Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
i i
I NTRODUÇÃO1
Desde há cerca de três décadas, os discursos políticos integram com frequên-
cia crescente, expressões como sociedade civil, interesses ou problemáticas
comuns globais, e utilizam termos como cidadania, governação e globaliza-
ção. Neste contexto, torna-se pertinente, para além da análise dos conteúdos,
tentar perceber a lógica subjacente, tanto à recuperação deste vocabulário,
como à articulação estabelecida pela esfera política entre alguns dos concei-
tos referidos. Procura-se, assim, identificar os objectivos, as finalidades e as
novas estratégias discursivas utilizadas ao serviço da construção social de uma
realidade que se pretende determinante das perspectivas e das expectativas e,
em última análise, condicionante das atitudes e orientadora dos comportamen-
tos individuais e colectivos.
1
Algumas da partes do texto constituem adaptações dos seguintes textos do autor, já pu-
blicados ou aguardando publicação: 2009, Sociedade Civil Transnacional. Actores e Forças
de Pressão nas Relações Internacionais, “Introdução”, Lisboa, ISCSP-UTL, aguardando pu-
blicação em 2009; 2001, A Humanidade e o seu Património. Reflexões Contextuais sobre
Conceptualidade Evolutiva e Dinâmica Operatória em Teoria das Relações Internacionais,
Capítulo VI, Lisboa, ISCSP-UTL; 2002, Conhecimento e Mudança. Para uma Epistemologia
da Globalização, Lisboa, ISCSP-UTL; 2005, “Abordagens Cognitivistas da Política Interna-
cional. Percepção, Discurso e Construção Social da Realidade”, texto de apoio à conferência
proferida ao Curso de Política Externa Nacional do Instituto Diplomático do Ministério dos
Negócios Estrangeiros, Lisboa, 2 de Novembro de 2005. pp. 25-29, texto policopiado; 2006,
“Global Civil Society: The Rise of a New Global Actor?”, especialmente do ponto “The Role
of Epistemic Communities”, in Nação e Defesa, 3.ª série, n.º 113, Lisboa, IDN-MNE, Abril
de 2006, pp. 157-177; 2009, “Textos de Apoio às Lições da Disciplina de Análise e Agenda
Internacional”, 3.º ano, 1.º semestre, do 1.º ciclo (licenciatura) de Ciências da Comunicação,
Lisboa, ISCSP-UTL. Texto policopiado.
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
As Comunidades de Inovação
No contexto da sociedade civil, a expressão comunidades de inovação designa
um conjunto de novos actores transnacionais característicos da “era da infor-
mação” e da “sociedade do conhecimento”, e cuja capacidade de intervenção
social se baseia na informação partilhada sobre domínios do conhecimento ci-
entífico e tecnológico integrado, e da sua aplicação concreta e concertada, em
termos de inovação. A identificação deste novos actores da sociedade do co-
nhecimento deriva da percepção dos efeitos de processos de interacção social
significativos, possibilitados pela inovação científica e tecnológica aplicada
às áreas de informação e da comunicação, e que se evidenciam em termos
de aprendizagem recíproca, designadamente, através de comunidades episté-
micas e comunidades de prática, permitindo a introdução de elementos ino-
vadores nos contextos sistémicos de interacção e aprendizagem cognitiva, de
partilha de ideias, de produção, de métodos e enquadramentos institucionais,
bem como nos aparelhos e processos decisionais. O conhecimento torna-se,
assim, o recurso por excelência.
Neste sentido, Peter Drucker considera que “actualmente, o conhecimento
e a sua busca estão sendo cada vez mais organizados em termos de áreas de
aplicação (. . . ) Esse é um sindroma da mudança do significado do conheci-
mento, passando de um fim em si mesmo para um recurso, isto é, um meio de
atingir um determinado resultado” (Drucker, 2001, 148).
A percepção do conhecimento como factor de mudança social e de mu-
dança sistémica, transformacional e acelerada, e não apenas na sua identifica-
ção tradicional como factor de poder, constitui uma característica definidora
i i
i i
i i
i i
O Enquadramento Convencional
O conhecimento perspectivado como recurso, adquire expressão enquanto fac-
tor de mudança, através da respectiva aplicação em termos de resultados al-
cançados no plano da gestão dos restantes recursos inerentes à satisfação dos
novos interesses evolutivos e à concretização dos objectivos dos indivíduos e
das sociedades. Neste sentido, os estados têm estabelecido um enquadramento
convencional de dimensão assinalável, cujas aspirações e propósitos fixados
nem sempre correspondem a resultados concretos, mas que constituem formas
da acção adaptativa às exigências de um desempenho funcional legitimador
das acções políticas, perante as novas problemáticas comuns globais.
Apesar de tudo, e após a celebração de várias convenções sobre protecção
ambiental, poderemos considerar que a Declaração de Estocolmo, de Junho
de 1970, corresponde à génese da identificação formal de um património co-
mum natural, constituído por recursos naturais ou bens naturais. Outras se lhe
seguiram. Em Outubro de 1982, e tal como referido, a Assembleia Geral, da
ONU adoptava a Carta Mundial da Natureza, identificando como “bens na-
turais” os “processos essenciais” da natureza que não deverão ser alterados,
e a “viabilidade genética da terra”. O património genético deverá ser prote-
gido como parte do património comum da humanidade. Em 1987, o Relatório
Brundtlandt, intitulado “O Nosso Futuro Comum”, acentua a inevitabilidade
da articulação entre ambiente e desenvolvimento sustentável.
Neste sentido, em 1992, a Conferência do Rio, que ficou conhecida como
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
Reflexões Conclusivas
A solução para todas estas problemáticas, consensualmente identificadas pela
comunidade internacional quanto às respectivas causas genéticas, dependem,
no entanto, das vontades políticas dos estados, concretizadas através da pro-
moção de acções conjugadas nos planos local, nacional, regional e global,
através de uma governação trans-sectorial, multi-nível, largamente participada
por actores da sociedade civil transnacional e baseada em políticas públicas in-
ternacionalmente coordenadas cujos resultados constituirão, futuramente, cri-
térios de legitimação democrática dos dirigentes políticos e de justificação das
acções, perante a evidência dos benefícios derivados de um desempenho fun-
cional consequente. Mas a concretização destes objectivos passa também, e
em última análise, por alterações de atitudes e comportamentos, decorrentes
de processos de identificação de novos interesses, geradores de novas expec-
tativas e indutores da reformulação evolutiva das mentalidades individuais e
colectivas.
As políticas e as estratégias de gestão e resolução dessas problemáticas
implicam a definição de hierarquias de interesses e de prioridades objectivas,
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
i i
Referências Bibliográficas
CAROTHERS, Thomas, 1999, “Civil Society. Think Again”, in Foreign Po-
licy, Washington, Carnegie Endowment for International Peace, Winter,
1999-2000, pp. 18-29.
FOLEY, Michael W., EDWARDS, Bob, 1996, “The Paradox of Civil So-
ciety”, in Journal of Democracy, 7, 3, National Endowment for Pe-
ace and The Johns Hopkins University Press, 1996, 38-52, in http:
//www.globalpolicy.org/, consultado em 11 de Setembro de
2008.
i i
i i
i i
i i
HAAS, Ernst B., 1990 When Knowledge is Power. Three Models of Change
in International Organizations, Berkley, Ca., University of California
Press.
KEANE, John, 2003, Global Civil Society?, Cambridge, U.K., CUP.
______, 1998, A Sociedade Civil, Lisboa, Temas e Debates.
LECHNER, Frank J., BOLI, John, eds., 2000, The Globaliozation Reader,
Malden, Mass., Blackwell.
MACBRIDE, Sean, ROACH, Colleen, 2000, “The New International Infor-
mation Order”, in Frank J. Lechner e John Boli, eds., The Globalization
Reader, Malden, Mass., Blackwell Publishers, 2000, pp. 286-292.
NYE, JR., Joseph S., OWENS, William A., "America's Information Edge", in
Foreign Affairs, vol. 75, n.º 2, New York, March/April 1996, pp. 20-36.
PAREKH, Bhikhu, 2004, “Putting Civil Society in its Place”, in Glasius,
Lewis e Sekinelgin, eds., 2004, pp. 15-25.
RUGGIERI, Renato, 1996, "Address to Singapore Ministerial Conference",
WTO, Singapura, 9 de Dezembro de 1996. CNNI, World News e Internet
Press Release, 3 págs., p. 1.
SANTOS, Victor Marques dos, 2009, Sociedade Civil Transnacional. Actores
e Forças de Pressão nas Relações Internacionais, Lisboa, ISCSP-UTL.
Aguardando publicação.
______, 2009, Teoria das Relações Internacionais. Cooperação e Conflito na
Sociedade Internacional, Lisboa, ISCSP-UTL. Aguardando publicação.
______, 2007, Introdução à Teoria das Relações Internacionais. Referências
de Enquadramento Teórico-Analítico, Lisboa, ISCSP-UTL.
______, 2006, “Global Civil Society. The Rise of a New Global Actor?”, in
Nação e Defesa, 3.ª série, n.º 113, Lisboa, IDN, Abril de 2006, pp.157-
177.
______, 2002, Conhecimento e Mudança. Para uma Epistemologia da Glo-
balização, Lisboa, ISCSP-UTL.
i i
i i
i i
i i
TRENTMANN, Frank, 2004, “The Problem with Civil Society. Putting Mo-
dern European History back into Contemporary Debate”, in Glasius,
Lewis e Sekinelgin, eds., 2004, pp. 26-35.
WALZER, Michael ed., 2002, Toward a Global Civil Society, New York,
Berghahn Books.
i i
i i