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INTERESSE E A EDUCAÇÃO: CONCEITO DE JUNÇÃO ENTRE A


PSICOLOGIA E A PEDAGOGIA
doi: 10.4025/imagenseduc.v1i2.13302

Odair Sass*
Flavia Roberta Torezin Liba**

* Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. odairsass@terra.com.br. Pesquisador CNPq.


** Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. flavia.liba@yahoo.com.br. Bolsista CNPq.

RESUMO: Este artigo tem como objetivo discutir as principais noções de


interesse difundidas no Brasil, especialmente aquelas desenvolvidas por autores de
referência na educação. Discutir sobre tal conceito é relevante não só para
recuperá-lo historicamente, mas para repor a hipótese de que o interesse nem é um
atributo natural do aluno, nem deveria seu oposto, o desinteresse, servir como
explicação definitiva, a que muitas vezes lança-se mão, na educação atual, para
justificar o fracasso escolar ou da escola. Para atingir o objetivo de evidenciar as
principais noções do interesse difundidas no Brasil, buscou-se obras de autores que
escreveram sobre tal conceito, teorizando ou defendendo sua relevância para a
educação. Com esse procedimento, foram identificadas, como as mais referidas,
concepções e teorias atribuídas aos seguintes autores: Johan Friedrich Herbart,
John Dewey, Edoaurd Claparède, Edward Lee Thorndike e Albert Gates, Ovide
Decroly. O conceito de interesse, de acordo com as perspectivas apresentadas, é
visto como um elemento da relação do sujeito com o objeto, ao mesmo tempo em
que é interpretada de diferentes formas. A finalidade principal deste artigo é insistir
quanto à relevância de se recuperar o conceito de interesse para os estudos
educacionais, pela diversidade suscitada no campo pedagógico.
Palavras-chave: Interesse, Pedagogia, Psicologia, Educação.

ABSTRACT. THE INTEREST AND EDUCATION: A CONCEPT OF


JUNCTION BETWEEN PSYCHOLOGY AND PEDAGOGY. This article
aims to discuss the key notions of interest in Brazil, especially those developed by
authors in education. Discuss this concept is relevant not only to retrieve it
historically, but to restore the hypothesis that the interest is not a natural attribute
of the student, nor should its opposite, the lack of interest, serve as a final
explanation, which often launches to hand in education today, to justify school
failure. To achieve the goal of highlighting the main concepts of the interest spread
in Brazil, sought to works of authors who wrote about this concept, theorizing or
defending its relevance to education. With this procedure, were identified as the
frequently mentioned concepts and theories attributed to the following authors:
Johan Friedrich Herbart, John Dewey, Edoaurd Claparède, Edward Lee Thorndike
and Albert Gates, Ovide Decroly. The concept of interest, according to the
perspectives presented, is seen as an element of the relationship between subject
and object, while it is interpreted in different ways. The purpose of this paper is to
insist on the relevance to recover the concept of interest to educational studies,
because of the diversity it brings in the educational field.
Keywords: Interest. Pedagogy. Psychology. Education.

Introdução Este artigo tem como objetivo discutir as


principais noções de interesse difundidas no

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Brasil, especialmente aquelas desenvolvidas educadores e os professores em suas práticas


por autores de referência na educação, uma cotidianas, uma busca realizada, no ano de
delas tendo sido apresentada ainda século 2005, nos sítios da CAPES (Coordenação de
XIX, aqui incluída em virtude de sua Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
relevância. Superior), nas bibliotecas da PUC-SP
Os autores deste artigo entendem que (Pontifícia Universidade Católica de São
retomar retrospectivamente o conceito é Paulo), da USP (Universidade de São Paulo)
relevante não só para recuperá-lo e da UNICAMP (Universidade de
historicamente, mas para repor a hipótese de Campinas) e no CD Room da ANPED
que o interesse nem é um atributo natural do (Associação Nacional de Pós-graduação e
aluno, nem deveria seu oposto – o Pesquisa em Educação), foram encontradas,
desinteresse – servir como explicação na produção acadêmica recente,
definitiva, a que muitas vezes lança-se mão, pouquíssimas pesquisas sobre interesse e
na educação atual, para justificar o fracasso educação, além do que não foram
escolar ou da escola. encontradas teses e dissertações que
Por isso, de pronto, afirmamos que o tivessem como objeto de estudo o conceito
conceito de interesse na educação não é um de interesse sob uma perspectiva histórica.
tema recente, nem conjuntural, antes, tem Essa constatação não deixa de ser paradoxal,
sido preocupação de intelectuais e pois a pouca produção não corresponde ao
educadores desde o século XIX, e com uso do termo interesse/desinteresse como
maior intensidade desde o começo do século fator explicativo do fracasso escolar, assim
XX. Mencione-se, por exemplo, os seguintes como não são poucos os professores que
autores do século XX: John Dewey (1859 – atribuem o baixo rendimento do aluno à
1952, Estados Unidos da América), Edouard falta de interesse.
Claparède (1873 – 1940, Suíça), Ovide Por ser o interesse um tema de estudo e
Decroly (1871 – 1932, Bélgica), Edward Lee uma preocupação mais intensa desde o
Thorndike (1874 – 1949, Estados Unidos da início do século XX e permanecer,
América). atualmente, como uma das maiores
Registre-se também que o interesse preocupações e reclamações dos
surge como elemento importante para a professores, parece se justificar o esforço de
educação, no início do século XIX, com uma reflexão acerca de tal conceito.
Johann Friedrich Herbart (1776 – 1841,
Alemanha), como pode ser verificado em Teorias sobre o interesse
sua obra Pedagogia Geral [s/d], publicada em
1806. Para atingir o objetivo de evidenciar as
Além disso, nos dias atuais, o interesse principais noções do interesse difundidas no
dos alunos pelas atividades escolares é um Brasil, buscou-se obras de autores que
tema recorrente nas discussões dos escreveram sobre tal conceito, teorizando ou
professores em reuniões pedagógicas ou defendendo sua relevância para a educação.
mesmo em conversas informais dentro ou Com esse procedimento, foram
fora da escola. Uma das maiores e reiteradas identificadas, como as mais referidas,
queixas dos professores é em relação à falta concepções e teorias atribuídas aos seguintes
de interesse dos alunos pelas aulas, pelas autores: Johan Friedrich Herbart, John
tarefas, enfim, pelas atividades escolares, o Dewey, Edoaurd Claparède, Edward Lee
que aparece como uma justificativa para a Thorndike e Albert Gates, Ovide Decroly
falta de atenção, para a dispersão, para as As obras dos autores estrangeiros,
ausências e para o baixo rendimento escolar. mencionados anteriormente, utilizadas nesta
Outra constatação é que, apesar de ser pesquisa, foram traduzidas para o português,
um tema que preocupou e continua a com exceção da obra de Herbart, acessada
preocupar intelectuais em suas pesquisas, conforme a tradução espanhola.

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Destaque-se que, de acordo com os Como já se disse, o tema do interesse na


objetivos da pesquisa, a recorrência às obras educação remonta ao século XIX. Johan
limitou-se ao conceito de interesse. A Herbart foi um dos primeiros a enfatizar a
escolha desses livros se deve ao fato de que importância do conceito na educação.
eles apresentam uma discussão sobre o Interesse é uma noção-chave da pedagogia
interesse como um elemento importante herbartiana, por ser referido pelo autor
para a educação, e por serem referências como um dos elementos necessários para a
sistemáticas dos autores dos livros-texto de educação. A pedagogia geral proposta por
psicologia e didática e dos artigos de Herbart (s/d) tem suas bases na filosofia e
periódicos. Segue, abaixo, a relação de obras na psicologia. A filosofia orienta os fins da
selecionadas para análise, classificadas por educação e a psicologia fornece o caminho e
ordem alfabética: os meios. Para o autor, o fim supremo da
educação é a formação do caráter, realizada
Edouard Claparède (1873 – 1940, Suíça): por meio da instrução que, por sua vez, tem
Educação Funcional, publicada pela primeira como objetivo moldar as virtudes e desejos
vez no Brasil em 1931. Neste estudo do indivíduo. Tal formação é fundamentada
utilizou-se a 5ª edição, publicada em 1958 e em uma concepção psicológica que refuta a
traduzida por Damasco Penna. existência das faculdades inatas do espírito.
Herbart (s/d) rejeitou a idéia de faculdades
Edward Lee Thonrdike (1874 – 1949, mentais inatas1 ou da alma. Para ele, a
Estados Unidos da América) e Albert Gates consciência, o centro da vida mental, é
(não foram encontradas informações formada a partir das representações que o
biográficas do autor, Estados Unidos da sujeito, a priori, elabora do objeto e das
América): Princípios Elementares de Educação, experiências acumuladas de forma sucessiva,
publicada no Brasil em 1936, traduzida por desde que vença os elementos desfavoráveis
Haydée Bueno de Camargo. do meio.
Os fins da educação, para Herbart (s/d),
John Dewey (1859-1952, Estados podem ser divididos em fins de eleição e fins
Unidos da América): Democracia e Educação, a necessários, ou de moralidade2. Para atingir
primeira edição data de 1916, sendo que, no
Brasil, ele foi publicado pela primeira vez em
1 A teoria das faculdades mentais partia do princípio
1936. Nesta pesquisa, foi utilizada a 4ª
que a mente era dotada de faculdades inatas, como
edição, publicada em 1979, traduzida por atenção, percepção e memória, que deveriam ser
Godofredo Rangel e Anísio Teixeira. Vida e treinadas pelo exercício, pela repetição. Herbart (s/d)
Educação - foi utilizada para essa pesquisa a afirma que os professores devem se preocupar com o
11ª edição, publicada no Brasil, em 1978, círculo de idéias que irão apresentar aos seus alunos,
traduzida por Anísio Teixeira. nos seguintes termos: “[...] devem se preocupar,
acima de tudo, com a forma como se estabelece o
círculo de idéias em seus discípulos, pois destas
Johann Friedrich Herbart (1776 – 1841, nascem os sentimentos, e destes os princípios e
Alemanha): Pedagogia Geral, publicada pela modos de agir. (Herbart, s/d, p.71). Ou ainda: “[...]
primeira vez em 1806, na Alemanha. Para não se domina a educação, se não se sabe estabelecer
essa pesquisa foi utilizada uma versão na alma infantil um grande círculo de idéias, cujas
partes se encontrem entrelaçadas intimamente e que
publicada em Madri, não datada. tenham força suficiente para vencer os elementos
desfavoráveis do meio, para absorver os favoráveis e
Ovide Decroly (1871-1932, Bélgica), incorporá-los. (Herbart, s/d, p. 84). As traduções dos
inserido neste artigo mediante as obras de excertos inseridos neste artigo são de
Lourenço Filho (1978) e Moura (1931). responsabilidade dos autores.
2 Os fins de eleição não se podem prever, são as

possibilidades para o homem futuro, isto é, são as


O conceito de interesse na educação. possibilidades de escolha que o aluno terá no futuro;
são fins possíveis, que algum aluno poderá
empreender e seguir futuramente.

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os fins, chamados de eleição, é necessário múltiplos também os cuidados da educação


pensar a relação entre a individualidade e os (HERBART, s/d, p. 112).
interesses, ou melhor, a multiplicidade de A multiplicidade de interesse nasce da
interesses do indivíduo que, por sua vez, riqueza dos objetos e das ocupações
deve ser distinguida da multiplicidade de interessantes. Desse modo, para o autor, o
ocupações, fundada na divisão do trabalho: interesse é determinado pelo objeto e a
excitação correspondente é realizada de
A sociedade humana julga, como acordo com a apresentação que o sujeito
necessária, desde há muito tempo, a recebe dos objetos. Promover, da melhor
divisão do trabalho, para que cada um maneira, essa apresentação é tarefa da
possa fazer bem o que empreende. instrução. Portanto, as variações múltiplas
Mas quanto mais se limita, se divide a do interesse devem ser tantas quanto
empresa, tanto mais se multiplica o
variados e múltiplos são os objetos.
que cada um recebe dos outros. Pois
como a receptividade espiritual se
O autor distingue, ainda, o interesse do
baseia numa afinidade de espírito, e desejo, pois o interesse fixa sua atenção no
esta, por sua vez, sobre exercícios presente, ao contrário do desejo, que almeja
espirituais semelhantes, é evidente que, algo que está no futuro, no vir a ser, do que
no reino supremo da humanidade se conclui que o objeto do interesse não
propriamente dita, não podem pode ser o mesmo do desejo. Para Herbart
permanecer isolados os trabalhos até o (s/d, p. 144), “somos, com efeito,
ponto de se ignorarem interiormente ativos, enquanto nos
reciprocamente. Todos hão de ser interessamos por algo, mas exteriormente
diletantes de tudo, cada um há de ser passivos até que o interesse se transforma
virtuoso em uma especialidade. Mas a em desejo ou em vontade”. Para o autor, o
virtuosidade particular é assunto de
eleição; pelo contrário, a receptividade desejo unido ao interesse representa a
multíplice, que só pode originar-se das totalidade de uma emoção humana que se
multíplices tentativas do esforço manifesta exteriormente. A diferença entre
pessoal, é assunto da educação. Por os dois é que o interesse não dispõe do
esta causa consideramos como objeto, mas depende dele.
primeira parte da finalidade pedagógica Parece razoável, das passagens
a multiplicidade do interesse, que é anteriores, fixar o seguinte entendimento: o
preciso diferenciar de seu exagero, da interesse, segundo Herbart (s/d), é visto
multiplicidade de ocupação. E posto como um elemento externo ao indivíduo,
que os objetos da vontade, as próprias pois é determinado pelo objeto. O que excita
orientações particulares, nos
o interesse do sujeito é o objeto, mais
interessam todas igualmente, para que
não destoe ver a debilidade ao lado da
precisamente, a apresentação que se faz
força, acrescentaremos este predicado: deste àquele, por isso a importância dada à
multiplicidade equilibrada. multiplicidade de interesses na educação.
(HERBART, s/d, p. 114- 115). Como o objeto e a ação em direção a esse
objeto antecedem o próprio interesse, ele
A multiplicidade, de acordo com aparece como um elemento passivo, até que
Herbart (s/d.), é a expressão mais se torne consciente e converta-se em
significativa para a instrução, por prevenir o vontade ou desejo para o sujeito.
erro de introduzir uma só parte dos Outro é o entendimento acerca do
interesses entre as muitas possíveis. interesse apresentado por Dewey (1979),
Segundo o autor, o educador não deve para quem: “interesse significa que o eu e o
deixar que se perca nada, nem em intenção, mundo exterior se acham juntamente
nem em extensão, de que se possa reclamar empenhados em uma situação em marcha”
depois. Seja grande ou pequena a dificuldade que (DEWEY, 1979, p. 137). O interesse, para
isso ofereça, uma coisa sempre é clara: como são Dewey (1979), não é determinado somente
múltiplas as aspirações do homem, hão de ser pelo objeto. Para ele, a própria palavra
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interesse sugere, etimologicamente, aquilo este ou aquele objeto por meio de uma
que está entre – inter – esse, que reúne o atividade do sujeito, decorre, portanto, da
sujeito e o objeto, que de outra forma ação consciente que o sujeito pode exercer
ficariam distantes. sobre o objeto. Segundo Dewey (1978, p.
Dewey (1979) critica a ideia de antepor o 71), “em interesse, não há simplesmente um
espírito ao mundo – de coisas e de fatos – a sentimento inerte ou passivo, mas alguma
ser conhecido, assim como considera esse coisa de motriz, de dinâmico”. É também
mundo como algo existente à parte dos caracterizado como objetivo, porque ele é
estados mentais e operações intelectuais, por concretizado em alguma coisa, isto é,
sua vez, também isolados e independentes. prende-se a um objeto. Mesmo com esse
Para o autor, julgar “ser o conhecimento a caráter objetivo, de acordo com o autor, é
aplicação exterior de entidades puramente um erro supor que o objeto é que desperta a
mentais às coisas a serem conhecidas, ou atividade pessoal. O objeto só interessa ao
então o resultado das impressões que essa sujeito na medida em que favorece a
matéria exterior de estudos faz no espírito” concretização de sua atividade. Por fim, deve
(Dewey, 1979, p. 143), é conceber a matéria ser considerado como um atributo pessoal,
como algo completo por si mesmo, “a ser porque está diretamente ligado a alguma
aprendida ou conhecida, seja pela aplicação coisa que tenha importância para o sujeito.
voluntária da mente ou espírito a esse objeto Como se apreende, a crítica de Dewey
exterior, seja pelas impressões feitas por ele (1978) a Herbart (s/d) recai sobre a questão
no espírito” (Dewey, 1979, p. 143). Essas da atividade do ser vivo. Para o primeiro, o
concepções, segundo o autor, são falsas, defeito da teoria herbartiana reside,
pois, para ele, o interesse é uma palavra que justamente, em não conceber a existência de
exprime uma atitude. A atitude de quem um ser vivo, de funções ativas, que se
toma parte em alguma espécie de atividade, desenvolvem quando colocadas em contato
de modo a lhe dar uma direção: com o ambiente. O deslocamento do
interesse para o sujeito leva o autor a
O verdadeiro interesse é o sinal de que formular, nos seguintes termos, a base
algum material, objeto, habilidade, ou psicológica do interesse:
o que quer que seja, está sendo
apreciado, de modo, a concorrer para a
Um interesse é primariamente uma
marcha progressiva de uma ação, com forma de atividade própria do
a qual a pessoa tenha se identificado.
organismo; isto é, uma forma de sua
Interesse verdadeiro, em suma,
evolução ou crescimento que se realiza
significa que uma pessoa se identificou
através da atividade, em tendências
consigo mesma, ou encontrou a si
nascentes. Se examinarmos essa
mesma, no curso de uma ação.
atividade pelo lado do que produz,
(DEWEY, 1978, p. 86).
temos seus aspectos objetivos: idéias,
objetos, etc., a que o interesse se
Observa-se, portanto, que, para Dewey prende. Se levarmos em conta que o
(1978), assim como para Herbart (s/d), o interesse nos desenvolve a nós
interesse é um modo de entender a relação mesmos, porque o eu toma parte em
sujeito e objeto. A diferença é que para o sua expressão, temos o lado pessoal ou
segundo, o interesse é objetivo e passivo, até emocional. Qualquer consideração
ser convertido em vontade pela consciência, integral sobre interesse deve, portanto,
converte-se em consciência, enquanto que, concebê-lo como uma atividade em
para o primeiro, o interesse é associado à marcha dentro de cada um de nós, a
fim de atingir um objeto, no seu
própria atividade, ou, mais precisamente
julgamento de valor. (DEWEY, 1978,
àquele que age relativamente ao objeto; neste p. 73).
sentido, o interesse é ativo, objetivo e
pessoal, como elemento ativo é tomado por

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A atividade em marcha dentro de cada que não só o interesse, mas a atenção,


um de nós, segundo Dewey (1978), por também, não pode ser considerada prévia à
vezes, é direta e imediata, isto é, seu fim é a atividade do aluno, antes, são decorrentes
própria atividade, satisfazendo a si e por si dela.
mesma; outras vezes, é indireta e mediata, ou Pode-se dizer, portanto, que a
seja, coisas indiferentes não são preocupação do educador estadunidense é a
imediatamente interessantes, elas se tornam de relacionar uma adequada teoria do
interessantes a partir do momento em que interesse tanto com a didática, ou seja, o
suas relações e ligações tornam-se como ensinar, quanto ao currículo, aos
conscientes. A visão das coisas deve ir além conteúdos ensinados, sem, contudo, querer
do primeiro plano, o que só é possível na simplesmente “tornar uma coisa interessante
medida em que essa visão cresce em pelo método de cobri-la de açúcar”
experiência, possibilitando que um fato ou (DEWEY, 1978, p. 80).
uma ação não sejam mais encarados em si Do mesmo modo, pode-se dizer que, o
mesmos, mas como parte de um todo maior. interesse é, então, da esfera da consciência
Se o indivíduo tem consciência da relação de de si e decorrente da relação do sujeito com
suas ações com o todo, a coisa passa a o objeto, do indivíduo com a sociedade, do
interessá-lo. aluno com a escola. Nesse sentido, resume o
Portanto, a ideia educacional de “tornar autor: “interesse é a união orgânica da
as coisas interessantes” só tem sentido, para pessoa e do objeto” (DEWEY, 1978, p.71).
Dewey (1978), se for levada em A ideia de interesse adquire importância para
consideração a teoria do interesse indireto a educação, porque “o interesse representa a
ou mediato. É nesse sentido que a educação força que faz mover os objetos – quer
deve tornar as coisas interessantes. Fazer percebidos, quer representados em
com que o aluno tome consciência dessas imaginação em alguma experiência provida
relações e não simplesmente usar de de um objetivo” (DEWEY, 1979, p.142).
artifícios para tornar a atividade interessante. Reconhecer a função dinâmica do interesse é
É por isso também que o autor critica a ideia o que leva a considerar a individualidade dos
pedagógica de que “depois de escolhida a alunos em relação às suas aptidões,
matéria do ensino é que cabe ao mestre necessidades e preferências, e a não presumir
torná-la interessante” (DEWEY, 1978, p. que todos os espíritos funcionam do mesmo
75), visto que, a matéria escolhida é prévia modo.
ao próprio sujeito, restando disso o uso de Assim como John Dewey, Edouard
artifícios pelo professor. Claparède (1940) considera que não é
Tentar “tornar as coisas possível um ato sem interesse, mas diverge
interessantes”, ainda de acordo com o autor, quanto ao entendimento de como surge o
acarreta erros como aquele de tornar a interesse. Enquanto, para aquele, o interesse
seleção de matérias de ensino e seus está vinculado à relação consciente do
conteúdos independentes da questão de indivíduo com o objeto, portanto,
interesse; isto é, tornar as coisas decorrente da ação do eu, para este, o
interessantes omite as tendências e interesse exprime a relação do indivíduo
necessidades do aluno, além de reduzir o com o objeto, desde que tal objeto seja
método de ensino a artifícios externos de necessário em um determinado momento,
preparação do material, sem relação com o pois, as coisas só se tornam interessantes na
aluno, a fim de conseguir qualquer soma de medida em que se relacionam com uma
atenção. Um problema pedagógico necessidade do sujeito, ou seja, interesse “é o
importante é, então, o de descobrir a relação objeto em sua relação com a necessidade”
intrínseca entre o objeto e o indivíduo, pois (CLAPARÈDE, 1940, p. 56). Embora sutil,
é da percepção consciente dessa relação que pode-se dizer que, enquanto Dewey
se obtém a atenção do aluno. Observa-se considera o interesse predominantemente

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como ato social, Claparède o considera A palavra interesse exprime bem,


como ato natural, isto é, psicofísico, pois a segundo a etimologia (inter-esse, estar
necessidade, para o educador suíço, decorre entre), o papel de intermediário que o
da ruptura do equilíbrio de um organismo: interesse desempenha entre o
organismo e o meio: interesse é o fator
que ajusta, que estabelece o acordo
Todo organismo vivo é um sistema
entre este e as necessidades daquele.
que tende a conservar-se intacto.
(CLAPARÈDE, 1940, p. 58).
Desde que se lhe rompa o equilíbrio
interior (físico-químico), desde que
comece a desagregar-se, efetua os atos Desse entendimento, o educador suíço
necessários à própria reconstrução. É propõe a educação funcional, cuja finalidade
o que os biologistas chamam de auto- é a de desenvolver processos mentais,
regulação. Se essa auto-regulação não considerando-os em sua utilidade para a
se pode realizar, o organismo perece. ação presente ou futura, para a vida, ou,
Pode-se, pois, definir a vida como o como ele resume: “a educação funcional é
perpétuo reajustamento de um que toma a necessidade da criança, o seu
equilíbrio perpetuamente rompido. interesse em atingir um fim, como alavanca
Toda reação, todo comportamento,
da atividade que se deseja despertar”
tem sempre por função a manutenção,
a preservação ou a restauração da (CLAPARÈDE, 1940, p.1).
integridade do organismo. O autor adverte que a concepção
(CLAPARÈDE, 1940, p. 40). funcional não implica deixar o aluno
entregue aos seus interesses espontâneos, ao
Para satisfazer suas necessidades, o contrário, implica explorar esses interesses,
organismo tende a provocar reações de modo a associá-los com o que se quer
próprias que o movem em direção ao que ensinar, isto é, transformar os fins futuros a
pode satisfazê-las. Embora seja a que visam os programas escolares em
necessidade que move o indivíduo, o que ele interesses presentes para o aluno e de acordo
visa é sempre um objeto e não o com as necessidades deste. Segundo
desaparecimento da necessidade, assim, por Claparède (1940, p. 56), “o interesse é o que
exemplo, um indivíduo com fome deseja num dado momento nos importa, é o que
algo para comer e não o desaparecimento da tem um valor de ação, porque corresponde a
fome. As necessidades projetadas no mundo uma necessidade”. O autor entende que a
exterior aparecem como objeto a obter, por mola da educação deve ser o interesse, “o
isso, a conduta do indivíduo é movida, interesse profundo pela coisa que se trata de
psicologicamente, não por uma necessidade, assimilar ou de executar” (CLAPARÈDE,
mas por um interesse em tal objeto. Para o 1940, p. 171).
autor, “a palavra interesse exprime uma Destaque-se que o interesse, para
relação de conveniência entre o indivíduo e Claparède, não é determinado por um objeto
o objeto que lhe importa num dado externo, como em Herbart, mas sim por
momento” (CLAPARÈDE, 1940, p.56). uma necessidade intrínseca ao indivíduo,
O interesse é visto, então, como um provocada pelo desequilíbrio, estabelecido
princípio de fundamental importância para a entre ele e o meio. Para Claparède (1940), o
atividade mental, a tal ponto que “é erro fundamental da pedagogia herbartiana é
absolutamente impossível encontrar um ato ter feito do interesse a consequência, quando
que não seja ditado pelo interesse”, ou ainda, ele é o móvel do estudo. Herbart inverte o
interesse “é simplesmente o nome que dou à papel do interesse, ao afirmar que a
causa ou à coordenação de causa que finalidade do estudo é proporcionar o
provocam a conduta predominante num nascimento do interesse. Antes, dizia
momento dado”. (CLAPARÈDE, 1940, p. Claparède, o importante é captar o interesse,
57). Para o autor: pois “captado o interesse, o resto vai ou

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pode ir por si só” (CLAPARÈDE, 1940, p. podem usar. (THORNDIKE;


218). GATES, 1936, p. 209).
Ressalve-se que os três autores, até aqui
destacados, concordam quanto ao fato de Note-se que o interesse, para Thorndike
que sem interesse não há atividade, portanto, e Gates (1936), depende do esforço do
não há aprendizado ou educação, embora aluno, mas deve ser guiado pelo professor de
divirjam quanto ao entendimento de como uma maneira a satisfazer as atividades
surge o interesse. práticas da criança. Como as matérias
Dois outros autores que enfatizam a possuem interesses intrínsecos, umas
importância do interesse são Edward Lee tendem a ser mais interessantes do que
Thorndike; Albert Gates (1936), ao outras, o interesse próprio do aluno não é
afirmarem que, para haver alunos um guia perfeito, ou seja,
interessados e ativos, é necessário relacionar
os métodos e materiais educativos aos [...] é necessário que os professores
desejos que o aluno experimenta. Para eles, ajudem a criança a iludir a tendência de
seguir servilmente a linha do interesse.
o fim último da educação é a felicidade, e
A posição extrema daqueles que dão
atingir tal fim só seria possível com a completa liberdade à criança para
realização dos desejos humanos. seguir seus interesses é provavelmente
Interesse, para esses autores, significa a devida, em maior escala, ao
facilidade de se entusiasmar pelas atividades ressentimento justificado contra as
do aprendizado. Nesse sentido, o interesse falhas de professores em compreender
deve ser utilizado como um dos critérios de a importância do interesse como um
escolha das matérias e métodos a serem sintoma de capacidade e aprendizado
utilizados pelo professor. Esse critério está bem sucedido, e aos desastrosos
baseado em dois fatos: “quanto maior o resultados, que surgem muitas vezes
interesse no trabalho, maior a felicidade que do uso rude da coação e autoridade
para obter trabalho nas matérias
resulta dele, quanto maior o entusiasmo,
menos atrativas. [...] O interesse da
mais abundantes os resultados do criança em uma matéria constitui um
aprendizado” (THORNDIKE; GATES, importante critério do valor da
1936, p. 209). Tal critério é um dos mais matéria. (THORNDIKE; GATES,
difíceis de serem aplicados, pois depende de 1936, p. 210-211).
como a matéria é ensinada ou como a
atividade é conduzida. Desse modo, O interesse, na visão desses autores, é
um critério para a escolha de matérias e
O interesse depende enormemente [...] métodos, mas não só o interesse próprio do
de ajustar bem a tarefa ao aluno, de aluno; é necessário aliar o interesse do aluno
maneira que, reunindo seus melhores ao interesse da matéria e aos fins da
esforços, ele consiga dominar o
trabalho demarcado. Depende educação. Nota-se que, assim como Dewey,
grandemente da habilidade do esses autores também associam o interesse à
professor em conjugar os elementos didática e ao currículo.
de movimento, competição, Ovide Decroly também se preocupou
demonstração e reconhecimento do com as atividades interessadas dos alunos.
progresso, distribuição ótima de Sua posição acerca do interesse é aqui
prática e revisão, ocasião e duração apresentada indiretamente, por meio das
ótima do período do trabalho e assim obras Introdução ao estudo da escola nova, de
por diante. A utilidade de um fato ou Lourenço Filho (1978), e Os Centros de
habilidade na vida diária é uma interesse, de Abner de Moura (1931)3. Para
influencia poderosa sobre o interesse.
As crianças são excessivamente 3
práticas e gostam não só de usar o que A teoria de Decroly acerca do Interesse foi
apresentada de acordo com as interpretações de
aprendem, mas de aprender o que Lourenço Filho (1978) e Moura (1931), em virtude da

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Decroly, segundo Lourenço Filho (1978), ser objeto de seu conhecimento, na medida,
seria preciso modificar a essência ou a é claro, das capacidades infantis”
dinâmica do trabalho escolar. Para essa (LOURENÇO FILHO, 1978, p. 190).
modificação, Decroly (apud LOURENÇO Decroly apresentava, como padrão, um
FILHO, 1978) propõe que o ensino se programa de ideias associadas:
desenvolva por centros de interesses, isto é,
um programa fundado sobre interesses a) Conhecimento, pela criança de suas
médios e gerais do aluno, estabelecendo um necessidades (necessidades: de
traço de união entre os diversos elementos alimentar-se, de lutar contra as
do conteúdo: intempéries, defender-se contra os
perigos e acidentes diversos, de
Tudo que peço, como conhecimento trabalho, da ação, da renovação
escolar, dizia Decroly, está nos constante e da alegria solidária);
programas comuns. Só há uma b) Conhecimento do meio (a criança e:
diferença: é que proponho criar um a família, a escola, os animais, as
laço entre as disciplinas, para fazê-las plantas, o sol, a lua e as estrelas, a
convergir ou divergir de um mesmo Terra, água, ar, minerais).
centro. Todo o ensino à criança se (LOURENÇO FILHO, 1978, p. 190-
dirige; dela se irradiam, também todas 191).
as lições. Isso é como um fio de
Ariadne, que permite ao espírito Percebe-se que o conceito de interesse é
infantil orientar-se e, assim, não se fundamental no pensamento de Decroly, à
perder no Dédalo infinito das noções medida que a necessidade gera o interesse da
que os séculos têm acumulado. Desse criança pelo conhecimento de suas próprias
modo tenho sempre em conta o necessidades de sobrevivência e aquelas
elemento afetivo primordial, o decorrentes do meio físico e social.
interesse da criança, que é de tudo a Um programa, baseado nos princípios
alavanca. (LOURENÇO FILHO,
dos centros de interesse de Decroly, foi
1978, p. 192).
elaborado pelo professor Abner de Moura,
em 1931, e apresentado em sua obra Os
O eixo norteador desses programas são
Centros de Interesse na Escola. De acordo com o
as necessidades das crianças. Tais programas
autor, as sugestões apresentadas têm por
são caracterizados pela aplicação do que o
finalidade mostrar que é possível iniciar a
autor chama de ideias associadas, ou seja, o
renovação da escola. A obra, segundo o
estudo do aluno e do meio. Para ele, o mais
autor, tem o objetivo, antes de tudo, de
interessante a ser estudado é o próprio
sugerir maneiras de praticar as ideias de
aluno, isto é, o funcionamento de seu corpo,
Decroly, em ambiente brasileiro, pois, de
para, em seguida, estudar o meio em que
acordo com Moura (1931), Decroly havia se
vive. As necessidades servem de eixo, pois
negado – o que pareceu ao professor Abner
determinam a forma de elaborar o programa.
um gesto de humildade e uma indicação
Para Decroly, de acordo com o autor
bastante simpática da personalidade do
brasileiro, “as necessidades da criança
educador belga – a expor, sob a forma de
servem de eixo: tudo quanto a natureza e a
livro, a sua concepção pedagógica, por várias
sociedade realizem para satisfazê-las pode
razões: porque não considerava ultimado seu
sistema; porque acreditava que a prática de
inexistência, nas bibliotecas consultadas, das obras cada dia e o estudo assíduo da vida infantil
referidas pelos educadores brasileiros. Lacuna que obrigavam-no a corrigir constantemente as
precisa ser preenchida por outros estudos. Apesar suas opiniões e minúcias de técnica; porque
dessa limitação, a sua inclusão no presente artigo
estava convencido de que o êxito de um
deve-se justamente para registrar uma perspectiva
teórica bastante mencionada, mas que parece não ter sistema educativo depende da preservação,
sido devidamente documentada ou disponível para a por longo tempo, desse sistema exposto à
pesquisa.

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crítica, e de conservá-lo expresso em O interesse, para Decroly, também está


princípios, alheio a fórmulas que viriam relacionado às necessidades. Contudo, pelo
posteriormente. Por isso, restou, como se programa proposto pelo autor, tais
disse acima, ao professor brasileiro necessidades não são vistas somente do
sistematizar as proposições pedagógicas de ponto de vista biológico, mas também na
Decroly, com o intuito de difundi-las no relação com o meio ambiente, social e físico.
Brasil. Por fim, constata-se que Thorndike e
O livro de Abner de Moura, segundo o Gates consideram o interesse como a
próprio autor, não pretendia solucionar o facilidade do aluno se entusiasmar nas
problema de todas as escolas do Estado, atividades do aprendizado, o que representa
apenas se revestia com um aspecto de outra maneira de visar a relação sujeito e
fórmula de ensaio, em plena evolução, que objeto. Por isso, recomendam que o
convinha ser melhorada dia a dia na prática, interesse deva ser um dos critérios de
de acordo com as oportunidades, pois, para escolha das matérias e métodos a serem
ele, o sistema Decroly exige atividade utilizados na escola.
criadora e reflexiva da parte do mestre, para Se, em suma, as perspectivas
renovar os centros de interesse e manter apresentadas e seus autores entendem que o
constantemente a comunicação espiritual interesse está na relação do sujeito com o
com os discípulos (Moura, 1931). objeto, a diferença, entre elas, está na
maneira que é concebida essa relação.
Considerações Finais Quanto ao que interessa à educação,
uma questão a ser destacada é aquela que se
Espera-se ter evidenciado que o conceito refere aos vínculos entre matéria, interesse,
de interesse, de acordo com as perspectivas didática e currículo. Tanto para Herbart,
apresentadas, é visto como um elemento da como para Dewey, Thonrdike e Gates, tal
relação do sujeito com o objeto, ao mesmo conceito não está dissociado da didática e do
tempo em que é interpretada de diferentes currículo. Para Claparède, a ênfase do
formas. Assim, para Herbart, a ênfase dessa interesse está na didática. O professor deve
relação está no objeto, ou seja, o interesse é compreender as necessidades dos alunos e
externo ao indivíduo, o que significa que ele criar novas necessidades para que haja o
é produzido por uma relação passiva. Essa interesse pela matéria a ser dada. Por sua
perspectiva difere da ênfase atribuída por vez, Decroly, bem como Thorndike e Gates,
Dewey, para quem, tal relação é um ato assinalam o uso do interesse na escolha das
social. Para esse autor, o interesse só é matérias a serem dadas, relacionando-o ao
verdadeiro quando o sujeito, no curso de currículo.
uma ação, toma consciência de si pela Para finalizar, vale repor que a
relação com o meio, o que equivale a finalidade principal deste artigo é insistir
conferir um papel ativo do sujeito à quanto à relevância de se recuperar o
manifestação do interesse. A teoria de conceito de interesse para os estudos
Claparède, por sua vez, é baseada na biologia educacionais. Daí, a preocupação incidiu
e na psicologia funcional. Nesses termos, o mais sobre a diversidade que tal conceito
interesse é determinado por uma suscita no campo pedagógico do que
necessidade, do que resulta considerar que o explorar em minúcias as semelhanças e
interesse é primordialmente um ato natural. diferenças, epistemológica, psicológicas e
As necessidades e desejos, que movem o pedagógicas, certamente existentes entre os
indivíduo na ação, são consideradas apenas autores que serviram de referência; embora
em suas relações com a subjetividade. Diga- seja dispensável enfatizar a relevância de tal
se que tanto Dewey quanto Claparède tarefa, pelo que foi aqui apontado. A esse
concordam com a concepção ativa do propósito, mencione-se que,
interesse. intencionalmente, seja por causa do objetivo

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principal, seja para não estender ______. Vida e Educação. Tradução de


excessivamente a exposição, os autores não Anísio S. Teixeira. 11ª edição. São Paulo:
tomaram como objeto de estudo os nexos Melhoramentos, 1978.
do conceito de interesse com tantas outras
noções que são tomadas, sistematicamente, CLAPARÈDE. E. A Educação Funcional.
como fator explicativo dos fracassos e Tradução de J.B. Damasco Penna. 2ªed. São
sucessos educacionais, embora mais de Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940.
acordo com o senso comum do que em suas
acepções científicas, das quais são exemplos, HERBART, J. F. Pedagogia General.
os casos de interesse e motivação, interesse e Tradução de: Lorenzo Luzuriaga. 2ª edição.
desempenho escolar, interesse e vocação. Ediciones de La Lectura, s/d.
Se o texto estimular a nossa memória de
sorte a não esquecermos que muitas vezes LOURENÇO FILHO, M. B. Introdução
retroagir ao passado pode orientar, mediante ao estudo da escola nova. 12ª ed. São
à busca racional fundamentada na ciência, a Paulo: Melhoramentos, 1978.
continuar investigando as nossas ações
presentes, terá cumprido o nosso intento. MOURA, A. Os “Centros de Interesse”
na escola. São Paulo: Melhoramentos, 1931.
Referências Bibliográficas
THORNDIKE, E.; GATES, A. Princípios
DEWEY, J. Democracia e Educação. Elementares de Educação. Tradução de
Introdução à Filosofia da Educação. 3. ed. Haydée Bueno de Camargo. São Paulo:
São Paulo: Companhia Editora Nacional, Saraiva, 1936 .
1979.

Recebido em 14 de fevereiro de 2011.


Aceito em 07 de março de 2011.

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