicial e
ção diversificadas, podendo variar aguda da doença há presença de cé-
de alguns milímetros a centímetros a lulas inflamatórias abundantes cul-
depender da evolução e curso da do- minando na maior agressão tecidual,
ença. De maneira geral, há visualiza- sendo evidentes seus aglomerados
ção de uma substância rósea acin- principalmente em torno das peque-
zentada que faz contraste evidente à nas veias. Dentre as principais células
substância branca do SNC. As loca- encontram-se os linfócitos e macró-
lizações preferenciais são periven- fagos. Estes contêm corpos grânulo-
tricular, periaquedutal (no tronco do -gordurosos que são gerados pela da
encéfalo) e junto ao assoalho do IV degradação da mielina. O padrão de
ventrículo, além de regiões como ce- lesão aguda pode ser tanto transver-
rebelo, nervo óptico, medula espi- sal quanto rostro-caudal.
nhal e pedúnculos cerebelares. Como o processo é evolutivo e crôni-
Aspectos microscópicos co, a fase aguda pode ser minimizada
As variações observadas na micros- e cessar em alguns momentos, con-
copia também variam drasticamente tudo, as áreas agredidas permane-
cem desmielinizadas, principalmente
porque os oligodendrócitos perdem
a sua capacidade proliferativa pela
rarefação celular. A partir do curso
natural da doença os processos in-
flamatórios subsequentes ocorrem
em novas áreas lesionadas, com mais
acúmulos de células inflamatórias e
áreas com macrófagos contendo os
produtos da desmielinização. As le-
sões iniciais tornam-se acelulares
ou com poucas células e há predo-
mínio de gliose (“cicatriz” no tecido
cerebral). Observe tais aspectos na
IMAGEM 1 a seguir.
ESCLEROSE MÚLTIPLA 5

Figura 1. Anatomia patológica. Imagem 1: (A) EM: Corte coronal do encéfalo fixado em celoidina, coloração de Weil,
placas de desmielinização na substância branca (setas). (B) EM: Placas de desmielinização na substância branca
cerebelar e ponte, fixado em celoidina, coloração de Weil (setas). (C) EM: Lesão desmielinizante perivenular inicial em
substância branca do encéfalo; coloração de Weil (X200). (D) EM: Infiltrado perivenular em placa inflamatória colora-
ção hematoxilina-eosina (X200). (E) EM: placa antiga de desmielinização com intensa gliose gemistocítica; coloração
hematoxilina-eosina (X200). Fonte: Clínica Médica – USP (vol. 6).
ESCLEROSE MÚLTIPLA 6

torno de dois casos a cada 100.000


SE LIGA! Papel da bainha de mielina habitantes.
no potencial de ação
No Brasil, de acordo com o ‘Atlas da
O potencial de ação é a alteração da ati-
Esclerose Múltipla’, 2013, a preva-
vidade elétrica de forma rápida e ordena-
da do polo negativo para positivo e vol- lência foi de 5 a 20 pessoas a cada
tando ao negativo. A velocidade varia de 100.000 habitantes.
acordo com as células envolvidas nesse
processo. No SNC, a bainha de mielina Estima-se que a doença predomine
otimiza a propagação do potencial de em áreas mais frias e com altas la-
ação. Mas o que é mesmo a bainha de titudes, ou seja, quanto maior a dis-
mielina? É uma membrana de gordu-
tância da linha do Equador, maior a
ra do SNC que envolve os axônios e
permite a separação adequada entre os probabilidade de acometimento. Este
mesmos, constituindo a unidade fun- fato é evidenciado no Brasil, visto que
damental para a propagação dos im- o Sul e Sudeste são as áreas mais
pulsos nervosos. Existem duas fases
clássicas na propagação que é a passiva prevalentes.
e ativa e a bainha de mielina atua favo- A EM é predominante em adultos
recendo a passagem por essas fases
de forma rápida (“saltitante”) e contínua.
jovens, na faixa etária entre 20 e 40
Isso ocorre pelo aumento do isolamento anos de idade, mas não exclui outras
celular e diminuição das perdas de íons faixas etárias. Ao contrário do imagi-
na fase passiva da propagação. Além nário popular de que é uma doença
disso, há menor gasto energético duran-
te por não haver síntese proteica, visto comumente encontrada em pacien-
que praticamente não existem canais tes idosos. É predominante no sexo
de membrana na bainha de mielina. Por feminino em uma proporção de 3:1.
fim, também ocorre “queima de etapas”
na fase ativa da propagação favorecen- Vale salientar que a EM é a segunda
do os movimentos saltatórios que são causa de incapacitação por origem
essenciais para a transmissão dos im- não traumática em adultos jovens,
pulsos elétricos.
por isso, seu diagnóstico e manejo em
fases iniciais é essencial para o con-
3. EPIDEMIOLOGIA trole sintomático eficaz, bem como
para proporcionar qualidade de vida
A incidência e prevalência da do-
aos acometidos.
ença no mundo variam de acordo
com as diferentes áreas geográfi-
cas e etnias, predominando em re- 4. FISIOPATOLOGIA
giões temperadas e frias e em in-
Fatores que desencadeiam a EM ain-
divíduos caucasianos. Por exemplo,
da não são bem explicitados na lite-
na Europa, a prevalência fica em tor-
ratura. Muitos estudos relacionam
no de 100 a cada 100.000 habitan-
interações complexas entre genética
tes, enquanto que no Japão varia em
ESCLEROSE MÚLTIPLA 7

e fatores ambientais que possam ex- inflamatório agudo, quanto pelos


plicar o desenvolvimento e progres- efeitos diretos da desmielinização
são da doença, contudo, ainda não há que geram bloqueio da condução dos
definição clara sobre tais aspectos. O impulsos nervosos.
que se sabe é que a ação do siste- É possível que o processo inflama-
ma imune de forma desregulada e tório inicial seja autolimitado e com a
agressiva ao SNC está envolvida no resolução do processo agudo exista
processo patológico. recuperação de funções durante as
A doença se inicia a partir da ativa- fases de remissão da doença. Contu-
ção desregulada do sistema imune do, com a progressão, recorrência de
com linfócitos T na periferia, ou seja, eventos autoimunes e consequente
no sangue periférico e linfonodos. morte neuronal há formação de pla-
Com isso, há consequente ativação cas cicatriciais que variam em diâ-
de linfócitos B e monócitos que metro e localização, determinando as
atravessam a barreira hematoencefá- manifestações clínicas em cada fase
lica e chegam ao SNC gerando rea- da doença.
ções inflamatórias indesejadas com Os tipos clínicos serão explicitados
a produção de citocinas e anticorpos. mais a frente e suas diferenciações
Tal reação de maneira continua oca- são determinadas pela ação do siste-
siona a desmielinização, com áreas ma imune, seja de forma ativa produ-
espaçadas que formam os focos cica- zindo surtos bem definidos, quanto
triciais - gliose. por agressões progressivas e evoluti-
A perda de função durante um surto vas desde o início da doença.
da doença ocorre tanto pelo processo
ESCLEROSE MÚLTIPLA 8

FLUXOGRAMA - FISIOPATOLOGIA

Sangue periférico
ATIVAÇÃO DE
LINFÓCITOS T
Linfonodos

ATIVAÇÃO DE LINFÓCITOS B E MACRÓFAGOS

SNC

AGRESSÃO À BAINHA DE MIELINA +


DESTRUIÇÃO NEURONAL

PLACAS CICATRICIAIS

Mielina normal

Mielina cicatrizada
ESCLEROSE MÚLTIPLA 9

Figura 2. Fisiopatologia – aspectos imunológicos. Representa a ação no sistema imune com linfócitos T, linfócitos B
e macrófagos que atravessam a barreira hematoencefálica e agridem estruturas do SNC. A autoimunidade confere
liberação de citocinas, autoantígenos e alteração de células da glia. Fonte: http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocen-
te/admin/arquivosUpload/15347/material/Aula%201%20ELA%20Esclerose%20m%C3%BAltipla%20e%20doen%-
C3%A7a%20de%20alzheimer.pdf

5. FATORES QUE função Th1 (responsável pelo pro-


PREDISPÕEM À cesso inflamatório da EM). Popula-
INFLAMAÇÃO NA EM ções com nível socioeconômico mais
desenvolvido apresentam maior inci-
A ação contínua de alguns fatores,
dência da doença. Dessa forma, a in-
como fatores ambientais de natureza
dustrialização, a poluição, os alimen-
viral, exposição aos raios ultravioleta e
tos industrializados e condimentados,
menor produção de vitamina D, inter-
determinariam um desvio da resposta
ferem indiretamente no sistema imu-
imune para a ativação da função Th1.
nológico, contribuindo para o apareci-
mento de condições favoráveis para
a ativação da linhagem linfocitária de
ESCLEROSE MÚLTIPLA 10

6. QUADRO CLÍNICO Sinais e sintomas


A identificação mais evidente ocorre A apresentação clínica é variável,
na presença de um episódio de sur- podendo cursar com sintomas espe-
to da EM. Os sintomas neurológicos cíficos ou difusos e citaremos aqui as
são transitórios e focais e variam de manifestações mais comuns que va-
acordo com o tipo de lesão em cur- riam em sintomas sensitivos, moto-
so, por exemplo, pela dimensão da res, visuais e síndromes medulares,
lesão ou locais da substância bran- além de manifestações gênito-uriná-
ca do SNC que foram acometidos rias e psiquiátricas.
simultaneamente. Dentre as alterações sensitivas des-
O surto é caracterizado pela perda tacam-se a hipoestesia que é carac-
de funções que podem ser sensiti- terizada por perda ou diminuição de
vas, motoras, visuais e/ou como sín- sensibilidade em um determinado
dromes medulares. Sua ocorrência segmento corporal, parestesia que
e cessação podem ocorrer de forma é a sensação de formigamento e
súbita ou até mesmo durar alguns dormência e até mesmo dor. Vale
dias ou semanas. Essa perda de fun- destacar que os sintomas sensitivos
ção ocorre de maneira transitória e há são mais proeminentes do que os
remissão das manifestações durante motores.
certo período de tempo até que um Alterações motoras são percebi-
novo surto seja evidenciado. das pelo acometimento do primeiro
neurônio motor superior como a es-
pasticidade, hiperreflexia, clônus e
Evolução
presença do Sinal de Babinski.
A evolução da doença após um epi-
sódio de surto não ocorre de forma
semelhante em todos os indivíduos,
tão pouco tem um padrão definido
de acometimento. Em geral, os sur-
tos são espaçados com períodos de
melhora, sem sequelas em momen-
tos iniciais e a partir da recorrência de
surtos há alterações funcionais im-
portantes pelas marcas cicatriciais e
morte neuronal que caracterizam as
sequelas neurológicas.
ESCLEROSE MÚLTIPLA 11

exsudatos retinianos. Esses fenôme-


SE LIGA! Os reflexos superficiais nunca nos ocorrem pelo espessamento do
estão exacerbados ou hiperativos. Po- nervo óptico dentro da cavidade or-
dem estar hipoativos ou ausentes. Nes-
bitária e também tem curso progres-
te caso, o reflexo cutâneo plantar pode
estar ausente e, no seu lugar, surgir o sivo, podendo se agravar a partir da
sinal de Babinski, ou seja, a extensão evolução crônica da doença.
ampla e majestosa do hálux e abdu-
ção dos demais pododáctilos. Manifestações gênito-urinárias po-
ATENÇÃO! Não existe “Reflexo de Ba-
dem estar presentes e destacam-se
binski” ou “Sinal de Babinski positivo”! O desde incontinência, polaciúria, ur-
nome do reflexo em questão é reflexo gência a alterações como disfunção
cutâneo plantar e, ao observar-se o re- sexual. Esses sintomas são relacio-
flexo cutâneo plantar extensor, denomi-
namos Sinal de Babinski. nados à qualidade de vida de forma
muito proeminente, principalmente
em adultos jovens, por isso, sua iden-
tificação e correlação clínica é essen-
cial ainda em fases iniciais da doença.
Por fim, mas não menos importante,
o paciente pode cursar com sinto-
mas neurológicos, sendo esta uma
manifestação muito relacionada à
evolução da doença e curso clínico.
Destacam-se a depressão e perda
Figura 3. Sinal de Babinski. Fonte: https://slide- cognitiva gradual e progressiva.
player.com.br/slide/298851/
Tais alterações não estão muito rela-
cionadas aos acometimentos focais
Com a agressão ao nervo óptico e limitados, mas, comumente, ocor-
comumente o paciente se apresenta rem após acometimento de áreas
com neurite óptica que é a inflama- mais extensas com desmielinização
ção do nervo óptico. Os sintomas co- e morte neuronal proeminentes. Em
meçam com o acometimento usual- consonância, a depressão também
mente unilateral e perda parcial da pode surgir como consequência da
acuidade visual (visão ventral), além incapacitação progressiva e altera-
de dor retro-ocular. Não são eviden- ções agressivas no estilo e qualidade
ciados fenômenos hemorrágicos e de vida.
ESCLEROSE MÚLTIPLA 12

HORA DA REVISÃO – ÁREAS CEREBRAIS E FUNÇÕES

REGIÃO MÉDIA
REGIÃO ANTERIOR
• Assimetria Facial
• Fraqueza:
• Fraqueza:
- MI > MS
- MS > MI
• Hipoestesia:
• Hipoestesia:
- MI > MS
- MS > MI
• Apatia
• Afasia
• Incontinência urinária
• Negligência

REGIÃO POSTERIOR
• Vertigem, náuseas e vômitos
• Alterações visuais
• Ataxia
• Hemi-hipoestesia
• Alteração do estado mental
ESCLEROSE MÚLTIPLA 13

FLUXOGRAMA 2 - SINAIS E SINTOMAS

1 2 3 4 5

Sensitivos Motores Visuais Gênito-urinários Psiquiátricos

Hipoestesia Fraqueza Diplopia Polaciúria Depressão

Parestesia Espasticidade Turvação visual Incontinência Déficit cognitivo

Dor Hiperreflexia Dor Urgência

Clônus Perda visual Disfunção sexual

Sinal de Babinski

Região 3 2 Região
posterior anterior e média

Psiquiátricos são difusos!!

O Fenômeno de Uhthoff é ca- sintomas exacerbação de sintomas


racterizado pela piora da condição preexistentes.
nervosa relacionada à elevação da Outra manifestação é o sinal de Lher-
temperatura corporal, por exemplo, mitte que é a sensação de choque
por febre ou exposição ao calor am- iniciada das costas com irradiação
biental. O paciente torna-se intole- para região lombar e membros infe-
rante a elevação de temperaturas riores após a flexão forçada ou passi-
cursando com desencadeamento de va do pescoço. É essencial perguntar
ESCLEROSE MÚLTIPLA 14

ao paciente se o mesmo teve essa dor, então é preciso que seja feita a
sensação, pois nem sempre é intensa referência de forma clara.
suficiente para apresentar fáscies de

Flexão da cabeça

Sensação de choque
em coluna e membros
inferiores

Figura 4. Sinal de Lhermitte. Representa o sinal de Lhermitte que é a movimentação da cabeça na posição de flexão
e consequente sensação de choque que percorre a coluna até membros inferiores. Fonte: https://pt.slideshare.net/
otaviobh/semiologia-ortopedica-tjmg

Os sinais e sintomas supracitados po- clínicas que facilitam o diagnóstico. A


dem se apresentar de forma isolada tabela abaixo representa as principais
ou conjunta, mas vale salientar que síndromes clínicas e manifestações
tem relação direta com a área do SNC associadas.
acometida. Assim, podemos agru-
par as manifestações em síndromes
ESCLEROSE MÚLTIPLA 15

SÍNDROMES CLÍNICAS SINAIS E SINTOMAS


Unilateral
Dor a movimentação ocular
Neurite óptica
Diminuição da acuidade visual
Edema de papila
Ataxia e nistagmo multidirecional
Síndrome do tronco Paresia isolada do IV par craniano
Oftalmoplegia internuclear bilateral
Mielite parcial
Urgência urinária
Síndrome medular
Paraparesia espástica assimétrica
Sinal de Lhermitte
Hemiparesia
Síndrome hemisfério
Defeito cognitivo subcortical
Tabela 1. Síndromes clínicas e manifestações associadas

7. FORMAS CLÍNICAS caracterizado por fases de agres-


sões autoimunes espaçados por
A EM é a mais frequente doença in-
períodos de remissão da doença.
flamatória do SNC em adultos jovens.
É reconhecida por sua heteroge- Mais especificamente, na forma remi-
neidade clínica. Para entender as di- tente recorrente ocorre inicialmente
ferentes formas clínicas da EM e suas uma lesão inflamatória no SNC, sú-
manifestações é essencial relembrar bita e transitória que pode ser au-
os fenômenos fisiopatológicos en- tolimitada, sem deixar sequelas, com
volvidos com agressões inflamató- duração um pouco maior que 24 ho-
rias súbitas e contínuas ao SNC de- ras. Após essa agressão inicial existe
correntes da reação autoimune. o período de remissão, quando não
há dano evidente até que ocorra
São três formas clínicas: 1- remiten-
um novo surto. No momento em que
te recorrente; 2- secundariamen-
um novo surto ocorre já de maneira
te progressiva e 3- primariamente
mais agressiva é possível gerar le-
progressiva.
são à bainha de mielina de forma
irreversível. A doença progride dessa
Remitente recorrente forma, com períodos de surtos e re-
missões, sendo que as lesões gera-
A forma remitente recorrente é a das nos surtos vão se acumulando
mais comumente encontrada, sen- e ocasionando danos mais graves
do responsável por 80% de todos os à bainha de mielina de forma difu-
casos e o processo fisiopatológico é sa no SNC. Consequentemente, os
ESCLEROSE MÚLTIPLA 16

sintomas tornam-se mais intensos e pela formação das áreas cicatriciais,


cumulativos na progressão da doença ou seja, placas desmielinizadas.

Recorrência
Remissão
Remissão incompleta
Estabilidade sem atividade
Nova atividade (recorrência)
INCAPACIDADE

TEMPO

Figura 5. Temitente recorrente. Fonte: adaptado de Lublin et al., 2014.

Secundariamente progressiva menos intensa do que na fase ini-


cial (remitente recorrente).
A forma secundariamente progressi-
va é a evolução da forma remitente Para fixar: a marca dessa fase é a
recorrente ocorrendo em até 85% evolução da doença de forma pro-
dos casos. Neste caso, inicialmente gressiva sem surtos bem definidos
existem períodos bem definidos de clinicamente, mas sempre com histó-
surtos e remissões até que com a ria prévia da forma remitente recor-
progressão da doença as fases de rente bem identificada.
surtos já não são bem identificadas A imagem 6 representa de forma es-
clinicamente. A doença evolui pro- quematizada a progressão da doença
gressivamente com acúmulo de le- e vamos explica-las em sequência.
sões ao SNC e sequelas crônicas. É Observe as fases citadas no parágra-
possível que existam novos surtos fo a seguir junto à imagem represen-
identificados, mas de forma bem tada para facilitar o entendimento.
ESCLEROSE MÚLTIPLA 17

Fase 1, em cinza, determina o início em laranja é visualizada a fase de ati-


da doença com a forma remitente re- vidade da doença, contudo, sem pro-
corrente que é o marco inicial da EM, gressão evidente, até que em verde
em seguida, na cor vermelha ocorre a é identificada a progressão sem ativi-
atividade da doença em progressão, dade até chegar na estabilidade clíni-
de forma ascendente e a partir de ca representada em azul. Os picos de
então já não são mais evidenciados atividade e recorrência são determi-
surtos de forma clara, pois inicia-se nados pelas setas lilás que ficam es-
a progressão para a fase secundaria- tão relacionadas à evolução temporal
mente progressiva. Posteriormente, e gradual da doença.

Remitente recorrente
Atividade (recorrência) com progressão
Atividade (recorrência) sem progressão
Progressão sem atividade
Estabilidade
Nova atividade (recorrência)
INCAPACIDADE

TEMPO
Figura 6. Secundariamente progressiva. Fonte: adaptado de Lublin et al., 2014.

Primariamente progressiva É possível que em algum momento


da evolução clínica haja a eviden-
A terceira forma corresponde a cerca
cia de surtos, mas de forma isola-
de 10% dos casos, é a forma prima-
da e bem menos evidente do que
riamente progressiva. Neste caso a
nas demais formas. A imagem 7
doença não é uma evolução da for-
representa de forma esquematizada
ma remitente recorrente como vimos
a evolução da forma primariamente
anteriormente, pois não há períodos
progressiva.
de surto bem definidos desde o iní-
cio da doença. As alterações nessa
fase são sempre progressivas!
ESCLEROSE MÚLTIPLA 18

Atividade (recorrência) com progressão


Sem atividade sem progressão (estabilidade)
Progressão sem atividade
Atividade sem progressão
Nova atividade (recorrência)
INCAPACIDADE

TEMPO

Figura 7. Primariamente progressiva. Fonte: adaptado de Lublin et al., 2014.

8. DIAGNÓSTICO patologias e confirmar a EM, é ne-


cessária uma avaliação complexa e
O diagnóstico é definido conforme
acompanhamento clínico para definir
critérios clínicos e pode ser comple-
o quadro.
mentado pelos achados radiológicos
e laboratoriais. Assim, a anamnese O principal critério utilizado na uti-
detalhada com informação sobre si- lização de exames de imagem é a
nais e sintomas e evoluções progres- determinação do envolvimento de
sivas dos danos crônicos são os prin- duas ou mais áreas do SNC, sen-
cipais determinantes do diagnóstico. do que deve haver intervalo superior
Logicamente, as fases da doença têm a um mês entre as mesmas, isso se
manifestações variadas, por exemplo, não existir outras explicações claras
se o paciente está no primeiro surto, que definam o quadro clínico.
sem nunca ter apresentado sintomas, Duas classificações devem ser men-
ou se o acometimento já é tardio. Em cionadas: critérios clínicos de Schu-
estágios iniciais pode ser complexa macher et al. (1965) e critérios do
a definição diagnóstica e os exames Painel Internacional de McDonald et
complementares se fazem presen- al. (2001). Schumacher et al. elabo-
te para auxiliar na confirmação. Vale raram critérios a partir de observa-
salientar que sintomas isolados não ções clínicas que serviram de padrão
são suficientes para afastar outras para as demais classificações. Os
ESCLEROSE MÚLTIPLA 19

critérios de Schumacher et al. deram distintas na substância branca do


uma uniformidade aos conceitos de SNC com disseminação no tempo e
recidiva, duração e intervalo entre espaço.
os sintomas, localização de lesões

CRITÉRIOS DE SCHUMACHER PARA O DIAGNÓSTICO CLÍNICO DA EM


Idade entre 10 e 50 anos
Doença localizada na substância branca do SNC
Lesões disseminadas no tempo e no espaço (duas ou mais lesões
separadas)
Anormalidades objetivas no exame neurológico
Surtos com duração igual ou superior a 24 horas
Intervalo entre os surtos superior a um mês
Quadros progressivos com duração igual ou superior a seis meses
Não há melhor explicação para os sinais e sintomas (não há outras
patologias que explicam os sinais e sintomas)
Investigação com uma rotina básica de exames
Realização por neurologista conhecedor de neurologia clínica
Tabela 2. Fonte: Clínica Médica : doenças dos olhos, doenças dos ouvidos, nariz e garganta, neurologia, transtornos
mentais – 2019. Adaptada.

Devido às particularidades da doen- outras. Inicialmente, os sintomas co-


ça e necessidade de sistematização mumente encontrados são a hipo-
para permitir um diagnóstico breve e estesia, lembrando que os sintomas
assertivo, foram criados critérios clí- sensitivos são os mais evidentes na
nicos, radiológicos e laboratoriais maioria dos casos; paresia que pode
que em conjunto auxiliam na confir- ocorrer em uma única região do corpo
mação diagnóstica, são os critérios ao com acometimento de todo hemi-
de Mc Donald. Eles foram criados em corpo; neurite óptica com diminuição
2001 e atualizados em 2017 como da acuidade visual progressiva; dis-
apresentaremos a seguir. funções urinárias como a polaciúria
e urgência e/ou sexuais como a dis-
função sexual.
Manifestações clínicas
Mas quais são mesmo os achados
clínicos? Alterações sensitivas, moto-
ras, oculares, gênito-urinárias, dentre
ESCLEROSE MÚLTIPLA 20

MAPA MENTAL – RELEMBRANDO AS MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS

Parestesia

Hipoestesia
Fenômeno de Uhthoff SINAL DE LHERMITTE
Dor

São mais proeminentes!

Sensitivas

Gênito-urinárias Oculares

Polaciúria
Neurite óptica
Urgência

Motoras Unilateral
Incontinência

Turvação visual
Disfunção sexual
Neurônio motor
superior Dor ocular

Hiperreflexia Perda da visão

Espasticidade

Clônus

Sinal de Babinski
ESCLEROSE MÚLTIPLA 21

Achados radiológicos monócitos, são produzidas caracte-


rísticas clássicas à ressonância mag-
A ressonância magnética é o exame
nética. Dentre essas são visualizadas
indicado para auxiliar na confirmação
as lesões ovaladas (ovoides) que são
diagnóstica da EM e pode apresen-
áreas arredondadas, esbranquiçadas,
tar padrões diversificados de lesões
podendo variar de milímetros a centí-
à substância branca do SNC. Esse
metros e que podem tanto ser locali-
exame evidencia tanto lesões com in-
zadas quanto disseminadas no SNC.
dícios de inflamação aguda quanto
As imagens 6 e 7 representam esse
manifestações crônicas pela forma-
achado respectivamente em córtex
ção de placas desmielinizadas como
cerebral e medula espinhal. As lesões
veremos a seguir.
ovoides podem formar uma apresen-
Após lesões agudas ao córtex ce- tação típica a ressonância magnética
rebral e região medular pela infla- semelhantes a dedos, são os chama-
mação ativa causada por linfócitos e dos Dedos de Dawson.

Figura 8. Ressonância magnética em corte axial com lesões Figura 9. Ressonância magnética em corte sagital
ovoides na substancia branca do SNC. Fonte: Case courtesy da medula espinhal cervical. Fonte: Case courtesy of
of A.Prof Frank Gaillard, Radiopaedia.org, rID: 2634. A.Prof Frank Gaillard, Radiopaedia.org, rID: 2635.
ESCLEROSE MÚLTIPLA 22

SAIBA MAIS!
O sinal dos “dedos de Dawson” na EM corresponde às lesões localizadas na substância
branca periventricular, com maior eixo perpendicular ao corpo caloso, com aspecto ovoide,
relacionadas a alterações inflamatórias ao redor das veias medulares. James Walker Dawson
foi um patologista escocês que desenvolveu importantes estudos sobre a doença.

Figura 10. Ressonância magnética em corte sagital representando os “Dedos de Dawson”. Fonte: Case cour-
tesy of A.Prof Frank Gaillard, Radiopaedia.org, rID: 2634.

Qual apresentação clássica após a


formação de placas desmielinizadas?
As lesões crônicas que surgem
após a desmielinização da bainha
de mielina são visualizadas em ima-
gem como lesões escurecidas que
são denominadas de “black holes”.
Esse achado é representado na ima-
gem 11.

Figura 11. Ressonância magnética representando áreas


enegrecidas que são os “black holes”. Fonte: Case cour-
tesy of A.Prof Frank Gaillard, Radiopaedia.org, rID: 35195.
ESCLEROSE MÚLTIPLA 23

SAIBA MAIS!
Os “Black Holes” são lesões hipodensas (enegrecidas) distribuídas na substância branca do
SNC que surgem onde a células da glia (astrócitos e oligodendrócitos) substituíram a bainha
de mielina destruída envolta nos axônios. Esse processo resulta da agressão crônica pelas
células linfoides e citocinas a bainha de mielina e formação de placas cicatriciais.

Figura 12. Representação da ação de células do sistema imune agredindo a bainha de mielina com a pre-
sença de fatores de complemento e citocinas. Há também ação desordenada de células da glia formando
deposições em áreas lesadas e regiões cicatriciais. Por fim, a condução do impulso nervoso é prejudicada.
Material acessado no link: http://professor.pucgoias.edu.br/SiteDocente/admin/arquivosUpload/15347/material/
Aula%201%20ELA%20Esclerose%20m%C3%BAltipla%20e%20doen%C3%A7a%20de%20alzheimer.pdf
ESCLEROSE MÚLTIPLA 24

Embora a EM seja uma doença de Critérios de Mc Donald


diagnóstico iminentemente clínico, a
investigação laboratorial é importan- Abaixo serão descritos os critérios
te para auxiliar a hipótese diagnóstica utilizados como base diagnóstica da
de forma mais incisiva, principalmen- EM de forma sistematizada. Serão
te em estágios iniciais, além de fazer abordados os critérios de Mc Donald
diagnóstico diferencial com outras adaptados (2017). Para isso é ne-
patologias. Dessa forma a análise do cessário exame de ressonância mag-
líquor cefalorraquiadiano é útil para nética do encéfalo que demonstrará
avaliar e descrever modificações que lesões características de desmielini-
acontecem na relação entre citologia zação como explicadas nos tópicos
e proteínas. de exames de imagem; devem ser
realizados exames laboratoriais que
Em cerca de 75% dos pacientes a
auxiliam na exclusão de outros diag-
avaliação liquórica revela elevação
nósticos como (exames de anti-HIV e
de gamaglobulinas e imunoglobuli-
VDRL e dosagem sérica de vitamina
na G ou seja, há bandas oligoclonais
B12); o exame do líquor também é exi-
de IgG. Vale salientar que esse acha-
gido para afastar outras doenças em
do não é específico, mas indica essa
caso de dúvida diagnóstica. Por fim,
proliferação de anticorpos pela rea-
é utilizado o Potencial Evocado Visual
ção inflamatória. Além disso, durante
se existirem dúvidas diagnósticas.
o surto, ou seja, na vigência da fase
inflamatória e agressão aguda, pode
ser evidenciado a elevação de células
de origem linfoide, por exemplo.
ESCLEROSE MÚLTIPLA 25

APRESENTAÇÃO
DADOS PARA DIAGNÓSTICO
CLÍNICA
A) 2 ou mais surtos +
evidência clínica de 2 Apenas 1 ou 2 lesões sugestivas de EM à RM.
ou mais lesões.
Disseminação no espaço, demonstrada por RM com critérios de Barkhoff, pre-
sença de pelo menos 3 das 4 características a seguir: (a) pelo menos 1 lesão im-
B) 2 ou mais surtos +
pregnada pelo gadolínio ou pelo menos 9 lesões supratentoriais em T2; (b) pelo
evidência clínica de 1
menos 3 lesões periventriculares; (c) pelo menos 1 lesão justacortical; (d) pelo
lesão.
menos 1 lesão infratentorial; OU RM com 2 lesões típicas e presença de bandas
oligoclonais ao exame do líquor; OU Aguardar novo surto.
Disseminação no tempo, demonstrada por RM após 3 meses com novas lesões
C) 1 surto + evidência
ou pelo menos 1 das antigas impregnada pelo gadolínio; OU aguardar novo
clínica de 2 lesões.
surto.
Disseminação no espaço, demonstrada por RM com Critérios de Barkhoff ou RM
D) 1 surto mais evi- com 2 lesões típicas e presença de bandas oligoclonais no exame do líquor E
dência clínica de 1 Disseminação no tempo, demonstrada por RM após 3 meses com novas lesões
lesão. ou pelo menos 1 das antigas impregnada pelo gadolínio; OU aguardar novo
surto.
Tabela 3. Fonte: Ministério da Saúde, 2019. Link: https://www.saude.gov.br/images/pdf/2019/outubro/10/PCDT-Es-
clerose-M--ltipla.pdf

9. VARIANTES DA EM visual. Normalmente a NO é unilate-


ral, acompanhada de dor ocular e de
Neurite Óptica (NO)
baixa acuidade visual. A recuperação
A NO é considerada uma doença depende do grau de lesão instalada
desmielinizante quando não existe na fase aguda; disco de aparência
evidência de doença infecciosa, sis- normal é encontrado na maioria dos
têmica ou EM. A NO desmielinizante pacientes acometidos.
pode ocorrer isoladamente sem o
comprometimento de outras lesões
Neuromielite Óptica (NMO)
no SNC (não há o diagnóstico prévio
de EM, ou seja, temos uma síndrome A NMO acomete somente a medu-
clínica isolada) ou pode apresentar- la espinhal e o nervo óptico. Para
-se como uma manifestação da EM. seu diagnóstico, é necessária a pre-
A NO é caracterizada pela perda vi- sença de lesões na medula espinhal
sual, onde há embaçamento, turva- com extensão maior que 3 corpos
ção ou escurecimento total ou par- vertebrais, assim como uma am-
cial. O paciente pode relatar, também, pla extensão transversal associada
dor ocular antes de haver a perda a NO, com a ressonância magnética
ESCLEROSE MÚLTIPLA 26

do encéfalo normal. Uma característi- Encefalomielite aguda


ca da doença recorrente é não apre- disseminada (ADEM)
sentar progressão entre as recidi-
A ADEM ocorre após infecção viral
vas, elas ocorrem de forma súbita e
ou bacteriana ou após uma vacina-
com somatória da incapacidade. A
ção. Os vírus identificados como res-
evolução da doença recidivante é ca-
ponsáveis pela ADEM foram: os vírus
racterizada pela amaurose unilateral
da família do herpes, do sarampo,
e paraparesia severa ou paraplegia
da caxumba, do HIV, da hepatite, da
crural, com alteração do controle ve-
dengue, do enterovírus, entre outros;
sical. Cabe ressaltar que a falência
bactérias Chlamydia, Legionella, Bor-
respiratória é a causa mais comum
relia burgdorferi, Listeria e vacinas da
de óbito dos pacientes com a doença
hepatite B, sarampo, caxumba, pólio,
recidivante, no período de 5 anos em
tétano etc. São raros os casos em
média.
que há conversão da ADEM para
EM. Seu diagnóstico se caracteriza
SE LIGA! A NMO também é conheci- por um sintoma único de gravidade
da como Doença de Dévic. Sua causa variável com a evidência do quadro
ainda é desconhecida, mas sabe-se que
é uma doença autoimune ou de autoa- febril ou vacinal precedendo de 1
gressão, em que o organismo produz a 4 semanas a instalação dos sin-
um anticorpo, denominado aquaporina tomas. Geralmente há uma altera-
4, que ataca uma proteína que trans-
ção do nível de consciência (lesões
porta água no sistema nervoso.
extensas), confusão e cefaleia. Os
sintomas deficitários se instalam no
Mielopatia aguda transversa decorrer de 3 a 6 dias com sinais de
disfunção do tronco cerebral, medula
É uma doença inflamatória quem
espinal ou hemisfério cerebral.
não tem evolução para a EM. Seu
diagnóstico é, na maioria das vezes,
diagnóstico de exclusão. A evo- Doença de Marbug
lução monofásica nem sempre se
É uma doença monofásica, caracte-
apresenta com sequelas graves. Pa-
rizada por intensa desmielinização
cientes com paraplegia ou tetraplegia
com acentuada infiltração de ma-
podem, após alguns meses, ter recu-
crófagos, amplas áreas de desa-
peração completa.
parecimento da mielina, edema e
lesão axonal. A presença de banda
oligoclonal no LCR é rara, sugerin-
do-se a ocorrência de processo in-
flamatório agudo, porém o relato de
ESCLEROSE MÚLTIPLA 27

desmielinização ampla em pacientes mielite transversa aguda e neurite


previamente descritos como porta- óptica.
dores de EM dá outra dimensão con-
• Doenças sistêmicas: vasculites, lú-
ceitual, poderia ser a própria EM com
pus eritematoso sistêmico, doença
desmielinização extensa e grave.
de Sjöegren, doença de Behçet e
sarcoidose.
Doença de Balo • Síndromes infecciosas, como sífilis,
Pode ocorrer como fenômeno isola- doença de Lyme, SIDA, mielopatia
do ou preceder o desenvolvimento pelo HTLV-I.
da EM. As lesões da esclerose con- • Síndromes paraneoplásicas,
cêntrica de Balo apresentam um pa- quando os sintomas neurológi-
drão peculiar de lamelas concêntricas cos precedem o aparecimento da
de substância branca em desmieli- neoplasia, apresentando anticor-
nização alternadas por lamelas de pos antineuronais (anticélula de
substância branca mielinizada ou em Purkinje), anti-Yo na síndrome ce-
remielinização (sinal da casca de ce- rebelar subaguda.
bola), mais comumente encontradas
nos lobos frontais. • Mielinólise pontina e extrapontina,
leucodistrofias (adrenoleucodistro-
fia), mielopatia pós-radiação.
10. DIAGNÓSTICO
DIFERENCIAL
As patologias supracitadas podem
O diagnóstico diferencial não pode cursar com acometimento focal e sis-
ser negligenciado na investigação da têmico também a depender do está-
EM, principalmente pela doença não gio evolutivo e tem relação temporal
possuir um biomarcador específico envolvida de forma marcante. Assim,
e pelo fato de que algumas doenças é essencial o conhecimento das mes-
têm padrões de acometimento se- mas, principalmente referente à me-
melhantes, principalmente em es- lhor abordagem diagnóstica a partir
tágios clínicos iniciais e sintomatolo- de exames laboratoriais e de imagem
gias inespecíficas. Vamos separar as que possam confirmar ou afastar de-
possibilidades diagnósticas de forma terminada suspeita.
sistemática.
• Doenças desmielinizantes com pa-
drão de evolução monofásico: en-
cefalomielite aguda disseminada,
ESCLEROSE MÚLTIPLA 28

MAPA MENTAL – DIAGNÓSTICO

SINTOMAS DIAGNÓSTICO PRIMORDIALMENTE CLÍNICO!

EXAME DE IMAGEM
CENTRAIS
RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
VISUAIS

LESÕES
SÚBITOS ESBRANQUIÇADAS –
SENSITIVOS
FOCAIS OVOIDES
TRANSITÓRIOS DEDOS DE DAWSON
PROGRESSIVOS “BLACK HOLES”

GÊNITO-URINÁRIOS LÍQUOR CEFALORRAQUIDIANO

MÚSCULO ESQUELÉTICOS Bandas oligoclonais de IgG


Células linfoides

DIAGNÓSTICOS
DIFERENCIAIS

SOROLOGIAS ESCLEROSE
EXAMES DE IMAGEM MULTIPLA!

11. TRATAMENTO diagnóstico precoce é essencial para


uma abordagem mais efetiva.
O tratamento da EM tem por objeti-
vo tanto reduzir a intensidade e dura- As drogas modificadoras de doença
ção dos sintomas com uso de medi- são subdivididas em 1ª e 2ª linha e
camentos sintomáticos quanto atuar tratamentos experimentais. Essa divi-
como modificador de doença, logo, o são leva em consideração os melhores
ESCLEROSE MÚLTIPLA 29

resultados terapêuticos, bem como esse tratamento ainda está em nível


menores riscos de efeitos adversos. experimental.
As drogas de primeira linha são Tais tratamentos supracitados têm
utilizadas objetivando diminuir a níveis de evidencia documentados
atividade da doença, por exemplo, quanto ao risco e segurança da sua
diminuir a agressão pelas células T utilização. Apesar de alguns trata-
e os processos inflamatórios, além mentos serem reconhecidos como de
de reduzir a apresentação de antíge- excelência em resposta terapêutica
nos e prevenir a adesão das células podem cursar com efeitos colaterais
T à barreira hematoencefálica, são indesejados e até mesmo agravar o
elas: Interferons, Acetato de glatira- quadro clínico. Por exemplo, temos os
mer, Fingolimode, Dimetil fumarato e imunossupressores que podem gerar
teriflunamide. leucoencefalopatia grave (demên-
As drogas de segunda linha são cia grave), então sua utilização deve
uma opção quando o paciente não ser realizada de forma sistemática e
apresenta resposta com melhora sempre avaliando possíveis efeitos
clínica após utilização em doses e colaterais. Vale salientar que em caso
tempo de tratamento adequados de curso evidente da demência ela é
as drogas de primeira linha. São irreversível, mesmo com a suspensão
elas: Imunossupressores (Azatioprina da droga.
e Mitoxantrone), anticorpos monoclo- O fluxograma abaixo representa as
nais (natalizumabe e alentuzumabe). opções terapêuticas com drogas de
Outra possibilidade de aborda- primeira, segunda e terceira linha e o
gem é com o transplante autólo- risco de efeitos colaterais subdividi-
go de hematopoiéticas, contudo, dos em baixo, intermediário e alto.
ESCLEROSE MÚLTIPLA 30

FLUXOGRAMA – ABORDAGEM TERAPÊUTICA – RISCO E SEGURANÇA

Nível de gravidade
Baixo
OPÇÃO Intermediário
TERAPÊUTICA Alto

Baixo

Interferona DMFumarato
1ª LINHA
A. Glatiramer Terlifinomide
Intermediário
Fingolimode

Natalizumabe Alto
2ª linha
Alentuzumabe Alto

Transplante autólogo
Experimental de células tronco Alto

Abaixo apresentamos os principais ◊ Dexametasona, via oral, 16mg/


medicamentos utilizados e as dosa- dia por 5 dias
gens tanto para tratamento de um ◊ Plasmaferese ou imunoglobu-
surto quanto na tentativa de modifi- lina EV, dose de 400mg/kg/dia
cação da doença. por 5 dias
• Tratamento do surto:
◊ A primeira opção é a pulsote- É imprescindível afastar presença de
rapia sendo indicado Metilpre- infecção para iniciar uso do corticoi-
dinisolona, EV, 500mg a 1g de, pois em caso de infecção ativa a
por um período de 3 a 5 dias mesma pode se disseminar e agravar
o quadro do paciente.
ESCLEROSE MÚLTIPLA 31

• Modificadores de doença: As opções de 2ª linha são Fu-


◊ Forma remitente recorrente é marato de Dimetila e os an-
a que tem um curso realmen- ticorpos monoclonais como
te impactado pelas drogas Natalizumabe, Fingolimode e
modificadoras de doença, a Alentuzumabe. O Natalizu-
abordagem é com Betainter- mabe é sabidamente a droga
ferona 1ª (avonex ou rebif) e mais eficaz para o controle da
betainterferona 1b (betase- doença, atuando com melhora
ron) ou Glatiramer (copaxone) em 66% na redução nas reci-
40mg, 03 vezes na semana. divas, mas contém os efeitos
Outra opção é a Teriflunomida. colaterais graves como a de-
mência (irreversível).

FLUXOGRAMA – ABORDAGEM TERAPÊUTICA – SURTO E MODIFICADOR DE DOENÇA

SURTO MODIFICADOR DE DOENÇA

Metilpredinisolona Interferona

Intolerância?
1g, EV, 3 a 5 dias
Outro de 1ª linha
ABORDAGEM
Dexametasona Sem resposta
INICIAL

2ª linha
16mg/dia, por 5 dias

Sem resposta

Plasmaférese
Transplante autólogo
OU

Imunoglobulina

400mg/kg/dia,

!!
EV, por 5 dias

OBS: NA ABORDAGEM AGUDA SUSPENDER


TODOS OS DEMAIS MEDICAMENTOS!
ESCLEROSE MÚLTIPLA 32

SAIBA MAIS!
O Ministério da Saúde aprovou em 2019 o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas
da Esclerose Múltipla, onde contém orientações gerais sobre diagnóstico e tratamento dos
pacientes. Dentre as orientações terapêuticas destaca-se: 1) Betainterferona – primeiro me-
dicamento a demonstrar eficácia, sendo até então o fármaco de referência. 2) Acetato de
Glatiramer que não demonstrou melhores resultados quando comparado a Betainterferona,
levando em considerações os critérios: ausência de surto, ausência de progressão clínica e
ausência de progressão na ressonância magnética. 3) Imunossupressores – essa classe não
é a primeira opção, mas pode ser utilizada em caso de não resposta terapêutica com os de-
mais medicamentos. Em suma: paciente diagnosticado na forma remitente recorrente – uma
das opções de primeira linha (betainterferona, glatiramer ou teriflunomida), se intolerância ou
reações adversas deve substituir por outro da primeira linha ou pelo fumarato de dimetila. Se
existir falha terapêutica com todas as opções de 1ª linha há indicação de medicamento de 2ª
linha (natalizumabe).
ESCLEROSE MÚLTIPLA 33

MAPA MENTAL – HORA DA REVISÃO

Hipoestesia
Imunossupressores
Mais frequente
Doença autoimune, em adultos jovens do Sensitivos Parestesia
desmielinizante, sexo feminino
Interferon crônica e evolutiva Dor
que atinge a
substância Agressão imunológica
EPIDEMIOLOGIA Fraqueza
Plasmaférese ou branca do SNC à bainha de mielina
Imunoglobulina
Espasticidade

Dexametasona CONCEITO FISIOPATOLOGIA Motores Hiperrreflexia

Clônus
Metilprednisolona TRATAMENTO SINAIS E SINTOMAS
Sinal de Babinski

Diplopia
DIAGNÓSTICO FORMAS CLÍNICAS
Turvação visual
“Black holes” Visuais
Primariamente Dor
RNM
progressiva
Dedos de Dawson Perda visual
Secundariamente
progressiva Disfunção sexual
Bandas oligoclonais
de IgG Gênito-
Remitente- Incontinência
LCR urinários
recorrente
Células linfoides Polaciúria

Déficit cognitivo
Psiquiátricos
Depressão
ESCLEROSE MÚLTIPLA 34

REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
Brasil, Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas da Esclerose Múltipla.
2019. Disponível em: https://www.saude.gov.br/images/pdf/2019/outubro/10/PCDT-Escle-
rose-M--ltipla.pdf. Acesso em 19/04/2020.
MARTINS, Milton de Arruda, et al. (Ed.). Clínica médica, volume 6: Doenças dos olhos, doen-
ças dos ouvidos, nariz e garganta, neurologia, transtornos mentais. Barueri: Manole, 2009.
Nitrini R.; Bacheschi LA. A neurologia que todo médico deve saber. São Paulo. Editora ATHE-
NEU. 2003.
Neto JPB, Takayanagui OM. Tratado de neurologia da Academia Brasileira de Neurologia.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.
ESCLEROSE MÚLTIPLA 35

Você também pode gostar