NEGRA
VINGANÇA VERMELHA
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VIÚVA
NEGRA
VINGANÇA VERMELHA
MARGARET STOHL
Black Widow: Red Vengeance
© 2020 MARVEL. All rights reserved.
Muito bem…
Natasha se concentrou na linha de texto diante de si. Enquanto
respondia com cuidado no microfone, as palavras correspondentes
iam aparecendo no seu campo holográfico de visão.
Nada ainda.
Mas o status do usuário aparecia como on-line. Alguém espionava
sua conta de Sametime. Como um fantasma. O nome na conta era
falso; era um termo militar para uma pessoa
desconhecida, ou pessoas, durante uma operação. Mas, quem quer
que fosse, poderia muito bem estar simplesmente lançando uma
ameaça.
As três mensagens seguintes não a fizeram se sentir melhor.
INDESCON: #TODOSHEROISCAEM
INDESCON: #COMOOMURO
INDESCON: #PRESTEATENCAO
Ptnets…
Só uma pessoa na vida a chamara assim. Sentiu o corpo começar
a tremer, o oxigênio saindo dos pulmões, a cabeça…
Mas eu meti uma bala na cabeça dele. Eu o vi morrer diante dos
meus olhos.
Pelas minhas próprias mãos.
Natasha não fazia a mínima ideia de que vinha prendendo o ar
até que a voz da sua Synth a sobressaltou, trazendo-a de volta à
realidade.
– Os protocolos de segurança foram violados, Natasha.
A Verdadeira Natasha mal a ouviu – sua mente já corria à frente.
– Ative o Protocolo X, segurança.
– Afirmativo, Natasha. Protocolo X ativado. Realizando Ação X
agora. – Mas Synth pareceu hesitar, o que Natasha sabia ser
impossível. – Atualização: copiou e apagou 84% dos seus
arquivos pessoais seguros, Natasha.
Natasha empalideceu, mas, por fora, permaneceu calma.
Toda ação é uma mensagem. Assim como todo ataque.
Você não pode ser Ivan Somodorov, portanto, o que está me
dizendo?
Estou escutando.
– Arquivos comprometidos chegando a 94%, Natasha.
Ela franziu o cenho.
– O que aconteceu com o protocolo? Feche-o, segurança.
Jogue a sua melhor carta. Vamos lá.
Não importa o que tente, você não continuará por muito
tempo…
– Protocolo X desativado, Natasha.
– Não é possível.
Instintivamente, Natasha começou a avançar pela multidão na
direção de Ava, que ainda mantinha os olhos grudados no celular. A
pulsação da agente veterana continuava duas vezes mais rápida, e
ela sabia que isso era pânico, embora não lhe fosse uma sensação
frequente. A única outra coisa que ela sentia era uma frustração
crescente encabeçada por fúria – e essa sensação ela conhecia
muito bem.
É isso, ? Você consegue me alcançar, mas eu não?
Melhor você repensar isso, meu amigo.
No instante em que alcançou Ava, Natasha a segurou pelo braço.
– O tempo acabou. Vamos embora.
Ava tentou se soltar.
– Espere. Você sabia que, se observar o pôr do sol no segundo
certo, ele brilha verde em vez de laranja? Tipo um limo radioativo
verde e brilhante. Verde alienígena. Por que será?
Synth falou no fone de Natasha:
– Arquivos pessoais foram cem por cento apagados, Natasha.
Assim como arquivos confidenciais, registros médicos, de trabalho,
arquivos mencionando Natasha Romanoff, arquivos com referência
cruzada a Natasha Romanoff…
Por mais desalentadora que a notícia fosse, Natasha não se
importava com os arquivos. Ela tinha uma cópia – três, na verdade –
de tudo que fosse importante em um ou outro dos três drives
externos guardados em três cofres de segurança fora de Nova York:
em Zurique, em Londres e em Hong Kong. Também havia
passaportes e fotografias antigas, além de envelopes de dinheiro
presos com elásticos para emergências – dez mil euros, dez mil
libras esterlinas e vinte e cinco mil dólares americanos,
especificamente falando. Não o bastante para levantar suspeitas,
mas o suficiente, numa emergência, para alugar uma masseria, na
Apúlia, no calcanhar sudeste da bota italiana, por um ano inteiro.
Caso tivesse de fazer isso.
Mais importante do que a invasão na segurança era a revelação –
o fato do que isso dizia sobre o crime cometido contra ela e a
pessoa que o cometia. O lado de agente treinada de Natasha estava
fascinado, mesmo que todo o restante dela desejasse gritar.
Interessante. Quer dizer que o nosso só quer a mim –
ou quer determinada informação dos meus arquivos – ou fazer
desaparecer tal informação?
Ou, quem sabe, só queira confundir a minha cabeça?
Qualquer modo de considerar a questão era útil. Natasha
pressionou o fone de ouvido.
– Como estamos indo com o protocolo?
– Isolei seu conjunto de dados agora, Natasha. Os firewalls
restantes parecem seguros.
– Entendido. – Natasha suspirou. – Melhor informar a . . . . . .
– Quando ela começou a tirar os óculos da cabeça, uma luz branca
a cegou temporariamente. E ela cambaleou.
Ava a segurou pelo braço.
– Ei… Tudo bem?
O holograma tremulou, e um desenho pixelado de uma caveira
alada surgiu diante de Natasha.
– Não, Tony, não acho que você seja o meu cara do . . – Natasha
disse irritada, envolvendo a queimadura elétrica do pulso com gaze
tirada de uma das várias caixas metálicas de kits de primeiros
socorros de Howard Stark. – Eu sou o meu cara do . .
– Isso é maravilhoso porque, como já lhe disse, estou meio que
ocupado com um negócio aqui. – O olhar de Tony baixou da tela de
projeção, cujo tamanho era o de uma parede, atrás de Natasha;
atrás dele, onde quer que estivesse, ela conseguia ver uma imensa
parede de concreto, talvez de um porão? A voz dele ecoava no que
parecia ser o espaço de uma caverna. – Seis milhões de volts de
energia de elétrons, para ser mais exato, e provavelmente minha
melhor chance de receber um prêmio Nobel em física, ou algo do
tipo. Sabe, a ?5 O Grande Colisor de Hádrons? Mas não tem
importância, acho que isso pode esperar porque você precisa que
consertem o seu e-mail…
? O que Tony está fazendo na Suíça? Considerando que o
elo de emaranhamento quântico entre Natasha e Ava fora uma das
investigações em física quântica em aberto mais demoradas já
conduzidas por ele, ela ficou desconfiada – mas também conhecia
aquele olhar de Tony. Ele estava escondendo algo.
No momento, Natasha estava impaciente demais para se importar
com isso. Olhou para ele.
– Já acabou?
Tony deu de ombros.
– Acho que sim.
– O seu servidor já terminou de rastrear o caminho dos dados?
Ele consultou um painel em seu tablet digital.
– Quase – Tony respondeu. – Aguenta firme aí.
Natasha balançou a cabeça, frustrada.
– Não consigo só ficar sentada. Algo está acontecendo outra vez.
Sinto isso, mesmo sem conseguir entender como tudo se encaixa.
No ano anterior, já fora difícil o bastante localizar as sinapses
escondidas entre a empresa de transporte ucraniana e o complexo
industrial-militar secreto em Moscou – sem mencionar entre um
laboratório subterrâneo futurístico turco e a lendária escola de
espiões de Ivan Somodorov. Era desgastante conjecturar como tudo
isso estava conectado ao que acontecera hoje.
Como está conectado? Quem você acha que está enganando,
Natashkaya? Tudo na sua vida se conecta a um lugar e a um
período.
A Sala Vermelha.
Deduzira que a Krasnaya Komnata iria atrás dela no momento em
que matasse Ivan Somodorov, não é mesmo? Até onde sabia, a
garota russa no Cristo também podia ser alguém da Sala Vermelha.
Além disso, Natasha só tinha uma fração de informação verdadeira
para seguir, a mesma pista que a levara e levara Ava ao Brasil seis
meses antes. Algumas poucas palavras retiradas de um despacho
traduzido de um dialeto ucraniano pouco difundido.
KRASNAYA KOMNATA POTREBNOSTI YUZHNOY AMERIKI DEN’GI…
- .
***
INDESCON:
INDESCON: RÁ!
***
***
***
Ava mancava pela tortuosa trilha da floresta. Ela estava uma zona –
com apenas uma bota, vestindo uma camiseta suja e sem jaqueta.
Não percebia nem se importava se estava ou não sendo comida
viva pelos mosquitos. PropX I: Experiência de Campo; Nota A+.
Adoraria ver qualquer outro aluno de sua turma se dar bem nesse
tipo de jogo.
Ou não.
Depois que notou estar em segurança, do outro lado do
espinhaço distante do local da explosão, Ava apertou os olhos com
força, abrindo caminho através do elo quântico que partilhava com
Natasha até o lugar em que as suas mentes se ligavam.
Mostre-me. Onde você está, sestra?
Sua mente estava repleta de estática – ainda rodava. Conseguiu
apenas uma breve imagem de Natasha, arrastando-se de barriga
pela lama, mas foi o bastante.
Ali. Graças a Deus. Você está viva.
Ava voltou a se concentrar, dessa vez percebendo a sensação da
terra úmida depositada entre os dedos de Natasha, escorrendo por
baixo da segunda pele enquanto ela se arrastava para a frente.
Significa que ela está em movimento.
Captou um último vislumbre de Natasha bem quando o terreno
desigual sob a agente chegou a uma crista, fazendo-a descer
rolando uma colina escorregadia.
Ava conseguia sentir que Natasha estava desistindo, permitindo-
se cair, chocando-se contra raízes retorcidas e pedras, e quando
Ava reabriu os olhos…
Lá estava Natasha, bem à vista da trilha preparada por Ava
naquela mesma manhã, na mata rasteira a caminho da margem do
rio.
Sestra…
Ava estava ao lado de Natasha antes mesmo de ela abrir os
olhos, antes de ela emitir qualquer som. Agora que os russos
desnorteados já não podiam mais as ouvir, e a artilharia
ensurdecedora começava a se dissipar nos seus tímpanos, a
adrenalina começou a recuar. De repente, restou somente o pânico.
Natasha estava ferida, e Ava tinha que tomar as rédeas da situação,
estivesse pronta ou não, sabendo ou não o que estava fazendo…
Primeiros socorros básicos. Isso eu sei. Pronto atendimento de
campo. Lembro dessa lição.
– Venha. – Ava se inclinou sobre Natasha, arrastando-a até a
parte adjacente da trilha em que ambas poderiam descansar
escondidas sob a proteção de uma bananeira. – Ufa. Sabe, não
parece, mas você é bem pesada para uma Vingadora. Pensei que
vocês precisavam estar em forma para lutar ou coisa do tipo.
– Bruce é mais pesado – Natasha retrucou, com os olhos ainda
fechados.
– E Tony, no seu traje de robô – Ava continuou. – Eu não gostaria
de estar arrastando aquele treco por aí agora.
– Provavelmente, Tony e o traje robótico dele teriam sido úteis lá
atrás. – Natasha tossiu, abrindo os olhos. Sua boca estava
machucada e sangrava.
– Agora é que você admite isso?
– Está tudo bem – Natasha grunhiu, mas para Ava parecia que
ela se esforçava para falar. – Eu não sabia o que Tony havia
colocado naquela coisa e subestimei o poder de fogo. Acontece.
Mas vou ficar bem.
– É melhor mesmo – Ava disse, determinada.
– Vou, sim. – Natasha se recostou numa rocha e tirou o excesso
de lama da camiseta preta imunda. Não fez diferença alguma. –
Estou ótima. – Tateou a testa e esboçou uma careta. Quando
abaixou os dedos, encontrou sangue neles.
– O que foi? Você está ferrada mesmo – Ava comentou,
sentando-se ao seu lado.
– Ei, não vou dizer que aquilo foi perfeito, mas deu conta do
serviço. – Natasha limpou a mão suja de sangue nas calças. – Na
verdade, eu diria que isso foi seu treinamento de “aprendendo
maneiras de desferrar uma situação ferrada – módulo I”.
– Acha mesmo? – Ava a encarou e depois desviou o olhar. – Se
essa foi uma das suas melhores experiências em campo, lembre-me
de sempre levar um saco mortuário para você nas missões.
Natasha riu, cerrando os olhos.
– Estou me sentindo um lixo.
– Você parece um lixo – Ava concordou. Depois inspirou. – E está
fedendo a churrasquinho.
– Este cheiro é da minha pele. Talvez do meu cabelo. Levei uma
bela defumada – Natasha admitiu.
– Excelente. Acho que vou ficar enjoada.
– Já vi coisa pior – Natasha disse. – E também já me senti pior.
– Por que isso não me surpreende? – Ava suspirou.
Natasha deu de ombros.
– Um banho talvez caísse bem agora.
– Acha mesmo? Este cheiro está me matando.
– Tão ruim assim, é? Não consigo sentir. Acho que queimei a
parte do nariz que cuida de sentir cheiros, seja lá qual for ela –
Natasha comentou.
– Eu queria muito que você não precisasse bancar o tempo todo
essa droga de super-heroína – Ava confessou, retirando a camiseta
encharcada por cima da cabeça. Largou-a no chão ao lado,
desembainhando uma das adagas brilhando em azul e cortando o
tecido ao meio.
– É um hábito. – Natasha se apoiou na rocha atrás de si.
– Estou começando a entender isso. – Ava passou o curativo
improvisado ao redor da cabeça de Natasha, cobrindo o corte na
têmpora. – Vamos só levá-la de volta ao helicóptero – disse,
levantando-se. Estendeu a mão para amparar o braço de Natasha. –
Consegue chegar lá?
– Claro. Estou bem. É sério – Natasha replicou, pegando a mão
de Ava para se erguer. Vacilou em alguns passos trôpegos, só para
provar o que dizia. – Viu? E você?
– Eu? Estou ótima – Ava respondeu, amarrando o que restava da
camiseta na cintura. Sua regata estava toda encharcada de lama e
suor. – Eu só queria ter conseguido ir atrás deles. Provavelmente
nos teriam levado de volta à base deles. – Sentou-se numa rocha ao
lado de Natasha.
Natasha olhou para ela com uma expressão furtiva.
– É mesmo? Dá uma olhada nisto. – Pegou o ComPlex e deu dois
toques nele. A rede de pontinhos brilhantes azul-claros ressurgiu no
quadrado translúcido. Ela arrastou um dedo pela lateral, e um grupo
de luzinhas verdes surgiu. Então uniu os dedos em pinça, e a
imagem se reduziu até que o rio e os cumes ao redor da bacia se
tornaram visíveis.
– Você os está rastreando? Os russos? Mas como? – Ava se
agachou na lama ao lado de Natasha para conseguir ver melhor.
– Um bônus do PropX, o Tango Rastreador. Bem, pelo menos é
assim que Tony o chama. – Natasha sacudiu a cabeça. – É um treco
genial. Na verdade, é um truque antigo da inteligência russa, de uns
cinquenta anos atrás, poeira espiã.9 Agora, virou o modo
aerossolizado de Stark de identificar qualquer um que apareça num
local de explosão após o ocorrido. Afinal, em geral não são os
mocinhos que vão dar uma volta no local onde houve um crime.
– Incrível. – Ava encarou o acrílico em total descrença.
– Pois é, só não conte ao Tony. Estou bem cansada de ouvir
sobre aquele laboratório de ideias, e ele já é arrogante o bastante.
– Jura? – Ava brincou.
– Mas agora, como bônus… – Natasha desferiu um toque duplo
em um dos pontos verdes, fazendo uma janela se abrir. Dentro dela,
uma sequência ininteligível de números começou a rolar. – Ali.
Bingo.
– O que são todos esses números?
– Sou eu. Bem, é o meu . Agora sabemos que esses homens
verdinhos estão com a sua bota. – Natasha contemplou o desfile de
formas cintilantes. – Com sorte, eles acreditarão que acabamos nos
explodindo enquanto tentávamos explodi-los. O que, infelizmente,
acontece toda hora.
– Eu sei.
– Por causa do seu treinamento de munições?
Ava meneou a cabeça.
– Das noites de filmes. Guerra ao terror.
Natasha tentou não rir.
– Talvez eu devesse ter conferido o seu relatório com um pouco
mais de cuidado antes de trazê-la a campo.
Os olhos de Ava permaneceram fixos nos pontinhos verdes.
– Quanto tempo isso dura? A… poeira espiã.
– Espero que tempo suficiente para voltarmos ao Rio,
interceptarmos o sinal e passarmos para a tática aérea. Vigilância
por satélite e drones. Equipamentos que podemos monitorar de
Nova York.
– Maravilha. – Ava depositou a mão livre sobre o ombro de
Natasha. – Agora vamos voltar para o helicóptero. Acha que vai
conseguir pilotar, toda machucada assim?
– Claro. – Natasha se segurou no braço de Ava e se endireitou. –
E não se preocupe. Teremos os Cinco Olhos nisso.
– Cinco Olhos? – Ava se inclinou para pegar a mochila de
Natasha e a colocou sobre o ombro, junto da sua.
– Ainda não ensinaram isso para você? Cinco Olhos: Estados
Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Passamos
para olhos eletrônicos, saímos e depois aplicamos a nesta
mala preta quando chegarmos em casa. – Natasha se apoiou em
Ava, e começaram a andar na direção do helicóptero.
Ava franziu o cenho.
– ? Como uma equipe da ?
– Tá brincando que você não sabe. – Natasha fingiu surpresa. – É
uma sigla em inglês para Forças, Fraquezas, Oportunidades e
Ameaças. Avaliação de Ameaças I. Você devia ter visto isso no seu
primeiro dia de aula. Junto à redação sobre “Quem eu embosquei
nas férias de verão”.
– Puxa, essa doeu – Ava comentou. Enquanto caminhavam, ela
observava o ComPlex em sua mão. – Não sei, não. Tudo isso me
parece tão deprimente.
– Por quê? – Natasha perguntou, parecendo cansada.
Ava balançou a cabeça.
– Não tem importância agora.
– Por que não?
– Porque não. Você está ferida, e é melhor irmos embora.
Natasha revirou os olhos.
– Ah, faça-me o favor. Já comi cachorros-quentes que me fizeram
mais mal do que isto.
– Devem ter sido uns tremendos cachorros-quentes.
– Pastores-alemães quentes – Natasha brincou.
– Ah, entendi. Só é preciso explodi-la pelos ares, e daí é que ela
faz piadas. – Ava sorriu, mas sem parar de andar. – Vamos. Vamos
deixar isso com os cinco caras ou os cinco olhos, tanto faz. Só me
diz uma coisa.
– Manda – Natasha disse, fazendo uma pausa no percurso. – O
que quer saber?
– Eu só estava aqui pensando… – Ava hesitou. Depois entregou o
ComPlex a ela. – Qual é a sua opinião sobre a chuva roxa.
– O álbum do Prince?
Ava apontou.
– No mapa. O que essa chuva roxa significa?
– Radiação. Por quê? – Natasha baixou o olhar para o ComPlex e
lentamente respondeu à própria pergunta. – Porque nossos amigos
verdes brilhantes estão se dirigindo para uma zona roxa enorme.
– E está ficando mais brilhante. O que isso quer dizer?
– Der’mo… – Natasha estudou o mapa. – Quer dizer que temos
que voltar. – Quando, por fim, ergueu o olhar, sua expressão estava
séria. – Por cinco minutos. Encontramos o acampamento deles.
Entramos, damos uma olhada e saímos.
– Tem certeza? – Ava perguntou.
– O suficiente. – Natasha pegou a sua mochila, a que Ava
carregava. – Não podemos ir embora. Não agora. Não quando
encontramos esse tanto de radiação. Tenho que me aproximar o
bastante para avaliar o quão ruim é a situação.
– Tudo bem. Cinco minutos – Ava concordou ao seguirem a
direção dos pontos verdes e da mancha roxa pulsante.
Quanta radiação é isso?
Não importava.
Iriam encontrar o acampamento, e talvez algumas respostas.
Ava disse a si mesma que deveria se sentir aliviada. Disse a si
mesma que deveria se sentir empolgada. No mínimo, pronta para a
ação.
No entanto, só o que conseguia sentir era medo.
Composto químico contendo luminol e nitrofenil pentadieno, a
chamada “poeira espiã” foi usada pela durante a Guerra Fria.
Seu objetivo era rastrear norte-americanos residentes em território
russo por meio da propagação da substância ao tocá-la (em
maçanetas) ou pisando em cima (de tapetes automobilísticos), por
exemplo. (N.E.)
CAPÍTULO 13: NATASHA
NAS PROFUNDEZAS DA AMAZÔNIA LEGAL, BRASIL
CEM QUILÔMETROS AO SUDOESTE DE MANAUS
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***
É da mesma pessoa.
Mas não pode ser Maks. Ele está trancafiado. Isso é trabalho de
um segundo hacker. Talvez a pessoa que contratou Maks da
primeira vez.
Aquela que ele tanto temia.
Talvez até mesmo a pessoa que o liga a Somodorov.
Apesar de tudo que a . . . . . . lhe dissera, Maks continuava se
recusando a revelar o nome da pessoa que o contratara.
De novo, o logo de caveira apareceu na tela – só que, desta vez,
a tela era da altura e da largura de nove telas, e a imagem ocupava
a parede inteira da sala de guerra.
Não. De novo, não. Não aqui…
Possivelmente pela primeira vez naquele dia, todas as cabeças
da sala se desviaram dos próprios monitores. Foi quase possível
ouvir o estalo coletivo das vértebras à medida que as filas de
colunas se endireitaram.
É assim que você percebe que algo está errado de verdade…
– Como foi que essa coisa entrou na nossa rede? – Maria rugiu,
encarando os técnicos do décimo andar. – Tirem isso daí. Iniciem o
Protocolo X. Agora!
Como se esperassem por essa ordem, no momento em que as
palavras foram ditas, todas as telas ficaram pretas.
– Protocolo X iniciado – o técnico ao lado de Maria relatou quase
sem respirar. – A rede está protegida de quaisquer cancelamentos.
Aham, até parece… Foi fácil demais.
– Obrigada – Maria falou à sala.
– Ele não terminou ainda – Natasha disse, mantendo a voz baixa.
Mas as filas de monitores voltaram à vida, com colunas de números
brancos e brilhantes rolando enquanto as máquinas se reiniciavam.
Somente as telas na parede continuavam pretas.
O que ele está fazendo? O ? Aquele que não é o Maks?
Seja lá quem for esse cara, ele ainda não terminou. Não pode ter
terminado.
Está só me mostrando que sabe como chegar até mim.
Sua mente repassou imediatamente todas as suas
vulnerabilidades. Seu telefone. Seu apartamento. Sua…
Ava.
Natasha pegou o celular e começou a mandar mensagens.
INDESCON: POVERNIS’
INDESCON: VIRE-SE
O jantar não tinha sido tão ruim quanto Ava imaginara que seria.
Não comeram nuggets de peixe, mas havia uma lasanha com molho
de orégano e uma aromática sopa de legumes, feita com tanto
repolho que Ava poderia fechar os olhos e quase fingir que era
shchi, a sopa de repolho que sua mãe – e qualquer outra mãe russa
– preparava no inverno.
Quase.
Do outro lado da mesa, Dante se mantinha ocupado consumindo
o equivalente a seu peso em pão de alho enquanto Sana contava
histórias engraçadas sobre seus clientes e sobre a esgrima, ou
sobre as meias-irmãs e os irmãos. Até mesmo uma sobre ter
desenhado uma bunda no lugar de um coração na espuma de um
cappuccino e ter ficado esperando que alguém percebesse.
A única parte sofrida foi que Ava e Dante não conseguiram
conversar um com o outro durante toda a noite. Isso e o fato de o
seu telefone estar sem bateria, de modo que não podia ligar para o
asterisco-sessenta-sei-lá-o-quê a fim de fingir que recebia uma
ligação e ir embora. Não o tinha carregado desde Manaus, a não ser
pelos poucos minutos enquanto estava no chuveiro de Natasha.
Coisas sobre as quais a . . . . . . não pensa quando constrói um
avião…
Quando estavam na metade do pudim de chocolate, Ava achou
que não conseguiria suportar mais.
– Você tem que vir comigo ao banheiro. – Agarrou Sana pela mão
e a puxou consigo na direção dos banheiros, deixando Dante para
trás na mesa do salão da cozinha comunitária. Assim que se
afastaram o suficiente, Ava sibilou no ouvido da amiga: – Sério? O
que está tentando fazer, San?
– Nada. – Sana empurrou a porta do banheiro.
– Você armou pra cima de mim. Esta noite foi sabotagem. Você
devia ir para a prisão das amigas. – Ava disse, seguindo--a para
dentro. – Não sou amiga dele. Ele me odeia. Ele me culpa… por
tudo.
Sana cruzou os braços, apoiando-se na bancada da pia.
– Diga.
– Sana – Ava alertou. Estava ficando brava de verdade.
– Pelo que ele a culpa? O que é tudo? – Sana perguntou. – Diga
o nome dele.
– Tanto faz. Não. Pare de agir esquisito. Você sabe do que estou
falando.
– Não. – Ela balançou a cabeça. – Alexei. Diga o nome dele.
– Sana – Ava a avisou.
Sana agarrou suas mãos.
– Você nunca fala dele, Mysh. É como se nada tivesse
acontecido, como se ele nunca tivesse existido.
Ava afastou as mãos. Sana poderia muito bem tê-la estapeado. –
É uma coisa horrível de se dizer. E não é verdade.
– E sei que não é verdade, eu vi vocês dois juntos. Sei o quanto
ficou dilacerada quando ele…
– Sana!
Sana olhou para ela cheia de propósito.
– Quando ele morreu, Ava. Alexei morreu.
– Eu sei disso. Claro que sei. O que foi, ficou louca? – Ava
conseguia sentir as lágrimas emergindo e se avolumando em seus
olhos.
– Não, Ava. Estou preocupada. Vocês dois viviam no mundinho
de vocês quando estavam juntos, e agora você vive no seu
mundinho com a lembrança dele, porque está longe.
Seria verdade?
Ava estava agitada.
– Não estou sozinha – rebateu. – Estou estudando na Academia.
Tenho ficado com Natasha, viajando. Na verdade, quase nunca
estou sozinha.
– É como se estivesse – Sana disse. A boca se retorceu e, por um
instante, ela também pareceu estar à beira das lágrimas. – Você é a
minha melhor amiga, Ava. Deixei que tentasse cuidar disso sozinha
por tempo demais, e jurei para mim mesma que, quando você
voltasse, eu a ajudaria a encontrar o seu caminho.
– Mas e se eu não quiser encontrá-lo? – Os olhos de Ava já
estavam embaçados.
– Vai, sim. Você precisa encontrar. – Sana se inclinou, abaixando
as mãos com suavidade sobre os ombros de Ava. – Mas não dá pra
seguir em frente até superar essa situação.
– Está tudo bem assim pra mim, nunca pedi pra seguir em frente
– Ava disse, desviando o olhar. Uma lágrima rolou por sua face até
a boca, onde ela sentiu o sal nos lábios.
– Você precisa fazer isso, Mysh. Sabe que sim. E acho que
aquele garoto esperando na mesa poderia muito bem ser a única
pessoa no mundo tão confusa quanto você sobre esse assunto.
Mais um motivo para permanecermos afastados um do outro.
– Tudo bem? Você está bem?
Ava só queria dizer que estava bem, que tudo estava bem, que
ela só não entendia. Mas, no momento em que abriu a boca, só
conseguiu chorar.
Sana envolveu Ava com os braços, apertando-a num abraço forte.
– Apenas tente. Você bem poderia conversar com ele a respeito
disso. Porque não sei como consertar isso, Mysh. Preciso daquele
garoto para ajudar.
Ava enterrou o rosto no ombro de Sana; sua amiga rescendia a
café fresco e canela, e mesmo isso lhe trouxe somente um breve
conforto naquela noite.
– Ele sabe o que você perdeu… – Sana começou.
Ava a interrompeu.
– Ele não sabe. Ninguém sabe.
Sana olhou com tristeza para Ava.
– Tudo bem. Mas ele conhece quem você perdeu, melhor do que
qualquer outra pessoa. E sinto muito. Eu queria mais do que
qualquer coisa ser essa pessoa para você.
– Pare. Apenas pare. – Ava se afastou. Tentou se controlar,
assentindo, esfregando o rosto. Todos os sinais que as pessoas dão
quando estão bem. Eu lhe darei todos eles. Só permita que esta
conversa acabe. – Está tudo bem. Ficarei bem.
– Mas você não está – Sana rebateu.
– Vamos só acabar logo com isto. Podemos conversar mais tarde.
– Ava empurrou a porta do banheiro e seguiu até a mesa deles.
Meus olhos estão inchados. Meu rosto está vermelho. Meu nariz
está escorrendo. E Dante consegue ver tudo isso. Provavelmente
está aterrorizado…
Dante se levantou quando as duas se aproximaram.
– Vou indo nessa. – Ele se esticou para pegar a bolsa de esgrima.
– Vocês podem ficar pra conversar. – Ele não conseguia ir embora
tão rápido quanto queria.
Pois é. Aterrorizado.
Ava olhou para ele e, por fim, inspirou fundo, estremecendo como
uma criança que tenta parar de chorar depois de uma ceninha. Bem
adequado.
E olhou para ele.
– Quer, talvez, sair daqui? Me acompanhar até o metrô ou algo
assim?
Ele a encarou.
– Tem certeza?
Ela estremeceu de novo e, dessa vez, percebeu que era de
cansaço.
– Tenho. Estou acabada. Preciso ir pra casa dormir.
– Sei como é – Dante disse. Segundos depois, empurrou a porta
e seguiu Ava rumo à noite fria.
***
***
A primeira dica veio das pontas dos seus dedos, em que fagulhas
azuis se espalhavam numa chuva até o carpete industrial que cobria
o piso do escritório de Maria Hill.
Ava já estava levando o sermão da sua vida quando sentiu a
explosão. Quase foi derrubada; seus olhos ficaram brilhantes e
vazios e, por um instante, ela achou que iria desmaiar.
Em seguida veio a dor pungente.
Natasha.
– Você saiu da linha, recruta. – Coulson estava sentado na
beirada da mesa de Maria, encarando Ava. – Assim que a agente
Romanoff voltar, ela terá algumas outras coisinhas próprias a
acrescentar…
– Eu sei, senhor… – Ava respondeu devagar, embora mal
conseguisse expelir de si as palavras. Sua cabeça doía tanto que
ela mal conseguia ficar de pé.
Natasha, você está bem?
Maria sacudiu a cabeça, andando de um lado a outro atrás de
Coulson.
– Não é hora de trazer seus amiguinhos para brincar na
. .. . . …
Ava parou de prestar atenção. Em vez disso, mergulhou na
própria mente, para além dos limites de sua consciência, da base e
do rio East. Foi avançando, quarteirão por quarteirão, cada vez mais
perto de Little Odessa, onde ficava o apartamento de Natasha.
Mais perto. Preciso me aproximar mais…
Os dedos assumindo um tom iluminado de azul estavam fora de
seu campo de visão, mas ela sentia o calor se espalhando pelos
braços e envolvendo-lhe o corpo todo.
Cerrou os punhos, e a eletricidade ardeu com mais intensidade –
e sentiu a mente se movendo com velocidade e clareza crescentes.
Lá vamos nós…
Maria continuava:
– Acabamos de perder um bom garoto, um analista valioso, para
algum tipo de agente químico desconhecido, bem dentro da nossa
base…
O que está acontecendo? Fale comigo…
Algo está errado, sestra.
Ava curvou os pés quando a energia passou por eles. Agora já
sentia as agulhadas sutis da luz azul perfurando cada uma das suas
pupilas.
– Não quando pessoas estão morrendo sem motivo aparente, a
não ser um frasco de vidro cheio de areia…
Ava ergueu o olhar.
– Preta? – perguntou.
Maria a avaliou com estranheza.
Ava tirou um objeto do bolso e lhe entregou.
– Tipo esta? – Era outro frasquinho de vidro, dessa vez cheio até
a metade com uma areia brilhante preta.
– Onde conseguiu isto? – Coulson indagou enquanto Maria
estudava o frasco.
– Das mãos de um homem que tinha acabado de se jogar na
frente de um trem – Ava respondeu. Agora a dor era tão forte que
ela precisou morder a bochecha na tentativa de se concentrar nas
palavras dos agentes.
Sestra…
– O quê? Por quê? – Coulson perguntou.
– Por que ele se jogou? Porque o cara que estava segurando esta
coisa mandou que ele fizesse isso… – Ava pressionou o frasco nas
mãos de Maria. – E isso tem um significado ainda pior do que vocês
imaginam, porque isto aqui é a mesma coisa que encontramos no
acampamento da Amazônia.
– Como é possível? – Coulson pegou o frasco da mão de Maria
para examiná-lo mais de perto.
Ava balançou a cabeça. Focos de luz pipocavam atrás dos seus
olhos, quase como se formassem manchas pela dispersão da luz, o
que fazia zero sentido porque ela estava em um ambiente fechado.
Der’mo.
– Não sei. Eu também não teria acreditado se não tivesse visto.
Pergunte para os outros. Estão esperando no corredor.
– Outros? – Maria perguntou. – Outras… crianças?
– Neste corredor? – Coulson perguntou. – Está dizendo que eles
estão aqui?
Neste corredor secreto? Nesta base militar confidencial? Ele nem
precisou dizer isso. Ava não se importava; tinha problemas maiores
do que Coulson. A sala inteira girava agora, e ela se apressou em
falar de uma vez:
– Sana e Dante. Eu os trouxe comigo. Vão em frente, eu sei.
Vocês vão surtar. – Balançou a cabeça. – Mas não consigo falar
sobre isso agora. Tenho que ir.
Só chegou até a porta.
No instante em que tocou a maçaneta metálica lisa, seus olhos se
fecharam involuntariamente enquanto sua mente de súbito recebeu
uma enxurrada de imagens de fogo e de fumaça, de gritos e de
sirenes. Em seguida, Ava ouviu uma voz, bem de leve, muito
distante.
Ava, sinto você, mas não consigo ouvir.
Se estiver em segurança, fique onde está… Eles estão aqui.
Os olhos de Ava se esbugalharam. Ela abriu a boca, e um jorro de
luz azul escapou para fora. Abriu os braços, e correntes azuis
pulsaram das pontas dos dedos, espalhando-se e chocando-se
contra o piso debaixo de si e no teto acima dela como raízes e
galhos de uma árvore, ou, talvez, os dendritos de um neurônio.
As fagulhas se dispersaram quando ela formou duas palavras
com grande dificuldade.
– Natasha…
– Agora.
Seus olhos se reviraram, e a sala ficou escura.
***
***
***
***
***
Danvers havia sido muito clara quanto aos alvos. Fizera uma série
de cálculos e chegara a um cenário, com três pares diferentes de
latitudes e longitudes.
Ao fim da chamada, Natasha tinha solicitado que o mapa de
satélite dos reatores de Cantão fosse disponibilizado na mesa.
As construções individuais da central nuclear estavam visíveis
agora, e ela tinha três marcadores improvisados: um saleiro, um
frasquinho plástico de inalador nasal e o relógio de pulso gravado do
almirante, equilibrados sobre as imagens de três estruturas
diversas.
Enquanto Natasha manobrava o mapa e mensurava os
marcadores, todos na sala cercaram a mesa, encarando uma
superfície agora semelhante a um imenso jogo de tabuleiro.
– Vejam as construções individuais da central nuclear – disse ela,
apontando. – De acordo com a maneira com que os mísseis estão
voltados, Danvers calcula que eles atingirão aqui, aqui e aqui. – Ela
moveu o relógio e o saleiro; o spray nasal já estava no lugar certo.
– E? – Ava perguntou, apoiada nos cotovelos e apoiando o queixo
com as mãos. A última vez que havia dormido, percebeu, tinha sido
durante o período inconsciente no Triskelion. Nesse ritmo, chegarei
ao nível 100% zumbi antes que o último míssil atinja seu alvo.
– Não estou enxergando – afirmou o almirante Sanchez. – Isso é
um reator morto. Não tem nada ali, é como uma cidade fantasma.
Pelo menos é o que me disseram no .
– Então por que se dar ao trabalho de atingir isso? Cadê a
mensagem? – Tony cruzou os braços, ainda sem despregar os
olhos pelo mapa.
– Talvez signifique algo. Quero dizer, não parece ser coincidência,
certo? – Ava perguntou. – Talvez seja uma daquelas coisas
matemáticas…
Tony a fitou com aborrecimento.
– Coisas matemáticas? Dá para ser mais específica?
– Ah, para com isso. – Ava abaixou a cabeça. Estava exausta. –
Sabe do que estou falando, quando os números chegam a um
equilíbrio, a uma proporção eterna, a um raio-π-ao quadrado ou
algo assim… e simplesmente não conseguimos enxergar.
– De novo, sabemos que se trata da Sala Vermelha querendo
confundir a nossa cabeça. Sabemos a quem culpar, e sabemos o
que estão fazendo. Por que simplesmente não vamos até Moscou,
encontramos esses filhos da mãe e colocamos um fim nisso? – Tony
estava ficando furioso.
– Acalme-se – Natasha pediu, cansada. – Não sabemos o
bastante para afirmar isso.
Tony franziu o cenho.
– É mesmo? Eu, por minha conta, estou farto de me sentir assim.
Para variar, eu só gostaria que algo me fosse soletrado com todas
as letras.
– Com todas as letras mesmo? – Ava disse de repente. O queixo
continuava apoiado nas mãos, mas os olhos se moviam com
rapidez de um lugar a outro no mapa.
Sentou-se ereta.
– Porque, se não estou enganada, isto aí não é um mero padrão.
É uma letra, estão vendo? – Ava moveu o saleiro para um lado do
edifício alvo, e o spray nasal para um ponto paralelo do prédio alvo
ao lado dele.
– Na verdade, não – Tony respondeu.
Por fim, Ava empurrou o relógio para o fim de uma longa
passagem que se conectava a eles, duas colunas mais abaixo –
outro dos três alvos.
– Acho que está literalmente soletrando alguma coisa para você.
Pode ser que eu esteja apenas delirando, mas acho que é a letra Y.
Isso significa alguma coisa para alguém?
Ela olhou para Natasha.
– Anjo Vermelho. Anjo de Ferro. Fantasma de Ferro. A letra Y.
Cada uma dessas coisas tem algo a ver com o Rodina – Ava
continuou. – E com a Sala Vermelha.
Natasha não se manifestou.
Ava prosseguiu:
– Os hackers russos. A Garota do Vestido Verde. A fonte russa. O
iate russo. O que isso significa para vocês?
– Ou quem significa – Tony complementou.
Natasha encarou a mesa por um longo momento. Quando elevou
o olhar, não foi entendimento que Ava encontrou na expressão dela.
Não foi clareza nem uma resposta em particular. Seus olhos
estavam estreitados, e o maxilar, rijo. Era alguma outra coisa.
Era raiva, frieza e determinação.
– Tenho que ir – Natasha avisou, empurrando a porta vaivém que
dava da ponte de comando para um corredor estreito no deque
superior.
– Mas… – Ava começou.
Tony meneou a cabeça.
– Nem adianta.
Ela franziu o cenho.
– Acha que vamos para Cantão?
Ele sorriu com seriedade e deu um tapinha no ombro de Ava.
– Não acho que nós vamos a parte alguma, camarada.
Ela não entendeu o que Tony quis dizer até ficar claro que
Natasha não voltaria para a ponte de comando. Um fato evidenciado
quando um único helicóptero Sikorsky alçou voo do deque sem
autorização e com um piloto cuja identidade era sigilosa.
Tony deu de ombros.
– Eles têm sorte de ela não ter levado um dos -35. – Olhou para
Ava. – Às vezes eu me esqueço que tremenda pilota ela é.
– Eu não – Ava respondeu. Bateu na têmpora com um dedo. –
Está tudo aqui, se eu me esforçar o bastante.
– Vamos cair fora daqui. – Tony estendeu o braço e o passou ao
redor de Ava, deixando que ela se apoiasse nele durante o retorno
para o avião. – Vamos dar um jeito nisso, menina. Não se preocupe.
Mas estou preocupada.
O que está fazendo, Natashkaya?
Ava fechou os olhos e permitiu que sua mente se soltasse,
sentindo-a no ar, na direção do horizonte e da pessoa que vira se
afastar por último por ali, mas Natasha não respondeu.
Era quase como se ela mantivesse Ava distante de propósito.
Será que isso é possível?
O deque mergulhava no silêncio.
Ninguém do Kirby dispensara um segundo pensamento para
o helicóptero desaparecido; estavam todos ocupados demais
assistindo à transmissão ao vivo de Cantão, onde a câmera de um
drone registrava as primeiras imagens dos três enormes golpes
recebidos simultaneamente pelo reator – que agora queimava, como
um erudito observou, “no formato de um único ameaçador kanji de
violência, não muito diferente da letra romana Y”.
– Nunca me senti ameaçado por um kanji antes – Tony falou ao
adentrar a cabine de piloto do Stark Jet. – Nem pelo alfabeto. Mas
talvez seja por isso que N-Ro tenha nos abandonado.
– Pode ser. Uau. – Ava prendeu o cinto do copiloto, à direita dele.
– Ela se foi mesmo. Eu não previ isso.
Tony olhou de relance para ela.
– Esta é a sua primeira vez no banco das crianças crescidas?
Ava assentiu.
– Tenho quase certeza de que você está infringindo umas mil leis
federais ao me deixar sentar aqui.
– Você deveria tirar uma foto. Pode ser que demore um bom
tempo até que se sente aí de novo. – Tony ligou uma fileira de
interruptores sem identificação, e Ava sabia que ele estava
preparando o avião para decolagem.
– Boa ideia – ela concordou, abrindo o aplicativo da câmera.
– Melhor selfie de todas. – Tony sorriu. – Como seria possível
superar isso, com uma caminhada na Lua? – Ele refletiu. – Apesar
que acabei de tirar uma foto incrível no Colisor de Hádrons, na
. Onde, a propósito, estão conduzindo muita pesquisa neste
instante. Algo que você e a N-Ro talvez queiram pensar a respeito,
caso ela chegue a aterrissar.
– Tirei uma selfie incrível minha no Rio com um mico que entrou
de última hora – Ava contou, sem prestar atenção. – Espera só, vou
te mostrar.
Ela procurou a foto no celular.
– Você acha que um mico vai ser fofo e tal, mas quando você se
vê de frente com um…
A voz dela se interrompeu.
– Ficou ruim assim, é? – Tony verificou o rádio, depois, notando a
expressão dela, parou. – O que foi?
– São as minhas fotos do Rio. – Ava encarou o celular, imóvel. –
Por que nunca parei para olhar para elas?
Ele deu de ombros.
– Ah, sei lá, talvez porque estava ocupada tentando rastrear um
hacker e uns terroristas/traficantes/contrabandistas de armas e
drogas numa floresta, enquanto brigava com traficantes no metrô do
Brooklyn e perseguia um punhado de mísseis nucleares roubados?
– Deu de ombros de novo. – Só um palpite.
Ava encarava uma foto específica, depois arrastou os dedos pela
tela a fim de ampliar o zoom, deixando-a o maior que podia.
– Tony… – Mas, a não ser por isso, ela parecia incapaz de emitir
qualquer outra palavra.
Era a foto.
Já passara por ela antes, mas só olhara os dois rostos focados
nela – o seu e o do macaco.
Mas havia três rostos na foto, e ela conseguia perceber isso
agora.
No canto inferior direito, havia um terceiro perfil embaçado,
escondido pelas sombras que agora ela começava a melhorar com
um filtro.
– Acho que o mico não foi o único que entrou de última hora na
foto – Ava inferiu, ainda chocada. Entregou o celular para Tony.
Lá estava ela.
A Garota do Vestido Verde – capturada acidentalmente enquanto
fugia do monumento – minutos antes do ataque à Harley. O rosto
estava borrado, mas não era nada que os protocolos de
reconhecimento facial da . . . . . . não resolvessem, ela imaginou.
– É ela? – Tony estava incrédulo.
Ava assentiu.
– Logo depois que passou empurrando. Eu não sabia que tinha
esta foto dela.
– Sabe o que isto significa? – Ele examinou a foto com um sorriso
crescente.
Ava assentiu.
– Agora podemos procurá-la no banco de dados. Conseguiremos
um nome, talvez até um GPS para ela.
– Aleluia – disse Tony. – Finalmente uma saída para aquele
maldito rastreador . Temos que levar isso de volta até a
. .. . . .
Ele devolveu o celular, e Ava de pronto digitou o número de
Natasha. A ligação caiu direto na caixa postal.
Tony colocou os óculos de aviador.
– São em momentos como este, minha jovem amiga, que 92% da
velocidade do som não bastam.
Mas, conforme o Stark Jet rasgava o céu, Ava não conseguiu
deixar de ponderar a respeito de para qual direção estavam se
apressando.
***
***
***
***
***
***
***
– Isto não faz sentido algum. Está aqui. O sinal. – Tony franziu o
cenho. Ele e Ava estavam sentados no trailer de Stark, do lado
oposto do Rockefeller Center, a peça central do desfile daquela
tarde; na verdade, a peça central das festas de fim de ano para a
cidade de Nova York.
Multidões se aproximavam pelas calçadas dos dois lados da rua
desde o período da manhã. O trailer de Tony era o único lugar em
que podiam se afastar da multidão por tempo suficiente para
conseguirem ouvir o que o outro dizia.
– Onde?
– Não aqui. Está no início do desfile. Onde todos os balões ficam
reunidos. Alguns estão nas ruas no início da rota, outros estão num
armazém um pouco mais distante.
– Por que Dante e Sana estariam ali?
– Por diversão? Um interesse em gás hélio? Aerodinâmica?
Aerossol?
Ava ergueu o olhar, agarrando o braço de Tony.
– O seu laboratório de ideias do Mentes Símiles trabalhou em
algo relacionado a este desfile?
– Não de fato. Nada importante. Talvez o sistema de entrega do
aerossol. Ellie se prontificou a encabeçar a equipe que pegou o
projeto do meu PropX e usou o mesmo sistema de gatilho para inflar
os balões em, digamos, um décimo do tempo…
– Helen Samuels trabalhou num projeto de incorporação de um
aparelho explosivo nos balões do desfile?
– Bem, parece ruim quando você expõe desse jeito, mas…
basicamente foi isso mesmo.
Ava se sentou na beirada do sofá de suede.
– Tony. Balões?
Ele entendeu no mesmo segundo dela.
– Balões.
– Tony. A droga. Fé.
Ele pareceu sério.
– Helen Samuels não estava trabalhando no desfile. Mas no
sistema de dispersão de uma arma química capaz de destruir
Manhattan.
Ava disparou para a porta e para a multidão antes que ele
conseguisse dizer qualquer outra coisa.
Tony estava logo atrás dela.
CAPÍTULO 30: DANTE
DESFILE STARK DE FESTIVIDADES DOS HERÓIS,
ARMAZÉM DO DESFILE GRANDE CIDADE DE NOVA
YORK
– O que você fez à Sana? – Ava estava de costas para Dante, mas
ele não precisava ver o rosto dela. Ouvia o sentimento na voz dela.
Raiva.
E logo viu a resposta nos olhos de Helen Samuels.
Medo.
Isso passou pelo olhar dela apenas por um segundo, mas Dante o
reconheceu de pronto. E bastou para chegar a uma conclusão:
aquilo não terminaria bem.
– Você está atrasada – Helen zombou. – A Viúva Escarlate e a
Viúva Negra, atrasadas de novo.
– Não sei, não – Ava disse, mantendo as lâminas luminosas entre
elas. Dante observou quando a energia pareceu estremecer pelo
meio do peito dela até as pontas das lâminas.
Incrível.
– Você e eu ainda estamos aqui, Elena. A festa não pode ser tão
divertida sem nós, pode?
Helen sorriu.
– Odeio estourar o seu balão, amiga, mas este tipo de festa pode.
Na verdade, pode ser até melhor. Ainda mais sem você…
Ela apanhou uma seringa do alto de um dos engradados e
avançou em Ava.
Ava se desviou da agulha, atacando de volta.
A luz azul reluziu, e a lâmina cortou o ar entre elas, emitindo um
som alto. Dante se viu prendendo a respiração.
Vamos lá, Ava…
Ele assistiu a tudo, fascinado. Aquela não era a Ava que ele
conhecia. Era a Ava do metrô, a Viúva Escarlate. Ela era… demais,
ele pensou, enquanto Ava atacava Helen.
Helen deu de ombros, depois foi para cima da outra de novo,
aproximando-se aos tropeços.
A segunda adaga de Ava cortou o ar.
Vuum, vuum…
Helen se esquivou dos golpes, depois se endireitou.
– Isto está virando um tédio. Quer que eu conte uma história, Ava
Anatalya Orlova? Uma antiga história russa? Sobre Yelena Belova e
Natasha Romanova? – Ela pronunciou o sobrenome de Natasha do
modo russo. – As verdadeiras Viúvas?
– Por que não? Eu adoro uma boa história – Ava respondeu.
– Então deixe que eu lhe conte esta: era uma vez… o que quer
que tenha pensado ser a verdade a respeito da sua preciosa Viúva
Negra é uma mentira. Qualquer laço que tenha acreditado ter com
ela é fraco.
– É nessa parte que Baba Yaga entra? – Ava caçoou, movendo a
adaga ao mencionar a infame bruxa russa.
– De certo modo. Deixe que eu conte como esta história sempre
termina. Você, Ava Anatalya Orlova, e não ela, sacrifica tudo: as
pessoas que ama, a sua alma gêmea, a sua melhor amiga, a sua
família? E ela, Natasha Romanova, sai se arrastando para espalhar
seu veneno em algum outro lugar da teia.
Ava moveu ambas as lâminas diante dela dessa vez.
– Sabe de uma coisa? Eu menti.
Helen ergueu uma sobrancelha.
– Não sou alguém que gosta de histórias.
Dito isso, Ava arremessou a adaga curta no rosto de Helen.
Quando Helen se abaixou, Ava a atacou com a adaga longa.
O armazém explodiu numa luz clara ofuscante e, quando ela
diminuiu, Helen Samuels estava deitada de cara no chão, agachada
por trás das mãos erguidas.
Ava ergueu as lâminas eletrizadas mais ainda.
– Onde está o seu exército de Fiéis agora, Elena Somodorova?
Você não é lá uma grande Alfa, é?
Helen abaixou as mãos.
– Vá em frente. Eu desafio você. É o que uma Viúva faria, não?
Uma verdadeira? O que Natasha fez com a minha família?
Ava hesitou enquanto Dante assistia.
O golpe mortal, ele pensou. Ela não merecia isso? Livrar a Terra
de Helen Samuels seria um serviço público, não?
Os olhos de Ava se estreitaram.
Helen caçoou.
– E então?
Dante balançou a cabeça.
– A decisão é sua. Ela é o Alfa, certo?
– Será? – Helen sorriu.
Com isso, Ava abaixou as lâminas e socou Helen no queixo com
o máximo de força possível.
Dante assistiu, aliviado quando Helen despencou no chão. Olhou
para Ava com um ar questionador.
– Já tenho fantasmas demais na minha vida – ela falou.
Dante não disse nada. De todo modo, teve a sensação de que ela
não estava falando com ele.
Ava se apressou para junto da amiga. Um instante depois,
amparava a cabeça dela. Com a eletricidade azul ainda
atravessando o tronco de Ava, o calor do corpo de Sana não parecia
incomodá-la.
Sana não reagiu, a não ser para continuar se debatendo de um
lado a outro, como antes.
Ava se virou para Dante, ao seu lado, com os olhos tristes.
– O que é isso?
– Fé pura – ele respondeu. – Ou algo assim. Bem, foi assim que
Helen chamou isso. Antes de atingir Sana. – Olhou para onde Helen
agora jazia no chão. – Ela está…?
Ava meneou a cabeça.
– Não. Só está desmaiada. Tive que fazer com que parasse de
falar. Temos uma cidade para salvar.
Mas era complicado pensar em qualquer outra coisa que não
Sana, enquanto ela gemia, deitada de lado. Ava a amparou
enquanto a amiga se debatia, tossindo o que parecia ser um sangue
negro.
Dante olhou na direção da rua.
– Os balões estão adulterados. Não sei quando nem como eles
estourarão, só sei que temos que nos livrar deles, soltá-los, impedir
que sejam detonados. Ainda mais se Helen não for a Alfa…
– Quantos são? – Ava perguntou, afastando uma mecha da testa
de Sana. – Quantos são os balões de Fé?
– Nem todos estão armados. São só três – Dante respondeu.
– Deixe-me adivinhar. A Viúva Negra?
– E o Homem de Ferro e a Capitã Marvel – Dante acrescentou. –
Helen Samuels tem uma espécie de humor estranho.
– Não podemos deixar a Sana – Ava disse. – Se você achar que
consegue cuidar dela, eu vou atrás dos balões enquanto você
chama uma ambulância.
– Acha mesmo? – Dante olhou incerto para Ava. – Mesmo que a
. . . . . . permita, a que tipo de hospital acha que podemos levar
alguém que parece…
– Tipo a minha amiga? – Ava perguntou, energicamente.
Isso sim é uma negação e tanto, Dante pensou.
Antes que Dante pudesse responder, um borrão vermelho,
dourado e azul desceu do céu numa onda, parando para flutuar e só
depois aterrissar dentro do armazém.
Carol Danvers parou firmemente plantada no chão, com as mãos
nos quadris.
– Estou aqui, pessoal. Cuido de tudo daqui para a frente. Vocês já
fizeram o bastante.
Ava pareceu aliviada.
– É você mesmo, Capitã Marvel? – Nunca a vira pessoalmente,
com toda a sua parafernália.
Carol sorriu.
– Bem, não sou o Homem de Ferro. Vejam só, pareço alguém que
precisa de um traje esquisito?
– Entendido, garota. Suporte aéreo em cinco – o Homem de Ferro
saudou, aterrissando ao lado da Capitã Marvel. – E vá se ferrar,
Danvers. Trajes mandam ver, ok?
Voltaram-se para Ava e Dante – e para Sana.
– Essa coisa é a Sana? – A máscara do Homem de Ferro
deslizou para cima, revelando Tony. – Puxa. É melhor nos
apressarmos com aqueles balões.
– Pare – Ava disse. – Essa coisa ainda é a minha melhor amiga.
E ela vai ficar bem. Ela não é o problema.
Mas Dante sabia que Tony tinha razão. Não havia nada naquela
criatura que o fazia se lembrar da antiga amiga deles – ou bem
pouco. Pouco importava o quanto Ava se recusava a admitir isso.
A Fé tomara conta de toda a forma humana de Sana,
aparentemente. E o resultado não se parecia com nada que Dante
já tivesse visto antes, embora ainda parecesse estranhamente
familiar.
Fé. Essa coisa é Fé pura.
A droga que estivemos perseguindo está bem aqui, e está viva.
Eu a sinto, de algum modo.
E está ferindo Sana.
Colunas de fumaça em espiral exalavam das narinas, descendo
pelas roupas rasgadas. Os dedos se alongaram e se curvaram em
algo mais semelhante a garras enormes.
A pele brilhava com cristais cinzentos, ondulando ao longo do
corpo, reluzindo como o composto misterioso. Enquanto Dante
observava, os cristais se moviam em impulsos de Fé, que se
formavam e reformavam, endurecendo em determinados pontos
para de repente ceder lugar a outros.
Sana – a coisa que Sana se tornara – era enorme e firme. Pela
aparência, parecia ter três metros de altura, muito mais alta do que
uma pessoa normal. O rosto, se é que se podia chamar aquilo
assim, agora só refletia o básico das feições humanas: dois olhos,
uma boca e uma espécie de nariz.
Então a Não-Sana abriu a boca e berrou.
– Temos que tirá-la daqui – Ava disse.
– E levá-la para onde? – Dante perguntou.
A Capitã Marvel balançou a cabeça.
– Não podemos deixar civis perto dela, não agora. O que quer
que esteja acontecendo, a sua amiga não tem autocontrole.
Em seguida, Não-Sana se lançou contra a parede de aço
corrugado, berrando. Estranhamente, Dante sentiu que tinha que
lutar contra o desejo de berrar de volta. O que é isso?
Carol, Tony e Ava assistiam, quase sem acreditar.
– Vamos levá-la de volta para o Triskelion. Avisarei Coulson pelo
rádio para que deixe uma unidade a postos – Tony disse por fim.
– Ele tem um lugar onde contê-la? – Ava franziu o cenho.
– Ah, tem. – Tony assentiu. – Acredite em mim, esta não é a
primeira vez de Phil com uma situação do tipo “será que isso
cabe?”.
A Capitã Marvel olhou para Ava.
– Vocês podem manter Sana aqui enquanto nos livramos da
ameaça da Fé? Depois disso a levaremos para casa.
Não-Sana se lançou contra as vigas de aço de sustentação da
estrutura repetidas vezes, até parecer que o armazém inteiro
despencaria. Dante sentiu a cabeça começar a latejar.
Ava assentiu.
– Não acredito que ela irá nos machucar. Não acredito que ela
machucaria ninguém. Não se ela puder se conter.
– Não é isso que me preocupa – Dante disse. – É a confusão.
Quero dizer, balas serão disparadas, e pessoas inocentes acabarão
se machucando.
– Falando como o verdadeiro filho de um policial – Ava disse, mas
hesitou. – Ele tem razão. Tomaremos cuidado.
A Capitã Marvel cerrou um punho.
O Homem de Ferro cerrou um punho robô.
E, simples assim, os heróis se foram.
CAPÍTULO 34: CAROL
ROTA DO DESFILE NA 6ª AVENIDA GRANDE CIDADE DE
NOVA YORK
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INDESCON: NATALYSKA.
INDESCON: POR FAVOR, NATALYSKA.
N_ ROMANOFF: NYET.
N_ROMANOFF: VOCÊ É UMA INIMIGA DO ESTADO,
YELENA.
N_ROMANOFF: VOCÊ TAMBÉM É UMA INIMIGA MINHA.