Você está na página 1de 20

HISTÓRIA E DANÇA, COM BASE NA MANIFESTAÇÃO ESTÉTICA

DO ROCK ‘N’ ROLL, NOS ANOS 50.

O Rock ‘n’ roll e a sua dança surgem após a Segunda Guerra Mundial como
significado de rebeldia e contestação apresentadas pela juventude, isto é,
como manifestação cultural no contexto histórico dos anos 50. Desta
forma teremos, aqui uma abordagem de análise e fonte documental desta
forma de manifestação estética, cultural e artística. As interpretações
culturais desta década mereceram investigação histórica para perceber
que a maneira de abordar a relação entre o Rock ‘n’ roll nos anos 50 e a
História, é mais do que uma ilustração, ou seja, ocorre uma
transcendência da perspectiva lúdica. Implica em utilizar a dança
enquanto uma prática da juventude, como sujeitos inseridos no contexto
sócio-histórico da década de 50, ou seja, do Pós-Guerra. Com referencial
teórico denominado história social da cultura, será adequada como
instrumento de análise do contexto sócio-histórico do Rock ‘n’ roll e a
Dança.

É fundamental compreender os significados da rebeldia e da contestação


manifestadas pela juventude. A prática levada a efeito pelos jovens
remete à relevância das conseqüências ou resultados involuntários que a
influenciaram. A Indústria Cultural criou necessidades de consumo que
revelaram o cotidiano, ações, atitudes, hábitos mentais que indicaram
mudanças de novos padrões comportamentais que se sucederam a partir
dos anos 50 e os significados que a prática do Rock ‘n’ roll assumiu para a
juventude. O Rock ‘n’ roll estabelece uma aproximação com aspectos que
lembram autores como Friedlander, Muggiati, Coelho e alguns artigos de
jornais e revistas publicados desde aquela época. Contribuem com
elementos fundamentais para a compreensão da Dança e Rock ‘n’ roll.
Entretanto, apesar disso, faz-se necessário que a investigação se
fundamente por meio de recolhimento de dados históricos pautados no
sentido de compreender o fenômeno, como manifestação estética,
artística e cultural relacionado com o contexto sócio-histórico do Pós-
Guerra. A verificação investigativa do Rock ‘n’ roll se faz sob o recorte dos
anos 50, para não incorrer em superficialidades. Isso possibilita uma
análise do Rock ‘n’ roll e sua Dança enquanto uma prática dos jovens
inseridos, de modo a perceber e compreender os significados que a
prática do Rock ‘n’ roll assume para a juventude da década de 50.

O Rock ‘n’ roll surge como feito coletivo, atividade em cuja realização da
juventude se funde com a ação, emoção, desejo, rebeldia e contestação
de moldes predeterminados de valores conservadores, patriarcais e
religiosos. Reflete a impressão da época utilizando-o como matéria-prima,
como testemunha deste fenômeno nos anos 50 nos EUA e absorvido pelo
Brasil como produto cultural. Torna-se símbolo de ruptura, contestação e
irreverência que atinge a juventude na década de 50. Entretanto, a análise
da Indústria Cultural, percebe estes jovens apenas como consumidores,
público alvo de mudanças comportamentais e ideológicas, que afetam
também a sociedade conservadora com novos valores produzidos pelo
fenômeno do Rock ‘n’ roll. A partir da realização de um breve recorte
cronológico, se busca indicar um panorama histórico que permita uma
melhor compreensão desse fenômeno conhecido como Rock ‘n’ roll nos
anos 50, também utilizado como memória para documentar ao revivê-lo.
Entretanto o convite à dança do Rock ‘n’ roll se vale da representação dos
fatos ocorridos, onde a juventude rebelde de diversas classes sociais lhe
imprimem seu próprio caráter.

O Rock ‘n’ roll surgiu após a II Guerra Mundial ,e a sua proposta era
contestar os velhos costumes da época. É um ícone da contracultura,
mistura elementos da música negra como o Blues e o Rhythm´n´Blues com
a música da sociedade branca, o Country e o Folk. Gênero musical este, a
princípio, sempre ligado à transgressão, em um momento em que a
sociedade americana da década de 50, principalmente no sul dos Estados
Unidos, ocorria uma forte segregação racial. O Rock inspirado em ritmos
africanos estava destinado a ser marginalizado. Possivelmente ele serviu
para evidenciar as idéias contestatórias da juventude insatisfeita com o
sistema cultural, educacional e político dos Estados Unidos nos anos 50.
Assim, o Rock ‘n’ roll, usando a guitarra, a bateria, o contrabaixo e
convidando para a dança rompeu com outras formas musicais, sugerindo
ritmo, melodia e volume diferentes deflagrando a transgressão.
Identificou assim, as rupturas dos padrões sociais que se apresentavam na
sociedade da época: a moda se transformava em algo colorido,
extravagante, desafiando os padrões da época; a sexualidade
apresentava-se de modo quase obceno pelos artistas. Assim, vários
padrões foram formulados, contestados e rompidos. O movimento
musical denominado Rock ‘n’ roll surgiu nos Estados Unidos, nos anos 50
como um grito do negro, vindo da África como escravo. As origens desse
ritmo já haviam surgido há muito tempo, mas foi somente após a Segunda
Guerra Mundial que a musicalidade negra foi abraçada pela geração
americana. O Blues, significa triste, melancólico, advindo dos hematomas
que surgiam nos escravos devido à depressão que sentiam. Assim esta
música “doce-amarga” causou uma revolução sonora da década de 50 e
fundou as suas estruturas. (MUGGIATI,1973). O Blues surge do encontro
de tradições africanas e européias no sul do EUA. Ao final do século XIX
fundindo o seu grito com as canções de trabalho, os acordes dos hinos
religiosos e a estrutura das baladas, o negro chegou ao Blues. O grito era
uma espécie de reconhecimento do ambiente em meio às plantações de
algodão. Simbolizava a comunicação do escravo. A proibição do uso de
instrumentos explica parcialmente o fortalecimento da tradição oral. As
canções de trabalho (work songs) refletem uma concepção diferente de
música: para o negro da África Ocidental, “a música e a dança não são
manifestações isoladas de arte e sempre foram usadas como uma função
estritamente comunitária”. (CHACON,1992). Havia canções de jovens para
conquistar moças, de mães para acalmar filhos, de chefes para impor
ordem na comunidade, de guerreiros para criar coragem, de sacerdotes
para influenciar sobre a natureza, de trabalhadores para cadenciar e
suavizar suas tarefas. Destas tradições surgem work-songs nas plantations
de algodão do sul do EUA, algumas em forma de pergunta e resposta, o
que animaria mais tarde o Blues e o Rock. Em sua adaptação no
continente americano, os escravos se convertem ao cristianismo. Surgiram
as Gospel Songs, hinos costurados com trechos da Bíblia e work-songs,
reforçando a recriação musical negra que daria origem ao Blues, que
estabeleceu uma ponte entre as work-songs do século XIX e o Rock‘n’ roll
dos anos 50 do século XX, legando para a posteridade elementos da
cultura africana, remodelados pela convivência européia nos EUA, o que
se estenderia para todo o mundo ocidental, seja pela força das redes de
produção e comercialização, seja pela imediata identificação corporal e
das atitudes com a juventude.

Produzido originalmente em pequenos estúdios do sul dos EUA, o Rock‘n’


roll alcança um sucesso rápido e inesperado, muito além da capacidade
americana absorver ou aceitar o seu impacto. Seu sucesso é explicado
pela imediata simpatia que o ritmo provoca numa geração de
adolescentes, brancos e negros. Mas também, é explicado pelo rápido
golpe comercial dos grandes estúdios do Leste e Oeste dos EUA (RCA,
Capitol, Mercury).

O puritanismo sexual e o conformismo do vestuário são atacados sob os


aplausos de jovens que já procuram manter distância dos rígidos valores
tradicionais dos pioneiros norte-americanos do século XVIII. Trabalho,
preparação para o casamento, acúmulo de capital, patriotismo são
substituídos pela descontração, sensualidade, irreverência e liberdade de
se divertir. O convívio racial em festas, salões de dança e shows foi sem
dúvida uma vitória moral do Rock ‘n’ roll nos anos 50, já que havia quase
um século que os adultos se recusavam a tal convívio na sociedade.
Entretanto, a quebra de tabus morais e raciais provocam nos setores
conservadores uma reação:

Escândalos criados encerram carreiras, já desgastadas pelo sucesso


relâmpago, e versões adocicadas do Rock ‘n’ roll (Platters) são
cuidadosamente promovidas para ocupar o espaço de figuras desafiantes
como Little Richard e Chuck Berry. Afinal, o mercado não podia parar.
Chuck Berry, Bill Haley e os Everly Brothers gravaram músicas que falavam
do próprio rock e das dificuldades da vida dos adolescentes. Estas músicas
eram as mais apreciadas, pois as letras transmitiam valores novos. Berry
cantava que a escola era cansativa. Bill Halley desafiava todo mundo a
dançar, dançar, dançar....Nos anos 50 não havia ataque direto aos valores
conservadores dominantes. (FRIEDLANDER, pág.398, 2006). Chuck Berry,
com a música “Rock ‘n’ roll Music” (novembro de 1957), celebrava a
música e seus vários componentes e os impulsos cinestésicos para dançar,
derivados do backbeat. Em “Sweet Little Sixteen” descrevia uma garota
implorando à mãe que convencesse o pai de que não há problema emse
divertir com a dança. Ao mesmo tempo, indica as ciladas de dançar o Rock
‘n’ roll com vestidos apertados e usando batom (id, 429, 2006). A batida
backbeat, centrada na batida rítmica 2/4 foi constante entre as variáveis
musicais. Com as raízes do Gospel ao Rock Clássico, passando pelo R&B
(marcado geralmente pela bateria) fornecia o contraponto Roll para o
acelerado Rock do baixo e outros instrumentos. Este era o ritmo que
estimulava os corpos dos adolescentes a se mexer incontrolavelmente na
dança e ameaçava os padrões morais de seus pais. A reação moralista
atinge a carreira de Chuck Berry, acusado de raptar uma jovem fã que lhe
acompanhava em seu carro (ela era branca); atinge Jerry Lee Lewis,
envolvido em um escândalo por ter se casado com sua prima adolescente.
Little Richard não resiste à vida de astro e se refugia numa fase mística.

O corpo tem suas razões. Elvis foi um fenômeno da expressão corporal. O


primeiro a usar não só a voz, gestos, rosto enquanto cantava, mas sim o
corpo todo – e o rock fica devendo isso a ele. A coreografia de Elvis era
“demoníaca”, ainda é. Não era só uma questão de requebros ou passes.
Era uma coisa animal, inevitavelmente charmosa. Elvis imitava
movimentos dos performers negros, girava o traseiro, agarrava o
microfone, caía de joelhos e levantava o lábio superior dando seu famoso
sorriso. Gerou milhões de imitadores com topetes, blusões com a gola
levantada, queixos enterrados no peito e olhares raspando pelas
sobrancelhas invadiu os EUA. (DIGESTIVOCULTURAL, 2006). Elvis serve o
exército na Alemanha, no auge da Guerra Fria e foi o melhor garoto
propaganda que o exército americano poderia ter sonhado. Foi absorvido
pelo sistema, virou bom moço e namoradinho da América. Utilizou um
estilo único e inconfundível, criando sua versão do swing negro, com o
Blues, mexendo freneticamente quadris e pernas. O jeito sensual de
dançar chocou, passou por censura, fascinou, fez as mulheres delirarem e
lhe rendeu o apelido de “Elvis the Pelvis” (id, 2006). Elvis era desejado
pelas garotas, imitado pelos garotos, e odiado pelos pais da garotada. Elvis
incendiava platéias por onde passava com sua bela voz, seu carisma de
galã e seu inconfundível estilo de dança, inédita até então, considerado
indecente para os padrões da conservadora sociedade americana. Esse
jeito de dançar rendeu a ele o apelido “The Pelvis”, uma referência ao
conjunto de ossos que formam a cintura, a qual Elvis balançava
freneticamente. Aos 21 anos instintivamente Elvis colocou toda sua
energia na performance de “Hound Dog”, tocada no início de forma
acelerada e dançante, e no final de forma bem lenta , sexy e insinuante.(id
2006).

Vozes conservadoras vindas da Imprensa, de grupos religiosos e da


sociedade, já se manifestaram contra o Rock & Roll. Elvis havia trazido a
música dos negros aos lares americanos. Acusavam-no de ser imoral, um
mau exemplo para a juventude e um perigo para as recatadas filhas de
família do “american way of life”. O movimento anti Elvis crescia na
mesma proporção que a fama do rapaz de topete e costeletas que se
vestia e dançava de maneira espalhafatosa, culminando com a censura
imposta a ele em sua terceira apresentação na televisão. A censura
federal determinou que Elvis fosse filmado apenas da cintura para cima,
para proteger os olhares de milhares de famílias americanas de seus
rebolados indecentes. Isto serviu para aumentar a sua popularidade, e
aumentar de maneira astronômica a audiência. (id Elvis serve o exercito
na Alemanha, no auge da Guerra Fria, Elvis foi o melhor garoto
propaganda com o exército americano poderia ter sonhado (id,2006).
Elvis,conduzido pelos seus empresários, ensaia uma “recuperação,”afasta-
se temporariamente para cumprir o serviço militar e volta com a imagem
de patriota, devotado aos velhos valores puritanos. Abandona os
requebros e ataca de “It´s now or never” e de “Love me tender”! E para
completar, acasos do destino retiram de cena cantores originais como
Eddie Cochran. Paralelamente, as rádios divulgam versões amenas do
Rock, como “Let´s Twist Again” (Trini Lopez), “Only You” (Platters) e a
música dos Everly Brothers. Nesta época a tradicional sociedade
americana começou a ser contestada pelos jovens, que foram rotulados
de rebeldes sem causa: Mais do que o cinema, a música e a dança
canalizaram as idéias contestatórias dos jovens, frente à insatisfação com
o sistema cultural, educacional e político. O Rock ‘n’ roll era o ritmo que
iria acompanhar esse comportamento”. O Rock ‘n’ roll estava do lado
oposto à postura tradicional e à manutenção das instituições vigentes na
época.

O ‘Rhythm and Blues’ é a vertente negra do Rock. São quase


exclusivamente daí as origens do Rock. Reprimidos pela sociedade branca,
anglo-saxônica e protestante, os operários negros se refugiavam na
música (o Blues), e na dança para dar vazão, pelo corpo, aos protestos,
que não eram permitidos.(CHACON 1922) Os estilos de dança popular
tornam-se mais desenvoltos. Os negros criam o Twist que fazia parte da
mesma proposta, chamando a atenção do mundo todo no final dos anos
50, por um aspecto inovador: as duplas não precisavam se tocar enquanto
dançavam. Os pares dançam juntos e obedecem a uma seqüência
marcada de passos. Quem tornou o ritmo conhecido foi Chubby Checker,
que subia ao palco para requebrar com os joelhos dobrados, e deslizava os
pés de um lado ao outro, sem retirá-los do chão. Quem deu nome ao novo
ritmo que surgia foi um disc-jockey americano, Alan Freed, que se inspirou
em um velho Blues. Ele foi um dos personagens importantes para os
primeiros momentos do Rock ‘n’ roll, pois passou a divulgar eventos de
Rock ´n Roll após o programa de música clássica que mantinha em uma
rádio em Ohio. Tudo começou quando Freed foi convidado por um amigo
a visitar uma loja de discos em que viu vários jovens dançando ao som de
uma música que até então ele nunca havia parado para ouvir: o Rhythm
and Blues.

Na América Latina não foi diferente, a contestação e a rebeldia eram


representadas nessas músicas que fascinavam multidões: “Surgiu na
América Latina como um movimento da contracultura que utilizava muito
a temática sexual para manifestar sua rebeldia, figuravam convites à
dança e ao amor (não necessariamente ao casamento), descrições de
carros e de garotas, histórias de colégio e dramas da adolescência”. O
Rock surge, então, como um movimento da contracultura, já que as suas
manifestações iam de encontro aos valores da época. O Rock chega ao
Brasil em 1955, quando Nora Ney grava a versão Rock Around the Clock. A
primeira estrela nacional do gênero é Celly Campelo (1942-) que lança no
início dos anos 60, Banho de Lua e Estúpido Cupido. Na mesma época o
Rock se populariza com outras versões de sucessos norteamericanos, por
Nick Savoia e Ronnie Cord (1943-). A partir de 1965 Roberto Carlos,
Erasmo Carlos e Wanderléia tornam-se os expoentes da Jovem Guarda,
variação do Rock. Em 1966, os Mutantes revelam Rita Lee. Embora este
período seja caracterizado por uma expressiva diversidade de gêneros
musicais, essa opção de recorte foi no intuito de evitar incorrer em
superficialidades. Nos anos 50, o Brasil perdia a copa do mundo (1950),
morte de Getúlio Vargas (1954), morte de Carmem Miranda (1955),
presidência de JK em 1956, entretanto em 24 de outubro de 1955 algo
mudou completamente a vida dos jovens e todas as gerações seguintes...
Nora Ney grava a versão de “Rock around the clock”, surge o rock
brasileiro, que será popularizado nos anos 60 como iê iê iê. Ela exerceu
papel relevante no rock brasileiro na medida em que despertou na
juventude brasileira ainda não transviada a percepção para jornais,
revistas e programas de rádio que apresentavam os reis do rock Chuck
Berry, Jerry Lee Lewis, Little Richard, Elvis Presley. Com o auxílio do
cinema e seus artistas perniciosos, Marlon Brando e James Dean
bombardeavam e moldavam toda uma geração. Revistas como “O
Cruzeiro”, “Revista do Rádio”, e as “Seleções do Reader Digest”
apresentavam o rock de modo nu e cru, isto é, guitarras gritando, pianos
enlouquecidos, voz e quadris dançando em sintonia com o ritmo, teatros
lotados por platéias dançantes. O Brasil surpreendido se divide entre os
pais repressores e a juventude insana, ansiosa pela igualdade e excitação
que o Rock ‘n’ roll proporciona. O Rock ‘n’ roll era a trilha sonora da
década. Em 1956, ao assumir a presidência, JK prometia desenvolver o
Brasil “50 anos em 5”. Brasília se construiu em 3 anos, a indústria
automobilística fo implementada. No cinema estreou o filme “Rock
Around the Clock”, que apresentou também as músicas “Only You” e “See
You Later Alligator" nas paradas de sucesso. Igual sucesso se repetiu com
“O Selvagem” (Marlon Brando) e “Juventude Transviada” (James Dean).
Rapidamente a juventude incorpora esses modelos de comportamento
vindos dos EUA. A década de 50 foi marcada por contrastes. Sonhos
rebeldes de gangues de motocicletas ou lambretas, tênis, camiseta branca
e blusão de couro. Os ternos, as saias rodadas, meias de seda, foram
cedendo lugar às costeletas, topetes, jeans apertados, tênis conga, rabo
de cavalo, goma de mascar ping pong. Este comportamento da juventude
mostrava uma rebeldia ingênua, imitada dos ídolos do cinema como
James Dean e Marlon Brando, que apresentava um clima de delinqüência
juvenil. O visual , o ritmo alucinante e a música de incendiar, mexia com os
quadris, a cabeça e fascinavam a juventude. Não existiam roqueiros
brasileiros legítimos no Brasil, nesta época. Tudo era assimilado e
reproduzido com o “jeitinho brasileiro” pelos músicos. Assim o rock
nacional começava a ganhar cantores brasileiros com nomes
“americanos”, roupas chamativas, espalhafatosas e produzidas. De modo
contrário, dos rebeldes sem causa que apavoravam os EUA, as gravadoras
brasileiras se concentraram na procura de rapazes de bem e moças de
família para iniciar o rock no Brasil. Tonny e Celly Campelo lançam seu
primeiro disco, com as versões de “Perdoa-me” e “Belo Rapaz”. Estrearam
na TV TUPI, em São Paulo, e por mais dois anos apresentaram o programa
Celly e Tonny. Em HiFi, também conhecido por Crush HiFi na TV Record.
Celly e Tonny foram considerados reis do rock. Em 1958 se formaram os
“Golden Boys”, cuja participação expressiva se manifestou na Jovem
Guarda. A Revolução Cubana inspirou o surgimento de um drink, no
mínimo original, a mistura de rum (Cuba) com coca-cola (EUA), para
concorrer com o HiFi (vodca com suco de laranja, e após, com crush). Ao
final da década de 50, programas de rádio invadiam o país divulgando o
som pop dos EUA. Muito mais que o cinema, a televisão divulgou a cultura
do rock no Brasil. Acessórios indispensáveis a este comportamento eram a
lambreta, óculos escuros, cuba livre, camisetas para impressionar os
“brotos”, e outras modas na juventude brasileira. A mudança ocorreu
porque a TV, do mesmo modo que o carro, eram objetos de consumo
inacessíveis a todas as classes sociais. O acesso a esses bens era limitado
às famílias mais abastadas, porém a parafernália eletrônica para propiciar
conforto e bem estar já se encontravam no Brasil no fim dos anos 50,
como ventiladores, batedeiras, liquidificadores, refrigeradores, etc. Assim
como os supermercados e os enlatados. O que se pregava na época, o
modelo era “se é bom para o EUA é bom para o Brasil”. Desse modo, claro
que o rock surgiria por aqui como música popular dominante na década
de 50.

Em 1957 em 16 de janeiro o então prefeito de São Paulo, Jânio Quadros,


proíbe o Rock ‘n’ roll nos bailes. Mandou prender quem se manifestasse
histericamente durante as exibições públicas do filme No Balanço das
Horas. A rapaziada pulava nas poltronas, rasgava as cortinas, batia os pés,
assoviava, ousava levantar as saias das garotas, enfrentar os seguranças e
desafiar a policia para dançar Rock ‘n’ roll nas ruas e calçadas. Jânio
Quadros proibiu a execução de músicas do estilo Rock ‘n’ roll nos bailes
públicos do estado. A razão era a reação descontrolada dos jovens esse
tipo de música. Proibidos de fazê-lo em público, os paulistas continuam a
dançar o ritmo do Rock ‘n’ roll, nas festas particulares e se comportar de
acordo com os moldes da juventude transviada, com seus casacos de
couro e suas lambretas.(FOLHA.BANCO DE DADOS). Surge neste mesmo
ano no Rio de Janeiro uma das primeiras bandas de rock verdadeiramente
nacional , denominada “Turma do Matoso”. Ouviam o som de Elvis, Chuck
Berry e Little Richard. O nome da banda muda para “The Sputnicks”, cuja
formação consistia em Tim Maia, China, Arlênio, Trindade, Erasmo e
Roberto Carlos. Entretanto, em 1958 houve a dissolução da The Sputnicks.
A Jovem Guarda surge no final dos anos 50. Roberto Carlos canta “Tutti
Frutti”, de Little Richard no programa Teletur da TV TUPI. Logo seria
contratado e trilhava como rei do iê iê iê. Quando os anos 50 terminaram
o Brasil tinha perdido a sua característica inocente e ingênua, apesar de
ter ingressado na sociedade de consumo, através do surto
desenvolvimentista de JK, as desigualdades sociais começavam a
aumentar de maneira vertiginosa. Na música do final dos anos 50, isso
ainda não era perceptível, entretanto no cinema, arte e literatura sim. A
mudança de valores, então passa a enfatizar temas diferentes àqueles do
Rock ‘n’ roll dos anos 50. Na década de 60 sentia-se uma mudança no ar e
tudo se alterou com a chegada em 1961 do “Let´s Twist Again”, de Chubby
Checker. Reprovada como uma dança imprópria, foi ganhando cada vez
mais força. Fácil de aprender, divertida de dançar no seu ritmo
característico, jovens e velhos dançavam o Twist toda noite. O Twist
trouxe consigo uma nova idéia: os dançarinos não precisavam ter
parceiros, as meninas não tinham que esperar quem as convidassem para
dançar; toda a gente podia se juntar e dançar. No início havia figuras
facilmente reconhecíveis, mas à medida que se enraizou o Twist, foram se
desenvolvendo inúmeras variações até o estilo de cada um se tornar
pessoal e único. A influência do Twist espalhou-se: os vestidos eram feitos
com pequenas tiras que brilhavam quando os dançarinos se abanavam; os
modelos posavam em linhas Twist; Havia queixas de músculos doloridos e
dores nas costas, mas a sua popularidade era suprema.Em fins de 1950, o
Rock ‘n’ roll já podia se considerar como um produto inserido no sistema
cultural. A postura de diversos setores da sociedade havia mudado em
relação ao Rock: de maldito, condenado pelos conservadores, agora era
objeto de consumo de boa parte da população jovem tanto do Brasil
quanto dos EUA. O rock foi chegando devagar no Brasil, para se
estabelecer se fixar como uma epidemia que atingiu o país inteiro. Todos
pediam Bill Halley, Elvis Presley, Little Richard, etc. As gravadoras lançaram
discos rapidamente, para aproveitar do modismo e faturar com a Indústria
Cultural que o Rock‘n’roll permitia. O incessante desenvolvimento da
tecnologia, torna o Rock ‘n’ roll cada vez mais sofisticado, principalmente
nos meios de comunicação (fotografia, fonografia, cinema, rádio,
televisão, etc). Ele passou a atingir um grande número de pessoas, dando
origem a chamada cultura de massa, ditando comportamentos, a partir de
modelos míticos como representação coletiva produzida e difundida
maciçamente pela mídia. Com a explosão demográfica e expansão
econômica dos EUA, durante e após a II Guerra Mundial, a população
jovem estadunidense aumentou consideravelmente. Apesar do progresso
e da industrialização, a sociedade norte-americana permaneceu com
valores morais arcaicos e preconceituosos, criando um vazio e uma
insatisfação na juventude, principalmente da classe média. É nesse
contexto que surge na juventude ocidental uma nova cultura, reflexo de
tendências comportamentais de revolta, expressa principalmente pela
música e pela dança. A partir disso começa a se configurar a formação de
um mercado consumidor que fortaleceu a Indústria Cultural, constituído
basicamente por jovens de diferentes classes sociais. Embora estivesse
inicialmente fora dos padrões preconizados pela sociedade estabelecida,
caracterizada por ser patriarcal, conservadora e moralista, a cultura jovem
passou a ser devidamente assimilada e comercializada pela Indústria
Cultural, que a divulgou através dos meios de comunicação, tornando-a
universal. O Rock ‘n’ Roll então se propagou rompendo com os dogmas
pregados pela família, escola, igreja e outras instituições. Apesar dessa
comercialização, foi somente a partir dos anos 60 que a juventude passou
a apresentar críticas mais contundentes à sociedade moderna, não só
negando seus valores, mas tentando criar e vivenciar um estilo de vida
alternativo e coletivo, contra o consumismo, a industrialização
indiscriminada, o preconceito racial, as guerras, etc. A Indústria Cultural
tem uma característica específica do mundo capitalista. Insere na
produção de objetos de consumo, a arte em várias modalidades, como
produto a ser consumido, isto é, a arte é um produto voltado para uma
Indústria Cultural. (ADORNO, 1997).

Adorno afirma que a cultura de massas é produto da Indústria Cultural. A


Indústria Cultural é uma produção direcionada para o consumo das
massas segundo um projeto pré-determinado e estabelecido, seja qual for
a modalidade, aqui, o Rock ‘n’ roll nos anos 50. Há uma estrita relação
entre produção e consumo. A produção determina o que deve ser
consumido e vice versa. A inter-relação, em termos culturais, faz com que
o Rock ‘n’ roll culturalmente produzido se pareça com qualquer produto
industrializado. Existe toda uma estratégia para que este produto alcance
o público consumidor. Não interessa à Indústria Cultural a que modalidade
pertença, desde que se gere nas massas a necessidade de consumo,
chegue às massas, manipulando de modo gigantesco os meios de
comunicação pelos produtores, a fim de criar no público-alvo principal, o
jovem, novas necessidades de consumo e ainda de novos produtos, como:
mais músicas, mais discos, mais brilhantina, mais jaquetas de couro, mais
calças jeans, mais goma de mascar ping pong, mais tênis conga, mais
óculos de gatinhos, mais meias soquete, isto é, o comportamento rebelde
que identifique todos como sendo um só, sem escolher, ouvir, vestir ou
dançar algo diferente. A intenção da Indústria Cultural, espalha uma
névoa na percepção das pessoas, isto é intencional principalmente por
aqueles que formam opiniões. Ela é a própria ideologia. Os valores passam
a ser regidos por ela. Até a intensidade da felicidade do jovem é
influenciado e condicionado por esta cultura. A Indústria Cultural alimenta
nos jovens necessidades, não as básicas (primárias ou secundárias), mas
sim a necessidade de consumir incessantemente. O jovem consumidor
sempre estará insatisfeito, querendo consumir constantemente. Assim o
consumo se torna cada vez maior. O desejo de posse é alimentado e
renovado pelo progresso técnico e científico das gravadoras, de modo que
torna-se quase impossível se libertar desta realidade uma vez que os
apelos são inúmeros e convincentes. O Rock ‘n’ roll feito em série
industrialmente, para um grande número, passa a ser visto não como
instrumento de crítica e conhecimento, mas como produto trocável por
dinheiro e que deve ser consumido como se consome qualquer coisa...
produto padronizado, como uma espécie de kit para montar, feito para
atender necessidades e gostos médios de um público que não tem tempo
de questionar o que consome. (COELHO, pág. 10, 1989). Porém, para
Adorno existe uma solução, observar a própria cultura do homem: a
limitação do sistema e a estética, ou seja, a arte. Segundo Adorno, a arte
possibilita ao homem se libertar e gozar de certa autonomia, e desse
modo torna-se em ser humano, com coração humano e não coração-
máquina.(ADORNO, 2002). Enquanto na Indústria Cultural o homem é
mero objeto de trabalho e consumo, quando faz Arte é um ser livre que
pensa, sente e age. A Arte é algo perfeito que solta as amarras da
ideologia encontrando dentro dela uma maneira de limitá-la, ou seja, a
limitação e a arte na própria Indústria Cultural. Os valores foram deixados
de lado em troca do interesse econômico. O que rege a sociedade é a lei
do mercado. O jovem que não conseguisse acompanhar este ritmo e essa
ideologia de vida era considerado fora de seu tempo, ou seja, à margem
da sociedade. Isto é fruto da Indústria Cultural. (id2002) Adorno afirma
que tudo na Indústria Cultural se torna negócio. Desse modo, percebe-se
de maneira programada, sistemática, orientada, para explorar os bens
culturais. O Rock ‘n’ roll, que antes manifestava rebeldia, contestação e
era um modo de lazer e divertimento, nutriu a percepção de que era um
meio extremamente eficaz de manipulação, exercendo uma função
específica, em que através da Indústria Cultural traduz-se em sentimento
para todo o sistema. O jovem, na Indústria Cultural, é um mero
instrumento de trabalho e consumo, isto é, um objeto. Ele é manipulado e
ideologizado de tal modo que até o seu lazer se torna uma extensão do
trabalho. O consumidor não precisava se dar ao trabalho de pensar, era só
escolher qual artista, música ou dança desde que fosse Rock ‘n’ roll.
Aplicava-se assim ao fim a que se destina, ou seja, nada escapa à
voracidade da Indústria Cultural. (id 2002) O Rock ‘n’ Roll estava ligado a
um grupo social específico, a juventude. Era transmitido de maneira
industrializada para um público generalizado, de diferentes camadas
sócio-econômicas. Ocorria a formação de um enorme mercado de
consumidores em potencial, atraídos pelos produtos oferecidos pelo Rock
‘n’ roll. Esse mercado caracterizava-se pela chamada sociedade de
consumo. Com a industrialização dos elementos da cultura popular, o
produto cultural se apresentava de uma forma esteticamente nova e
diferente. Para a difusão do Rock ‘n’ roll utilizou-se dos meios de
comunicação para o seu lançamento, isto é, produto em grande
quantidade e, depois, induzia os jovens a consumirem esse produto,
apelando para outras razões além de seu valor artístico. Ao divulgar
produtos culturais de diferentes origens, possibilitou o seu conhecimento
por jvens de diferentes camadas sociais de maneira atraente, voltada para
o consumo generalizado da sociedade jovem. Na Europa e EUA, no final da
década de 50, os jovens próximos de atingir a maioridade não tinham
motivos para se orgulhar da civilização ocidental: duas guerras ocorreram
antes do seu nascimento. Conflitos regionais ocorreram ou ainda
permaneciam, deixando mortos ou inválidos. A convivência com a
presença desastrosa de seus países: EUA na Guerra da Coréia (1950-1953)
e a Guerra do Vietnã (1956-1975); a França nas guerras da Indochina
(1945-1954); Inglaterra contra a desobediência civil de Mahatma Gandhi;
eauge do capitalismo que aparentemente não empolgava a juventude.
Nos EUA o racismo dos adultos procurava separar jovens brancos e
negros, unidos pelo som do Rock desde os anos 50. Mesmo para os filhos
da classe média que passou o Pós-Guerra acumulando bens para oferecer
um futuro seguro, as perspectivas de realização pessoal não eram
atraentes. Não havia sentido seguir os passos dos pais, significando assim
a restrição da existência ao mundo individualista de um emprego estável,
casamento e ideais patrióticos. Do bloco socialista poucas informações
confiáveis atravessavam a cortina de ferro da Guerra Fria, algumas nada
animadoras: invasão soviética em países socialistas que buscavam seu
próprio caminho, como a Hungria(1956) e a Tchecoslováquia (1958). Qual
a direção o jovem deveria seguir? Propostas sedutoras se apresentaram
aos garotos do mundo: ouvir e dançar Rock ‘n’ roll, comunidades
alternativas, onde compartilhar era a senha de convivência, como os
hippies da costa oeste dos Eua; militância política para derrubar o racismo
(Black Panthers, Martin Luther King); ou para derrotar o próprio país,
agente agressor internacional (pacifismo); reencontro com a natureza
popular e folclórica de sua nação; busca de experiências místicas e
psicodélicas. As novas experiências juvenis, algumas desconcertantes,
outras autodestrutivas, outras ainda extremamente subversivas e
combatidas, tinham em comum a rejeição da cultura tradicional, daí
serem rotulados de contracultura, conjunto das manifestações artísticas,
existenciais e culturais características da revolta contra as instituições, os
valores, os hábitos, as hierarquias e as tradições dominantes da
sociedade. Com isso, essa juventude mais crítica e politizada nega a
cultura vigente, até então sustentada e manipulada em sua maior parte
pela Indústria Cultural. Essa reação jovem é conhecida como
contracultura, simbolizada principalmente pelos hippies no final dos anos
50 e década de 60. Mesmo opondo-se à industrialização da cultura, é
através da Indústria Cultural que esses movimentos jovens acabam se
expandindo e se deixando assimilar. Por um lado, introduzem temas e
questões até então ignorados ou pouco discutidos pela maioria da
sociedade, como por exemplo, drogas, sexo, racismo, ecologia e
pacifismo. Por outro lado, evidenciam o aspecto transformador da cultura
jovem que, expressando uma visão crítica da realidade, acaba por
modificá-la, mesmo estando submetida a um rígido processo de
industrialização e comercialização. O Rock ´n Roll, símbolo de ruptura, de
contextação e de irreverência acabou despertando grandes iras e
desgostos nos defensores e representantes maiores do discurso
conservador, ou seja, no clero (católico e protestante) e em toda a
comunidade puritana. O Rock passou a ser considerado por muitos como
a ruína dos ditos bons costumes, a perdição dos horrorizado e chocado ao
saber que seus filhos estão ouvindo uma música dessas”. O Rock ‘n’ roll
começou a se popularizar ao final dos anos 50 e a destruir os valores
cristãos. Para os conservadores, a civilização ocidental esteve sob a mira
de um plano deliberado de guerra cultural, com o propósito de eliminar a
herança cultural judaico cristã. (CIAPPINO 2006) A linguagem do Rock
passa a ser observada como um espaço histórico ideológico de onde
eclode significado através de sua materialidade. O sentido do Rock é
percebido na medida em que contesta o aspecto religioso, jurídico, ateu,
travando-se, assim, uma luta ideológica, isto é, a luta pelo sentido,
contestando a ordem autoritária de poder, que propõe verdades
absolutas como os da educação, da mídia, da ciência, da política, etc.( id
2006) É indiscutível a contribuição e a relação do Rock ‘n’ roll nas
mudanças de novos padrões comportamentais que se sucederam a partir
dos anos 50. Este movimento marca uma divisão provocando mudanças
comportamentais e ideológicas com seus músicos rebeldes desvairados e
contestadores, ou seja, se constroem sentidos de contestação, afronta e
ruptura com a moralidade cristã. O Rock ‘n’ roll é entendido como
manifestação estética, como espaço histórico-ideológico de onde os
sentidos surgem por meio de sua manifestação.O significado é produzido
por sujeitos que ocupam posições, as quais são determinadas, por sua vez,
por reais condições de existência, isto é, são posições de sujeitos
estabelecidas em uma região social, histórica, ideológica e cultural. As
condições sociais, podem, entre outras, ser de classe, paralelamente as
condições de produção definem e organizam a sociedade determinando o
modo com que cada um produz sentido sobre determinados
acontecimentos. Determinam a posição com a qual o sujeito vai se
identificar, determinado por suas reais condições de existência.

Apaixonada pela Dança e pelo rock and roll veio a decisão, seria História e
Dança: perspectiva de produção historiográfica com base na manifestação
estética do Rock ‘n’ roll nos anos 50.

A Dança expressa a brasilidade, através da diversidade cultural de que o


Brasil é formado. A Dança possui conteúdos históricos, sociais e políticos,
ou seja, práticas levadas a efeito por sujeitos históricos em contextos
sócio-históricos determinados. Considerando a inserção de tais sujeitos no
seu universo e a diversidade cultural, expressos pelo movimento do corpo,
investigar a memória da dança, faz sentido aos alunos para que possam
aprender através da pesquisa “para poder mostrar”, experimentando
novas formas de expressão que não são possíveis demonstrar por meio
das palavras. A prática pedagógica permite, através da pesquisa da
memória da Dança, trabalhar História de modo interessante, produtivo e
significativo.

A Dança contribui para reforçar laços de amizade, trabalhar, conhecer o


grupo e conhecer a si próprios de outra maneira, enfatizando a
importância da auto-estima, envolvendo a família no desenvolvimento do
processo, facilitando a compreensão da revelação do cotidiano, das ações,
atitudes, hábitos mentais e rituais que indicam ocasiões especiais na vida
dos indivíduos e das comunidades, relacionando sua vida cotidiana à
memória e à dança, mostrando como de fato fazem parte da História. A
investigação da História da Dança e o registro da memória de referenciais
relevantes, sobre a Dança como criação artística e referencial de memória,
para compreender o real sentido e significado da Dança como
manifestação cultural. O exercício da memória e da cidadania garantem a
continuidade da memória da Dança enquanto manifestação cultural e
seus diversos modos de criar composições coreográficas.O trabalho com a
Dança estimula a memória dos alunos e das pessoas historicamente
vinculadas à comunidade, contribuindo para garantir sua identidade
cultural, proporcionar bem-estar, melhorar sua qualidade de vida,auto-
estima, inclusão, solidariedade, amizade, responsabilidade, respeito,gosto
pela pesquisa em aprender, experimenta, investigar e utilizar diversos
estímulos para criar composições coreográficas de memórias obtidas
através de: notícia de jornal, poesia, literatura, História, emoções,
sentimentos, mitos, obras de arte, quadros, esculturas, elementos de
movimento, sons e silêncio,etc. Os referenciais teóricos possibilitaram
perceber o significado de um determinado contexto sócio-cultural a ser
investigado e tomar como objeto de análise a manifestação estética do
Rock ‘n’ roll na década de 50. O modo de observar a relação entre Dança e
História nesse caso é mais do que mera ilustração. Implica em utilizar a
memória da dança enquanto uma prática dos sujeitos inseridos em
contextos sócio-históricos do EUA e do Brasil na década de 50, de modo a
possibilitar a compreensão dos significados que esta prática assume para
os mesmos, assim se fez necessário investigar a relação do Rock ‘n’ roll
dos anos 50 com a Indústria Cultural.

Conclusão
A investigação, apesar da escassez de registros documentais sobre a
Dança do Rock ‘n’ roll, permitiu a percepção de que o Rock ‘n’ roll se
tornou símbolo de ruptura e mudança. Novos padrões de comportamento
foram revelados pela juventude rebelde e contestatória da década de 50,
que se tornou público alvo das estratégias de consumo da Indústria
Cultural. Os valores conservadores e patriarcais no contexto sócio-
histórico do Pós-Guerra se tornaram sem sentido, e são substituídos pela
descontração, sensualidade e liberdade de se divertir. O cinema
estadunidense apresenta o Rock ‘n’ roll ao Brasil, que não permaneceu
estanque e evoluiu para o iê iê iê, absorvendo o Rock ‘n’ roll pela
influência sócio-histórica de cada década. Torna-se relevante sugerir
novas investigações ou suscitar novas discussões de estilos e décadas que
consagraram o Rock ‘n’ roll, onde cada década contribui para a construção
da outra. A comunicação próxima do Rock‘n’ roll, não elimina a história
anterior de nenhuma década, pois esta poderá servir de estímulo, suporte
ou princípio para investigar o Rock ‘n’ roll nasdécadas de 60, 70, 80, 90...

Bibliografia:

Monografia de Sônia Maria Flach de Almeida

Trabalho Final exigido para a conclusão do PDE sob a orientação da Prof.


Drª. Sarah Iurkiv Gomes Tibes Ribeiro.

ADORNO, Theodor W. A Indústria Cultural e Sociedade. São Paulo:

Paz e Terra, 2002.

____________ Textos escolhidos. Trad. Luiz João Baraúna. São

Paulo: Nova Cultural, 1999. (Os Pensadores).

BARRETO, Débora. Dança: ensino, sentido e possibilidades na

Escola. 2ª edição - Campinas, São Paulo: Autores associados, 2005.

BOURCIER, Paul. História da dança no Ocidente; [Tradução: Marina


Appenzeller]. 2ª edição. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

BRANDÃO, Antônio Carlos; DUARTE, Milton Fernandes. Movimentos

Culturais da Juventude. São Paulo: Ed. Moderna, 1990.

CIAPPINO, César Andres. Rock´n Roll. A Dança da Ideologia.

Florianópolis, 2006.

CHACON, Paulo. O que é rock. Ed. Círculo do Livro, 1992.

COELHO, Teixeira. O que é Indústria Cultural. 13ª Edição. São Paulo:

Ed. Brasiliense, 1989.

COHN, Gabriel (org.). Comunicação e Indústria Cultural. 4ª edição.

São Paulo: Companhia editora nacional, 1968.

CORREA, Tupã Gomes. Rock, nos passos da moda: mídia, consumo

X mercado. Campinas: Papirus, 1989.

FARO, Antônio José. Pequena história da dança. 6ª edição. Rio de

Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

FRIEDLANDER, Paul. Rock ‘n’ roll. Uma História social. (trad. de A.

Costa). 4º edição. Rio de Janeiro: Editora Record, 2006.

HORKHEIMER, M., e ADORNO, T. W., Dialética do esclarecimento:

Fragmentos Filosóficos. Trad. Guido Antônio de Almeida. Rio de

Janeiro: Jorge Zahar, 1997.

LABAN, Rudolf. Domínio do Movimento; edição organizada por Lisa

Ullman; [Tradução: Anna Maria Barreto de Vecchi, Maria Silvia Mourão

Netto; Revisão Técnica: Anna Maria Barros de Vecchi]. São Paulo:

Summus, 1978.

MUGGIATI, Roberto. Rock, o grito e o mito. Petrópolis: Vozes, 1973.


NEVES, Joana. Reflexões sobre o ensino de história: discussão de

algumas proposições de Jacques Lê Goff. In.: História & Ensino:

Revista do Laboratório do Ensino de História. v.9, pp. 157-170, Londrina:

Ed. UEL, out. 2003.

OSSONA, Paulina. A educação pela Dança; [Tradução: Norberto Abreu

e Silva Neto]. São Paulo: Summus, 1988.

PARAIRE, Philippe. 50 anos de música: Rock. Lisboa: Ed.

Pergaminho, 1992.

PORTER, Roy. História do corpo. In: BURKE, Peter (org). A escrita da

História: Novas Perspectivas. São Paulo:UNESP, 1992.

Resumo feito por André Heavyman Morize, com base em textos de José

Júlio do Espírito Santo e Adriana Magalhães, Revistas Pop Rock,

Revistas o Cruzeiro, capas e contracapas de discos e jornais antigos.

Revista Rock. Música do século XX, nº 3. 1978, Ed. Rio Gráfica Ltda.

Você também pode gostar