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SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL

CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA

Prof. BUENO

Iporá - GO
2012
CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
O solo é um recurso natural que deve ser utilizado como patrimônio da coletividade,
independente do seu uso ou posse. É um dos componentes vitais do meio ambiente e constitui
o substrato natural para o desenvolvimento das plantas.
A ciência da conservação do solo e da água preconiza um conjunto de medidas,
objetivando a manutenção ou recuperação das condições físicas, químicas e biológicas do
solo, estabelecendo critérios para o uso e manejo das terras, de forma a não comprometer sua
capacidade produtiva.
Estas medidas visam proteger o solo, prevenindo-o dos efeitos danosos da erosão
aumentando a disponibilidade de água, de nutrientes e da atividade biológica do solo, criando
condições adequadas ao desenvolvimento das plantas.
A conservação do solo e da água melhora o rendimento das culturas e garante um
ambiente mais saudável e produtivo, para a atual e as futuras gerações.
Dentre os princípios fundamentais, destaca-se um maior aproveitamento das águas das
chuvas. Evitando-se perdas excessivas por escoamento superficial, podem-se criar condições
para que a água pluvial se infiltre no solo. Isto, além de garantir o suprimento de água para as
culturas, criações e comunidades, previne a erosão, evita inundações e assoreamento dos
rios, assim como abastece os lençóis freáticos que alimentam os cursos de água.

EROSÃO
A erosão é o processo de desprendimento e arraste das partículas do solo, causando
perda progressiva do solo, reduzindo a produtividade das culturas e exigindo cada vez mais o
uso de adubos e corretivos.
A erosão é tão antiga quanto a Terra. Trata-se de um processo que ocorre naturalmente,
sendo de grande importância para a formação da paisagem e para o rejuvenescimento dos
solos. O grande problema é quando a erosão é acelerada em níveis danosos ao ambiente, e
isso ocorreu quando da ocupação humana da superfície do planeta, sendo agravado ainda
mais quando este passou a praticar a agropecuária e, principalmente, a agricultura, e à medida
que as áreas de cultivo e a pressão pelo uso do solo aumentaram. Este processo foi se
tornando cada vez mais pernicioso, a ponto de o homem sentir a necessidade de seu controle.
Com a erosão, além do empobrecimento do solo pela perda de nutrientes e matéria
orgânica, e do próprio solo (o que é mais importante), ocorre também a contaminação dos
recursos hídricos, pois a água que não infiltra arrasta consigo não somente o material de solo e
a matéria orgânica deste, como também diversos produtos químicos (corretivos, fertilizantes,
condicionadores e agrotóxicos), poluindo esses recursos.
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A erosão pode atingir níveis elevados, a ponto de inviabilizar a utilização agrícola da área
erodida, especialmente quando ocorrem sulcos com mais de um metro de profundidade,
chamados de voçorocas, que literalmente impedem o trânsito de máquinas e o cultivo do solo.
No Brasil são perdidos mais de 500 milhões de toneladas de terra todos os anos (Bertoni e
Lombardi Neto, 1999).
Existem dois tipos principais de erosão: a hídrica, causada pela ação da água, e a eólica,
resultante da ação do vento. Em regiões de clima tropical como o Brasil, a erosão hídrica é a
mais relevante. Em algumas áreas já há certa preocupação com a erosão eólica - a persistirem
os atuais métodos de exploração agropecuária, em um futuro não muito distante
provavelmente esta modalidade de erosão terá que ser considerada.
A erosão hídrica começa com o impacto da gota da chuva·em um terreno descoberto e o
resultante desprendimento e arraste das partículas de solo. Práticas inadequadas favorecem a
erosão, como: plantio "morro abaixo", monocultura, queima dos restos culturais, pastoreio
excessivo, cultivo em terrenos inclinados sem práticas conservacionistas, etc.
O primeiro passo para manter a erosão em níveis aceitáveis - visto que não é de interesse
reduzi-Ia a zero, pois se trata de importante fator de rejuvenescimento do solo e de formação
da paisagem - é usar o solo de acordo com a sua capacidade de uso e aptidão agrícola, ou
seja, usá-lo de acordo com o tipo e o grau de utilização que ele suporta. Outra medida é a
utilização de práticas que ajudam a controlar a erosão.
As práticas de controle da erosão podem ser: edáficas, em que a forma de se cultivar o
solo é modificada, promovendo, além do controle da erosão, a manutenção ou melhoria da
fertilidade do solo; vegetativas, em que se protege o solo usando a própria vegetação para
defendê-lo contra a erosão; e mecânicas, quando se recorre a estruturas artificiais,
construídas pelo homem, através da movimentação adequada de porções de terra. Estas
práticas podem ser utilizadas isoladamente ou em conjunto. Obviamente, a utilização conjunta
de práticas surte efeito melhor e de maior abrangência que o uso de práticas isoladas,
devendo, assim, ser priorizada.
Como exemplo de práticas edáficas podem ser citadas: a seleção das áreas de cultivo de
acordo com a sua capacidade de uso, ou seja, plantar de acordo com o que o solo pode
suportar; o controle do fogo; a adubação verde; a adubação química; a adubação orgânica; e a
calagem.
As práticas vegetativas mais comuns são: o florestamento e o reflorestamento; a
pastagem; as plantas de cobertura do solo; as culturas em faixas; os cordões de vegetação
permanente ou faixas de retenção; a alternância de capinas; a ceifa ou roçagem do mato; a
cobertura morta ou mulch; as faixas de bordadura e os quebra-ventos; entre outras.

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Dentre as práticas mecânicas indicadas têm-se: a distribuição racional dos caminhos, o
preparo e plantio em contorno, os sulcos e camalhões em pastagem, o mulching vertical, as
bacias de captação de águas.pluviais provenientes de estradas, o terraceamento e o canal
escoadouro.
Quando utilizadas de forma adequada, essas práticas resultam em efetivo controle da
erosão, que, por sua vez, resulta na manutenção e mesmo no aumento da produtividade da
cultura. Esse quadro culmina em maior lucro para o produtor rural e menores danos ao
ambiente, assegurando um desenvolvimento sustentável.
Embora, conforme mencionado, o uso conjunto das práticas conservacionistas seja
melhor que o uso isolado de uma única prática.

TIPOS DE EROSÃO
- Erosão hídrica – é o tipo de erosão de maior interesse para as condições tropicais
predominantes no Brasil. É ocasionada pelas águas das chuvas que, após caírem no solo,
correm em forma de enxunadas, causando danos ao terreno (Figura 2A). É o tipo de erosão
que será discutido neste, assim como as metodologias para seu efetivo controle.
- Erosão Eólica – é a erosão causada pela ação dos ventos. Constitui problema sério quando
a vegetação natural é removida ou reduzida.
A erosão eólica ocorre com maior freqüência:
• Em regiões planas, principalmente aquelas muito secas;
• Em épocas de pouca chuva;
• Solos secos;
• Onde a vegetação natural é escassa;
• Locais onde ocorrem ventos fortes.
No Brasil, as áreas afetadas pela erosão eólica, estão, principalmente, no Nordeste e no
estado do Rio Grande do Sul. Para a maioria das condições brasileiras e na atualidade, ela é
menos importante que a erosão hídrica. A região Central do Brasil também já tem mostrado
sinais evidentes do aumento da importância deste tipo de erosão. Entretanto, é consenso que o
principal tipo de erosão no país é a hídrica. É um tipo de erosão que, para ocorrer, exige estar
o solo desprovido de vegetação, de maneira que técnicas como a semeadura direta e outras
que mantêm a cobertura vegetal sobre a superfície do solo, por si, são suficientes para a sua
prevenção e seu controle.

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FORMAS DE EROSÃO
O capital natural mais precioso do ser humano é, indubitavelmente, o solo. A
sobrevivência e a prosperidade do conjunto das comunidades biológicas terrestres, naturais ou
artificiais, dependem em última análise deste fino estrato que constitui a camada mais
superficial da terra. Como nos primeiros tempos da humanidade, e apesar dos progressos
realizados pelas indústrias de síntese de produtos à base de produtos minerais e orgânicos, o
homem ainda extrai do solo a quase totalidade de substâncias alimentares de que necessita
(excluem-se aqui aqueles extraídos do mar), e a maioria das matérias-primas que servem para
a fabricação de seu vestuário e até mesmo de seus objetos usuais.
A erosão apresenta intensidades diferentes, pois o homem pode modificá-Ia
consideravelmente. Existe a erosão natural ou geológica, fenômeno geológico normal, que
faz parte da própria evolução da terra, é inevitável. Efetua-se em ritmo lento. O
desaparecimento de uma parte das matérias que constituem o solo é compensado, pela
decomposição da rocha-mãe e pela deposição de materiais transportados. Assim os solos
encontram-se geralmente em equilíbrio.
Paralelamente a esse fenômeno, existe a erosão acelerada, fenômeno artificial,
conseqüência dos maus cuidados dispensados aos solos pelo homem; nesse processo
acelerado, as perdas já não são mais compensadas pelas transformações locais do substrato
geológico ou pelas contribuições aluviais. Essa forma brutal da evolução dos solos é a
conseqüência direta da modificação profunda, ou mesmo da utilização desordenada dos
habitats originais, as quais tiveram o início com a retirada da vegetação original e o
conseqüente rompimento do equilíbrio solo-vegetação. Desse modo, os solos já não mais
estão protegidos por uma cobertura vegetal suficiente.
A erosão acelerada, que constitui o impacto mais sério do homem sobre o seu meio, é
aquela que, até hoje, teve conseqüências mais danosas ao ambiente. A humanidade, em
constante crescimento, acentuou sua pressão sobre as terras emersas, transformando,
progressivamente, os habitats naturais, levado pelo estímulo do lucro e, de certa necessidade
devido ao aumento de suas populações e da destruição das zonas anteriormente ocupadas,
mas já estéreis, constituiu também poderosas motivações para a degradação de grande
quantidade de terras. Desse modo o homem invadiu terras marginais, de fraca aptidão
agrícola, e cuja produtividade e equilíbrio requerem medidas difíceis, dispendiosas e nem
sempre eficazes.
No Brasil, estima-se que a "abertura" de áreas de baixa aptidão agrícola ou seu manejo
inadequado, já resultou na degradação de cerca de 16 milhões de hectares, que já foram
produtivos, mas que estão hoje bastante depauperados.

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PRÁTICAS QUE FAVORECEM O PROCESSO EROSIVO
A erosão acelerada atinge taxas elevadíssimas quando a exploração agrícola, a
pecuária ou mesmo a florestal utiliza práticas inadequadas e que, até mesmo, promovem
aumento ainda maior da taxa de erosão. A retirada da proteção oferecida pelas plantas, aliada
ao preparo do solo e o seu uso intensivo, enfraquecem-no deixando-o vulnerável à ação das
chuvas e/ou dos ventos. Entre as práticas que mais fomentam o processo erosivo estão:
• Preparo intensivo do solo;
• Plantio continuado sempre da mesma cultura (monocultura);
• Plantio de culturas pouco protetoras do solo;
• Plantio "morro abaixo" (plantio em linhas dirigidas a favor do declive);
• Queima dos restos culturais;
• Pastoreio excessivo;
• lnobservância da capacidade de uso ou aptidão agrícola da terra;
• Manutenção do solo desprovido de cobertura vegetal;
• Cultivo em terrenos inclinados sem práticas conservacionistas, etc.

ETAPAS DA EROSÃO HÍDRICA


A erosão hídrica apresenta três etapas principais:
a.) Desprendimento ou desagregação: a erosão começa pela desagregação do solo. É
normalmente promovida pelo impacto da gota da chuva em solo desprotegido (sem vegetação)
ou pelas operações durante o preparo do solo. As partículas pequenas e leves do solo (argila e
matéria orgânica) são desprendidas. Nesta etapa há gasto de energia, gasto este que será
tanto maior quanto mais protegido e agregado estiver o solo, diminuindo a energia total da
chuva e assim sua capacidade de transportar o material de solo desprendido na etapa seguinte
do processo erosivo.
b.) Transporte: a segunda etapa do processo erosivo é o transporte do material desagregado
na primeira etapa. Após o material ser desprendido é, então, transportado pela ação da própria
gota de água que o arremessa para longe, pela enxurrada e/ou pelo vento que o arrasta. Nesta
etapa também há gasto de energia.
c.) Deposição: a terceira e última etapa da erosão é a deposição do material que foi
desagregado e transportado. Esta etapa ocorre quando os agentes erosivos perdem energia,
não havendo, nesta etapa, portanto, gasto de energia.
A erosão eólica promove a remoção das partículas soltas entre 0,5 e 0,1 mm de diâmetro. As
arrastadas são sempre relativamente finas, pois o vento efetua uma seleção local,
abandonando rapidamente as frações mais grosseiras, por evidentes razões mecânicas. As

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poeiras mais tênues podem ser levadas a grandes altitudes, e transportadas, desse modo, a
distâncias consideráveis antes de tornarem a cair sobre o solo, por vezes sob forma de
precipitação de lama. Algumas pesquisas relatam a ocorrência de transporte, pelo vento, de
partículas do continente africano e sua detecção em solos da Amazônia.
Não obstante a atuação do vento, o agente de erosão mais relevante, particularmente
para as condições tropicais e subtropicais, é a chuva intensa que provoca ruptura dos
agregados e a dispersão das argilas.

MODALIDADES DE EROSÃO HÍDRICA ACELERADA


As principais modalidades de erosão hídrica e que apresentam interesse agrícola são:
Erosão pelo impacto da gota;
Erosão laminar
Erosão em sulcos e,
Erosão em voçorocas.
Estas quatro modalidades podem ocorrer simultaneamente no mesmo terreno e as três
últimas correspondem à progressiva concentração da enxurrada em sua superfície.
Erosão pelo Impacto da Gota (salpico ou Embate)

O aspecto talvez mais importante a ser considerado no processo erosivo é o impacto da


gota de chuva sobre o solo nu (Figura 2.1). Este processo, como descrito anteriormente,
consiste na primeira etapa da erosão (desagregação), e representa também uma modalidade
de erosão.
Ao atingir o solo descoberto, a gota d'água promove a formação de uma microcratera
compactada, que pode ser de até quatro vezes o tamanho da gota, diminuindo a infiltração da
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água no solo. Além disso, este impacto rompe os agregados do solo, desprendendo,
individualizando e transportando argila, matéria orgânica, silte e areia fina. Estas partículas
podem ser deslocadas até 1,0 m de altura e 1,5 m de distância de onde a gota caiu, e,
estando dispersas, causam a obstrução dos poros do solo. Sob condições de intensa
precipitação e em solos com predominância de partículas finas, a obstrução desses poros,
somada à presença de microcrateras, resulta no chamado selamento superficial, que consiste
na formação de uma crosta, que raramente ultrapassa 3 mm de espessura, e que pode reduzir
a infiltração em até 2.000 vezes, em relação ao solo não compactado, logo abaixo. As chuvas
subseqüentes intensificarão as taxas de enxurrada, potencializando as modalidades de erosão
que resultam do escoamento superficial. O controle desse tipo de erosão requer,
obrigatoriamente, a manutenção da cobertura do solo.

Erosão Laminar
A erosão laminar, aquela que se faz por camadas, descama uniformemente, sobretudo
nas vertentes suaves e regulares, a camada superficial sem modificar o relevo durante os
primeiros estágios. Em geral é pouco visível no início e, portanto, particularmente perigosa.
Traduz-se apenas por ligeiras modificações na cor dos solos e pelo aparecimento de pedras
que permanecem no local e pelo afloramento de raízes, enquanto o material mais fino, onde
estavam imersas, vai desaparecendo. Isto reduz a fertilidade do solo, sua capacidade de reter
umidade com todas as conseqüências previsíveis sobre a vegetação, cujo desaparecimento
progressivo agrava os efeitos da degradação. Uma outra evidência para sua identificação, é
que, em dias de chuva, as enxurradas ficam barrentas.
A erosão laminar arrasta inicialmente as partículas mais leves; desde que estejam
soltas, do solo (matéria orgânica e argila). Estas são suas frações' mais ricas, nas quais se
encontram maiores quantidades de nutrientes para as plantas, além de serem as responsáveis
pela estrutura do solo.
É a forma menos notada (perceptível), sendo, por isso, a mais perigosa. Às vezes,
continua por muitos anos sem ser percebida. Portanto, é uma forma de erosão que oferece
muito risco para o produtor e necessita de observação cuidadosa para sua identificação.

Erosão em Sulcos
Freqüentemente, as chuvas agem de forma menos regular devido aos efeitos do
escoamento das águas, visíveis, essencialmente, no caso de terrenos acidentados.
A erosão em sulcos é ocasionada por chuvas intensas em terrenos de elevada
declividade e/ou de grandes comprimentos de rampa. Essa forma de erosão tem início com a
concentração da água da enxurrada em caminhos preferenciais do terreno, formando

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pequenas depressões que, pouco a pouco, vão aumentando progressivamente se não forem
controladas. Na sua fase inicial, os sulcos podem ser desfeitos com as operações normais de
preparo do solo. Em estágio mais adiantado, porém, eles atingem tal proporção que podem até
mesmo impedir o trabalho de máquinas agrícolas.
É um tipo de erosão de simples verificação e, assim, resulta que seu controle é visto,
tanto pelos leigos como pelos técnicos, como necessário e urgente. Normalmente, a erosão em
sulcos é a que chama mais atenção do agricultor.
Ao se notar a presença dessa forma de erosão, deve-se combatêIa energicamente, pois, se
evoluir muito, será bem mais difícil e dispendioso o seu controle. Dependendo das condições
locais, práticas simples de conservação do solo e da água apresentam eficiência suficiente
para efetuar o controle tanto da erosão laminar quanto da erosão em sulcos.

Erosão em Voçorocas
O aprofundamento dos sulcos provoca as ravinas ou erosão em voçorocas que é a
forma mais rápida e espetacular da erosão. Atingem às vezes vários quilômetros de extensão e
vários metros de profundidade. Consiste no deslocamento de grandes volumes de terra,
formando assim depressões de grande extensão, ou verdadeiras grotas que podem ser
profundas, largas e extensas.
É ocasionada por grandes concentrações de enxurrada que passam, ano após ano, no
mesmo sulco. Este vai se ampliando formando grandes buracos no terreno.
O processo de voçorocamento é rapidamente intensificado em solos que possuem os
horizontes A + B modestos sobre o horizonte C muito profundo. Quando ocorre a remoção
completa dos horizontes superficiais A + B, há a exposição do horizonte C, o qual apresenta,
caracteristicamente, baixa coesão entre suas partículas, que são, por sua vez, facilmente
carreadas (principalmente as de tamanho silte). Essa situação é muito comum em
LATOSSOLOS associados à CAMBISSOLOS, que normalmente são profundos e se encontram
em relevos acentuados, mas também pode ocorrer em declives suaves que apresentam
comprimentos de rampa muito longos, mesmo em condições de declive suaves, situação esta
predominante no Cerrado.
Como a voçoroca é um sulco de dimensões avantajadas, ela impossibilita o trabalho na
área erodida e seu controle exige técnicas especializadas além de apresentar elevado custo.

PRÁTICAS MECÂNICAS DE CONTROLE DA EROSÃO


As práticas mecânicas de controle da erosão são projetadas e construídas para conter
água da enxurrada, propiciando sua infiltração ou escoamento seguro. Elas devem proteger o
terreno quando ocorrem chuvas muito intensas, canalizando a água de forma segura.
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Antes da adoção de qualquer prática conservacionista, é preciso ter em mente que o
solo deve ser utilizado dentro de sua capacidade de uso (aptidão agrícola) e que todas as
operações devem ser realizadas em contorno, ou seja, seguindo uma curva de nível. A curva
de nível é uma linha imaginária, em que todos os pontos desta linha estão em uma mesma
altura ou cota.
A classificação das terras de acordo com sua capacidade de uso serve para definir o
tipo de cultura, o nível tecnológico a ser empregado e as práticas conservacionistas
necessárias, naquelas condições, para se utilizar o solo de maneira racional.
As curvas de nível, por seu turno, servem:
- para localizar ou posicionar estradas, carreadores;
- para posicionar terraços;
- como linhas guias ou de orientação nas operações de preparo do solo (aração e gradagem);
- como niveladas básicas ou mestras ou guias no plantio de culturas anuais ou perenes, etc.
A curva, ou linha, em nível deve ser assinalada no terreno e ficar bem visível para os
trabalhos posteriores. Para isso usam-se estacas de madeira, de mais ou menos 50 cm de
comprimento. Após a marcação, as estacas devem estar distanciadas, para que os trabalhos
possam ser realizados o mais próximo possível do nível, de maneira que a distância entre as
estacas dependerá da maior ou menor uniformidade da área que está sendo trabalhada.
Distribuição Racional dos Caminhos
Esta é uma prática básica na conservação do solo e da água, pois muitas medidas a
serem adotadas se fundamentam na correta disposição das estradas, porém, geralmente, é
negligenciada por agricultores e técnicos. Sabe-se que a existência de estradas em uma
propriedade é fundamental para a realização dos trabalhos. Quando são bem planejadas,
construídas e conservadas, elas facilitam o desenvolvimento da atividade agrícola e ainda
ajudam no controle da erosão.
Infelizmente, na maioria das vezes as estradas e os carreadores são construídos em
linha reta (e não em nível), desconsiderando a topografia do terreno. São também dispostas
erradamente, sem sistemas de drenagem para coleta e desvio da enxurrada deles proveniente.
Recebem também água de glebas vizinhas, que correm sobre elas, provocando erosão, o que
dificulta o trânsito e encarece o trabalho de manutenção. Além disso, quando as estradas são
dispostas em linha reta, as culturas ficam, quase sempre, com ruas "a favor das águas" (morro
abaixo), o que contribui ainda mais para as perdas de solo por erosão.
Para resolver ou minimizar esses problemas, deve-se fazer a distribuição racional dos
caminhos, o que significa colocá-Ias, ao máximo, próximo do contorno (em nível). Desse modo,
as estradas ou carreadores principais devem ser locados e construídos em nível (carreadores
em nível ou nivelados).

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Os carreadores que fazem a ligação entre os nivelados (carreadores em pendente)
devem ser, sempre que possível, inclinados (enviesados) e desencontrados, com 3 a 4 m de
largura. Isso evita que carreadores em pendente, dispostos sem interrupção, formem uma linha
contínua, muito comprida, o que aumentaria a velocidade e o volume da enxurrada,
favorecendo a erosão dentro do carreador.
A água que escorre dos carreadores em pendente deve ser desviada para bacias de
captação ou caixas de retenção devidamente dimensionadas. Essa é também uma medida de
grande importância para a conservação das estradas e o controle da erosão.

Preparo e Plantio em Contorno


Realizar cultivos em nível significa fazer as operações de preparo do solo, plantio e
todas as operações de cultivo no sentido transversal à pendente (cortando o declive), seguindo
curvas de nível (linha em nível).
Uma linha em nível, ou curva de nível, é aquela que possui todos os pontos em uma
mesma altura no terreno (mesma altitude ou cota).
Os cultivos em nível são feitos com o objetivo de reduzir a erosão, bem como facilitar os
tratos na lavoura. Numa área cultivada em nível ou em contorno, como as operações são feitas
praticamente em nível, cada fileira de plantas, assim como pequenos sulcos e leiras, e também
restos culturais deixados na superfície são dispostos de maneira que formam barreiras que
dificultam o percurso livre da enxurrada, diminuindo sua velocidade e sua energia,
aumentando, conseqüentemente, a infiltração da água no solo.
Quando o preparo do solo é feito no sentido declive ("morro abaixo"), o processo erosivo
é muito favorecido e acelerado. Isso porque cada pequeno sulco ou leira produzido pela aração
morro abaixo representa um caminho livre para a enxurrada, assim como as linhas das
culturas, quando também dispostas "morro abaixo", formam verdadeiros corredores, por onde a
água desce e adquire velocidade suficiente para causar erosão.
Nessa situação, quase toda a água da chuva que cai na gleba é perdida, com pequena
infiltração. Além disso, a enxurrada arrasta, junto com o solo, adubos, sementes e até plantas,
empobrecendo o solo e o produtor, que gastará mais no ano seguinte para manter o mesmo
nível de produção.
Tanto as culturas anuais como as perenes, inclusive pastagens e reflorestamento,
devem ser implantadas e conduzidas em nível ou contorno. Contudo, o cultivo em nível é
apenas uma das muitas práticas conservacionistas, devendo, portanto, ser associdada a outras
práticas, principalmente quando a área apresenta declive maior que 4%. Apesar disso mesmo
para pequenos declives, são recomendadas duas ou mais práticas, além do cultivo em nível:
culturas em faixas, faixas de retenção, cobertura morta, capinas alternadas, plantio direto,

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terraceamento, etc.
Sulcos e Camalhões em Pastagem
A pastagem é tida como uma prática vegetativa de controle da erosão, devido à
proteção que as gramíneas oferecem ao solo. No entanto, em determinadas situações, outras
práticas são requeridas para se evitar que o processo erosivo cause danos à pastagem.
Apesar de pouco difundida e usada no Brasil, a prática normalmente recomendada para
pastagens é a construção de sulcos e camalhões em contorno, especialmente em regiões com
pouca chuva. Pastagens em formação, onde a vegetação ainda não esteja proporcionando co-
bertura eficiente, em terrenos muito inclinados e/ou pastos fracos e excessivamente
pastoreados são situações em que os sulcos e camalhões são indicados e eficazes.
Os sulcos e camalhões são equivalentes a um terraço de dimensões reduzidas,
construídos em contorno (a partir de linhas em nível), com arados reversíveis, de aiveca ou de
disco, tombando a terra sempre para o lado de baixo. Uma ou duas passadas no mesmo sulco
são suficientes para sua construção. Outra opção seria a construção de sulcos em contorno ou
de camalhões em contorno, isoladamente, e não formando um conjunto.
O espaçamento entre os sulcos e camalhões depende das características do solo
(textura e estrutura), que afetam diretamente a capacidade de infiltração de água no solo, da
maior ou menor necessidade 'de conservação da água, do custo de construção e da maior ou
menor quantidade de vegetação que possa ser destruída na operação de construção. Para a
determinação do espaçamento devem ser considerados o tipo de solo e a declividade do
terreno, podendo-se adotar os critérios e quadros empregados para terraços.
Em terrenos inclinados é recomendada a ressemeadura nos sulcos, visando
restabelecer a vegetação mais rapidamente.
De modo geral, não se recomenda a construção de sulcos e camalhões em solos muito
arenosos, pois estes promovem rápida infiltração da água, dispensando, normalmente,
estruturas que promovem maior retenção de umidade.
Os sulcos e camalhões possibilitam a melhor distribuição e maior retenção das águas
das chuvas, razão pela qual se nota que a vegetação torna-se mais densa e vigorosa nas
proxjmidades dos sulcos e camalhões. Em conseqüência, a produção de forragem aumenta
sensivelmente, incrementando a capacidade de suporte da pastagem.
Terraceamento
Terraço é um conjunto formado pela combinação de um canal (valeta) com um camalhão
(monte de terra ou dique), construído a intervalos dimensionados, no sentido transversal ao
declive, ou seja, feitos em nível ou em gradiente, cortando o declive. É uma estrutura
mecânica, cuja construção envolve a movimentação de terra, através de cortes e aterros.
Permite a contenção de enxurradas, forçando a absorção da água da chuva pelo solo, ou a

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drenagem lenta e segura do excesso de água.
Sabe-se que, quanto maior o comprimento de rampa (da encosta), maiores são a
velocidade e o volume da enxurrada, e maior a sua energia, capaz de arrastar o solo,
promovendo a erosão. Com base nesse raciocínio, o princípio de funcionamento do terraço
baseia-se no parcelamento do declive, isto é, dividir uma rampa comprida (mais sujeita à
erosão) em várias etapas menores, mais curtas (menos sujeitas à erosão).
A função do terraço, portanto, é reduzir a concentração e a velocidade da enxurrada,
dando à água maior tempo para infiltração e limitando a capacidade de causar erosão.
O terraço pode reduzir a perda de solo em até 70-80%, e a de água até 100%, uma vez
que o terraceamento é uma das práticas mais eficientes no controle da erosão, desde que seja
criteriosamente planejado, executado (locado, construído) e conservado (limpos, roçados).
Quando um terraço é mal construído, poderá ocasionar muito mais danos do que
beneficios. Isso se dá pelo fato de que, quando um terraço se rompe, a água nele armazenada
em grande volume terá maior capacidade de provocar sulcos de erosão e até voçorocas,
podendo levar à inutilização da área.
O terraço deve ser construído onde outras práticas mais simples não sejam suficientes
para o controle adequado da erosão, tendo em vista o seu alto custo. Por outro lado, é mais
eficiente quando utilizado em combinação com outras práticas, como o ajustamento das glebas
à sua capacidade de uso, o plantio em contorno, a cobertura morta e as culturas em faixas,
entre outras.
O terraceamento está diretamente ligado aos seguintes fatores: tipo de solo, declividade
do terreno e quantidade de chuvas.
Certamente, nem todos os tipos de solos e declives podem ser terraceados com êxito.
Em solos pedregosos ou muito rasos, com subsolo adensado, é muito dispendioso e dificil
manter um sistema de terraceamento. O tipo de solo também determinará, em função de sua
permeabilidade, o tipo de terraço que poderá ser construído. A eficiência dos terraços diminui e
as dificuldades de construção e manutenção aumentam à medida que aumenta o declive.
As informações sobre intensidade e duração das chuvas serão fundamentais para o
dimensionamento do terraço, possibilitando o cálculo de sua capacidade, sem o risco de
rompimento.

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