Abrir portas onde se erguem muros Director: Manuel Carvalho Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021 • Ano XXXII • n.º 11.
XXXII • n.º 11.430 • Edição Porto • Assinaturas 808 200 095 • 1,30€
Joachim Sauer
O cientista
que nunca
quis ser
“o marido
da chanceler”
P2 Verão
Retoma do emprego ainda não chegou
aos trabalhadores jovens e precários
Emprego regressa a níveis pré-pandemia. Covid-19 mantém 475 mil a trabalhar em casa há mais de seis meses
Ao contrário da actividade económi- recuperou e está a um nível superior
ca, que continua abaixo dos níveis ao de há dois anos, muito suportado
pré-crise, o número de empregos já pelas medidas de apoio lançadas
Futebol Loucura em Paris à chegada de Messi ao PSG, o clube mil milhões
CHRISTOPHE PETIT TESSON/EPA
Lionel Messi foi ontem parisiense. A chegada do
Ænalmente apresentado como futebolista argentino representa
jogador do PSG para êxtase de mais um balde de dinheiro
centenas de adeptos do emblema despejado no clube francês pelo
pelo Estado durante a pandemia.
Mas nem todos os segmentos do
mercado de trabalho sentiram esse
Qatar Sports Investments, o
fundo que controla o PSG desde
2011. Nada de mais para a
carteira de Nasser Al-KhelaïÆ, o
Erosão costeira
A solução para resolver o
problema de areias na Figueira
da Foz? Um bypass fixo
Local, 15
Educação
Há uma floresta de manuais
para abate. Poderá o ministério
assumir a sua reutilização?
Sociedade, 13
resultado, mostram os dados agora menos qualiÆcados, para quem a
divulgados pelo INE. É o caso dos retoma do emprego tarda em chegar
trabalhadores jovens, precários e Economia, 20/21 e Editorial
Ensino superior
Verbas abrem
conflito entre
universidades
e politécnicos
Governo aplicou fórmula de finan-
ciamento que não era usada desde
2008. Medida não agrada a ninguém
no sector Sociedade, 12/13
Cabo Delgado
Jihadistas têm
quatro líderes
e um deles
é uma mulher
Mundo, 17
Jovens
“É muito mais
seguro fazer
a vacina do que
ter a doença”
homem que desde que assumiu o Presidente da Sociedade de Cardio-
controlo do PSG já gastou cerca logia Pediátrica defende vacinação
de 1,3 mil milhões de euros só em universal dos 12 aos 15 anos. Compli-
contratações Desporto, 26/27 cações são raras Destaque, 2 a 5
PUBLICIDADE
ISNN-0872-1556
2 • Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021
Destaque Covid-19
Vacinação
dos jovens
dos 12 aos 15
arranca a
21 de Agosto
Gouveia e Melo apela à vacinação de
adolescentes, apesar do período de férias.
Auto-agendamento para maiores de 18
anos suspenso entre hoje e sábado
Sofia Neves
D
epois de a Direcção-Geral da
Saúde (DGS) recomendar, na
terça-feira, a vacinação uni-
versal dos jovens dos 12 aos
15 anos contra a covid-19, já
há datas para a abertura do
auto-agendamento e para o início (e
Æm) do processo de vacinação deste
grupo etário.
Entre hoje e sábado, os adolescen-
tes dos 12 aos 15 anos poderão auto-
agendar a vacinação contra a covid-
19 no portal de auto-agendamento,
segundo informou ontem a task for-
ce que coordena o processo em Por-
tugal.
De acordo com o calendário esta-
belecido, este grupo etário vai ser
todo vacinado nos Æns-de-semana de
21 e 22 de Agosto e de 28 e 29 de Agos-
to. O vice-almirante Gouveia e Melo
explicou que foram designados dois
Æns-de-semana para que exista uma
“maior Çexibilidade por causa das
férias”. Os jovens dos 12 aos 15 anos
que forem vacinados com a primeira
dose a 21 e 22 de Agosto serão inocu-
lados com a segunda dose no Æm-de-
semana de 11 e 12 de Setembro. Já os
adolescentes que forem vacinados
com a primeira dose a 28 e 29 de
Agosto serão inoculados com a segun-
da dose no Æm-de-semana de 18 e 19
de Setembro. As segundas doses são
agendadas pelo sistema e serão admi-
nistradas sempre no local onde foi
recebida a primeira dose, é relembra-
do na nota.
A task force esclarece ainda que,
nestes três dias, o auto-agendamento
para quem tem 18 ou mais anos ficará
temporariamente suspenso, sendo
retomado a 15 de Agosto. No entanto,
a modalidade Casa Aberta, que entrou
na terça-feira em funcionamento para
as pessoas acima de 18 anos, continua-
rá a estar disponível para todos os
adultos.
“Perdemos 20 mil doses”
Na manhã de ontem, o coordenador
da task force para a vacinação contra
a covid-19 em Portugal já tinha avan-
çado que a vacinação universal dos
adolescentes entre os 12 e os 15 anos
estava a ser planeada para os últimos
Æns-de-semana de Agosto, para que
“o processo fosse mais organizado”.
Questionado sobre a abertura da
modalidade Casa Aberta para esta
faixa etária, o coordenador pôs de
lado essa hipótese, pelo menos para
as próximas semanas. “Tudo indica
que vai correr bem. Claro que, se não
correr tão bem como prevemos em
termos de auto-agendamentos,
encontraremos outras soluções para
trazer os jovens à vacinação, que isso
é que é o importante”, disse Henrique
Gouveia e Melo numa visita a um cen-
tro de vacinação em Braga.
O coordenador deixou uma mensa-
gem aos pais dos 400 mil adolescentes
que já poderão ser vacinados nos últi-
mos Æns-de-semana de Agosto. “A
vacina é segura, é eÆcaz e numa pan-
demia não ser vacinado com a vacina
é ser vacinado com vírus. É uma ques-
tão de tempo. Se não quiserem ser
vacinados, correm o risco de serem
infectados e de não estarem a prote-
ger os jovens que ainda não estão em
idade de vacinação.”
Durante a visita ao centro, o coor-
OMS avalia três fármacos para tratar a covid-19
A
Organização Mundial da
Saúde (OMS) vai retomar
os ensaios clínicos de
medicamentos que
podem ter utilidade para tratar
a covid-19.
O ensaio Solidarity Plus vai
testar três medicamentos que já
são usados para outras doenças,
para verificar se podem ter
utilidade para tratar os efeitos da
covid-19: o artesunato, que é
usado para tratar casos graves
de malária; o imatinib, utilizado
para quimioterapia por via oral
para tratar alguns cancros; e o
infliximab, um medicamento
usado para combater a
inflamação em várias doenças
denador deu ainda conta de que o
país tem “uma percentagem muito
pequena de doses perdidas” face a
outros países. “E isso deixa-me con-
tente. Já demos cerca de 13 milhões de
doses e perdemos cerca de 20 mil
doses.”
Gouveia e Melo avançou ainda que
já estava planeado que a vacinação
desta faixa etária terminasse a 19 de
Setembro, para coincidir com o início
do ano lectivo. “Continuamos com
auto-imunes, como a artrite
reumatóide e a doença de
Crohn .
Tentar descobrir se
medicamentos já existentes
poderão ser úteis para tratar
uma doença nova como a
covid-19 é o objectivo desta
iniciativa.
Afinal, são poucos os
medicamentos que temos para
tratar a doença provocada pelo
SARS-CoV-2 salientou ontem o
director-geral da Organização
Mundial da Saúde, Tedros
Adhanom Ghebreyesus, numa
conferência de imprensa online
em que foi apresentada a
iniciativa. Clara Barata
essa meta e tudo indica que vamos
atingi-la”, disse. “Tenho uma forte
convicção de que, agora com a deci-
são da DGS [de aprovar a vacinação
universal dos 12 aos 15 anos], vamos
conseguir vacinar mais pessoas e
vamos, eventualmente, atingir a imu-
nidade de grupo, porque temos mais
pessoas para vacinar. Vacinando aci-
ma de 85% a 90% da nossa população,
muito provavelmente iremos atingir
essa imunidade. Estamos a tentar
fazer isso o mais rapidamente possí-
vel, para que possamos ter a nossa
vida e a nossa economia recuperada,
mas para que também não morram
pessoas com este vírus.”
A meta é que Portugal chegue, no
Æm de Agosto, a 90% da população
elegível vacinada com a primeira dose
e, no Æm de Setembro, com a segunda
dose. O vice-almirante referiu ainda
que “o último esforço, a última pan-
cada que podemos dar ao vírus”,
depende muito de todos os jovens e
da sua comparência no processo de
vacinação. “Estamos a fazer todo o
tipo de agendamentos: auto-agenda-
mento normal e em Casa Aberta com
senhas. Estamos a facilitar, para que
os jovens compareçam. Ainda temos
de vacinar cerca de 1,5 milhões de
pessoas com primeiras doses, princi-
palmente jovens, e depois de dar as
segundas doses. Ainda temos pela
frente um processo não muito longo,
mas árduo.”
 Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021 • 3

PAULO PIMENTA

Presidente da Sociedade de Cardiologia Pediátrica

“É muito mais seguro” ser vacinado

contra a covid-19 “do que ter a doença”
Alexandra Campos
Nos raros casos em que
acontece, a doença “é quase
sempre muito grave,
podem resultar sequelas”,
diz Maria João Baptista
ting System, de Junho passado — que
indicam que, entre os 12 e os 29 anos,
foram reportados 40.6 casos de mio-
cardite por milhão de vacinados após
a segunda dose (sexo masculino) e
4.2 por milhão (sexo feminino).
Num dos pratos da balança, por-
tanto, estão os casos de miocardites
e pericardites que têm sido associa-
reportado é um efeito facilmente
identiÆcável e tratável e que aparen-
temente não deixa sequelas”.
Exemplo de outros países
O que foi observado nos EUA e na
maior parte dos países da Europa
[onde a vacinação dos adolescentes
já começou] é que “os jovens que
que estiveram em cuidados intensi-
vos “tinham todas miocardites, lesão
inÇamatória muito grave do múscu-
lo cardíaco” que conduziu a “insuÆ#
ciência cardíaca”.
O que a evidência indica, conclui,
“é que a opção mais segura é fazer a
vacina em alternativa a não fazer a
vacina e ter a doença”. Além disso,

Entre hoje e sábado, os
adolescentes dos 12 aos 15
anos poderão auto-agendar
a vacinação
H
abituada a ver crianças e
jovens muito doentes, a
presidente da Sociedade
Portuguesa de Cardiologia
Pediátrica, Maria João Bap-
tista, defende a vacinação
universal contra a covid-19 dos ado-
lescentes entre os 12 e os 15 anos,
porque, pondo nos pratos da balan-
ça os efeitos adversos que têm sido
associados à vacinação e o impacto
e as sequelas que a doença pode ter
nestas idades, conclui que “é muito
mais seguro fazer a vacina do que ter
a doença”.
A médica que trabalha em medici-
na intensiva e é directora clínica do
Centro Hospitalar e Universitário de
S. João (Porto) assume que a sua posi-
ção em relação a este assunto foi-se
alterando à medida que foi tendo
dos à vacina. No outro está a proba-
bilidade de um jovem Æcar infectado
com SAR-CoV-2 , ter uma forma gra-
ve de doença e necessitar de cuida-
dos intensivos. Maria João Baptista
defende que este risco, apesar de ser
muito raro, “é mais elevado do que
o potencial efeito que a vacina possa
ter”. Quando acontece, “a doença é
quase sempre muito grave, podem
resultar sequelas importantes, e o
efeito lateral da vacina que está
tiveram miocardites e pericardites
rapidamente Æcaram bem e voltaram
para a sua actividade normal,
enquanto os que Æcaram internados
em cuidados intensivos têm seque-
las”, reforça. “Costumo dar o exem-
plo da febre: se tomar a vacina posso
ter uma febrícula que passa rapida-
mente; se tiver covid, Æco com febre
alta durante muito tempo.”
A cardiologista pediátrica repete
que a sua posição foi evoluindo des-
de o início da pandemia. “Quando a
pandemia começou, o que era taxa-
tivo era que as crianças tinham uma
forma muito leve da doença, não
tínhamos praticamente crianças
internadas, era uma doença das pes-
soas mais velhas”, recorda. Mas, à
medida que o tempo foi passando e
o vírus se foi adaptando, “cada vez
realça, se as pessoas estão alertadas
para a possibilidade de um efeito
lateral, isso “é uma imensa mais-va-
lia”. “Se quatro a 14 dias depois tive-
rem queixas de dor no peito, palpi-
tações ou alguma sensação de falta
de ar, devem ir ao hospital ou procu-
rar o médico de família para serem
avaliados”, aconselha.
O facto de os médicos estarem divi-
didos em relação a este assunto é
compreensível. “Isto depende muito
da nossa experiência. Se eu não tra-
balhasse nos cuidados intensivos, se
não tivesse visto adolescentes tão
doentes, se calhar era mais permis-
siva. No entanto, e isto não é uma
atitude alarmista, também não é ver-
dade que os adolescentes passem
incólumes pela covid-19, não só pelo
impacto na saúde cardiovascular,

Segundo o plano apresentado no

Æm de Julho pelo Governo, a segunda
“fase de libertação” da sociedade e
da economia só arrancará quando
70% da população tiver a vacinação
completa, algo que está previsto para
o início de Setembro. A terceira (e
última) fase deste novo desconÆna-
mento deve começar quando 85% da
população tiver a vacinação comple-
ta, algo que Governo e task force acre-
ditam que acontecerá no início de
Outubro.
Até terça-feira, 62% da população
portuguesa já se encontrava comple-
tamente imunizada com as duas
doses da vacina (ou uma, no caso da
vacina da Janssen) e 71% já tinha pelo
menos uma dose.
Horas mais tarde, de visita a um
centro de vacinação em Viseu, Gou-
veia e Melo foi questionado sobre
quem já tinha vacinação marcada
para os Æns-de-semana em que os
jovens receberão as suas vacinas e
explicou que alguns agendamentos
foram remarcados para outros dias.
“Há disponibilidade nos centros para
vacinar grande quantidade de popu-
lação. Precisamos que essa popula-
ção saia do comodismo das férias,
que também são importantes, mas
mais importante é não dar férias ao
vírus”, disse. Acrescentou que o país
continua a vacinar cerca de 80 mil
por dia, mas o objectivo é chegar a
120 mil para “encurralar o vírus”.
acesso a mais dados. “Numa fase ini-
cial dizia aos pais: ‘Não há evidência
(...) Não é verdade mais percebemos que algumas das
pessoas mais jovens podem ter for-
mas também porque a pandemia tem
um impacto terrível na auto-estima,
suÆciente [sobre se se deve vacinar que os adolescentes mas de doença que são graves”. na parte emocional, na parte mental
todos ou não], vamos esperar.’ Mas
agora o que digo é que na esmagado- passem incólumes No Centro Hospitalar e Universitá-
rio de S. João, desde o início deste
de um adolescente. Um impacto que
se calhar só vamos conseguir perce-
ra maioria dos casos deve fazer-se a
vacina.”
pela covid-19 (...) ano, oito crianças com covid-19 tive-
ram de ser internadas nos cuidados
ber daqui a 20 ou 30 anos. A pande-
mia tem implicado para os mais
Um dos argumentos dos que são Maria João Baptista intensivos, “todas com um quadro jovens uma vivência completamente
contra a vacinação universal dos Presidente da Sociedade de insuÆciência aguda, na sequência disruptiva e até por isso, a nível indi-
adolescentes é o de que têm surgido Portuguesa de Cardiologia de um processo de miocardite, e vidual, quanto mais depressa isto
casos, muito raros, de miocardite Pediátrica todas eram saudáveis”. Ou seja, as acabar, melhor”, remata.
(inÇamação do músculo cardíaco) e NELSON GARRIDO
pericardite (inÇamação da membra-
na que envolve o coração) associa-
dos a vacinas RNA mensageiro (PÆ#
zer e Moderna). Maria João Baptista
remete, a este propósito, para estu-
dos do Centers for Disease Control
and Prevention (CDC) norte-ameri-
cano que “estimam que, por cada
milhão de adolescentes vacinados,
haja um potencial número de mio-
cardites em adolescentes do sexo
masculino” que ronda “56-69”, mas
que, em simultâneo, calculam que
a vacinação “permitiu evitar 8500
casos de covid-19, 183 hospitaliza-
ções, 38 admissões em cuidados
intensivos e uma morte por milhão
de adolescentes vacinados do sexo
masculino entre os 12 e os 17
anos”.
“Para as raparigas o benefício é
maior, dado ser previsto um número
de 8-10 casos de miopericardite com
o mesmo benefício potencial”, assi-
nala a médica. Invoca ainda os dados
do US Vaccine Adverse Events Repor- Médica diz que os efeitos das vacinas são facilmente identificados e tratados, não deixando sequelas
4 • Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021
Destaque Covid-19
Vacinação contra a covid-19
Se for necessária uma dose
de reforço, que efeitos esperar?
Teresa Sofia SerafimTexto
Paulo Pimenta Fotografia
Imunologistas respondem
a questões sobre a duração
da imunidade da vacina
ou como são quantificadas
as células de memória
a pergunta de um milhão de
É
euros: quanto tempo dura a
imunidade deixada pelas vaci-
nas contra a covid-19? Aquilo
que se sabe até agora é que os
anticorpos — que é o mais fácil
de quantiÆcar — já foram
detectados mais de seis meses após
a vacinação. Apesar de os anticorpos
que circulam no sangue serem muito
importantes, não são a única parte
do sistema imunitário. Por isso, mes-
mo que os anticorpos diminuam ao
longo do tempo e caso até se seja
infectado, Æcamos com células de
memória que nos poderão proteger
da doença grave.
Mas se é relativamente fácil quan-
tificar anticorpos, como se determi-
nam as células de memória? Portan-
to, o que se sabe já sobre a duração
da imunidade após as inoculações?
E, com o que se sabe, já se justifica
uma terceira dose? Caso venha mes-
mo a ser dada, os efeitos secundários
poderão ser piores? Estas são as ques-
tões que colocámos a imunologistas
e investigadores que estão a estudar
a imunidade depois da vacinação.
Qual é a duração
da imunidade deixada
pelas vacinas?
Continua a ser um assunto em estu-
do. A imunologista Helena Soares
refere que as últimas investigações
nos EUA apontam para que ainda
haja anticorpos nos vacinados após
oito meses. “É normal que haja uma
decaída nos níveis de anticorpos e
isso veriÆca-se em todas as doenças
e em todas as vacinas. Os níveis máxi-
mos não se mantêm indeÆnidamen-
te”, nota a investigadora do Centro
de Estudos de Doenças Crónicas
(Cedoc) da Universidade Nova de Lis-
boa. “Neste momento, ainda não
sabemos qual o nível necessário para
conferir protecção, mas estudos indi-
cam que oito meses após a vacinação
ainda há anticorpos protectores em
circulação.”
Helena Soares assinala que, em
qualquer que seja a infecção, há um
decréscimo de anticorpos protecto-
res (mais ou menos acelerado),
depois há uma estabilização e até
podem vir a diminuir mais e aí ser
necessário um reforço na vacinação.
Por isso, é preciso ir acompanhando
a resposta protectora em tempo real
— como se tem feito. “É necessário
tempo para percebermos se vão esta-
bilizar ou se continuam a diminuir e
até que ponto é que diminuem.” A
sua equipa está precisamente a seguir
um grupo de proÆssionais de saúde
do Hospital Professor Doutor Fernan-
do Fonseca (Amadora) que foram
vacinados em Janeiro. Até agora, des-
ses mais de 80 indivíduos, no geral,
viu-se que há um pico de anticorpos
que se mantém aos três meses após
a inoculação.
Também a equipa do imunologista
Marc Veldhoen tem acompanhado a
resposta imunitária em pessoas vaci-
nadas em Portugal. VeriÆcou-se que
os níveis de anticorpos em 161 vaci-
nados eram muito mais homogéneos
do que as pessoas que tinham tido
uma infecção natural. “Todos tinham
bons níveis de anticorpos, mas depois
da infecção natural eram mais hete-
rogéneos, dependendo da gravidade
da doença”, indica o investigador do
Instituto de Medicina Molecular
(IMM) da Universidade de Lisboa.
Nesse estudo só se avaliaram os pri-
meiros três meses, mas os “níveis
eram elevados” nessa altura. Mesmo
assim, destaca: “Não há razão para
assumir que os anticorpos depois da
vacinação são diferentes depois dos
da infecção natural. Depois da infec-
ção, já encontrámos anticorpos pre-
sentes entre 12 e 13 meses.”
Até agora, através de outros estu-
dos, já se viu que há anticorpos nas
pessoas vacinadas há mais de seis
meses. O imunologista reforça que
esses anticorpos irão diminuir ao
longo do tempo, dependendo do
indivíduo, o que acabará por aumen-
tar o risco de infecção. “O tempo [da
diminuição] é diferente de pessoa
para pessoa, mas para a maioria de
nós não acontecerá em seis meses”,
nota. Ter níveis de anticorpos mais
elevados torna mais provável que
tenhamos mais anticorpos neutrali-
zantes e que haja maior protecção
contra a reinfecção. Se os níveis
forem mais baixos, não quer dizer
que não se esteja protegido contra a
reinfecção, mas a probabilidade de
a ter é mais alta.
“Não será o nível mas a qualidade
dos anticorpos que as pessoas produ-
zem que determinará, com o tempo,
quando a infecção for um risco”, avi-
sa. “As infecções acontecerão e isso
não signiÆca que as vacinas não fun-
cionam — elas protegem-nos da doen-
ça grave.” O imunologista frisa que o
SARS-CoV-2 é “um vírus que invade a
mucosa” e que encontrará um local
no nosso tracto respiratório superior
quando os níveis de anticorpos forem
mais baixos ao longo do tempo. “É
como os coronavírus funcionam e a
ideia é que a pressão imunitária que
acumulamos com a vacina torne o
vírus menos prejudicial.”
Portanto, não se pode pensar nos
anticorpos por si só. “É muito impor-
tante frisar que este é apenas um dos
aspectos de como a vacina nos pro-
tege.” A protecção do risco de doen-
ça é muito importante e as vacinas
dão-nos uma protecção contra ela.
As designadas “células de memória”
encontradas após a vacinação irão
proteger a maioria de nós contra a
doença grave ao longo do tempo.
Por sua vez, o imunologista Carlos
Penha Gonçalves corrobora que, pelo
que sabemos dos ensaios clínicos das
vacinas, a imunidade durará pelo
menos seis meses. “De modo geral,
esperamos que uma vacina destas dê
uma protecção de cerca ou para lá de
um ano”, lança o investigador do Ins-
tituto Gulbenkian de Ciência (IGC),
em Oeiras, que adianta que já houve
algumas mudanças de cenário desde
o início dos ensaios, como uma nova
estirpe dominante mais transmissí-
vel, a Delta, e que a eÆcácia das vaci-
nas não é de 100%.
O imunologista destaca que aquilo
que os ensaios mostraram é que as
vacinas que estão a ser administradas
dão sobretudo protecção contra
internamentos, doença grave e mor- Já foram detectados anticorpos um certo plateau e estabiliza, mas é
te. “Em muitos países com as campa- mais de seis meses após a natural que vá caindo. O que era
nhas de vacinação avançadas, vacinação contra a covid-19 importante percebermos nesta queda
incluindo o nosso, passou-se pela é onde está o ponto de corte”, apon-
invasão de uma variante com índices ta. Ou seja, a partir de que quantidade
de letalidade e morbilidade mais bai- de anticorpos se pode dizer que se
xos do que teria acontecido antes. O precisa de revacinar uma pessoa por-
que mudou? Metade da população que não está protegida, considera.
estava vacinada [quando a variante O professor da Universidade de
se estava a espalhar]”, frisa o cientis- Coimbra refere que vamos ter de
ta, que está a estudar a imunidade em seguir os estudos sobre a imunidade
lares desde a vacinação. “Com a ida- em Portugal, porque os resultados
de, as pessoas tendem a ter uma res-
posta aos anticorpos um pouco mais Sobretudo em podem depender muito da popula-
ção. “Não podemos apenas extrapo-
baixa, mas isso é expectável, pois as
pessoas com a idade têm reacções
grupos vulneráveis, lar o que é feito num país nórdico ou
nos EUA para a nossa população”,
imunológicas menos robustas.”
Manuel Santos Rosa, professor
uma terceira dose diz, sublinhando a importância do
estudo serológico a cinco mil funcio-
catedrático da Faculdade de Medicina não deve resultar nários e utentes dos lares de idosos
da Universidade de Coimbra, subli-
nha que, pelo que se conhece de estu- numa reacção muito anunciado pelo Governo.
dos mais recentes, a descida de anti-
corpos — algo normal — apenas nos forte. O sistema Os anticorpos são
importantes, mas não
mostra que a resposta imunitária ao
nível da memória de produção de
imunitário tem meios a única resposta imunitária.
anticorpos pode baixar “signiÆcativa
e rapidamente”. “Até que ponto deixa
para nos proteger Que outras partes
estão envolvidas?
uma pessoa desprotegida ainda é Marc Veldhoen
uma dúvida”, aÆrma. “Às vezes, faz Imunologista Os anticorpos irão reduzir-se lenta-

mente no sangue, mas as células que
os produzem (os linfócitos B) e as que
atacam as células infectadas e param
a infecção (os linfócitos T) serão gera-
das como “células de memória”.
“Elas existirão durante muitos anos,
possivelmente durante toda a vida”,
diz Marc Veldhoen. Isto é válido tanto
para a infecção natural como para a
vacinação, e protegerá a maioria de
nós contra a doença grave.
O imunologista explica que, depois
da segunda dose, em duas ou três
semanas uma pessoa tem muitos
anticorpos. Depois, se não se encon-
trar com o vírus (ou com outra dose
da vacina), o corpo começa a reduzir
o número de linfócitos B (e, claro, de
anticorpos). “Este processo é rápido
— é uma fase de contracção — e não
deve ser confundido com o desapa-
recimento de anticorpos”, ressalva.
Dependendo da pessoa, o nível de
anticorpos estabiliza à volta dos três
meses e mantém-se durante um
período considerável com uma baixa
redução. Passado algum tempo,
podem mesmo Æcar abaixo da detec-
ção. Contudo, se for necessário, os
linfócitos B irão produzir novos anti-
corpos e os linfócitos T matar as célu-
las infectadas para parar a sua multi-
plicação no corpo. “Se todos os linfó-
citos B se mantivessem contra todas
as bactérias e vírus que encontramos,
o sangue seria como lama e muito
marcado por proteínas!”
Carlos Penha Gonçalves também
realça que a queda de anticorpos
após a vacinação é expectável. “O
problema é que não sabemos se a
queda de anticorpos tem ou não uma
correlação com o grau de protecção
vacinal.” Porquê? Por causa das célu-
las de memória. “Estas células estão
lá para produzir mais anticorpos
assim que virem o vírus. Essa é a res-
posta de memória.” As células de
memória estão sinalizadas e vivem no
nosso corpo dezenas de anos. Se vol-
tarem a encontrar o vírus, desatam a
produzir anticorpos. “Como não
podemos ter anticorpos para milha-
res de organismos ao mesmo tempo
com níveis muito altos, temos estas
células de memória que respondem
à medida que vamos tendo contactos
com agentes infecciosos.”
Como se medem
as células de memória?
É relativamente fácil quantiÆcar os
anticorpos, mas o mesmo não se
pode dizer das células de memória.
Helena Soares diz que a determina-
ção de linfócitos B e T é mais difícil,
mais cara e requer mais tempo. “Para
identiÆcar linfócitos B precisamos
pelo menos de um dia ou um dia e
meio para toda a experiência”, conta.
Também é um teste mais difícil de
automatizar. Tudo isto faz com que
seja mais difícil de fazer num labora-
tório de análises clínicas e sejam
sobretudo feitos em laboratórios de
investigação cientíÆca.
E como se fazem? Isolam-se as célu-
las do sangue de pessoas vacinadas.
Depois, tiram-se os glóbulos verme-
lhos e Æcam os glóbulos brancos, que
vão ser incubados (tanto os linfócitos
B como os T) com uma proteína da
espícula do coronavírus usada nas
vacinas. Os linfócitos T especíÆcos
para a proteína da espícula são acti-
vados quando a reconhecem e são,
assim, identiÆcados. Já os linfócitos
Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021 • 5
B especíÆcos são isolados com um
fragmento da proteína. Como os lin-
fócitos B expressam na sua superfície,
isso permite que os anticorpos se
liguem directamente à proteína e
sejam detectados.
Carlos Penha Gonçalves ressalva
que esta metodologia é mais comple-
xa do que a quantiÆcação dos anti-
corpos e que, mesmo detectando-se
células de memória, elas estão num
número relativamente pequeno no
sangue. “Não vamos Æcar com a cer-
teza se são suÆcientes para proteger
a pessoa.” Portanto, é algo que se
analisará ao longo do tempo e por
comparação. Se se realizar um estudo
com pessoas vacinadas e se se obser-
var as que Æcam infectadas, vai-se
percebendo a quantidade de células
que é preciso para proteger as pes-
soas da infecção.
Também Manuel Santos Rosa avisa
que esta análise é mais soÆsticada do
que a dos anticorpos e que será feita
como “uma avaliação de investiga-
ção”, mas não como algo abrangente.
Mesmo assim, alerta que para se
quantiÆcar os anticorpos não bastam
os kits comerciais (que apenas detec-
tam a presença, mas não os quantiÆ#
cam) e que isso terá de ser feito em
laboratório. Marc Veldhoen concorda
que a quantiÆcação de células de
memória não é um teste de rotina e
que não será feito em larga escala —
nem será necessário que seja.
Com o que se sabe sobre
a imunidade deixada pelas
vacinas, justifica-se mesmo
uma terceira dose?
No geral, os imunologistas contacta-
dos pelo PÚBLICO dizem que ainda
não há dados suÆcientes e é cedo
para se tomar essa decisão, mas con-
cordam que poderá ser necessária
para as pessoas mais vulneráveis.
“Não acho que uma terceira dose se
justiÆque para todos, mas para uma
minoria das pessoas”, considera Marc
Veldhoen. O imunologista refere que
pessoas que tomam medicamentos
imunossupressores (como os do can-
cro e de transplantes) beneÆciarão de
uma dose de reforço e que até pode-
rá ser uma boa estratégia para reduzir
potenciais infecções nos meses de
Inverno. Mas pensa que uma dose de
reforço nos idosos será uma decisão
política. “Talvez seja logisticamente
mais fácil do que testá-los a todos aos
anticorpos”, indica. “É muito mais
importante para todos nós, incluindo
em Portugal, que toda a gente no
mundo tenha uma primeira e segun-
da doses. Isto é que protegerá muitas
pessoas e aumentará a pressão sobre
vírus no seu desenvolvimento para
variantes mais leves e até nos poderá
proteger a todos da necessidade de
mais doses.”
Para Helena Soares, os dados ainda
são muito preliminares e será neces-
sário avaliar a imunidade das pessoas.
“Parece-me um pouco cedo para a
terceira dose a nível universal”, con-
sidera. Mesmo assim, pensa que isto
não quer dizer que venha a ser posta
em prática. “Sabe-se que a resposta
imunitária nos idosos é mais fraca do
que na população adulta, mas temos
de ir seguindo a resposta imunitária
das pessoas vacinadas”, salienta. A
imunologista reforça que ainda não
há todos os dados para saber se a pes-
soa está protegida ou não: “Os anti-
corpos são uma boa pista, mas não
são a única resposta.”
Carlos Penha Gonçalves frisa pre-
cisamente que é difícil fazer essa ava-
liação só pela análise aos anticorpos.
“Não pode ser o único factor que tem
que ver com a imunidade celular”,
apela. É preciso ter em conta a sus-
peita de novas variantes mais preo-
cupantes ou outros aspectos na evo-
lução da pandemia, bem como saber
quais as pessoas que estão a Æcar
doentes e se isso está relacionado
com a idade ou com certas doenças.
“Isso também vai determinar a estra-
tégia de fazermos uma terceira dose,
se tal for necessário.”
Se for necessária uma
dose de reforço, os efeitos
poderão ser piores?
Pensa-se que não. “Uma terceira
dose não deve ser diferente de uma
primeira ou segunda dose”, indica
Marc Veldhoen. O investigador diz
que há literatura cientíÆca que indica
que, se alguns dos efeitos adversos
acontecerem na primeira dose, há
menos probabilidade de virem tam-
bém com a segunda. “Sobretudo em
grupos vulneráveis, uma terceira
dose não deve resultar numa reacção
muito forte. O nosso sistema imuni-
tário tem meios para nos proteger”,
adianta. “Uma terceira dose irá resul-
tar sobretudo numa resposta com
melhor qualidade e tanto as células
de memória geradas e os anticorpos
produzidos ainda são melhores e
circulam no nosso sangue com níveis
mais elevados. Isto é como o nosso
corpo responde à infecção e é perfei-
tamente natural!”
Helena Soares também nota que se
espera que não sejam piores. “Será
de esperar que pessoas que nem tive-
ram efeitos secundários continuem
a não os ter, mas não há maneira de
saber. Piorar não será previsível.”
Aliás, até acrescenta que os efeitos
secundários não fazem propriamen-
te mal: “É o nosso sistema imunitário
a responder.”
Manuel Santos Rosa também não
está convicto de que um novo reforço
possa vir a criar grandes problemas,
mas também avisa que a solução não
é agora dar-se já uma terceira dose,
depois daqui a uns meses uma quar-
ta e por aí adiante. “O sistema imuni-
tário é muito Çexível, mas também é
muito complexo.” Por agora, pede
que se continuem a usar as medidas
não farmacológicas, como a máscara.
“A par da vacina, são as armas que
temos contra a pandemia.”
6 • Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021

Espaço público

Boas notícias para questionar o conformismo

N
ão há outra forma de o
Editorial dizer: as últimas notícias
sobre o estado da
economia e o mercado de
emprego são francamente
boas. No segundo trimestre, ainda
com as sequelas do brutal
Manuel Carvalho conÆnamento de Janeiro a marcar a
conjuntura e a conÆança das pessoas
e dos empresários, a economia
registou um crescimento de 4,9% em
cadeia e de 15,5% em comparação
com o trimestre homólogo de 2020.
E, a acompanhar o aquecimento
económico, também o emprego
revelou uma excelente notícia, com o
número de portugueses a trabalhar
acima dos valores registados antes da
Portugal pode sair da pandemia — em concreto, entre Abril
pandemia sem feridas e Junho havia mais 36 mil
incuráveis, mas, se não portugueses com emprego do que
aproveitar a boa notícia nos mesmos meses de 2019.
Há três leituras possíveis desta
para fazer mudanças conjugação favorável de indicadores:
corajosas , depressa a primeira é a legítima constatação
regressará à modorra de que, na frente económica e do
trabalho, o pior já passou; a segunda
é que Portugal vai sair da crise sem
grandes feridas para sarar; e a
terceira é que, com as ajudas
europeias, o país pode até acreditar
no princípio do Æm do seu longo e
penoso período de letargia
económica. Estas expectativas
podem estar até ancoradas em
alguns indicadores, mas convém
encará-las com prudência. Uma nova
fase de crescimento exige aquilo que
o Presidente da República refere
como uma “reconstrução” e não
apenas uma “recuperação”.
Ainda que o país e a Europa
tenham afastado as profecias mais
negativas do conÆnamento, ainda
que a capacidade de resistência dos
portugueses e das suas empresas
possam suscitar espanto ou aplauso,
convém notar que os impactes da
pandemia ainda não se Æzeram sentir
por inteiro — como a falência da
Dielmar comprova. As sequelas da
crise no tecido produtivo e social
ainda estão para vir. Convém
reconhecer que ainda nada está
ganho. Acreditar que a ida ao banco
para levantar dinheiro europeu basta
para que Portugal acompanhe os
emergentes do Leste ou do Báltico é
apenas um lírico acto de fé.
É neste contexto que vale a pena
reÇectir sobre os últimos dados do
INE. Sim, sempre que em
diÆculdades, o país reage e faz prova
de vida — já o tinha feito nos anos da
troika. O que tem faltado é pegar
nesse poder de resistência para
acelerar a mudança de um modelo
económico empedernido por um
Estado obeso e centralista que
penaliza os jovens, eterniza os
salários baixos e abafa a energia
colectiva. Portugal pode sair da
pandemia sem feridas incuráveis,
mas, se não aproveitar a boa notícia
para ousar fazer mudanças corajosas,
depressa regressará à modorra que o
tem conduzido inexoravelmente para
a cauda da economia europeia.

CARTAS AO DIRECTOR
Sonora incivilidade
Um estrondo pavoroso atroa
rasgando a noite. Quase três da
manhã, mas podiam ser quatro,
cinco e mais. De férias em
Quarteira, junto da rotunda grande
(oeste). A sucessão de estampidos
que se segue sobressalta o silêncio
desta entrada de Vilamoura.
Percorrendo a Av. do Atlântico
num despautério de ruídos vai uma
caranguejola. Proveniente de toda
a casta de veículos, o fenómeno
repete-se todas as noites, todos os
anos, nos Verões das mais de
quatro décadas que aqui tenho
passado. Mas também acontece
noutras paragens igualmente
pacatas, como Évora. Intriga-me
que ninguém reaja,
desencadeando uma qualquer
previdência. Nos primeiros dias
ainda me suspendo na expectativa
de um sinal de autoridade, alguma
iniciativa capaz de repor a ordem
sonora da madrugada balnear
portuguesa, inaugurando por Æm
um culto do sossego cívico que
deveria ser a regra de ouro. Nada
acontece. Nunca. Estaremos
condenados à selvajaria da
algazarra sonora incessante?
João Pereira, Quarteira
Anarquia
em Carcavelos
A melhor praia da linha é
naturalmente a mais concorrida,
não só pelo espaço, mas também
pela maior oferta de
parqueamento. Acontece que
atualmente mais parece uma praia
exclusiva para as escolas de surf. A
partir das 10h30, os banhistas
convivem perigosamente com uma
profusão de pranchas de surf numa
verdadeira anarquia. Dizem que as
zonas surf tem bandeiras a
delimitar, mas as bandeiras estão
espalhadas por todo o areal nos
últimos 3/4 de praia em direção à
Parede, sem qualquer respeito por
quem a frequenta. Os cidadãos
com deÆciência motora que se
abeiram da água em dois triciclos
existentes na zona central da praia
tomam banho literalmente no meio
das pranchas. O
“nadador-salvador” diz que devem
tomar banho mais para a esquerda
em frente ao posto dos
“salva-vidas”… o surf tem
prioridade! Para quando se vai pôr
termo a esta confusão e incúria da
parte das autoridades?
Armando Gabriel da Mota,
Carnaxide
Haja bom senso
Nesta fase da pandemia da
covid-19, há milhões de seres
humanos dos países pobres que
ainda nem foram inoculados com a
1.ª dose da vacina. Dá que pensar...
O mundo não vence o vírus,
enquanto ele continuar a grassar
nos países vulneráveis. Em
Portugal ainda há muita gente que
espera pela vacina! Mesmo assim,
vão usar milhares de vacinas em
pré-adolescentes saudáveis. Isto faz
sentido? Não, não faz! Haja bom
senso. Mas para o hipocondríaco
Presidente da República há toda a
premência em inocular aquela
faixa etária, que além de saudável
quase não é contaminável. Ouvi e li
cientistas e pediatras a
manifestarem-se contra esta
resolução. O Governo enche a boca
ao dizer que as decisões a este nível
dependem do que diz a ciência.
Como disse? (…)
Vítor Colaço Santos,
São João das Lampas
Portugal sempre
a divergir
Segundo uma fonte do Eurostat/
Círculo de Empresários/OCDE,
Portugal mantém-se nos últimos
lugares dos 27 países que fazem
parte da União Europeia no que diz
respeito ao desemprego na faixa
etária dos jovens com menos de 25
anos, atingindo a cifra de 27,7%. Só
a Espanha (37,1%), a Grécia (30,4%)
e a Itália (29,4%) nos ultrapassam
nessa percentagem. Por outro lado,
os Países Baixos, a Alemanha e a
República Checa alcançam,
respectivamente, somente 7,6%
7,5% e 7,1% de jovens
desempregados na faixa etária
referida. Conclusão: o nosso país
continua a marcar passo — como
sempre desde que entrou na
Comunidade Europeia — e a
divergir na perspectiva de oferecer
um futuro decente aos seus jovens.
Isto para não ter de referir a
percentagem dos “nem-nem”, ou
seja, os jovens que não trabalham,
nem estudam como resultado de
políticas educativas desfasadas e
erráticas que não conseguem (nem
conseguiram) atrair os jovens no
caminho acertado para as suas
realizações pessoais, proÆssionais
e sociais.
António Cândido Miguéis,
Vila Real
Afinal, já tem
emprego
Ainda bem que o desprotegido
Lionel Messi esteve poucos dias
sem emprego. As boas almas, que
ainda as há, viram quão foram
sinceras e lancinantes as lágrimas
vertidas por ter perdido o pão
nosso de cada dia, em Barcelona. O
novo patrão, o Paris
Saint-Germain, vai cuidar do
desvalido. E eu, com mais outros
carolas, já estava/estávamos a
preparar um peditório público
transnacional para que nada
faltasse ao referido sem-abrigo.
José Amaral, Vila Nova de Gaia

As cartas destinadas a esta secção têm de ser enviadas em exclusivo para o PÚBLICO e não devem exceder as 150 palavras (1000 caracteres). Devem indicar o nome, morada e contacto
telefónico do autor. Por razões de espaço e clareza, o PÚBLICO reserva-se o direito de seleccionar e editar os textos e não prestará informação postal sobre eles cartasdirector@publico.pt

BARTOON LUÍS AFONSO
ESCRITO NA PEDRA
“Quando não encontramos o repouso em nós
próprios, é inútil ir procurá-lo noutro lado”
François de La Rochefoucauld (1613-1680), escritor
“Espero que os pais dos jovens percebam uma
coisa muito simples: a vacina é segura”
Henrique Gouveia e Melo, vice-almirante (sobre a
decisão de vacinar todas as crianças dos 12-15 anos)
O NÚMERO NESTE DIA 12 DE AGOSTO
1907 Nasce o escritor português Miguel Torga,
30
pseudónimo do médico Adolfo Rocha, autor de
Contos da Montanha e A Criação do Mundo 1914
Grande Guerra de 1914-18. O Reino Unido
declara guerra ao Império Austro-Húngaro. O
Japão declara guerra à Alemanha 1955 Morre,
com 77 anos, o escritor alemão Thomas Mann
1981 A IBM lança o primeiro computador
pessoal 1984 Carlos Lopes, 37 anos, conquista a
medalha de ouro na maratona olímpica de Los
Será o número da camisola de Angeles, EUA 2000 Afunda-se o submarino
Lionel Messi no PSG, o mesmo nuclear russo Kursk, em exercício no mar de
com que se estreou oficialmente Barents. Morre a tripulação de 117 homens 2014
pelo Barcelona em 2004 Morre, aos 89 anos, a actriz Lauren Bacall
Viva a Vision
Zero!
Ainda ontem
tem
Miguel Esteves Cardoso
A
s estradas são
perigosas porque os
veículos são perigosos
e os veículos são
perigosos porque os
seres humanos são
perigosos. Distraem-se,
embebedam-se, enganam-se,
adormecem, não prestam atenção,
conduzem mal, vêem mal, ouvem
mal, não olham, não reparam,
esquecem-se, abstraem-se.
É só isto que interessa aos suecos
da Vision Zero. É por isso que
deveríamos ouvir o que eles têm
para dizer e fazer o que eles dizem
para fazer.
O pragmatismo deles — não sei se
é tipicamente sueco, mas gosto de
pensar que sim — concentra-se em
reduzir o número de mortos e
feridos nas estradas.
A primeira grande novidade é
reconhecer que a questão da culpa
— aquela com a qual passamos a
vida a discutir, de uma maneira ou
de outra — é um campo à parte.
Para a Vision Zero, só interessa
que os seres humanos ferem e
matam outros seres humanos. Já há
tribunais suficientes — oficiais,
opinativos e íntimos — para lidar
com as culpabilidades por essas
mortes.
Agora resta reduzir a gravidade
dos ferimentos,
independentemente dessas
culpabilidades e, o que é mais
revolucionário, partindo das coisas
e das pessoas tal e qual já existem
agora. Os cruzamentos levam a
colisões perpendiculares e a
ferimentos graves. Nas rotundas são
impossíveis: as colisões são menos
graves. A 50 quilómetros por hora
morrem ou ficam gravemente
feridos 80% dos atropelados. A 30
quilómetros por hora essa
percentagem é reduzida para 10%.
Um peão é visto pela Vision Zero
como um ser humano
completamente desprotegido.
São factos. São apenas dois
exemplos. Impor estas mudanças
reduzirá o sofrimento que os
humanos causam uns aos outros.
Não se pode começar já por elas?
E as opiniões e as discussões
sobre culpas e soluções poderão e
deverão continuar como antes.
Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021 • 7
A opinião publicada no jornal respeita
a norma ortográfica escolhida pelos autores
publico.pt
Lisboa Porto
Edifício Diogo Cão, Rua Júlio Dinis,
Doca de Alcântara Norte n.º 270 Bloco A 3.º
1350-352 Lisboa
Tel. 210 111 000
4050-318 Porto
Tel. 226 151 000
publico@publico.pt
DIRECTOR
Manuel Carvalho
Directores adjuntos
Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro
Directora de arte
Sónia Matos
Editoras executivas Andreia Sanches, Helena Pereira Editor de fecho José
J. Mateus Editor P2 Sérgio B. Gomes Online Mariana Adam, Patrícia Jesus,
Pedro Rios, Ivo Neto, Pedro Esteves (editores), Claudia Carvalho Silva, Filipa
Almeida Mendes, Inês Chaíça, Miguel Dantas; Aline Flor, Ruben Martins
(áudio); Carolina Pescada, Teresa Abecasis, Teresa Pacheco Miranda, Vera
Moutinho (vídeo); Ricardo Sampaio (responsável técnico); Pedro Guerreiro
(editor de redes sociais), Patrícia Campos, Lucas Freitas; Rui Barros
(jornalista de dados) Política Sónia Sapage, Álvaro Vieira (editores), São
José Almeida (redactora principal), Leonete Botelho, Luciano Alvarez
(grandes repórteres), Liliana Borges, Margarida Gomes, Maria João Lopes,
Maria Lopes, Marta Moitinho Oliveira, Nuno Ribeiro, Sofia Rodrigues Mundo
Ana Gomes Ferreira, António Rodrigues (editores), Paulo Narigão Reis
(editor adjunto), Bárbara Reis, Jorge Almeida Fernandes, Teresa de Sousa
(redactores principais), Rita Siza (correspondente em Bruxelas), Alexandre
Martins, António Saraiva Lima, Clara Barata, João Ruela Ribeiro, Maria João
Guimarães, Sofia Lorena Sociedade Rita Ferreira, Pedro Sales Dias
(editores), Clara Viana (grande repórter), Alexandra Campos, Ana Cristina
Pereira, Ana Dias Cordeiro, Ana Henriques, Ana Maia, Joana Gorjão
Henriques, Mariana Oliveira, Natália Faria, Patrícia Carvalho, Samuel Silva,
Sónia Trigueirão Local Ana Fernandes (editora), Abel Coentrão, Cristiana
Moreira, João Pedro Pincha, Mariana Correia Pinto Economia Pedro Ferreira
Esteves, Isabel Aveiro (editores), Cristina Ferreira, Sérgio Aníbal (grandes
repórteres), Ana Brito, Luís Villalobos, Luísa Pinto, Pedro Crisóstomo, Raquel
Martins, Rosa Soares, Victor Ferreira Ciência Teresa Firmino (editora),
Andrea Cunha Freitas, Teresa Serafim Tecnologia Karla Pequenino Cultura/
Ípsilon Paula Barreiros, Inês Nadais (editoras), Vasco Câmara (editor
Ípsilon), Isabel Coutinho (subeditora), Nuno Pacheco (redactor principal),
Isabel Salema, Sérgio C. Andrade (grandes repórteres), Joana Amaral
Cardoso, Lucinda Canelas, Luís Miguel Queirós, Mário Lopes, Vítor
Belanciano Desporto Jorge Miguel Matias, Nuno Sousa (editores), Augusto
Bernardino, David Andrade, Diogo Oliveira, Marco Vaza, Paulo Curado
Fugas Sandra Silva Costa, Luís J. Santos (editores), Alexandra Prado Coelho
(grande repórter), Luís Octávio Costa, Mara Gonçalves Guia do Lazer Sílvia
Pereira (coordenadora), Cláudia Alpendre, Sílvia Gap de Sousa Ímpar
Bárbara Wong (editora), Carla B. Ribeiro P3 Amanda Ribeiro, Ana Maria
Henriques, Renata Monteiro, Mariana Durães Projectos Editoriais João
Pedro Pereira (editor), João Mestre Fotografia Miguel Manso, Manuel
Roberto (editores), Adriano Miranda, Daniel Rocha, Nelson Garrido, Nuno
Ferreira Santos, Paulo Pimenta, Rui Gaudêncio, Alexandra Domingos
(digitalização), Isabel Amorim (documentalista) Paginação José Souto
(editor de fecho), Marco Ferreira (subeditor), Ana Carvalho, Ana Fidalgo,
Joana Lima, José Soares, Nuno Costa, Sandra Silva, Sofia Espadinha
Martins; Paulo Lopes, Valter Oliveira (produção) Copy-desks Aurélio
Moreira, Florbela Barreto, Manuela Barreto, Rita Pimenta Design Digital
Dinis Correia (coordenador), David Mano, Filipe Ribeiro, Gabriel Sousa,
Miguel Cabral Infografia Célia Rodrigues (coordenadora), Cátia Mendonça,
Francisco Lopes, José Alves Marketing Editorial Joana Villas
(coordenadora), João Mota, Ruben Matos Secretariado Isabel Anselmo,
Lucinda Vasconcelos Centro de Documentação Leonor Sousa
Publicado por PÚBLICO, Comunicação Social, SA.
Presidente Ângelo Paupério
Vogais Cláudia Azevedo, Ana Cristina Soares e João Günther Amaral
Área Financeira e Circulação Nuno Garcia Recursos Humanos Maria José
Palmeirim Direcção Comercial Mafalda Campos Forte Direcção de
Assinaturas e Apoio ao Cliente Gonçalo Silva Análise de Dados Elisabeth
Fernandes Inovação Digital Guida Marques Pinto Área Marketing Produto
Alexandrina Carvalho Área de Novos Negócios Mário Jorge Maia
NIF 502265094 | Depósito legal n.º 45458/91 | Registo ERC n.º 114410
Proprietário PÚBLICO, Comunicação Social, SA | Sede: Lugar do Espido,
Via Norte, Maia | Capital Social €5.050.000,00 | Detentor de 100% de
capital: Sonaecom, SGPS, S.A. | Publicidade comunique.publico.pt/
publicidade | comunique@publico.pt | Tel. 210 111 353 / 210 111 338 / 226 151
067 | Impressão Unipress, Tv. de Anselmo Braancamp, 220, 4410-350
Arcozelo, Valadares; Empresa Gráfica Funchalense, SA, Rua da Capela de
Nossa Senhora da Conceição, 50, 2715-029 Pêro Pinheiro | Distribuição
VASP – Distribuidora de Publicações, Quinta do Grajal – Venda Seca,
2739-511, Agualva-Cacém | geral@vasp.pt
Membro da APCT Tiragem média total de Julho 23.559 exemplares
O PÚBLICO e o seu jornalismo estão sujeitos a um regime
de auto-regulação expresso no seu Estatuto Editorial
publico.pt/nos/estatuto-editorial
Reclamações, correcções e sugestões editoriais podem
ser enviadas para leitores@publico.pt
ASSINATURAS
Linha azul 808 200 095
(dias úteis das 9h às 18h)
publico.pt/assinaturas
assinaturas@publico.pt
8 • Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021
Espaço público
Por uma lusofonia sem complexos
Vítor Ramalho
Q
uebrado que foi o ciclo do
Império, a opção de Portugal foi
clara — integrar-se na então CEE,
privilegiando laços de amizade e
cooperação com os países de
língua portuguesa, assumidos
como desígnios nacionais a prosseguir de
forma articulada pelo Estado, pelas
instituições da sociedade civil, pelo mundo
empresarial, pelo do trabalho e dos
municípios.
Foi criada a CPLP, surgiram associações da
sociedade civil como a Fundação
Portugal-África e os municípios promoveram
múltiplas geminações.
O segundo comissário português indicado
para a Comissão Europeia teve o pelouro das
relações com os países ACP (África, Caribe e
Pacífico), a primeira Cimeira UE-África foi
impulsionada por Portugal e passaram a
decorrer as Cimeiras Ibero-Americanas, que
seria útil terem a presença de países de língua
portuguesa com a denominação de Cimeiras
Afro-Ibero-Americanas.
Atenção, Portugal
José Veiga Sarmento
P
ortugal atravessa um momento
crítico na sua quase milenar
História. Apesar da singularidade
de sermos a entidade
independente com as mais antigas
e estáveis fronteiras na Europa,
não serão as glórias do passado que nos irão
ajudar nos tempos que correm. Estamos há
mais de 20 anos em estagnação económica,
depois de o país ter consumido milhares de
milhões de euros de ajudas europeias, sem
que tal tenha tido real impacto no
crescimento económico.
Demasiado pequenos para ter músculo
próprio que amorteça as crises globais de
que somos ciclicamente vítimas, demo-nos
ao luxo de destruir algumas das melhores
empresas nacionais do sector Ænanceiro e
produtivo. Fomos inexcedíveis na gula, na
incompetência e na corrupção. Não
estabelecendo condições para a criação de
Neste quadro, o clamor de solidariedade
dos povos de língua portuguesa pelo povo de
Timor face à tragédia ocorrida no cemitério
de Díli contribuiu, em 2002, para que o
mundo deixasse de considerar o país como a
27.ª província da Indonésia. Uma iniciativa da
sociedade civil em que tive o privilégio de ser
co-organizador, o 1.º Congresso dos Quadros
Angolanos no Exterior, foi a que impulsionou
as negociações de paz para Angola que
ocorreram em Bicesse. Outras realizaram-se
com o mesmo sentido de reconciliação e paz
em todos os países africanos de língua
portuguesa.
Os factos e as iniciativas que a título
exempliÆcativo foram invocados reÇetem,
neste mundo crescentemente globalizado, a
importância do papel de Portugal nele e a
necessidade da existência de uma política de
aÆrmação do país com os olhos postos no
futuro, que vá para além do pragmatismo
causado pelas exigências das respostas à
“espuma dos dias”, tão correntes hoje em
todos os azimutes.
O pragmatismo que se tem imposto, de
navegação à bolina, talvez seja compreensível
pela total incerteza do futuro. Parece ter
chegado, porém, a altura de se repensar de
novo o papel do Estado no período
pós-pandemia e a importância dele também
na aÆrmação externa do país.
As respostas ao que é imediato e
conjuntural, sem que se vislumbre um rumo
de marcha, conduziram a um corte
empresas e de emprego para além do
turismo e de actividades tradicionais,
desprezámos olimpicamente as
oportunidades de tentar resolver algumas
das nossas mais graves deÆciências.
Ignorámos as perspectivas demográÆcas que
limitam a manutenção da riqueza e que
apontam para o alargamento futuro da
pobreza. Esquecemos a necessidade de um
bom sistema de justiça que é a base do
funcionamento normal de uma sociedade
organizada. Mas, acima de tudo, tornámos
impossível um ambiente político e
regulamentar propiciador da criação de
empresas e de emprego. Neste momento, o
sistema político, e com ele os media — e,
aparentemente, todos nós —, parece
adormecido e resignado na inevitável
perspectiva da decadência.
As crises e as diÆculdades constituem por
vezes incentivos para a procura de soluções.
Diz-nos a memória da nossa História que
momentos de glória aconteceram no séc. XV
quando os nossos líderes, conscientes das
limitações humanas e geográÆcas, puseram
em prática ousadas políticas de construção
naval e promoveram ciências de navegação
que nos permitiram ir para além da
Taprobana. Mas guardamos igualmente na
memória longos e penosos períodos em que,
por inépcia dos nossos líderes, não soubemos
intergeracional, acrescidamente afetado por
um programa de ensino errático, que
inÇuencia uma leitura deÆciente da nossa
História, a que se junta a ausência de um
sucedâneo coerente do serviço militar que dê
sentido de dever patriótico à juventude. A
tudo isto acresceu a dimensão da venda de
empresas estratégicas de domínio nacional
que passaram a afetar o contributo para a
cooperação com os países de língua
portuguesa. A realidade é que hoje
instituições como a Fundação Portugal-África
parecem ter os dias contados e as empresas
estratégicas que, no passado recente, sob
domínio nacional, apoiavam iniciativas do
tipo que exempliÆquei deixaram de o fazer,
cessando mesmo Æliações que tinham em
instituições criadas para o aprofundamento
das relações com os países de língua
portuguesa, apesar das quotas irrisórias que
É chegada a altura de
se repensar o papel do
Estado no pós-pandemia
e a sua importância
na aÄrmação externa
do país
capitalizar no que tínhamos adquirido, nem
compreender o que os nossos concorrentes
estavam a fazer. O Portugal europeu — que
chegou a dominar meio mundo e a beneÆciar
de grande parte da riqueza global — saiu do
pelotão da frente, abrindo o caminho do
mundo aos holandeses, ingleses, franceses e,
já no séc. XIX, aos alemães. A nossa ambição
nestes últimos séculos foi apenas a de
usufruto das jóias da família. No início do séc.
XX Portugal era a caricatura de um herdeiro
falido, endividado e enganando-se a si próprio
sobre a sua real situação. A nossa História de
grande parte do séc. XX foi a de um reajuste
doloroso entre recursos e disponibilidades,
feito sem ajudas externas e com enormes
dívidas externas para pagar. Para o conseguir,
abdicámos de veleidades de crescimento e
dispensámos as liberdades individuais.
Neste momento, o que esperamos de
Portugal para o séc. XXI? Como diria Einstein,
loucura é fazer a mesma coisa e esperar
resultados diferentes. Hoje, o risco de
Portugal cair de novo no abismo que já
vivemos no virar do séc. XIX para o séc. XX só
é diferente do que era há cem anos porque
ainda estamos rodeados de mecanismos
europeus de entreajuda. Ingenuidade
perigosa é supor que estes mecanismos são
eternos. E mesmo que a União Europeia
estivesse disposta a continuar a subsidiar
pagavam. As autarquias portuguesas, pelo seu
lado, continuam com geminações a fazerem o
que podem.
Claro que tem havido avanços importantes,
nomeadamente na recente aprovação no
acordo-quadro de mobilidade dos cidadãos,
aprovado na Cimeira da CPLP que decorreu
em Luanda e que incentiva o direito de
pertença dos cidadãos à CPLP, para lhe poder
assegurar perenidade.
Não se pode deixar de registar com apreço
a declaração do primeiro-ministro de
Portugal quanto à ratiÆcação urgente na
Assembleia da República desse acordo e às
medidas que terão de ser implementadas em
resultado dele. É de registar ainda o anúncio
feito pelo Presidente de Angola, João
Lourenço, país que presidirá à CPLP nos
próximos dois anos, quanto à necessidade de
criação de um Banco para a Cooperação, que
tanta falta faz. Estas iniciativas não poderão
deixar de ser enquadradas na revisitação do
rumo de marcha coletivo, a promover de
forma articulada, que conduza, como dizia o
Padre Manuel Antunes, à compreensão de
que, por vezes, “a História é o retorno ao
mesmo através do diverso”.
Devemos fazer essa revisitação sem
complexos de qualquer espécie, conscientes
do legado de futuro que devemos deixar e que
aÆrme os nossos países e com eles os povos de
língua portuguesa no mundo.
Secretário-geral da UCCLA
Portugal, não há sequer a garantia da sua
própria longevidade e força. No nosso
continente euro-asiático, a China e o seu
aliado russo aspiram ao domínio total e,
falhando a Europa, não restará outra opção
aos pequenos países como Portugal que não
seja a de se ajoelhar e pagar o preço da
insigniÆcância.
Ora o momento de aÆrmação em que a
Europa se encontra, assumindo ambiciosos
objectivos económicos estratégicos que se
espera venham a impulsionar o crescimento
num mundo que está em radical mudança, dá
a Portugal e aos portugueses uma
oportunidade de difícil repetição. O nosso
desaÆo parece simples de avaliar. Ou
conseguimos, num contexto europeu,
promover actividades que nos levem ao
crescimento, libertando as energias
individuais para a conquista de um papel no
mundo, ou cairemos de inanição, Æcando à
mercê de um qualquer suposto salvador cá do
bairro, que vai oferecer soluções milagrosas
que jamais cumprirá e que mais não será do
que um capataz das forças com dimensão
global.
Falta fazer qualquer coisa para que este
fado não se cumpra. Será que ainda há direito
à esperança?
Economista

O gigantismo do mundo nano
Maria do Céu Patrão Neves
H
á um mundo invisível e
desconhecido que cresce
poderoso e impactante na
sociedade. É um mundo que se
tem vindo a construir na escala
do milionésimo de milímetro,
produzindo ambiciosas microestruturas,
átomo a átomo, molécula a molécula. Na sua
inÆnitesimal pequenez mantém-se oculto,
inacessível a um olhar desarmado, enquanto
vai penetrando numa sucessão de domínios
humanos vitais, do ambiente à saúde,
passando por uma diversidade de indústrias.
É o mundo nano.
Pouco sabemos acerca do mundo nano,
frequentemente apresentado pela imagem
poderosa do diâmetro de um fio de cabelo
medir cerca de 80 a 100 mil nanómetros. Não
obstante, está já bem presente no nosso
quotidiano: desde roupa, sapatos a
telemóveis e carros. Por exemplo, no caso da
roupa, a incorporação de nanopartículas
pode diminuir a estática ou aumentar a
resistência às nódoas e ao desgaste da
lavagem; nos carros, o nano-GPS permite a
localização dissimulada de um veículo, sendo
que o mesmo princípio se pode aplicar a
pessoas através da implantação de um
nano-microchip, já ponderado em hospitais
para prevenir o rapto de recém-nascidos. É
um mundo como que subterrâneo, com
manifestações disruptivas. AÆnal, e se o
nanolocalizador for colocado numa criança
até aos 12 anos, como já chegou a ser
debatido? E se for colocado em condenados
pela justiça ou grupos sociais identiÆcados
por um qualquer critério para um qualquer
objectivo? Entretanto, o nosso
desconhecimento da realidade nanométrica
dita a ausência de participação nos seus
desígnios e de controle dos seus processos.
O mundo nano foi primeira e quase então
utopicamente imaginado pelo físico
Feynman, que, em 1959, idealizava a
apresentação da totalidade dos 24 volumes da
Enciclopédia Britânica no espaço da cabeça
de um alÆnete (Demócrito, séc. V a.C.,
referia-se à divisão inÆnita da matéria em
partes cada vez menores, sabendo-se que já
os romanos utilizavam nanopartículas na
produção de vidro). Desde então
desencadeou-se intensa investigação sobre
possibilidades de manipulação de materiais
na escala entre 1 e 100nm, ediÆcando-se a
nanociência, numa convergência da física,
ciência dos materiais e biologia. Mas são as
nanotecnologias que estão a engenheirar um
novo mundo: esta capacidade real de
observar, medir, manipular, montar,
controlar, transformar a matéria à escala
nano. Estas têm como denominador comum
especíÆco a pequenez dos materiais, a leveza
do seu peso e a força da sua resistência, sendo
que os nanomateriais adquirem uma enorme
versatilidade funcional que lhes confere
vantagem em relação a quaisquer outras
escalas.
A intervenção das nanotecnologias é
crescente nos domínios implicados na sua
origem como a engenharia, a física, química,
biologia, ciência dos materiais, a computação.
E graças à sua capacidade para potenciar o
desempenho de materiais, têm hoje um
imenso âmbito de aplicação industrial: na
construção civil, tornando os materiais mais
resistentes, seja o cimento, o vidro ou peças
de aço; na cosmética, revestindo
componentes para aumentar a penetração de
produtos na pele, prolongando a sua
actuação antioxidante e nutritiva; nas
tecnologias de informação e comunicação,
vindo a permitir a produção de aparelhos
electrónicos cada vez mais pequenos, com
maior capacidade de armazenamento, mais
rápidos e versáteis na transmissão da
informação; no âmbito militar, na produção
de roupa à prova de bala e na redução do peso
e volume do equipamento dos soldados. E é
sob a percepção de uma acção altamente
vantajosa e benéÆca que as nanotecnologias
continuam a expandir-se para outras áreas
como sejam a da agricultura, em que
nanocápsulas podem aumentar a eÆciência
de aplicação de fertilizantes e pesticidas, ou
da produção de energia renovável mais
eÆciente e económica, através de estruturas
nanoscópicas que podem aumentar a
capacidade de absorção de células
termofotovoltaicas e de armazenamento da
energia solar. A conquista de novos domínios
e modalidades de intervenção progride,
avassaladora. Invisíveis na pequenez da sua
realidade, impactantes na gigantez dos seus
domínios e do seu poder transformador.
Assim são as nanotecnologias.
É verdade que, a título de exemplo, as
nanotecnologias aplicadas às redes de
informação e comunicação também podem
expor sistemas urbanos vitais ou nacionais de
defesa a intervenções exógenas maliciosas,
suscitando graves problemas de segurança;
ou, no contexto militar, podem produzir
armas cada vez mais pequenas e indetectáveis
com maior poder de destruição, como um
nanomíssil contendo toxinas letais,
agravando assim a vulnerabilidade das
populações; na agricultura, os agroquímicos
nanoformulados, pela sua maior potência e
resistência em relação aos tradicionais,
tenderão a produzir resíduos com as mesmas
características e com riscos proporcionais
superiores, e há alimentos embalados que
incluem ingredientes nanotecnológicos,
como aditivos nutricionais, Çavorizantes ou
corantes não rotulados, reduzindo a
liberdade de escolha do consumidor. Não
obstante, a popular atracção pelo “novo”, na
falaciosa assunção da sua sinonímia com o
Invisíveis na pequenez
da sua realidade,
impactantes na gigantez
dos seus domínios
e do seu poder
transformador. Assim
são as nanotecnologias
PAULO PIMENTA
Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021 • 9
“bom”, associada ao profundo
desconhecimento do galopante progresso
cientíÆco-tecnológico e acrescentada de uma
reconfortante ignorância em relação ao que
não vemos, mantém-nos reféns da ilusão da
absoluta benevolência das nanotecnologias.
E o entusiasmo por esta generosidade
tecnológica acentua-se em dois domínios de
aplicação mais próximos do nosso olhar: o
ambiental e o clínico. Estes são também
ilustrativos dos grandes poderes da pequena
escala, ou do gigantismo do nano, quer nos
extraordinários benefícios que promete, quer
nos sombrios riscos associados.
Ao nível ambiental, e sempre
ilustrativamente, a grande área superÆcial
que as nanopartículas apresentam, com
características magnéticas ou químicas
especíÆcas, confere-lhes elevadas
capacidades de absorção de metais e de
substâncias orgânicas, podendo ser utilizadas
na remoção de poluentes em águas ou solos,
como seja o papel tratado com nanopartículas
que actua como Æltro podendo converter
água impotável em potável, ou ainda limpar
componentes orgânicos voláteis do ar. E,
todavia, as nanotecnologias criam também
novas toxinas e poluentes (nanopoluição).
Neste contexto, as nanotecnologias
constituem paradigma da falência da crença
acrítica de que os problemas criados pelas
tecnologias do passado podem ser resolvidos
pelas novas tecnologias.
Ao nível clínico, as nanotecnologias
tornaram-se capazes de prevenir, diagnosticar
e tratar a doença (nanomedicina), intervindo
no sistema biológico humano através de
nanodispositivos e nanomateriais capazes de
o monitorizar, controlar, defender, reparar,
construir e melhorar: podem medir a tensão
ou a glucose no sangue, o pulso ou a
actividade cerebral e outras funções,
enviando as informações através de
transmissores sem Æos; administrar drogas e
hormonas no alvo preciso
(nanofarmacologia); recuperação e
substituição de órgãos e ossos. E, todavia, os
mesmos nanoimplantes cerebrais que podem
tratar a dor e a depressão e actuar em
patologias neurodegenerativas podem
também controlar comportamentos e activar
remotamente determinadas zonas do
cérebro, sendo que a distinção entre tratar e
melhorar se vai apagando. Neste contexto, as
nanotecnologias ilustram bem a irreprimível
vertente deslizante da inovação terapêutica
posteriormente utilizada para uma
pluralidade de Æns sociais mais ou menos
sectários.
O mundo nano agiganta-se no nosso
quotidiano e a discrição da sua presença não
justiÆca a nossa ausência no desenhar do seu
futuro. Também não podemos Æcar ofuscados
pelos sucessos acumulados, nem paralisados
pelos riscos esboçados. Urge procurar
informação rigorosa, desenvolver
pensamento crítico, sistematizar directrizes
éticas fundamentadas e Æxá-las em
regulamentação jurídica consensualizada. Há
um percurso social gigante a fazer neste nosso
mundo nano.
Professora catedrática de Ética
10 • Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021

Política Algarve é o palco da rentrée de Iniciativa Liberal, Chega e PS

Cataplanas, voltas ao país e piqueniques:

partidos regressam sobretudo pelo Sul
Ainda nem todos os partidos têm o programa fechado, mas pelo menos três escolhem o Algarve
como cenário das suas iniciativas políticas. Pelo segundo ano consecutivo, a região não recebe o PSD
NELSON GARRIDO

Liliana Borges
Agosto é mês de Verão, mas também
de rentrée política. E em ano de elei-
ções autárquicas, os partidos apro-
veitam para acertar o passo de mais
um ano político com a ida às urnas.
Depois de no último ano a covid-19
ter resultado no cancelamento de
muitas das iniciativas tradicionais
dos partidos, este ano os calendá-
rios estarão mais preenchidos — e a
direita arranca mais cedo.
Ainda que existam vários progra-
mas em aberto, há uma clara prefe-
rência geográÆca: mais de um terço
dos partidos com representação
parlamentar escolheu o Algarve
para o regresso. Mas nenhum deles
é o PSD.
Sucessivamente adiado por causa
da evolução da situação epidemio-
lógica, o Congresso do PS acabou
marcado para o último Æm-de-sema-
na de Agosto, entre 28 e 29 de Agos-
to, em Portimão.
Para o mesmo Æm-de-semana está
também agendado o Fórum Socia-
lismo, a rentrée do Bloco de Esquer-
da, cujos debates decorrem nesses
dias em Braga e Almada.
Ainda sem programa fechado, o
Chega conta ao PÚBLICO que tam-
bém está a planear reunir o partido
no Algarve (como fez em 2020), no
mesmo Æm-de-semana em que o PS
e o BE rumam a sul. Por essa altura,
já a Iniciativa Liberal terá feito a sua
passagem por terras algarvias.
O pontapé de saída será lançado
justamente pelos liberais, a 13 de
Agosto. Em comunicado, o partido
repete o seu discurso e defende a
realização da iniciativa, aÆrmando
que “a vida tem de continuar”. O Os socialistas retomam a actividade política com o congresso de Portimão, que a pandemia fez adiar desde Maio do ano passado
“A’gosto da Liberdade” terá catapla-
na e promete “animação musical”. ceu de uma forma genuína: come- do o Algarve para a IL, PS e Chega. O PCP, que este ano assinala o
O partido voltou a defender o çou por ser um piquenique de mili- Ainda à direita, também o CDS 100.º aniversário, tem sido comedi-
“Arraial Liberal”, por data dos san- tantes do PSD no Verão, e depois tem planeada a sua rentrée para “o do nos festejos. Além de bandeiras
tos populares, que marcou como cresceu. A partir de uma dada altu- início de Setembro”, mas ainda não no Porto e Lisboa, de uma marcha
“pontapé de saída do desconÆna- ra, desvirtuou-se”, aÆrmou o líder tem o seu programa fechado. Por pela Baixa de Lisboa e de um comí-
mento”. Agora, diz a IL, depois de O Pontal nasceu social-democrata em 2018. Depois sua vez, o PAN conta acompanhar cio no Rossio com o secretário-geral
recordar a resposta à pandemia que de em 2020 o partido ter cancelado as suas candidaturas e planeia fazer do PCP, o partido não tem um calen-
os liberais propunham, a rentrée é de forma genuína: as festas do Pontal e do Chão da um piquenique vegan (mas ainda dário especial preparado.
“a libertação Ænal da sociedade”. começou por ser Lagoa (Madeira) devido à pandemia, não há mais detalhes). Sem surpresas ou alterações, a
Feita a “libertação” dos liberais, este ano Rio decidiu substituir a fes- reentrada dos comunistas acontece
é o PSD que a partir de 25 de Agosto um piquenique de ta por uma passagem por todos os Ecolojovem ainda sem data com a Festa do Avante!, que no últi-
terá o seu líder a dar uma volta ao militantes do PSD. distritos do país e vistas a um total À esquerda, o PEV prepara uma ini- mo ano enfrentou muitas críticas (e
país. A tradicional festa do Pontal, de 50 concelhos. ciativa com a ala juvenil do partido. prejuízo nas contas, que o partido
que começou como um piquenique A dada altura, Em ano de autárquicas — de cujos Os ecologistas marcarão o arranque atribui à pandemia e às polémicas
de militantes sociais-democratas, desvirtuou-se resultados dependerá a sua lideran- ao lado da Ecolojovem a norte do em torno da realização do evento).
viu esse modelo requaliÆcado com ça —, Rui Rio vai juntar-se a eventos país, mas ainda não há data marca- A festa comunista está marcada
a liderança de Rui Rio, que chegou Rui Rio de campanha promovidos pelas da, diz fonte do gabinete de comu- para 3, 4 e 5 de Setembro, na Quinta
a criticar a iniciativa. “O Pontal nas- 27/7/2018 estruturas locais do partido, deixan- nicação ao PÚBLICO. da Atalaia, no Seixal.

Candidatura de Santana acusa PSD
de querer “protagonismo” à sua custa
Sofia Rodrigues
Movimento independente
assegura que as falhas que
levaram PSD a pedir
impugnação são suscetíveis
de correcção
A candidatura independente de
Pedro Santana Lopes à Câmara da
Figueira da Foz considera que a ten-
tativa de impugnação de que foi alvo
em tribunal “não passa de uma
intenção do PSD de procurar prota-
gonismo que não tem de outra for-
ma”.
A posição, assumida ontem em
comunicado, surge depois de o PSD
local ter entregado no tribunal, na
segunda-feira, um pedido de impug-
nação no qual sustentava que a can-
didatura protagonizada por Santana
Lopes violou a lei eleitoral, por ter
apresentado duas denominações a
órgãos diferentes da autarquia e por
ter um número insuÆciente de assi-
naturas.
O Movimento Figueira a Primeira
assegura que não está em causa a
viabilidade da candidatura. “Até
hoje, o tribunal não nos notiÆcou por
qualquer irregularidade que a ponha
em causa. Fomos notiÆcados, tal
como as restantes candidaturas, a
suprir pequenas falhas processuais”,
lê-se na nota.
A decisão do tribunal deve ser
Independentes prevêem gastar 2,6 milhões:
Moreira e Isaltino têm os maiores orçamentos
Nas eleições autárquicas de
26 de Setembro, Rui Moreira
conta gastar 316 mil euros
e Isaltino Morais tem um
orçamento de 285 mil euros
Os orçamentos de campanha dos
grupos de cidadãos candidatos às
eleições autárquicas totalizam 2,6
milhões de euros, sendo os movi-
mentos independentes de Rui Morei-
ra, no Porto, e de Isaltino Morais, em
Oeiras, os que apresentam maiores
despesas.
Segundo os orçamentos disponi-
bilizados no site da Entidade das
Contas e Financiamentos Políticos,
o movimento “Rui Moreira: Aqui Há
Porto” prevê gastar 316.388 euros,
enquanto o movimento “Isaltino
conhecida hoje. “Aguardamos com
serenidade a resposta do tribunal,
cientes de que as eleições devem ser
ganhas nas urnas”, conclui o mesmo
comunicado.
O secretário-geral do PSD, José
Silvano, assegurou ao PÚBLICO que
não foi previamente informado sobre
o pedido de impugnação da candi-
datura de Pedro Santana Lopes à
Câmara da Figueira da Foz apresen-
tado pela estrutura social-democra-
ta local. “Soube pela comunicação
social e não tinha de saber antes”,
aÆrmou José Silvano, que é também
coordenador autárquico do PSD,
referindo que o mandatário local da
candidatura social-democrata, lide-
Candidatura de Santana aguarda decisão judicial “com serenidade”
Inovar Oeiras” prevê despesas de
285.155,78 euros.
Nas autárquicas de 2017, Isaltino
Morais apresentou um orçamento de
283 mil euros e Rui Moreira de 285
mil euros. Nesse ano, o total de des-
pesas previstas pelos grupos de cida-
dãos foi de cerca de quatro milhões
de euros.
Se aos 2.639.120,7 euros deste ano
forem somados os 31 milhões que os
partidos tencionam gastar, de forma
isolada ou em coligações, a despesa
com a campanha eleitoral Æca em
mais de 33,6 milhões de euros, abai-
xo dos cerca de 39 milhões veriÆca-
dos em 2017.
Dos 308 concelhos, apenas 64 con-
tam com candidaturas de grupos de
cidadãos, sendo que em quatro muni-
cípios há dois movimentos em cada:
rada por Pedro Machado, tem auto-
nomia para contestar as listas de
Santana Lopes em tribunal.
No pedido de impugnação apre-
sentado pelo social-democrata Pedro
Machado contesta-se a utilização de
duas denominações por parte da
candidatura independente do antigo
líder do PSD — “Pedro Santana Lopes
Figueira a Primeira” e “Figueira a
Primeira” — apresentadas a órgãos
diferentes da autarquia, bem como
o número mínimo insuÆciente de
proponentes.
Questionado sobre se há leituras
políticas a fazer sobre esta acção em
tribunal — uma vez que o visado é um
antigo líder do PSD —, José Silvano
NUNO FERREIRA SANTOS
Albufeira (no distrito de Faro), Sabro-
sa (Vila Real), Redondo (Évora) e Cas-
telo de Paiva (Aveiro).
Na lista dos maiores orçamentos,
depois de Rui Moreira e Isaltino
Morais, segue-se o movimento “Elisa
Ferraz — Nós Avançamos Unidos”,
em Vila do Conde (distrito do Porto),
com 125 mil euros, seguido de “Bata-
lha é de Todos — Movimento Inde-
pendente”, com cerca de 91 mil
euros, do “Sempre — Movimento
Independente”, em Castelo Branco,
Rui Moreira
é candidato
a um derradeiro
terceiro mandato
como presidente
da Câmara
do Porto
Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021 • 11
coloca a questão no plano jurídico,
exclusivamente. “É uma questão
legal. Todas as candidaturas têm de
respeitar a lei”, aÆrma.
Na mesma linha, Pedro Machado,
em declarações à TSF, justiÆcou
assim o pedido de impugnação. “Eu
não estarei disponível, face àquilo
que é um objectivo político, a come-
ter irregularidades, a cometer ilega-
lidades, para ser presidente da câma-
ra. É nesse pressuposto de seriedade
jurídica, mas simultaneamente de
bom-nome político, que eu entendo
que não podemos pactuar, nem
podemos fechar os olhos a acontece-
rem tais irregularidades. Agora, o
tribunal tem a última palavra”, diz.
Pedro Santana Lopes deixou o PSD
em 2018, após 40 anos de militância,
e fundou o partido Aliança, que lide-
rou até Setembro de 2020. Depois de
uma tentativa de reaproximação ao
PSD — mas que não foi bem sucedida
— Santana Lopes apresentou-se
como candidato independente à
Câmara da Figueira da Foz, que lide-
rou entre 1997 e 2001.
Fonte da candidatura do PSD tinha
referido a possibilidade de outras
forças políticas, nomeadamente a
CDU, terem avançado com pedidos
de impugnação idênticos contra o
movimento liderado por Santana
Lopes. Ao PÚBLICO, fonte oÆcial do
PCP esclareceu que não foi entregue
nenhum requerimento do género na
Figueira da Foz.
com 81.500 euros, do grupo de cida-
dãos “Pela Guarda — Autárquicas
2021”, com 80.343 euros, e do movi-
mento cívico “Unidos por Torres
Vedras”, com 80 mil euros.
O movimento independente
“Figueira a Primeira”, liderado pelo
antigo primeiro-ministro e ex-líder do
PSD Pedro Santana Lopes, apresen-
tou um orçamento de 64 mil euros.
As candidaturas independentes
conquistaram há quatro ano 17 câma-
ras municipais, mais quatro do que
em 2013, e em 13 destes municípios
conseguiram maioria absoluta.
As eleições autárquicas deste ano
realizam-se em 26 de Setembro. Em
Portugal há 308 municípios — dos
quais 278 no continente, 19 nos Aço-
res e 11 na Madeira — e 3092 fregue-
sias. PÚBLICO/Lusa
Política
Morreu o
ex-presidente
da CCRC
Norberto Pires
Camilo Soldado
O ex-presidente da Comissão de
Coordenação e Desenvolvimento
Regional do Centro (CCDRC) Joa-
quim Norberto Pires morreu anteon-
tem à tarde, aos 55 anos. Foi tam-
bém professor da Universidade de
Coimbra (UC) e vereador da Câmara
de Condeixa entre 2013 e 2017. As
duas instituições já emitiram notas
de pesar.
“A notícia do desaparecimento
prematuro do colega e amigo Norber-
to Pires apanhou-nos a todos de sur-
presa. É uma perda inestimável para
a UC, mas não há dor maior do que
aquela que os seus entes queridos
estão (...) a passar, por isso aproveito
esta oportunidade para apresentar
os meus sentidos pêsames”, refere o
reitor da Universidade de Coimbra,
Amílcar Falcão, citado num comuni-
cado enviado às redacções.
Norberto Pires foi vítima de um
acidente de viação, que envolveu o
seu motociclo e um ligeiro de mer-
cadorias, na zona da Mealhada.
O professor universitário escrevia
regularmente artigos de opinião para
a imprensa regional e nacional, mas
viu o seu nome puxado para título de
notícias na fugaz passagem pela
CCDR do Centro. Apontado pelo exe-
cutivo de Passos Coelho em Feverei-
ro de 2012, ocuparia o cargo apenas
até Julho desse ano. O desalinhamen-
to com o Governo que o tinha nomea-
do custou-lhe a saída prematura do
cargo. Mais tarde, à revista Sábado,
contaria que sofreu pressões para
“substituir a tralha do PS”. O velório
decorre entre as 12h30 e as 15h, na
capela da UC, de onde sai o cortejo
fúnebre para o cemitério da Concha-
da, também em Coimbra.
12 • Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021
Sociedade Governo aplica fórmula que não era usada desde 2008
Verbas abrem
conƍito entre
universidades
e politécnicos
Medida penalizaria politécnicos, mas foi
mitigada para evitar grandes quebras no
Änanciamento. Universidades criticam
Samuel Silva
A forma como o Governo decidiu
atribuir as verbas do Orçamento do
Estado (OE) para o próximo ano no
superior não agrada às instituições
de ensino. Pela primeira vez desde
2008 é usada uma fórmula de distri-
buição que está prevista na lei, mas
o seu impacto foi mitigado para evi-
tar que houvesse grandes quebras no
Ænanciamento. A situação abriu um
conÇito entre as universidades e os
institutos politécnicos.
No início do ano passado, o Tribu-
nal de Contas tinha acusado o Gover-
no de desrespeitar a Lei de Bases do
Ensino Superior, por “ignorar a fór-
mula aí Æxada”. Em causa está a for-
ma como é feita a distribuição do
dinheiro: depois de deÆnido o mon-
tante para o sector que constará do
próximo OE, esse modelo deÆne
quem recebe o quê, entre as várias
instituições públicas.
A fórmula de distribuição não era
usada desde 2008 — porque se “iden-
tiÆcaram várias diÆculdades de vali-
dação e comparabilidade de dados
entre as instituições de ensino supe-
rior”, justiÆca a Instituto de Gestão
Financeira da Educação (Igefe) na
nota tornada pública na terça-feira
para apresentar a dotação orçamen-
tal prevista para o ensino superior
no próximo ano —, e foi retomada
este ano. O Governo decidiu, ainda
assim, mitigar os seus efeitos.
Para o cálculo, são contabilizados
o número de estudantes de licencia-
tura e mestrado, a massa salarial
dos trabalhadores e o número de
docentes e investigadores, por
exemplo. As instituições com menos
alunos inscritos, sobretudo institu-
tos politécnicos sediados no interior
do país, corriam o risco de perder
uma parte das transferências do
Estado caso a fórmula fosse aplicada
por inteiro.
Por isso, foi aplicado um “factor
de coesão institucional”, garantindo
que o valor de base das dotações de
todas as instituições aumenta pelo
menos 1,5% face a 2021, sendo o res-
tante acréscimo calculado através da
aplicação da fórmula de distribuição.
Ou seja, o modelo de Ænanciamento
previsto na Lei de Bases apenas se
repercute em 0,5% dos 25 milhões
de euros que o sector receberá a
mais no próximo ano.
Este é um valor “residual”, que
não permite corrigir as assimetrias,
critica o presidente do Conselho de
Reitores das Universidades Portu-
guesas (CRUP), António de Sousa
Pereira. “A este ritmo, seriam neces-
sários 200 anos para chegarmos aos
valores correctos”, ironiza. O órgão
que reúne todos os reitores das uni-
versidades públicas reuniu-se
ontem para analisar a proposta de
orçamento do sector para o próxi-
mo ano.
Desde o Ænal do ano passado que
Sousa Pereira tem exigido “uma fór-
mula de Ænanciamento adequada e
justa” para o sector. As universida-
des entendem que têm sido as mais
prejudicadas pela não-aplicação da
fórmula de Ænanciamento nos últi-
mos 12 anos, apontando os casos do
Iscte — Instituto Universitário de
Lisboa e as universidades Nova de
Lisboa, do Minho e da Beira Interior
como exemplos de instituições que
recebem menos dinheiro do Estado
do que aquele a que teriam direito,
se o cálculo fosse aplicado.
A Igefe também decidiu tratar
separadamente as universidades e os
institutos politécnicos. Essa diferen-
ciação “é contra o que está deÆnido
na lei”, critica também o presidente
do CRUP. “Essa homogeneização
deve fazer-se a nível de todo o sector
e não dentro de cada um dos subsec-
tores”, entende.
O modelo usado pelo Governo
tampouco agrada aos politécnicos.
O presidente do Conselho Coorde-
nador dos Institutos Superiores
Politécnicos (CCISP), Pedro Domin-
guinhos, não vê “qualquer razão”
para que, por exemplo, as verbas
atribuídas aos cursos de Engenharia
feitos em universidades sejam “mais
Instituições com menos alunos
corriam o risco de perder uma
parte das transferências
Escolaridade do superior ultrapassou os 45%
D
A taxa de escolaridade do
ensino superior entre os 30
e os 34 anos voltou a
crescer no 2.º trimestre de
2021, ultrapassando os 45% e
mantendo-se acima da meta
europeia com que o país se tinha
comprometido.
De acordo com os dados do
Instituto Nacional de Estatística
(INE), divulgados ontem pelo
Ministério da Ciência,
Tecnologia e Ensino Superior, a
percentagem de diplomados
pelo ensino superior entre os 30
e os 34 anos fixou-se nos 45,5%,
mais do que os 43% alcançados
no final do ano passado, que
representaram um máximo
histórico.
Com este resultado, Portugal
mantém-se acima da meta
europeia de 40% assumida no
âmbito da Estratégia Europa
2020 e reforça a tendência
crescente registada nos últimos
anos.
Comparativamente ao mesmo
período de 2019, o crescimento
foi de seis pontos percentuais e,
em relação a 2015, 15 pontos
percentuais, o equivalente a 60
mil pessoas nessa faixa etária
com o ensino superior
concluído.
Nos últimos sete anos, houve
também um aumento da
população activa com ensino
superior, que se fixou em 1,7
milhões no 2.º trimestre deste
ano, mais 450 mil (39%) face ao
período homologo de 2015.
“Este resultado confirma o
claro reforço da qualificação da
população residente em
Portugal nos últimos anos, em
consonância com os mais
recentes dados de diplomados e
em associação com a prioridade
política conferida ao
alargamento efectivo da base
social de apoio ao
conhecimento e ao ensino
superior”, sublinha a tutela. Lusa
elevadas” do que os previstas para
os politécnicos. O Igefe deÆniu índi-
ces de custo por áreas de formação
– os mais caros são os de Medicina e
Medicina Dentária.
Uma nova fórmula?
As soluções encontradas pelo Gover-
no para distribuir as verbas que vão
ser inscritas no OE para 2022 vão
“perpetuar” as desigualdades no
Ænanciamento dos dois subsistemas,
acredita Dominguinhos. O CCISP
esteve reunido na terça-feira para
analisar a proposta da tutela.
O líder dos institutos politécnicos
entende que o Ænanciamento do
ensino superior não pode ser corri-
gido sem um aumento do Ænancia-
mento: “É preciso mais dinheiro no
sistema, senão é tirar a um para dar
a outro.”
Além disso, a fórmula “está com-
pletamente ultrapassada”, entende
o presidente do CCISP. O Tribunal de
Contas também tinha considerado
“inadequado” o actual modelo de
Ænanciamento previsto na lei e, em
2018, a OCDE tinha igualmente defen-
dido a aprovação de uma nova fór-
mula de Ænanciamento do sector.

ADRIANO MIRANDA
“Eu acredito que esta fórmula pre-
cisa de melhoria”, concorda o presi-
dente do CRUP, António Sousa Perei-
ra. “Mas diÆcilmente teremos uma
fórmula que seja do agrado de toda
A este ritmo, a gente”, adverte.
Na próxima terça-feira, o Igefe
seriam necessários divulgou que as instituições de ensi-
200 anos para no superior deverão ter uma dota-
ção de 1253 milhões de euros no OE
chegarmos aos 2022, um aumento de 25 milhões de
valores correctos euros face ao ano anterior. Esta ver-
ba corresponde a um aumento de
António de Sousa Pereira 2% na dotação inicial das universi-
Presidente do Conselho de dades e politécnicos, fruto de um
Reitores das Universidades acordo para toda a legislatura esta-
Portuguesas belecido em 2019, bem como das
compensações por alterações legis-
lativas, que também constavam
desse contrato.
Neste caso, são reÇectidos o
impacto da redução de propinas
concretizada no ano passado e o
aumento de encargos resultante da
regularização de vínculos precários.
O presidente do Conselho de Reito-
res considera “positivo” e o seu
homólogo do Conselho Coordena-
dor dos Institutos Politécnicos julga
“importante” que o acordo com a
tutela continue a ser cumprido.
Disponibilizados 1,2 milhões de vales
Há uma floresta de manuais para abate.
Ministério assumirá a sua reutilização?
Clara Viana
Desafio parte da Associação
de Dirigentes Escolares e
tem como alvo os manuais
que deixam de ser usados e
podem ser utilizados lá fora
Dezenas de milhares de manuais
escolares vão Æcar de novo sem uso já
a partir de Setembro, porque chegou
ao Æm o seu prazo de vigência, que
geralmente é de seis anos. Os manuais
agora retirados são os das disciplinas
de Ciências Naturais, Físico-Química,
História e Inglês do 7.º ano e Biologia
e Geologia do 10.º ano.
É uma Çoresta de livros. Muitas
escolas não os estão a aceitar de novo,
já que quase não têm espaço para
acomodar os que ainda servem para
alguma coisa. Face a este e outros
desperdícios relativos aos manuais, o
presidente da Associação Nacional de
Dirigentes Escolares (ANDE), Manuel
Pereira, lança este desaÆo ao Ministé-
rio da Educação (ME): “Lançar um
plano nacional de recolha de manuais
não reutilizáveis com o objectivo de
os levar para onde sejam necessários,
por exemplo os Países de Língua OÆ#
cial Portuguesa.”
O PÚBLICO questionou o Ministé-
rio da Educação, mas não obteve
respostas. “Este é um trabalho cívico
que o ministério poderia assumir e
tem meios para o fazer, o que já não
acontece com as escolas”, justiÆca.
Algumas ainda tentam, mas nem
sempre com bons resultados.
“Acho criminoso deitá-los fora”,
desabafa Manuel Pereira. Isto, sem
falar dos manuais ainda em vigor e
que não podem ser reutilizados por
se encontrarem em más condições de
uso. É esta avaliação que as escolas
têm estado a fazer desde que os
manuais utilizados em 2020/2021
começaram a ser devolvidos pelos
pais, um procedimento obrigatório
para terem acesso a mais livros esco-
lares gratuitos em 2021/2022. A distri-
buição de vouchers para esse efeito,
que tinha início marcado para o pró-
ximo dia 16, foi antecipada uma sema-
na e, segundo o ME, até ontem tinham
já sido disponibilizados 1,2 milhões
de vales. Actualmente todos os alunos
que frequentam a escolaridade obri-
gatória (1.º ao 12.º anos) em escolas
públicas têm direito a manuais gratui-
tos. São cerca de 1,2 milhões.
Só o 1.º ciclo está dispensado da
devolução por se ter conÆrmado que
neste nível de escolaridade era prati-
camente impossível a reutilização.
O prazo para a devolução dos
manuais, incluindo os dos alunos
Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021 • 13
com exames, terminou nesta segun-
da-feira. Na semana passada, o ME
deu conta de que pelo menos 60%
dos que já tinham sido entregues esta-
vam em condições de serem reutili-
zados em 2021/22. Há dois anos
tinham sido cerca de 50%. No ano
lectivo passado, devido à pandemia,
o processo de devolução foi suspenso
por determinação do Parlamento.
Em simultâneo com os manuais,
também foram devolvidos às escolas
os computadores entregues aos alu-
nos do 4.º, 9.º e 12.º anos. Até agora,
o ME nada disse sobre este processo.
As escolas contactadas pelo PÚBLICO
indicam que, no geral, se encontram
“em bom estado”. A avaliação está a
ser feita sobretudo pelos assistentes
operacionais, já que na maioria não
existem técnicos especializados. Tem
sido “um trabalho ciclópico”, comen-
ta Manuel Pereira.
Quantos aos manuais, este director
dá conta de que tanto no seu agrupa-
mento, como noutros de que tem tido
notícia, existe “uma percentagem
elevada que não está em boas condi-
ções”. “As escolas são um reÇexo da
comunidade em que estão inseridas
e, quando nesta existem problemas
de ordem social e económica, tal
reÇecte-se também no estado do
material escolar e não é por mau uso,
mas apenas pelo uso que os alunos
lhe puderam dar”, especiÆca.
Mas nem sempre se veriÆca esta
correlação, como constata a directo-
ra da Escola Secundária Rainha Dona
94,5%
O Agrupamento de Escolas de
Mourão ganhou um prémio por
ter sido a escola que mais
reutilizou manuais (94,5%)
Prazo para devolução dos manuais terminou nesta segunda-feira
Amélia, situada numa zona favoreci-
da de Lisboa. “Os manuais vêm muito
riscados”, descreve Cristina Dias, em
resposta por email ao PÚBLICO. “A
maioria entregou ou pagou os
manuais [daniÆcados], embora haja
muitos em falta. É o caso dos alunos
do 12.º ano. Como deixam de ter um
vínculo com a escola, não estão preo-
cupados em devolver os manuais e a
maioria não o fez.”
Todo o processo foi “muito compli-
cado”, desabafa ainda Cristina Dias.
“Muitos pais já estavam de férias e
partiram do princípio de que não
seriam penalizados, se não entregas-
sem os manuais, à semelhança do que
aconteceu o ano passado, porque a
situação de pandemia permanece.”
Refere que “os directores de turma
deram a informação atempadamen-
te”, mas que “os serviços de adminis-
tração escolar tiveram de enviar mui-
tos emails e fazer muitos telefonemas
para relembrar os pais”.
Devido à pandemia, os manuais
têm de Æcar pelo menos 48h numa
espécie de quarentena sem serem
manuseados por ninguém.
O Agrupamento de Escolas de Mou-
rão ganhou em 2019 um prémio do
Ministério da Educação, no valor de
10 mil euros, por ter sido a escola que
mais reutilizou manuais (94,5%) Em
declarações ao PÚBLICO, o seu direc-
tor, José Rocha, dá conta de que a taxa
de reutilização dos manuais escolares
estará este ano nos 90% ou mais. “Por
falta de recursos humanos há manuais
que ainda não foram vistos”, justiÆca,
lembrando que este processo coinci-
de com a altura em que os funcioná-
rios das escolas podem marcar férias.
Mas José Rocha está conÆante na per-
formance do seu agrupamento: “Tan-
to os alunos como os professores já
estão educados quanto à forma de
utilizar os manuais para que estes
possam estar em boas condições.”
DANIEL ROCHA
14 • Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021
Sociedade
Cinco distritos passam a alerta laranja no
Ɗm-de-semana devido ao risco de incêndio
Sónia Trigueirão
Vão estar em alerta
amarelo já a partir de
amanhã outros nove. Vão
ser reforçados os meios no
Norte, Algarve e Centro
Devido ao elevado risco de incêndio,
a Autoridade Nacional de Emergência
e Protecção Civil (ANEPC) decidiu
colocar em alerta laranja, nos próxi-
mos dias 14, 15 e 16 de Agosto, os dis-
tritos de Bragança, Castelo Branco,
Faro, Guarda e Portalegre.
Beja, Coimbra, Évora, Leiria, Lis-
boa, Santarém, Setúbal, Vila Real e
Viseu passam a alerta amarelo a par-
tir de 13 de Agosto e até às 23h59 do
próximo dia 16.
No sistema de protecção civil, o
estado de alerta especial laranja
signiÆca que o grau de risco é eleva-
do, sendo expectável uma situação
de perigo com condições para a
ocorrência de fenómenos invulga-
res que podem causar danos a pes-
soas e bens, colocando em causa a
sua segurança. Já no amarelo, a gra-
vidade é moderada e de probabili-
dade média-alta.
A decisão foi tomada depois da
reunião semanal, na terça-feira, do
Centro de Coordenação Operacio-
Plano de Combate ao Racismo e Discriminação
recebeu 433 propostas, a maioria a favor
Joana Gorjão Henriques
Mais de 77% dos contributos
foram feitos por pessoas
singulares. Educação,
cultura e justiça entre as
áreas com mais sugestões
As medidas já foram aprovadas e
publicadas em Diário da República a
28 de Julho, as metas estão traçadas.
Mas ontem o Governo publicou o
relatório da consulta pública do Pla-
no Nacional de Combate ao Racismo e
Discriminação 2021-2025 — Portugal
contra o Racismo onde revela que
foram recebidos 139 contributos,
com 433 propostas especíÆcas, a
maioria favoráveis. Só 15% se mostra-
ram desfavoráveis ao plano.
As áreas com maior número de pro-
postas foram a educação e cultura,
com 18%, a justiça, segurança e direi-
nal Nacional (CCON), que assegura
que todas as entidades e instituições
de âmbito nacional imprescindíveis
às operações de protecção e socor-
ro, emergência e assistência previ-
síveis ou decorrentes de acidente
grave ou catástrofe se articulam
entre si, e que avaliou as condições
meteorológicas para os próximos
dias, estando prevista uma subida
das temperaturas, com algumas
regiões a registar máximas de 40
graus.
Além de elevar os estados de aler-
ta especial, a ANEPC determinou
também um reforço e pré-posicio-
namento de meios na região do
Algarve, Centro e Norte.
Assim foram determinados os
seguintes reforços: Grupo de Refor-
ço para Incêndios Florestais (GRIF)
do Porto para a Base de Apoio logís-
tico (BAL) de Macedo de Cavaleiros;
Grupo de Reforço para Incêndios
Florestais (GRIF 1) de Lisboa na BAL
de Mangualde; Grupo de Reforço
para Ataque Ampliado (Gruata 1) de
Lisboa na Base de Apoio logístico
(BAL) de Castelo Branco; Grupo de
Reforço para Ataque Ampliado
(Gruata 2) de Lisboa na BAL de
Quarteira.
Já no que diz respeito ao pré- posi-
cionamento de equipas da Força
Especial de Protecção Civil (FEPC)
tos, com 15%, e a Governação com
12%. O Governo aÆrma que as cruzou
com os eixos e medidas do plano e
incorporou algumas sugestões.
O relatório sobre a consulta públi-
ca do plano que esteve em discussão
entre Abril e Maio refere que das
sugestões enviadas e favoráveis 109
apresentaram propostas com novas
medidas, sugestões de concretização
ou de revisão de medidas contempla-
das ou “considerações e críticas em
relação a propostas especíÆcas”.
Alguns exemplos: elaborar com as
instituições de ensino superior reco-
mendações de currículo, diversida-
de, códigos de conduta e mecanis-
mos de acompanhamento e apoio a
estudantes estrangeiros e do contin-
gente Territórios Educativos de Inter-
venção Prioritária (TEIP) ou promo-
ver linhas de investigação especíÆcas
com a criação de um concurso espe-
cial para apoio a projectos de inves-
foi determinado o seguinte: Equipa
de Combate a Incêndios (Bcin 02)
da FEPC em Barranco do Velho,
Faro; Equipa de Análise e Uso do
Fogo (EAUF 03) da FEPC em BAL de
Quarteira.
Alertas à população
São também esperados alertas à
população tanto da parte da Protec-
ção Civil como do Instituto Portu-
guês do Mar e da Atmosfera
(IPMA).
A preocupação da Protecção Civil
é partilhada pelo primeiro-ministro,
São esperados alertas à população tanto da ANEPC como do IPMA
tigação em matéria de memória da
escravatura e do colonialismo e a
presença histórica dos grupos discri-
minados.
No plano, o Governo prevê a cria-
ção de 500 lugares extras no ensino
superior e em cursos técnicos supe-
riores proÆssionais para alunos que
Este é o primeiro
plano nacional
deste género
e surge depois
de uma série
de reivindicações
e iniciativas
venham de escolas TEIP (que ope-
ram em contextos sociais desfavore-
cidos). Aliás, das 47 propostas rece-
bidas para o ensino superior, 14 eram
sobre este contingente. Já a área da
justiça e direitos recebeu 21 propos-
tas sobre a avaliação da revisão da
As televisões têm
mostrado imagens
terríveis do que
tem acontecido
em outros países
António Costa
Primeiro-ministro
DANIEL ROCHA
legislação no combate ao racismo.
Outra das sugestões contempladas
foi a de promover a recolha, análise
e difusão regular de dados adminis-
trativos ou estatísticos, e elaborar
estudos e trabalhos de investigação
ou acções de formação de agentes
das forças de segurança e do sector
da justiça, designadamente para
magistrados, judiciais e do Ministé-
rio Público, e para proÆssionais do
frontoffice nos postos, nas esquadras,
nos postos de fronteira, nas patru-
lhas e nos tribunais.
Este é o primeiro plano nacional
deste género e surge depois de uma
série de iniciativas e reivindicações
de colectivos, sendo o resultado de
várias propostas feitas por um grupo
de trabalho criado pelo Governo,
que ouviu cerca de 60 entidades do
sector público e privado. Foi conce-
bido para seguir quatro princípios
transversais — desconstrução de
António Costa, que na manhã de
ontem fez um vídeo apelando a que
os portugueses tenham “cuidados
acrescidos” na prevenção de incên-
dios. “A meteorologia indica-nos
que os próximos dias serão dias de
riscos acrescidos, e por isso temos
que ter cuidados acrescidos”, aÆr-
mou António Costa numa curta
declaração em vídeo, partilhada nas
suas redes sociais. Relembrando
que as “televisões têm mostrado
imagens terríveis do que tem acon-
tecido em outros países nas últimas
semanas devido a temperaturas
muito elevadas”, o primeiro-minis-
tro frisou que ninguém quer ver
esse cenário “outra vez” em Portu-
gal, disse, sem falar dos incêndios
de 2017.
Em declarações ao PÚBLICO, o
presidente da Associação Nacional
de Bombeiros ProÆssionais, Fernan-
do Curto, sublinhou a prontidão das
equipas e disse que os bombeiros
vão fazer um trabalho de proximi-
dade junto da população no sentido
de alertar para os perigos de fazer
queimadas e outras situações que
possam provocar incêndios. Além
disso, Fernando Curto pediu ainda
uma atenção redobrada aos idosos
em relação ao calor. “As equipas
estão em alerta e, se for necessário,
há um reforço de meios”, disse.
estereótipos; coordenação, “gover-
nança” integrada e territorialização;
intervenção integrada no combate às
desigualdades e interseccionalidade
— e actuar em dez áreas: governação,
informação e conhecimento para
uma sociedade não-discriminatória;
educação e cultura; ensino superior;
trabalho e emprego; habitação; saú-
de e acção social; justiça, segurança
e direitos; participação e represen-
tação; desporto; e meios de comuni-
cação e o digital.
Pela análise feita no relatório
sobre a consulta pública, constata-se
que mais de 77% dos contributos
foram feitos por pessoas singulares,
alguns com ligação a centros de
investigação do Instituto de Ciências
Sociais da Universidade de Lisboa,
do Centro de Estudos Sociais da Uni-
versidade de Coimbra ou do Centro
em Rede de Investigação em Antro-
pologia — CRIA.

Solução vinha sendo defendida, há uma década, pelo SOS Cabedelo Local
Erosão a sul da Figueira da Foz pode ser
travada com canal a trazer areia de norte
Análise encomendada pela Agência Portuguesa do Ambiente aponta para viabilidade de um bypass Äxo,
um sistema de transposição de sedimentos entre as praias a norte e a sul do porto da foz do Mondego
Camilo Soldado
A Figueira da Foz tem um problema
de sedimentos: acumulam-se em
frente à cidade, a norte da foz do rio
Mondego, e estão em falta nas praias
imediatamente a sul, numa zona em
que a erosão costeira ameaça popu-
lações e equipamentos. A solução
passa por instalar um sistema Æxo
que transponha as areias do norte
para sul, conclui um estudo enco-
mendado pela Agência Portuguesa
do Ambiente (APA) e que é apresen-
tada hoje, na Figueira da Foz, numa
cerimónia com a presença do minis-
tro do Ambiente e da Acção Climáti-
ca, João Pedro Matos Fernandes.
O documento analisa também o
caso de Aveiro. No entanto, o estudo
conclui que “não é economicamente
compensatório intervir com este
volume de transposição”, conside-
rando “preferível manter a situação
actual de dragagem de sedimentos
na zona portuária e deposição a sul”
da foz do Vouga. No sumário execu-
tivo a que o PÚBLICO teve acesso,
são analisadas cinco hipóteses tanto
para Aveiro como para a Figueira da
Foz: uma é o cenário actual, outra é
a instalação de um bypass Æxo, duas
de sistemas híbridos de bypass e
outra é a possibilidade de dragagens
intensivas.
No caso da Figueira, os autores
concluem que “as soluções de trans-
posição são técnica e economica-
mente viáveis, sendo o sistema Æxo
o que apresenta melhores resultados
num horizonte temporal de 30
anos”. O trabalho que aponta um
caminho para resolver um problema
crítico na cidade costeira do distrito
de Coimbra foi encomendado em
Novembro de 2019 à Universidade
de Aveiro e a uma empresa de con-
sultoria em engenharia. O prazo de
execução era de um ano, o docu-
mento está pronto desde Março des-
te ano e só agora é tornado público.
Anular o efeito da erosão
O problema é semelhante nos dois
casos: o prolongamento dos molhes
que protegem as entradas na ria de
Aveiro e no estuário do rio Mondego
provocou a acumulação de sedimen-
tos nas praias imediatamente a nor-
te e um déÆce de sedimentos na faixa
costeira a sul.
Na Figueira da Foz, este fenómeno
faz com que, a norte da foz do Mon-
dego, haja um extenso areal a sepa-
Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021 • 15
PAULO PIMENTA
A costa a sul do Porto da Figueira da Foz tem sentido, com força, os efeitos da erosão
Um desequilíbrio conhecido há muito rar a marginal da cidade do mar.
Uma situação que foi agravada a
partir de 2011, com a obra de prolon-
gamento do molhe-Norte. A sul, o
mar foi ganhando terreno ao ponto
de corroer o cordão de dunas e dei-
xar preocupados os moradores da
Cova Gala, apesar dos milhões de
Praia da
euros que têm vindo a ser investidos
Claridade FIGUEIRA DA FOZ com reposições pontuais de sedi-
mentos. A mais recente obra de
Zona de reforço neste ponto da costa portu-
acumulação de
guesa está a decorrer.
sedimentos
O estudo encomendado pela APA
OCEANO põe em números algo que as popu-
ATLÂNTICO lações locais já intuíam: entre 2010
e 2019, a praia do quinto molhe da
Cova Gala registou um recuo de 3,5
metros por ano da linha de costa.
Praia do
Isto levou “à quase total destruição
Cabedelo
do cordão dunar frontal”, embora as
Zona com défice
operações pontuais de imersão de
de sedimentos dragados nas zonas fronteiras tenha
surtido efeito.
Na Figueira da Foz, os investigado-
Praia da res estimam que, com uma transpo-
Cova Gala sição contínua de um milhão de
(Norte) metros cúbicos de sedimentos por
ano através de um bypass — um sis-
tema de tubagens que passe por
debaixo do rio e transporte as areias
Fonte: PÚBLICO
de norte para sul — com duas saídas
no molhe-Sul, seja “possível anular
o efeito erosivo que se regista entre
a Figueira da Foz e a Leirosa”. Ainda
assim, esta solução teria os seus
impactos: haveria perda da área útil
de praia a norte devido à necessida-
de de reservar um perímetro para
recolher areias e instalar equipamen-
tos e maquinaria.
Olhando para Aveiro, a equipa que
produziu o relatório refere que as
“dragagens periódicas e a imersão
dos inertes têm contribuído para
minimizar a tendência erosiva, após
o prolongamento do molhe-Norte da
Barra de Aveiro, em 2013”. Nos últi-
mos cinco anos, entre a Barra e a
Vagueira, uma praia ainda mais a sul,
já na fronteira com o distrito de
Coimbra, a linha de costa tem recua-
do a um ritmo mais lento, menos de
0,5 metros por ano.
“Momento de viragem”
Criado para proteger as ondas da
praia do Cabedelo, a sul da foz do
Mondego, o movimento SOS Cabe-
delo defendia a solução de um bypass
Æxo desde 2011. Em 2012, foram à
Austrália para observar o funciona-
mento de uma solução semelhante,
implementada na Gold Coast.
Sublinhando que não conhece ain-
da o conteúdo do relatório, o arqui-
tecto Miguel Figueira, do movimen-
to SOS Cabedelo, diz que este “é um
grande momento de viragem”. “Há
dez anos, quando iniciámos este pro-
cesso, estávamos noutro paradigma
de protecção costeira, a atirar pedras
e betão ao mar e a tomá-lo como ini-
migo”, referiu. A aplicação de um
bypass Æxo signiÆcaria a “incorporar
o mar como parte da solução e tra-
balhar com a natureza”.
Na Æcha técnica do documento
encomendado pela APA, aparece
também a Malcperl Engineering,
uma empresa australiana que dese-
nhou esse mesmo sistema de bypass
da Gold Coast.
“Queríamos sempre que fosse
mais rápido, porque, a cada dia que
passa, a urgência agrava-se”, regista
Miguel Figueira, curador da exposi-
ção O Mar é a Nossa Terra, que ana-
lisa as tensões na faixa costeira por-
tuguesa e que esteve no Centro
Cultural de Belém, em 2020. “Pre-
cisámos deste tempo todo para
mudar o paradigma. Agora quere-
mos saber como se vai operaciona-
lizar e fazer chegar as soluções ao
terreno”, avisa.
16 • Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021
Mundo “Estudantes de teologia” tentam cercar capital do Afeganistão
Estados Unidos temem que os taliban
conquistem Cabul em 90 dias
Chefe do Exército substituído no dia em que os taliban conquistam a nona capital de província no
Afeganistão. Presidente Ghani visitou Mazar-i-Sharif, a única grande cidade do Norte que resiste
Sofia Lorena
Em Junho, as expectativas não eram
boas: quando os Estados Unidos se
preparavam para deixar o Afeganis-
tão, 20 anos depois de ali chegarem
para expulsar os taliban do poder,
uma avaliação dos serviços de infor-
mação do Exército apontava para que
os combatentes islamistas pudessem
invadir Cabul seis a 12 meses após a
retirada (que Æcará concluída a 31 de
Agosto). Agora, quando aos avanços
nas zonas rurais dos últimos meses
os taliban juntaram a conquista de
nove capitais de província em apenas
seis dias, essas previsões parecem
ingénuas. A actualização mais recen-
te admite que Cabul pode cair em 90
dias.
“Tudo está a ir na direcção errada”,
resume em declarações ao diário The
Washington Post um responsável nor-
te-americano familiarizado com a
nova avaliação. O jornal ouviu vários
ex e actuais funcionários da Adminis-
tração de Joe Biden e todos repetem
prognósticos terríveis. Quando ainda
faltam mais de duas semanas para o
Æm da missão militar no país, os pla-
nos para evacuar a embaixada dos
EUA e retirar o pessoal diplomático e
civil já são acompanhados por cená-
rios que prevêem a captura da capital
afegã pelos “estudantes de teologia”
em 30 a 90 dias.
Para já, como reaÆrmou em
Washington o porta-voz do Pentágo-
no, John Kirby, os EUA “vão continuar
a coordenar ataques aéreos com (e
em apoio de) as forças afegãs sempre
que isso for exequível” e é só, ao mes-
mo tempo que o Presidente dizia não
estar arrependido da retirada: o acor-
do de saída assinado com os taliban
foi negociado pela Administração de
Donald Trump, mas Biden conÆrmou
a decisão e o calendário de saída.
No terreno, as forças afegãs pare-
cem esgotadas e queixam-se da falta
de apoio aéreo e de reforços que nun-
ca chegam. Apesar dos constantes
progressos dos taliban desde Maio,
quando se iniciou a retirada, até há
poucas semanas os islamistas não se
tinham aproximado de grandes cen-
tros urbanos. Segundo diplomatas
americanos e da ONU disseram ao
jornal The New York Times, a estraté-
gia do Governo afegão, coordenada
com os EUA, passava por abandonar
as zonas perdidas e concentrar forças
junto às principais cidades, estradas
e postos fronteiriços.
para a conquistar ou para forçar o
Nove capitais de província conquistadas em apenas seis dias Governo à rendição.
A conquista do Norte
Depois da tomada de Faizabad, o Governo afegão já só controla duas das nove províncias do Norte do país
Nada deve animar tanto os combaten-
tes taliban como os sucessos militares
no Norte: etnicamente pashtun, a
UZBEQUISTÃO TAJIQUISTÃO população maioritária no Leste e no
Sul, junto à fronteira com o Paquistão,
e muito presente no Ocidente, a milí-
TURQUEMENISTÃO
cia islamista nunca conseguiu con-
Faizabad
Kunduz quistar a totalidade do Norte afegão
Taluqan quando esteve no poder, entre 1996
Sheberghan
Aybak e 2001. Agora, das nove capitais que
Sar-E-Pul ocupa, sete são no Norte.
Pul-E-Khumri
PAQUISTÃO Para já, o Governo afegão mantém
o controlo de Faryah, capital da pro-
víncia com o mesmo nome, e de
Balkh, a histórica cidade de Mazar-i-
Herat Cabul Sharif, a maior do Norte. Foi lá que
esteve o Presidente afegão, Ashraf
Ghani, para uma cimeira de crise com
Ghazni
AFEGANISTÃO dois “senhores da guerra”, o uzbeque
Abdul Rashid Dostum e o tajique Atta
Mohammad Noor.
Farah Depois de anos a tentar afastá-los
do poder, Ghani precisa agora deses-
peradamente da ajuda das milícias
Lashkar Gah Kandahar
que estes mantêm a capacidade de
mobilizar — ambos foram importan-
IRÃO Zaranj
tes comandantes da Aliança do Norte,
a coligação antitaliban formada nos
anos 1990 por líderes regionais que
tinham combatido entre si na guerra
Controlado pelos taliban
civil após a retirada soviética.
Controlado pelos taliban após 11 de Agosto
100 km
Controlado pelo Governo Novos chefes militares
“Os taliban vieram várias vezes ao
Fonte: Al-Jazira PÚBLICO
Norte, mas foram sempre encurrala-
REUTERS
dos”, disse Dostum, citado pela BBC.
tempo expulsavam os soldados oÆ# Para além de se aliar aos veteranos
ciais de vários postos nas fronteiras chefes militares, Ghani aceitou há
com o Paquistão ou com o Tajiquis- dias armar as milícias pró-Governo
tão. criadas em vários pontos do país para
De repente, a ofensiva alargou-se: ajudar as forças regulares.
na sexta-feira, conquistaram Zaranj, De regresso a Cabul, o chefe de
capital de Nimroz (Sul), a sua primei- Estado afegão anunciou o afastamen-
ra capital de província; ontem, quan- to do chefe do Exército, o general Wali
do ocuparam a capital de Badakhshan, Mohammad Ahmadzai, que ocupara
Faizabad (no Norte), somavam já o posto em Junho. Para o seu lugar foi
nove das 34 capitais de província do nomeado o general Haibatullah Ali-
país. zai, que era até agora líder da unidade
Pelo meio, capturam cidades de elite Comando de Operações Espe-
importantes pela dimensão ou pela ciais, com este lugar a ser ocupado
geograÆa, como Pul-i-Khumri, con- por Sami Sadat, que tem cheÆado a
quistada na terça-feira, que permite resistência em Lashkar Gah e na pro-
controlar uma auto-estrada que liga víncia de Helmand.
as províncias do Norte a Cabul, e que A expectativa é a de que as mudan-
Uma estratégia que deixou de fazer Presidente Ashraf Ghani será essencial no avanço para a capi- ças permitam reanimar um Exército
sentido há algumas semanas, quando recebido em Mazar-i-Sharif, a tal afegã. No imediato, isola ainda esgotado e quebrado por sucessivas
os taliban atacaram em simultâneo maior cidade do Norte do país, mais as forças que resistem no Norte. derrotas. Nos próximos dias e sema-
algumas das maiores cidades afegãs, pelos “senhores da guerra” Olhando para um mapa do país, Æca nas ver-se-á se isso é suÆciente para,
como Lashkar Gha e Kandahar, no Rashid Dostum e Atta claro que a ofensiva em marcha tem pelo menos, atrasar os avanços tali-
Sul, e Herat, no Ocidente; ao mesmo Mohammad Noor como objectivo cercar a capital, ou ban em direcção a Cabul.

Comando dos jihadistas de Cabo Delgado
tem quatro pessoas, um deles é uma mulher
António Rodrigues
Tropas ruandesas terão
mantido as forças de
Moçambique à distância
em Mocímboa. Nyusi à
procura do 3.º mandato?
Ao mesmo tempo que as tropas ruan-
desas parecem mudar o curso da
guerra em Cabo Delgado, conquistan-
do Mocímboa da Praia, que estava na
mão dos insurgentes há um ano, antes
mesmo de o contingente da Comuni-
dade de Desenvolvimento da África
Austral (SADC) estar operacional, o
investigador João Feijó dá nome e bio-
graÆa aos líderes dos “machababos”,
como popularmente são designados
os jihadistas moçambicanos.
Segundo o investigador, o coman-
do central dos jihadistas é composto
pelo líder, Bonomado Omar, nascido
na aldeia de Ncumbi, em Palma; pelo
chefe executivo Mustafá “Shinpwa-
teka”, de Mocímboa da Praia; por
Maulana Ali Cassimo, natural de
Lichinga, capital da província do Nias-
sa, que é um dos mais respeitados
comandantes; e por Rosa Cassama,
de quem se sabe apenas que nasceu
em Cabo Delgado, a “rainha da magia
negra”, a quem os jihadistas chamam
“mãe”, responsável por recrutar mui-
tas mulheres para a causa.
Mas, “não obstante a existência de
um comando central que coordena
ataques, o grupo possui várias cheÆas
intermédias, com poderes diversos e
com relativa autonomia, permitindo
alguma iniciativa”, escreve João Feijó,
investigador do Observatório do Meio
Rural, com base “em 32 entrevistas a
indivíduos raptados (a esmagadora
maioria mulheres), mas também a
antigos vizinhos, professores, supe-
riores hierárquicos e colegas das pes-
soas analisadas”.
“Entre os líderes moçambicanos
do grupo estão claramente sobrerre-
presentadas as populações da costa,
entre Palma e Macomia, geralmente
falantes de mwani. O poder dos indi-
víduos tende a advir do domínio do
islão, contactos internacionais e capa-
cidade militar”, acrescenta o estudo,
publicado na terça-feira.
Esta identiÆcação permite perce-
ber que por mais que o Governo de
Filipe Nyusi tenha insistido desde o
início do conÇito na tese da guerra
instigada de fora — o Daesh entrando
no Norte de Moçambique —, e que os
Estados Unidos tenham colocado os
insurgentes de Cabo Delgado na lista
de organizações terroristas como
Estado Islâmico de Moçambique, a
verdade é que, “não obstante a pre-
sença de estrangeiros, a esmagadora
maioria dos membros do grupo são
moçambicanos”, sublinha Feijó.
Não é que as autoridades moçam-
bicanas não soubessem há algum
tempo quem é que manda nos jiha-
distas e da condição sobretudo autóc-
tone da insurgência, mas tanto a con-
dição de “sem rosto” como a de
estrangeiro têm servido ao discurso
do poder em Moçambique, para, em
primeiro, privilegiar o uso da força e
não abrir vias de diálogo com nin-
guém, depois para justiÆcar a incapa-
cidade para controlar a guerra na sua
província do Nordeste.
Os mil a dois mil homens dos jiha-
distas, o número variou ao longo dos
tempos, são, sobretudo, moçambica-
nos e só nos ataques de grandes
dimensões, como a Mocímboa o ano
passado e a Palma em Março, é que
“o grupo recorreu a mercenários
estrangeiros, grande parte deles
oriundos da Tanzânia, existindo refe-
rências a indivíduos ‘brancos’ entre
os ‘machababos’”, refere o estudo.
Diálogo e terceiro mandato
Daí que na semana passada o antigo
Presidente Joaquim Chissano, em
entrevista à Rádio Moçambique, tenha
aconselhado o sucessor a abrir uma
via de diálogo, porque há “certos ter-
rorismos” que acabam por ter uma
solução pacíÆca. “Pode ser que apa-
reça um líder desse grupo que nos
ofereça a oportunidade de um diálogo
que conduza ao Æm [do conÇito em
Cabo Delgado]”, disse o ex-chefe de
Estado, citado pela Deutsche Welle.
No entanto, por agora, Filipe Nyusi
não parece interessado noutra via
que não seja a militar. A acreditar na
célebre frase cunhada por Clausewitz,
o Presidente moçambicano está ape-
nas a fazer política por outros meios
com a guerra de Cabo Delgado.
Uma jogada arriscada que lhe per-
mitiria convencer o seu partido, a
Frelimo, a apoiá-lo. Mais do que numa
eventual revisão constitucional para
alterar o actual limite de dois manda-
tos consecutivos para o chefe de Esta-
do, Nyusi estaria a pensar num tercei-
ro mandato automático com a even-
tual suspensão das eleições pela
declaração do estado de guerra —
aliás, que, segundo o principal parti-
do da oposição, a Renamo, já deve-
ria ter sido declarada tendo em
conta a presença de tropas estran-
geiras em solo moçambicano.
Curiosamente, em 2017, quando
Nyusi foi reeleito para a lide-
rança do partido com quase
100% dos votos, Chissano
defendeu o terceiro man-
dato para o Presidente: “A
Soldados ruandeses conseguiram conquistar Mocímboa da Praia
Missão da SADC começa a menos de meio gás
Q
uando os Estados-membros
da Comunidade de
Desenvolvimento da África
Austral (SADC) decidiram a
23 de Junho enviar uma força
militar para combater os
insurgentes em Cabo Delgado, a
sua dimensão ficou logo
estabelecida. Segundo o Centro
para Democracia e
Desenvolvimento (CDD), seria
composto por três batalhões de
630 homens cada, mais dois
esquadrões de forças
especiais com 70 soldados
cada, uma brigada de
infantaria com 100 homens,
mais seis helicópteros
(dois de ataque, dois
armados e dois de
logística), dois navios
Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021 • 17
JEAN BIZIMANA/REUTERS
de patrulha, um submarino e
duas aeronaves (uma de
vigilância e outra de logística).
Na semana em que se
anunciou o início oficial da
missão, o contingente está
longe de completo. E não fosse
a Tanzânia ter enviado 277
militares, apesar de a sua
ministra dos Negócios
Estrangeiros, Liberta Mulamula,
em Maio ter afirmado que não
iria enviar efectivos por não
saber com quem lutar, e os 757
homens que já estão em solo
moçambicano seriam bem
menos. Mesmo assim, a força é
ainda inferior aos mil soldados
ruandeses que ameaçam
resolver tudo antes de a SADC
conseguir ter toda a gente.
Mundo
Constituição determina dois manda-
tos como se todos os presidentes fos-
sem velhos. Mas Nyusi até merece três
mandatos. Ele é jovem e cheio de
vigor. Vamos acompanhá-lo.”
Ganhar a guerra contra os jihadis-
tas estaria no topo dos argumentos
capazes de justiÆcar a defesa de um
terceiro mandato do Presidente, algo
que os seus partidários chegaram a
testar nas redes sociais em Maio,
depois da reunião do comité central
do partido, mas que enfrenta forte
antagonismo interno, tal como a sua
defesa da guerra em vez do diálogo.
A acção expedita da força militar
ruandesa, que no domingo anunciou
a conquista de Mocímboa da Praia,
ocupada pelos jihadistas desde Agos-
to do ano passado, parece dar ao Pre-
sidente moçambicano trunfos para
continuar a defender a solução mili-
tar para Cabo Delgado, sobretudo
enquanto as tropas ruandesas man-
tiverem a mesma eÆcácia.
“A cidade portuária de Mocímboa
da Praia, um grande bastião da insur-
gência há mais de dois anos, foi cap-
turada pelas forças de segurança
ruandesas e moçambicanas”, disse-
ram os militares ruandeses no Twit-
ter, embora no terreno, segundo o
jornalista e investigador Joe Hanlon,
com base em informação do diário
ruandês New Times, as forças moçam-
bicanas tenham sido “mantidas à
distância”. Ao mesmo tempo, a ope-
ração militar na vila estratégica onde
a insurgência começou em Outubro
de 2017 foi acelerada para ser feita
“claramente” antes da chegada das
forças da SADC, cuja missão começa-
va oÆcialmente no dia seguinte,
segunda-feira, acrescenta Hanlon.
Se as tropas ruandesas estão a fazer
a guerra francesa por procuração,
garantindo a segurança de que a mul-
tinacional Total, importante contri-
buidora para o PIB da França, precisa
para explorar o gás natural em Cabo
Delgado, o seu desempenho tem sido
eÆciente, muito melhor do que as
tropas francesas em sete anos no Mali
a combater os jihadistas.
Mesmo assim, realça João Feijó, o
passado é bom conselheiro: “A histó-
ria militar contemporânea de Moçam-
bique demonstra que operações de
grande envergadura contra grupos de
guerrilheiros (…) traduziram-se na
dispersão territorial dos guerrilheiros
em pequenos grupos, misturando-se
com a população e abrindo novas
frentes de combate, com maiores
níveis de violência”. E com isso os
conÇitos “arrastaram-se por mais de
uma década, acabando por terminar,
não pela via militar, mas numa mesa
de negociações”.
18 • Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021

Mundo

Polémica lei de imprensa Deputados

provoca crise no Governo polaco
Diana Baptista Vicente
Legislação que os críticos
acusam de pôr em causa
o principal canal de TV
independente levou à saída
da Aliança da coligação
O futuro do Governo de coligação da
Polónia pode estar em risco, depois
de um dos partidos da coligação do
poder, o Aliança, ter anunciado
ontem a saída do Governo. O anúncio
surge um dia depois de o líder, Jaros-
law Gowin, ter sido demitido por se
opor a uma lei de imprensa que con-
sidera ser um ataque aos media.
Depois de um dia conturbado no Par-
lamento, a lei acabou por passar.
A crise começou na terça-feira,
quando o primeiro-ministro polaco,
Mateusz Morawiecki, demitiu o vice-
primeiro-ministro e líder da Aliança,
após Gowin se ter manifestado contra
a lei sobre os media. A saída de Gowin
motivou, ontem, a saída formal do
Governo da Aliança, o partido mais
moderado da coligação tripartida de
direita que lidera a Polónia desde
2015.
Os 13 deputados da Aliança (entre
460 assentos na câmara baixa do Par-
lamento), vinham cada vez mais
entrando em choque com o principal
parceiro da coligação, o partido Lei e
Justiça (PiS), nomeadamente sobre as
reformas económicas propostas. Com
a sua saída, a coligação deixa de ter
maioria parlamentar.
Mesmo assim, Piotr Müller, porta-
voz do Governo, mostrou-se conÆan-
te, em declarações à rádio pública, de
que “um número suÆciente de depu-
tados” apoiaria “as reformas benéÆ#
cas” e que “o Governo Direita Unida
continuará em funções”.
Os observadores acreditam que o
PiS tentou convencer os deputados
do Aliança a divergirem da posição
do partido, ao mesmo tempo que
convenciam deputados independen-
tes a votar favoravelmente a lei — a
imprensa polaca falou em oferta de
dinheiro e outros incentivos.
E, no Ænal do dia, a lei foi mesmo
aprovada, com 228 votos a favor, 216
contra e dez abstenções, e passará
agora para o Senado.
A lei passou com 228 votos a favor, 216 contra e dez abstenções
A oposição pediu e chegou a con-
seguir o adiamento da votação. Con-
tudo, uma segunda votação acabou
por rejeitar esse adiamento, depois
da presidente do Parlamento, Elzbiety
Esta lei viola Witek, se ter justiÆcado com o facto
de não ter avançado uma nova data
claramente para votar a lei. A oposição manifes-
o princípio tou a sua indignação, acusando Witek
de violar as regras parlamentares ao
da liberdade permitir nova votação, depois de ter
de imprensa acordado adiá-la para Setembro.
“O voto de hoje é um ataque à liber-
Jaroslaw Gowin dade, um ataque aos media que são
Líder da Aliança e independentes do Governo”, escre-
vice-primeiro-ministro demitido veu no Twitter Grzegorz Schetyna,
deputado do maior partido da oposi-
ção, Plataforma Cívica.
A lei proíbe entidades ou pessoas
WOJCIECH OLKUSNIK/EPA
de fora do Espaço Económico Euro-
peu de deterem media polacos a pre-
texto da segurança nacional. Caso
passe no Senado, obrigará a Disco-
very Inc (EUA) a vender a participa-
ção no grupo TVN, que detém o prin-
cipal canal privado de televisão.
A medida tem sido descrita como
lei anti-TVN — o canal é crítico do
Governo e a sua licença expira a 26 de
Setembro, depois de as autoridades
recusarem renová-la. Para os críticos,
a lei vai testar a sobrevivência dos
media independentes no país. “Esta
lei viola claramente o princípio da
liberdade de imprensa”, disse Gowin,
acrescentando que a mudança levará
a um “confronto com os EUA, que são
o aliado [da Polónia] mais importan-
te do ponto de vista da defesa”. O
Governo nega essa intenção.
rejeitam
voto impresso
no Brasil
Alteração constitucional
era defendida pelo
Presidente, Jair Bolsonaro,
que tem feito campanha
contra o voto electrónico
A Câmara dos Deputados do Brasil
rejeitou na terça-feira um projecto
de lei que pretendia instituir o voto
impresso no país. Numa sessão mar-
cada pela ausência de 65 deputados,
registaram-se 218 votos contra, 229
a favor e uma abstenção.
O projecto foi apresentado como
emenda constitucional e, portanto,
exigiria a aprovação de pelo menos
três quintos dos membros da Câma-
ra dos Deputados, ou seja, de 308 do
total de 513 deputados. Com a deci-
são do plenário, a proposta será
arquivada.
Ao anunciar o resultado, o presi-
dente da Câmara dos Deputados,
Arthur Lira, aÆrmou que “a demo-
cracia do plenário (...) deu uma res-
posta”. Lira acrescentou: “E na
câmara eu espero que esse tema
esteja encerrado.”
O voto impresso é defendido pelo
Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro,
que aÆrmou inúmeras vezes que o
sistema de voto electrónico, que o
país adoptou em 1996 e desde então
não foi objecto de suspeita, suscita-
ria fraude eleitoral, defendendo
assim o regresso ao antigo sufrágio
com boletins de papel, em paralelo
ao sistema actual.
Bolsonaro levou a cabo uma forte
campanha contra as urnas electró-
nicas e chegou a acusar membros do

Crise política na Bulgária depois de partido Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de

anti-sistema não conseguir formar governo
Após uma vitória à justa nas eleições
de 11 de Julho, o partido Este Povo
Existe (ITN) não conseguiu apoio suÆ#
ciente para formar uma coligação
governativa e anunciou ter desistido
dos esforços de formar um governo.
A Bulgária pode, assim, estar a enca-
minhar-se para as terceiras eleições
desde Abril.
Um mês depois da ida às urnas, a
instabilidade política arrasta-se na
Bulgária. Nas eleições antecipadas de
Julho, o ITN conseguiu uma vitória
por pouco sobre o partido do antigo
primeiro-ministro (GERB) (24,1% e
23,5% respectivamente). O partido
anti-sistema aproveitou a indignação
pública perante a corrupção das elites
políticas, depois de uma década sob
a governação do antigo primeiro-mi-
nistro Boiko Borisov.
Na terça-feira, contudo, o ITN desis-
tiu dos esforços de liderar um gover-
no de minoria. Com apenas 65 luga-
res, precisaria do apoio de mais par-
tidos dos 240 deputados do
Parlamento búlgaro, tendo recusado
a cooperação do Cidadãos para o De-
senvolvimento Europeu da Bulgária
(GERB) de Borisov e do partido que
representa a minoria turca, MRF.
O ITN não conseguiu, no entanto,
o apoio dos potenciais aliados, dois
pequenos partidos associados aos
protestos anticorrupção, depois de
ter recusado assinar um acordo polí-
tico e proposto ministros que os par-
tidos consideraram inadequados para
combater os altos níveis de corrupção
no país.
Numa declaração partilhada em
directo no Facebook, Slavi Trifonov,
líder do ITN, aÆrmou que não iria
levar o governo minoritário a votação
no Parlamento e acusou os dois
potenciais aliados de traição. “Sem o
apoio dos partidos de protesto não
iremos propor um governo”, disse
Trifonov.
Partido do antigo
primeiro-ministro
Boiko Borisov
pode ainda tentar
formar governo,
mas falta-lhe o
apoio necessário
A Constituição prevê mais duas
tentativas para formar um governo
por parte de outros partidos. O GERB,
que Æcou em segundo lugar nas elei-
ções, deve tentar a sua sorte, mas não
tem o apoio necessário para conse-
guir uma maioria. Os analistas aÆr-
mam que as probabilidades de suces-
so de outros partidos parecem estar
limitadas.
O falhanço do ITN em formar um
executivo aumenta a possibilidade de
novas eleições ainda este ano, crian-
do um vazio político que pode impe-
dir a Bulgária de responder a um
ressurgimento de casos de covid-19 e
de ter acesso ao Fundo de Recupera-
ção da UE para combater os efeitos
da crise provocada pela pandemia.
participarem num complot para
defraudar as eleições presidenciais
de 2022 a favor do ex-Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, que lidera todas
as sondagens.
As denúncias sem provas feitas
por Bolsonaro levaram o TSE a abrir
um processo administrativo contra
o Presidente e a pedir que este seja
investigado pelo Supremo Tribunal
Federal por alegadamente cometer
atentados à democracia e divulgar
informações falsas.
O Presidente brasileiro também foi
alvo de um outro pedido de inquéri-
to do TSE para apurar a divulgação
de documentos secretos da Polícia
Federal sobre um ataque ao sistema
informático do tribunal, com os
quais o Presidente brasileiro tentou
justiÆcar a campanha contra o voto
electrónico.
Lira também disse que conversou
com Bolsonaro, que lhe “prometeu
respeitar a decisão do plenário”.

Moderados do Partido Democrata refreiam
ânimos progressistas no Orçamento
Dois senadores democratas
aprovaram proposta,
mas avisaram que as
negociações seguintes têm
de levar a cortes nos gastos
Horas depois de o Senado dos EUA
ter dado luz verde a uma proposta de
Orçamento no valor de 3,5 biliões de
dólares, com a oposição em bloco do
Partido Republicano, as divergências
no Partido Democrata entre modera-
dos e progressistas ressurgiram e
vieram pôr em causa a aprovação
Ænal do documento.
Depois de ter ajudado a aprovar a
proposta, o senador Joe Manchin, um
moderado do Partido Democrata elei-
to no estado conservador da Virgínia
Ocidental, veio dizer que o montante
previsto pode pôr em causa a respos-
ta do país a futuras crises, no segui-
mento da pandemia de covid-19.
Antes deste recuo, já a senadora
Kyrsten Sinema, outra moderada do
Partido Democrata, avisara que não
aprovaria um Orçamento de 3,5
biliões de dólares, mas disse estar
disposta a negociar “de boa-fé”. Prova
Pedido de extradição de Assange
para os EUA ganha novo impulso
António Saraiva Lima
Não é propriamente uma vitória,
mas é seguramente um novo impul-
so para as pretensões norte-ameri-
canas em relação a Julian Assange.
Ontem, um juiz britânico autorizou
os advogados do Governo dos EUA a
alargarem o espectro dos fundamen-
tos que vão apresentar no recurso de
uma decisão de Janeiro de um tribu-
nal londrino, que rejeitou a extradi-
ção do fundador da WikiLeaks com
base nas preocupações sobre o seu
estado de saúde mental e na existên-
cia de um risco elevado de o austra-
liano cometer suicídio.
A equipa jurídica dos EUA quer,
precisamente, contestar o peso que
a juíza Vanessa Baraitser deu ao rela-
tório psiquiátrico, particularmente
tendo em conta que o seu autor, o
professor Michael Kopelman, omitiu
a informação de que Assange tinha
uma relação amorosa com a advoga-
da quando vivia na embaixada do
Equador em Londres, da qual resul-
tou o nascimento de dois Ælhos —
disso, segundo a senadora, foi o seu
voto a favor da proposta, na madru-
gada de ontem, como forma de dar
início ao processo de negociações.
A proposta de Orçamento foi apro-
vada com os votos dos 50 senadores
do Partido Democrata e com a oposi-
ção de 49 dos 50 senadores do Parti-
do Republicano. O republicano Mike
Rounds esteve ausente da votação,
mas a proposta seria aprovada mes-
mo se o resultado Ænal fosse 50-50 —
nesse caso, o voto de desempate seria
da vice-presidente dos EUA, Kamala
Harris, do Partido Democrata.
Se for aprovado com o montante
proposto, o Orçamento dos EUA
para 2022 permitirá à Administração
Biden cumprir todas as suas priori-
dades, incluindo as defendidas pela
ala progressista, como o combate às
alterações climáticas, a reforma da
imigração, ensino pré-escolar gratui-
to para todos e serviços de saúde ao
domicílio, para idosos, compartici-
pados pelo Estado. Mas se o obstá-
culo do Partido Democrata a uma
aprovação Ænal no Senado é a opo-
sição de pelo menos dois dos seus
senadores a um montante elevado,
na Câmara dos Representantes —
argumento que foi usado pelo hacker
no pedido de libertação sob Æança.
“É mesmo necessária uma doença
mental de tal ordem para a capaci-
dade de resistência ao suicídio ter
sido perdida. Parte do recurso focar-
se-á na argumentação de que o Sr.
Assange não apresentava uma doen-
ça mental que tenha chegado perto
dessa natureza e desse grau”, expli-
cou ao tribunal Clair Dobbin, repre-
Relatório sobre
a saúde mental
de Assange foi
decisivo na
rejeição da
extradição. EUA
vão pedir recurso
sentante do Governo dos EUA.
Apesar de considerar “muito
invulgar” que um tribunal de recur-
so reaprecie prova que foi aceite por
um tribunal de instância inferior, o
juiz Timothy Holroyde admitiu que,
à luz dos argumentos de Dobbin,
poderá haver espaço para o Tribunal
Chuck Schumer, líder da maioria democrata no Senado dos EUA
Superior reavaliar a sua relevância
para o caso. Mesmo tendo em conta
que o professor Kopelman agiu em
nome da protecção da privacidade
da companheira e dos Ælhos de
Assange e de “uma resposta humana
compreensível”.
“Tendo em conta a importância da
administração de justiça de um tri-
bunal ter de ser capaz de responder
sobre a imparcialidade de uma tes-
temunha especializada, é, na minha
opinião, defensável que deveria ter
sido feita uma consideração mais
detalhada e mais crítica sobre por-
que é que a resposta humana com-
preensível [dada pelo professor]
pode ter originado um relatório ine-
xacto”, disse Holroyde.
Os EUA acusam Julian Assange de
18 crimes de espionagem, por causa
da divulgação de mais de 700 mil
documentos conÆdenciais sobre
actividades militares e diplomáticas,
principalmente nas guerras do Ira-
que e do Afeganistão, e dizem que o
hacker pôs em perigo as vidas das
fontes dos serviços secretos.
Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021 • 19
Mundo
SHAWN THEW/EPA
que também tem de aprovar o docu-
mento — o problema é o oposto. A
ala progressista, que é essencial para
o sucesso de uma votação numa
câmara em que os democratas têm
uma maioria curta, já disse que só
aprovará um Orçamento com dinhei-
ro suÆciente para cobrir todos os
seus objectivos.
A votação na Câmara dos Repre-
sentantes deverá decorrer ainda em
Agosto, mas é pouco provável que
moderados e progressistas cheguem
a um entendimento sem que uma das
partes seja obrigada a fazer mais con-
cessões do que a outra.
Na terça-feira, o Senado tinha apro-
vado um pacote de um bilião de dóla-
res para investimento em infra-estru-
turas, num raro exemplo de união
entre os dois partidos — 19 dos 50
republicanos votaram a favor.
Falta saber se aquilo que parece ser
uma vitória da Administração Biden
não acaba por colidir com as divisões
no Partido Democrata. Na Câmara
dos Representantes, os democratas
dizem que só aprovam este pacote
especíÆco para as infra-estruturas se
o Senado aprovar um Orçamento de
3,5 biliões de dólares. PÚBLICO
PUBLICIDADE
AVISO
1. Nos termos e para os efeitos previstos no n.º 2 do artigo 47.º da Lei n.º
19/2012, de 8 de maio, torna-se público que a Autoridade da Concorrência
recebeu, a 2021-08-06, uma notificação de uma operação de concentração
de empresas apresentada ao abrigo do disposto no artigo 37.º do referido
diploma.
2. A operação de concentração em causa consiste na aquisição, pelo BMI
Group Management UK Limited (“Grupo BMI”), através da sua subsidiária
CT Cobert Telhas S.A. (“BMI Cobert”), de um conjunto de ativos detidos
pela Argibetão – Sociedade de Novos Produtos de Argila e Betão
(“Negócio-Alvo”).
3. As atividades das empresas envolvidas são as seguintes:
• Grupo BMI – Empresa constituída ao abrigo das Leis do Reino Unido e
ativa na produção de coberturas planas e inclinadas, designadamente
telhados, e de soluções de impermeabilização na Europa, com uma
presença significativa em partes da Ásia e África. O Grupo BMI está ativa
no mercado português através da sua subsidiária BMI Colbert;
• Negócio-Alvo – Conjunto de ativos, atualmente detidos pela Argibetão
(Grupo Secil), e vocacionados para a produção de telhas de betão.
4. Quaisquer observações sobre a operação de concentração em causa,
devem identificar o interessado e indicar o respetivo endereço postal,
e-mail, n.º de telefone e fax. Se aplicável, as observações devem ser
acompanhadas de uma versão não confidencial, bem como da respetiva
fundamentação do seu caráter confidencial, sob pena de serem tornadas
públicas.
5. As observações devem ser remetidas, por email (adc@concorrencia.pt)
à Autoridade da Concorrência, no prazo de 10 dias úteis contados da
publicação do presente Aviso, indicando a referência Ccent. n.º 39/2021 –
Grupo BMI / Ativos Argibetão.
20 • Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021
Economia Mais novos, menos qualiƊcados e precários mais atingidos
Retoma do
emprego ainda
não chegou
aos jovens
e precários
Número de empregos já recuperou para
um nível superior ao de há dois anos.
Mas nem todos sentiram esse resultado
Variação no número de empregos
Entre o 2.º trimestre de 2019 e 2.º trimestre de 2021, em milhares de pessoas
Por idade
16 aos 24 -41
25 aos 34 -48,3
35 aos 44 -66,6
45 aos 54 75,8
55 aos 64
94,9
65 aos 89 21,6
Fonte: INE
Sérgio Aníbal
Depois de uma queda abrupta no iní-
cio da pandemia e de alguns altos e
baixos desde aí, a economia ainda
está a vários meses de voltar a ser o
que era, mas o número de pessoas
empregadas em Portugal, apoiado
pelas medidas lançadas pelo Estado,
já regressou, no segundo trimestre
deste ano, ao nível em que se encon-
trava antes do início da pandemia. O
problema é que esta retoma mais
rápida no mercado de trabalho não
chegou a todos os segmentos da
população.
Pela primeira vez desde o início da
crise, as estatísticas do mercado do
trabalho publicadas pelo Instituto
Nacional de Estatística (INE) revelam
um número de pessoas empregadas
em Portugal que é superior àquele
que se registava antes do segundo
trimestre de 2020, o primeiro em que
se sentiu o impacto negativo da pan-
demia.
De acordo com os dados ontem
publicados, existiam, no segundo
trimestre de 2020, 4810 mil empregos
Por profissão
Trabalhadores
serv. pessoais -108,6
e vendedores
Trabalhadores
não qualificados -102,9
Operadores
-39,4
de máquinas
Trabalhadores
qualificados da -31
ind. e construção
Pessoal
78,7
administrativo
Especialistas
das actividades 176,5
intelectuais e científicas
PÚBLICO
em Portugal. Este é um valor que não
só signiÆca um acréscimo de 128,9 mil
empregos face ao trimestre imediata-
mente anterior e 200 mil empregos
face ao trimestre homólogo do ano
anterior, como supera em 66 mil tra-
balhadores o número de empregos
registado no primeiro trimestre de
2020 e em 36 mil trabalhadores o
resultado do segundo trimestre de
2019, o melhor ponto de comparação
pré-crise, para retirar da análise os
efeitos da sazonalidade.
O emprego tem resistido bastante
melhor à crise do que a actividade
económica. Isso foi particularmente
evidente no segundo trimestre de
2020, quando o PIB se afundou 14% e
o emprego apenas 3% e deveu-se, em
larga medida, aos apoios públicos que
têm vindo a ser disponibilizados para
evitar que as empresas reduzam de
forma abrupta a força de trabalho.
Em particular, a medida do layoff sim-
pliÆcado, ao manter o vínculo laboral
entre trabalhadores e empresas numa
altura em que a actividade parava ou
era fortemente reduzida, contribuiu
para que, em Portugal, tal como na
generalidade dos países europeus, se
tivesse evitado uma quebra abrupta
dos níveis de emprego semelhante à
queda a pique da economia.
Agora, numa altura em que a eco-
nomia recupera, o ritmo de cresci-
mento do emprego é, sem surpresa,
menor do que o do PIB. No segundo
trimestre, o emprego cresceu 2,8%
em cadeia e 4,5% face ao período
homólogo, num trimestre em que a
economia cresceu 4,9% em cadeia e
15,5% em termos homólogos. Mas isso
não impediu que o número de empre-
gos chegasse já ao nível pré-crise,
enquanto o valor do PIB, no segundo
trimestre deste ano, ainda estava 4,7%
abaixo do registado antes da pande-
pande
mia.
O problema destes valores
es agre-
gados para a evolução do empre-
mpre-
go é que escondem realidades
des
diferentes em alguns seg- g-
mentos do mercado de
trabalho. Para alguns tipos
de trabalhadores e em
alguns sectores de activi-
dade é possível veriÆcarr
que o número de empregos os
Dielmar: Governo apoia venda rápida para garantir sa
N
o dia em que elogiou a
recuperação do nível de
emprego, considerando
“impressionante” o
crescimento de 129 mil postos de
trabalho no segundo trimestre, o
ministro da Economia, Pedro Siza
Vieira, prometeu empenho para
salvar os postos e os salários dos
279 funcionários da empresa
têxtil Dielmar, que se apresentou
à insolvência no início de Agosto,
quando encerrou para férias.
Para ttal, vai ser preciso
“acelera
“acelerar a venda” da Dielmar,
um pro
processo que está nas mãos
do administrador
adm de insolvência,
ma
mas que contará com o
ap
apoio do Governo. O
E
Estado é um dos principais
c
credores daquela
empresa sediada na vila
de Alcains, concelho de
C
Castelo Branco, e, se for
preciso, o executivo trabalhará
junto de outros credores para
garantir uma solução rápida. A
promessa foi ontem transmitida
pelo governante numa reunião
com os representantes do
Sindicato dos Trabalhadores do
Sector Têxtil da Beira Baixa, em
Lisboa. Foi uma reunião em que
“foram dados passos positivos”,
resumiu Marisa Tavares, dirigente
daquele sindicato, que saiu do
encontro com a sensação de que
“as coisas parecem estar
encaminhadas”. “O senhor
ministro vai trabalhar em
conjunto com o administrador de
insolvência para que se agilize o
processo de venda da empresa e
no decorrer deste tempo, até
que se chegue à venda, há da
parte do Ministério da Economia
o compromisso de se
encontrarem soluções para que

alários e postos de trabalho
os trabalhadores mantenham os
seus vínculos e que tenham o
vencimento disponível no final
do mês de Agosto”, resumiu
Marisa Tavares.
O executivo mostrou ter
conhecimento de três
interessados na compra da
fábrica. Esse número tinha sido
avançado pelo autarca de
Castelo Branco, José Augusto
Alves (PS), na segunda-feira,
quando os trabalhadores se
concentraram num protesto à
porta da sede daquela autarquia.
“Continuamos sem saber quem
são esses interessados. Não nos
interessa se é A, B ou C. O que
nos interessa é garantir os
direitos dos trabalhadores”, diz a
representante sindical,
acrescentando, no entanto, que
“parece que já há mais dois”.
“Temos a garantia de que se vai
FERNANDO VELUDO/NFACTOS
Em Junho havia 210,5 mil
jovens que não estavam
empregados ou a formar-se
trabalhar numa solução para que
todos mantenham o seu vínculo.
É um primeiro passo no bom
sentido, vamos acompanhar o
processo com cautela.”
A Dielmar deveria voltar ao
trabalho no próximo dia 18 de
Agosto, findas as duas semanas
de férias. Mas não é certo que
isso aconteça. “Só o
administrador de insolvência
pode dizer-nos isso”, diz a
sindicalista, que se reunirá com
aquele responsável hoje à tarde.
Essa reunião já esteve marcada
para terça-feira, mas acabou por
ser adiada depois de o ministério
ter convocado o administrador
de insolvência para um encontro
nesse dia em Lisboa. Amanhã, o
sindicato voltará a reunir-se com
os trabalhadores, num plenário a
realizar na fábrica. Victor
Ferreira
está neste momento ainda signiÆca-
tivamente abaixo daquele que se veri-
Æcava antes da crise.
Quando se olha para os sectores de
actividade, veriÆca-se, por exemplo,
a subsistência de um nível de empre-
go muito inferior ao passado no alo-
jamento e na restauração. O turismo
foi um dos sectores mais afectados e
persistem entraves à sua actividade,
que se reÇectem nos postos de traba-
lho criados. No segundo trimestre
deste ano, existiam neste sector ainda
menos 72,9 mil empregos do que em
igual período de 2019.
Em contrapartida, há sectores que
já revelam aumentos fortes do núme-
ro de empregos, destacando-se em
particulares áreas como a informação
e comunicação, actividades cientíÆ#
cas, técnicas e de consultoria, educa-
ção e saúde.
Para além dos sectores, é também
particularmente evidente, nos dados
disponibilizados pelo INE, o tipo de
trabalhadores que mais saíram a per-
der durante a crise e que ainda não
concretizaram uma retoma. Por tipo
de contrato de trabalho, existem ago-
ra mais 158,7 mil empregos por conta
de outrem com contrato sem termo,
e há menos 131 mil contratos com ter-
mo.
Uma interpretação benigna deste
resultado seria a de que se está agora
a apostar em vínculos laborais menos
precários em Portugal, mas a explica-
ção para estes resultados está essen-
cialmente no facto de, no início da
crise, a perda de empregos ter atingi-
do os contratos com termo, passando
quase ao lado daqueles que tinham
um vínculo mais sólido. Medidas
como o layoff simpliÆcado serviram
especialmente para proteger este últi-
mo grupo, enquanto os trabalhadores
mais precários foram as vítimas natu-
rais da tentativa das empresas de
reduzir custos num cenário de crise.
Outra característica evidente nos
empregos que ainda não regressaram
é o facto de serem menos qualiÆca-
dos. Os dados do INE mostram que
há agora, em comparação com há
dois anos, menos 108 mil empregos
para “trabalhadores de serviços pes-
soais, segurança e vendedores” e
menos 103 mil empregos para “traba-
lhadores não qualiÆcados”. Em con-
trapartida, a grande maioria do
aumento de empregos (176 mil) foi
para “especialistas das actividades
intelectuais e cientíÆcas”.
Por Æm, há a diferença das idades,
sendo evidente que as idades mais
avançadas, que à partida contavam
com vínculos laborais mais estáveis,
resistiram melhor à crise do que os
mais jovens. Nos segmentos entre os
16 e os 44 anos, o nível do emprego é
agora ainda inferior ao período pré-
crise, enquanto o oposto acontece
para os segmentos que vão dos 45 aos
89 anos. Para além disso, no segundo
trimestre de 2019, havia em Portugal
191,5 mil jovens que não estavam nem
empregados, nem em educação ou
formação. Agora são 210,5 mil.
Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021 • 21
Teletrabalho
Covid-19 mantém 475,5
mil pessoas a trabalhar
em casa há seis meses
Raquel Martins
A pandemia da covid-19 obrigou a
que milhares de trabalhadores dei-
xassem o escritório para passarem a
trabalhar a partir de casa e, no
segundo trimestre de 2021, havia
475,5 mil pessoas nessa situação há
pelo menos seis meses. Esta é uma
das conclusões que se pode retirar
dos dados ontem divulgados pelo
Instituto Nacional de Estatística
(INE), que dão conta de uma dimi-
nuição de pessoas a trabalhar fora
do escritório e em regime de teletra-
balho.
Entre Abril e Junho, o país iniciou
um processo de desconÆnamento.
Embora a obrigatoriedade do tele-
trabalho se tivesse mantido, o alívio
das restrições levou a uma redução
do número de pessoas que trabalha-
ram sempre ou quase sempre em
casa, passando de quase um milhão,
no primeiro trimestre do ano, para
740,7 mil no segundo trimestre.
Nesse universo, o INE dá conta de
607,3 mil pessoas empurradas para
essa situação por causa da pandemia
(as restantes 133,3 mil já trabalhavam
em casa ou passaram a fazê-lo por
outra razão que não a covid-19), das
quais 475,5 mil encontravam-se nes-
sa situação há seis ou mais meses, o
que corresponde a uma proporção
de 78,3%. No primeiro trimestre, a
percentagem era de 48,2%, o que
signiÆca que houve um elevado
número de trabalhadores que conti-
nuaram a desenvolver a sua activi-
dade fora do escritório.
Isso aconteceu sobretudo na Área
Metropolitana de Lisboa, sendo a
maioria das pessoas que estão há
pelo menos seis meses a trabalhar
no domicílio homens (50,4%), têm
45 ou mais anos (41,6%), o ensino
superior (72,9%) e trabalham nos
serviços (87%).
Teletrabalho recuou
No segundo trimestre assistiu-se a
uma diminuição das pessoas em tele-
trabalho, resultado do alívio das res-
trições. Das 740,7 mil pessoas que
entre Abril e Junho trabalharam sem-
pre ou quase sempre fora do escritó-
rio, 717 mil estiveram em teletraba-
lho (ou seja, trabalharam a partir de
casa com recurso a tecnologias da
informação e comunicação), o que
corresponde a um recuo de 25,9%
em relação às 967,7 mil pessoas que
estavam nesse regime no primeiros
meses do ano, altura em que as esco-
las fecharam e o país se viu obrigado
a conÆnar-se novamente.
Na prática, o teletrabalho abrangia
14,9% da população empregada, o
que representa uma queda de 5,8
pontos percentuais face aos três pri-
meiros meses do ano (quando a pro-
porção atingiu os 20,7%) e de 7,6
pontos percentuais em comparação
com o segundo trimestre de 2020
(22,6%), data que coincide com o
início da pandemia em Portugal.
Ainda assim, faz notar o INE, os
14,9% correspondem “à terceira pro-
porção mais elevada deste indicador
desde que começou a ser acompa-
nhado há cinco trimestres”.
Os dados agora divulgados mos-
tram que o teletrabalho se restringe
a actividades e trabalhadores espe-
cíÆcos e não tem uma distribuição
uniforme pelo território, com mais
de metade das pessoas abrangidas a
viverem na Área Metropolitana de
Lisboa (51,5%), no Norte (25,5%) e no
centro (15,6%), sendo muito incipien-
te nas restantes regiões.
Ao contrário do que aconteceu no
primeiro trimestre, em que a maioria
dos teletrabalhadores eram mulhe-
res, agora a tendência alterou-se e
51,5% das pessoas em teletrabalho
No segundo
trimestre
assistiu-se a uma
diminuição
das pessoas
em teletrabalho
em Portugal
são homens. O INE não avança uma
explicação para esta inversão, mas
pode estar relacionada com o facto
de o Governo ter aprovado legislação
que reforça os apoios às famílias que
partilham os cuidados das crianças
durante o conÆnamento.
No segundo trimestre continua a
predominar o teletrabalho entre as
pessoas que completaram o ensino
superior (72% do total) e que têm
contratos sem termo (71,8%), desen-
volvendo actividades intelectuais e
cientíÆcas (55,3%).
O sector dos serviços representa
87,1% do teletrabalho, e as activida-
des de informação e comunicação,
as actividades de consultoria e cien-
tíÆcas, a educação e a administração
pública juntam mais de metade das
pessoas que estavam em teletraba-
lho (52,4%).
O teletrabalho deixou de ser obri-
gatório a 1 de Agosto, passando a ser
apenas recomendado em todo o ter-
ritório do continente.
22 • Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021
Economia
Governo cada vez mais perto de resgatar
concessão na mina de Montalegre
Luísa Pinto
Lusorecursos está a poucas
semanas de falhar cláusula
contratual que a obrigava
a ter um EIA aprovado
no espaço de dois anos
Quando foi assinado o contrato de
concessão de exploração da mina do
Romano, em Montalegre, com a
Lusorecursos Portugal Lithium, a
empresa Æcou obrigada a ter um Estu-
do de Impacte Ambiental (EIA) entre-
gue e aprovado no prazo de dois
anos. O contrato foi assinado em Mar-
ço de 2019, mas com o regime de sus-
pensão dos prazos, durante a pande-
mia de covid-19, esse limite Æcou
Æxado para o dia 4 de Setembro. Téc-
nica e contratualmente, a partir des-
sa data, o Estado pode tomar a inicia-
tiva de pedir a rescisão do contrato
por incumprimento contratual. Fon-
te do Ministério do Ambiente e da
Acção Climática (MAAC) conÆrmou
ao PÚBLICO que a Direcção-Geral de
Energia e Geologia já notiÆcou a
empresa desta data. E da respectiva
consequência de não a cumprir.
Em causa está o prazo previsto na
cláusula 7.ª do contrato de conces-
são, que determina que empresa Æca
obrigada “a elaborar e a obter a
aprovação de um Estudo de Impac-
to Ambiental no âmbito de estudo
prévio ou de execução do plano de
Preços da electricidade batem recordes no arranque
da onda de calor
Ana Brito
Calor faz antever aumento
do consumo eléctrico, que
terá de ser abastecido com
produção mais cara, a partir
do gás natural
Num momento em que a resposta das
renováveis é insuÆciente para abaste-
cer o consumo eléctrico e as centrais
a gás natural têm de dar resposta à
procura, os preços da electricidade
no mercado grossista ibérico conti-
nuam a bater recordes consecutivos.
Segundo o OMIE (a entidade que
administra o mercado ibérico), o
preço médio para a energia que será
negociada naquela plataforma hoje,
12 de Agosto, será de 115,83 euros por
lavra” até “ao prazo máximo de dois
anos após a assinatura do contrato”.
“O incumprimento desta obrigação
constitui fundamento para a resci-
são do contrato por iniciativa do
Estado”, conÆrmou ao PÚBLICO
fonte do MAAC.
Contactada pelo PÚBLICO, fonte
da Lusorecursos não quis comentar
esta data e limitou-se a garantir que
pretende cumprir, antes disso, o pra-
zo que lhe foi dado pela Agência Por-
tuguesa de Ambiente (APA) para
entregar uma reformulação do EIA,
depois de esta entidade ter delibera-
do que o primeiro que lhe foi entre-
gue não estava conforme face aos
requisitos. Esse prazo expira amanhã,
13 de Agosto.
O MAAC conÆrma a data, indican-
do “que o procedimento de AIA [Ava-
liação de Impacto Ambiental] se
encontra actualmente suspenso pois
em sede de audiência de interessa-
dos, decorrente da apresentação de
EIA pela empresa, a Agência Portu-
guesa do Ambiente (APA) concedeu
prazo até 13-08-2021 para reformula-
ção do EIA no sentido de se poder
aferir da respectiva conformidade”.
O ministro do Ambiente e da Acção
Climática, João Matos Fernandes, já
admitia em Abril estar convencido de
que a empresa ia perder a concessão,
por “manifesta incapacidade técnica
de apresentar um Estudo de Impacte
Ambiental”.
“A Lusorecursos já apresentou por
megawatt/hora (MWh), batendo o
recorde prévio, de um preço médio
de 113,99 euros Æxado para ontem.
Longe vão os tempos de preços bai-
xos atingidos no início da crise sani-
tária da covid-19, quando, entre Abril
e Junho de 2020, o preço médio no
mercado grossista andou na casa dos
23 euros por MWh.
Com a quantidade de gás natural
armazenado na Europa reduzida em
um terço face aos volumes de Agosto
de 2020 — de acordo com os inven-
tários de armazenamento da GIE, a
associação que representa as empre-
sas europeias responsáveis pelas
infra-estruturas de gás natural, como
a REN — e tendo em conta, em simul-
tâneo, que as entregas deste combus-
tível nos mercados asiáticos se
encontram perto de máximos histó-
duas vezes um Estudo de Impacte
Ambiental [EIA] e por duas vezes foi
considerado desconforme. E isto logo
numa fase quase inicial. Está muito
longe do que é a competência técnica
de EIA. A manter-se assim aquele pro-
jecto, com aquele grau de proÆssio-
nalismo, não vai conseguir vingar”,
aÆrmou o ministro nessa altura.
Depois da polémica que se levan-
tou com a assinatura do contrato com
a Lusorecursos, e com as anunciadas
investigações e processos em tribu-
nal, tanto o ministro do Ambiente
como o secretário de Estado da Ener-
gia procuraram sempre demarcar-se,
o mais possível, do projecto apresen-
tado para Montalegre. Em Novembro,
ricos (destacando-se a China como o
grande importador), é de esperar
que os preços se mantenham sob
pressão nas próximas semanas.
O mercado ibérico do gás (o
Mibgas) marcava ontem, 11 de Agos-
to, um preço diário em torno de 44
euros por MWh (quando chegou a
estar nos 15,16 euros por MWh no
início do ano), mas o valor para
entrega em Setembro já superava os
45 euros.
Os preços do gás natural, aliados
Não são
de afastar novos
recordes
de preços
no mercado
grossista da
Península Ibérica
Datas
04.09.2021
Data-limite termina a 4 de
Setembro. Até amanhã, 13 de
Agosto, empresa tem de
apresentar o EIA reformulado
Direcção-Geral de Energia e
Geologia já notificou a empresa
do prazo que cessa em Setembro
ADRIANO MIRANDA
aos das licenças de emissão de CO2
(que se encontram acima dos 57
euros por tonelada), vão continuar
a pesar nos custos de produção das
centrais a gás da Península Ibérica
(onde o carvão deixa de ser uma
opção). Se se somar a isto a fraca pro-
dução eólica num cenário de altas
temperaturas, como o que é espera-
do para os próximos dias em Portu-
gal e Espanha, não são de afastar
novos recordes de preços no merca-
do grossista da Península Ibérica.
Em Portugal, os efeitos destas
subidas chegam de forma gradual às
carteiras dos portugueses, através
das revisões trimestrais das tarifas
reguladas da Entidade Reguladora
dos Serviços Energéticos (ERSE) e
das condições que, entretanto, são
negociadas entre os clientes do mer-
mais de meio ano depois da assinatu-
ra do contrato, João Galamba dizia ao
PÚBLICO que não tinha contactos
com a empresa e lembrava que, se a
Lusorecursos não cumprisse os pra-
zos, perderia a concessão.
“A obrigação da empresa é apre-
sentar um Estudo de Impacte
Ambiental de acordo com o projecto
preliminar que apresentaram, e ago-
ra têm de detalhar. Se me vierem
perguntar alguma coisa, eu poderei
dar algumas indicações sobre técni-
cas de lavaria, produção energética,
partilha com a comunidade. Mas a
obrigação de apresentar um projecto
para submeter a Estudo de Impacto
Ambiental é da empresa, não é do
Governo. E há prazos a cumprir. Se
não apresentar os estudos necessá-
rios dentro do prazo, perde a conces-
são”, avisava João Galamba.
Mesmo que a empresa consiga
cumprir o prazo que lhe foi dado pela
APA para entregar um EIA reformu-
lado — e que termina amanhã — diÆ#
cilmente conseguirá cumprir o prazo
de o ter declarado conforme até 4 de
Setembro.
A Savannah, que detém a conces-
são de Boticas, apresentou um EIA
em Maio de 2020 e só em Abril de
2021, depois de ter pedido mais infor-
mação adicional, é que declarou que
o estudo estava conforme, tendo
seguido para consulta pública, termi-
nada a 16 de Julho. O processo está
ainda em análise pela APA.
cado livre e os comercializadores
que lhes prestam o serviço.
No início de Julho, a reguladora
actualizou a componente de energia
das tarifas reguladas de electricida-
de em 3%, o que, para as famílias
que ainda estão no mercado regula-
do, representou um agravamento
da factura entre 1,05 euros e 2,86
euros.
Mas em Espanha, onde as oscila-
ções nos preços do mercado grossis-
ta afectam imediatamente as tarifas
reguladas (conhecidas como PVPC
ou Precio Voluntario para el Pequeño
Consumidor), reÇectindo-se nos
montantes a pagar todos os meses,
a escalada de preços é uma dor de
cabeça constante para os cerca de
dez milhões de clientes que ainda
estão no mercado regulado.
 Público • Quinta-feira, 12 de Agosto de 2021 • 23

Rua Júlio Dinis, n.º 270, Tel. 22 615 10 00

Bloco A, 3.º Piso
4050-318 Porto
lojaporto@publico.pt
De seg a sex das 09H às 18H
CLASSIFICADOS

ELEIÇÕES GERAIS PARA OS ÓRGÃOS DAS

AUTARQUIAS LOCAIS - 2021
O Grupo de Cidadãos Eleitores Independentes Unidos pela Nossa Freguesia «RSECA»,
INDEPENDENTES PELO NORTE PEQUENO «NPEQUENO» E INDEPENDENTES
POR SANTO ANTÃO «SANTÃO» vem, nos termos e para os efeitos do n.º 4 do artigo
Câmara Municipal de Moura
21.º da Lei n.º 19/2003, de 20 de junho, comunicar que constitui Mandatário Financeiro:
Vanda de Fátima Nunes da Costa Oliveira EDITAL N.º 6542/DGARH/2021
EDITAL
ELEIÇÕES GERAIS PARA OS ÓRGÃOS DAS
AUTARQUIAS LOCAIS - 2021 FEIRA ANUAL DE SETEMBRO DE 2021
O Grupo de Cidadãos Eleitores Independentes DAR VIDA AO CONCELHO Álvaro José Pato Azedo, Presidente da Câmara Municipal de Moura:
«CCALHETA» vem, nos termos e para os efeitos do n.º 4 do artigo 21.º da Lei Torna público, nos termos e para efeitos previstos no artigo 13.º do Regulamento
n.º 19/2003, de 20 de junho, comunicar que constitui Mandatário Financeiro: das Feiras e Mercados do Concelho de Moura, que se encontram abertas as
Vanda de Fátima Nunes da Costa Oliveira inscrições para atribuição de lugares na Feira Anual de Setembro de 2021, que
decorre no período de 10 a 12 de Setembro.
Durante o prazo de 20 dias úteis, a contar da data de publicação do presente
edital em órgão de imprensa escrita, podem os interessados dirigir por escrito
o pedido, ao Presidente da Câmara Municipal de Moura, Praça Sacadura
Cabral, 7860-207, Moura, o qual se encontra disponível na Divisão de
Planeamento, Gestão Urbanística, Investimento e Turismo, ou através do e-mail
cmmoura cm-moura.pt.
O Valor das taxas a pagar são as seguintes:
CONHEÇA a) Feirantes por m2...............................0.80€.
FACULDADE DE CIÊNCIAS DA
UNIVERSIDADE DO PORTO
Dá-se conhecimento público que se procedeu ao alargamento das
áreas de habilitações literárias dos requisitos mínimos do processo de
recrutamento e seleção de um Dirigente Intermédio de 3.º grau em
regime de contrato de trabalho em comissão de serviço para o Serviço
de Imagem da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto:
Habilitações literárias – Formação Superior ao nível de Licenciatura
pré-Bolonha, Licenciatura pós-Bolonha e Mestrado, ou Mestrado
Integrado numa das seguintes áreas: Ciências Naturais, Ciências
Físicas, Matemática, Informática, Sociologia, Humanidades, Ciências
Empresariais, Comunicação e Marketing.
Poderão consultar o edital retificado e as condições de acesso em:
https://sigarra.up.pt/fcup/pt/noticias_geral.ver_noticia?p_nr=76054
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 12 de agosto de 2021.