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REFLEXÕES SOBRE A AULA “MÉTODO CLÍNICO CENTRADO NA PESSOA”

Na quarta-feira dia 14 de julho, fomos expostos à aula acerca do tema Método Clínico Centrado na Pessoa
(MCCP), um tema que tem sido cada vez mais debatido no meio médico, principalmente no que diz respeito aos
contrastes e concordâncias desse método com a Medicina Baseada em Evidência (MBE). Pessoalmente, achei a
aula interessante, trazendo tanto informações novas quanto reflexões antigas, porém pertinentes.

Por exemplo, durante a aula, percebi que me veio com frequência o pensamento: “mas isso não deveria ser
óbvio? Ouvir o paciente e suas queixas de maneira integral não é o mínimo esperado de quem está ali para cuidar
de sua saúde?”. No entanto, refletindo ao longo da aula, percebi que, se há a necessidade de elaborar um método
a fim de orientar profissionais da saúde sobre como realizar essa escuta, talvez não seja algo tão óbvio assim.

De fato, durante o curso de medicina escutamos sempre as frases “você deve formular hipóteses diagnósticas
enquanto escuta o paciente” e “o diagnóstico correto é frequentemente feito em dois minutos de consulta”. Por
vezes, então, pensei como poderia, ao mesmo tempo, escutar ativamente as queixas e a história que meu paciente
conta ao mesmo tempo que minha atenção está voltada para uma lista de diagnósticos diferenciais.

A resposta para esse questionamento, percebo agora, repousa no MCCP: ouvir o paciente de maneira
completa e com atenção plena, não dividida, é a parte mais importante da consulta médica – isso não quer dizer,
porém, que outras partes da consulta médica não sejam importantes! Elaborar hipóteses diagnósticas, solicitar
exames investigativos, quando necessário, e traçar um plano de cuidados é fundamental. Porém, isso só pode ser
feito de maneira a melhorar a qualidade de vida após uma escuta séria, integral e atenta.

Além disso, somos ensinados por vezes a priorizar queixas baseadas em potencial gravidade do quadro, em
nome da MBE. Por exemplo, eu poderia imaginar receber um paciente emagrecido, que relata de maneira
despreocupada ter perdido muito peso involuntariamente, porém dedica a maior parte da consulta detalhando um
suor excessivo nas mãos e como isso o incomoda. Eu sei, por evidências científicas, que a perda de peso é um
sintoma potencialmente grave. Como explicar, então, que esse sintoma é mais importante do ponto de vista
médico? Será que eu devo, em verdade, estar mais preocupada com esse fato do que com a queixa que mais
incomoda o meu paciente? E, caso contrário, estaria negligenciando a saúde daquela pessoa em não investigar esse
sintoma?

Nesse contexto, achei muito interessante que, enquanto fazia essa reflexão, surgiu o questionamento durante
a aula sobre como aliar a MBE com o MCCP respeitando a autonomia do paciente e do médico. Essa pergunta e a
discussão do professor sobre o assunto me levaram a refletir: não é necessário antagonizar as duas práticas, apenas
aplicá-las em conjunto. A medicina e o cuidado em saúde devem ser sempre baseadas em evidências, caso contrário
corremos um maior risco de causar malefícios às pessoas mesmo com a melhor das intenções. Do mesmo modo,
esse cuidado em saúde deve ser centrado na pessoa – não é este o objetivo do cuidado? Cuidar de alguém. Além
disso, a autonomia do paciente, pela ótica dos dois métodos, deve ser respeitada de maneira absoluta: quando o
paciente é informado e compreende tudo que está acontecendo com sua saúde e de que maneiras podemos intervir,
ele é soberano nessa tomada de decisão.

Assim, percebo que, ao passo que parte da minha formação médica teve um viés objetivista, o que é esperado
de um currículo que busca ensinar tanto em tão pouco tempo, devo ser justa e pontuar que também fomos
convidados a repensar a maneira de consultar pessoas nesse período. Principalmente durante as aulas práticas nas
UAPS, fomos expostos ao método SOAP de avaliação do paciente, evidenciando que valorizar a análise subjetiva
da pessoa em relação às suas queixas é de grande valor tanto para o diagnóstico correto como para o cuidado
adequado do paciente. Pude perceber, com essas vivências, que a MBE e o MCCP não caminham em direções
opostas, mas em caminhos diferentes para o mesmo objetivo – a boa prática médica. Aliar essas duas “formas” de
praticar medicina, respeitando a autonomia do paciente, é a maneira como desejo conduzir a minha prática
profissional.

Aluna: Ianê Bastos Maia, 12° semestre, UFC-CE

20 de Julho de 2021.

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