RESUMO
Este projeto apresenta as características da erosividade das chuvas na porção norte da bacia
hidrográfica do ribeirão Santo Antônio no município de Ipórá-Go. O estudo foi realizado com base em
dados de precipitação dos anos 2000 a 2008, gerados pela estação meteorológica digital da UEG de
Iporá, estação esta, que foi instalada em 1999 pelo Sistema Meteorológico e hidrológico do Estado de
Goiás (SIMEHGO). A partir dos dados da série histórica de nove anos, foram realizados os
procedimentos para determinação da erosividade, que teve como base, estudos realizados por Bertoni e
Modenhauer (1980) e citados por Bertoni e Lombardi Neto (1985), sendo que os índices utilizados na
fórmula proposta pelos autores foram modificados com base na proposta de Nascimento (1998), que
propôs um índice diferenciado para o cálculo da erosividade em Goiás. A pesquisa apontou dois
momentos distintos na erosividade local, com um momento de pico, associado ao período de maior
precipitação durante o ano, e outro período de erosividade ínfima, associado ao período anual de
estiagem. Desta forma, é preciso considerar que a cobertura dos solos e técnicas de manejo devem ser
mais eficientes durante o período de maior concentração de chuvas, já que neste período a erosividade
atinge grau bastante elevado.
Introdução
O uso intensivo dos recursos naturais como o solo, tem levado a sérios prejuízos financeiros,
e principalmente ambiental para a humanidade, que perde todos os anos milhares de toneladas de terras
férteis, e uma vez alterados os sedimentos removidos provocam assoreamentos em diversos
mananciais, diminuindo em conseqüência, a quantidade de água.
A área de estudo abrangida por este projeto está situada na região Centro Oeste brasileira no
estado de Goiás e no município de Iporá na região oeste do estado. A bacia hidrográfica do ribeirão
Santo Antônio possui uma área de 650 km2, porém a erosividade não foi considerada para toda a bacia
uma vez que o raio de confiança para os dados registrados através da estação meteorológica utilizada
foi estimado em trinta quilômetros, sendo necessário uma maior quantidade de estações para cobrir a
área com maior eficiência.
A bacia em questão tem grande importância para o município de Iporá, já que o ribeirão
Santo Antônio é por hora, o único manancial que abastece a cidade, além de suas águas serem
utilizadas por diversas atividades agropastoris.
1
Prof. Ms.do curso de Geografia e coordenador do projeto.
2
Bolsista PBIC-UEG
A Figura 1. mostra localização da área e a região de abrangência da erosividade.
A análise da erosividade das chuvas contida neste estudo é apenas uma parte de uma análise
maior, que envolverá análises físicas dos solos na área, a fim de avaliar também a erodibilidade dos
solos, porém esta avaliação ainda encontra-se em fase de análise.
A analise aqui realizada envolve apenas uma das variáveis que devem ser avaliadas num
estudo de suscetibilidade erosiva de uma dada área, já que quanto maior o número de variáveis
analisadas, maior o grau de confiabilidade das informações, e maior a facilidade no ato de
planejamento de ações mais adequadas no uso e conservação dos recursos naturais.
Embora a bacia hidrográfica não seja a única unidade territorial para o estudo ambiental, esta
tem sido de grande importância para análises integradas do meio físico, já que é de fácil delimitação, o
que favorece a identificação de vários fenômenos físicos como geologia, solos, uso da terra, entre
outros, dentro do seu limite, favorecendo um melhor controle e planejamento de ações.
A utilização da bacia hidrográfica como unidade de estudo e gestão ambiental deve
considerar as diferentes formas de ocupação e uso de suas potencialidades ambientais (recursos
minerais, florestais, agropecuários, hídricos, pesqueiro, energético entre outros) com o objetivo de
planejar, coordenar, executar e manejar as melhores formas de apropriação e exploração dos recursos
ambientais.
De acordo com Guerra e Cunha (1999), a ocupação desordenada do solo em bacias
hidrográficas resulta das mudanças decorrentes das políticas e dos incentivos governamentais, que
podem estimular ocupações que vão desde o uso agrícola das terras, até o processo de urbanização. Por
isso, cada vez mais se incorpora ao planejamento ambiental o uso de instrumental que facilite a
visualização e distribuição dos componentes físicos de uma dada área e também a sua relação com os
demais componentes, favorecendo uma visão integrada que facilite detectar a sua potencialidade e
fragilidade ambiental.
Os diferentes usos da terra na bacia hidrográfica podem desencadear processos particulares
de degradação dos solos, principalmente quando somados com o tipo de rocha dominante, com o grau
de declividade do terreno e tipo de solo, já que estes últimos fatores devem ser considerados para o
planejamento do uso e do manejo das terras agrícolas, sem esquecer dos fatores climáticos,
principalmente das chuvas, que dependendo de sua quantidade e intensidade gera problemas muitas
vezes de difícil solução, como as erosões, assoreamento de mananciais e enchentes.
De acordo com Sousa (2006), “as alterações ambientais numa bacia hidrográfica afetam
diretamente o fluxo de energia e matéria que circulam no sistema”, e isso interfere no fluxo de água e
no volume de sedimentos que podem chegar até o curso de água, gerando desequilíbrio na dinâmica do
sistema de drenagem.
Com relação à suscetibilidade erosiva são diversos os fatores que agem na sua
concretização, entre estes fatores podemos citar conforme Ramalho Filho e Beek (1995) as condições
climáticas em especial do regime pluviométrico, as características dos solos como textura, estrutura,
permeabilidade, pedregosidade, retenção de água e compactação. Também é preciso considerar os
fatores de relevo, como grau de entalhamento, substrato, declividade, comprimento das vertentes, e
ainda a cobertura vegetal associada e o tipo de uso mais freqüente.
A chuva atua através do impacto das gotas na superfície do solo e através da enxurrada. Se
a intensidade das chuvas forem superiores às médias, a erosão laminar pode atingir o nível máximo, e
o índice que expressa a capacidade da chuva em provocar erosão laminar é denominada de erosividade
(Sousa, 2006).
A análise da erosividade das chuvas pode contribuir para a determinação ainda que parcial,
do grau de degradação dos solos, e colaborar na conservação dos mananciais, basta para isso, aplicar
metodologias que sejam compatíveis com a análise pretendida. A erosividade é, portanto, a capacidade
que a chuva tem de provocar erosão, para isso, a precipitação média anual, mensal e sua intensidade
são importantes na definição da capacidade erosiva das chuvas, entretanto as características de relevo e
solo são variáveis fundamentais na análise dos processos erosivos, já que a atuação da chuva pode
obter respostas diferentes dependendo das características destes.
Embora a erosão seja um processo natural na modelagem do relevo a milhões de anos, é
preciso considerar que a ação humana sobre o meio ambiente contribui grandemente para o
desencadeamento e aceleração deste processo, favorecendo, a perda de solos férteis, a poluição da
água, o assoreamento dos mananciais e reservatórios, além da redução da qualidade dos ecossistemas
terrestres e aquáticos.
A área estudada por estar situada na região core do Cerrado apresenta duas estações distintas
com relação à precipitação, uma chuvosa, que vai de setembro a março, e outra menos intensa que vai
de abril a agosto e por isso, deve ter cuidado acentuado, já que durante o período chuvoso há uma
maior potencialidade erosiva das chuvas, devendo existir maior cobertura vegetal dos solos.
Desta maneira o presente estudo teve como objetivo principal avaliar o potencial de
erosividade das chuvas como parâmetro para estudos subseqüentes da suscetibilidade erosivas dos
solos na área. O mesmo se justifica pela importância de se conhecer melhor a fisiologia da paisagem
local, uma vez que não há trabalhos mais detalhados sobre a área.
Procedimentos metodológicos
El = 89,823 (p2/P)0,759
Onde:
Resultados e discussões
A área de estudo está climaticamente sobre o domínio tropical subúmido de Koppen, onde
predomina uma estação seca e outra chuvosa, sendo a estação seca predominante entre maio e
setembro, e a estação chuvosa entre outubro e abril. De acordo com Nimer (1989) a precipitação média
na região centro-oeste do Brasil onde se insere a área, varia de 1700 a 2000 mm/ano.
Para a região centro Oeste os meses de maior concentração pluviométrica vão de novembro a
janeiro. Ainda segundo Nimer (op cit), esta concentração se dá graças ao sistema de circulação
perturbada de oeste. A referida circulação se refere a uma perturbação na direção do vento, que
carregado de umidade proveniente do Açores, adentra o território brasileiro através da calha do rio
Amazonas, chegando até a cordilheira dos Andes, onde é desviado por esta barreira natural, dirigindo-
se assim para o interior do país trazendo consigo a umidade da região amazônica. Esta corrente de
acordo com Nimer (idem) afeta a região Centro-oeste, e frequentemente traz ventos de oeste e
noroeste, que ao se chocarem com massas de ar quente de natureza continental, provocam chuvas.
Estes bolsões de ar quente são classificados como linhas de instabilidade tropical (IT), ocorrendo este
fenômeno ao final da primavera e ao início do outono.
Cabe destacar que em outros momentos, as correntes perturbadas de oeste encontram massas
de ar quente e úmida devido ao deslocamento do ar vindo do oceano Atlântico formando a zona de
convergência do atlântico sul, promovendo eventos de chuva.
A grande influência da continentalidade, graças ao grande afastamento em relação ao
Oceano Atlântico, provoca além da irregularidade pluviométrica, temperaturas com médias mais ou
menos elevadas, além de uma amplitude térmica diária alta, além de umidade atmosférica com índices
bastante baixos entre os meses de maio a agosto.
Considerando em especial os dados climáticos de Iporá (2000 a 2008) é possível perceber que
a distribuição das chuvas na região é bastante irregular, com anos em que a quantidade de chuva
supera o limite máximo calculado para o Centro-oeste, como foi o caso do ano de 2007, onde se mediu
2246 mm/ano, e outros onde o índice fica bem abaixo da média regional, como foi o caso do ano de
2003, onde a volume de chuva chegou a apenas 1126 mm/ano.
O Quadro 1, mostra as médias mensais e anuais do período analisado, considerando o desvio
padrão e o limite inferior e superior com base em uma margem de confiança de cinco por cento (5%).
Mostra ainda a erosividade das chuvas em media mensal e anual.
Quadro 1. Pluviosidade média mensal (mm) e total e índices de erosividade média e mensal para Iporá-Go
Medida jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez total
Média 284.08 234.44 174.41 76.04 34.93 27.76 4.07 12.30 27.90 99,01 204,24 243,88 1452,5
Desvio
padrão 73,23 125,9 83,06 46,37 63,52 5,1 6,04 11,3 27,42 33,41 60,95 74,2 610,5
Limite
superior 340,4 331,49 238,37 111,75 83.84 7.01 8.72 20.95 49.02 124.73 254.59 301.02 1871.89
Limite
inferior 227,7 137,39 10,44 40,34 -13.97 0,84 0.58 3.54 6.79 73.28 163.20 186.74 936.87
erosividade em Mj/ha.mm
Média 1895 1415 903 256 78,5 55,5 2,93 16 55,9 382,5 1136 1503 7699,33
Limite
superior 2235 1746 1013 367 161,5 62,5 11,6 37 105 506 1390 1804 9438,6
Limite
inferior 1668 1277 666 216 64,5 54,66 2,33 12,5 49 309;5 973 1316 6607,5
2500
Total de chuva em (mm)
2000
1500
1000
500
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
O ano de 2000 apresenta uma precipitação de 1756 mm, enquanto em 2003 a precipitação foi
de 1126 mm, o que caracteriza um decréscimo de 630 mm neste período, fato que merece uma análise
mais acurada em outra oportunidade, a fim de avaliar a dinâmica atmosférica neste período.
Em 2004 a precipitação sofre novamente um acréscimo, chegando a 1804 mm, vindo a cair
novamente em 2005 e 2006, com novo acréscimo em 2007 e nova queda em 2008.
Com exceção da atipicidade do ano de 2004 é possível perceber através do gráfico 2 que todos
os meses apresentam um decréscimo significativo de precipitação desde 2000, o que levanta uma
preocupação sobre qual ou quais fatos estariam contribuindo para este decréscimo de precipitação,
porém não faremos aqui esta discussão, uma vez que não temos no momento, dados para tal
constatação.
Jan.
600
Fev.
Total de chuva em (mm)
500 Mar.
400 Abr.
Mai.
300
Jun.
200 Jul.
100 Ago.
Set.
0
Out.
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Nov.
Anos da série histórica
Dez.
Considerando a erosividade das chuvas, que é o objeto deste estudo, ela varia de acordo
com o volume de chuva, onde maior a precipitação, maior a erosividade. Neste caso os maiores índices
de erosividade concentram-se entre os meses de novembro a março, devendo as áreas mais suscetíveis
à erosão estar bem manejadas e com cobertura vegetal adequada para evitar as perdas de solo. Com
base nos dados obtidos sobre erosividade o Quadro 2 mostra os índices de erosividade e a sua
capacidade de promover erosão dos solos, com base na escala proposta por Beltrame3 (1994).
3
<599,04 erosividade débil; 599,04 a 675,48 (média); 675,49 a 751,91 (forte); 751,91 a 828,33 (muito forte); >828,33
(excessiva).
Quadro 2. Erosividade média mensal e seus índices de erosividade
EROSIVIDADE MÉDIA – (El=
MÊS Mj/ha.mm) QUALIFICAÇÃO
Considerações finais
Para avaliar a real situação erosiva da área estudada, que de alguma maneira representa
toda a extensão do município de Iporá é preciso considerar a erodibilidade dos solos. Entretanto os
dados apresentados neste breve estudo demonstram uma necessidade de planejamento com relação ao
uso e conservação das terras, que no município são utilizadas em maior parte pelo uso de pastagens
(75%) como aponta o trabalho de Sousa (2006).
A forma como a erosividade se apresenta é bastante heterogênea, com índices muito baixos
durante a estiagem e muito altos no período chuvoso, fato que teoricamente leva a uma maior
erodibilidade dos solos devido ao longo período de estiagem, que mantém os agregados superficiais
dos solos mais soltos, portanto mais facilmente transportáveis pelas águas das chuvas.
É preciso considerar que estes dados somente serão importantes se servirem como fonte
para planejamento de ações no sentido de conservar os recursos naturais, principalmente água e solos.
Referências Bibliográficas
BELTRAME, Ângela da Veiga. Diagnóstico do Meio físico de Bacias hidrográficas: modelo e
aplicações. Florianópolis: Ed. da UFSC, 1994.
GUERRA, J. T. & CUNHA, S. B. da. – Geomorfologia: Técnicas e Aplicações. São Paulo: Bertrand
Brasil, 1999.
MACEDO, R. S. et all. Índice de erosividade das chuvas em Coari-AM. In: XXXI Congresso
Brasileiro de Ciência do solo, de 05 a 10 de agosto. Gramado-RS: Centro de Convenções, 2007.
NASCIMENTO, M. A. L do. Estudo dos processos erosivos na bacia do ribeirão João Leite em
Goiânia. (Tese de doutorado). São Paulo: USP, 1998.
OLIVEIRA, E. P. de. – O Terreno Devoniano do Sul do Brasil. Ouro Preto, (14): 31-41, 1987.
SOUSA, F. A. de. Uso e ocupação na bacia hidrográfica do ribeirão Santo Antônio em Iporá-Go
como subsídio ao planejamento (Dissertação de Mestrado). Goiânia: IESA/UFG, 2006.