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DESTINAÇÃO DO CHORUME DE ATERROS CONTROLADOS

Jorge Hamada, Prof. Assistente Doutor, FEB – UNESP – e-mail: joha@feb.unesp.br


Cristiano Kenji Iwai, Engº Civil, Mestrando do Programa de Pós-Graduação da FEB - UNESP
Heraldo Luiz Giacheti, Prof. Adjunto, FEB - UNESP

RESUMO
No presente estudo procurou-se efetuar uma avaliação crítica da destinação de chorume em aterros
controlados considerando alternativas tecnológicas, parâmetros quali-quantitativos do chorume e outros
de natureza geotécnica e hidrogeológica. Discutiu-se a dificuldade na previsão das características do
chorume e diferentes formas de manejo, inclusive a recirculação e a capacidade natural de atenuação do
solo. Apresentaram-se algumas alternativas de tratamento e pré-tratamento do chorume, destacando-se a
proposta do uso do solo de cobertura como elemento filtrante, que demonstrou grande eficiência na
remoção de DQO, apesar das limitações de carga aplicada. Conclui-se que a melhor forma de manejo de
chorume em aterros controlados envolve principalmente a redução de seu volume, através da execução
de uma cobertura eficiente e pouco permeável. A eficiência da cobertura se traduz também na execução
de um bom sistema de drenagem superficial, com o objetivo de minimizar o tempo de permanência da
água sobre o aterro. A recirculação pode ser efetuada dependendo das características do subsolo e em
taxas controladas. Sempre que se adotar a recirculação do chorume, atenção redobrada deve ser
estabelecida para o monitoramento das águas subsuperficiais.

Palavras-Chave: ATERRO CONTROLADO, CHORUME, CONTROLE, TRATAMENTO

ABSTRACT
This paper was intend to evaluate leachate management in Brazilian called controled landfill, considering
technological alternatives, and leachate, hydrogeologic and geotechnic characteristics. The difficulty on
leachate quality and flowrate prediction was discussed, and some management opportunity are presented,
including recirculation e natural attenuation considerations. The cover soil was proposed as filter bed of
leachate pre-treatment, since tests shows great performance in COD removal, despite load rate
limitations. The best solution in leachate management was find out by better landfill cover design and
operation. A major design consideration is on minimizing leachate production during the operational
sequence filling and after postclosure with efficent storm sewer system. Depending on underground
characteristics and under controlled flowrate, the leachate recirculation can be adopted. In this case,
special attention must be dedicated to groundwater monitoring, due to leachate infiltration enhancement.

Key-words: LANDFILL, LEACHATE, CONTROL, TREATMENT

INTRODUÇÃO

Em 1997, no Estado de São Paulo, considerado o mais desenvolvido do país, a


CETESB elaborou o primeiro inventário de Resíduos Sólidos, com avaliação dos locais
que serviam para destinação do lixo dos 645 municípios. Esse levantamento serviu de
subsídio para elaboração do Plano Estadual de Resíduos sólidos para todos os
municípios que apresentaram irregularidades na destinação final dos resíduos sólidos.
A partir de então foram observadas evoluções na qualidade dos sistemas de disposição
final do lixo urbano. Essa evolução baseia-se na elevação do número de sistemas sob
condições consideradas adequadas, que evoluiu de 4,2 para 30,6% dos municípios. Por
outro lado sabe-se que essa classificação não significa que estes sistemas constituam de
fato aterros sanitários, segundo a definição mais técnica, e sim aterros controlados, na
maioria das vezes.
Os aterros controlados, em sua grande maioria, constituem-se de sistemas que
foram convertidos a partir de lixões ou então implantados segundo as diretrizes de
novos projetos, mas que não efetuaram a devida impermeabilização, mas mantêm um
bom nível de qualidade operacional, principalmente quanto a cobertura sistemática do
lixo.
Do ponto de vista ambiental, a preocupação desses sistemas reside,
principalmente, no gerenciamento dos efluentes líquidos, seja na forma de chorume
(percolado) ou de águas do escoamento superficial. Quanto ao chorume, a maioria
desses sistemas não dispõe de um sistema efetivo de drenagem e tratamento. Quanto à
drenagem subsuperficial, normalmente verificam-se volumes de chorume muito aquém
daquele previsto em projeto, normalmente pelo balanço hídrico clássico. O chorume
assim obtido normalmente é encaminhado para lagoas de tratamento que não receberam
a devida impermeabilização ou são simplesmente recirculados a partir de poços de
sucção ou tanques de armazenamento.
Por fim, observa-se que o efluente final apresenta volumes bem inferiores
àqueles previstos, o que pode denotar uma incompatibilidade do modelo empregado ou
então, com maior probabilidade, a infiltração de grandes quantidades de chorume no
solo. Como resultado, podem ser instalados sistemas de tratamento superdimensionados
e de custo elevado.
O manejo do chorume coletado sob tais circunstâncias deve ser compatível com
a nova realidade. A simples e contínua recirculação do chorume, no caso dos aterros
controlados, pode ser problemática, uma vez que aumenta significativamente a
infiltração do chorume no solo e os riscos de contaminação do lençol freático. Tal
procedimento transfere para o solo a função de tratar o efluente, através da chamada
atenuação natural, que pode, até certos limites ser uma forma aceitável de destinação
do chorume.
A partir do exposto, este trabalho teve como objetivo efetuar uma avaliação
crítica da destinação de chorume em aterros controlados e, com base em algumas
alternativas tecnológicas, discutir e propor soluções que envolvam parâmetros quali-
quantitativos do chorume e outros de natureza geotécnica e hidrogeológica.

DISCUSSÃO

Para se atingir o objetivo proposto apresenta-se uma descrição e discussão de


estratégias, que possam ser adotadas em aterros controlados e das principais variáveis
envolvidas na tomada de decisões, acerca do tratamento ou destinação do chorume
coletado.

Qualidade do Chorume

Para mostrar a dependência da qualidade do chorume às variáveis operacionais e


de projeto, Lu et al. (1984) desenvolveram curvas mostrando mudanças na concentração
com o aumento da idade do aterro, empregando dados de vários outros aterros de
diferentes idades. Os autores mostraram que as concentrações de vários componentes
do chorume variavam consideravelmente. A idade do aterro foi considerada o fator mais
relevante na composição do chorume.
Os tipos, quantidades e taxas de produção de contaminantes do chorume de
aterros sanitários são influenciados por vários fatores, incluindo tipo e composição do
lixo, densidade, seqüência de disposição, profundidade, umidade, temperatura, tempo e
pré-tratamento. A quantificação mais precisa desses parâmetros e seus impactos, são
complexos devido à heterogeneidade do lixo encontrado nos aterros. Os mecanismos e o
alcance desses contaminantes liberados, assim como suas concentrações, não são de
fácil previsão. Portanto é de extrema importância a aquisição e análise de dados de
diferentes aterros, para que tais experiências possam ser aplicadas a novas situações.
Todavia, existem certas tendências para os níveis de concentração de
contaminantes do chorume ao longo do tempo. Lu et al. (1984) efetuaram uma revisão
extensa de pesquisas que abordavam a produção do chorume e respectivas
concentrações de contaminantes. Os autores combinaram dados obtidos desses estudos,
que resultaram em curvas similares às da Figura 1, para DBO 5 , ferro (Fe), cloro (Cl), e
nitrogênio amoniacal (N-NH3 ).
Porém, as concentrações dos diversos componentes não se alteram com a mesma
taxa para diferentes lugares, pois o tempo é apenas um dos fatores relevantes (o outro é
a infiltração). Uma alternativa é utilizar o fluxo de entrada de umidade como a variável
preponderante. Determinando-se as infiltrações de água, através de um modelo de
balanço hídrico, é possível estimar a concentração dos contaminantes. Uma vez que as
infiltrações transformam-se no chorume pela lixiviação, as concentrações desses
compostos diminuem com o tempo.

Figura 1: Variação da concentração de contaminantes do chorume com a idade do


lixo. (Lu, Eichenberger e Stearns, 1985 citado por McBean et al, 1995).

Além das diversas variáveis existentes, outros fatores devem ser considerados,
especialmente no Brasil, onde diversos locais de destinação final que não receberam
liners adequados, em função da boa operação, são considerados aterros sanitários, mas
apresentam uma série de deficiências de drenagem e controle do chorume. Além disso,
o uso indiscriminado da recirculação promove alterações significativas no processo de
degradação dos resíduos aterrados, assim como no chorume resultante.
Este fato, aliado à falta de pesquisas mais profundas sobre o tema no Brasil,
implica no desconhecimento das características qualitativas médias do chorume advindo
dos sistemas típicos de disposição de lixo doméstico existentes. Características estas,
associadas também com o tipo de lixo doméstico gerado no país, bastante diferente
daquele produzido em países do primeiro mundo, onde os sistemas e os estudos são
mais consistentes.
Estudos realizados por Cintra et al (2002), no aterro controlado de Bauru,
mostraram que a qualidade do chorume obtido no poço coletor apresentou variações
significativas ao longo das amostragens efetuadas durante o período de seis meses. Para
as amostragens de chorume efetuados no período de estudo a DBO 5 variou de 1.050
mg/l a 18.320 mg/l, e a DQO entre 3.940 mg/l e 29.920 mg/l, como mostrado na Figura
2. Portanto, houve uma variação expressiva da DBO 5 , acima de 1000%, e da DQO,
acima de 500%, e estas estiveram correlacionadas aos índices pluviométricos.
Nessas análises verificou-se que a variação da qualidade do chorume é muito
grande ao longo do ano, sendo dependente fundamentalmente das chuvas e da posição
da frente de disposição, que ocorreram nas proximidades do tanque de coleta. Além
disso os sistemas de contenção e de drenagem do aterro são muito precários, permitindo
a infiltração do chorume no solo.
A qualidade do chorume nos meses de baixa pluviosidade manteve-se bastante
uniforme, o que permite concluir que o mesmo resulta de sua estagnação ao longo dos
meses de estiagem, atingindo relações DBO 5 /DQO menores que 0,3, típicos de aterros
antigos.
A estabilidade dos parâmetros DBO 5 e DQO nesse período não é propriamente
representativa de uma massa nova de lixo, cujo chorume apresenta elevada
concentração de material biodegradável. Contudo, com a chegada das chuvas, o sistema
de drenagem passou a capturar o chorume advindo da frente de disposição, que na
época encontrava-se próximo ao poço de coletor, na parte frontal do aterro, o que elevou
significativamente os valores de DBO5 , DQO e também a relação DBO 5 /DQO. Após
essa elevação os valores de DBO 5 e DQO reduziram-se gradativamente, como resultado
da intensa lixiviação ocorrida no início do período de chuvas e o pH se elevou
concomitantemente.
Deste estudo concluiu-se que a qualidade do chorume não depende somente da
vida útil do aterro, mas de eventos e atividades operacionais do aterro, tais como
precipitação pluviométrica e localização frente de descarga. Depende também de
fatores tais como eficiência do sistema de drenagem e da qualidade da
impermeabilização da base.

35.000

30.000

25.000
Concentração (mg/l)

20.000

15.000

10.000

5.000

0
1 21 41 61 81 101 121 141
Dias

DBO5 (mg/1) DQO (mg/1)

Figura 2: Valores de DBO 5 e DQO do chorume ao longo tempo no aterro


controlado de Bauru.

Recirculação de Chorume

Diversas técnicas podem ser empregadas para manejo do chorume coletado dos
aterros, entre as quais são destacadas por Tchobanoglous (1993): a) recirculação do
chorume; b) evaporação; c) tratamento seguido de disposição; e d) disposição em
estações de tratamento de esgotos domésticos.
Estudos de Pessin e Mandelli (2000) em células impermeabilizadas do aterro
sanitário de Caxias do Sul – RJ mostraram que a DQO do chorume reduziu de valores
superiores a 15.000 mg/l para valores inferiores a 2.000 mg/l no período de 1 ano
através da recirculação do chorume. Embora não houvesse um controle efetivo das
taxas de recirculação, esse estudo demonstra os efeitos positivos da recirculação na
rápida atenuação da carga orgânica final.
Pesquisadores como Pohland e Leckie et al citados por McBean et al (1995) em
trabalhos efetuados desde 1972, sugerem que a recirculação do chorume promove o
desenvolvimento rápido das bactérias metanogênicas. Alguns dos resultados desses
estudiosos podem ser observados na Figura 3 e na Figura 4.
Dentre as vantagens da recirculação do chorume, diferentes pesquisadores citam:
§ Aceleração na estabilização biológica do aterro sanitário
§ Redução consistente dos componentes orgânicos do chorume
§ Redução volumétrica do chorume devido a evapotranspiração
§ Retarda o tempo de implantação inicial do sistema de tratamento de chorume
§ Reduz os custos do sistema de tratamento de chorume

Dentre as desvantagens, são citadas por Qasin et al (1994), McBean et al (1995)


e Bagchi (1994):
§ Apesar da redução de DBO, promove aumento da concentração de metais e
cloretos;
§ Elevação nos custos das instalações e por exigir uma rede maior de
drenagem de chorume;
§ Obstrução dos drenos de chorume; e
§ Problemas de odor;

Além desses problemas podem ser citados pelos autores deste trabalho:
§ Problemas de estabilidade do talude em aterros altos, devido ao aumento dos
níveis de saturação de água no interior do aterro;
§ Aumento dos riscos de vazamento de chorume pela elevação do nível d’água
dentro do aterro;
§ Nos aterros controlados, onde não foram adequadamente instalados os liners,
ocorre o aumento da percolação do chorume no solo;
§ Consideração errônea, por parte de alguns técnicos, que a recirculação pode
ser empregado como um método único de tratamento de chorume;
§ Durante a fase ácida, a recirculação do chorume pode promover a dissolução
de grandes quantidades de metais, resultando na inibição das atividades
microbiológicas, e portanto da degradação da matéria orgânica.

Figura 3: Efeito da recirculação do chorume na redução de DQO (Pohland, 1975


em Qasin e Chiang, 1994)

Figura 4: Efeito da recirculação do chorume na redução de DQO (Leckie et al, 1979


em Qasin e Chiang, 1994)
Deve ficar claro que a recirculação de chorume não elimina o seu tratamento
final, visto que suas características, em termos de concentração de contaminantes, ainda
permanecem inadequadas para o lançamento no corpo receptor. Porém esta estratégia
pode retardar a implantação de sistemas de armazenamento e tratamento, além de
permitir a redução no porte das unidades de tratamento.

Atenuação Natural

Historicamente, o uso da capacidade natural de atenuação do solo, tem sido


bastante comum, mesmo quando não se tinha exatamente esse conceito em mente.
Apesar disso, atualmente, considera-se que o uso da capacidade de atenuação do solo é
de alto risco e deve ser considerado somente em alguns casos particulares, tais como em
sistemas de pequeno porte. O uso da capacidade da atenuação do solo é considerado de
alto risco, com base em duas questões: estimativa da carga de contaminantes e a
quantificação dos mecanismos de atenuação dessa carga presente no chorume. O
conceito atual de sistemas de disposição considera a maximização da capacidade de
contenção e remoção do chorume.
Um local ideal para disposição, é aquele capaz de conter indefinidamente os
resíduos e o chorume resultante, com base nas características geológicas,
hidrogeológicas e através de mecanismos de engenharia. Um sistema de atenuação
natural possibilita a migração lenta dos líquidos, permitindo o envolvimento de
processos de atenuação e dispersão, reduzindo a concentração de poluentes a níveis
aceitáveis.
Embora os projetos atuais de sistemas de disposição não utilizem essa
capacidade como uma filosofia de projeto, a capacidade natural de atenuação é ainda
considerada como um importante mecanismo de segurança.
Deve-se considerar, ainda, que os sistemas predominantes no Brasil, apesar da
legislação e dos novos conceitos, são os conhecidos “lixões”, em que se emprega ao
extremo, a capacidade natural do solo em atenuar a carga de contaminantes. Na maioria
dos casos, certamente ocorrem sobrecargas que resultam na propagação de seus efeitos
a longas distâncias, caso não se sejam implantados mecanismos de contenção,
resultando na necessidade de remediação de área.
Tratamento de Chorume

Hamada et al (2002) realizaram alguns estudos acerca da tratabilidade do


chorume de aterro controlado por coagulação com sulfato de alumínio e cloreto férrico,
além do emprego de um polieletrólito aniônico e de bentonita como coadjuvantes.
Esses estudos foram aplicados para um chorume bastante estabilizado, resultado
de sua estagnação ao longo dos meses de estiagem, atingindo relações DBO 5 /DQO
menores que 0,3, típicos de aterros antigos. Como o chorume apresentava-se bastante
estabilizado, optou-se pelo emprego de processos físicos e físico-químicos para seu
tratamento. Para todos os ensaios realizados, a DQO do chorume bruto esteve próximo
a 6.000 mg/l e a DBO 5 próxima a 1.300 mg/l.
Os resultados mostraram que concentrações de sulfato de alumínio e de cloreto
férrico inferiores a 500 mg/l não promoveram alterações significativas na qualidade do
sobrenadante, assim como o uso de polieletrólito não iônico não trouxe benefícios
sensíveis, exigindo concentrações muito elevadas para que pudesse promover alterações
de alguma significância. O mesmo pode ser observado no uso de bentonita. Os
melhores resultados obtidos nesses ensaios são apresentados na Tabela 1.
Em linhas gerais, as melhores remoções de DQO e DBO 5 ficaram em torno de
50%, para concentrações muito elevadas de coagulantes, acima de 3.000 mg/l. Tal
condição inviabiliza o uso de coagulantes, pelo menos para a remoção de matéria
orgânica, uma vez que além dos custos envolvidos, resulta na produção excessiva de
lodo.

Tabela 1: Melhores resultados obtidos com o uso de sulfato de alumínio e cloreto


férrico e auxiliares de coagulação.
Coagulante Auxiliar Sobrenadante Eficiência
(mg/l) (mg/l) (%)
Tipo Concen Poliele Bento DQO DBO5 DQO DBO5
tração trólito nita
(mg/l)
Sulfato de alumínio 3500 80 3270 920 45,9 29,8
Sulfato de alumínio 3500 50 3080 860 49,0 34,4
Cloreto férrico 4000 100 2960 660 51,0 49,6
Cloreto férrico 4000 50 3460 740 42,7 43,5
A partir desses resultados efetuou-se uma comparação dos resultados obtidos
neste estudo com aqueles apresentados por Calças et al (2001), que avaliaram a
percolação do chorume em colunas contendo um solo arenoso fino, sob diferentes graus
de compactação. Para as taxas aplicadas e sob condições não saturadas, demonstrou-se
que um solo arenoso tem boa capacidade de retenção, sob condições moderadas de
compactação (densidade aparente entre 1,5 e 1,67), apresentando eficiência de remoção
de DQO de até 97% antes que ocorresse a saturação do meio, quando a eficiência se
reduzia para patamares em torno de 50%.
A partir dos estudos efetuados procurou-se traduzir os resultados obtidos como
alternativa para o tratamento de chorume. Apesar das taxas de aplicação hidráulica
serem muito baixas (0,0062 m3 /m2 .dia), observou-se um uso potencial dessa capacidade
do solo, uma vez que nos aterros sanitários a demanda de terra para cobertura é
expressiva e, portanto, em tese, disponível em quantidade.
Das observações efetuadas nos estudos de Calças et al (2001), Iwai el al (2002)
iniciaram estudos sobre as variáveis envolvidas nesse processo, objetivando o
dimensionamento e a operacionalização de um sistema que envolvesse o emprego do
solo estudado. A parte experimental do estudo visou simular condições prováveis de
campo, com o objetivo de se obter parâmetros para projeto de sistema similar. Para
tanto foram construídas 4 colunas de percolação, com diâmetro interno de 9,7 cm,
contendo uma camada de 1 m de solo arenoso fino (17% de argila). Para essas colunas
foram consideradas 4 compactações diferentes, que resultaram nas seguintes densidades
(base seca): 1,15, 1,30, 1,50 e 1,67. Tais compactações representam condições que
variam de uma situação de empolamento do solo (d=1,15), passando pela densidade
natural (d=1,5), até o limite de 80% do Proctor Normal (d=1,67).
Compararam-se os dados das diversas colunas, considerando-se diferentes
densidades do solo. Comparou-se também a variação da redução da DQO em função de
diferentes taxas de aplicação hidráulica, considerando-se a intermitência operacional da
alimentação. Na primeira bateria de ensaios aplicou-se uma única carga de chorume de
1 litro em cada semana durante 4 semanas. A resposta em termos de eficiência de
remoção de DQO das colunas não saturadas para cargas semanais é mostrada na Figura
5. Isto representa uma taxa concentrada de 0,135 m3 /m2 .dia ou uma taxa média diária
de 0,0193 m3 /m2 .dia ao longo de uma semana. Na segunda bateria de ensaios
aplicaram-se cargas diárias de 0,25 litros durante 5 dias por semana, o que representa
uma taxa concentrada de 0,0339 m3 /m2 .dia ou uma média diária semanal de 0,0241
m3 /m2 .dia. A resposta das colunas quanto a eficiência de remoção de DQO para esta
segunda bateria é mostrada na Figura 6.
Avaliando-se as respostas das alimentações diárias, apresentadas na Figura 6,
denota-se claramente o limite do sistema, com queda na eficiência de todas as colunas a
partir do 12º dia. Contudo, as duas colunas com densidades aparentes de 1,15 e 1,30
apresentaram declínio bem mais acentuado na eficiência de remoção de DQO. O ponto
de inflexão é representado pela carga de DQO total aplicada de 0,00635 kg. Este valor
implica em uma taxa de aplicação limite de 0,858 kg/m3 de solo, podendo ser um pouco
mais elevada para solos com densidade aparente acima de 1,67.
Comparando-se os resultados da Figura 6 com os da Figura 5, verificam-se
resultados semelhantes, porém em virtude da metodologia de coleta e análise das
amostras, não foi possível observar o provável ponto de inflexão. Basicamente não
apresentam valores discrepantes para os dias equivalentes.
A partir dos resultados obtidos, observa-se grande potencial para aplicação desta
alternativa para o tratamento ou pré-tratamento do chorume considerado, apresentando
remoções sistemáticas acima de 90% antes que se observe a saturação do solo com a
matéria orgânica. Observa-se também que a intermitência na alimentação, para os
valores estudados, não influência significativamente na resposta do sistema.
Apesar da capacidade limitada das colunas, deve ser lembrado que a proposição
está embasada na rotatividade do solo a ser empregado primeiramente no tratamento do
chorume e posteriormente na cobertura diária dos resíduos no aterro sanitário ou
controlado, cuja demanda de terra é bastante significativa.
100,0

90,0

80,0
Redução de DQO (%)

70,0 Densidade

60,0 1,15
1,3
50,0
1,5
40,0 1,67
30,0

20,0

10,0

-
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Dia

Figura 5: Eficiência de remoção de DQO para alimentação com intermitência


semanal, com taxa de aplicação hidráulica média de 0,0193 m3 /m2 .dia.

100,0

90,0

80,0
Redução de DQO (%)

Densidade
70,0

60,0 1,15
1,3
50,0
1,5
40,0 1,67
30,0

20,0

10,0

-
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Dia

Figura 6: Eficiência de remoção de DQO para alimentação diária, com taxa de


aplicação hidráulica média de 0,0241 m3 /m2 .dia.

CONCLUSÕES
Se por um lado em um aterro sanitário com liner eficiente o problema tende a ser
a grande quantidade chorume gerado, para um aterro controlado, a previsibilidade da
quantidade e qualidade do chorume constitui um elemento complicador para o
planejamento e adoção de estratégias de controle e tratamento. A instalação de sistemas
de tratamento de chorume esbarra na eficiência dos processos biológicos ou físico-
químicos, devido às variações quali-quantitativas típicas de aterros controlados.
Uma forma generalizada de se controlar o chorume em aterros sanitários tem
sido a sua recirculação. Contudo, essa estratégia pode ser comprometedora do ponto de
vista ambiental e estrutural, pois aumenta a taxa de percolação de chorume para o
subsolo e para o lençol freático, e a saturação da massa de lixo pode provocar
instabilidade dos taludes muito íngremes. A adoção desta estratégia é cosmética, uma
vez que se tem a impressão de eliminar o chorume pela evaporação, mas pela qualidade
da cobertura executada na maioria dos aterros controlados, e a forma de se efetuar a
recirculação, a infiltração no aterro predomina amplamente.
Em alguns casos essa estratégia pode ser aceitável em função das características
geotécnicas e hidrogeológicas da área. Alguns tipos de solos, geralmente aqueles com
teor de argila acima de 15%, mesmo sendo arenosos, tem alguma capacidade de
atenuação de contaminantes. Neste caso, a escolha do local para implantação do aterro
tem uma importância vital, pois sabe-se que a simples instalação de geomembranas, tais
como a de PEAD, por si não garantem a contenção do chorume, se não forem bem
instaladas e protegidas durante a operação.
O emprego de soluções alternativas, tais como o emprego do solo de cobertura
no pré-tratamento de chorume pode ser interessante, porém no caso de aterros
controlados em que se opta pela recirculação, o processo de lixiviação do solo de
cobertura deve ser devidamente avaliado.
Por fim, conclui-se que a melhor forma de manejo de chorume em aterros
controlados resume-se na redução de seu volume, através da execução de uma cobertura
eficiente e pouco permeável. A eficiência da cobertura se traduz também na execução
de um bom sistema de drenagem superficial, com o objetivo de minimizar o tempo de
permanência da água sobre o aterro. A recirculação pode ser efetuada dependendo das
características do subsolo e em taxas controladas. Sempre que se adotar a recirculação
do chorume, atenção redobrada deve ser estabelecida para o monitoramento das águas
subsuperficiais.
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