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O Mala Dourado de Tara

Escrito por Lama Taranatha

A História que ilumina a origem dos Tantras de Tara e seu desenvolvimento subsequente sobre
seu culto na Índia conforme a narrativa de Lama Taranatha.

Traduzido em inglês por Vajranatha.


Traduzido em português por K. L. Thupten.

Este é o “Mala Dourado” ou a história que ilumina a origem do Tantra de Tara.

OM SVASTI!
Namo Gurube!

Homenagem ao Guru!
Homenagem ao Dharma, livre de elaborações desde o princípio!
Homenagem à Grande Compaixão onipresente!
Homenagem à Libertação de todos os seres!

Homenagem a ti, Tara, Mãe de todos os Vitoirosos!

Relatarei agora a origem do tantra de Tara.

1
A Origem de Tara

Há muitas eras, em um sistema de mundos chamado Vishvaprabha, surgiu um Buddha


conhecido pelo nome de Bhagawan Tathagata Turya. Naquela mesma época, também havia a filha
de um rei – uma princesa chamada Jnanachandra (Yeshe Dawa – Sabedoria da Lua), cuja
devoção pelos ensinamentos deste Buddha era suprema.
Por centenas de milhares de miríades de anos, ela oferecia pujas a este Buddha e seu
séquito, que consistia em uma sangha imensurável de Shravakas e Bodhisattvas. Assim, a cada
dia, ela preparava substâncias de oferenda, cujos valores seriam comparáveis ao preenchimento
do espaço de vários quilômetros repletos de pedras preciosas por todas as direções. Através desta
prática, ela gerou pela primeira vez a sua bodhichitta.
Nessa ocasião, os monges a abordaram: “Por conta das suas intensas raízes de virtudes,
você deve agora rezar para renascer no corpo masculino. O ensinamento explica que, se você fizer
essa dedicação com sinceridade e um propósito altruísta, isso certamente se realizará!”. É narrado
que eles a abordaram diversas vezes com tais argumentos e conselhos.
Em determinado momento, a Princesa respondeu: “Este propósito não tem sabedoria. Na
realidade, não há renascimento, não há eu, não há identidade. Os desígnios ‘masculino’ e
‘feminino’ são vazios, e tais nomenclaturas enganam apenas aos tolos mundanos”.
Após proferir essas palavras, ela fez o seguinte juramento: “Ademais, aqueles que buscam
a iluminação no renascimento de um corpo masculino são muitos, e os que se empenham em tal
propósito no corpo feminino são raros. Portanto, até que o samsara se esvazie, trabalharei pelo
benefício dos seres senciente através de aspectos femininos exclusivamente”.
Por outras centenas de milhares de miríades de anos, ela permaneceu no palácio do rei
dedicada à conduta dos meios hábeis para com os cinco objetos de deleite dos sentidos. Através
de sua meditação de concentração, ela atingiu o estado da tolerância, no qual já não despertam
mais as perturbações de novos fenômenos, até que ela atingiu o estado de concentração chamado
“a salvação de todos os seres”. Devido ao poder de ter acessado essa concentração, ela se tornou
capaz de beneficiar – a cada manhã – centenas de milhares de miríades de seres sencientes. E
ela se recusava a consumir qualquer alimento até que tivesse conduzido todos esses seres ao
mesmo estado da tolerância. Assim, a cada manhã, ela firmava uma grande quantidade de seres,
e, por essa razão, passou a ser conhecida como Tara, “Aquela que Liberta”.
Então, o Tathagata Turya fez uma profecia: “Quando ela atingir a iluminação completa,
passará a ser conhecida principalmente pelo nome de Deusa Tara”.

Numa era posterior, chamada Vibuddha-vistara, na presença do Tathagata Amoghasiddhi,


ela jurou proteger e guardar todos os seres senciente que habitassem os mundos infinitos das dez
direções. Como sua mente estava constantemente estabelecida no samadhi que derrota
completamente todos os Maras, a cada dia, durante 95 eras, ela conduziu ao mesmo estágio de
sua meditação centenas de milhares de miríades de líderes dos seres. E, da mesma forma, a cada
noite, ela transformou não apenas as centenas de milhares de miríade de seguidores como até
mesmos os próprios Maras em deuses paranirmitavasavarti. Nesse tempo, ela ganhou fama sob os
nomes de Tara, Yamuna e Pravira.

Depois, na era chamada “Asanga”, vivia um monge chamado Vimalaprabhasa, que fora
iniciado com os raios da grande compaixão de todos os Tathagatas das dez direções de modo que
se tornou um completo Arya Avalokiteshvara, de modo que a grande luz da essência da sabedoria
onisciente foi conerida a ele pelos Buddhas e Bodhisattvas e ele foi iniciado pelos Tathagatas das
Cinco Famílias. Através do encontro dessas luzes de compaixão e sabedoria nos aspectos de Pai
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e Mãe, nasceu a Deusa Tara a partir do coração de Avalokiteshvara com a intenção de cumprir os
propósitos de todos os Buddhas, e, especialmente, de proteger os seres sencientes dos oito
grandes terrores maiores e dos dezesseis medos menores.

Numa era seguinte, conhecida como “Mahabhadra”, ela ensinou o dharma


incessantemente. Depois, na era “Asanka”, onde recebera a iniciação de todos os Tathagatas das
Dez Direções, ela se tornou a Mãe de todos os Buddhas – tais Buddhas têm, desde então,
preenchido o passado desde tempos sem início.

3
A Revelação dos Tantras de Tara

Assim, na nossa era atual, sobre a montanha de Potala, em meio a inúmeros bodhisattvas,
deuses, nagas, yakshas e outras criaturas, o próprio Arya Avalokiteshvara revelou centenas de
milhares de mantras e tantras conectados a Tara. Na era dourada perfeita, o Krita Yuha, ele
beneficiou as seis classes de seres senciente através da revelação desses ensinamentos.
Na segunda era, o Treta Yuga, quando se deu um declínio no dharma, ele revelou apenas
600.000 daqueles ensinamentos. Na terceira era, o Dvapara Yuga, onde o declínio se aprofundou,
ele revelou novamente apenas 12.000 daqueles ensinamentos originais. Por fim, na era dos
conflitos, o Kali Yuga, surgiram apenas 1.000 versos das revelações de Tara.
Eu ouvi, da boca do meu próprio Guru, que: “Quanto aos volumes dos tantras, aqueles que
foram originalmente revelados no período do Krita Yuga já não estão disponíveis; entretanto, como
ainda são preservados cuidadosamente nos reinos dos deuses e dos vidyadharas, é verdade que
ainda serão de grande benefício aos seres extremamente afortunados”.
Tal afirmação não contradiz o fato de que foram revelados no tempo dos discípulos do
mantra, e é adequado afirmar que aquele é o tempo de seu surgimento. Por outro lado, tal
informação ainda parece inverificável. O que é certo é que esses tantras antigos foram
repetidamente mencionados por alguns de nossos mestres.
De acordo com o comentário desses tantras originais, chamado “A Gota Secreta da Dakini”:
“Sobre o topo da montanha de Potala, esses tantras foram ensinados pelo Leão dos Shakyas”.
Este texto expõe o Mestre como sendo o próprio Buddha. Com o propósito de ensinar os
seres, ele manifestou a essência da iluminação e penetrou as moradias dos Maras com luzes que
amadureceram os seres dos confins do universo. Naquele momento (da iluminação de Buddha), os
exércitos dos Maras se reuniram em protesto. Mas Tara gargalhou oito vezes, fazendo com que as
hordas demoníacas caíssem no solo e fossem derrotadas, de modo a permitir que o Mestre
pudesse manifestar-se no aspecto de Achala, o Rei dos Irados. Depois, com a concentração que
oprime todos os Maras, ele se manifestou no aspecto perfeito de um Buddha, na natureza do
Tathagata Akshobya. Tara então lhe fez oferendas e explicou vastamente seu tantra e mantra.
Além disso, após revelar o mandala dos Vitoriosos das Seis Famílias, com a finalidade de
impedir o eclipsar dessas explicações tântricas, ele decidiu compartilhá-las com os seres senciente
das seis classes. Assim, o Buddha, junto da assembleia de Bodhisattvas partiu para a montanha
de Potala, onde conferiu iniciação a uma quantidade inumerável de seres, entre deuses, nagas,
yakshas, gandharvas etc. Através da elucidação dos caminhos do mantrayana, ele os guiou ao
atingimento dos siddhis.
Por fim, ele entregou os tantras ao cuidado de Vajrapani, que os carregou à terra [puras]
dos vidyadharas, como Alakavati. Para que esses textos não desaparecessem do mundo humano,
Vajrapani manifestou-se como o rei Indrabhuti e reescreveu diversos volumes, que guardou no seu
repositório de ensinamentos na terra de Oddhiyana. É dito que tais tantras ainda são acessados e
praticados pelos Viras e Yoginis.
Quanto à revelação das seis exposições do mantrayana, atualmente, são lideradas
principalmente nas revelações de Heruka. Os dispositivos das seis exposições são listados no
próprio tantra.
Em específico, falarei neste texto sobre a revelação do tantra de Tara em Jambudvidpa
(Dzambuling – nesta terra): nos trezentos anos seguintes ao parinirvana do Buddha, os Shravakas
se reuniram em concílio por três vezes; e os sutras Vaipulya do mahayana, que haviam sido
guardados nas moradias dos deuses, nagas, yakshas, gandharvas e rakshasas, apareceram
separadamente em diversas regiões da Índia. Conforme tais tomos apareceram espontaneamente,
se tornaram bastante consagrados. Esses ensinamentos foram sendo revelados por praticantes
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que expunham o dharma e que tinham atingido o nível da tolerância, no qual os fenômenos já não
surgem mais. Cerca de quinhentos mestres que praticavam o ensinamento tiveram visões diretas
de Manjushri, Avalokiteshvara, Maitreya e outros grandes seres como Ashvabhawa. Foi durante
essa época que os tantras do kriya, charya e yoga, e os tantras anuttaras pai e mãe reapareceram
e foram propagados. Como tais textos foram ensinados aos indivíduos afortunados em visões
diretas de Vajrasattva e Vajrapani, é dito que, naquela época, dentre os praticantes, não havia
ninguém que não atingisse os siddhis de sabedoria.
No leste, em Bengala, o rei Harichandra, junto de seu séquito de mil praticantes, atingiu o
corpo da unificação. Em Odivisha, o rei Majna e mais mil atingiram o estado de vidyadhara. No
oeste, em Malawa, o rei Bhojadeva e mais mil súditos desapareceram. No sul, em Konkana, o rei
Haribhadra e muitos outros também se tornaram invisíveis. Durante esses cem ou duzentos anos,
mais de 100.000 pessoas atingiram siddhis diversos, como o siddhi da pílula etc.
Entretanto, com a finalidade de preservar o segredo, é dito que a prática do Preceptor
Tântrico não foi revelada àqueles que não tivessem siddhis. Nessa época, entretanto, Bhatcaraka
Arya Tara, por sua grande compaixão, revelava sua face mesmo àqueles que não praticavam a
sua sadhana específica.

Proteção contra os Diversos Terrores


Agora relatarei brevemente a história daqueles que a seguiram.

1) Proteção contra o Medo dos Inimigos


Certa vez, em Odivisha, havia um guerreiro Kshatriya que adormecera em um parque, e que, ao
acordar, se viu cercado por mil soldados inimigos armados. Completamente desconsolado, ele
havia ouvido que Tara era a fonte de refúgio contra os dezesseis terrores. Com o pensamento de
busca de refúgio, ele gritou seu nome: “Tara!”. Conforme proclamou seu nome, a própria Senhora
apareceu nos céus. De sob seu pé, um vento furioso afugentou os soldados, e é dito que
retornaram ao seu território.

2) Proteção contra o Medo dos Leões


Certa vez, um lenhador que adentrara a floresta se deparou com uma leoa faminta que queria
devorá-lo. Puxando-o com a boca, a leoa o levou ao seu covil. Tomado por pavor, ele rezou a Tara
com devoção. Diante dele logo surgiu uma mulher trajada em saia de folhas. Ela abriu a boca da
leoa e o resgatou e o conduziu à salvo à feira na cidade vizinha.

3) Proteção contra o Medo dos Elefantes


Certa vez, havia uma camponesa de doze anos que fora à densa floresta para colher flores. Ela se
deparou com um elefante enraivecido, chamado Khuni. Ele a envolveu com sua tromba e começou
a espreme-la contra suas presas. Quando ela se recordou do nome sagrado de Tara, rezou à
Senhora do fundo de seu coração. O elefante então foi colocado sob seu comando e a pousou
ilesa sobre um rochedo. Ele a salutou com sua tromba, e, tomando-a novamente, a colocou sobre
seu lombo e seguiu em procissão à feira da vila, passando também pela assembleia, pelo templo e
diante do portal do palácio do rei. O rei refletiu: “esta donzela possui uma quantidade enorme de
virtudes”, e decidiu fazer dela sua rainha.

4) Proteção contra o Medo do Fogo


Certa vez, havia um aldeão que se envolvera em uma disputa. Durante a noite, seu inimigo
incendiou sua casa, de modo que o aldeão se viu enclausurado em meio às clamas. Ele suplicou
“Ó Tara, ajude-me!”. Imediatamente, sobre sua casa, surgiu uma densa nuvem escura, da qual
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caiu uma grande quantidade de chuva que extinguiu o fogo.

5) Proteção contra o Medo de Serpentes Venenosas


Certa vez, havia uma prostituta na cidade, a quem um rico comerciante dera um colar com
quinhentas pérolas. À meia-noite, ela saiu de seus aposentos em direção à casa do comerciante.
Caminhando pela estrada, ela acabou se apoiando num galho de acácia, sem ver que ali estava
uma cobra venenosa, que agora se enrolara em torno de seu corpo. Através do chamamento do
nome da Venerável Tara, a serpente venenosa se transformou em uma guirlanda de flores que
permaneceu sete dias adornando seu corpo. Depois, a guirlanda se transformou em uma serpente
branca não-peçonhenta que desceu do seu corpo e mergulhou no rio.

6) Proteção contra o Medo de Ladrões


Certa vez, em Bharukaccha, na terra de Gujiratha, vivia um comerciante muito rico que carregara
mil camelos e quinhentos bois com fardos pesados de mercadorias em caravana às terras de
Maru. Na estrada, passou um ponto ermo por onde viviam mil saqueadores. Os dois lados da
estrada estavam repletos de carne, sangue e ossos de mercadores que haviam sido assassinados
ali. Centenas de milhares de mercadores também haviam sido empalados, pois tais saqueadores
eram como os rakshasas, e tinham por hábito consumir carne humana. O comerciante se viu
apavorado e desconsolado, de forma que começou a rezar para Tara em voz alta.
Naquele instante, surgiram milagrosamente tropas com inúmeros soltados – todos eles emanações
de Tara que o escoltaram e afugentaram os bandidos sem atacá-los, de modo que desapareceram
todos daquela região. O comerciante atingiu seu destino com sucesso e depois retornou a salvo
para seu lar em Barukaccha.

7) Proteção do Medo do Aprisionamento


Certa vez, havia um ladrão que perfurara um pequeno furo para acessar o tesouro do rei. Ali, ele
se deparou com um barriu de vinho, que bebeu até embebedar-se, de modo que adormeceu. Os
atendentes do rei o encontraram inconsciente e o capturaram. Ele foi jogado na masmorra,
amarrado e torturado, de modo que se viu desconsolado e desprotegido. Mas, como ele rezou
ferventemente a Tara, um passarinho cujas plumas brilhavam com cinco cores pousou dos céus e
o libertou de suas amarras. A porta de sua cela também foi aberta, e ele conseguiu escapar e
voltar a salvo para sua vida.
Então, em um sonho, uma mulher coberta de diversos ornamentos o advertiu: “Se você realmente
se lembra da bondade que eu te estendi, você e os seus companheiros devem abandonar os
hábitos do furto”. Através dessas palavras, esse ladrão e todo o seu bando de mais quinhentos
ladrões renunciaram aos furtos e buscaram meios dignos de sobrevivência.

8) Proteção contra o Medo das Grandes Ondas:


Certa vez, havia cerca de quinhentos mercadores que partiram em rota ao sul. Divididos em três
grandes embarcações, velejaram em direção à ilha com pedras preciosas. O primeiro navio foi
preenchido com tais joias e prosseguiram até uma ilha de árvores de sândalo, com as quais
preencheram a segunda embarcação. Por fim, desejavam retornar ao seu país natal. Porém, os
Yakshas do oceano se zangaram, e mandaram um grande vento, que lançou os navios muito fora
de seus cursos. A cor do oceano se transformou completamente e ornas turbulentas descenderam
sobre eles.
Muito embora os mercadores rezassem diariamente a Brahma, Vishnu, Ishvara, Chandra, Surya,
Kubera e outros, nada resolveu. As cordas amarrando as velas se partiram, de modo que ambos
os navios que estavam carregados com as joias preciosas e o sândalo se perderam, e o último
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navio começou a afundar. Mas, como ali havia um budista leigo, ele relembrou-se de Tara, e, com
uma voz alta, recitou o mantra das dez sílabas. De imediato, o mar se acalmou. O navio subiu
novamente à superfície, e ainda naquela noite, atracou novamente em Jambudvipa. As marés e os
ventos carregaram demais navios já naufragados, de modo que as correntezas fizeram com que
todas as joias e o sândalo ressurgissem naquela mesma praia.

9) Proteção contra o Medo dos Canibais


Certa vez, um grupo de monges theravada vivia num templo na direção leste. Durante a noite,
qualquer monge que saísse para caminhar nas cercanias do templo punha-se em risco de ser
assassinado, de modo que a sangha daquele templo foi diminuindo gradativamente. Até que, numa
noite, um noviço saiu para caminhar. Um canibal horroroso, sujo e com caninos afiados o puxou
pelo braço. Outros praticantes do mahayana costumavam dizer: “Possa a Mãe Tara nos proteger
dos oito medos!”. Com desespero, o monge hinayana pensou em buscar refúgio nela e chamou:
“Tara”. Subitamente, uma Deusa negra surgiu com espada em punho e ameaçou o canibal, que
soltou sua presa e, pedindo desculpas ao noviço, cavou do solo um pote de ferro repleto de
pérolas. Através dessa doação, os problemas no templo foram resolvidos.

10) Proteção contra o Medo da Lepra


Certa vez, havia um preceptor dentre os brâmanes na terra de Kumarakshetra, que, por força do
karma, foram afligidos pela lepra. Como esse preceptor andava por toda parte, acabou
contaminando cerca de outros quinhentos brâmanes de modo tão grave que até mesmo os
médicos e os seus demais conterrâneos os abandonaram. Forçados a transgredir os costumes da
pureza ritualística dos brâmanes, eles se viram forçados a viver de restos de comida e implorar por
esmolas, até que, no canto de uma estrada, viram uma imagem de pedra da Venerável Arya Tara,
e terminaram por desenvolver fé. Conforme os quinhentos brâmanes leprosos começaram a rezar,
um fluxo de remédios desceu da mão da imagem de Tara e purificou seus corpos, curando-os.
Além disso, é dito que cada um deles se tornou mais belos do que os deuses.

11) Proteção contra o Medo de ser Prejudicado pelos Mensageiros de Indra


O Deus Indra é o guardião da direção leste, e seus mensageiros, os gandharvas, provocam
diversos problemas para o dharma, tal como levar os seres ao enlouquecimento. A história
seguinte ilustra como os seres foram protegidos contra essa influência perniciosa.

Certa vez, quinhentos monges theravada meditavam numa floresta na terra de Mathura. Todos
eles se esforçavam em nutrir comportamentos virtuosos. Apesar disso, um mensageiro de Indra
surgiu entre eles. Para alguns, ele se manifestava sob o aspecto de brâmane; para outros, como
uma mulher; e, determinadas vezes, como um monge. Também havia ocasiões nas quais parecia
assumir diferentes faces, como as de um Yaksha, de um leão, elefante ou sarabha, o que levava
todos ao terror. Ele fazia de tudo para confundi-los, e aparecia algumas vezes para ameaçá-los e
outras com elogios. Alguns monges caíam no esquecimento, e outros ficaram completamente
loucos. Além disso, alguns mudaram de ideia e abandonaram suas meditações para distrair-se
com cantos e danças.
Entretanto, dentre eles, havia um monge que reconheceu que tais obstáculos eram provocados
pela possessão por espíritos, e ele clamou: “Ó Tara, proteja-nos de todos os medos!”. Ele tinha
convicção de que assim tudo se resolveria. Em uma placa, ele escreveu: “Esta floresta pertence à
Deusa Tara”. Nesse momento, todas as aparições cessaram, todos os monges desenvolveram
devoção por Tara e todos eles entraram no caminho do mahayana.

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12) Proteção contra o Medo da Pobreza
Certa vez, havia um brâmane muito pobre. Em um caminho estreito, ele encontrou uma estátua de
pedra de Tara e contou a ela a história de seus infortúnios. Conforme perguntou o que deveria
fazer, ela indicou que ele se aproximasse de determinada stupa: “Ali encontrarás um tesouro”, ela
disse. “Você encontrará muitos potes dourados repletos de pérolas e muitos potes de prata
repletos com pedras preciosas, que dissiparão os sofrimentos da pobreza por sete gerações”.
Já nas cercanias da stupa, esse pobre brâmane, que agora trabalhava como agricultor, rezou
fervorosamente e repetiu muitas vezes o nome da Mãe Venerável. Uma mulher trajada em folhas
se aproximou dele e profetizou: “Vá para o leste”. Ele seguiu nessa direção até que se repousou
sobre areia e adormeceu. Ele foi acordado de seu sono pelo som de sinos tilintantes e viu um
cavalo verde enfeitado com pequenos sinos, cavando a areia com seus cascos. Rapidamente, o
cavalo fugiu. O brâmane seguiu suas pegadas e encontrou primeiramente um portal de prata, e,
sucessivamente, sete portais feitos de substâncias preciosas, como ouro, cristal, lápis-lazúli etc.
Todas essas portas se abriram diante dele. Posteriormente, em uma das terras pertencentes a
Patala, ele se tornou príncipe entre muitos asuras e nagas e teve uma vida muito agradável.
Depois dessa experiência, ele cruzou um túnel subterrâneo e retornou à sua terra natal. É dito que
suas três gerações seguintes se mantiveram como reis.

13) Proteção contra o Medo da Separação dos Amigos


Certa vez, havia um brâmane muito rico e que tinha muitos amigos. Até que, numa noite, uma
febre se abateu e todos os seus conhecidos morreram, incluindo sua esposa, filhos e cônjuges.
Extremamente deprimido, ele partiu em peregrinação a Varanasi. Ali estavam reunidos leigos
budistas para um grande festival dedicado a Tara, no qual ele ouviu acerca de sua grandeza. Ele
rezou a Tara e ofereceu várias guirlandas de flores. Através desta virtude, ao sair das celebrações,
foi oferecida a ele como noiva a filha do rei Jayachadra, de modo que ele veio a ser o senhor
daquela terra. Ele então construiu cento e oito templos a Tara, e, em cada um deles, promoveu um
grande festival dos budistas.

14) Proteção contra o Medo da Punição pelo Rei


Em uma terra chamada Ayodhya, havia um pai de família que possuía muita riqueza e poder. Certa
vez, por razões desconhecidas, o rei daquele local ficou extremamente desagradado com ele. O
senhor pediu uma audiência com o rei, mas, conforme adentrou a corte, caiu na emboscada dos
guardas que o confrontaram. Ele teve que fugir a Tirahuti.
Outra vez, conforme ele viajava pelo distrito de Campurna, o rei de Ayodhya enviou quatro
mercenários atrás dele. Eles amarraram o pobre senhor e o levaram de volta a Ayodhya.
Entretanto, como ele se lembrou de Arya Tara e rezou com fervor, como consequência de suas
bênçãos, quando o senhor pousou seus pés sobre o capacho da prisão, ele se transformou em
ouro. Quando foi lançado na cela na masmorra, ali caiu uma chuva de pérolas. E, por fim, quando
se preparavam para empalá-lo com uma vara, ela se transformou em uma mangueira carregada de
frutas e flores. Todos, inclusive o rei, se viram deslumbrados: “Se um homem tão virtuoso for
punido, o que será de nós?”. Assim, ele foi solto e apontado como ministro daquele reino.

15) Proteção contra o Medo da Chuva de Meteoros


Certa vez, havia um leigo budista em Bengala, que foi vigiar a cerca de sua terra. Nesse caminho,
havia a estátua de um yaksha, que ele acabou pisoteando conforme prosseguia. O Yaksha ficou
extremamente zangado, e, naquela noite, conforme o leigo voltou para casa, vinte e um meteoritos
caíram do céu. Entretanto, conforme ele se lembrou de Arya Tara, os cometas flamejantes se
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transformaram em flores. O leigo, sua esposa, seu filho e sua propriedade não foram lesados, e os
cometas retornaram para de onde tinham vindo. É dito que, como ele havia anteriormente feito
oferendas generosas a quinhentos praticantes sinceros dos mantras de sabedoria, a substância de
realização apareceu muito rapidamente.

16) Proteção contra o Medo dos Infortúnios


Certa vez, havia um pai de família que partiu a outro país com suas mercadorias. Lá pretendia
obter terras do rei. Enquanto isso, ele havia confiado sua propriedade original a um amigo, e se
colocou numa grande embarcação. Por muitos anos, ele viajou entre as ilhas marítimas, mas não
encontrou nenhuma riqueza. Certa vez, o navio foi carregado pela força do vento à ilha de
Malakha, onde havia tantas árvores de sândalo quanto se quisesse extrair. Ele ceifou muitas delas
e encheu um navio com esse cargo e partiu. No caminho, um grande makara, da família marinha,
chamado Macchi, perfurou o casco do barco com seu focinho de ferro. O mercador lançou-se na
água com uma tábua de madeira para se salvar, de modo que as ondas o levaram novamente à
praia em Jambudvipa.
Conforme anunciou seu retorno, seu amigo partiu para assassiná-lo, mas, na estrada, acabou
sendo devorado por um tigre. Apesar de ter sido poupado, o mercado não logrou qualquer
sucesso, e estava exausto e deprimido. Em um desses episódios de depressão, outro amigo o
aconselhou a rezar a Tara.
Então, em um sonho, ele ouviu: “Vá às margens do rio Sindhu. Lá você encontrará o que almeja”.
Ele seguiu as indicações do sonho, e às margens do rio Sindhu, encontrou naufragado seu barco
com todo o carregamento de sândalo. Então, no local da morte de seu antigo amigo, afirmou aos
outros: “Devolvam-me a posse da propriedade que eu havia confiado ao falecido”, de modo que
tudo foi restabelecido. Assim, ele foi reinstalado em sua própria terra e ofereceu uma parcela de
sua madeira de sândalo ao rei, que, em agradecimento, o agraciou com cinco cidades.

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