Do
Trabalho de Educação Física
Assim como tudo que envolve a vida social do homem, a do lazer também tem um grande passado
e uma grande história, e vamos contar uma parte dela para vocês. O ócio, conhecido como não
trabalho, foi motivo de preocupação para uma série de grandes filósofos sociais Isso nasceu da
chamada "sociedade industrial" que a importância do lazer foi ganhando terreno na produção dos
pensadores sociais do século 19 (XIX).
É na Europa, motivado pelas condições do trabalho industrial, as quais desrespeitam o mínimo da
dignidade do ser humano, que surge o primeiro "manifesto" a favor do lazer dos operários, o clássico
O direito à preguiça, do militante socialista Lafargue, publicado em 1880. Mas foi preciso esperar até
as primeiras décadas do século 20 (XX) para que se desenvolvesse o estudo sistemático da questão
do lazer, tanto nos Estados Unidos, quanto na Europa. No pós-guerra, as investigações sobre o
lazer ganharam uma nova dimensão, em virtude do próprio contexto histórico. Anteriormente, no
entanto, a questão já havia sido analisada por filósofos como Bertrand Russell, que em 1938
publicou seu Elogio ao Lazer, Huizinga, como o Homo Ludens, de 1938, ou Veblen, do clássico
Teoria da classe ociosa, que data do início do século.
A partir dos anos de 1950, o lazer passa a ser objeto de estudo sistemático nas modernas
sociedades urbano-industriais, quer capitalistas, quer socialistas. Dentre vários trabalhos publicados,
destacam-se pela sua repercussão os de David Riesman (A multidão solitária), Friedmann (O
trabalho em migalhas) e Mills ( A nova classe média white collar).
Nos últimos 30 anos, alguns autores vêm estudando o assunto com uma perspectiva geral. Os que
se destacam são Parker, Kaplan, Grazzia, Fourastié, e por último um sociólogo francês que tem
grande influência nas pesquisas e trabalhos realizados no Brasil, Joffre Dumazedier. Ele possui
também algumas obras traduzidas, como “Lazer e Cultura Popular” e “Valores e Conteúdos Culturais
do Lazer”.
Pelo menos cinquenta anos separam o desenvolvimento dos estudos sobre o lazer na Europa e no
Brasil. Lá, o contexto histórico que propiciou o interesse maior por essa questão está diretamente
relacionado ao processo industrial. Aqui, embora também possa ser verificada a mesma relação, o
assunto encontra-se mais vinculado à urbanização da vida nas grandes cidades.
A sociedade moderna mostra que a questão do lazer é motivo de preocupação recente entre os
pensadores e pesquisadores brasileiros, isso porque as pessoas estão bem mais preocupadas com
outras coisas, do que com o lazer, o Brasil não é só o país do "carnaval e futebol”, as questões são
bem mais amplas, isso porque a atividade social e o tempo que a demarca precisam ser postos em
discussão para que tenhamos elementos para a formulação de uma análise crítica do contexto social
em que hoje vivemos.
O lazer operário é considerado o primeiro livro brasileiro a tratar, de forma específica, da série de
problemas do lazer. O trabalho, desenvolvido por José Acácio Ferreira, foi publicado em Salvador,
em 1959, tendo como subtítulo "Um estudo de organização social das cidades". Mais um indício de
que somente com a relação do processo de organização que o assunto ganha popularidade.
Não é por acaso que o primeiro grande encontro para o estudo do lazer foi realizado em São
Paulo, em outubro de 1969. O censo do ano seguinte mostrou, pela primeira vez, a supremacia
numérica da população urbana brasileira. Aliás, os "clássicos" sobre o tema passam a ser traduzidos
e publicados somente no final da década de 1960, com isso grande atraso em relação às edições
originais. Mesmo assim, o discutido predomínio de homo ludens sobre o home faber já havia sido
enfocado, em 1950, por Oswald de Andrade.
Os primeiros trabalhos sobre a questão do lazer produzidos no Brasil são marcados, na sua
maioria, pela falta de "autenticidade", principalmente se for levada em conta a legitimidade da
ligação com a realidade social concreta. O que se verifica, em grande número, é a simples "filiação"
a esta ou aquela corrente de pensamento, tomando como critérios a análise dos argumentos dos
seus autores, pertencentes à sociedade altamente desenvolvidas tecnologicamente, ou por tadoras
de sólida tradição cultural.
A universidade brasileira só iniciou as investigações sobre o assunto, na década de 1970. Entre os
anos de 1980 e 1990, o número de teses defendidas relacionadas à educação e produção cultural
cresceu bastante.
Obedecendo a uma característica que se observa também em outras esferas do conhecimento,
notadamente na área das chamadas ciências humanas, o estudo do lazer vem se especializando,
quer em termos de faixas etárias, ou de conteúdo de atividades. Atualmente, já podemos contar um
bom número de títulos que analisam o lazer da criança, ou da terceira idade, bem como bibliografias
específicas sobre atividades físico-esportivas, artísticas, turísticas etc.
A compreensão mais ampla das questões relativas ao lazer e seu significado para o homem
contemporâneo, pelas próprias características abrangentes desse objeto de estudo, não pode ficar
na dependência de uma disciplina exclusiva, exigindo as contribuições das várias ciências sociais,
da filosofia e de profissionais ligados direta ou indiretamente ao campo, caso de arquitetos,
educadores, trabalhadores sociais, arte-educadores, entre outros.
É essencial, tendo em vista o atual estágio dos estudos e a urgência do encaminhamento de
propostas, o desenvolvimento e a sistematização de experiências interdisciplinares no estudo do
lazer. Estamos no início de um longo caminho a ser percorrido e que abre perspectivas não só para
um melhor embasamento da ação cultural nessa área específica.