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A Educação e sua importância política no Estado Capitalista

A Educação tem tido historicamente a atenção do Estado por


representar um meio de controle das relações sociais entre mão-de-obra e as
demandas do mercado de trabalho. Com vistas à manutenção desse controle o
Estado implementa Políticas Educacionais, lançando programas que atingem a
Educação em todos os seus aspectos.
Por meio de políticas públicas o Estado consegue interferir em
setores específicos da sociedade, conforme afirmam Gobert, Muller, 1987 apud
Höfling. Os autores definem Políticas Públicas como as ações e programas que
o Estado realiza para implantar um projeto de Governo.
Buscando reduzir as diferenças sociais produzidas pelo Capitalismo,
as políticas sociais são indicativos da abrangência da intervenção social que o
Estado pretende realizar para garantir o mínimo de redistribuição de benefícios
sociais. Essas políticas se estendem pelas áreas da saúde, educação,
previdência, habitação e saneamento, mas vamos restringir nossa análise
neste texto à área da educação.
A gestão da Educação no Brasil abrange toda a organização
promovida pelo Estado através das instituições que o representam, finalidades,
planejamento e desenvolvimento, propostos pelas ações e políticas públicas,
das instituições sócio-educacionais. Sobre isso, afirma Dourado:
...uma concepção ampla de gestão que considere a centralidade das políticas
educacionais e dos projetos pedagógicos das escolas, bem como a
implementação de processos de participação e decisão nessas instâncias,
balizados pelo resgate do direito social à educação e à escola, pela
implementação da autonomia nesses espaços sociais e, ainda, pela efetiva
articulação com os projetos de gestão do MEC, das secretarias, com os projetos
político-pedagógicos das escolas e com o amplo envolvimento da sociedade
civil organizada. (DOURADO, 2007, p.924)
Dessa forma, analisar as políticas educacionais e a Gestão da
Educação no Brasil como um todo exige uma visão panorâmica da Educação,
bem como recortada dos vários aspectos que se relacionam para definir essa
área social.
Novaes (2007) afirma que a democratização e a descentralização
são os dois eixos sobre os quais as recentes Políticas Educacionais se
sustentam para modernizar e tornar mais eficientes e eficazes os processos de
gestão educacional.
Sobre a democratização ele afirma que há duas perspectivas a se
considerar: uma refere-se à adoção de políticas que visam promover, em
grande escala, o acesso da população à escola, e, a outra, refere-se ao maior
grau de participação dos sujeitos nos processos de gestão da educação.
(Novaes, 2007, p.5). Assim, no primeiro caso a democratização se dá por meio
de ações do Estado que objetivam ampliar o número de vagas construindo
novas escolas, e convocando os pais para que matriculem seus filhos em idade
escolar. No segundo caso a democratização se dá na abertura para
participação nos processos de tomada de decisões, planejamento e execução
de ações de gestão da escola, pelas instâncias representadas das
comunidades escolares, especificamente ou de toda a sociedade.
Já a descentralização se refere à transferência de poderes
concentrados no topo da hierarquia da organização educacional para os
órgãos ou setores intermediários e locais dessa hierarquia. (Novaes, 2007, p.6)
Há também dois aspectos a se considerar quanto à descentralização,
segundo Novaes, no que diz respeito às instituições: O primeiro quanto às
condições materiais e técnicas e o segundo quanto à capacidade e à
competência técnica das instituições e do pessoal que receberá novos
atributos, no caso da educação, consideremos se as escolas têm estrutura
física e humana para desenvolver com organização e competência as
responsabilidades que estão recebendo devido à descentralização de poderes
financeiros e pedagógicos. Sem essas condições o processo de
descentralização pode ser inviabilizado ou ocorrer de forma insatisfatória.
As Políticas, tais como PDDE - Programa Dinheiro Direto na Escola,
o Programa de Distribuição do Livro Didático, o Programa de Repasse dos
Recursos para a Manutenção das Escolas Públicas, o Programa de
Alimentação Escolar, o FUNDEB – Fundo de Desenvolvimento da Educação
Básica, bem como o Programa Nacional de Fortalecimento de Conselhos
Escolares fazem parte do processo de descentralização da gestão educacional.
As políticas públicas que concernem à educação no Brasil têm sido
historicamente marcadas pela descontinuidade, falta de planejamento e de
propostas de longo prazo que as definissem como Políticas de Estado e não de
Governo. Saviani (2007), numa análise do PDE – Plano de Desenvolvimento
da Educação, mostra um claro exemplo disso quando afirma que o PDE,
lançado em 24 de abril de 2007 enquanto o PNE - Plano Nacional de
Educação, aprovado em 9 de janeiro de 2001, e com duração prevista para dez
anos, ainda estava em vigor fora formulado paralelamente e sem levar em
conta o disposto no PNE (Saviani, 2007, p.1240) Assim, a articulação entre
aspectos fundamentais para a organicidade da educação, tais como gestão e
organização, formação inicial e continuada, estrutura curricular e processos de
participação e as ações do Estado não acontecem e esses aspectos são
claramente prejudicados. Dourado (2007) critica as políticas educacionais em
função dos objetivos e da forma como são implementadas. Ele afirma:
...a adoção de medidas ligadas às políticas federais para a educação básica (...).
Em muitos casos, resultou em ajustes e arranjos funcionais dos processos em
curso nesses espaços, alterando, por vezes, a lógica e a natureza das escolas e,
em alguns casos, a sua concepção pedagógica, a fim de cumprir obrigações
“contratuais” com o governo federal no âmbito da prestação de contas.
(DOURADO, 2007, p. 927)
Enquanto Novaes mostra um lado positivo das Políticas
Educacionais, o da democratização e da descentralização, Dourado mostra a
desarticulação entre essas políticas e os atores interessados nos processos
educacionais, os sistemas de ensino e as escolas, afirmando que:
Trata-se de um cenário ambíguo, no qual um conjunto de programas parece
avançar na direção de políticas com caráter inclusivo e democrático, enquanto,
de outro lado, prevalece a ênfase gerencial, com forte viés tecnicista e
produtivista, que vislumbra nos testes estandardizados a naturalização do
cenário desigual em que se dá a educação brasileira. (DOURADO, 2007, p.928)
Vários programas e ações voltados para a educação vêm sendo
realizados nos últimos anos, entre eles o PDE apresenta 30 ações que
contemplam o nível básico (educação infantil, ensino fundamental e médio) e
superior da educação, as questões docentes e define outros programas de
apoio ao desenvolvimento da educação básica relacionados a transporte,
saúde, tecnologia, energia elétrica, inclusão digital e incentivo à leitura.
O FUNDESCOLA tem como meta a busca da eficácia, eficiência e
eqüidade no ensino fundamental público, (DOURADO, 2007, p.930) mantém
parceria com as secretarias estaduais e municipais de educação das regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste, e tem no PDE – Plano de Desenvolvimento
das Escolas seu principal programa por que este valoriza a escola com foco no
aluno, porém em razão da concepção de autonomia restrita à dimensão
financeira o PDE é avaliado por Dourado(p.931) como diretivo, centralizador e
burocratizador do trabalho escolar o que se opõe aos esforços que vinham
sendo feitos no sentido de implementar projetos políticos pedagógicos
contrários a essa proposta.
O PDDE – Programa Dinheiro Direto na Escola visa garantir
autonomia financeira por meio de repasse de recursos para manutenção das
escolas, no entanto, novamente, a necessidade de criação de UEXs para
gerenciar os recursos delega a responsabilidade sobre a gestão dos recursos
públicos descentralizados para uma instituição de natureza privada”. (Adrião e
Peroni 2007, p. 259 apud Dourado, 2007, p.933).
Podemos assim afirmar que a condução de Políticas Públicas
Educacionais no Brasil tem em suas metas propostas que atendem as
demandas da sociedade, porém a forma de implementação é ainda
desarticulada dos projetos em andamento, dos atores envolvidos com
educação e com a realidade das instituições de ensino. Para orientar melhor a
efetivação desses programas seria necessária a participação daqueles atores
nas ações decisórias, de planejamento, execução e avaliação da
implementação dessas ações do Estado.

Referências Bibliográficas

DOURADO, Luiz Fernandes. Políticas e Gestão da Educação Básica no Brasil:


Limites e Perspectivas. Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 100 - Especial, p.
921-946, out. 2007. Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br>
HÖFLING, Eloisa de Matos. Estado e Políticas (Públicas) Sociais. Caderno
Cedes, ano XXI, nº55, novembro/2001.
SAVIANI, D. O Plano de Desenvolvimento de Educação: Análise do Projeto do
MEC. Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 100 – Especial, p. 1231-1255,
Out.2007
NOVAES, Ivan Luiz. Gestão Educacional no Contexto de Um Plano de
Educação. Cadernos IAT, Salvador, v.1, n.1, p.4-14, dez. 2007.

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