A criação da Ralé de novos escravos e como continuação da escravidão no
Brasil moderno. APONTAMENTOS.
O autor descreve de uma maneira breve, as proposições de Gilberto
Freyre sobre as relações sociais e raciais no Brasil no século XIX, tendo como enfoque as cidades de Recife, Salvador, e Rio de Janeiro. E as transformações societárias no país nos pós abolição (abolição formal), em que, institui-se um cenário competitivo e comercial ao “inserir” o então ex-escravizado numa sociedade escravista e com uma burguesia extremante elitista, conservadora e racista.
Com isso, constitui-se outros cenários regionais, Jessé (2019),
considera que a partir desse momento houve um crescimento da região sul/sudeste no país, em detrimento da região nordeste no qual encontrava-se em declínio comercial, esse “novo” como figuras principais Rio de Janeiro e São Paulo, tidos no período como centro do Brasil tradicional, com marcante cultura cafeeira, e os incipientes migrantes oriundos da Europa, participando massivamente desse processo “industrial” no Brasil, nesse ínterim, o autor traz o pensamento de Florestan ao falar sobre esse movimento migratório, especialmente, ao tratar da questão do negro nesse processo, como um figura extremamente arcaica, precarizada, explorada, e colocada em uma sociedade formada por estamentos sociais.
Indo no clássico: A integração do negro na sociedade de classes, nessa
obra Florestan fala sobre isso, contudo, Jesse, traz algumas críticas a essa obra, ao afirmar, que não possuía uma clara distinção entre raça classe, entretanto, Jesse afirma que foi Florestan que deu as bases para a construção do que seria a “A Ralé Brasileira”, em resumo seria o/a negro escravizado sendo abandonado na sociedade , explicando sua situação econômica, social, e política , ou seja, o conceito de culturalismo racista. Nesse processo, o escravizado tinha o conceito de animal, coisa, e destituição e destruição de sua existência enquanto humano, num contínuo processo ontológico, junto a isso, a própria negação em todos os sentidos que vai das questões subjetivas como a auto estima, até a questão de sua própria existência e sobrevivência. Esse sujeito/a é jogado em uma sociedade competitiva, sem nenhum preparo, e, tão pouco políticas públicas que o assistam. Para os senhores de pessoas escravizadas, a abolição, era muito benéfica ao obter a continuação do processo de exploração, e utilização de mão de obra estrangeira dos migrantes no qual o Estado fez questão de formular mecanismos de amparo a essa população. Sobre essa questão, o topo da pirâmide social estaria essa figura, com a aristocracia rural se modernizando.
Nesse contexto, a presença do imigrante, do “estrangeiro”, afetou
diretamente a socialização do negre na sociedade de classes no Brasil, os mecanismos que o Estado fomentou para a perpetuação e segurança dessa figura no Brasil “modernizado” marcado, principalmente, na década de 30 com Estado Novo de Vargas, no qual, para além da dinamização da economia brasileira, esse movimento imigratório serviu de um grande suporte para o processo de “higienização” da população brasileira. Esse processo se daria com o aumento de pessoas de cor de pele fenotipicamente branca, considerado, como “superior”, que, consequentemente, serviria como um grande salto para embranquecer os/as brasileiros, pondo, o negre, em uma situação de extrema marginalização e criminalização, através dessa “higienização social”, não a toa as categorias de branquitude e branqueamento no Brasil.
Esse processo daria o nome chamado pelo autor como a “ralé
brasileira”, que seria essa população, majoritariamente, negra, recém libertos, mulatos e cativos, estando fadadas a precarização, a morte, criminalização, e marginalização cada vez mais acentuado. A escória proletária que a burguesia tanto se utiliza para estar na posição em que encontra, também, há a animalização do negre, a desqualificação pessoal e social, e a degradação intelectual. O negre como inimigo da ordem, sendo essa “ordem” teria um conceito trago por essa elite brasileira conservadora, machista, patriarcal, racista e exploradora.