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índice
Prefácio do editor.5
Dedicatória.11
Introdução.13
Prefácio do autor.23
Primeira Conferência
Segunda Conferência
Pragmatismo e humanismo.130
Oitava Conferência
Pragmatismo e religião.145
Perfil biográfico.159
Texto Complementar - Pragmatismo.169
Dedicatória do autor de Pragmatismo:
JOSEPH L. BLAU
XIX ,
estava dividido contra si mesmo. Intelectualmente,
estava dominado pela visão científica do mundo. Seus conceitos
físicos eram os de um universo de partículas atómicas em movimento
determinado - ao que se faz alusão frequentemente como o "univer-
"
so bola de bilhar da física do século XIX. Sua visão da vida e das
ciências biológicas era impulsionada em uma direção semelhante
pelo impacto do pensamento evolucionista, que culminou na teoria
de Darwin. Emotivamente porém, estava ainda vivendo em um
,
processo de descoberta.
Tanto quanto as idéias científicas estejam em jogo, não haveria
maior diferença entre Peirce e James visto que, para James, um
,
"
era social. disse, "levam à harmonia intrín-
As idéias verdadeiras" ,
"
Josiah Royce que quis saber se James ficaria satisfeito em pór uma
,
"
comportamento .
"
lismo. "A palavra 'ou'" escreveu certa vez, designa uma genuína
,
"
realidade Encarava esse "universo pluralístico" de certo modo
.
"
suas discussões anteriores da confluência de cada momento pas-
,
"
Pois como Jerome Nathanson disse muito bem,
, as portas de sua
alma do mesmo modo abriam-se para as experiências múltiplas de
um mundo em movimento, no qual nada estava assente e muito
"
u
Prefácio do autor
Review vol. XV, páginas 113 e 465, em Mind, vol. XV, página 293,
,
23
Humanism, especialmente os ensaios de números I, V, VI, VII, XVIII
e XIX. Seus ensaios anteriores e, em geral, a literatura polemica
sobre o assunto, recebem citação por extenso em suas notas de
rodapé.
Mais ainda, ver J. Milhaud: Le Rationnel, 1898, e os finos
artigos de Le Roy em Revue de Métaphysique, vols. 7, 8 e 9. Ver,
também, os artigos de Blondel e De Sailly em Annales de Philo-
sophie Chrétienne, 4ème Série, vols. 2 e 3. Papini anuncia um livro
a respeito de Pragmatismo, em língua francesa, para ser publicado
em breve.
A fim de evitar pelo menos um mal-entendido, digo que não há
conexão lógica entre o pragmatismo, como eu o compreendo, e
"
a
Primeira Conferência
alguma coisa .
25
extensão, tem de ser tratada tecnicamente. Desejo fazer com que
simpatizem com uma tendência contemporânea, na qual acredito
profundamente, e, entretanto, tenho de falar como um professor a
quem não é estudante. Qualquer que seja o universo em que o
professor acredite, deve ser, de qualquer modo, um universo que se
preste a um discurso prolongado. Um universo definível em duas
palavras é alguma coisa para a qual o intelecto professoral não tem
uso. Nenhuma fé em qualquer coisa de espécie tão barata! Temos
visto amigos e colegas tentarem popularizar a filosofia nesse mesmo
recinto, mas logo se tornam áridos e, então, técnicos, e os resultados
somente em parte foram encorajadores. Desse modo, minha tarefa
é ousada. O próprio fundador do pragmatismo deu recentemente
um curso de conferências no Instituto Lowell, referente ao título
em epígrafe - coriscos de luz brilhante dardejados contra a nossa
ignorância crassa! Nenhum de nós, suponho, compreendeu tudo
quanto ele disse - e, contudo, aqui estou eu, arriscando-me a uma
aventura semelhante.
Corro o risco porque essas mesmas conferências de que falo
arrastaram - atraíram bom auditório. Há, deve-se confessar, uma
curiosidade fascinante em escutar coisas elevadas expostas em
palestras, mesmo que nem nós, nem os expositores, as compreendam.
Somos levados pela emoção da problemática, sentimos a presença
da vastidão. Deixem uma controvérsia tomar pé em um recanto
qualquer, seja sobre livre arbítrio ou a onisciência de Deus, seja
sobre o bem e o mal, e vejam quantos em roda começam a prestar
atenção. Os resultados da filosofia dizem respeito a todos nós de
maneira fundamental, e os mais intrigantes argumentos filosóficos
titilam agradavelmente o nosso senso de sutileza e de inventiva.
Acreditando eu mesmo devotamente na filosofia, e acreditando
também em que uma nova espécie de aurora desponta para nós,
filósofos, sinto-me impelido, por fas ou por nefas, a tentar comuni-
car-lhes algumas novas da situação.
A filosofia é, ao mesmo tempo, a mais sublime e a mais trivial
das empreitadas humanas. Opera nas brechas mais estreitas e se
" "
foi dito, mas pode inspirar nossas almas com coragem; e repelente
como suas maneiras, suas dúvidas e desafios, seus sofismas e
dialéticas frequentemente o são para a gente comum, nenhum de
nós pode prosseguir sem a luz longínqua que espraia pelas pers-
pectivas do mundo. Esses clarões, pelo menos, e os efeitos contras-
tantes de mistério e escuridão que os acompanham, emprestam ao
que diz um interesse que é muito mais que profissional.
A história da filosofia é, em grande parte, a de uma certa colisão
de temperamentos humanos. Indigno que possa parecer a alguns de
meus colegas um tal tratamento, terei de levar em conta esses
choques e explicar por seu intermédio grande parte das divergências
filosóficas. Qualquer que seja o temperamento de um filósofo
profissional, trata, quando filosofando, de encobrir o fato de seu
temperamento. O temperamento não é razão convencionalmente
admitida, com o que lança mão das razões impessoais somente para
as conclusões. Seu temperamento, contudo, confere-lhe uma distor-
ção mais forte do que qualquer de suas premissas mais estritamente
objetivas. Sobrecarrega-lhe a evidência desse modo ou de outro,
estabelecendo uma visão mais sentimental ou mais realística do
universo, justo como esse fato ou aquele princípio o fariam. Confia
em seu temperamento. Necessitando de um universo que se lhe
adapte, acredita em qualquer representação de universo que se lhe
adapta. Sente que os homens de temperamento oposto estão fora de
sintonia com o caráter do mundo, e em seu íntimo considera-os
incompetentes e "por fora" do negócio filosófico, embora mesmo
possam excedê-lo a perder de vista em matéria de habilidade dia-
lética.
No tribunal, todavia, não pode reivindicar, na simples base de
seu temperamento por autoridade ou discernimento superiores.
,
ponto tão claramente que tenho pena de não poder lê-las agora.
Esse jovem formado por alguma faculdade do oeste, começava
,
dizendo que tinha tido sempre como certo o fato de que quando se
,
que há estrelas por toda parte, não pode haver um grande espaço
além da região das estrelas? E esse imenso espaço circundante
,
parado com o que é desconhecido para nós, mas que somos, entre-
tanto obrigados a admitir; e todos os males que sabemos existirem
,
nesse quase nada; segue-se que os males podem ser quase nada em
comparação com os bens que o universo contém" .
"
'
cente. A presença mesmo do mal na ordem temporal é a condição
da perfeição da ordem eterna, escreve o professor Royce {The
,
World and the Individual II, 385). 'O absoluto é mais rico para
,
Bradley (Appearance and Reality 204). Quer dizer que esses homens
,
desacreditados".,
Essa é a reação de um espírito empírico ante o cardápio de um
racionalista. É um absoluto não, muito obrigado A religião", diz
" "
.
"
Swift, "é como um sonâmbulo, para quem as coisas reais são vazias".
E esse, embora menos tensamente carregado com sentimento, é o
veredicto de cada amador que pesquise seriamente em filosofia
hoje em dia, e que se volte para o professor de filosofia para
satisfazer plenamente as necessidades de sua natureza. Os escritores
empíricos oferecem-lhe materialismo, os racionalistas dão-lhe
"
alguma coisa religiosa, mas para essa religião as coisas reais são
"
vazias Torna-se, pois, o juiz dos filósofos. Terno ou duro, descobre
.
"
Morrison I. Swift, Human Submissiony segunda parte, Filadélfia,
Liberty Press, 1905, páginas. 4-10
que também estamos necessitados. Nenhum de nós pode tratar seu
veredicto com desdém, pois, apesar de tudo, ele é o espírito tipica-
mente perfeito, o espírito cuja soma de necessidade é a maior, o
espírito cujos criticismo e desgostos são fatais a longo prazo.
É nesse ponto que a minha própria solução começa a aparecer.
Ofereço a coisa singularmente chamada de pragmatismo como
uma filosofia que pode satisfazer a ambas as espécies de procuras.
Pode permanecer religiosa como os racionalismos, mas, ao mesmo
tempo, como os empirismos, pode preservar a intimidade mais rica
com fatos. Espero que possa estar em condições de deixar em
muitos dos senhores uma opinião tão favorável a seu respeito quanto
a que eu mesmo tenho dela. Como, porém, estou próximo do término
de meu tempo, não farei uma apresentação integral do pragma-
tismo por hora. Começarei com o assunto em uma próxima vez.
Prefiro, no presente momento, retornar um pouco ao que já disse
anteriormente.
Se qualquer dos senhores aqui presente é um filósofo profis-
sional, e alguns dos senhores sei que o são, sem dúvida que terá
sentido que o meu discurso até agora tem sido cru até um ponto
imperdoável, ou, melhor ainda, até um grau quase incrível. Espírito
terno e espírito duro, que desassociação bárbara! E, em geral,
quando a filosofia vem toda recheada de delicadezas intelectuais e
sutilezas e escrupulosidades, e quando se obtém cada tipo possível
de combinação e transição dentro de seus limites, que caricatura
brutal e redução das coisas mais altas a mais baixa expressão
possível é representar o seu campo de conflito como uma espécie
de luta livre entre dois temperamentos hostis! E, de novo, quão
estúpido é tratar a abstração dos sistemas racionalistas como um
crime, e censurá-lo porque se oferecem como santuários e guaridas,
de preferência a prolongamentos do mundo dos fatos. E não são
todas as nossas teorias justamente remédios e abrigos? E, se a
filosofia deve ser religiosa como pode ser outra coisa senão um
,
"
tn
Segunda Conferência
"
leste então para o sul, então para o oeste, e então para o norte dele
,
de novo é óbvio que o homem vai em torno dele, pois ocupa essas
,
43
primeiro está em frente a ele, então, à sua direita, então, atrás,
então, à esquerda, e, finalmente, de novo em frente dele, é comple-
tamente óbvio que o homem deixa de ir em torno do esquilo, pois
pelos movimentos compensadores que o esquilo faz, mantém o seu
ventre voltado para o homem todo o tempo e as suas costas voltadas
,
"
Transcrito em Revue Philosophique de janeiro de 1879 (vol. VII).
realmente, regras de ação, dizia que, para desenvolver o significado
de um pensamento, necessitamos apenas de determinar que conduta
está apto a produzir: aquilo é para nós o seu único significado. E o
fato tangível na raiz de todas as nossas distinções de pensamento,
embora sutil, é que não há nenhuma que seja tão fina ao ponto de
não resultar em alguma coisa que não seja senão uma diferença
possível de prática. Para atingir uma clareza perfeita em nossos
pensamentos em relação a um objeto, pois, precisamos apenas
considerar quais os efeitos concebíveis de natureza prática que o
objeto pode envolver - que sensações devemos esperar daí, e que
reações devemos preparar. Nossa concepção desses efeitos, se imediata
ou remota, é, então, para nós, o todo de nossa concepção do objeto, na
medida em que essa concepção tenha, afinal, uma significação positiva.
Esse é o princípio de Peirce, o princípio do pragmatismo. Per-
maneceu inteiramente despercebido por vinte anos, até que eu, em
uma alocução perante a reunião filosófica do professor Howison na
Universidade da Califórnia, trouxe-o à baila novamente e dei-lhe
uma aplicação especial na religião. Por essa época (1898), o tempo
" "
tendências que até aqui têm carecido de um nome geral e que veio ,
"
para ficar .
"
, .
E eu
penso que a noção mais saudável, mesmo se um estudante não a compreende
inteiramente é que a física é a ciência dos meios de tomar posse dos
"
corpos e de impulsioná-los ! (Science 2 de janeiro de 1903).
,
o preludiaram. Não foi senão em nossa época que se generalizou,
tomou-se consciente de uma missão universal, aspirou a um destino
conquistador. Acredito nesse destino, e espero poder terminar
transmitindo-lhes toda a minha fé.
O pragmatismo representa uma atitude perfeitamente familiar
em filosofia, a atitude empírica, mas a representa, parece-me, tanto
em uma forma mais radical quanto em uma forma menos contradi-
tória, em relação a que já tenha assumido alguma vez. O pragma-
tista! volta as costas resolutamente e de uma vez por todas a uma
série de hábitos inveterados, caros aos filósofos profissionais. Afasta-
se da abstração e da insuficiência, das soluções verbais, das más
razões a priori, dos princípios firmados, dos sistemas fechados,
com pretensões ao absoluto e às origens. Volta-se para o concreto e
o adequado, para os fatos, a ação e o poder. O que significa o reinado
do temperamento empírico e o descrédito sem rebuços do tempera-
mento racionalista. O que significa ar livre e possibilidades da
natureza, em contraposição ao dogma, à artificialidade e à pre-
tensão de finalidade na verdadeN
Ao mesmo tempo não pretende quaisquer resultados especiais.
É somente um método. O triunfo geral desse método, porém, signi-
ficaria uma alteração enorme no que chamei, em minha última
"
conferência, de temperamento" da filosofia. Os professores do
tipo ultra-racionalista têm calafrios só de ouvir isso, igual ao tipo
cortesão que fica gelado ao ouvir falar em república, e ao prelado
,
corpo a noção de que muitas talvez todas, de nossas leis são somente
,
ponto de vista, ser útil. Seu grande uso é sumariar os velhos fatos e
apontar novos São apenas uma linguagem humana, uma taquigrafia
.
idéias (que, elas próprias, não são senão partes de nossa experiên-
cia) tornam-se verdadeiras na medida em que nos ajudam a manter
relações satisfatórias com outras partes de nossa experiência, para
sumariá-las e destacá-las por meio de instantâneos conceptuais, ao
invés de seguir a sucessão interminável de um fenómeno particular.
Qualquer idéia sobre a qual podemos montar, por assim falar;
qualquer idéia que nos transporte prosperamente de qualquer parte
de nossa experiência para qualquer outra parte, ligando as coisas
satisfatoriamente, trabalhando seguramente, simplificando, economi-
zando trabalho; é verdadeira por tudo isso, verdadeira em toda a
"
" "
quando uma visão das coisas é nobre isso deve contar como suspeita
,
" "
as idéias também de verdadeiras por essa razão?
Responder a essa dificuldade complemente é impossível a essa
altura de minha narrativa. Toca-se aqui no ponto central da doutrina
da verdade de Schiller, Dewey e de mim mesmo, que não posso
discutir em detalhes até chegar a minha sexta conferência. Deixem-
me dizer, por ora, somente isso, que a verdade é uma espécie de
bem, e não, como usualmente se supõe, uma categoria de bem, e
coordenada com este. Verdadeiro é o nome de que quer que prove
ser bom no sentido da crença, e bom, também, por razões funda-
mentadas e definitivas. Certamente deve-se admitir que, se não hou-
vesse bem para a vida em idéias verdadeiras, ou se o conhecimento
delas fosse positivamente desvantajoso e as idéias falsas as únicas
úteis, então a noção corrente de que a verdade é divina e preciosa, e a
sua procura um dever, jamais poderia ter crescido ou se tornado um
dogma. Em um mundo como esse, nosso dever seria o de evitar a
verdade, de preferência. Mas nesse mundo exatamente como certos
,
que nos são caras, mas são também úteis às lutas práticas da vida. Se
há qualquer vida que seja realmente melhor do que a que devemos
levar, e se há qualquer idéia que, em sendo acreditada, ajudar-nos-ia
a levar tal vida, então seria realmente melhor para nós acreditar
nessa idéia, a não ser que, na verdade a crença que se lhe depositasse
,
Como seria melhor para nós acreditar!". O que soa bem como
uma definição de verdade. É quase como se disséssemos: "
devemos
"
acreditar - e nessa definição ninguém acharia nada de anormal .
outras verdades minhas cujos benefícios odeio ter de ceder por sua
,
natureza mãe. .
u
Terceira Conferência
"
casaco, na substância lã", e assim por diante. O giz, a madeira e a
lã, mostram de novo, a despeito de suas diferenças, propriedades
comuns, e por extensão, eles mesmos são contados como modos
,
61
atributos é o que cada substância aqui tem para ser reconhecida, e
formam o seu único valor em caixa para a nossa experiência real. A
substância, em cada caso, é revelada através dos atributos; se fôs-
semos separados deles, jamais suspeitaríamos de sua existência; e
se Deus se mantivesse mandando-os a nós em ordem inalterável,
aniquilando milagrosamente em um determinado momento a subs-
tância que os suportava, jamais poderíamos perceber o momento,
pois as nossas próprias experiências manter-se-iam inalteradas. Os
nominalistas, consequentemente, adotam a opinião de que a substân-
cia é uma idéia espúria, devido ao nosso inveterado vezo humano
de transformar os nomes em coisas. Os fenómenos vêm em grupos
- o grupo-giz o grupo-madeira, etc. - e cada grupo adquire o seu
,
tivelmente: uma prenda que não pode ser tomada de volta. De-
nominar de matéria a sua causa não retira nenhum só dos itens que
o edificaram, e nem dar o nome de Deus à causa fá-los aumentar.
São o Deus ou os átomos, respectivamente, desse mundo mesmo, e
não de nenhum outro. Deus, se existe, tem feito justamente o que os
átomos podiam fazer - aparecer na figura de átomos, para falar
assim - e ser credor da gratidão que é devida aos átomos, e nada
mais. Se sua presença não empresta cor ou caráter diferentes à
função seguramente que não pode emprestar aumento de dignidade.
,
esteja destinada por suas leis a conduzir nosso mundo, cada vez mais
perto, à perfeição, e qualquer homem racional adorará essa matéria
tão prontamente quanto Spencer adorou o seu próprio poder desco-
nhecido. Não só tem favorecido a retidão até agora, como a favore-
cerá para sempre; e isso é tudo que precisamos. Fazendo praticamen-
te tudo que um Deus pode fazer, é equivalente a Deus, sua função é
a de um Deus, e em um mundo em que um Deus fosse supérfluo; de
um mundo assim, um Deus jamais poderia ser legalmente omitido.
"
por todas as boas horas que nossos organismos tenham alguma vez
nos proporcionado e por todos os ideais que nossos espíritos agora
sustentam ,
contam-se, não obstante, como fatalmente certas no
sentido de desfazer sua obra de novo e de desagregar tudo o que
,
alguma vez tenham concentrado. Todos conhecem o quadro do
estágio final do universo, que a ciência evolucionária prevê. Não
"
terra, sem marés e inerte, não mais tolerará a raça que por um
momento perturbou sua solidão. O homem entrará pelo buraco, e
todos os seus pensamentos perecerão. A inquieta consciência que,
nesse canto obscuro, por um breve espaço quebrou o silêncio satis-
feito do universo, ficará em repouso. A matéria não mais se reco-
,
nhecerá. iMonumentos imperecíveis e 'feitos imortais,, a própria
morte, e o amor mais forte que a morte, ficarão como se não
tivessem existido. Nada existirá, o melhor ou o pior de tudo quê o
trabalho, o génio, a devoção e o sofrimento do homem penaram
através de idades sem conta para efetuar. .
"
" "
,
The Foundation of Belief página 30.
,
agora o quê. Queixamo-nos dele, ao contrário, pelo que não é -
uma garantia permanente para os nossos interesses mais ideais, e
não um provedor de nossas mais remotas esperanças.
A noção de Deus, por outro lado, conquanto inferior possa ser
em clareza às noções matemáticas correntes em filosofia, me-
cânica, tem, pelo menos, uma superioridade prática sobre as mesmas,
a de que garante uma ordem ideal que será permanentemente
preservada. Um mundo com um Deus nele para dar a palavra final,
pode, na verdade, queimar ou gelar, mas então consideramo-lo
como ainda atento aos velhos ideais e certo de trazê-los em outra
parte à fruição; de modo que, onde estiver, a tragédia é somente
provisória e parcial, e o afundamento e a dissolução não são abso-
lutamente as coisas finais. Essa necessidade de uma ordem eterna
moral é das mais profundas em nosso peito. E os poetas como Dante
e Wordsworth, que vivem da convicção de uma tal ordem, devem a
esse fato a extraordinária tónica e o poder consolador de seu verso.
Nisso, pois, nesses diferentes apelos emocionais e práticos, nos ajus-
tamentos de nossas atitudes concretas de esperança e de expectativa,
e em todas as consequências delicadas que suas diferenças gravam,
reside o significado positivo do materialismo e do espiritualismo
- e não em abstrações bizantinas a respeito da essência interna da
matéria ou a respeito dos atributos metafísicos de Deus. O materia-
,
assim: foram feitos por máquinas cujo propósito é servir aos pés
com sapatos A teologia necessita apenas de estender semelhante-
.
ponto do campo para lavrar um tento (se assim o fora, teriam sim-
plesmente de ir lá em uma noite escura e depositar a bola na boca
da meta) mas o de chegar à cidadela do adversário por intermédio
,
caráter concebível que toda a máquina cósmica pode ter sido de-
,
arbítrio que dizem que o homem individual não origina coisa algu-
,
''
consolo.
Outro que não esse significado prático, as palavras Deus, livre-
arbítrio, desígnio etc., não têm mais. Conquanto sejam obscuras em
si mesmas, ou intelectualmente tomadas, quando as levamos para
dentro da vida conosco, a escuridão transforma-se em luz. Se para-
mos, lidando com essas palavras com sua definição, pensando
,
"
"
se fora o caso, sobre seus gonzos; e longe de olhar para trás por ,
seu lugar. A terra das coisas há muito lançada nas sombras pelas
,
a
Quarta Conferência
Singular e plural
80
mente, ora aqui, ora ali, e a cada vez que o tocamos, tornamos de
volta, à água com o nosso curso reformulado e recomposto. As
idéias abstratas, das quais consiste o ar, são indispensáveis à vida,
mas irrespiráveis por si, como se assim o foram, e unicamente
ativas em sua função de recomposição. Todos os símiles claudicam,
mas esse fala algo à minha imaginação. Mostra como alguma coisa,
não suficiente para a vida em si, pode, não obstante, ser um deter-
minante efetivo da vida algures.
Por ora, desejo ilustrar o método pragmático com mais uma
"
,
Comparar A. Bellanger: Les concepts de Cause, et 1,activité tionelle
de VEsprit. Paris, Alcan, 1905 página 79 e seguintes.
familiaridade com as diversidades da realidade é tão importante
quanto o conhecimento de suas conexões. A curiosidade vai pari
passu com a paixão sistematizadora.
A despeito desse fato óbvio, a unidade de coisas tem sido
sempre considerada mais ilustre, como se fora, do que a variedade.
Quando um jovem concebe pela primeira vez a noção de que o
mundo todo forma um grande fato, com todas as suas partes mo-
vendo-se lado a lado, como se fora, e interligadas, sente-se como
estivesse desfrutando de uma grande visão, e olha arrogantemente
para tudo que ainda não se enquadra nessa sublime concepção.
Tomada assim abstratamente, como se apresenta pela primeira vez,
a concepção monista é tão vaga como dificilmente parece valer a
pena ser defendida intelectualmente. Provavelmente, porém, cada
qual dentre os senhores de certo modo preza essa concepção. Um
certo monismo abstrato, uma certa reação emocional ao caráter de
singularidade, como se fora uma característica do mundo não coor-
denada com sua pluralidade, porém em grau muito mais vasto,
excelente e eminente, prevalece tanto nos círculos educados que
podíamos quase chamá-la de uma parte do senso comum filosófico.
Naturalmente o mundo é um, dizemos. De que outro modo poderia
ser um mundo, afinal? Os empíricos, via de regra, são tão valentes
monistas dessa espécie abstrata quanto os racionalistas o são.
A diferença é que os empíricos são menos sujeitos à ofuscação.
A unidade não os cega para tudo o mais, não sacia sua curiosidade
por fatos especiais, ao passo que há uma espécie de racionalista
seguro de interpretar a unidade abstrata misticamente e de esquecer
tudo o mais, de tratá-la como a um princípio; de admirá-la e de
adorá-la; e, por conseguinte, de chegar a um ponto final intelectual.
"
"
monismo por sua própria boca Bem, deixemos que as coisas sejam
.
uma daqui por diante! Pode-se, então, lançar uma palavra como
universo à coleção toda deles, mas que importa? Ainda está para ser
averiguado se são um em qualquer sentido mais valioso ou posterior.
2 São, por exemplo, contínuos? Pode-se passar de um para o
.
"
forma em sua inteireza um momento consciente luminosamente
transparente" - esse é o tipo de unidade intelectual sobre o qual o
racionalismo insiste. O empirismo, por outro lado, satisfaz-se com
o tipo de unidade intelectual que é humanamente familiar. Tudo se
torna conhecido por algum sabedor junto com alguma coisa outra;
mas os sabedores podem, no fim, ser uma pluralidade irredutível, e
o maior sabedor de todos pode, todavia, não saber tudo de tudo, ou
mesmo saber o que sabe de uma só assentada - pode estar sujeito
a esquecer. Qualquer que seja o tipo obtido, o mundo seria ainda
um universo intelectual. Suas partes seriam combinadas pelo conhe-
cimento, mas em um caso o conhecimento seria absolutamente
unificado, no outro seria estirado e sobreposto.
A noção de um Sabedor eterno ou instantâneo - qualquer adje-
tivo nesse caso significa a mesma coisa - é, como disse, a grande
realização intelectual de nosso tempo. Afastou praticamente a con-
"
não são somente mais ou menos incoerentes entre si, mas estão
totalmente fora de relação definida com os conteúdos semelhantes
de qualquer outro espírito. Nossas diversas fantasias, como nesse
momento em que estamos aqui, interpenetram-se debalde, sem
influência ou interferência. Coexistem, mas não em ordem e em
nenhum receptáculo, sendo a mais próxima aproximação a uma
"
nem mesmo imaginar qualquer razão por que devam ser conhecidos
todos juntos, e podemos imaginar menos ainda, se fossem conhe-
cidos juntos, como poderiam ser conhecidos como um todo siste-
mático.
Somem-se, porém, nossas sensações e ações corporais, e a união
monta a um grau muito mais alto. Nosso audita et visa e nossos
atos caem nos receptáculos de tempo e espaço em que cada evento
" "
, em seu
livro intitulado Humanism página 204.
,
a mais incipiente nascença ou mais residual dos traços de uma
" "
" "
97
conjunção aproximativa e. Podem mesmo ir e vir sem que as outras
partes sofram qualquer modificação interna. Essa visão pluralista,
de um mundo de constituição aditiva, é uma que o pragmatismo
está incapacitado para rejeitar, não a considerando seriamente.
Essa tese, porém, leva à hipótese mais avançada de que o mundo
" "
çasse a cantar Não iremos para casa senão pela manhã" com uma
rica voz de barítono, e não somente o novo fato seria acrescentado
ao estoque dos senhores mas os obrigaria a definir-me diferentemen-
te, e isso poderia alterar a opinião dos senhores quanto à filosofia
pragmática, e, em geral, acarretaria uma nova disposição de certo
número de idéias. O espírito, nesse lance, fica como que esticado,
e, às vezes, dolorosamente, entre suas crenças antigas e as novidades
trazidas pela experiência.
Nossos espíritos, assim desenvolvem-se por pontos; e como os
salpicos de graxa, os pontos se espalham. Mas nós os deixamos
espalharem-se tão pouco quanto possível; mantemos inalterado, o
mais que podemos, o nosso velho conhecimento, os nossos velhos
preconceitos e as nossas velhas crenças. Remendamos e concertamos
mais do que renovamos. A novidade se infiltra; tinge a massa
antiga; mas é também tingida pelo que a absorve. Nosso passado
percebe e coopera; e no novo equilíbrio em que termina cada passo
dado adiante no processo de aprendizagem, acontece relativamente
raro que o novo fato seja acrescentado como que cru. As mais das
vezes deposita-se cozinhado, como se poderia dizer, ou guisado no
molho dos fatos antigos.
Novas verdades, assim, resultam de novas experiências e de
velhas verdades combinadas, e que se modificam entre si. E visto
que esse é o caso nas mudanças de opinião que ocorrem hoje em
dia, não há razão para supor que não tenha sido assim por todas as
épocas. Segue-se que modos de pensar muito antigos podem ter
sobrevivido através de todas as ulteriores mudanças nas opiniões
dos homens. Os mais primitivos meios de pensamento não podem
ser, todavia, completamente expurgados. Como nossos cinco dedos,
os ossinhos do ouvido, o apêndice caudal rudimentar, ou outras
" "
" "
Coisa
O mesmo ou diferente
Tipos
Espíritos
Corpos
Tempo
Espaço
Sujeitos e atributos
Influências causais
O imaginado
O real
"
,
The Life of Reason: Reason in Common Sense, 1905, página 59.
"
"
"
ou um fato"? No momento em que se passa além do uso prático
dessas categorias (um uso geralmente sugerido suficientemente
pelas circunstâncias do caso especial) para uma maneira de pensar
meramente curiosa ou especulativa, vê-se que é impossível dizer
dentro justamente de que limites de fato qualquer delas se aplicarão.
A filosofia peripatética, obedecendo propensões racionalistas,
tentou eternizar as categorias do senso comum tratando-as bem
tecnicamente e articuladamente. Uma "coisa", por exemplo, é um
ser, ou ens. Um ens é um sujeito no qual estão inerentes certas
qualidades. Um sujeito é uma substância. As substâncias são de
tipos, e os tipos são definidos em número, e distintos. Essas dis-
tribuições são fundamentais e eternas. Como termos do discurso,
são, na verdade, magnificamente úteis, mas o que significam, à
parte, o seu uso na direção de nosso discurso para problemas
proveitáveis, não se revela. Se perguntarmos a um filósofo esco-
lástico o que uma substância pode ser em si, à parte de ser o suporte
de atributos, ele simplesmente diz que o intelecto sabe perfeitamente
o que a palavra significa.
Mas o que o intelecto conhece claramente é apenas a palavra
em si e sua função diretora. Assim, tem-se que os intelectos sibi
permissi, os intelectos apenas curiosos e inativos, abandonaram o
nível de senso comum pelo que, em termos gerais, pode ser chamado
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o nível crítico do pensamento. Não somente estes intelectos -
os Humes e Berkeleys e Hegels - mas os observadores práticos de
fatos, os Galileus, os Daltons, os Faradays, viram que é impossível
tratar os ingénuos termos-senso do senso comum como positiva-
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Sexta Conferência
Concepção da verdade
no Pragmatismo
111
A verdade, como qualquer dicionário pode mostrar, é uma
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