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Artigo original

Avaliação da diatermia por ondas curtas


contínuo na temperatura superficial do
músculo quadríceps
Evaluation of quadriceps superficial temperature by cutaneous
thermometry after continuous shortwave diathermy

Roberto Trápaga Abib1 Milton Zaro2


Felipe Osório Marques1 Emerson André Casali1
Alexandre Severo do Pinho 2

RESUMO
O objetivo principal deste trabalho foi avaliar o comportamento da temperatura superficial do quadríceps após
diatermia por ondas curtas contínuo através de termometria cutânea além de correlacioná-lo com variáveis an-
tropométricas. A amostra foi composta por 19 indivíduos do sexo masculino que foram avaliados quanto à por-
centagem de gordura, peso de gordura, peso de massa magra, porcentagem hídrica intramuscular, total hídrico
corpóreo, IMC e frequência cardíaca. Após vinte minutos de repouso, os indivíduos tiveram primeira mensuração
da temperatura (tempo 0´) por termometria. Após, a intervenção de diatermia por ondas curtas contínuo na re- 69
gião anterior da coxa direita, durante vinte minutos, foi mensurada a temperatura máxima da região anterior da
coxa direita e esquerda pós-ondas curtas imediato (tempo 20´), pós-ondas curtas 10´ (tempo 30´) e 20´ (tempo
40´) minutos. O comportamento da temperatura na coxa direita foi ascendente até o tempo 20´ quando atingiu
38,29°C e descendente até o tempo 30´ quando estabilizou-se de forma inalterada até o tempo 40’. Já o com-
portamento médio da temperatura da coxa esquerda manteve-se praticamente constante ao longo do tempo
alcançando seu pico de temperatura no tempo 20´. As medidas antropométricas e fisiológicas não tiveram in-
fluência no comportamento da temperatura da coxa direita. Concluímos, que a temperatura teve um comporta-
mento igual ao longo do tempo nesta amostra. Todavia, não houve diferença significativa entre a temperatura
no tempo 20´ e as variáveis antropométricas e fisiológicas.

PALAVRAS-CHAVES
Diatermia por ondas curtas - Temperatura superficial - Termometria cutânea.

ABSTRACT
The major objective was analyzes the behavior of quadriceps superficial temperature after continuous short-
wave diathermy through cutaneous thermometry along the time and to correlate with antropometric and phy-
siological. The samples was 19 male who had been evaluated about fat percentage, lean mass, deep muscle
water percentage, total body water, IMC and heart frequency. After twenty minutes of rest, the subjects had

1
Laboratório de Bioquímica, Centro de Pesquisa e Pós-Graduação, Centro Universitário Metodista, do IPA, Rua Cel. Joaquim
Pedro Salgado 80, Porto Alegre, RS, Brasil.
2
Instituto Brasileiro de Tecnologia do Couro e Calçados (IBTEC), Rua Araxá 750, Novo Hamburgo, RS, Brasil.

Ciência em Movimento | Ano XII | Nº 23 | 2010/1


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the first temperature measurement (time 0). After received continuous shortwave diathermy in the anterior area
of the right thigh for twenty minutes, the maximum anterior area temperature of the right and left thigh was
collected immediate after intervention (time 20´), 10´ (time 30´) and 20´ (time 40´) minutes after short-wave. The
behavior of right thigh temperature showed ascending until the time 20´ when reached 38, 29°C after that fall
until the time 20´ remaining constant until the time 40´. The average behavior of left thigh temperature was re-
mained constant a long the time, reaching the temperature peak in the time 30´. The antropometric and physio-
logical measures not had influence in the temperature behavior of the right thigh. It leads us to a conclusion that
the temperature had an equal measure along the time. However, there wasn’t significant difference between
the temperature in time 20´ and antropometric and physiological variable.

KEYWORDS
Shortwave diathermy - Superficial temperature - Cutaneous thermometry.

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INTRODUÇÃO primeira por meio da introdução de sondas com senso-


A diatermia por ondas curtas (DOC) é uma moda- res térmicos dentro do tecido (KITCHEN; BAZIN, 2003),
lidade terapêutica que utiliza bandas de radiofrequên- porém, esse procedimento é muito difícil e invasivo, e
cia de 27,12 MHz com comprimento de onda corres- por este motivo é pouco utilizado. A outra de mensurar
pondente de 11,6m (SHIEDLS et al., 2002; HILL et al., a temperatura tecidual é através da termometria cutâ-
2002; KITCHEN; PARTRIGE, 1992) que apesar de co- nea. Esta é uma técnica de inspeção não destrutiva que
mumente empregada entre fisioterapeutas, ainda se baseia na detecção da radiação térmica, isto é, o
restam muitas questões relativas à sua aplicabilidade calor (SANTOS, 2006, VIERA et al., 2001).
(POPE, 1999; KITCHEN; BAZIN, 2003). Este recurso Sendo assim, o presente estudo teve como objetivo
terapêutico trabalha sobre o princípio de que a energia geral observar o comportamento da temperatura super-
é transferida dentro das camadas de tecidos profun- ficial do quadríceps após diatermia por ondas curtas con-
dos por uma corrente de alta frequência, gerando ca- tínuo, através de termometria cutânea em universitários
lor tecidual. Ocorre, portanto, uma agitação das mo- sadios sedentários e não sedentários. E como objetivos
léculas em resposta a um campo elétrico, converten- específicos, correlacionar variáveis antropométricas e
do a energia cinética em calor (KITCHEN; BAZIN, fisiológicas com as variações da temperatura superficial
2003, LONGO; FIURINI, 2000). do quadríceps ao longo de uma linha de tempo.
Sugere-se que tecidos com maior conteúdo dielé-
trico tenham maior capacidade de absorver a energia MATERIAL E MÉTODOS
de um campo elétrico (KITCHEN; BAZIN, 2003). Den-
tre as técnicas de aplicação da DOC, o modo indutivo DELINEAMENTO EXPERIMENTAL
proporciona um aumento de temperatura nos tecidos Este estudo trata-se de um ensaio clínico não con-
profundos predominantemente, já o modo capacitati- trolado (PEREIRA, 1997).
vo ocorre, principalmente, nos tecidos superficiais,
tendo uma proporção de 13 tecidos superficiais aque- POPULAÇÃO AMOSTRAL
71
cidos para um profundo quando utilizado este método O grupo amostral foi constituído de 19 voluntários
(KITCHEN; BAZIN, 2003, LONGO; FIURINI, 2000, do sexo masculino, sem doenças pregressas de or-
PRENTICE, 2002, LOW 1995). dem circulatória e nervosa, e que não tivessem im-
Em alguns estudos, a temperatura tecidual medida plantes metálicos na região estudada (KITCHEN; BA-
variava devido à dose, o método e a região mensurada ZIN, 2003, PRENTICE, 2002, SANVITO, 2000). Os
(KITCHEN; BAZIN, 2003). Oosterveld (1992) e Verrier indivíduos foram escolhidos de forma aleatória por um
(1977) em seus estudos utilizando o método capacita- dos pesquisadores. Todos os indivíduos foram orien-
tivo, observaram um aumento da temperatura da pele tados a respeito do estudo e quanto aos procedimen-
em 2,4ºC e 2,24ºC respectivamente, no entanto as tos, preencheram uma ficha de avaliação e assinaram
doses ministradas foram diferentes nestes estudos, o Termo de Consentimento Livre Esclarecido. O pre-
sendo a primeira apenas calor perceptível e a segunda, sente estudo foi aprovado pelo Instituto Brasileiro de
calor suportável. Outros trabalhos utilizando outros Tecnologia do Couro e Calçados (IBTEC) e pelo Comi-
métodos de aplicação do ondas curtas também ava- tê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário
liaram a quantidade de calor absorvida pelos tecidos Metodista, do IPA (número 146/2006).
(KITCHEN; BAZIN, 2003, DRAPER et al., 1999, MUR-
RAY; KITCHEN, 2000, BRICKNELL; WATSON, 1995). INSTRUMENTAÇÃO
A mensuração da temperatura tecidual é ainda um A diatermia foi induzida pela utilização de um apa-
campo pouco explorado na prática terapêutica, porém relho de ondas curtas capacitativo (Medicir Piroflux
de suma importância já que temperaturas teciduais ele- 300P) com dois eletrodos maleáveis (20cm X 16cm X
vadas podem causar desnaturação protéica e portanto 0,5cm) e dois espaçadores de feltro de 1cm de espes-
lesões teciduais (KITCHEN; BAZIN, 2003, LONGO; FIU- sura. A mensuração da temperatura superficial foi fei-
RINI, 2000). A mensuração pode ser de duas formas: a ta através de uma câmera termossensível Electrophy-

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sics PV320Aâ com precisão 0,08°C. Para a medida da


temperatura ambiente foi utilizado um sensor eletrô-
nico Artelâ e a umidade relativa do ar foi mensurada,
através de um psicrómetro.
Os dados fisiológicos e antropométricos referen-
tes à porcentagem de gordura (%G), peso de gordura
(PG), peso de massa magra (PMM), porcentagem hí-
drica intramuscular (%H2O) e quantidade total de
água no corpo (TH2O) foram aferidos com um medi-
dor de bioimpedância Biodynamics Model 310 Body
Composition Analyzerâ conforme especificações do
fabricante. Para os dados de peso e altura utilizou-se
balança mecânica antropométrica.

PROCEDIMENTOS
Os indivíduos foram convidados por um avaliador e
após concordarem em participar do experimento eram
Figura 2: Posicionamento do indivíduo e da câmera de ter-
avaliados por um dos pesquisadores através de um
mofotometria, disposta a uma distância de 1,5m desde a
questionário para inclusão, e outro de avaliação dos se-
parede, para mensuração da temperatura.
guintes dados: %G, PG, PMM, %H2O, TH2O, índice
de massa corporal (IMC), temperatura corporal, perime- posicionado em decúbito dorsal, com os membros su-
tria da coxa e frequência cardíaca pré e pós-diatermia. periores sobre o tronco e membros inferiores relaxa-
Posterior à avaliação, os indivíduos permaneceram dos, e os eletrodos foram posicionados na região an-
72 sentados em repouso por vinte minutos (CLARK; terior da coxa direita a uma distância de 1cm, entre
CALCINA-GOFF, 1999), vestindo apenas roupa de ba- eletrodo e a pele, e de 3 cm entre os eletrodos. Já
nho sob a orientação de não tocar na região da coxa. posicionado, o indivíduo foi instruído para classificar a
Após o término deste período, o sujeito era conduzido dose em “máxima tolerável”. A quantidade de energia
até um local onde era orientado por um segundo pes- de saída do aparelho foi ajustada de forma que a sen-
quisador sobre a posição dos pés, conforme marcação sação térmica, descrita pelo indivíduo, fosse mantida
no solo, dos braços e a postura do corpo (Figura 1). em “máxima tolerável” durante todo tempo de aplica-
Após o término deste proce- ção. Após vinte minutos, o indivíduo era retirado da
dimento, foi mensurada a tem- maca e conduzido até o local onde fazia a segunda
peratura superficial dos mem- leitura da temperatura, em seguida era conduzido até
bros inferiores, através da câme- uma parte da sala onde permanecia sentado com os
ra termográfica a uma distância braços sobre o tronco aguardando as próximas medi-
de 1,5m a partir da parede (Figu- ções, que foram realizadas após 10 e 20 minutos do
ra 2). Simultaneamente foram término de aplicação da DOC. Durante todos os expe-
acompanhados os dados refe- rimentos a temperatura da sala foi mantida em 25ºC e
rentes à umidade do ar e a tem- a umidade relativa do ar foi de 75%.
peratura da sala para se evitar
uma interferência. Depois de ANÁLISE DOS DADOS
medida a temperatura, o indiví- As imagens foram analisadas por meio do softwa-
duo era conduzido até a maca, re Electrophysics Velocity 2.4â que permite observar
um espectro de cores que indicam a temperatura da
Figura 1: Orientação dos pés e do corpo dos indivíduos pa- superfície analisada em pixels, graus Celsius, graus
ra aferição da temperatura, conforme marcação no solo. Fahrenheit e Watt/m². Para análise da temperatura uti-

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lizou-se uma ferramenta do programa que permite os quais representam respectivamente as temperatu-
selecionar a área desejada em estudo. Desta forma, ras pré-ondas curtas, pós-ondas curtas imediato e pós-
foi optado um formato oval compreendendo a região ondas curtas 10 e 20 minutos, depois do imediato.
anterior da coxa direita e esquerda e uma área retan-
gular na região da virilha (Figura 3). ANÁLISE ESTATÍSTICA
Para a análise das temperaturas superficiais das
coxas esquerda e direita foi feita análise de variância
em blocos casualizados (os indivíduos) tendo como fa-
tores o tempo (0´, 20´, 30´, 40´) e atividade física (exer-
cício e ócio); e como teste complementar para compa-
ração de médias foi utilizado o teste de Tukey. Já para
analisar as correlações entre %G, PG, PMM, %H2O,
LH2O, IMC e temperatura corporal com as temperatu-
ras superficiais da coxa direita e esquerda foi utilizada
a correlação Pearson. O programa estatístico usado
para as análises foi o Minitab versão 14.3â, tendo sido
adotado um nível de significância para um P £ 0,05.

RESULTADOS
Foram avaliados 19 indivíduos do sexo masculino. A mé-
dia de idade ± desvio padrão (DP), peso, altura, FC inicial, FC
final, foram de 22,31±2,49 anos, 70,71±7,65 kg, 175,37±7,25
cm, 73,68±6,76 bpm, 75,05±6,28 bpm, respectivamente.
Figura 3: Imagem da câmera de termofotometria da região A figura 5 demonstra o comportamento da tempe-
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anterior da coxa direita e esquerda ao longo do tempo. (A)
ratura superficial do coxa direita e esquerda ao longo
tempo 0´, (B) tempo 20´, (C) tempo 30´ e (D) tempo 40´. Em
todas as imagens, a área oval delimita a região selecionada
para análise enquanto que a área retangular corresponde à
região isolada para não interferir na análise.

A finalidade de inclusão da área retangular ocorreu


devido às temperaturas elevadas encontradas nesta re-
gião durante a primeira avaliação, provavelmente devido
ao atrito entre a coxa e a virilha, minimizando o erro de
aferição. Sendo assim, coletou-se a temperatura máxi-
ma da região anterior da coxa direita e esquerda no
tempo 0´, tempo 20´, tempo 30´ e tempo 40´ (Figura 4),

Figura 5: Comportamento da temperatura da coxa direita e


esquerda antes e após aplicação de DOC na coxa direita.
O gráfico demonstra a variação da temperatura obtida por
termofotometria conforme descrito anteriormente.
Figura 4: Protocolo do experimento: a temperatura máxima Os resultados são apresentados como média da temperatura
de ambas as coxas foi mensurada no tempo 0´ (representando ± desvio padrão médio e os mesmos foram considerados
a temperatura pré-intervenção por DOC), no tempo 20´ (pós- estatisticamente diferentes com um P<0,05.
intervenção imediato por DOC), no tempo 30´ (pós dez *indica diferença estatística em relação ao tempo 0´;
minutos da intervenção por DOC) e no tempo 30´ (pós vinte # indica diferença estatística em relação ao tempo 20´ (após
minutos da intervenção por DOC). a aplicação do DOC).

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dos tempos 0´ (pré-ondas), tempo 20´ (pós-ondas), Tabela 2. Média e desvio padrão, valores mínimo
tempo 30´ (10 minutos pós-ondas) e tempo 40´ (20 de máximo das características antropométricas
minutos pós-ondas). A média da temperatura da coxa e fisiológicas de 19 indivíduos.
direita apresentou comportamento ascendente até o Média Desvio Mínimo Máximo
tempo 20´, onde atingiu seu pico de temperatura mé- padrão
dia de 38,29±0,67°C, após apresentou queda abrupta % gordura 11,24 4,77 3,00 17,00
até o tempo 30´, mantendo-se praticamente constante Peso de gordura 7,98 3,70 1,90 14,20
até o tempo 40´. O comportamento da temperatura da PMM 63,23 7,41 52,00 79,50
coxa esquerda foi similar ao da direita, mas sem dife- % H2O intramuscular 70,55 4,38 67,10 82,90
renças estatisticamente detectáveis, atingindo seu Total de H2O litros 44,21 6,98 35,30 60,60
pico de temperatura de 36,88±0,63°C no tempo 20’. IMC 23,08 2,79 17,60 27,74
A temperatura pré-ondas curtas das coxas direita Temperatura Corporal 36,06 0,55 34,10 36,50
e esquerda foi de 35,9ºC, não havendo diferença sig-
nificativa entre as duas coxas. Na Tabela 1 são apre- cada medida com a temperatura no tempo 20´, mos-
sentadas as médias (±DP) da temperatura superficial trando que nenhuma destas medidas teve influência
de ambas as coxas ao longo do tempo. Na coxa direi- no comportamento da temperatura da coxa direita.
ta, imediatamente após a aplicação das ondas curtas, A Tabela 3 mostra as médias e desvios padrões da
houve um aumento significativo de 2,41ºC, havendo temperatura do quadríceps direito para os grupos de
uma diminuição de 1,30ºC no tempo 10´, mantendo-se sedentários e os que praticavam atividade física, se-
estável aos 20 minutos. Já a temperatura da coxa es- gundo o tempo de avaliação. Não foi observado efeito
querda foi constante em todos os tempos avaliados. do exercício sobre o comportamento da temperatura.

Tabela 1. Média e desvio padrão das temperaturas, Tabela 3. Média e desvio padrão da
74 em graus, no tempo 0´, tempo 20´, tempo 30´ e temperatura superficial da coxa direita no
tempo 40´ da coxa esquerda e direita. grupo ócio e exercício, em graus, no tempo 0´,
Coxa Direita Coxa Esquerda tempo 20´, tempo 30´ e tempo 40´.
Desvio Desvio Exercício Ócio
Tempo Média Média
Padrão Padrão Tempo Média DP Média DP
0´ 35,90c 0,73 36,03 0,74 0 36,05 0,24 35,74 1,03
20´ 38,31a 0,67 36,05 0,57 20 38,09 0,61 38,56 0,69
30´ 36,98b 0,51 35,88 0,63 30 36,85 0,52 37,11 0,49
40´ 36,80b 0,60 35,81 0,37 40 36,67 0,66 36,93 0,54
Total 37,00 1,07 35,94 0,66 Total 36,92 0,91 37,09 1,22
As letras minúsculas desiguais na mesma coluna indicam
diferenças estatísticas para um P<0,05. DISCUSSÃO
Kakuta et al., (2002) observaram o comportamento
A média de temperatura nos tempos 20´, 30´ e 40´ da temperatura corporal em dois momentos. No pri-
apresentaram diferenças significativas quando com- meiro aclimataram o laboratório em 30ºC durante 60
paradas com a média de temperatura no tempo 0´. Há minutos e no segundo momento baixaram para 24ºC
diferença entre todos os tempos, excetuando entre durante 60 minutos, em ambos os períodos a umidade
os tempos 30´ e 40´, onde as médias de temperatura relativa do ar ficou em 50% e a velocidade do ar foi
não diferiram significativamente. mantida em 0,1m/s. Os resultados obtidos demons-
A Tabela 2 apresenta as médias, desvios padrões, traram que a 30ºC, a temperatura superficial da coxa
valores mínimo e máximo de cada característica an- variou entre 34,8ºC e 37ºC ao passo que com 24ºC ela
tropométrica e fisiológica da amostra. Não houve di- variou entre 32,4ºC e 36,9ºC, o que corrobora com os
ferença significativa quando comparamos a média de dados de nossa pesquisa no período pré-diatermia.

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Após, 20 minutos de ondas curtas observamos um to mais próximo mais superficial será o aquecimento
aumento médio das temperaturas de 2,41ºC e 0,27ºC, e quanto mais distante mais profundo. Além disso, o
respectivamente na coxa direita e esquerda. Valores se- espaçamento mais próximo de um eletrodo leva à con-
melhantes foram descritos por Oosterveld (1992) e Verrier centração do campo naquele lado. Todavia esta possi-
(1977) com médias de 2,40ºC e 2,24ºC, respectivamente. bilidade carece de mais estudos para ser elucidada.
Contudo, nestes estudos, as doses ministradas diferiram Quando comparamos os dados antropométricos e
daquelas utilizadas por nós. Em nosso estudo, utilizamos fisiológicos com o pós-DOC direito não encontramos
uma dose de aquecimento vigoroso, tolerável e abaixo do nenhuma relação significativa a ponto de corroborar
limiar de dor durante vinte minutos e com uma sintonia com o que postulam outros autores nos quais dizem
constante de 150 miliamperes (PRENTICE, 2002). que a diatermia aquece seletivamente os tecidos com
Este parece ser um grande problema apresentado alto teor de água, pois quanto maior o conteúdo dielé-
nas pesquisas, pois se percebe que não são precisa- trico maior a capacidade de absorver a energia de um
mente controladas, e a quantidade de aquecimento campo elétrico (KITCHEN; BAZIN, 2003, PRENTICE,
que o indivíduo recebe não pode ser prescrita com 2002, LEHMANN, 1990). 15% de nossa amostra apre-
precisão ou diretamente medida (PRENTICE, 2002). sentava níveis de hidratação intramuscular acima do
Principalmente, porque é a sensação térmica do pa- normal e 26% abaixo. Apesar destas diferenças, o com-
ciente que fornece a base para a dosagem da DOC, portamento da temperatura superficial da coxa direita
variando consideravelmente, em diferentes indivídu- nestes indivíduos foi igual ao restante da amostra.
os (KITCHEN; BAZIN, 2003, PRENTICE, 2002). Também não conseguimos relacionar o IMC, o
Um dado interessante percebido, em nosso estu- PMM, o PG e a %G corporal com esta variável. Acre-
do, foi o aumento da temperatura na coxa esquerda no ditamos que a homogeneidade da amostra tenha in-
pós-DOC. Este dado observado visualmente através terferido nesses achados. Nossa hipótese era que
da câmara termográfica não foi estatisticamente sig- quanto maior a % G e IMC menor seria a queda da
nificativo (Figura 3B versus 3D). É possível levantar a temperatura nos tempos 30 e 40. Segundo Low (2001),
75
hipótese de que realmente o Ondas Curtas produz um o tecido adiposo se aquece mais que o tecido muscu-
calor sistêmico como afirma a literatura (KITCHEN; BA- lar, além de agir como um isolante térmico. Mas, como
ZIN, 2003, PRENTICE, 2002, LOW; REED, 2001) afinal a queda da temperatura foi semelhante em todos in-
não haveria motivos para elevar a temperatura em re- divíduos não pudemos confirmar nossa hipótese.
lação ao basal, uma vez que este segmento ficou 40 A umidade relativa do ar representa um fator im-
minutos em repouso. A quantidade de energia ofere- portante que determina a eficácia da perda de calor por
cida ao membro aquecido pode ter aumentado o fluxo evaporação. A literatura sugere três fatores que in-
sanguíneo em resposta à exposição da diatermia. fluenciam a perda de calor numa umidade elevada: a
Shields et al. (2001) afirmam que em resposta aos efei- primeira é a superfície exposta ao meio ambiente, a
tos térmicos da DOC ocorre um aumento no fluxo san- segunda a temperatura e umidade relativa do ar am-
guíneo. Karasuno et al. (2005) observaram acréscimo biente e a terceira são as correntes aéreas de convec-
significativo do fluxo sanguíneo intramuscular com a ção ao redor do corpo (BRICKNELL; WATSON, 1995,
intervenção de DOC por vinte minutos. Huang e Toga- HUANG; TOGAWA, 1995, LEHMANN, 1990). A falta de
wa (1995) encontraram que a temperatura superficial controle das correntes de ar e a umidade relativa do ar
aumenta linearmente com o fluxo sanguíneo. em torno de 75% parecem ter exercido um papel ex-
Uma possibilidade para o aumento observado na trínseco na queda da temperatura da coxa direita (mé-
coxa esquerda não ter sido significativo consiste no dia de 1,33ºC) após 10 minutos do término da diatermia
fato dos eletrodos estarem posicionados de forma co- (Tempo 30´). No entanto, após esse declínio abrupto
planar e distantes 3cm um do outro, no membro con- não observamos diferença estatística entre os tempos
tralateral. Prentice (2002) e Low (2001), dizem que 30´ e 40´ conseguintes ao período pós-DOC da coxa
eletrodos acolchoados deveriam ser separados por direita, pois tiveram uma queda de 0,18ºC. Talvez isso
pelo menos a medida de seu diâmetro, ou seja, quan- se explique devido aos ajustes fisiológicos apropriados

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para conservação do calor. Os receptores térmicos tensidade da elevação. A coxa que recebeu a inter-
cutâneos agem como um sistema de alerta inicial des- venção apresentou uma diatermia estatisticamente
tinado a retransmitir a informação sensorial ao hipo- significativa enquanto a coxa que não recebeu a inter-
tálamo e ao córtex. Este influxo direto desencadeia venção, apesar de apresentar o mesmo padrão de
respostas para manutenção do equilíbrio térmico. elevação e queda da temperatura, não demonstrou
Por fim, estratificamos nossa amostra em indivíduos alterações significativas. Além disso, não encontra-
que praticavam atividade física mais de duas vezes por mos relação entre os dados antropométricos e fisio-
semana e sujeitos sedentários, pois acreditávamos que lógicos com as temperaturas obtidas.
pudesse haver relação com o comportamento da tem-
peratura. Após analisar os resultados observamos não AGRADECIMENTOS
haver nenhuma diferença estatística entre sedentários Agradecemos ao Grêmio Football Portoalegrense
e não sedentários em todos os tempos estudados. pelo empréstimo dos equipamentos de Ondas Curtas e
Medidor de Bioimpedância. Da mesma forma, agrade-
CONCLUSÃO cemos a disposição em contribuir com este trabalho com
Após a análise e interpretação dos dados conclu- a Câmera Termofotográfica e com sugestões imprescin-
ímos que a temperatura superficial do quadríceps das díveis para o sucesso do trabalho por parte do Instituto
coxas esquerdas e direita diferiram em relação à in- Brasileiro de Tecnologia do Couro e Calçados (IBTEC).

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Ciência em Movimento | Ano XII | Nº 23 | 2010/1

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