Você está na página 1de 4

Endereço da página:

https://novaescola.org.br/conteudo/20457/avaliacao-entenda-a-importancia-e-
como-pode-ajudar-na-aprendizagem

Publicado em NOVA ESCOLA 23 de Junho | 2021

Aprendizagem

Avaliação: entenda sua


importância e como ela pode
ajudar na aprendizagem
Esse instrumento é essencial para gerar dados que podem ajudar
professores, gestores e redes a avançar a aprendizagem e combater o
abandono escolar
NOVA ESCOLA

Ilustrações: Tayna Marques

Atividades online para uns, lições enviadas por WhatsApp ou impressas para outros. Há também os
alunos que têm frequentado as aulas presenciais. Se nas salas de aula a aprendizagem tinha
resultados heterogêneos, com o avanço da pandemia no Brasil o acesso dos alunos ao conhecimento
ficou ainda mais desigual, principalmente quando olhamos para estudantes de classes sociais e raças
diferentes. Quem aprendeu o quê? Quem ainda precisa ver o quê? Diante desse quadro, especialistas
apontam que a avaliação diagnóstica tem se tornado um instrumento ainda mais valioso para
professores, gestores, escolas e redes, e tem que ser revista com urgência.

São as avaliações que vão nos ajudar a entender “até onde o aluno foi e o que aprendeu neste período
de escolas fechadas e com atividades remotas”, explica a presidente do Conselho Nacional de
Educação, Maria Helena Guimarães de Castro. Segundo ela, o diagnóstico dará indicadores para que as
escolas, com suas equipes gestoras e professores, possam organizar a recuperação dos aprendizados.
São dados fundamentais para construir as ações necessárias para garantir a aprendizagem e que vão
se somar ao quadro municipal, estadual, regional e nacional – formando o grande contexto da
Educação no país.

LEIA MAIS: Confira aqui um material sobre desigualdades na escola usando dados do Saeb, por
exemplo.

Além da etapa de alfabetização, a presidente do CNE sugere que sejam feitas avaliações nos anos de
transição. “Alunos que neste ano estão no 6º ano, por exemplo, devem ser avaliados para ver o que
aconteceu, o que aprenderam no 5º ano”, diz. Para os estudantes do Ensino Médio, Maria Helena avalia
que deve ser pensado “imediatamente” um processo de recuperação de aprendizagem com base na
avaliação diagnóstica.

Ricardo Madeira, pesquisador do Centro de Pesquisa Transdisciplinar em Educação (CPTE) do Instituto


Unibanco, ressalta que é necessário ter em vista que os diagnósticos não só oferecem dados dos
alunos, mas também ajudam as escolas a entender as dificuldades dos estudantes. “Agora é o
momento em que a escola tem que se conectar com o aluno, ela tem que fazer sentido para as
dificuldades desse aluno, e só vamos saber quais são essas dificuldades ao fazermos uma boa
avaliação diagnóstica”, pontua o pesquisador.

Vídeo: https://www.youtube.com/embed/gbWMPY-t8D8

Apesar de relevantes, as avaliações têm encontrado obstáculos pelo caminho neste cenário de
pandemia que dificultam a sua aplicação da melhor forma. Os instrumentos utilizados no ensino
remoto “são poucos confiáveis”, segundo Madeira. “Uma das grandes dificuldades da Educação remota
é exatamente avaliar os alunos. Então, é muito importante que eles sejam avaliados na primeira
oportunidade, e essa avaliação tem que ter um tom de acolhimento”.

Como desenvolver as avaliações durante ou após a pandemia?

Há um consenso de que as avaliações têm um papel essencial neste momento e que, com o retorno
das aulas presenciais, devem ganhar prioridade nas ações das escolas e redes. Para desenvolvê-las da
melhor maneira, especialistas sugerem um olhar atento para a BNCC (Base Nacional Comum
Curricular) e a flexibilização curricular.

“Para as redes que ainda estão engatinhando com o seu currículo, o ideal é que usem como referência
a BNCC. É muito importante que os professores estejam preparados para aquilo que vão encontrar na
avaliação diagnóstica”, aponta o pesquisador do Instituto Unibanco. Ele sugere que as equipes
pedagógicas se reúnam para olhar para o currículo e entender quais componentes devem ser
prioritários. É preciso “formar os professores para que consigam fazer uma boa leitura dos resultados
da avaliação”, explica.

É importante ter em mente que os resultados das avaliações podem mostrar o abismo entre
estudantes brancos e negros, por exemplo. Uma análise feita pela Universidade Federal da Bahia
mostra, a partir de dados do Saeb, como alunos brancos e negros têm proficiência diferentes em
componentes curriculares de Matemática.

De acordo com esse trabalho, “a ocorrência de ações preconceituosas e discriminativas na instituição


escolar pode ser assinalada como uma das causas para os resultados negativos de proficiência escolar
dos alunos negros”. No cenário da pandemia, essas ações podem ocorrer no ambiente online, ou
alunos negros podem ter um desenvolvimento abaixo do esperado também pela falta de instrumentos
que garantam a aprendizagem.

O trabalho entre a equipe gestora e os professores é essencial para que o processo de avaliação
aconteça alinhado à BNCC. A presidente do CNE ressalta como essa tarefa pode ser feita em conjunto.
“A escola consegue selecionar as habilidades e os conteúdos essenciais para o aprendizado dos alunos,
inclusive os mais importantes e que permitem a interdisciplinaridade”, diz.
Além de estabelecer uma interação entre a equipe gestora e os professores, o corpo docente pode
fazer trocas para produzir as avaliações e decidir o que fazer com os resultados obtidos com os
diagnósticos. É imprescindível analisar os dados e, a partir deles, criar estratégias e ações com foco no
avanço da aprendizagem dos alunos.

LEIA MAIS: Quer saber a opinião de ex-ministros da Educação sobre o tema? Confira os vídeos aqui.

Conheça os tipos de avaliação


Existem três tipos principais de avaliação aplicados nas escolas e na Educação Básica. Entenda
cada um deles, o que avaliam e em qual momento.

Avaliação de aprendizagem. É feita na sala de aula para identificar avanços e dificuldades de


aprendizagem dos alunos. Ela pode ser aplicada no formato de prova, atividade ou até mesmo
entrevista ou redação. “Tem escola que faz todo mês, professor que faz toda semana. É uma regra
que diz respeito à autonomia da escola”, explica a presidente do CNE. Dentro da avaliação de
aprendizagem, temos subgrupos de avaliações: as diagnósticas, formativas e somativas.

Avaliação institucional. Está relacionada à região ou à secretaria de Educação. É usada para o


planejamento de políticas públicas no âmbito local, dentro da escola, ou em um cenário mais
macro, em nível de município ou estado.

Avaliação externa ou em larga escala. Essas avaliações têm o objetivo de entender quais são as
dificuldades dos alunos brasileiros em nível nacional. “Não são elaboradas pela escola; são
aplicadas por algum fornecedor externo e têm uma escala de proficiência que permite a
comparação intertemporal entre diferentes recortes de alunos em diferentes momentos”, explica
Madeira. Como exemplo podemos citar o Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica),
desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

LEIA MAIS: Um guia para analisar o desempenho escolar usando dados do Ideb.

Saeb e Enem: a importância para as políticas públicas

Com previsão de ser aplicado no fim deste ano, o Saeb quase foi cancelado pelo Ministério da
Educação (MEC). A pasta, no entanto, voltou atrás e anunciou a avaliação de forma amostral, o que
ainda não agrada organizações e especialistas da área.

Para Ricardo Madeira, o problema de o Saeb ser amostral é que deixará municípios de fora e com esse
modelo não será possível garantir a diversidade de aprendizado em que alunos brasileiros se
encontram hoje. “Se o fizermos de forma amostral, sem conhecer, a priori, qual é a heterogeneidade
que vamos encontrar, é até difícil desenhar essa amostra”, explica. O especialista avalia que é
necessário o MEC mapear condições de implementação da prova para que ela seja universal.

A presidente do CNE sugere ainda que o Saeb esteja alinhado à BNCC e se inspire em avaliações
internacionais. “O atual Saeb segue as matrizes de avaliação de 2001, portanto são matrizes muito
defasadas em relação ao que a Base propõe”, indica Maria Helena.

Em 2019, o Saeb já apontava os desafios da Educação Básica no Brasil. Os dados daquele ano, por
exemplo, mostraram que mais de 45% dos alunos do 5º ano não tinham proficiência em competências
e habilidades básicas de alfabetização e letramento matemático. No 9º ano, estudantes também
apresentaram dificuldade em Língua Portuguesa e Matemática, exatamente quando se encaminhavam
para uma nova etapa.

Com os resultados, os governos federal, estadual e municipal conseguem planejar políticas públicas
para driblar os desafios. A não realização do Saeb aponta graves riscos para a Educação brasileira, que
pode ficar sem um panorama de como está a aprendizagem dos alunos.

Já o Enem, que abre inscrições em 30 de junho, terá provas nas versões impressa e digital aplicadas
nos dias 21 e 28 de novembro. Mais de 100 mil vagas serão oferecidas pelo Enem Digital. No ano
passado, por causa da pandemia, o Inep adiou o exame para janeiro e fevereiro deste ano e registrou
as maiores taxas de abstenção. De acordo com a pesquisa "Juventudes e a Pandemia", feita pelo
Conselho Nacional da Juventude (Conjuve), 8 em cada 10 jovens não prestaram a prova em 2020 e 45%
não pretendem tentar neste ano. Pior: a mesma pesquisa apontou que 74% não se sentem preparados
para fazer o exame e 43% dos jovens já pensaram em desistir de estudar durante a pandemia.

Vídeo: https://www.youtube.com/embed/wLiwwmr2zP0

Inspire-se com casos reais

A Escola Estadual Desembargador Carlos Xavier Paes Barreto, em Vitória (ES), tinha o desafio de
melhorar os índices de aprovação em Matemática nas avaliações internas e externas. O primeiro passo
da escola foi perceber que recebia alunos com defasagem no componente curricular.

Perante esse desafio, estudaram como poderiam avançar nos índices e criaram uma aula de rotação
por estações com os alunos. Em cada estação, o estudante podia ter contato com o tema de uma
forma diferente.

Os diferentes formatos ajudaram os alunos a se engajar nos temas. Os índices de aprovação


melhoraram nas avaliações aplicadas na turma.

Vídeo: https://www.youtube.com/embed/WFzGzK3H0Gk

Confira casos reais no Banco de Soluções do Instituto Unibanco. É possível encontrar também
experiências de gestão escolar.

Conheça mais sobre o presente e o futuro das avaliações educacionais no ciclo de webinars do
Instituto Unibanco e do Conselho Nacional de Educação (CNE). Acompanhe as transmissões:

Caminhos para o ENEM – 23/06, às 16h


Qual uso devemos fazer das avaliações? – 30/06, às 16h
Formas inovadoras de avaliar – 07/07, às 16h

Você também pode gostar