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A traduçã o foi efetuada pelo grupo Wings Traduçõ es (WT) e Wicked Lady
(WL), de modo a proporcionar ao leitor o acesso à obra, incentivando à
posterior aquisiçã o. O objetivo do grupo é selecionar livros sem previsã o de
publicaçã o no Brasil, traduzindo-os e disponibilizando-os ao leitor, sem
qualquer forma de obter lucro, seja ele direto ou indireto.
Levamos como objetivo sé rio, o incentivo para o leitor adquirir as obras,
dando a conhecer os autores que, de outro modo, nã o poderiam, a nã o ser no
idioma original, impossibilitando o conhecimento de muitos autores
desconhecidos no Brasil. A fim de preservar os direitos autorais e contratuais
de autores e editoras, o grupo WT e WL poderã o, sem aviso pré vio e quando
entender necessá rio, suspender o acesso aos livros e retirar o link de
disponibilizaçã o dos mesmos, daqueles que forem lançados por editoras
brasileiras. Todo aquele que tiver acesso à presente traduçã o fica ciente de que
o download se destina exclusivamente ao uso pessoal e privado, abstendo-se
de o divulgar nas redes sociais bem como tornar pú blico o trabalho de traduçã o
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O leitor e usuá rio, ao acessar o livro disponibilizado responderá pelo uso
incorreto e ilı́cito do mesmo, eximindo o grupo WT de qualquer parceria,
coautoria ou coparticipaçã o em eventual delito cometido por aquele que, por
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obtençã o de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 184 do có digo penal e
lei 9.610/1998.
SINOPSE
Molly
***
Molly
Percebi que o quarto ainda está vago para alugar. Desculpe, você não está
tendo melhor sorte. Enquanto isso, aproveite esses cupcakes que fiz. Talvez
ajudem a aliviar um pouco o seu estresse. Se houver alguma coisa que eu possa
fazer – você sabe, como tirar o quarto de suas mãos – você tem meu número.
Declan
(Revelação completa, porém: eu ainda tenho um pênis.)
Cobrindo minha risada, abri a tampa verde para revelar oito grandes
cupcakes com glacê branco. Uma palavra diferente escrita em cada um. Logo
descobri que eles formavam uma frase:
Faça. Isto! Coma. E. Me. Agradeça. Mais tarde.
1 Yodeing é uma forma de canto que envolve mudanças repetidas e rápidas de tom.
Frustrada, peguei um cupcake e dei uma grande mordida no topo. Eu
sempre comia os cupcakes em cima e deixava a parte de baixo. Sem a cobertura,
o bolo estava morto para mim.
Eu tinha que admitir, estava delicioso. A cobertura era amanteigada e não
muito doce. Era cremoso, não endurecida com açúcar.
Esse cara realmente achava que poderia ganhar meu coração – ou entrar
no meu apartamento – com cupcakes?
Eu ri para mim mesma e agarrei outro, lambendo a cobertura primeiro
antes de devorar todo o topo. Eles estavam realmente deliciosos. Eu teria
presumido que ele os comprou de uma padaria se não fosse pelo pote
Tupperware, e também o fato de que as formas eram um tanto imperfeitas.
Eu tinha perdido seriamente minha mente se estivesse pensando em dar
uma chance a esse cara porque seus cupcakes eram tão gostosos.
Em dez minutos, eu comi a parte superior de todos os cupcakes, exceto
dois.
Eu olhei para as palavras em cima dos que restaram.
Faça. Isto!
Faça!
Foi um sinal de que eu deveria dar uma chance a ele?
E eu estava desesperada o suficiente para buscar sabedoria em produtos
de panificação?
A resposta foi sim. Sim, eu estava.
Soltei um longo suspiro, admitindo o que sabia: a busca havia
acabado. Declan Tate venceria por omissão. Eu precisava do dinheiro. Ele foi a
pessoa menos maluca que entrou pela minha porta. E a verdade é que eu
o penalizei – puni-o por ter um pênis. Eu pensei muito sobre isso nos últimos
dias e, estranhamente, pensei sobre ele. Seu carisma, como me fez rir – havia
traços piores em um colega de quarto.
Mas antes que eu considerasse isso de verdade, ele e eu precisávamos ter
uma discussão, definir algumas regras básicas.
Peguei o telefone e disquei o seu número.
Ele aparentemente sabia que era eu.
— Ei, Mollz! Como vai...
— OK. Você pode ficar, — eu soltei.
— Sério?
— Esses cupcakes eram tão bons. Você me conquistou, o que obviamente
era sua intenção.
— Cupcakes plural? Você comeu mais de um?
— Sem comentários.
Ele riu e falou consigo mesmo, — Tome nota, Declan. O caminho para o
coração da nova coleguinha de quarto é pelo estômago.
Coleguinha de quarto.
Suspirei.
O que eu estou fazendo?
Ele deve ter percebido minha frustração. — Não fique tão chateada com
isso, Mollz. Vai ser divertido, e como eu disse, você mal vai precisar me
ver. Nossos horários funcionam perfeitamente para evitar.
— Quando você espera se mudar?
— Você que diz. Posso deixar a casa do meu amigo esta tarde e estar aí
por volta das cinco. Ele está ansioso para ter sua privacidade de volta de
qualquer maneira – algo sobre não me querer na sala quando ele transa com sua
namorada. Você pode acreditar nisso? — Ele riu. — De qualquer forma, você
tem que trabalhar hoje à noite?
Esta noite? Pareceu tão cedo, mas honestamente, eu poderia muito bem
simplesmente acabar com isso.
— Na verdade não. Esta noite é minha noite de folga. Não vou trabalhar
nos próximos dias.
— Perfeito então. Vou empacotar minhas coisas e sair.
Peguei o cupcake “Faça” e dei uma mordida. — Ótimo, — eu disse com
minha boca cheia.
***
Algumas horas depois, houve uma batida na porta.
Quando eu abri, fui recebida pelo sorriso lindo de Declan.
— Olá, companheira de quarto.
Saí do caminho, permitindo que ele entrasse. — Ei.
Um cheiro de seu perfume flutuou por mim. Incrível. Eu não poderia dizer
que me importava com a ideia de meu apartamento ficar saturado com qualquer
colônia que ele usasse. A vibração em meu lugar estava prestes a ser
bombardeada com energia masculina.
A bolsa em seu braço caiu no chão com um baque. Ele olhou em volta
antes de empurrar sua mala para um canto da sala. Então ele caminhou de volta
em minha direção e me pegou desprevenida quando estendeu a mão para meu
rosto.
Eu vacilei quando ele passou o dedo ao longo do canto da minha
boca. Roçou meu lábio inferior, dando-me arrepios.
— Você tinha um pouco de glacê aí.
Eu toquei no mesmo local. — Oh.
Poucos minutos antes dele chegar, eu havia demolido o topo do cupcake
“Isto!” – o último. Tudo o que restava agora eram oito tocos de bolos nu.
Ele examinou meu rosto. — Você está bem?
— Sim. Estou bem, — eu disse, sentindo como corava.
Eu não tinha certeza se todo o açúcar estava subindo para minha cabeça
ou o quê, mas estava mais nervosa do que pensei que estaria.
— Pare de enlouquecer por eu estar aqui. — Ele deu uma risadinha. —
Acho que você nunca morou com um cara antes?
— Você estaria correto. Meus pais se divorciaram quando eu tinha
dezesseis anos. Então, depois que meu pai foi embora, éramos apenas minha
mãe, eu e minha irmã, Lauren.
— Bem, eu prometo, não mordo.
Engoli em seco, nervosa pelo fato de que ele era tão
atraente. Quase atraente demais. Eu nunca gostaria de estar com um cara
assim. No fundo, ele provavelmente estava cheio de si, mesmo que não
demonstrasse. Não havia como ele não saber que era bonito.
— Temos que definir algumas regras básicas, ok?
Ele endireitou a postura e acenou com a cabeça uma vez de forma
exagerada. — Atire.
— Isso deveria ser desnecessário dizer, mas o que é meu é meu e o que é
seu é seu. Não divido meus itens pessoais, como produtos de higiene pessoal ou
comida.
— Entendi. Mas deve funcionar nos dois sentidos. Tipo... se acontecer de
eu cozinhar algo delicioso e você comer, você vai me dar algo em troca.
Minhas sobrancelhas franziram. — Em troca? O que exatamente você está
insinuando?
Seus olhos se arregalaram. — Não o que sua mente suja está se
aventurando agora. Já estabelecemos que estou interessado em outra pessoa,
lembra? Eu só quis dizer, você sabe, como, se você comer minha comida, você
me deve algo de valor equivalente. Não diga se você não aguenta esse tipo de
coisa.
— O que te faz pensar que vou comer sua comida?
— Talvez você não faça. Mas você pareceu gostar dos cupcakes, então...
Ele tinha razão. Mas os cupcakes foram um presente. Eu acho que poderia
concordar com sua estipulação e apenas jurar que nunca tocaria em sua
comida. Pfft! Eu não precisava de sua comida.
— OK. — Dei de ombros. — Bom. Funciona nos dois sentidos.
Ele se encostou na pequena ilha no centro da minha cozinha. — Que
outras regras você tem para mim?
— Você pode fazer o que quiser quando não estou aqui, mas nada de trazer
pessoas para o apartamento quando estou dormindo. Nossos horários devem
tornar isso muito fácil, já que você tem três noites por semana quando não
estarei aqui.
— Bom. Feito. Acerte-me com o resto.
— Gosto de tudo bonito e organizado. Então, se você vir algo organizado
de uma certa maneira, não mude.
— Você quer dizer como os M&Ms tons pastel que você tem naqueles potes
no balcão? Não misturar rosa com cor de menta, esse tipo de merda?
— Eu só gosto de algumas cores de M&Ms, então eu os encomendo
online. Mas sim... não mexa com nada que eu possa ter arranjado de uma certa
maneira.
— OK. — Ele deu uma risadinha. — Você é uma viagem, sabia disso?
— Todo mundo tem suas peculiaridades. As minhas incluem gostar de
doces com cores coordenadas e um apartamento limpo e organizado. Então me
processe. Eu gosto do que gosto.
— Que tipo de homem faz uma mulher que gosta de todos os M&Ms rosa
em um pote se interessar por ele? Um cara que usa camisas Lacoste rosa e
mocassins?
— Não. Eu gosto de um homem que sabe o que quer e que...
— Estúpido e pretensioso pra caralho?
— Não, — eu respondi defensivamente.
— Estou brincando, Molly. Só brincando com você.
Soltando um longo suspiro, eu disse: — Eu sei.
— Você está solteira? — ele perguntou.
— Sim. Mas... espero que não por muito tempo.
— Oh, sim? O que está acontecendo? Quem é o sortudo?
ECA. Por que eu disse isso? Agora eu tenho que explicar.
Posso muito bem admitir minha queda pelo Dr. Daniels. Dessa forma,
Declan saberia que eu não era completamente afetada por seus encantos.
— Há um médico com quem trabalho. Eu tenho uma queda por ele há
algum tempo, e ele acabou de ficar solteiro. Na verdade, vou me encontrar com
ele e um monte de outras pessoas para o Happy hour amanhã à noite. Portanto,
tenho esperança de que algo se desenvolva lá.
Ele sorriu. — Bom para você. Vá em frente.
Sentindo envergonhada, limpei minha garganta. — E você? Qual é o
problema com essa garota que você disse que gosta?
— Bem, ela é uma colega de trabalho também, na verdade. Trabalhamos
para a mesma empresa de publicidade. Somos ambos da Califórnia, onde a
empresa está sediada, mas viemos para Chicago para trabalhar em uma
campanha para um grande cliente aqui. É por isso que estou na cidade por
apenas seis meses. Ela e eu trabalhamos juntos na conta.
— Ela sabe que você gosta dela?
— Essa é a coisa. Ela está meio que namorando esse babaca em
casa. Ele não queria que ela viesse para Chicago. As coisas estão sempre indo
bem com eles. Então, espero que um dia eles terminem eu possa me mover para
a conquista. Eu não seria um idiota e tentaria me mexer quando ela
tecnicamente tem um namorado. Então, no momento, estou apenas esperando
nos bastidores.
— Ok, mas ela sabe que você gosta dela?
— Não sei. Aposto que ela suspeita, no entanto. Somos amigos... por
enquanto. Mas eu quero mais. Não só porque ela é linda, mas ela é inteligente e
doce também. Todo o pacote. E acho que somos compatíveis.
A pitada de ciúme que senti foi enervante. Acho que era mais apenas
desejar que alguém se sentisse assim por mim. Certamente não era por causa
de uma atração por Declan. Ele era bonito e tudo, mas não meu tipo.
— Qual é o nome dela?
— Julia.
— Nome bonito.
— E quanto ao Hot Doctor?
Sorrindo timidamente, respondi: — Will.
— Que tipo de médico?
— Ele é um obstetra-ginecologista.
— Oh, isso mesmo. Você disse que trabalha em uma maternidade. Faz
sentido. Pelo menos os bebês chorões com os quais você lida são fofos – ao
contrário dos meus clientes. — Ele fingiu pegar meu pote de M&M, depois
recuou a mão com um sorriso travesso. — Alguma outra regra, Molly?
— Bem, coisas óbvias, como não andar pelado.
Ele franziu as sobrancelhas. — Preocupada em ficar excitada?
— Não. — Eu olhei para os meus pés. — Simplesmente não é apropriado.
— O mesmo vale para você, então. Mas isso é só para ser justo. — Ele
baixou a voz. — Entre você e eu, não vou reclamar se você fizer isso.
Eu revirei meus olhos. — Eu pensei que você só tinha olhos para uma
mulher?
— Estou apaixonado, não morto, Mollz. — Ele sorriu. — Se acontecer,
provavelmente vou dar uma olhada. Mas não vou dizer nada nem ser assustador.
Minhas bochechas ficaram quentes quando mudei de assunto. — A sua
irmã é mesmo freira?
Ele deu uma risadinha. — Sim.
— Isso é tão... único.
— Por quê? Por que o irmão dela é a antítese diabólica do sagrado? — Ele
deu um sorriso malicioso.
— Bem, isso, e também você não ouve falar de muitas pessoas se tornando
freiras hoje em dia.
— Catherine sempre foi diferente do resto das minhas irmãs, sempre
procurando por um propósito maior. Mas foi muito chocante quando ela nos
contou.
— Seus pais são religiosos?
— Eles são católicos e vão à igreja todos os domingos, mas não são
obcecados por religião nem nada. Minha mãe chorou quando Catherine disse
que iria para o convento. Ela sempre imaginou um futuro diferente para ela. Mas
você sabe, no final, as pessoas farão o que quiserem. E ela está feliz.
— Bom para ela.
— Engraçado como as crianças podem crescer juntas e ser tão
diferentes. Catherine está morando em um convento, orando, praticando boas
ações e, na maioria das noites, estou brincando na Internet ou assistindo
Hulu. Mesmos pais. O que aconteceu?
— Você parece muito bem-sucedido. Tenho certeza que eles estão
orgulhosos.
— Eles gostariam que eu me estabelecesse em algum momento, mas sim,
eles ainda não me renegaram. — Ele mudou de assunto. — Então, qual é o
plano de jogo para amanhã à noite?
— O que você quer dizer?
— Indo para o ataque com o Dr. Dickalicious2. Qual é a sua estratégia?
Por que contei a ele sobre Will? — Eu deveria ter um plano?
— Bem, você quer que ele saiba que você gosta dele, certo?
— Sim. Mas não quero ser muito ousada. Ele acabou de sair de um
relacionamento. Da mesma forma, caras como ele não ficam solteiros por muito
tempo.
— Ok, então você sabe que precisa atingi-lo com inatingibilidade.
— O que isso significa?
— Tudo com os homens é sobre psicologia reversa. Se pensamos que não
podemos ter algo, queremos dez vezes mais. Somos como crianças assim.
— É por isso que você gosta tanto de Julia – por que ela está
comprometida?
Ele coçou o queixo. — Em um nível subconsciente, isso poderia estar
alimentando o fogo. Não está nem perto dos principais motivos pelos quais eu
gosto dela, no entanto.
— O que você sugere que eu faça? — Meu tom era indiferente, mas uma
parte de mim, na verdade, quer ouvir o que ele tinha a dizer. Não era sempre que
eu tinha a perspectiva de um homem sobre essas coisas.
— Não mostre a ele que você gosta dele. Mostre a ele por que ele deveria
gostar de você.
Meus ouvidos se animaram. — E isso consiste em fazer o quê?
2 Pau delícia.
— Aparecer gostosa pra caralho, o que eu sei que você pode
facilmente. Entrando em conversas com todos, menos ele – mostre o que ele está
perdendo. Então, quando ele inevitavelmente aparecer, fale com ele, mas depois
passe sua atenção para outra pessoa. Isso vai deixá-lo pendurado e querendo
mais. Adoramos uma boa perseguição.
— Isso não corre o risco de fazer parecer que eu não gosto dele?
— Confie em mim. Se ele quiser você, ele fará um movimento em algum
momento. Quanto mais desinteressada você parecer, mais duro seu pau ficará.
— Bem, obrigada por essa visão, eu acho.
— De nada. Você vai descobrir que sou muito franco e não gosto de
rodeios. — Ele olhou ao redor. — Terminamos com as regras do quarto?
— Sim. Acho que sim – até pensar em algo que esqueci.
— Bom. — Ele caminhou até sua bolsa de ginástica e a abriu, tirando
algumas garrafas de Gatorade. — Se importa se eu guardar isso na geladeira?
— De jeito nenhum.
Depois de colocar suas bebidas na geladeira, ele notou o recipiente
Tupperware e o abriu.
— Droga. Eu acho que você gostou deles?
— Eu me empolguei um pouco. Eles eram realmente bons.
— Essa é outra de suas peculiaridades – decapitar cupcakes por igual?
— O glacê é minha parte favorita.
— Você não vai comer a massa?
— Não sem glacê, não.
— Bem, vê? Eu sabia que éramos um bom par. Eu odeio o glacê. Entre
isso e nossa afinidade mútua com o vinho branco, diria que isso vai funcionar.
— Ele sorriu. — Você também gosta de cupcakes?
— Sim.
— Bingo. Viu? Eu prefiro a parte de baixo. — Ele revirou os olhos. — Ok,
sim, isso não saiu direito, mas você sabe o que quero dizer.
— Você é doido. — Balancei minha cabeça, incapaz de conter meu
sorriso. — Obrigada novamente por fazer os cupcakes, no entanto. Isso foi muito
atencioso.
— Bem, obviamente você sabe que eu tinha um motivo oculto.
— Um que claramente valeu a pena.
Seus olhos vagaram na direção dos quartos. — Importa-se que eu vá
desfazer as malas?
— Vá em frente.
— Querida. Lidere o caminho.
Declan rolou sua mala enquanto me seguia para seu novo quarto.
Fui para o meu próprio quarto para dar a ele um pouco de privacidade,
mas me senti incapaz de me concentrar em outra coisa senão no fato de que ele
estava aqui.
Enquanto ouvia o som de Declan cantarolando junto com as músicas que
ele tocava em seu telefone enquanto desfazia as malas, não pude deixar de
sorrir. Eu estava temendo ter que conseguir um novo colega de quarto, perdendo
o sono por causa disso. Mas, pela primeira vez em muito tempo, senti que teria
uma boa noite de descanso.
Ele me assustou quando colocou a cabeça no meu quarto. — Tudo bem
para pendurar minha escova de dente ao lado da sua?
— Eu dei a você a impressão de que não seria?
— Você disse que o que é seu é seu. Então, eu não sabia se isso se estendia
ao porta escovas de dentes.
— Me desculpe se eu fui um pouco dura no começo. Eu só preciso me
acostumar com isso. Isso é tudo. Já estou me sentindo melhor por você estar
aqui.
— Bom. — De repente, ele se acomodou na ponta da minha cama, deitado
de costas enquanto olhava para o teto. A visão de seu longo corpo espalhado pela
minha cama era... outra coisa.
Ele descansou as mãos atrás da cabeça e se virou para mim. — Você disse
que amanhã é seu dia de folga, certo?
— Sim.
— Você tem ovos, pão e outras coisas?
— Sim. Embora eu ache que eles vão expirar em breve.
— Legal. Vou fazer o café da manhã para nós – uma pequena celebração
inaugural. Sem amarras. Você não me deve nada. — Ele piscou. — Por isto.
— Você não vai me ouvir reclamar de alguém fazendo café da manhã para
mim. Nunca.
— Mas estou avisando, eu gosto de tocar música quando cozinho, sacudir
minha bunda com a batida. Cantar um pouco. Posso usar uma espátula como
microfone. Você está bem com um pouco de karaokê de cozinha?
— Contanto que eu esteja acordada e você esteja vestido, vá em frente.
Ele pulou da minha cama, girou como um louco Michael Jackson e
desapareceu no corredor.
Serão seis longos meses.
CAPÍTULO 3
Molly
3 Tradução – doutor na caixa. Mas é um apelido depreciativo para um médico que fornece
cuidados básicos de saúde, geralmente por hora, em uma clínica ambulatorial independente.
— Oh. Tudo bem. Tem sido assim por um tempo. Posso ligar para o
supervisor novamente. Você não tem que consertar.
Ele resmungou. — Sim. Eu absolutamente preciso.
***
Mais tarde naquela noite, fiquei um pouco desapontada por Declan não
estar em casa antes de eu sair para o Happy hour. Eu tinha me arrumado mais
do que o normal e poderia usar sua franqueza para descobrir se parecia que
estava tentando demais. Quer dizer, eu estava, mas não queria que parecesse
assim.
Minhas quatro mudanças de roupa me atrasaram, então a maioria das
pessoas já estava no McBride quando cheguei. Notavelmente ausente estava sei
lá o nome, que geralmente vinha ao Happy hour para se pendurar no braço de
Will. Sentindo estranhamente nervosa, fui direto para o bar e parei ao lado de
Daisy, uma nova assistente médica. Eu a encontrei algumas vezes na unidade,
mas esta foi a primeira vez que ela veio a um de nossos encontros de duas vezes
por mês.
— Ei, — eu disse. — Estou feliz que você veio.
— Ei, Molly. — Ela fez uma varredura rápida em minha roupa. — Eu amo
esse verde em você. Você parece tão diferente sem uniforme e rabo de cavalo.
Eu sorri, agora feliz por ter feito aquela última mudança de guarda-roupa
e me lançar para uma explosão profissional esta tarde. A cor esmeralda da
minha blusa de seda era um pouco ousada para mim, especialmente contra
minha pele pálida e cabelo escuro. Mas eu o combinei com jeans escuro e
calçados simples para tentar mantê-lo casual. — Obrigada. Você está muito bem
também.
O barman se aproximou e colocou um guardanapo na minha frente. — Ei,
Molly. Como tá indo? O que posso fazer por você hoje?
— Ei, Patrick. Vou querer um Stoli vanilla com tônica de gengibre, por
favor.
Ele assentiu.
—Ok . Já está chegando.
— Mmm... — disse Daisy. — Essa é a bebida que tem gosto de refrigerante,
não é?
— Sim. Você quer um?
Ela olhou para a garrafa de cerveja em sua mão, que estava quase vazia. —
Certo. Por que não?
Eu olhei para o barman. — Você pode fazer dois? E o dela é por minha
conta.
— Você quer iniciar uma comanda?
— Sim, por favor.
Depois que Patrick se afastou para preparar nossas bebidas, Daisy disse:
— Você não precisava fazer isso. Mas obrigada.
Eu sorri. — Sem problemas. Então me diga como você se sente no Chicago
General? Quanto tempo já se passou? Já deve ter quase um mês, certo?
Ela acenou com a cabeça. — Cinco semanas, na verdade. Eu realmente
gosto. Não que eu tenha muito com que comparar. Este é meu primeiro emprego
depois de me formar. Alguns dos médicos podem ser realmente intimidantes.
— Você quer dizer como o Dr. Benton?
Daisy fez uma careta. — Especialmente o Dr. Benton. Deus, aquele homem
me deixa tão nervosa. Ele entra em uma sala e eu começo a congelar.
— Vou lhe contar um segredinho sobre ele que pode ajudar.
— O quê?
Inclinei-me. — Sorria muito. Isso o assusta.
Ela deu uma risadinha. — Você está falando sério?
— Sim. Qualquer coisa que ele perguntar, apenas responda com um
sorriso gigante. É como se isso o desarmasse ou algo assim. Eu tenho uma teoria
de que ele é rude para todos para que não consigam sorrir, porque sorrisos são
criptonita para ele.
— Uau. OK. Vou tentar. É muito bom saber disso. O que mais você tem?
— Você conheceu o Dr. Arlington?
— Sim. Ele também é muito mal-humorado.
— Ele vai tentar deixar seus estagiários com você e sumir por horas se
você deixar.
Os olhos de Daisy se arregalaram. — Ele fez isso comigo outro dia. Disse-
me para mostrar-lhes as coisas. Não tinha ideia do que fazer com quatro
estagiários. Eles estão no General há mais tempo do que eu. Eles teriam ficado
melhor se me mostrassem as coisas.
— Sim. Então, da próxima vez que ele tentar deixá-la com eles, você dirá
' Na verdade, eu preciso ver Edith na enfermaria '.
— Mesmo que eu não precise ir vê-la?
Eu concordei. — Sim. Ele tem medo de Edith.
— Ele tem? Mas ela é tão pequena e doce.
Eu apontei para Daisy. — Até você irritá-la. Então ela é muito
assustadora. Até a ameaça de Edith assustará o Dr. Arlington. Uma vez ela o
atacou por dispensar seus estagiários, e agora, se você apenas mencionar o nome
dela, ele recua.
Ela riu, provavelmente presumindo que eu estava exagerando, mas não
estava. Trabalhamos com um verdadeiro elenco de personagens. Patrick, o
barman, se aproximou e entregou nossas bebidas. Enquanto bebíamos, nós
duas olhamos para o grupo. Esta noite foi um bom comparecimento.
Daisy ergueu o queixo e apontou para onde Will estava conversando com
um anestesista na outra extremidade do bar. — E quanto ao Dr. Daniels? Qual
é a história dele?
— Will é um dos bons. Ele é muito bom com todos. Você não terá
problemas com ele.
Ela mordeu o lábio inferior. — Eu quis dizer qual é a história dele. Ele é...
solteiro?
Oh. ECA. Merda. — Humm... eu não tenho certeza. Ele está meio
enrolado com alguém. Você está interessada?
Daisy deu um gole em sua bebida com um sorriso tímido. — Ele é muito
bonito.
Sim, ele é. Dei de ombros. E, claro, naquele momento, ele teve que se
aproximar de nós.
Ele beijou minha bochecha. — Ei, Molly. Eu não vi você entrar.
Daisy endireitou a postura.
— Acabei de chegar aqui, — eu disse.
Ele acenou com a cabeça e voltou sua atenção para a mulher ao meu
lado. — É Daisy, certo?
Ela se iluminou com um sorriso megawatt. — Sim. É bom ver você, Dr.
Daniels.
— Por favor, me chame de Will.
— Tudo bem, Will. Sabe, outro dia percebi você entrando no carro no
estacionamento. Você tem um adesivo de ex-aluno da Northwestern. É para onde
você foi?
— Sim.
— Eu também. — Ela cerrou o punho e o ergueu no ar. — Go Wildcats.
— Oh sim? Eu sou um grande fã. Eu ainda guardo ingressos para a
temporada.
Daisy fez beicinho. — Estou com tanto ciúme. Eu não poderia pagar por
eles este ano. Fui líder de torcida por quatro anos e sinto falta da emoção dos
dias de jogo.
ECA.
Will deu um gole em sua cerveja. — Você terá que vir para um jogo então
algum dia.
Seu beicinho se curvou em um sorriso. — Eu adoraria.
Duplo ugh.
A Miss New Girl acabou de ser convidada para um dia a sós com Will em
trinta segundos, bem na minha frente. Eu realmente sou péssima em flertar.
Os dois começaram a conversar sobre um novo zagueiro para a próxima
temporada de futebol, e fiquei tentando sorrir nos momentos apropriados
enquanto sentia que meu coração estava sendo arrancado. Normalmente, eu não
era de tirar meu celular quando estava com outras pessoas, mas quando ele
zumbia no meu bolso, decidi abrir uma exceção.
Fiquei surpresa ao encontrar o nome de Declan na minha tela.
Declan: Como está indo? Você está jogando duro para conseguir?
4 Pau gostoso.
5 Aqui o personagem quis mostrar desdenho com o nome da mulher, trocando nome das
Molly
***
Eu mal podia esperar para chegar em casa e dizer a Declan que seu
pequeno plano tinha realmente funcionado.
Para minha surpresa, quando abri a porta do meu apartamento, Declan
estava na sala, mas ele não estava sozinho. Uma linda mulher com cabelos
ruivos brilhantes estava sentada na poltrona em frente a ele. Havia papéis
brancos espalhados em cima da mesa de centro.
Declan se levantou. — Oh, ei, colega de quarto. Não achei que você voltaria
tão cedo.
— Bem, eu não planejava chegar em casa tão cedo, mas segui seu conselho
esta noite.
Declan olhou para o meu peito ainda sem sutiã. — Eu posso ver isso.
— Não só isso. Embora, funcionou como um encanto. — Eu cruzei meus
braços sobre mim. — De qualquer forma, o que eu quis dizer é que me lembrei
do que você disse sobre parecer desinteressada. Na verdade, saí mais cedo, disse
a ele que tinha outros planos. Ele me pediu para tomar um café em algum
momento da minha saída. Portanto, ambas as estratégias funcionaram.
— Não tive dúvida. — Ele se virou para a mulher. — Desculpe ser
rude. Eu deveria ter apresentado você. Esta é minha colega de quarto, Molly. E
Molly, esta é Julia. — Ele se virou para mim e piscou para se certificar de que
eu sabia que ela era a Julia. — Julia e eu trabalhamos juntos. Temos um prazo
para a última campanha de nosso cliente, então ela veio para que pudéssemos
fazer um brainstorming6.
— É um prazer conhecê-la, — disse Julia, estendendo a mão, mas olhando
para o meu peito.
— Da mesma forma. — Apertei sua mão e olhei em volta, sentindo-me
estranha. — Bem, não me deixe interromper seu trabalho.
— Não é uma interrupção, — disse ela.
— Sim, — Declan disse. — Tenho certeza de que estávamos terminando.
Quando Julia olhou para o meu peito novamente, eu disse: — Tenho
certeza de que você está se perguntando por que não estou usando sutiã.
— É por minha causa, — Declan disse.
Seus olhos se arregalaram. — Mesmo?
— Não me leve a mal, — eu esclareci. — Declan acabou de me dar alguns
conselhos que foram um pouco ousados, mas brilhantes.
Então contei à Julia sobre minha paixão por Will e minha experiência no
Happy hour.
— Então, é tudo graças a Declan que agora tenho um encontro informal
para um café com Will.
Julia olhou entre Declan e eu. — Bem, vocês dois parecem estar se dando
muito bem para duas pessoas que acabaram de morar juntas.
— Devo dizer que está indo muito bem. Ele está crescendo em mim.
Declan sorriu. — Ela está mentindo. A afinidade dela comigo foi
instantânea.
— Minha afinidade com seus cupcakes foi instantânea.
Enquanto ela nos observava interagir, o sorriso de Julia parecia
forçado. Ela estava desconfortável? Isso me fez pensar se talvez ela tivesse
ciúmes de como Declan e eu nos dávamos bem.
6 Troca de ideias, reunião de projetos.
Eu sabia o que ele sentia por ela, mas agora estava começando a suspeitar
que os sentimentos eram mútuos, embora ela tivesse um namorado.
Julia olhou para meus potes de doces em tons pastel com cores
coordenadas. — Nunca vi M&Ms tão bem-organizados.
— Mollz é um pouco perfeccionista.
— Eu realmente não sou. Por mais que eu goste das coisas de uma certa
maneira, estou longe de ser perfeita.
— Dê-me um exemplo, — Declan desafiou.
— Bem... por um lado, meu plano original era ser médica, mas nunca tive
coragem de ir para a faculdade de medicina. Não que haja algo de errado em ser
enfermeira – tenho muito orgulho do que faço – mas meu medo do fracasso me
impediu de perseguir um sonho maior. Portanto, embora eu possa ser
organizada, estou longe de ser perfeita.
Sua expressão se suavizou. — Você nunca me disse isso.
— Bem, visto que eu só te conheço há alguns dias, isso não deveria ser
surpreendente.
Ele piscou. — Parece mais tempo.
Um silêncio constrangedor pairava no ar.
Declan bateu palmas. — De qualquer forma, quem está com fome? Eu
poderia cozinhar algo para nós. Embora Molly não possa comer, a menos que
esteja disposta a pagar.
Os olhos de Julia se arregalaram. — Pagar?
— Temos apenas um pequeno arranjo. Ela acha que pode resistir à minha
culinária. Ela vai ter que me dever algo se ela ceder à tentação.
— Eu já comi, — menti. Na verdade, eu estava morrendo de fome, mas não
comeria com eles por alguns motivos. Um, eu não queria provar que ele estava
certo, e dois, imaginei que talvez ele quisesse um pouco de privacidade com sua
paixão.
— Vocês dois tenham um bom jantar. Vou para o meu quarto e vou
terminar de assistir a este programa que estou curtindo no Hulu, graças ao meu
colega de quarto que compartilhou sua senha Premium comigo.
— Eu disse que você não se arrependeria de me deixar morar aqui, — ele
chamou.
Acenei. — Foi um prazer conhecê-la, Julia.
— Ótimo conhecer você também, Molly.
Enquanto eu estava deitada na cama assistindo ao programa, ouvi Julia
rindo enquanto o cheiro de tudo o que Declan estava cozinhando flutuava pelo
apartamento. Parecia apenas uma questão de tempo antes que ela sucumbisse
aos seus encantos.
Minhas emoções estavam em todo lugar esta noite, variando da satisfação
por ter chamado a atenção de Will a um estranho desconforto por Julia. Eu disse
a mim mesma que estava com ciúmes de como Declan se sentia por ela, não por
causa de quaisquer sentimentos que nutria por Declan.
***
No dia seguinte, era quase meio-dia quando rolei para fora da cama. Eu
nunca dormi até tão tarde. Meu relógio biológico em geral era bagunçado por
causa das horas noturnas em que trabalhava, e tentava ficar acordado durante
o dia em vez de dormir nos dias de folga.
Quando fui para a cozinha, havia um bilhete de Declan no balcão.
Bom dia (ou tarde, dorminhoca). Fui ao escritório para trabalhar. Até logo.
Eu balancei minha cabeça e ri. Era estranho que eu quase quisesse comê-
lo apenas para ver quais eram suas consequências?
Desembrulhando o celofane, cheirei. Cheirava a alho e delicioso, com
muitas ervas e especiarias. Talvez apenas uma pequena mordida. Peguei um
pouco em um prato e coloquei no micro-ondas.
Levando as sobras de volta para o sofá, cruzei as pernas e coloquei uma
mordida gigante na boca.
Maldito seja você e sua comida, Declan.
CAPÍTULO 5
Declan
***
Naquela noite, abri a geladeira e descobri que minha colega de quarto tinha
acabado com a maioria das sobras. Molly estava deitada no sofá lendo quando
decidi insultá-la.
— Sua menina má, Mollz. Vejo que você não resistiu ao meu risoto.
Ela fechou o livro e se sentou. — Na verdade, eu poderia. Mas escolhi não
resistir. Eu também estava curiosa para saber qual seria a punição. Como posso
saber se vale a pena resistir à sua cozinha se não sei quais são as
consequências?
Eu ri. Não sabia quais eram as consequências para mim.
— Eu vou inventar algo. A penalidade será afixada em sua porta esta noite.
— Ah, algo pelo qual ansiar. Você disse que sua avó te ensinou a
cozinhar? Sua mãe também é uma boa cozinheira?
Eu não estava prestes a explicar a história complicada da dinâmica da
minha família, ou como minha mãe nem sempre estava em seu juízo perfeito
para cuidar de seus filhos. Em vez disso, encolhi os ombros. — Todos se
revezavam para cozinhar na minha casa. Mas aprendi principalmente com
minha avó. — Abrindo uma garrafa de Gatorade, mudei de assunto. — Então,
como está tudo indo? Você ouviu alguma coisa do Hot Doc7?
— Não. E, infelizmente, descobri pela minha amiga que Will ficou muito
confortável com Daisy novamente depois que eu saí do bar.
— Sim, mas só porque você não estava lá.
— Acho que terei uma noção melhor de como as coisas estão no trabalho
esta semana. Ele disse que queria tomar um café. Vamos ver se ele menciona.
— Daffodil8 não terá chance quando você entrar no jogo novamente.
— Vamos torcer.
— Então... algo interessante aconteceu do meu lado, — comecei, ansioso
para compartilhar minha experiência hoje.
— O quê?
— Julia e eu estávamos trabalhando no escritório, e ela começou a falar
aleatoriamente sobre você. Senti um pouco de ciúme.
— Mesmo? É engraçado você dizer isso, porque pensei ter sentido a mesma
coisa ontem à noite. O que ela disse?
— Ela disse que acha que você gosta de mim. — Eu abri um sorriso
arrogante. — Quero dizer, nós dois sabemos que você faz. Mas foi interessante
que ela percebeu. — Eu pisquei. — Estou brincando. Bem, não sobre ela pensar
que você gosta de mim. A pitada de ciúme que senti dela fez as rodas girarem
na minha cabeça.
— Sobre o quê?
— Isso me fez perceber que a única coisa melhor do que mostrar
desinteresse como uma estratégia pode ser a ameaça de outra pessoa.
— Interessante. Bem, que bom que pude ajudar.
— Seus mamilos ajudaram mais do que qualquer coisa, eu
acho. Agradeça-os por mim.
7 Doutor Quente.
8 Outra flor, Narciso.
Molly corou. — Espere – ela acha que eu fiz isso por você? Mas eu contei
a ela sobre Will.
— Sim, mas ela disse que você poderia ter colocado um sutiã antes de
voltar para casa. Ela sentiu como se você os estivesse exibindo.
— Ela pensa que eu sou uma vagabunda. Excelente. Não pensei em
colocar meu sutiã porque estava voltando direto para casa e pensei que você
estaria fora.
— Bem, você sabe disso, e eu sei disso, mas ela não. Então, deixe-a
pensar. Deixe-a pensar que também gosto de olhar para você. Isso pode ser o
que finalmente funciona. — E eu gosto de olhar para você, mas esse não é o
ponto aqui.
Mais tarde, depois que Molly foi dormir, deixei um bilhete na sua porta.
Aquele risoto deixou você em um dilema, porque agora você deve lavar
minha roupa. Terei uma cesta pronta amanhã à noite. ;-)
***
Molly e eu não nos cruzamos novamente até que ela me ligou de seu turno
no dia seguinte. Eu estava no meio de um treino noturno no meu quarto e parei
para falar com ela.
— O que foi, Mollz?
— Sério? Sua roupa?
Limpei minha testa com uma toalha. — Estou no meio de levantamento de
pesos enquanto falamos. Muito suor para você lavar.
— Oh, que alegria.
— Estou animado porque aposto que você coordenará as cores das minhas
cuecas. — Quando ela ficou em silêncio, eu disse: — Ei, posso muito bem tirar
proveito. É por isso que você ligou? Para reclamar da minha punição?
— Não, na verdade, eu queria te contar uma coisa interessante.
Eu tomei um gole d'água. — Estou sempre pronto para isso.
— Lembra quando você estava me dizendo que Julia parecia com ciúmes
quando falava de mim?
— Sim?
— Bem, eu acho que você está no caminho certo. Will e eu tomamos café
juntos durante nosso intervalo. Ele me perguntou o que havia de novo e eu
contei a ele tudo sobre meu novo colega de quarto. Comecei a delirar sobre você,
como se você fosse um presente de Deus para as mulheres.
— Então não foi muito difícil. OK. Continue.
— Não importa. — Ela riu. — De qualquer forma... o humor dele pareceu
mudar enquanto eu falava de você. Ele parecia interessado em nosso
relacionamento.
— Ele te convidou para sair?
— Não. Mas estou me perguntando se talvez ele precise de algo para
chamar sua atenção. Talvez fazê-lo acreditar que estou interessada em você.
Eu cocei meu queixo. Isso pode funcionar. Melhor ainda…
— Talvez eu pudesse visitar você no hospital. Se ele me visse, ficaria ainda
mais ameaçado.
— Muito pretensioso?
— Apenas tentando ajudar.
— Na verdade... — ela disse. — Tenho uma ideia melhor. Por que você não
vem para o próximo Happy hour?
— Eu poderia totalmente fazer isso. Mas com uma condição.
— Por que sempre há condições com você?
— Esta é justa.
— O que é?
— Você faz o mesmo por mim. Não descobri a logística, mas quero deixar
Julia com ciúmes. Acho que devemos fingir que algo está acontecendo entre nós.
Após uma breve pausa, ela disse: — Tudo bem, mas temos que descobrir
o que isso acarreta.
Uau. Fiquei um pouco surpreso com ela. Deve estar muito caída por Willy
Dick.
— Isso envolve tudo o que for preciso para deixar a outra pessoa com
ciúmes, — eu disse. — Se deveríamos nos ver, isso significa...
— Temos que, tipo, tocar... e beijar?
Eu ri da reação dela. — Se você acha que é demais, não
precisamos. Podemos apenas parecer muito, muito ligados um ao outro de
alguma forma bizarra, como constante olhar fixo assustador e comunicação
telepática.
Ela suspirou. — Não, eu... acho que devemos torná-lo crível.
Bem, isso vai ser interessante pra caralho.
***
Não vi Molly nos próximos dias. Ela trabalhava em turnos de três dias,
doze horas, e nossos horários não se alinhavam. Mas sabia que hoje era o seu
dia de folga, então esta tarde mandei uma mensagem perguntando se ela estaria
em casa para o jantar e parei no supermercado depois do trabalho para comprar
algumas coisas que eu precisava para fazer um dos meus pratos especiais.
Ela entrou e tentou espiar por cima do meu ombro enquanto eu misturava
os ingredientes em uma tigela. Me virei para que ela não pudesse dar uma olhada
no que eu estava fazendo.
— Não olhe antes de o jantar estar pronto, — eu disse.
Ela fez beicinho, mas eu vi o sorriso sob aqueles lábios carnudos e
curvados. — E se eu não gostar do que você está fazendo?
— Você vai gostar.
— Como você sabe?
— Porque estou fazendo, e parece que você vai comer tudo o que eu
cozinhar.
Ela revirou os olhos. — Não fique cheio de si mesmo. Eu só roubei suas
sobras de novo ontem porque estava com preguiça de ir ao mercado e comprar
frios.
Eu sorri. — Tudo bem admitir que você gosta da minha comida, sabe.
Molly balançou a cabeça. — Pelo pouco tempo que te conheço, tenho
certeza de que não precisa de ninguém acariciando seu ego e tornando-o maior.
— Você tem razão. Eu tenho algo melhor do que meu ego que cresce
quando você o acaricia. — Eu pisquei.
Ela começou a corar, mas se virou para que eu não visse. Não sei por que,
mas adorei quando ela ficou rosada e tentou esconder.
— Quanto tempo eu tenho antes que o jantar esteja pronto? — ela
perguntou.
— Isso depende... de quanto tempo você precisa?
— Bem, se tivermos quinze minutos, vou ligar de volta para minha mãe
antes de comermos. Ela ligou enquanto eu estava a alguns quarteirões de
distância, mas tento não falar mais no meu telefone e dirigir ao mesmo
tempo. Tive um pequeno acidente alguns meses atrás. Eu estava discutindo com
minha administradora de cartão de crédito sobre uma cobrança que não era
minha e não estava prestando atenção.
— Leve o tempo que precisar.
— Quinze minutos deve ser bom. Se eu ainda estiver na ligação, chame
em voz alta que o jantar está pronto. Isso vai me ajudar a sair. Minha
mãe gosta muito de conversar.
Eu sorri. — Você terá. — Na verdade, só precisei de alguns minutos para
terminar o que estava fazendo, então resolvi esperar até ouvi-la desligar o
telefone para começar de novo. Mas quase meia hora se passou e Molly ainda
não tinha saído de seu quarto. Então, bati de leve. Talvez ela não tivesse
exagerado antes e precisasse de ajuda para desligar o telefone.
— Ei, Mol? O jantar estará pronto em alguns minutos.
— OK. Eu estarei lá.
Dez minutos depois, ela finalmente saiu de seu quarto. Eu tinha dois
pratos prontos na mesa da cozinha e estava prestes a provocá-la por fazer meu
jantar frio quando olhei para cima e vi seu rosto todo vermelho e manchado. Ela
definitivamente estava chorando.
Esfreguei meu esterno. Meu peito parecia que estava com azia ou algo
assim. — O que está acontecendo? Sua mãe está bem?
Molly fungou algumas vezes. — Sim. Ela está bem. Não é minha mãe. É
meu pai.
— O que aconteceu?
— Ele está doente. Aparentemente, ele foi diagnosticado com câncer de
pulmão e o prognóstico a longo prazo não é bom.
— Merda, Moll. Eu sinto muito. Venha aqui. — Eu a puxei para um
abraço. Ela começou a chorar novamente em meus braços. Sem saber o que
dizer ou fazer, apenas a segurei com força e continuei acariciando seu cabelo e
dizendo que tudo ia ficar bem. Depois que ela se acalmou, eu a levei até o sofá.
— O que você quer? — Eu disse. — Você quer uma taça de vinho ou água,
talvez?
— Não, está bem. Você fez o jantar e provavelmente já está esfriando.
— Não se preocupe com o jantar. Me diga o que você precisa.
Seu rosto estava tão vermelho que fez o azul de seus olhos realmente se
destacar. Rímel ou algum outro tipo de maquiagem escorreram por uma de suas
bochechas. Limpei com o polegar. — Você quer vinho?
Ela acenou com a cabeça. — Acho que realmente preciso de uma taça,
sim.
Na cozinha, servi dois vinhos brancos e levei a garrafa comigo quando fui
sentar ao lado dela novamente. Passando-lhe uma taça, eu disse: — Meu pai
teve câncer de próstata quando eu era adolescente. Fiquei apavorado e pensei
que ele não sobreviveria. Mas ele superou. A medicina melhora a cada dia. Às
vezes, um mau prognóstico pode mudar.
— Eu sei. É que meu pai e eu... Temos um relacionamento complicado.
Eu concordei. — Entendo. Meu relacionamento com minha mãe também
não é simples.
Molly tomou um gole de vinho enquanto olhava para os pés, parecendo
perdida em pensamentos. Eu dei a ela algum tempo para decidir o que ela queria
compartilhar comigo. Eventualmente, ela continuou.
— Quando eu tinha dezesseis anos, meu pai deixou minha mãe. Ele é
dermatologista e se casou com a enfermeira apenas um ano depois de
sair. Kayla, sua esposa, é apenas seis anos mais velha que eu. Acho que aguentei
o rompimento e a recuperação dele com mais dificuldade do que minha mãe.
— Ela balançou a cabeça. — Eu estava tão brava com ele. Ele basicamente
começou uma nova vida sem nós. A coisa toda era tão estereotipada e
clichê. Minha mãe tinha trabalhado em dois empregos para ajudá-lo a terminar
a faculdade de medicina. Ele retribuiu trocando-a por uma modelo mais nova
um mês antes de seu quinquagésimo aniversário – e sua enfermeira, nada
menos. Na verdade, tenho uma irmã mais nova que as pessoas acham que é
minha filha.
— Isso é péssimo. Sinto muito, Molly.
— Obrigada. De qualquer forma, já se passaram quase doze anos. Minha
mãe superou isso. Ela está namorando um cara muito legal agora. Mas nunca
deixei de lado o rancor, e isso realmente prejudicou meu relacionamento com
meu pai ao longo dos anos. Ele me liga a cada poucas semanas, mas nossas
conversas são como dois estranhos conversando... Como vai o trabalho? Como
está o tempo? Alguma boa férias planejada?
— Ele mora aqui em Chicago?
Ela acenou com a cabeça. — Ele mora em Lincoln Park. — Ela ficou quieta
por mais alguns minutos e então disse: — Perdi tantos anos abrigando
sentimentos ruins por algo que nem era sobre mim.
— Bem... — Peguei sua taça de vinho quase vazia e a enchi. — O bom do
perdão é que ele não tem data de validade. Você pode dar a qualquer momento.
Molly forçou um sorriso. — Obrigada.
— Ele está no hospital?
Ela balançou a cabeça. — Aparentemente, ele fez alguns exames e vai
começar a quimio em alguns dias. Ele ligou para minha mãe porque me deixou
uma mensagem na semana passada, e eu ainda não liguei para ele de
volta. Aparentemente, nem minha irmã mais velha.
— Sua irmã mora aqui em Chicago?
— Não, Lauren mora em Londres. Ela fez um estudo no exterior durante
seu primeiro ano na faculdade e conheceu um cara. Mudou-se para lá para estar
com ele no dia em que se formou. Ambos são professores de uma universidade,
então ela só volta uma vez por ano para visitar.
Eu concordei. — Como você vai lidar com as coisas? Você vai ligar para ele
ou ir vê-lo?
— Não sei. Acho que devo fazer as duas coisas – ligar de volta para ele e
depois falar com ele pessoalmente. Embora, para ser honesta, pensar nisso me
deixa enjoada. Já faz muito tempo e não tenho certeza de como consertar as
coisas, especialmente agora.
— Eu vou com você, se quiser.
Molly piscou algumas vezes. — Você irá?
— Claro. Você é minha colega de quarto. Estou com você.
— Obrigada. Eu realmente quero. Mas provavelmente seria estranho
trazer alguém que ele nunca conheceu antes. Acho que preciso consertar essa
cerca sozinha.
Eu concordei. — OK. Bem, que tal eu te levar ao Lincoln Park quando você
for? Vou estacionar na esquina e esperar por você. Posso levar meu laptop para
trabalhar. Assim, você não precisa dirigir se ficar chateada e terá alguém para
mantê-la calma no caminho até lá.
— Isso é muito generoso da sua parte. Eu sei que estarei muito
preocupada para prestar atenção na estrada. Então, eu posso aceitar isso, se
você quiser.
— Eu quero. E considere feito. Basta me avisar quando e eu estarei lá.
Molly sorriu, e parecia que a mão que segurava meu coração havia
afrouxado um pouco o aperto. — Obrigada, Declan.
Ela ficou quieta por alguns minutos. — Seus pais tiveram um divórcio
complicado também? — Ela inclinou a cabeça.
Minha testa enrugou e Molly percebeu.
— Você disse que tem um relacionamento complicado com sua mãe, — ela
explicou. — Então eu pensei que talvez você tivesse uma situação semelhante à
minha.
Eu balancei minha cabeça. Era muito mais fácil falar sobre a luta de meu
pai com câncer do que sobre a doença de minha mãe, especialmente hoje em
dia. Além disso, eu finalmente aliviei um pouco o clima. Molly não precisava
mais que eu a derrubasse. Portanto, tentei minimizar o que havia dito antes. —
Nah, apenas algumas porcarias de família. — Eu fiquei de pé. — Por que você
não termina o seu vinho e relaxa um pouco? Vou preparar o jantar. Vou levar
dez minutos para fazer um novo lote.
Molly olhou por cima do meu ombro em direção à cozinha. — O que você
fez?
— Waffles belgas com sorvete. Percebi que parte do meu trabalho como
colega de quarto era ajudá-la a quebrar sua aversão a comidas matinais à
noite. E vou te dizer uma coisa – já que você teve uma noite difícil, esta refeição
é por minha conta. Você nem mesmo vai ter que lavar minha roupa ou pegar
minha tinturaria.
Ela balançou a cabeça, mas riu. — Obrigada.
Joguei os waffles frios e o sorvete derretido no lixo e preparei um novo
lote. Fiquei feliz que Molly se intrometeu e pareceu esquecer seu pai por um
tempo.
— Então, como vão as coisas com Julia? — ela perguntou enquanto
comíamos.
— Bem, eu acho. Jantamos depois do trabalho outra noite.
— Vocês tiveram um encontro?
— Na verdade não. Trabalhamos juntos e viajamos muito, por isso muitas
vezes compartilhamos as refeições. Mas desta vez parecia um pouco diferente.
— Tipo, como?
— Ela reclamou muito de Bryant, seu namorado. Eles estão juntos há
quase um ano, e ela nunca fez isso antes.
— Então ela quer que você saiba que há problemas no paraíso?
Dei de ombros. — Achei o momento interessante. De repente, ela me deixa
saber pela primeira vez que talvez as coisas não sejam tão boas em seu
relacionamento, logo depois que ela suspeita que algo pode estar acontecendo
entre mim e minha colega de quarto gostosa. — Logo depois de dizer isso,
percebi que chamar Molly de gostosa pode não ser apropriado. Eu gostava de
provocá-la, mas não queria incomodá-la. — Desculpe. Eu não deveria ter
chamado você assim. Quer dizer, obviamente você é linda, mas não quero que
pense que estou olhando para você quando você está andando pelo apartamento
ou algo assim. É apenas a maneira como eu falo.
A verdade é que verifiquei Molly quando ela não estava olhando. Seria
muito difícil não fazer isso. Mas ela não precisava saber disso.
Ela sorriu. — Está bem.
— De qualquer forma, o momento pode ser uma coincidência total. Mas
eu não acho que seja. E quanto a você? Como vão as coisas com você e o bom
doc? Alguma coisa nova nessa frente?
— Na verdade não.
— Bem, talvez nos ver juntos dê a ele o empurrão que precisa, como parece
ter dado à Julia.
Molly varreu o resto de seu waffle em torno do prato, mergulhando-o no
sorvete derretido. — Por que precisa ser um jogo assim? Se Will gosta de mim,
por que ele só agiria se acha que pode perder a oportunidade? O mesmo com
Julia. A coisa toda parece tão imatura. Para ser honesta, ainda não consigo
superar o que fiz na outra noite no bar. Tirando meu sutiã e fingindo derramar
água em mim mesma para chamar a atenção de um homem? Tenho vinte e sete
anos, não dezessete. Olhando para trás, mesmo que tenha cumprido o que eu
pretendia fazer, estou muito mortificada.
Eu balancei minha cabeça. — Acho que às vezes estamos todos tão
ocupados procurando o que está lá fora que perdemos algo incrível bem na nossa
frente. Importa se o ciúme ou o que quer que nos faça acordar, desde que o faça?
Ela encolheu os ombros. — Não sei. Eu acho. Talvez seja assim que a vida
é, mas parece bobo.
Lembrei que, embora Molly estivesse falando sobre Will, ela poderia estar
falando sobre o que aconteceu com sua mãe e seu pai. E não passou
despercebido que Will tinha a mesma ocupação que seu pai, e Molly e sua
madrasta eram enfermeiras. Eu não era psiquiatra, mas senti que poderia haver
alguma correlação profundamente enraizada.
Levantei para colocar meu prato na pia. — Quando será a próxima vez que
você trabalhará com o Dr. Hipermetropia?
Seu nariz torceu. — Hipermetropia?
— Em oposição à miopia. É como você chama alguém que pode ver de
longa distância, mas não de perto.
— Oh. — Ela sorriu. — Entendo. — Molly levou seu prato para a pia e
enxaguou-o. — Ele é o obstetra de plantão nesta sexta à noite. Portanto, se
alguém entrar em trabalho de parto, provavelmente o verei. É raro passarmos
uma noite sem o obstetra ter que vir para um parto.
— Por que eu não venho buscá-la para o almoço, então?
— Uh… porque eu trabalho das sete da noite às sete da manhã. Minha
hora do almoço é à meia-noite.
Dei de ombros. — Então?
— Não vou pedir que venha ao hospital a essa hora.
— Você não perguntou. Eu ofereci.
— Eu sei mas…
— É um encontro, Mollz.
Ela suspirou. — Ok, obrigada. Vamos ver se ele está lá.
Limpamos o resto da cozinha juntos em silêncio, e então Molly disse: —
Acho que vou ligar de volta para minha mãe. Se eu não fizer isso, ela vai se
preocupar a noite toda sobre como fiquei chateada quando
desliguei. Provavelmente também devo entrar em contato com minha irmã,
embora seja muito tarde em Londres agora. Talvez eu espere até de manhã para
ligar para ela.
— Parece uma boa ideia.
— A propósito, eu não como waffles belgas com sorvete desde que era
criança. Estava uma delícia. Obrigada por me preparar o café da manhã para o
jantar.
— Sem problemas. Vou ler no meu quarto para o trabalho. Mas se você
quiser falar depois de desligar com sua mãe, você sabe onde me encontrar.
— Obrigada.
Molly se serviu de outra taça de vinho e disse boa noite antes de seguir
pelo corredor para seu quarto. Ela se virou quando chegou à porta do quarto,
apenas para pegar meus olhos grudados em sua bunda. Eu pensei que ela ia
ficar chateada, mas em vez disso, ela sorriu.
— Acho que você não sofre de hipermetropia?
Meus lábios se curvaram em um sorriso. — Visão perfeita. Graças a Deus.
— Boa noite, Dec, obrigada por tudo. E não me refiro apenas a fazer o
jantar.
— A qualquer momento. Boa noite, Mollz.
CAPÍTULO 6
Molly
— Puta merda. Uma mulher que acabou de comer uma melancia vai ficar
grávida de novo cedo demais.
Daisy e eu estávamos sentadas no posto de enfermagem uma ao lado da
outra, mas eu não tinha ideia do que ela estava falando. Levantei os olhos da
tela do computador e tracei sua linha de visão.
Oh meu. Um homem desfilava pelo corredor carregando um enorme buquê
de flores. Ele vestia um terno de três peças bem ajustado com o nó da gravata
ligeiramente afrouxado e uma sombra barba salpicava sua mandíbula
esculpida. Não apenas qualquer mandíbula esculpida – a mandíbula
esculpida de Declan. Ao me ver, ele deu um sorriso de um milhão de dólares e
duas covinhas cavernosas.
— Na verdade... — Daisy sussurrou. — Acho que ele me engravidou.
Eu não tinha ideia de que ele estava vindo, já que ele deveria ligar
primeiro. Então, entre a surpresa de vê-lo e o quão incrível ele parecia, eu fiquei
incapaz de falar. Em vez disso, sentei e olhei até que ele caminhou até mim.
— Ei linda.
Os olhos de Daisy se arregalaram enquanto eu me levantava.
— Declan... o que você está fazendo aqui?
Ele ergueu uma sacola que eu nem tinha notado em sua mão. — Eu fiz o
jantar para você... ou acho que seria o seu almoço. — Ele estendeu as flores
para mim. — E trouxe isso para você.
— Elas são lindas. Mas... você não precisava fazer isso. Eu não sabia que
você estava vindo.
— Eu queria fazer uma surpresa para você. Você já fez uma pausa?
Eu balancei minha cabeça. — Não. Mas posso fazer, tipo, quinze
minutos. Eu só preciso terminar algumas coisas aqui.
Daisy, que eu esqueci que ainda estava sentada ao meu lado, levantou-se
e arrancou o prontuário do paciente de minhas mãos.
— Vou terminar para você.
— Oh, tudo bem. Obrigado, Daisy.
Os ouvidos de Declan se animaram ao ouvir o nome. — Daisy, hein? — ele
disse. — Eu sou Declan, o acompanhante de Molly para jantar esta noite.
— Prazer em conhecê-lo, Declan.
— Você também. Agradeço por cobrir minha garota para que eu possa
comer com ela. Eu trabalho de dia, e ela trabalha à noite, então sinto falta de ver
seu rosto.
Daisy parecia incapaz de parar de sorrir. — Isso é tão querido. Leve o
quanto quiser. Está muito quieto esta noite, então posso lidar com as coisas
sozinha.
Declan estendeu a mão para eu assumir o balcão e me levou para o seu
lado. — Mostre o caminho, linda.
Assim que estávamos fora do alcance da voz, ele se inclinou para mim. —
Então essa é Ivy 9 , hein? Ela não se compara a você. Se o Dr. Dickalicious
escolher isso em vez de você, ele não é apenas cego, ele é um idiota.
Por alguma razão estranha, meu coração estava disparado. Eu não tinha
certeza se era a visita surpresa, o ato que estávamos representando no trabalho,
ou o fato de que eu realmente meio que desmaiei quando Declan entrou no
caminho que ele fez. O homem tinha uma presença tão grande.
— É muito gentil da sua parte dizer isso, mesmo que você seja um
mentiroso, — eu disse. — Mas eu odeio dizer a você, parece que estamos tendo
uma daquelas noites raras em que nenhuma de nossas pacientes está em
9 Hera, outra flor.
trabalho de parto, então Will nem está aqui. Eu gostaria que você tivesse ligado
primeiro para que eu pudesse ter salvado a viagem.
Declan encolheu os ombros. — Tudo bem. Eu queria checar você, de
qualquer maneira. Hoje foi o primeiro dia de quimioterapia do seu pai,
certo? Você mencionou que ele ligaria para você depois. Achei que você gostaria
de falar sobre isso.
Eu levei Declan para a sala de descanso. Tecnicamente, deveria ser apenas
para funcionários, mas ninguém realmente se importava, especialmente no
turno da noite. Ele começou a preparar a comida, assim como fazia na cozinha
de casa. Tirando um Tupperware da sacola, ele colocou no micro-ondas e puxou
uma cadeira para eu sentar enquanto ele aquecia o que quer que tivesse trazido.
— Você conseguiu falar com ele? — ele perguntou.
— Consegui. Conversamos por quase meia hora, que honestamente é a
conversa mais longa que me lembro de termos tido em uma década. Discutimos
principalmente seu plano de tratamento e de quais médicos gostamos e não
gostamos. Era mais como um médico e uma enfermeira examinando os registros
médicos de um paciente do que um pai e uma filha conversando, mas acho que
é um começo.
Ele assentiu. — É bom que você tenha um terreno comum para facilitar
as coisas. — O micro-ondas apitou, ele removeu o prato e o colocou na minha
frente. — Nhoque caseiro com molho de creme.
— Uau. Caseiro? Tipo, você fez a massa também?
— Sim. Disse que sou o colega de quarto perfeito.
Peguei dois bolinhos de massa e os coloquei na boca. Se Declan não
estivesse lá para assistir minha reação, eu poderia ter deixado meus olhos
rolarem para a parte de trás da minha cabeça e gemido um pouco. Estava
muito bom.
— Isso é absolutamente delicioso.
Ele se sentou à minha frente e sorriu. — Bom. Coma.
Eu garfei mais macarrão. — Você quer compartilhar?
— Nah. Você come. Eu já comi. Mas me diga como você deixou as coisas
com seu pai. Você planejou visitá-lo pessoalmente?
Suspirei. — Ele me convidou para jantar.
— Isso é bom. Quando?
— Terça.
Declan coçou o queixo. — Eu tenho uma reunião, mas provavelmente
posso reagendar.
— Não, você não tem que fazer isso. Eu posso ir sozinha.
Ele pegou seu celular e começou a digitar. Quando ele terminou, ele o
jogou sobre a mesa. — Feito. Mandei um e-mail para o cara e perguntei se
podemos fazer isso na sexta-feira. Tenho certeza de que não será um problema.
Coloquei mais nhoque na boca. — Você é realmente um bom amigo,
Declan. — Mesmo que só nos conhecêssemos há algumas semanas, de alguma
forma eu sabia que podia contar com ele.
Poucos minutos depois, quase esvaziei o recipiente. Peguei mais alguns
nhoques e levantei o garfo a meio caminho dos meus lábios. — Eu quero comer
o resto, mas estou cheia.
— Tem certeza que está cheia? — Declan perguntou.
— Positivo.
— Bom. — Ele se inclinou sobre a mesa e fechou os lábios em torno do
garfo. — Porque eu menti. Eu não comi nada ainda. Trabalhei até muito tarde e
aqueles malditos bolinhos demoram um pouco para fazer. Saí correndo porque
não queria perder sua folga. — Ele mastigou e manteve o rosto na minha frente,
inclinando-se sobre a mesa. — Então me dê o resto disso, sim?
Eu ri, mas enfiei mais duas mordidas cheias de nhoque em sua
boca. Estávamos ambos tão ocupados com a comida e curtindo a companhia um
do outro que nenhum de nós ouviu alguém entrar na sala de descanso.
Não até a voz profunda de um homem interromper. — Ei, Molly...
Virei para encontrar Will Daniels segurando uma caneca de café. Seus
olhos se moveram para frente e para trás entre Declan e eu.
Eu limpei minha garganta. — Oi, Will.
Os olhos de Declan se arregalaram quando ele percebeu o que estava
acontecendo, um olhar presunçoso de “missão cumprida” escrito em seu rosto.
Will estendeu a mão para Declan. — Will Daniels.
— Declan Tate. Prazer em conhecê-lo.
— Você é amigo da Molly?
— Estamos namorando, na verdade, — Declan respondeu sem perder o
ritmo.
Will olhou para mim, compreensivelmente confuso. Tínhamos acabado de
tomar café na semana passada e mencionei meu colega de quarto, mas não que
eu estivesse namorando alguém. Eu não tinha mencionado o nome de Declan,
então ele não tinha como descobrir que meu novo “interesse amoroso” era o
mesmo cara de quem falei.
Sem saber o que dizer, gaguejei: — Uh, é... novo.
Will forçou um sorriso. — Acho que muita coisa pode mudar em uma
semana.
— Sim.
Ele se virou para Declan. — Tudo o que vocês esquentaram no micro-
ondas tem um cheiro incrível.
Declan sorriu. — Obrigada. Nhoque. Eu que fiz.
— Ah. Um chef. — Will caminhou até a cafeteira e encheu sua caneca pelo
que pareceram dez segundos estranhos. Ele colocou a tampa e disse: — Bem,
vou deixar vocês dois voltarem para o seu jantar.
Então ele se foi.
Depois que Will estava a salvo fora do alcance da voz, Declan falou
baixo. — Ok... você quer minha avaliação sobre Dickalicious?
— Sim.
Ele continuou a sussurrar. — Doc estava definitivamente com
ciúmes. Essa coisa toda foi estranha. Foi ótimo. Ele ficou claramente
desapontado e surpreso ao encontrar você comigo.
A esperança me encheu. — Você acha?
— Eu não acho, eu sei. Então isso era bom. Definitivamente, não é uma
viagem perdida.
— E agora? — Eu perguntei. — Quero dizer, isso poderia sair pela
culatra? Agora que ele pensa que estou comprometida?
— Eu não disse que estávamos namorando exclusivamente, apenas que
estávamos namorando. Acredite em mim, da próxima vez que ele ficar sozinho
com você, ele vai perguntar sobre mim. Essa será sua oportunidade de deixá-lo
saber que não somos tão sérios. Estarei presente o suficiente para fazê-lo
perceber que precisa se apressar, ou perderá a oportunidade.
Soprando em meu cabelo, eu disse: — Bem, isso é muito mais simples do
que expor meus mamilos. E eu nem mesmo preciso estar com nojo de mim
mesma.
— Vai ser divertido, Mollz. — Declan recolocou a tampa do recipiente de
nhoque. — Falando da diversão que estamos tendo, eu esperava que talvez você
não se importasse de estar em casa na próxima quarta-feira à noite. É uma noite
de folga para você, certo? Eu estava pensando em pedir à Julia para vir para um
brainstorm sobre a campanha em nossa casa. Pode ser uma boa oportunidade
para você e eu... flertarmos.
Eu não poderia dizer exatamente não; ele me ajudou muito esta noite.
— Oh sim. Claro. Eu posso fazer isso. É justo. Você acabou de me fazer
um grande favor.
Ele sorriu largamente. — Legal.
Ele parecia especialmente bonito no terno esta noite.
Declan ficou até meu intervalo acabar, e então voltei ao trabalho.
Mais tarde naquela noite, com certeza, Will me pegou no posto de
enfermagem.
Ele mexeu em algumas pastas e disse: — Declan, sim? Ele parecia legal.
Meu coração disparou. — Sim. Ele é. Como eu disse... é novo. Nada sério
nem nada.
— Ele parece muito sério, no entanto, se ele está trazendo comida para
você à meia-noite...
— Eu achei legal da parte dele, sim. Mas não é exclusivo.
Ele colocou uma pasta de volta em seu devido lugar, então se virou para
mim e disse: — É bom saber —. Ele piscou antes de voltar para o corredor.
Isso me emocionou, mas ao mesmo tempo, eu tinha que me perguntar por
que diabos ele estava demorando tanto para me convidar para sair. Ele poderia
facilmente ter feito isso agora.
Poucos minutos depois, Daisy apareceu. — Puta merda, Molly. Fale sobre
seu novo cara.
Contei a ela a mesma história que acabei de contar a Will – que era nova
e que o veredicto ainda estava fora.
— Bem, se não der certo, mande-o na minha direção, porque um homem
que se parece com isso e traz comida e flores para você é ouro.
Tive vontade de dizer, sim, homens assim não existem.
Mas então, e quanto a Declan era realmente falso? Ele tem a aparência
que tem e é um cozinheiro incrível. Embora o jantar desta noite possa ter sido
para um show, os waffles belgas que ele fez para mim na outra noite não foram. E
nem o foi a oferta dele de me acompanhar para visitar meu pai, ou o fato de que
ele era um ouvinte muito bom.
Minhas vistas estavam voltadas para Will, mas por alguma razão,
conforme a noite avançava, era em Declan que eu não conseguia parar de
pensar.
CAPÍTULO 7
Molly
Declan
Declan: Então você fechou os olhos com cola? O olhar caolho é tão
sexy, Mollz. Verdadeiramente.
Declan: Você está bem? Você precisa de mim para lhe dar um colírio
ou algo assim?
Molly: Não, vou ficar bem. Só preciso de alguns minutos para que a
dor diminua para que eu possa tentar colar novamente.
Declan: Esqueça os cílios. Você não precisa deles. Seus olhos são
bonitos, sem nenhuma maquiagem.
Molly: Isso é fofo. Mas não tenho escolha neste momento. Eu tenho
um colado e não consigo tirá-lo! Sairei em breve.
Eu ri enquanto digitava.
Não achei que ela entenderia meu humor, mas ela respondeu
imediatamente.
Dez minutos depois, Molly finalmente saiu de seu quarto. Decidi tomar
uma taça de vinho com Julia e estava bebendo quando avistei minha colega de
quarto. Infelizmente, eu não estava preparado para como ela seria. Engoli do
jeito errado e comecei a tossir e, inadvertidamente, borrifei vinho em Julia.
— Merda. Sinto muito. — Peguei o guardanapo debaixo do meu copo e
comecei a limpar a bagunça que fiz em seu rosto.
Suave, Declan... realmente bom esta noite.
Molly caminhou até onde Julia e eu estávamos sentados no chão ao lado
da mesa de centro. Ela parecia quente demais em um minivestido preto curto e
saltos altos de tiras prateadas que envolviam seus tornozelos. Seu cabelo estava
espalhado em uma massa de ondas suaves, e ela estava com muito mais
maquiagem do que normalmente usava, incluindo cílios super longos, grossos e
escuros. Droga, essas coisas valiam um pouco de cola no olho. Eles realmente
fizeram a cor azul clara de seus olhos se destacar.
— Ei, Moll. — Limpei a garganta e tentei parecer indiferente, como se ela
andasse pelo apartamento assim todos os dias. Eu levantei minha taça de
vinho. — Espero que não se importe, bebemos um pouco do seu vinho. Vou
substituir a garrafa para você amanhã.
Molly bateu os cílios e sorriu. Seus lábios estavam pintados de vermelho
brilhante e cobertos por uma espessa camada de brilho. Eu não sabia para onde
olhar primeiro – seus olhos sedutores, lábios carnudos e brilhantes, ou a milha
de pernas em exibição.
— Sem problemas, — ela disse. — Eu não me importo nem um
pouco. Além disso, estou de folga amanhã à noite, então talvez possamos
compartilhar a garrafa de reposição. — Ela segurou meus olhos por alguns
segundos extras e então fingiu ter acabado de notar Julia.
— Oh, oi... Jessica.
Julia franziu os lábios. — É Julia.
Molly enrolou o cabelo. — Desculpe. Certo. Julia... — Ela voltou sua
atenção para mim. — Você está quase terminando o trabalho, Dec?
— Quase, — eu disse. — Por quê? Estamos incomodando você?
— Não, de jeito nenhum. — Ela ergueu a mão e esfregou a nuca. — Mas
aquele nó está de volta, e eu esperava que você pudesse colocar seus dedos
mágicos nele novamente – como você fez na outra noite.
— Uh, sim. Claro... sem problemas.
Molly olhou para Julia e praticamente murmurou: — Ele tem as mãos mais
fortes.
Julia sorriu, mas eu sabia, por observá-la com clientes difíceis, que não
era seu sorriso verdadeiro. Este era mais plástico e forçado. O músculo em sua
mandíbula se contraiu. Observei enquanto seus olhos percorriam o corpo de
Molly de cima a baixo pela segunda vez. Com toda a honestidade, eu não poderia
culpá-la... Mollz parecia incrível pra caralho.
— Você teria um encontro esta noite? — Julia perguntou. — Você está tão
bem vestida.
Molly riu e dispensou o comentário de Julia. — Não, eu apenas coloquei
isso porque era a única coisa limpa.
Julia franziu a testa. — Uh-huh.
— Tudo bem, bem, vou deixar vocês dois voltarem ao trabalho. Só vou
tomar uma taça de vinho para relaxar um pouco antes de você me ajudar com a
massagem. Entre no meu quarto quando terminar, Dec. — Molly piscou, e um
de seus olhos ficou preso fechado.
Quase perdi o controle quando ela virou a cabeça para tentar escondê-lo e
teve que usar os dedos para abri-lo. Eu acho que ela não tinha resolvido a
situação da cola, afinal.
Assim que Molly voltou para o quarto, Julia bebeu o resto do vinho de um
só gole. Suas bochechas estavam um pouco coradas. — Ela poderia ser mais
óbvia?
Eu fingi não ter ideia do que ela quis dizer, mas uma pessoa teria que ser
cega e surda para ter perdido o flerte exagerado de Molly. — O que você quer
dizer?
Julia bufou e riu. — Aquele vestido, o rosto cheio de maquiagem – sem
falar que ela estava piscando para você quando falava sobre a massagem. Ela
nem mesmo está com o pescoço dolorido, Declan.
Piscando? Não exatamente. Mas perto! Ela pensou que o globo ocular
colado de Molly era um incentivo.
Eu limpei minha garganta. — O que você quer dizer com ela não tem dor
no pescoço?
Julia revirou os olhos. — Ela está a fim de você e quer suas mãos sobre
ela.
— Oh, bem... Isso é uma coisa ruim? Quer dizer, nós dois somos
solteiros...
— Seria definitivamente um erro, Declan.
Minhas sobrancelhas franziram. Por alguma razão inexplicável, me senti
na defensiva. — Por que seria? Molly é muito legal.
— Bem, para começar, ela é sua colega de quarto.
— Isso parece que iria para o lado positivo da análise de prós e contras.
— Dei de ombros. — Conveniência.
O rosto de Julia ficou vermelho. — Olha, eu só não acho uma boa ideia
você se meter em algo do qual você pode não ser capaz de voltar. Sei por
experiência própria que, uma vez que você segue esse caminho, é difícil voltar a
tempos mais simples. Considere Bryant e eu, por exemplo. Começamos um
relacionamento exclusivo imediatamente. Na época, não pensei que talvez não
fosse uma boa ideia, já que viajo muito a trabalho. Recentemente, estamos tendo
algumas dificuldades, então sugeri que recuássemos um pouco – mantivéssemos
nosso relacionamento mais casual.
— Acho que a conversa não foi muito bem, já que você está usando sua
própria situação para me avisar de qualquer coisa que esteja acontecendo entre
mim e minha colega de quarto.
Ela balançou a cabeça. — Não, não aconteceu. Bryant não gosta da ideia
de um relacionamento não exclusivo porque é difícil voltar atrás depois que você
avança. É por isso que acho que você pode querer pensar seriamente em
qualquer coisa que esteja acontecendo com sua colega de quarto. Depois de
chegar lá, provavelmente será difícil retroceder.
Ela disse um monte de palavras, mas a única parte que ouvi foi não
exclusiva.
— Então, em que pé estão as coisas com você e Bryant agora, se você não
quer a mesma coisa?
Julia suspirou. — Ele me disse para pensar sobre o que eu realmente
quero – basicamente um ultimato. Ou estou com ele e só ele, ou não estou com
ele.
Eu concordei. — Uau. OK. Parece que você tem uma grande decisão a
tomar.
Ela me surpreendeu estendendo a mão para tocar a minha. Eu olhei para
cima e nossos olhos se encontraram. — Sim. Eu me importo com você,
Declan. Portanto, talvez devêssemos levar algum tempo para pensar sobre o que
realmente queremos, em vez de tomar decisões precipitadas.
Bem, bem, bem. Meus olhos caíram para seus lábios, então levantaram
para encontrar seus olhos novamente. — Sim. Parece uma boa ideia.
Meia hora depois, Julia me deu um abraço de despedida – algo que
raramente fazíamos. Quando fechei a porta atrás dela, provavelmente deveria ter
ficado exultante com a forma como as coisas tinham acontecido esta noite, mas
em vez disso, senti uma agitação estranha na boca do estômago.
Molly deve ter ouvido a porta da frente, porque ela saiu de seu quarto um
minuto depois.
— Como foi?
Ela ainda estava com aquele vestidinho preto, e não pude deixar de notar
como Molly era muito mais bem formada do que Julia. O tipo de corpo de Julia
era mais magro, enquanto Molly tinha curvas femininas. E esta noite, com
aquele vestido, era impossível não notar como eram perigosas aquelas curvas.
Forcei meus olhos a encontrar os dela, embora não fosse uma tarefa fácil.
— Foi bem. Ela falou que sugeriu ao namorado que quer ter um
relacionamento aberto.
— Oh uau! Como nosso relacionamento falso!
Eu ri. — Aparentemente, Bryant deu a ela um ultimato. É exclusivo ou
nada. Então ela está pensando em como proceder.
— Bem, se ela está mesmo considerando que ela quer ver outros homens,
claramente o cara atual não é o cara.
— Sim.
— Então, nosso plano diabólico parece ter funcionado.
— Graças a você. Não consigo imaginar nenhuma mulher que não tivesse
ciúme da sua aparência esta noite. Você deu tudo de si.
Molly corou. — Você está indo dormir?
— Nah, ainda não. Eu não estou cansado.
— Você gostaria de dar um passeio e tomar um pouco de sorvete? Eu tenho
um desejo enorme por morango agora. Há um lugar a dois quarteirões de
distância que eu adoro.
— Certo. Isso soa bem.
— OK! Vou vestir um jeans bem rápido e já volto.
Fiquei um pouco desapontado por ela tirar o vestido sexy, mas fazia
sentido. Além disso, não era fácil manter meus olhos longe dela naquele traje, e
eu não queria ser pego olhando.
Ela voltou vestindo uma calça jeans com detalhes rasgados e uma
camiseta, mas honestamente, ela estava tão bonita quanto antes. Eu não percebi
que estava olhando até que ela me chamou a atenção.
— O quê? — Ela limpou a bochecha. — Meus cílios caíram de novo?
Eu ri. — Não. Eu só estava olhando para você. Você geralmente não usa
tanta maquiagem.
Ela apontou para seu olho. — Sim, agora você sabe por quê. Não sou
exatamente um mago com esse tipo de coisa. Colar meus olhos não foi a primeira
complicação que tive com cosméticos.
— Você não precisa de toda essa porcaria de qualquer maneira.
Ela arqueou uma sobrancelha. — Mesmo? Então você está dizendo que
não me notou um pouco mais com todo o trabalho que fiz esta noite?
— Claro que sim. Eu sou um homem, e você tornou difícil não notar. Mas
o brilho só chama a atenção de uma pessoa. Não o mantém.
Molly sorriu e deu de ombros comigo. — Eu tornei isso difícil, não é?
Abri a porta da frente e estendi minha mão para ela passar
primeiro. Droga... sua bunda fica fantástica com aqueles jeans
também. Balançando minha cabeça, eu soltei uma respiração profunda.
Minha companheira de quarto ia definitivamente tornar as
coisas difíceis para mim.
***
10 Bull shit – besteira.
— Oh, você quer dizer que você não podia vê-la de costas?
— Não. Eu podia vê-la muito bem. Mas como diabos eu deveria me
concentrar com uma sala cheia de mulheres curvadas usando aquelas calças
justas de ioga?
Minha irmã riu. — Eu deveria saber o que você quis dizer, seu cão de
chifre.
— Cão de chifre? Não é um palavrão que você não deveria usar?
— Não sei. Vou ter que verificar meu manual de freira.
Eu ri. Eu realmente sentia falta de Catherine. Ela pode ser uma freira, mas
ela era engraçada pra caralho e tinha o melhor senso de humor de todas as
minhas irmãs. — Então, o que mais está acontecendo aí na terra do sol? Você
foi ver mamãe e papai recentemente?
O tom de sua voz mudou. — Sim, eu os vi semana passada.
— Não foi bom?
Ela suspirou. — O de sempre.
Eu sabia o que isso significava, então não pressionei. Nos quinze minutos
seguintes, conversamos um pouco sobre o clima em Chicago, ela me contou
sobre uma aula de costura de retalhos que estava dando e eu contei a ela um
pouco sobre minha nova colega de quarto e como as coisas estavam indo no
trabalho.
— Então como você tem estado? — ela finalmente perguntou. — Os
medicamentos ainda estão funcionando?
— Estou bem, Cat.
— Você já conversou com o Dr. Spellman?
— Não, porque não devo falar com ele, a menos que seja necessário.
— Mas você tem certeza de que está se sentindo bem?
Eu estava esperando por essas perguntas. Minha irmã tinha boas
intenções, mas ela se preocupava demais.
— Eu mentiria para uma freira?
Ela deu uma risadinha. — Você absolutamente faria. Mas isso não vem ao
caso. Sério, Declan. Estou preocupada com você. Seis meses é muito tempo para
ficar longe do médico.
Não mencionei que o Dr. Spellman expressou a mesma preocupação e me
deu alguns números de pessoas locais que eu podia ver aqui em Chicago. —
Ouça, se alguma coisa mudar, eu prometo que você será a primeira a saber. OK?
— Você promete?
— Você não pode me ver agora, mas estou cruzando meu coração.
Ela suspirou. — OK. Mas me faça um favor e mantenha mais contato.
— Sim, senhora.
— Amo você.
— Também te amo, irmã-irmã.
Depois que desliguei, pensei no que havia dito a ela. Eu não estava
mentindo quando disse que me sentia muito bem ultimamente. Vir para Chicago
acabou sendo bom para mim em muitos níveis. O trabalho me deu muita
visibilidade com os superiores e me aproximou da promoção que eu estava
buscando. Além disso, as coisas com Molly estavam indo muito bem.
Julia.
Eu quis dizer Julia.
As coisas com Julia estavam indo muito bem.
Não estavam?
CAPÍTULO 9
Molly
Declan: Isso é ótimo. Estou feliz que você conseguiu o que queria. Boa
noite, Molly.
Foi definitivamente estranho para ele interromper uma troca de texto como
essa. Por uma fração de segundo, eu me perguntei se talvez algo sobre aquele
anúncio o tenha chateado. Mas isso era ridículo, certo? Deus, era o maldito meio
da noite, e ele estava trabalhando até tarde. Ele provavelmente estava
cansado. Deve ter sido por isso que ele disse boa noite tão repentinamente.
***
Scooter,
Amor,
Suas irmãs, Samantha, Meagan, Catherine e Jane
Molly: Por que você não me disse que era seu aniversário?
Declan: Como você descobriu?
***
Declan
***
Molly estava se preparando para seu encontro com o Dr. Pequeno Willy
quando voltei para o apartamento. Minha reação na outra noite, quando ela me
disse que ele a convidou para sair, foi uma surpresa. Definitivamente havia uma
vibração entre nós desde a noite em que ela se vestiu com aquela roupa quente
pra caralho para deixar Julia com ciúmes. Mas não acho que percebi que a
mudança tinha a ver com meus sentimentos por ela até aquela mensagem.
Mas não importava se o encontro dela me deixasse com ciúmes. Nada
poderia acontecer entre Molly e eu. Ela estava conseguindo o que queria com
Will e, em breve, estaríamos morando em costas diferentes.
Eu fiquei na porta enquanto Molly aplicava sua maquiagem. Mais uma vez
ela tinha aqueles cílios longos. O vestido vermelho que ela usava esta noite era
ainda mais sexy do que o preto que ela usou da última vez.
— Will vai pirar quando ver você.
Ela deu um pulo. — Você me assustou.
— Desculpe. — Eu dei alguns passos em seu quarto.
— Não pensei que você chegaria tão cedo, — disse ela.
— Bem, nossa reunião terminou mais cedo, então Julia e eu pulamos fora
do trabalho. Vou buscá-la mais tarde para bebermos.
Ela franziu os lábios enquanto passava batom. — Deus, o namorado dela
não pode estar muito feliz por ela passar tanto tempo com você.
— Bem, engraçado você dizer isso...
Ela fechou o tubo do batom e se virou. — O quê?
— Ela terminou com ele.
Os olhos de Molly se arregalaram. — Ela fez?
— Sim.
Ela fez uma pausa. — Puta merda.
— Eu sei, certo? É estranho que você e eu tenhamos o que queríamos
quase ao mesmo tempo.
Os olhos de Molly se arregalaram. — Sim, quero dizer... Jesus. Quais são
as chances, certo? — Ela soltou um suspiro. — Você deve estar feliz.
Eu deitei em sua cama e coloquei minhas mãos atrás da cabeça enquanto
olhava para o teto. — Não sei. É meio estranho.
— Como assim?
— Eu a queria há tanto tempo, e agora que o maior obstáculo está fora do
caminho... é meio que... não parece do jeito que eu pensei que seria.
— Eu entendi o que você quis dizer. A mesma coisa aconteceu quando Will
me convidou para sair. Não foi tão culminante quanto poderia imaginar.
Eu me virei para olhar para ela, e meu olhar viajou até os sapatos sensuais
que ela usava. Limpando a garganta, eu disse: — De qualquer forma... está tudo
bem, certo?
Nossos olhos se encontraram por alguns segundos.
— Sim. — Ela sorriu. — Tudo bem.
Eu mudei de assunto. — Como está seu pai?
Sua expressão escureceu quando ela se sentou na beira da cama. — Falei
com ele hoje. Ele não parecia muito bem, para ser honesta. Sua voz estava muito
rouca. Estou ficando com medo.
Merda. — Tente pensar positivo. Eu sei que é difícil, mas uma visão
otimista é melhor para todos. Seu pai se sentirá muito melhor se não achar que
você está chateada com ele.
— Eu sei. É tão difícil. — Lágrimas começaram a se formar em seus
olhos. — Perdê-lo é uma possibilidade real. E eu não acho que tenha entendido
isso totalmente.
Isso foi minha culpa; eu trouxe o assunto à tona.
Sentando-me, cheguei mais perto, enxugando as lágrimas de seus olhos
com o polegar. — Sinto muito, Mollz. Eu gostaria de poder fazer algo. Eu tiraria
sua dor se pudesse.
— Obrigada. — Ela enxugou os olhos. — Comecei a ver uma terapeuta.
— Mesmo? Você não me disse que estava pensando nisso. Bom para você.
— Bem, estranhamente, foi o conhecimento de que meu pai estava fazendo
terapia que me deu coragem para fazê-lo.
— Estou orgulhoso de você. Quando você começou?
— Só esta semana. Eu disse a ela o que o terapeuta de papai disse sobre
minha necessidade de perfeição. Ela concordou que o fato de que esses
comportamentos começaram depois que meu pai saiu pode significar que há
uma correlação. Ela quer que eu pratique o abandono gradual de alguns desses
hábitos como uma forma de aceitar que não há controle real na vida. Ela diz que
isso também me ajudará a aceitar a doença dele.
— Tipo, o que ela está pedindo que você faça?
— Essa é a coisa – ela não sugeriu nada específico. Tenho que identificar
onde estou controlando ou buscando a perfeição e criar meus próprios
exercícios. — Ela inclinou a cabeça. — Você tem alguma ideia?
— Tenho certeza de que posso inventar algo. — Fui com meu primeiro
instinto, levantando-me da cama e abrindo sua primeira gaveta.
— O que você está fazendo?
— Ajudando você.
Sem olhar para o conteúdo, peguei as roupas dentro e as joguei no
ar. Infelizmente, algo que não era roupa caiu no chão com o resto das coisas – a
porra de um vibrador.
Eu o levantei do chão. — Ah, merda. Sinto muito. Eu nunca...
Ela estendeu sua mão. — Dê-me isso, por favor.
— Eu obviamente não...
— Eu sei que você não sabia. Apenas dê para mim.
Esfregando minhas mãos, eu anunciei: — Acho que foi o suficiente de um
exercício para esta semana.
— Sim. Eu teria que concordar. — Ela ficou rosa. — Este vale por um
mês!
Eu me perguntei se eu seria capaz de pensar em qualquer outra coisa esta
noite além de Molly massageando seu clitóris com aquele pau de borracha.
CAPÍTULO 11
Molly
***
Nos próximos dias, eu não cruzei muito com Declan. Ele estava passando
mais tempo fora – provavelmente com Julia. Devido a uma mudança de horário,
eu trabalhei nos últimos dois dias, mas tinha sexta-feira de folga.
Acordei e encontrei uma nota:
TGIF11 ! Feliz dia de folga, colega de quarto. Fiz este macarrão ontem à
noite, mas acabei saindo para jantar no último minuto. Coma no almoço “sem
penalidade” por minha conta. ;-)
XO Declan
Por alguma razão, esta simples nota fez meu peito apertar. Foi a semana
mais longa e eu senti falta dele. Foi muito fodido.
No fundo, sabia que era bom ter esses períodos de tempo em que eu não o
visse, porque teria que me acostumar de qualquer maneira assim que ele fosse
embora. É uma merda.
***
11 Thanks God It’s Friday!. Graças a Deus é sexta-feira!
estivemos em um encontro recentemente. Ele não sugeriu sairmos de novo. E
esta noite, enquanto ele roubava alguns olhares de flerte para mim, ele não veio
nem mesmo me beijar na bochecha. Claramente ele estava mantendo suas
opções em aberto.
Eu não tinha certeza se aceitaria se ele me chamasse para sair
novamente. Sexo casual com Will Daniels não seria a pior coisa do mundo, mas
eu não queria perder tempo com alguém que já havia descartado a possibilidade
de um relacionamento. Então, se ele me pedisse para sair novamente, eu teria
que ver como me sentia.
Meu telefone vibrou.
Molly: Bem, ele está aqui, mas não estamos realmente juntos. É um
monte de gente.
Molly: Eu sei que você está saindo com Julia agora, então não se
preocupe se você não se sentir confortável com nosso acordo anterior.
Declan: Julia não é minha namorada. Ela não está pronta para
isso. Estamos apenas nos divertindo agora.
Meu coração trovejou no meu peito enquanto esperava por sua resposta.
***
Declan
12 Cara de pau.
— Na verdade sim. — Eu olhei para Molly. — Provavelmente vou
envergonhá-la se contar a história, não é, Mollz?
Os olhos de Molly brilharam ainda mais arregalados. — Talvez você não
deva dizer isso, Declan.
Eu não pude resistir. — Eu estava na L a caminho de casa uma
noite. Molly aqui estava sentada na minha frente lendo um livro. Eu não
conseguia tirar meus olhos dela. Os cantos de seus lábios continuavam se
contraindo enquanto ela lia, como se ela realmente quisesse sorrir. Como um
idiota, eu a deixei sair do trem sem tentar falar com ela. Mas naquela noite, eu
não conseguia parar de pensar nela. Então, no dia seguinte, peguei o trem na
mesma hora, na esperança de topar com ela novamente. Ela não estava – e nem
no dia seguinte ou no próximo, também. Então, uma noite, uma semana depois,
eu estava caminhando para o meu trem em um horário totalmente diferente. No
caminho, passei por uma livraria e o livro que ela estava lendo estava na vitrine,
então entrei para pegá-lo. O balconista me disse que o segundo livro da série
tinha acabado de sair, então peguei uma cópia dele também. Quando peguei
meu trem, vinte minutos depois, lá estava ela. — Eu olhei para Molly com
adoração. — Sentei-me ao lado dela, dei-lhe o livro dois e a convidei para sair
para beber.
Emma tinha corações sonhadores em seus olhos. — É a coisa mais
romântica que já ouvi.
Eu pisquei para Molly. — Estou feliz por ela não ter pensado que eu era
um perseguidor.
Tive que tomar um gole de minha bebida para não desmoronar ao ver a
expressão no rosto do Dr. Dick. Eu já tinha ouvido o termo verde de
inveja antes, mas nunca tinha visto isso em outro ser humano. Sua pele parecia
um pouco amarelada.
Um cara se aproximou. — Ei, Will. Você tem um minuto? Mark e eu
estamos pensando em fazer um trabalho voluntário temporário no Médicos Sem
Fronteiras. Queríamos saber sua opinião sobre qual área devemos ir, já que você
se apresentou como voluntário algumas vezes antes.
— Sim, claro.
Eu estava me sentindo muito orgulhoso de mim mesmo nos últimos
minutos, mas ouvir que o Dr. Dick ofereceu seu tempo tirou um pouco do vento
da minha vela. O mais perto que cheguei de ajudar a salvar vidas foi quando
gritei “Cuidado” quando uma bola de beisebol estava voando em direção à cabeça
da minha irmã. Como diabos eu poderia competir com essa merda? Melhor
ainda, por que eu estava me sentindo obrigado? Talvez eu estivesse me
envolvendo um pouco demais no personagem.
Depois que Will foi embora, Emma pediu licença para ir ao banheiro
feminino, o que deu a Molly e a mim algum tempo a sós.
— Você me viu no trem e se apaixonou perdidamente? — Ela deu uma
risadinha. — Você poderia tornar mais denso, Romeu?
Dei de ombros. — Ei. Sou um romântico indefeso. Você é uma garota de
muita sorte.
Molly suspirou. — Não tivemos a chance de recuperar o atraso
ultimamente, mas as coisas com Will não foram exatamente como eu esperava
em nosso encontro.
— O que aconteceu?
— Bem, é minha própria culpa, realmente. Eu enfatizei como você e eu
éramos em um relacionamento sem compromisso, então Will interpretou isso
como se eu fosse casual.
Meu coração acelerou. — Você quer dizer que ele quer ser companheiro de
foda?
Ela encolheu os ombros. — Ele não disse isso à queima-roupa. Mas ele me
disse que nunca me convidou para sair antes porque não achava que eu era o
tipo de mulher que tinha um relacionamento casual. Basicamente, ele decidiu
me convidar para sair assim que descobriu que eu estava aberta a esse tipo de
coisa. Mas o problema é que, na verdade, não sou uma namoradora casual. A
ideia de estar com alguém que também pode estar dormindo com outras
mulheres, especialmente Will, não me atrai em nada. Não me entenda mal, não
preciso de um homem para propor casamento nem nada, mas uma vez que tenho
sentimentos por alguém, sempre fui monogâmica.
Minhas palmas estavam suadas. — Então vocês dois...
— Não, nós não fizemos sexo no nosso primeiro encontro.
Eu senti uma onda gigante de alívio. — Sinto muito, Moll. O que você vai
fazer? Você vai dizer a ele como se sente?
— Não tenho certeza se vou precisar dizer alguma coisa, já que ele não me
convidou para sair pela segunda vez. Não acho que ele esteja interessado em
namorar casualmente comigo, muito menos em qualquer coisa mais.
Ela estava cega? Balancei minha cabeça. — Oh, ele está interessado,
certo. O cara praticamente tinha fumaça saindo do nariz quando me viu parado
ao seu lado.
— Eu não sei sobre isso...
— Confie em mim, Moll. Eu sei.
Molly mordeu o lábio. — Eu acho que apenas o tempo dirá.
Sim, mas aposto meu último centavo que viria mais cedo ou mais
tarde. Não havia como aquele cara não tentar prendê-la. Ele se sentiu ameaçado.
Engoli o resto da minha bebida em um gole, sentindo que precisava de
mais um pouco para me acalmar. — Você quer outra taça de vinho?
— Costumo me limitar a duas quando saio. Mas já que você está aqui
comigo, e não vou voltar para casa no escuro sozinha, com certeza. Por que não?
Depois que nos dei outra rodada, Emma voltou do banheiro
feminino. Molly me apresentou a mais algumas amigas dela, e demos algumas
risadas. Mas, ao longo da noite, peguei o Dr. Dick com os olhos em Molly, pelo
menos, uma dúzia de vezes. A certa altura, ele estava conversando com sua
colega de trabalho, Daisy. A mulher estava flertando descaradamente com ele,
fazendo o máximo de contato corporal que podia e jogando seu cabelo loiro ao
redor. Molly olhou e viu também, e meu coração apertou com a decepção em seu
rosto. Então eu coloquei meu braço em volta do ombro dela e a puxei para
perto. Aparentemente, o Sr. Casual não gostou muito disso, porque em poucos
minutos ele estava novamente ao nosso lado.
— Vou sair, — disse ele. — Você tem um minuto, Molly?
Eu tive que dar crédito a ele; o cara teve coragem de chegar e pedir a ela
para falar em particular quando eu estava com o braço em volta do ombro dela.
Molly olhou para mim. Eu tive o desejo mais forte de apertá-la mais perto
e dizer ao idiota para cair fora, mas em vez disso, deixei que ela decidisse como
lidar com as coisas.
— Humm... claro. Com licença um minuto, sim, Declan?
Meu coração afundou. — Sim, claro. — Relutante, eu a soltei.
Os dois passaram cerca de quinze minutos conversando sozinhos no
canto. Durante esse tempo, tomei mais dois drinques. Mesmo tendo conversado
com alguns de seus colegas de trabalho, meus olhos nunca se afastaram muito
de Molly.
Quando ela voltou, ela tinha um sorriso no rosto. Meu sorriso murchou.
— Então essa foi uma reviravolta interessante nos eventos... — ela disse.
— O que aconteceu?
— Will admitiu que estava com ciúmes de nos ver juntos. Ele me pediu
para jantar amanhã à noite para conversarmos.
Que idiota.
Sim, o plano era usar o ciúme para fazer nossas paixões perceberem que
poderiam perder a chance. Mas algo sobre esse cara me fez pensar que era
menos sobre perder sua chance com Molly e mais sobre ganhar uma
competição. Mas Molly parecia feliz, então eu não queria irritar seu desfile.
— Isso é ótimo. — Olhei em volta e não vi o Dr. Dick. — Ele se foi?
— Sim. Ele começa cedo amanhã, então ele foi embora.
— Você não tem que trabalhar amanhã, certo?
— Não. Estou de folga por três dias gloriosos.
Eu já tinha bebido uma boa quantidade, mas de repente tive o desejo de
ficar com a cara de merda. — O que você acha de termos uma chance de
comemoração?
— Nossa... eu sou meio leve.
Eu pisquei. — Tudo bem. Eu sou forte. Eu posso carregar sua bunda.
***
Molly
Fui encontrar a Julia para o brunch. Não queria acordá-la, mas a cafeteira
está configurada. Basta apertar start. Achei que você precisaria disso. Nós dois
bebemos muito ontem à noite. Caso você não se lembre, quase estrelamos um
episódio de Chicago Fire, e você criou uma nova palavra: rattoo.
XO Declan
Respirando fundo, ponderei como lidar com isso. Eu não queria mentir
para ela. Emma era minha melhor amiga no trabalho. E eu confiava nela. Já era
ruim o suficiente eu não ter sido honesta com Will.
Depois de servir o café, pensei mais um pouco e decidi pedir à Emma para
almoçar comigo para que eu pudesse explicar tudo da maneira
adequada. Também seria bom ter alguém com quem desabafar sobre toda essa
situação.
Uma hora depois, Emma e eu nos encontramos no meio do caminho entre
o meu apartamento e o dela.
Depois que a garçonete trouxe nossa comida, Emma não perdeu tempo
tentando me fazer falar.
— Ok, então me diga tudo. Qual é o problema com aquele Declan
gostoso? Você está dormindo com ele?
Brincando com uma das minhas batatas fritas, eu balancei minha
cabeça. — A história é meio maluca. Mas você tem que prometer que não dirá
uma única palavra sobre isso a ninguém.
Os olhos de Emma se estreitaram. — Agora estou realmente
intrigada. Mas é claro. — Ela se inclinou. — O que diabos está acontecendo?
Durante os próximos minutos, eu contei a ela toda a história de como
Declan veio morar comigo e o acordo que havíamos feito.
Ela balançou a cabeça em descrença enquanto colocava açúcar em seu
chá gelado. — Então deixe-me ver se entendi. Você e ele tinham esse acordo, e
agora você realmente não sabe quem está tentando deixar com ciúme – Declan
ou Will? Você se apaixonou pelo seu namorado falso?
Dando uma grande mordida no meu hambúrguer, falei com a boca
cheia. — Eu não queria que as coisas ficassem complicadas. Minha atração por
Declan tem crescido gradualmente. E ele certamente não tem ideia de como eu
me sinto. Foi só quando ele começou a sair com Julia que eu percebi a extensão
dos meus sentimentos. — Eu encarei. — Nós nos damos muito bem. Ele é um
amigo muito bom. Mas na noite passada – antes de sermos interrompidos pelo
fogo – tenho certeza de que algo estava para acontecer.
Ela acenou com a cabeça. — Então você está lidando com sentimentos por
dois homens diferentes. Você vai sair com o Dr. Dandy esta noite, no
entanto. Talvez isso direcione as coisas para o seu canto.
— Teremos que ver o que acontece. — Suspirei. — Como eu disse, Declan
vai embora em alguns meses de qualquer maneira. Portanto, esta é uma situação
temporária.
— Então você tem sua resposta. Apenas se concentre em
Will. Obviamente, ele admitir que estava com ciúmes na noite passada significa
que você tem uma chance maior do que pensava.
— Sim, mas e se for apenas sobre a competição? Não sei se posso confiar
que seu interesse é genuíno. Acho que não saberei a menos que continue vendo
para onde as coisas vão.
Ela deu uma risadinha. — Definitivamente, existem problemas
piores. Você está morando com um homem lindo e namorando outro.
Eu sorri, embora nenhum dos cenários fosse o que eu queria. Eu não
queria morar com um homem ou apenas namorar um. Eu queria ser o passeio
de alguém ou morrer.
Eu quero amor.
***
Declan e eu não nos cruzamos naquele dia. Ele não estava em casa quando
voltei para me preparar para o meu encontro com Will.
Mais tarde naquela noite, quando cheguei lá, Will já estava no bistrô
italiano que combinamos. Ele se levantou e puxou uma cadeira para mim
quando me aproximei da mesa.
Olhando-me de cima a baixo, ele disse: — Você está absolutamente linda,
Molly. Obrigado por concordar com um encontro em tão curto prazo.
Ele se inclinou e deu um beijo firme na minha bochecha. O contato enviou
calafrios na minha espinha.
A franqueza da minha resposta me chocou um pouco. — Eu não esperava
que você me convidasse para sair de novo, para ser honesta.
Ele parecia perplexo ao se sentar e deslizar a cadeira para mais perto da
mesa. — Por que isso?
— Bem, você não mencionou nada sobre sair de novo até que Declan
apareceu na noite passada.
Ele soltou um longo suspiro e acenou com a cabeça. — Eu tive um tempo
incrível com você no início desta semana. Na verdade, não conseguia parar de
pensar em você e naquele beijo. Então, se você acha que minha falta de contato
significava alguma coisa, não era. Foi uma semana louca – estressante, partos
muito mais complicados do que o normal. Isso foi tudo. — Ele fez uma pausa. —
Mas... como eu admiti para você no bar na noite passada, ver você com ele me
deu um empurrão. Isso me fez perceber que meus sentimentos por você são
ainda mais fortes do que eu estava disposto a admitir.
Seu comportamento ainda me confundiu. Eu senti a necessidade de
colocar tudo em risco enquanto eu tinha sua atenção. Mas a garçonete
interrompeu quando ela chegou para anotar nosso pedido. Eu não tive a chance
de olhar o menu ainda, então ela nos deu alguns minutos para examiná-lo.
Quando ela voltou, Will pediu a lasanha, enquanto eu refletia sobre as
escolhas e, por fim, optei pelo macarrão primavera. Ela trouxe duas taças de
vinho logo depois.
Depois que ela saiu, tomei um longo gole de meu pinot e decidi continuar
de onde a conversa havia parado.
— Will... A verdade é... mesmo que eu esteja saindo com Declan, não é
minha intenção sair com mais de um homem para sempre. Estou procurando
estabilidade no longo prazo. Lamento se lhe dei a impressão de que não
estava. Você já me disse que não está interessado em um relacionamento
sério. Respeito sua honestidade e é por isso que também estou sendo honesta
agora. Não quero perder seu tempo se você não quiser nada sério. Eu...
— Molly... — Ele estendeu a palma da mão. — Acho que preciso esclarecer
algo. É verdade que não queria entrar em nada sério agora, mas também acho
que talvez não me comuniquei direito no nosso primeiro encontro. Parece que
você acha que a única razão pela qual eu queria sair com você é porque você
estava aberta a um relacionamento casual. Isso não é verdade. Eu acho você
absolutamente incrível, inteligente, bonita – é por isso que estou atraído por você.
— Seus olhos permaneceram nos meus.
Sentindo minha pulsação acelerada, eu disse: — Agradeço você dizer isso,
mas não tenho certeza se devemos continuar as coisas além desta noite se você
acha que não quer um relacionamento sério no futuro.
Ele olhou em direção à entrada por um tempo antes de encontrar meus
olhos novamente. — Que tal isso... Eu não quero parar de ver você. Nem um
pouco. Acho que devemos ir devagar e com o objetivo de manter a mente
aberta. Se ambos sentirmos que as coisas estão indo bem entre nós, eu adoraria
a opção de namorar exclusivamente com você. Suponho que você teria que
descobrir seus sentimentos por esse outro cara, no entanto.
Pisquei, tentando processar suas palavras. — Eu adoraria levá-lo dia após
dia. Mas você também disse que não queria casamento e filhos. Sei que é muito
prematuro falar sobre isso, mas essas são coisas que definitivamente quero
algum dia. Então, se você tem certeza de que não quer esse tipo de futuro, isso
seria um limite rígido para mim.
Will pegou minha mão e olhou mais fundo nos meus olhos. — Deixe-me
explicar. Casamento e filhos não são algo que eu queira no futuro próximo. Eu
gostaria de um tempo para viajar e curtir minha vida. Minha última namorada
queria essas coisas com muita urgência. Esse foi o principal motivo pelo qual
terminamos. Dito isso, se eu me apaixonar pela pessoa certa, não vou negar a
ela a oportunidade de ser mãe. Eu estaria aberto para ter um filho, contanto que
fosse a hora certa e a mulher certa.
Suas declarações contraditórias entre o último encontro e agora
definitivamente me deixaram confusa. Mesmo assim, esta noite ele me deu um
pouco de esperança de volta.
— Eu sei que parece bobagem discutir essas coisas em um segundo
encontro, — eu disse. — Mas não quero perder meu tempo com alguém que
fecharia completamente a porta para um futuro desde o início e, honestamente,
essa foi a impressão que você me deu.
— Entendido. — Ele sorriu. — Espero ter aliviado algumas de suas
preocupações sobre continuar a namorar comigo.
— Você fez. Obrigada. — Soltei um longo suspiro antes de tomar outro
gole de vinho. — Bem, essa foi uma conversa séria para tão cedo na noite.
Ele riu. — Sim, mas veja, agora nós tiramos isso do caminho e podemos
tirar o resto do tempo para curtir um ao outro.
Logo depois, nossa comida chegou. Foi o amortecedor perfeito para a
transição para uma vibração mais leve. Will e eu tivemos uma refeição fantástica
e tranquila.
Depois do jantar, decidimos que não queríamos que a noite
acabasse. Como o apartamento dele era mais perto do restaurante (e como o
meu era proibido pelo fato de eu morar com meu suposto outro homem), fomos
para a casa de Will.
Ele abriu uma garrafa de vinho e tocou jazz de sua impressionante coleção
de discos de vinil.
Trocamos alguns beijos pesados, mas as coisas não foram além disso. Will
era o cavalheiro perfeito, mas ainda não se sabia se ele era o homem perfeito
para mim.
***
Nos dias seguintes, voltei aos meus turnos noturnos. Will estava de folga,
então eu não cruzei com ele no trabalho nem com Declan em casa. E gostei
bastante da suspensão da obsessão por meus sentimentos por cada um deles.
No meu primeiro dia de folga, porém, cheguei em casa depois de fazer
algumas coisas e encontrei Declan sem camisa, cozinhando no fogão.
— Tenha cuidado para não começar um incêndio, — interrompi a música
que ele tocava.
Ele se virou para mim e piscou. — Por que eu sou quente? — Ele abaixou
a espátula e me assustou quando correu e me puxou para um abraço, seu peito
duro pressionando contra mim, deixando-me muito ciente de minha atração por
ele.
Ele se afastou para olhar para mim. — Sinto que não te vejo há muito
tempo, colega de quarto.
Eu sabia que ele havia passado pelo menos uma noite na casa de Julia
esta semana, então presumi que eles estavam fazendo sexo. Isso me deixou
inquieta, mas, pelo menos, ele não insistiu que ela dormisse em nossa casa.
— Você está com fome? — ele perguntou.
O cheiro de torrada francesa pairava no ar. Assim como o cheiro de Declan,
seu cheiro delicioso e almiscarado.
Engoli. — Eu poderia comer. — Puxa. Parecia diferente perto dele depois
da outra noite, como se o volume do medidor de tensão sexual tivesse mudado
de baixo para máximo.
— Bem, eu apenas estou fazendo seu favorito: café da manhã para o jantar,
— Declan anunciou antes de correr para seu quarto.
Ele voltou vestindo uma camisa e retomou sua posição junto ao fogão. Era
como se ele soubesse que estar sem camisa me deixava inquieta.
Declan virou a torrada francesa e polvilhou canela sobre ela. Passei os
próximos minutos observando-o cozinhar. Esse se tornou um dos meus
passatempos favoritos.
Eu desabafava com ele sobre uma falta de pessoal no trabalho, enquanto
ele abria a boca sobre uma de suas irmãs tendo problemas conjugais. Parecia
que parte da nossa tensão sexual se dissipou assim que começamos uma boa
conversa.
Depois que ele preparou duas torradas grandes para cada um de nós,
sentamos e começamos a devorá-la juntos.
— Esta é a melhor torrada francesa que já comi. — Meus olhos vagaram
até os potes no balcão. Eu parei de mastigar. — O que você fez?
Eu não podia acreditar que estava percebendo isso agora, mas estava um
pouco distraída quando entrei. Meus M&Ms em tons pastéis e coordenados por
cores foram substituídos por uma mistura de cores primárias do arco-íris, todas
misturadas. Eu estava prestes a ter urticária.
— Só estou ajudando você, — disse ele. — Você mencionou que sua
terapeuta queria que você se acostumasse com as coisas em desordem. Tive essa
ideia quando passei pela loja de doces a granel.
— Tão atencioso da sua parte que quase me deu um ataque cardíaco.
Por mais corajoso que fosse, eu sabia que ele tinha feito isso com boas
intenções. E eu estava relaxando em meus exercícios ultimamente. Na verdade,
eu não tinha me desafiado de forma alguma.
— O que você fez com os outros M&Ms?
— Não se preocupe. Eu os guardei para mantê-los seguros. Você os terá
de volta quando os merecer. — Ele piscou.
— Oh, garoto. Excelente.
— Não é preciso dizer que Julia não ficou muito feliz quando a fiz parar na
confeitaria para comprar um saco de mais de dois quilos. Mas acho que foi por
causa de quem eu estava comprando.
O pão ficou um pouco preso na minha garganta. — Ela ainda está com
ciúmes de mim?
— Bem, eu disse a ela que você está namorando Will agora. Mas ela ainda
parece insegura sobre nós morarmos juntos.
Meu coração disparou e vários segundos de silêncio se passaram.
— Ela deveria estar? — Eu murmurei.
Você poderia ter ouvido um alfinete cair. Lamentei minha pergunta, mas
não pude retirá-la.
Seus olhos perfuraram os meus.
Flashbacks da outra noite passaram pela minha mente – meus dedos
roçando seu corpo rígido, os arrepios em sua pele. Lembrei-me de cada segundo
desses momentos.
Em vez de responder à minha pergunta, ele largou o garfo com um estalo
forte. — Eu nunca tive a chance de perguntar sobre seu encontro com Will.
Eu limpei minha garganta. — Correu muito bem. Jantamos e então ele me
levou para seu apartamento e me mostrou sua coleção de discos de vinil.
Ele riu, mas tinha um ar de insinceridade. — E você teve que fingir que
estava interessada?
Dei de ombros. — Eu... apreciei isso. Ele tem um gosto musical eclético.
Declan acenou com a cabeça. — Ele mostrou a você mais do que apenas
sua coleção?
Essa pergunta foi um pouco descarada. Mas suponho que também fui um
pouco descarada esta noite. Eu disse a verdade.
— Não. Eu não mostrei nada a ele. É muito cedo.
— Bom. — Ele soltou um suspiro. — Não tenho certeza se confio no
cara. Eu não gosto da virada que ele deu só porque me viu aparecer no bar. Ele
mudou de tom muito rápido, porra.
Eu senti a necessidade de vir em defesa de Will. — Eu não o culpo por sua
honestidade ou ciúme. Eu respeito sua admissão de que não está interessado
em nada sério agora. Ele poderia simplesmente ter me enganado. Mas na noite
passada ele esclareceu algumas coisas. Ele disse que pode estar aberto a algo
sério no futuro. Ele quer levar as coisas devagar.
— Quão nobre da parte dele, — ele bufou. — Foda-se isso. Você merece
alguém que não seja tão insosso, Molly. Quer dizer, o cara fala uma coisa um
dia e outra no outro? O que isso lhe diz?
No fundo, eu mesmo senti aqueles sinais de alerta altos e claros. Mas
enquanto eu apreciei Declan me defendendo, suas palavras tocaram um acorde
amargo.
— E Julia não é insossa? Ela flertou com você por semanas enquanto tinha
namorado. Isso é o oposto de honestidade e parece muito insosso para mim.
— Eu também não disse que ela era perfeita.
— Você costumava pensar assim. Você a fez soar como se ela andasse
sobre as águas quando a descreveu para mim pela primeira vez. — Eu revirei
meus olhos.
Ele ergueu a sobrancelha. — Isso te incomodou?
O sangue subiu ao meu rosto. — Não. Por que você pensa isso?
— Não sei. Você parecia irritada quando disse isso agora – que eu achava
que Julia era perfeita. Meus sentimentos por ela te aborrecem?
— Não. Supere a si mesmo. Por que isso me chatearia?
— Não sei. Diz-me você.
Sentindo-me na defensiva, deixei escapar: — Por que eu me importaria
como você se sente por alguém? Eu não gosto de você desse jeito.
Grande. Erro. Mas era tarde demais para voltar atrás. Minhas palavras
quase imediatamente me morderam na bunda.
— Você parece gostar de mim uma porra de muito quando você está
bêbada, — ele brincou.
Merda. Eu não gosto para onde essa conversa está indo. —
Nós dois estávamos bêbados, Declan. Se bem me lembro, foi você quem sugeriu
que eu mostrasse minha tatuagem em troca de você me mostrar a sua.
Ele não disse nada por alguns segundos. Então ele se inclinou para que
eu pudesse sentir sua respiração em meu rosto. — Engraçado como estávamos
supostamente tão bêbados, mas nos lembramos claramente de nossas ações.
Meu telefone tocou, interrompendo a conversa tensa. O alívio tomou conta
de mim – até meu coração afundar.
É Kayla, a esposa do meu pai. Ela nunca liga.
CAPÍTULO 14
Declan
***
Eram quatro da manhã quando Molly voltou para a sala de espera desta
vez. Seu pai foi internado na unidade de terapia intensiva e eu cochilei na sala
de espera no final do corredor.
— Sinto muito. Eu não queria te acordar. — Ela apontou para as
máquinas de lanche alinhadas ao longo do outro lado da sala. — Estou com
tanta sede e queria beber água.
Eu esfreguei meus olhos. — Eu não estava realmente dormindo. Apenas
descansando meus olhos.
Ela sorriu. Tirando duas notas da carteira, colocou-as na máquina de
venda automática e comprou uma garrafa de água. — Você quer algo?
13 Calças molhadas.
— Não, obrigado. Já comi dois sacos de batatas fritas apimentadas, alguns
Twizzlers14 e amendoins confeitados que tenho quase certeza de que tirou uma
de minhas obturações.
Molly se sentou na cadeira ao meu lado. — Eles estão ajudando-o a se
trocar. Achei que deveria dar a ele um pouco de privacidade e deixá-lo dormir
um pouco. As rondas na UTI geralmente começam por volta das sete horas. Já
é muito tarde; não há quase sentido em voltar para casa agora. Quero estar aqui
para falar com os médicos quando eles passarem.
— Então vamos ficar. Esses assentos são muito confortáveis.
— Você deve ir, Declan. Você tem que trabalhar em algumas horas. Posso
chamar um Uber para casa quando estiver pronta para ir.
Dei de ombros. — Nah. Eu posso fazer malabarismos em torno da minha
agenda. Eu não preciso estar em nenhum lugar em um determinado momento.
Os olhos de Molly pararam na mesinha ao meu lado e se arregalaram. —
O que você fez?
Eu tinha esquecido completamente do meu projeto. Levantando o grande
copo de isopor que peguei no posto de enfermagem próximo, entreguei a ela o
lanche que preparei para ela. — Só os vermelhos para minha garotinha xixi.
Ela olhou dentro do copo. — Onde você conseguiu isso?
Levantei meu queixo em direção à máquina de salgadinhos, que esvaziei
até o último pacote de M&Ms. — Eles vendiam na máquina.
— Tinha que haver dez sacos de M&Ms para conseguir tantos rosas. E
para onde foram as outras cores?
— Treze, na verdade. — Eu esfreguei meu estômago. — E não se preocupe,
nenhuma cor inaceitável foi danificada durante o processo. Eu coloquei todos
eles em bom uso – embora meu estômago possa discordar agora. Sabe, é uma
boa coisa essas máquinas aceitarem cartões de crédito. Um dólar e setenta e
cinco por um saco de doces? Que roubo.
Molly apenas continuou olhando para mim.
14 Tiras de alcaçuz.
— O quê? — Limpei meu rosto. — Eu babei em mim mesmo durante meu
cochilo?
Ela balançou a cabeça. — Não. Você está bem. É só... Por que exatamente
você comprou e fez tudo isso?
Eu não entendi a pergunta. — O que você quer dizer? Porque você gosta
de comer uma cor. Por que mais eu faria isso?
— Mas você precisava saber que eu não comeria todo esse copo gigante de
M&Ms agora.
Na verdade, eu não tinha pensado nisso. — Eu não estava sugerindo que
você tinha que comê-los todos.
— Eu sei. Eu percebo isso. Você não gastou mais do que vinte dólares e se
sentou aqui separando as cores porque eu poderia comê-las como uma refeição.
Eu não estava acompanhando. — OK…
— Você fez isso porque sabia que eu estava me sentindo para baixo e que
me divertiria com isso.
Dei de ombros. — Então?
Molly se aproximou e pegou minha mão. Ela entrelaçou seus dedos com
os meus. — Você é um bom amigo para mim, Declan.
Eu sabia que ela queria dizer isso como um elogio, mas o fato dela dizer
que eu era um amigo não parecia muito certo. Nossa conversa esta noite
pareceu uma vida atrás agora. Mas meus sentimentos por Molly mudaram em
algum momento nas últimas semanas. No começo eu pensei que era apenas uma
atração sexual natural. Quer dizer, não havia como negar que ela era uma
mulher bonita. Mas ultimamente eu queria passar todo o meu tempo livre com
ela e questionava os sentimentos que pensava ter por Julia.
Claro, este não era o momento ou lugar para continuar nossa discussão,
mas, no entanto, ouvi-la me chamar de bom amigo meio que fez meu estômago
parecer que tinha levado um soco.
Ainda assim, apertei sua mão na minha. — Apenas fazendo o que você
faria por mim, se o sapato estivesse no outro pé.
Ela encostou a cabeça no meu ombro. — Eu poderia. Eu absolutamente
estaria aqui para você.
***
— Molly?
Acordei com o som da voz de um homem por volta das 6 da
manhã. Abrindo os olhos, encontrei a última coisa que queria ver: Dr.
Dickalicious parado na sala de espera. Felizmente, Molly estava desmaiada. Nós
dois adormecemos uma ou duas horas atrás. Eu estava sentado, mas Molly
havia se espalhado em três cadeiras e sua cabeça repousava no meu colo. Já
que o idiota não parecia se importar que pudesse acordá-la, eu consegui
gentilmente levantar sua cabeça de mim e colocá-la na cadeira para que eu
pudesse me levantar.
Acenando com a cabeça em direção à porta, sussurrei: — Deixe-a
dormir. Podemos conversar lá fora.
No corredor, passei a mão pelo cabelo e estiquei os braços sobre a
cabeça. — O pai dela desmaiou em um restaurante a alguns quarteirões de
distância. Ela ficou acordada a noite toda.
Dr. Dick plantou as mãos nos quadris. — Eu acabei de ouvir. Ela deveria
ter me ligado.
Considerando que o problema não era a vagina de seu pai, discordei. —
Para quê?
A mandíbula de Will apertou. — Bem, para começar, sou médico.
Eu cruzei meus braços sobre meu peito. — Você pode não acreditar nisso,
mas este grande edifício? Está cheio deles.
Will revirou os olhos. — Eu poderia ter feito companhia a ela.
— Eu tinha isso coberto. Você não era necessário.
Ele suspirou. — Escute, eu não vou entrar em uma competição de mijar
com você. Molly e eu temos muito em comum. Tem havido algo fermentando
entre nós há anos. Eu percebo que provavelmente dói seu ego que começamos a
namorar depois que você começou a vê-la. Mas a verdade é que ela não estaria
me namorando se você fizesse isso por ela.
Minhas mãos se fecharam em punhos. — Escute, idiota, eu não gosto de
você. Mas isso não é importante agora. O importante é Molly. Ela está passando
por uma merda difícil. Não se trata de quem consegue segurar a mão dela, mas
que alguém o faça. Então, quando ela acordar, não vá incomodando-a.
O som da porta da sala de espera se abrindo fez com que nós dois
mudássemos de foco. Ao ver uma Molly grogue, Will imediatamente passou por
mim. — Ei. Daisy me disse que você estava aqui e o que aconteceu com seu
pai. Acabei de enviar um falso trabalho de parto para casa, então resolvi vir
procurá-la.
Molly olhou para mim e depois de volta para Will. — A hemoglobina dele
era três quando o trouxeram.
Will franziu a testa. — Quem está atendendo?
— Dr. Marks. Eu não o conheço muito bem. Mas ele tem sido muito bom.
— Eu jogo golfe com ele ocasionalmente. Presumo que o tenham
examinado?
Molly acenou com a cabeça. — Sua cabeça por causa da queda, e seu
peito.
— Por que não vamos conversar com o Dr. Marks juntos e depois dar uma
caminhada até o diagnóstico por imagem? Podemos puxar suas varreduras e ver
por nós mesmos onde as coisas estão.
Os ombros de Molly relaxaram. — Isso seria ótimo, Will.
Enquanto eu estava feliz em saber que Molly teria ajuda para obter
informações, eu odiei a fonte dessa ajuda. Mas fiz o possível para esconder isso.
— Declan, eu vou ver se podemos conseguir alguma informação nova, se
você não se importa?
Eu balancei minha cabeça. — Claro que não. Faça o que você precisa
fazer. Eu estarei bem aqui.
Will colocou a mão nas costas de Molly e de repente eu me senti um
estranho.
— Na verdade, Declan, — ele disse, — Eu pego daqui. Obrigado por fazer
companhia a Molly. Tenho certeza que ela vai querer ficar por aqui mais
tempo. Já que estou de folga agora, posso deixá-la em casa depois. Parece que
você precisa dormir um pouco.
Molly olhou para mim e franziu a testa. — Ele está certo, Dec. Por que você
não vai para casa? Vou ficar aqui mais algumas horas, pelo menos, e você esteve
aqui a noite toda comigo.
Eu não queria ir embora, especialmente não com o Dr. Dickalicious
tentando pegá-la como se ela fosse uma espécie de bola desajeitada. Mas
também percebi que ele poderia dar a ela acesso a coisas que eu não podia. Sem
mencionar que, se eu fizesse uma cena, a única que se machucaria seria Molly.
Então, eu relutantemente balancei a cabeça. — OK. Eu irei. Ligue-me se
precisar de alguma coisa, Moll.
Ela deu um passo à frente e beijou minha bochecha. — Obrigada por tudo,
Declan.
Meus olhos se encontraram com os do Dr. Dick, e os seus brilharam com
a vitória. Deus, eu não gosto desse cara.
— Obrigado, Declan. — Ele estendeu a mão que não estava enrolada nas
costas da minha garota. — Se cuida.
Eu observei enquanto os dois caminhavam juntos, uma sensação de vazio
agitando meu estômago. Nas portas duplas da unidade de terapia intensiva,
Molly olhou para trás e me deu um sorriso conciliador. Acenei e fingi que estava
tudo bem.
Mas não estava.
Depois que as portas se fecharam, percebi o que estava fodendo com
minha cabeça mais do que qualquer coisa. Não era o fato de o Dr. Dick ter
oferecido ajuda a ela que eu não pude dar. Eu me preocupava com Molly o
suficiente para colocar suas necessidades em primeiro lugar e aceitar o que era
melhor para ela. Também não era o fato de que ele colocou a mão nas costas
dela enquanto caminhavam pelo corredor. O que me assustou foi que eu fiquei
chateado porque ele colocou a mão nas costas da minha garota.
Minha garota.
Foi assim que pensei nela.
Mas ela não era, era?
De qualquer forma, eu a estava deixando nas mãos do cara que deveria
ficar com a garota o tempo todo.
CAPÍTULO 15
Molly
Declan: Não, realmente não está. Eu sei que você queria uma noite
tranquila.
Molly: Bem, ela está aqui. E eu nunca esperaria que você dissesse a
ela para ir embora. Estou realmente bem. Este é o seu apartamento
também. E você tem sido mais respeitoso do que precisa. Você mal a
traz. Está tudo bem.
Declan: Te devo uma.
Eu digitei.
Molly: Sim.
Molly: Sim.
Declan
***
Molly
***
Declan
***
Molly
***
Na manhã seguinte, eu não estava pronta para ir para casa depois que
meu turno acabou. Eu não ia ver meu pai há alguns dias, então, depois de enviar
uma mensagem de texto para Kayla para ter certeza de que estava tudo bem,
peguei alguns bagels e fui para a casa deles.
— Olá pai. — Inclinei-me e beijei sua bochecha quando cheguei. Ele tinha
um sistema de oxigênio em casa instalado agora, mas a máscara facial de
plástico estava pendurada nas costas da cadeira da cozinha em que ele se
sentava. Eu toquei nela. — Humm... Isso funciona melhor quando está ligado,
acredite ou não.
Papai balançou a cabeça. — Idiota. Você soa como Kayla. Estou bebendo
meu café. Eu me sinto bem.
Cada vez que eu ia vê-lo, ele parecia um pouco pior. Por ser enfermeira,
estava acostumada a ver os pacientes doentes se deteriorarem, mas o declínio
de papai não era a norma. A diferença entre os cânceres de células pequenas e
não pequenas era realmente impressionante. Era quase como se estivéssemos
assistindo a rápida propagação do lado de dentro acontecer também do lado de
fora.
Coloquei o saco de bagels na mesa. — Eu trouxe o seu favorito.
Ele sorriu. — Oh, sim? Você se lembra do meu favorito?
— Claro que eu sei. Sal – quanto mais, melhor. Provavelmente não é a
melhor coisa para trazê-lo, considerando o que pode fazer com sua pressão
arterial.
Meu pai me dispensou. — Essa é a menor das minhas preocupações.
Eu cavei na sacola. — Eu farei isso para você. Creme de queijo ou
manteiga?
— Manteiga, por favor.
Kayla desceu do andar de cima enquanto eu preparava o café da manhã
para papai. Dissemos olá e ela se aproximou de papai e o beijou na testa. — Vou
fazer algumas coisas.
— OK, querida.
— Estarei de volta em cerca de uma hora. Você pode ficar tanto tempo,
Molly?
Meu pai respondeu por mim com um resmungo. — Eu não preciso de uma
babá.
Ela revirou os olhos. Claramente esta não era a primeira vez que ele a
incomodava com isso. — Claro que não. Mas o médico disse que você precisa
descansar, pelo menos até que seu hemograma volte ao normal. Então, me sinto
melhor sabendo que alguém está por perto, caso você se sinta tonto novamente.
— Os médicos mal cuidam a si mesmos.
Eu ri. — Eu acho que você deveria saber.
Depois que Kayla foi embora, meu pai e eu tomamos café da
manhã. Conversamos um pouco e achei que estava fazendo um bom trabalho
em esconder a turbulência que sentia por dentro. Mas depois que ele terminou
de comer, ele se recostou na cadeira e olhou para mim.
— Você está preocupada comigo ou algo mais está acontecendo?
Minhas sobrancelhas franziram. — O que você quer dizer?
Ele olhou para as minhas mãos. — Você mexe na cutícula dos polegares
quando está nervosa.
Eu realmente fazia, mas não sabia que meu pai sabia disso. Coloquei meu
polegar em punho para me impedir e suspirei. — Foi apenas uma longa noite.
— Algum parto deu errado?
Eu balancei minha cabeça. — Não, nada disso.
— OK…
Papai esperou. Eu não queria que ele pensasse que meu problema era por
causa dele. Quero dizer, é claro que isso sempre esteve no fundo da minha
mente, mas não era o que ele estava vendo no meu rosto hoje. Portanto, pensei
que seria melhor acalmá-lo.
— É um... problema de homem.
Papai deu um gole no café. — OK. Bem, acredite ou não, eu sou um
desses, então pode confiar em mim.
Era difícil de explicar e eu não tinha certeza se minha situação era algo
que eu queria discutir com meu pai. Nunca tínhamos discutido minha vida
amorosa ou qualquer coisa assim. — Estou apenas lutando com o que considero
a escolha certa para mim.
Papai acenou com a cabeça. — Esse é um assunto em que sou especialista.
No começo fiquei confusa, mas então percebi que ele estava se referindo à
minha mãe e Kayla. Eu só tinha olhado para o que acontecia do lado de uma
criança abandonada, não do ponto de vista de um homem em um
relacionamento.
— O que aconteceu entre você e a mamãe, papai? Eu só ouvi o lado dela.
Meu pai suspirou. — Quanto tempo você tem? Acho que essa história pode
demorar um pouco.
Eu sorri. — Diga-me a versão abreviada.
— Bem. Bem, como você sabe, sua mãe e eu éramos namorados na
faculdade. Nós nos casamos aos vinte e um. As pessoas nos diziam que éramos
muito jovens, mas não ouvíamos. —Ele desviou o olhar por um momento, e um
sorriso melancólico cresceu em seu rosto. — Ela era a garota mais bonita do
campus. — Ele balançou sua cabeça. — De qualquer forma, essa deveria ser a
versão abreviada, então vou pular alguns anos. Sua mãe trabalhou muito
enquanto eu estava na faculdade de medicina. Depois, quando me formei e vocês
vieram, ela ficou em casa e eu trabalhei muito. Com o passar dos anos, nós meio
que nos separamos. No início, tínhamos vocês, meninas, para nos unir. Eu
voltaria para casa e sua mãe me contaria sobre os acontecimentos de você e sua
irmã. Mas com o passar dos anos, isso se tornou a única coisa que
discutíamos. Então, quando vocês ficaram um pouco mais velhas e começaram
a passar mais tempo com suas amigas em festas do pijama e outras coisas,
sentimo-nos como estranhos. Às vezes, sentávamos à mesa da cozinha para
jantar, só nós dois, e não tínhamos nada a dizer, embora tivéssemos passado o
dia inteiro separados. Isso levou à frustração e a frustração levou à
discussão. Tenho certeza que você se lembra da parte da discussão. Era quase
como se tivéssemos crescido juntos, mas nunca tivéssemos aprendido a nos
comunicar.
— E quanto à Kayla?
Papai suspirou novamente. — Eu sei que você acha que Kayla foi a causa
do meu rompimento com sua mãe, mas ela realmente não foi – nada da parte
dela, pelo menos. Juro, Deus como minha testemunha, nunca traí sua mãe –
pelo menos não no sentido físico. Eu estaria mentindo se dissesse que não me
aproximei muito de outras mulheres durante aqueles anos difíceis de uma forma
não física. Olhando para trás, acho que estava procurando a conexão emocional
que sua mãe e eu estávamos perdendo. Eu deveria ter trabalhado nisso com ela
em vez de encontrar com outras pessoas. E eu possuo isso. Em um
relacionamento, trapacear não é apenas uma conexão física. Desenvolvi
sentimentos por Kayla. Na época, eles não foram correspondidos. Ela não tinha
ideia. Ela era tão fácil de conversar no trabalho. E quando isso aconteceu,
percebi que as coisas não estavam bem entre mim e sua mãe. Eu tinha muita
culpa, mas também era um idiota egoísta. Portanto, em vez de investir tempo
para tentar consertar o que havia de errado com sua mãe, escolhi o caminho
mais fácil.
Uau. Não sei o que esperava que ele dissesse, mas não era isso. Embora
parecesse verdade.
Papai balançou a cabeça e seus olhos se encheram de emoção. — Me
desculpe por ter te decepcionado. Eu deveria ter sido um homem melhor.
Peguei sua mão na minha. — Você é humano. E quando você saiu, acho
que não entendi isso. Aos meus olhos, você era meu pai, não uma pessoa real,
se isso faz algum sentido. Eu tinha dezesseis anos e ainda não entendia os
meninos, então não poderia ter entendido as complexidades de fazer um
casamento dar certo ou perder o amor com o coração. Eu só queria culpar
alguém porque meu pai se foi e minha mãe estava triste, e era mais fácil culpar
você.
Nós dois ficamos em silêncio por um longo tempo, mas eventualmente, eu
perguntei: — E se não houvesse Kayla? Você teria ficado com a mamãe?
Papai balançou a cabeça. — Isso não é, obviamente, uma questão simples
de responder, já que há uma Kayla. Mas tenho quase certeza de que a resposta
é não. Se não fosse ela, teria sido outra pessoa eventualmente. O problema não
era eu me apaixonar por uma mulher específica, Molly. O problema era eu. Posso
te perguntar uma coisa?
— Sim.
— Seus problemas de homem têm a ver com Declan e Will?
Eu concordei.
— Eu sei que provavelmente sou a última pessoa que deveria dar
conselhos sobre relacionamentos. Mas às vezes o retrospecto é muito mais claro
do que quando você está no meio das coisas. Portanto, se eu puder oferecer
algum conselho, seria não assumir um compromisso, a menos que você tenha
certeza e esteja pronta para trabalhar nisso.
CAPÍTULO 20
Declan
***
Molly
O conselho do meu pai tinha passado pela minha cabeça desde que o
deixei. Eu disse a Will que daria a ele uma decisão esta noite, mas isso era
realmente necessário? Por que precisamos apressar as coisas? Se eu não tinha
certeza, definitivamente precisava fazer o que papai disse – levar mais tempo
antes de assumir um compromisso.
Olhando no espelho, desabotoei o topo da minha blusa e a puxei de lado. A
marca que Declan deixou no meu pescoço ainda estava lá. Eu teria que cobrir
com maquiagem antes do meu encontro. O chupão seria uma das muitas coisas
com as quais eu teria que lidar antes desta noite. Eu não me sentia pronta para
enfrentar Will sem falar com Declan mais uma vez.
Declan mandou uma mensagem dizendo que estava voltando do trabalho
e esperava me encontrar. Eu me perguntei se ele gostaria de falar sobre o que
aconteceu entre nós na segunda-feira.
À primeira vista, aquele beijo parecia um simples gesto de despedida, uma
oportunidade gratuita de aproveitar a situação. Mas a maneira como ele me
beijou contou uma história diferente. Foi desesperado e cheio de paixão,
diferente de qualquer beijo que eu já experimentei. E isso me deixou mais
confusa do que antes.
Pensei na conversa que tive com papai. Havia mais de uma maneira de
machucar alguém. Se eu fosse me comprometer com um homem, precisava ter
certeza de que não estaria pensando em outro. Neste ponto, eu não vi como dizer
sim a Will poderia desligar automaticamente meus sentimentos por
Declan. Como eu me sentiria se a situação mudasse – se Will concordasse em
ser meu namorado, mas tivesse sentimentos complicados por outra mulher? Eu
odiaria.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo som da porta da frente se
abrindo. Eu fiquei no meu quarto, antecipando que Declan viria me encontrar.
Um minuto depois, através do espelho, eu o vi parado na minha porta. Sua
expressão melancólica, porém, não era o que eu esperava.
Eu me virei para encará-lo. — O que há de errado, Declan?
Ele se jogou na minha cama, deitado de costas e esfregando o rosto. —
Não sei como dizer isso.
Meu coração afundou quando me aproximei e me sentei na beira da
cama. — O que está acontecendo?
Minha mente disparou. Ele vai me dizer que tem sentimentos por
mim? Nosso beijo mudou as coisas? Aconteceu alguma coisa com Julia? O que
ele realmente disse, porém, foi muito pior.
— Eu tenho que sair de Chicago, Mollz.
— O quê? Algo aconteceu...
— Estou sendo transferido para uma conta em Wisconsin. O cara que
dirigia deixou nossa empresa, e meu chefe precisa de alguém lá o mais rápido
possível para assumir. Ele quer que seja eu ou Julia, e ele me deixou
encarregado de decidir quem vai.
Ele ou Julia?
Meu coração disparou. — Então, por que ela não vai?
Ele fechou os olhos brevemente. — Julia mal consegue lidar com
Chicago. Ela não faz nada além de reclamar do quanto sente falta da
Califórnia. Esta tarefa está no meio do nada. Tenho certeza de que esses dois
meses a matariam.
— Você está indo?
Ele assentiu. — Sim. Eu preciso, Mollz. Mas é a última coisa que eu quero.
— Eu não posso acreditar nisso. Sempre soube que seu tempo aqui era
limitado, mas sinto que acabamos de ser passados para trás.
— Eu também. Estive realmente deprimido o dia todo. Assim que disse a
Ken que faria isso, caí em uma depressão terrível. — Ele se sentou e ficou bem
ao meu lado. — Há um pequeno fio de esperança, eu acho. Dependendo de
quando as coisas terminarem lá, posso voltar para terminar o projeto em Chicago
antes de voltar para a Califórnia.
Isso me deu um vislumbre de esperança. — Então você pode voltar?
— Eu não tenho certeza de como isso vai acontecer, mas essa é uma
possibilidade definitiva. Falei com meu chefe sobre a empresa que cobrirá meu
aluguel aqui pelo restante do tempo com o qual havia me comprometido. Eu não
queria deixar você na mão. Ele concordou em me reembolsar por isso. — Declan
colocou uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. — Você pode manter
meu quarto aqui aberto? Assim eu sei que terei um lugar para ficar quando eu
voltar.
Ainda parecia surreal. — Claro, Declan. Claro.
Ele balançou a cabeça enquanto olhava para minha colcha. — Este é um
momento de merda – literalmente beijando e correndo. — Ele olhou para mim e
deu um sorriso torto que fez meu coração doer. Então ele pegou minha mão. Foi
um gesto inocente, mas me aqueceu toda.
Eu olhei para nossas mãos entrelaçadas. — Não importa o quão confusos
possamos estar, Declan, você é um dos melhores amigos que eu já tive. Espero
que não percamos o contato, porque pensar nisso me deixa muito triste.
Ele apertou minha mão. — Eu prometo manter contato, Molly. Eu
adoraria.
— Você me ajudou a passar por um momento muito difícil da minha
vida. Sua amizade, seu café da manhã para o jantar, seu sorriso... — Eu sorri. —
Eu me senti mais viva desde que você se mudou do que nunca.
Ele estudou meu rosto. Talvez fosse um pouco demais para admitir.
— Isso é uma merda, — ele murmurou.
A sala ficou em silêncio.
— Quando você tem que sair? — Eu perguntei.
— Ele me quer lá no início da próxima semana.
Eu fiz as contas. Estaria de folga nos três dias seguintes, mas teria que
trabalhar de sábado a segunda-feira. Isso significava que eu só tinha alguns dias
para vê-lo antes de ele ir embora.
Eu queria chorar. — Isso é tão cedo.
Ele franziu a testa. — Eu sei.
— E você e Julia? Onde isso deixa essa relação?
Ele encolheu os ombros. — No limbo, eu acho – mas não é longe de onde
já está. Acho que a distância vai ser boa para nós. Estou feliz por não termos
assumido nenhum tipo de compromisso antes de isso acontecer.
Declan certamente gostaria de ser livre para namorar quem quisesse em
Wisconsin. Pensar nisso me deixou enjoada, mais uma vez me lembrando dos
meus sentimentos por ele.
— Eu gostaria de poder dizer 'foda-se o trabalho' e ficar. Eu realmente
quero. Eu amo isso aqui, e nenhuma parte de mim está pronta para partir.
— Ele exalou. — Eu vim tão longe com esta empresa, e se eu recuasse nisso,
me faria parecer que eu não sou um jogador de equipe. Isso prejudicaria minhas
chances de promoção.
— Eu entendo totalmente. Agora é a hora da sua vida de trabalhar duro
para que você possa brincar mais tarde.
Ele soltou minha mão e se deitou, olhando para o teto. — Minha
necessidade de sucesso está profundamente enraizada. Meus pais são muito
antiquados – principalmente meu pai. Eu cresci ouvindo que eu precisava ter
sucesso porque sou um homem, ao passo que eles estavam bem com minhas
irmãs apenas se casando e se estabelecendo. O irônico é que todas as minhas
irmãs se destacam em suas carreiras. Mesmo assim, meu pai sempre me
pressionou ainda mais porque sou o único menino. Eu o decepcionei quando
optei por não ir para a faculdade de direito como ele queria, então tentei muito
mostrar a ele que posso deixar minha marca em uma área de minha própria
escolha, não aquela que ele escolheu para mim.
— Seu pai é advogado?
— Sim. Eu nunca te disse isso?
— Não.
— Sim. Então ele queria que eu seguisse seus passos, mas nunca pareceu
certo. Quando finalmente decidi entrar no mercado, prometi que provaria meu
valor a ele, provaria que poderia conquistar meu próprio sucesso.
— Você fala muito sobre suas irmãs, mas não fala muito sobre seus pais.
— É um pouco dolorido. Mas também é o que me motiva.
— Entendo.
Ele olhou para mim e sorriu. — Você tem um jeito de falar que me faz
querer compartilhar coisas sobre as quais normalmente não falo. Vou sentir falta
de falar com você – pessoalmente. Eu prometo que vamos continuar
conversando.
— Eu vou cobrar isso de você.
Ele assentiu. — Você ainda vai sair com Will esta noite, certo?
Suspirei. Esta notícia sobre a partida de Declan afetou meus planos de
falar sobre meus sentimentos conflitantes com ele esta noite. — Sim. Eu devo
encontrá-lo em sua casa.
— E você vai responder à sua pequena proposta?
Eu hesitei. — Não sei.
— Eu tenho uma confissão... — ele disse.
— Bem…
Ele se sentou novamente para me encarar. — Aquele beijo... eu não me
arrependo. Nem por um segundo. Foi uma coisa idiota de se fazer, no
entanto. Você acabou de me dizer que tomou uma decisão sobre a qual se sentiu
bem, e eu fui um pequeno homem das cavernas, porque estava com ciúmes.
Eu sorri e o deixei continuar.
— Eu não tinha o direito de brincar com você assim. E eu sinto muito.
— Eu não me arrependo do beijo, — eu disse imediatamente. — Talvez eu
me arrependa de ter deixado você chupar meu pescoço com tanta força, porque
agora eu tenho que usar essa camisa abotoada até o fim esta noite. Eu pareço
uma freira. — Eu desabotoei os dois botões superiores e puxei o material de
volta para mostrar a ele o hematoma. — Sem ofensa com o comentário da freira.
— Nenhuma tomada. — Declan correu seu dedo ao longo da minha
pele. — Merda.
O toque de seu dedo me fez estremecer.
— Mas, droga, eu gosto de ver isso em você. Desculpe, não desculpe. É
errado eu querer que o Dr. Dick veja isso? — ele perguntou. — É como se eu
tivesse feito uma lavagem cerebral em mim mesmo pensando que a competição
que criamos entre mim e ele é real.
Se ao menos ele percebesse o quão real tinha sido para mim o tempo
todo. Tudo que eu queria fazer esta noite era sair com Declan porque nosso
tempo era muito limitado.
Eu quase sugeri cancelar meu encontro quando Declan disse, — Vá se
divertir esta noite. Não deixe que minhas notícias sobre a partida a abatam. Peça
a merda mais cara do cardápio. Fique um pouco tonta – mas não muito
bêbada. E vá com sua intuição, Molly. Se você não sentir que está pronta, não
diga nada a ele esta noite. Você não deve uma resposta a ninguém em nenhum
cronograma.
— Esse é o mesmo conselho que meu pai me deu. — Eu sorri.
— Bem, grandes mentes, então.
***
Afinal, não acabei jantando com Will. Ele foi chamado para uma
emergência no hospital e teve que cancelar no último minuto. Aquilo foi um alívio
– o que me fez questionar meus sentimentos mais uma vez. Eu voltei para casa
e não encontrei Declan, então usei o silêncio para pensar sobre as coisas um
pouco mais. Decidi que, para realmente avaliar como me sentia sobre seguir em
frente com Will, precisava que Declan tivesse partido. Não era justo tomar uma
decisão agora, quando tudo que eu conseguia pensar era ele indo embora.
De qualquer forma, Will e eu tínhamos remarcado nosso jantar para o
almoço esta tarde. Íamos nos encontrar em um lugar perto do meu apartamento,
o que me fez sentir muito mais confortável do que o jantar em sua casa que
tínhamos planejado originalmente. Até agora, nós apenas trocamos alguns
beijos nas noites em que tivemos encontros, mas a progressão natural de um
relacionamento físico estava se aproximando, e eu não queria aquela pressão
antes de colocar minha cabeça no lugar certo.
Era sexta-feira de manhã. Declan estava no trabalho, mas tínhamos
planejado sair hoje à noite, já que era minha última noite de folga por alguns
dias. Ele partiria na segunda-feira.
Quando fui para a cozinha, notei um único M&M rosa na bancada junto
com um bilhete.
Declan
— Você sabe o quê? Vou levar isso também. — Apontei para um buquê de
flores coloridas. Eu parei em uma barraca de frutas frescas para comprar alguns
morangos para a sobremesa que planejava fazer para Molly.
A velha que trabalhava lá sorriu. — Boa escolha. Acabaram de chegar. As
cores são tão bonitas, não são?
— Elas são. Normalmente também não sou um cara que gosta de flores.
A mulher estalou a língua. — Uh-oh. Você deve estar na casa do cachorro
então? O que você fez?
Eu ri. — Não, não estou com problemas.
— Apenas vai levá-las sem motivo?
— Sim, eu acho. Estou fazendo o jantar para minha... amiga e achei que
seria bom colocar na mesa.
A mulher empacotou os morangos e eu paguei. Quando ela me entregou
as flores, ela piscou. — Boa sorte com a sua amiga esta noite.
A barraca de frutas foi a última das cinco paradas que fiz no caminho para
casa. Já que esta noite seria provavelmente a última refeição que eu cozinharia
para Molly, eu decidi sair do trabalho mais cedo e surpreendê-la fazendo porções
do tamanho de um aperitivo de todos os seus pratos favoritos. Eu sabia que isso
a faria sorrir, o que, por sua vez, me deixava de bom humor. Foi a primeira vez
que consegui tirar os pensamentos de deixar Chicago da cabeça. Na verdade, me
senti tão animado enquanto caminhava para casa que nem percebi que estava
assobiando.
Cerca de um quarteirão do apartamento, eu estava na faixa de pedestres
esperando o sinal vermelho mudar. Enquanto eu assobiava a velha canção —
Don't Worry, Be Happy, — por acaso olhei para o outro lado da rua para o
restaurante italiano que Molly e eu tínhamos pedido algumas vezes. E meu
assobio parou abruptamente.
Molly.
Ela estava dentro do restaurante, sentada a uma mesa bem perto da janela
da frente. E ela não estava sozinha. Will sentado em frente a ela. A luz que eu
estava esperando ficou verde e as pessoas ao meu redor começaram a
cruzar. Mas eu não conseguia me mover. Eu apenas fiquei lá olhando. Molly
estava sorrindo – ela tinha um sorriso grande e verdadeiro que iluminava seu
lindo rosto. O idiota em frente a ela se inclinou e disse algo, e sua cabeça se
inclinou para trás em gargalhadas.
Já viu um acidente de carro na beira da estrada? Você sabe que não
deveria olhar, mas não consegue parar de olhar – mesmo quando o que vê causa
uma dor no peito. Sim, isso não é o que este me fez sentir como em tudo. Parecia
que fui eu quem bateu a porra do carro em uma árvore a oitenta milhas por
hora. Meu peito apertou e minha garganta se apertou, tornando difícil sugar o
ar em meus pulmões.
Porra.
Porra.
Porra!
Minha Molly. Com Will. E ela parecia... feliz. Por mais que eu quisesse isso
para ela, era fisicamente doloroso ver outro homem fazendo isso acontecer. Dois
minutos atrás eu estava trazendo flores para casa e assobiando, mas agora meu
mundo inteiro desabou sobre mim. Não sou um idiota – sabia que tinha fortes
sentimentos por Molly. Mas agora eu percebi que sentia muito mais do que isso.
Eu me apaixonei por ela.
***
Uma mensagem veio quando eu dobrei outra calça na minha mala.
Molly: Devo estar em casa por volta das 7h30. Fui à casa do meu pai
esta tarde para ver como ele estava e perdemos a noção do tempo. Quer que
eu pegue alguma coisa no caminho de volta?
Declan: Não, tudo bem. Aproveite seu tempo com seu pai.
Uma hora depois, eu estava fechando minha última mala quando ouvi a
porta da frente se abrir. Eu pretendia sair para a sala de estar e cumprimentá-
la para que pudéssemos conversar antes que ela notasse toda a minha bagagem,
mas ela veio ao meu quarto antes que eu pudesse terminar.
— Ei, o que você acha de nós... — A voz de Molly foi sumindo, e sua
sobrancelha franziu enquanto ela olhava para as malas na minha cama. — Você
já está embalado?
— Sim.
Ela caminhou até uma gaveta aberta e vazia da cômoda e fechou-a antes
de abrir a que estava embaixo.
Vazia.
Ela a fechou silenciosamente e passou para a que estava embaixo dela.
Novamente vazia.
— O que está acontecendo, Declan? Você não deixou nenhuma roupa de
fora.
Ela fez a pergunta, mas seu rosto me disse que ela já sabia a resposta.
Sentei-me na cama e dei um tapinha no local ao meu lado. — Venha se
sentar.
Durante os meses que morei aqui, provavelmente houve meia dúzia de
vezes em que deveria ter mentido para ela – como quando admiti que Julia e eu
tínhamos brincado, ou melhor ainda, quando eu disse a ela que tinha
sentimentos por ela. Mas eu fui basicamente honesto. Então, as palavras de
merda que eu disse agora tinham um gosto extra azedo saindo da minha boca.
— Houve uma mudança de planos. O cara que trabalhava com nosso
cliente em Wisconsin teve uma emergência. Então, meu chefe me disse que eu
preciso chegar mais cedo.
Molly parecia em pânico. — Quando?
Engoli. — Esta noite. Estou com reserva no último voo de O'Hare. Sai
alguns minutos antes das onze.
— Mas... mas... isso significa que você tem que ir para o aeroporto por
volta das oito e meia?
— Oito e quinze, na verdade. Eu tenho um carro vindo para mim.
— Oh meu Deus, Declan. Não! É muito cedo. Não passamos nenhum
tempo juntos.
Eu olhei para baixo e balancei a cabeça. — Eu sei, sinto muito.
Molly olhou para o relógio. — Por que você não me ligou ou me mandou
uma mensagem mais cedo? Eu teria voltado para casa em vez de ver meu pai
esta noite.
— Seu tempo com seu pai é importante. Eu não queria que você se
apressasse.
— Mas meu tempo com você também é importante. — Ela se aproximou
e pegou minha mão. Parecia tão certo, o que tornava o que eu estava fazendo
ainda mais difícil.
Eu limpei minha garganta. — Vamos. Por que não vamos para a
cozinha? Eu fiz o jantar para você e deixei água fervendo. Deixe-me alimentá-la
mais uma vez antes de ir.
Molly e eu ficamos em silêncio enquanto a conduzia para fora do meu
quarto. Eu mudei meus planos de fazer aperitivos para fazer nhoque fresco,
então eles só precisavam ferver por três a quatro minutos. A água já estava
fervendo, então levantei para ferver antes de começar a aquecer o molho de
creme.
— Vai levar apenas cinco minutos. Peguei um pouco do vinho que você
gosta. Você quer uma taça?
Molly se sentou à mesa. Seu rosto estava sombrio, mas ela balançou a
cabeça e tentou um sorriso, embora tenha falhado miseravelmente.
— Aqui está. — Eu coloquei uma taça de seu branco favorito na frente
dela.
O clima na sala era sombrio enquanto eu preparava o jantar. Fiz dois
pratos e coloquei-os sobre a mesa.
— Coma, — tentei brincar. — Esta pode ser sua última boa refeição por
um tempo, agora que você vai cozinhar para si mesma.
Molly empurrou a massa com o garfo. Finalmente, ela olhou para mim. —
O que você faria se eu não voltasse para casa?
— O que você quer dizer?
— Eu disse que estaria em casa por volta das sete e meia. Mas e se meu
trem travasse ou algo assim? Você ia sair sem se despedir?
Eu não tinha me servido vinho, mas mudei de ideia agora e enchi uma
taça. — Não sei. Mas você chegou em casa. Então isso realmente não importa,
não é?
Molly me surpreendeu levantando a voz. — Sim. Isso realmente importa!
Eu levanto minhas mãos. — Está bem, está bem. Eu acho que eu teria te
ligado para dizer adeus, então?
Ela balançou a cabeça. — Mesmo? Depois dos últimos meses, você teria
simplesmente saído pela porta – sem nem mesmo se despedir de mim
pessoalmente?
Passei a mão pelo cabelo e balancei a cabeça. — Eu não sei, Molly. Não
aconteceu assim, então eu realmente não posso ter certeza do que eu teria feito.
Molly empurrou a cadeira para trás, a parte inferior raspando no azulejo
enquanto ela se levantava. — Sim, podemos ter certeza. Porque você acabou de
me dizer que teria saído sem se despedir! — Ela se virou e marchou em direção
a seu quarto.
— Onde você está indo?
— Ficar sozinha. Já que você não se importa se você se despedir de mim
pessoalmente, não precisamos passar esse tempo juntos.
— Molly, espere!
A resposta dela foi uma batida de porta – tão forte que fez as paredes da
sala tremerem. Eu fechei meus olhos. Foda-se.
Fiquei sentado na cozinha por alguns minutos. Mas então peguei a hora
no micro-ondas e uma onda de pânico me atingiu. Dezenove minutos. Eu tinha
dezenove malditos minutos restantes com Molly, e ela estando chateada ou não,
de jeito nenhum eu iria gastá-los sozinha. Fui até o quarto dela, bati suavemente
e esperei.
Sem resposta.
Então bati uma segunda vez e abri a porta com um rangido. — Moll
— Vá embora.
A dor em sua voz era palpável.
— Estou entrando.
Eu dei a ela dez segundos para me parar, mas quando ela não o fez, eu
abri a porta o resto do caminho.
Porra. Ela estava chorando.
Fechei meus olhos e engoli em seco antes de caminhar até a cama e me
sentar ao lado dela.
— Molly, sinto muito. Eu não queria te aborrecer. Só... não tenho ideia de
como fazer isso. Não sei como dizer adeus a você. Nos últimos meses, você se
tornou uma parte tão importante da minha vida.
Seus ombros começaram a tremer alguns segundos antes de ouvir o som.
— Venha aqui... — Eu a virei e a envolvi em meus braços. Acariciando
seus cabelos, falei baixinho. — Não chore, querida. Por favor, não chore.
— Eu vou sentir muito a sua falta.
— Eu sei. E eu vou sentir sua falta. — Segurei seu rosto em minhas mãos,
enxugando as lágrimas em seu rosto. — Posso estar indo embora, mas estou
deixando um pedaço de mim para trás, Molly. — Olhei direto nos olhos dela. —
E estou levando um pedaço de você comigo. Sempre teremos isso. Não estaremos
fisicamente no mesmo lugar, mas isso não muda o quanto eu me importo com
você.
Molly fungou. — Será que vamos conversar todos os dias?
Eu sorri. — Dr. Dick provavelmente vai odiar isso. Tão absolutamente
fodido.
Ela riu em meio às lágrimas. Tudo que eu queria fazer era beijar seu rosto
lindo, vermelho e manchado, mas eu sabia que isso tornaria as coisas mais
difíceis. — Sério, Moll. — Peguei suas mãos e entrelacei seus dedos com os
meus. — Obrigado pelos últimos meses. Não sei como você fez isso, mas sinto
que você me mudou como pessoa.
Molly acenou com a cabeça. — Eu sei o que você quer dizer. Eu me sinto
da mesma forma.
Antes que pudéssemos dizer qualquer outra coisa, meu celular vibrou no
meu bolso. Eu queria ignorá-lo, mas tive a sensação de que poderia ser o
motorista, então, relutantemente, soltei uma de suas mãos e o tirei.
Eu fiz uma careta lendo o texto. — Meu carro está aqui. Alguns minutos
adiantado. Não há nenhum lugar para estacionar, então ele vai dar a volta no
quarteirão até eu descer.
Lágrimas renovadas começaram a encher os olhos de Molly. Eu empurrei
uma mecha de cabelo atrás da orelha. — Chega de chorar, linda. Não vamos nem
dizer adeus. Volto em alguns meses, lembra? Então é mais como um te vejo mais
tarde.
Embora fosse verdade que eu poderia estar de volta, as coisas não seriam
as mesmas. Ela teria passado muito tempo se aproximando de Will e... bem, isso
provavelmente seria o fim de quem ela e eu éramos um para o outro neste
momento. Eu beijei sua testa. — Vejo você em breve, Mollz.
Fiquei muito orgulhoso dela por não chorar de novo enquanto me
acompanhava até a porta. Dei-lhe um último abraço e tirei minhas malas. — Se
cuida, querida.
Levou tudo em mim para colocar um pé na frente do outro e ir
embora. Meu coração queria tanto ficar. Mas de alguma forma consegui entrar
no carro que esperava. Lá dentro, eu olhava para a frente, embora eu sentisse
os olhos de Molly em mim pela janela. Eu sabia que ela estava esperando que eu
olhasse para trás. Mas eu não poderia fazer isso com ela. Só ficaria mais difícil
se ela visse as lágrimas no meu rosto. Então eu olhei para baixo. Adeus, Molly.
CAPÍTULO 23
Molly
Uma semana depois, meu pai estava no hospital para fazer um exame. Era
meu dia de folga, então fui com ele. Eu queria passar o máximo de tempo que
pudesse com ele e também queria dar à Kayla algum tempo para fazer suas
coisas. Ela esteve ao seu lado quase todos os minutos desde seu diagnóstico.
Eles levaram papai de volta alguns minutos atrás, então eu sentei na sala
de espera vazia sozinha. Enquanto eu folheava uma revista, Will entrou,
carregando um café em cada mão.
— Ei, — eu disse. — Eu não pensei que você estivesse trabalhando hoje.
— Eu não estou. Vim para te fazer companhia. — Ele se inclinou e beijou
minha bochecha antes de tomar o assento vazio ao meu lado.
— Você fez? Obrigada. Isso é tão querido.
Ele estendeu a mão com um dos copos de isopor, puxou-o de volta e
trocou. — Na verdade, este é seu. É preto. O meu tem creme e açúcar.
Sua consideração me fez sentir culpada. Eu o evitei principalmente na
última semana, desde que Declan partiu. Eu não estava com vontade de passar
tempo com outro homem. Na verdade, tinha sido um esforço sair da cama na
maioria dos dias, então fingir estar feliz era mais do que eu poderia suportar.
Will retirou a guia de plástico da parte superior de seu café. — Como está
seu pai?
Suspirei. — Ele perdeu muito peso e seu tom de pele não está bom. Mas
ele está fazendo o possível para estar de bom humor.
Will assentiu e pegou minha mão. O gesto foi doce, mas também me
lembrou de quão forte Declan segurou minha mão naquela noite antes de
partir. O que, por sua vez, me fez sentir ainda mais culpada. Eu estava sentada
ao lado de um homem que estava tentando tanto estar aqui para mim, mas eu
estava pensando em outra pessoa.
— Espero que não se importe que eu diga isso, mas parece que você perdeu
algum peso também, — disse ele. — Eu ouvi você dizer a mais de um novo pai
que é importante cuidar dos cuidadores. Eu gostaria de fazer isso por você,
Molly. Você não precisa carregar tudo sozinha.
Deus, sou uma pessoa horrível. O cara com quem eu deveria namorar se
ofereceu para cuidar de mim porque eu estava triste. E parte do motivo de eu
estar triste era por causa de outro homem.
Apertei a mão de Will. — Obrigada. Isso significa muito para mim.
Durante a meia hora seguinte, nossa conversa mudou para tópicos mais
leves. Conversamos sobre o trabalho, quem estava dormindo secretamente com
quem este mês, e Will me manteve entretida, contando-me sobre todas as coisas
bizarras que ele viu raspadas na área privada de uma mulher ao longo dos anos.
— Alguém realmente raspou o logotipo da Chanel lá?
— Como eu poderia inventar essa merda?
Eu ri e percebi que era a primeira vez em uma semana. Mas então meu
celular tocou e meu sorriso esmaeceu. O nome de Declan brilhou na tela. E eu
não fui a única que percebeu.
Will me olhou e tomou um gole de café. — Você não vai atender isso?
Eu balancei minha cabeça. — Ligarei para ele mais tarde. Ele sabia que
meu pai tinha uma consulta, então provavelmente estava checando para ver
como as coisas correram.
Will assentiu, mas não disse nada.
Desde que eu estava me esquivando dele, ele não sabia que Declan tinha
partido. Achei que seria uma boa hora para informá-lo.
— Ele se mudou para Wisconsin, — eu disse.
As sobrancelhas de Will se ergueram. — Declan se mudou?
Eu concordei. — Ele teve uma mudança em sua atribuição de trabalho.
— Esta é uma mudança permanente?
— Não. Mas Declan realmente mora na Califórnia. Ele pode voltar por
algumas semanas depois de terminar em Wisconsin, mas então ele vai voltar
para casa em Newport Beach para sempre.
— Não sabia que ele não morava aqui.
Claro, desde que eu usei Declan para deixar Will com ciúmes, eu não
mencionei esse boato.
— Sim. Ele nunca esteve aqui permanentemente.
Will sorveu mais um pouco o café em silêncio. Na próxima vez que ele
falou, ele se mexeu na cadeira para olhar para mim. — Como você se sente sobre
isso?
— Sobre Declan ter partido?
Ele assentiu.
Meu relacionamento com Will começou com uma mentira – Declan e eu
fingindo ser um casal. Se tivéssemos alguma chance real de as coisas
funcionarem, eu precisava ser honesta. Então eu seria, mesmo que não fosse o
que ele queria ouvir.
— Estou triste por ele ter ido embora. Tínhamos nos aproximado. Mas ele
é um bom amigo e queremos manter contato. — Eu pausei. — Isso vai te
chatear?
Will olhou nos meus olhos. — Isso é tudo que vocês são agora? Apenas
amigos?
Quer meu coração quisesse mais ou não, isso é o que éramos agora. Então
eu balancei a cabeça.
Will balançou a cabeça. — Então, não, eu não vou deixar isso me
chatear. Eu estaria mentindo se dissesse que não tenho um pouco de ciúme do
seu relacionamento com ele. Mas se você diz que são apenas amigos, isso é bom
o suficiente para mim. Agora você precisa de todos os seus amigos para apoiá-
la, mesmo se um deles for muito bonito para o meu gosto.
Eu sorri. — Obrigado pela compreensão, Will.
Ele apertou minha mão. — Apenas lembre-se, eu posso estar aqui para
você também. Tudo que você precisa fazer é me permitir.
CAPÍTULO 24
Molly
Molly: Peguei o que você deixou na garrafa de Advil. Fez-me sorrir :-)
Ele respondeu com uma foto sua se preparando para morder um grande
pedaço de queijo.
15 Na verdade, em inglês “diga cheese”, ele se refere a ela sorrir.
Molly: Sim. Por que você pergunta?
Declan: O Advil?
Oh. Duh.
Mais tarde naquela semana, Will visitou meu apartamento pela primeira
vez. Você pensaria que em todas as semanas que o tenho visto, ele teria vindo
pelo menos uma vez. Mas eu nunca sugeri isso enquanto Declan estava morando
aqui, e eu fiz um ótimo trabalho em evitar a situação como uma praga. Portanto,
sua vinda estava muito atrasada.
Quando abri a porta, Will parecia tão bonito e segurava um enorme buquê
de flores. Ele o entregou para mim antes de me puxar para um abraço. — Ei
linda. Como você está?
Cheirei o arranjo de lírios e hortênsias. — Eu estou bem. Muito obrigada
por isso.
— Bem, esta é uma ocasião muito grande, finalmente conseguindo ver seu
apartamento. — Ele olhou ao redor. — Lugar legal.
— Obrigada. — Fui até minha pia e tirei um vaso de baixo dela.
Will se encostou no balcão enquanto eu arrumava as flores. — Você disse
que seu colega de quarto saiu recentemente, certo?
Engoli o nó na minha garganta. Obviamente, Will nunca soube que meu
misterioso companheiro de quarto e Declan eram o mesmo. Eu odiava mentir
para ele, mas não podia arriscar admitir tudo agora.
— Sim... Ele saiu, e agora eu tenho que encontrar outra pessoa. Mas ele
pagou o aluguel até o fim de seu compromisso original, então ainda tenho alguns
meses antes de ter que encontrar alguém.
— Bem, esta será uma boa pausa de ter que compartilhar seu espaço, —
Will disse enquanto continuava a examinar o lugar.
— Eu definitivamente prefiro morar sozinha, mas as finanças exigem que
eu tenha um colega de quarto.
Will lançou um olhar simpático. — Entendo. É caro morar na cidade, e
esse é um lugar legal em um ótimo bairro. Antes de pagar meus empréstimos
estudantis, sempre tive que ter colegas de quarto também. — Ele sorriu. — Em
qualquer caso, estou feliz por ter você só para mim esta noite. — Ele estendeu
a mão para me puxar para perto. — Venha aqui.
Achei que ele fosse me beijar, mas, em vez disso, ele me virou e colocou as
mãos nos meus ombros.
— O que você está fazendo?
— Você parece tensa. Eu quero ajudar. — Ele começou a massagear.
Fechei meus olhos e saboreei a sensação de suas mãos fortes no meu
pescoço e depois nas minhas costas. Pensei na sorte que tive por ter essas mãos
comigo; elas traziam vida ao mundo quase todos os dias, e agora eles estavam
dando uma pausa nisso apenas para me fazer sentir bem.
— Você sabe o que é uma merda? — ele perguntou enquanto continuava
a esfregar meus ombros.
— O quê?
— Eu realmente gostaria de poder cozinhar. Eu tenho esse desejo de fazer
o jantar para você esta noite – cuidar de você – mas não posso cozinhar para
salvar minha vida. — Ele abaixou as mãos e circulou os nós dos dedos contra a
parte inferior das minhas costas.
Foi muito bom. Fechei meus olhos novamente. — Você tem tanto a seu
favor. Se você fosse um ótimo cozinheiro acima de tudo, isso quase o tornaria
bom demais para ser verdade.
Ele riu. — Eu não sei sobre isso.
— Eu sei.
— Eu tenho uma ideia, — ele disse, me virando para me abraçar. — Que
tal pedirmos daquele grande restaurante italiano na rua, e vou fingir que fiz
isso? Eu vou servir para você.
Meu rosto ficou momentaneamente quente. A comida da Nonna me
lembrou do meu jantar remoto com Declan. Não sei por que me senti culpada,
porém eu sentia. Mas isso era bobagem. Eu precisava apenas aproveitar este
momento.
— Eu acho que soa incrível, — eu finalmente disse.
Quando Will saiu para pegar a comida, usei o banheiro e atualizei minha
maquiagem. Coloquei algumas das músicas de jazz favoritas de Will e, com o
passar dos minutos, comecei a ficar animada com sua volta.
Depois que ele voltou, Will preparou nossa comida para viagem, insistindo
que eu o deixasse servir a mim enquanto eu me sentava à mesa.
— Por que você está sendo tão legal comigo esta noite? — Eu perguntei.
— Porque eu sei que você está sob muito estresse e quero tirar sua mente
disso, — disse ele, usando uma pinça para retirar o linguini. — Eu trabalho
muito e nossos horários nem sempre coincidem, então preciso aproveitar
qualquer oportunidade que eu tiver para mostrar o quanto você está começando
a significar para mim.
Isso me fez sentir quente por dentro. — Você está começando a significar
muito para mim também.
Will trouxe nossos pratos para a mesa. — Vinho com jantar, certo?
— Eu adoraria. — Eu fiquei de pé. — Eu posso abri-lo.
Ele estendeu a mão. — Não, estou servindo você, lembra? Deixe-me.
Ele foi até o balcão e tirou duas garrafas de vinho que comprou de uma
sacola de papel.
— Eu não tinha certeza se você gostaria de tinto ou branco. Então comprei
um sauvignon blanc e um cabernet.
— Branco está ótimo.
— Você ganhou. — Ele piscou.
Eu apontei. — O abridor está na segunda gaveta à esquerda.
Will pegou o abridor e tirou duas das minhas melhores taças de
vinho. Essas eram as que eu reservava para convidados, então achei que seria
apropriado usá-las esta noite.
— Huh, — disse ele, examinando a taça.
— O quê?
— Há um M&M rosa em uma dessas taças.
Meu coração apertou. Declan apareceu para dizer olá – ou talvez foda-se
para Will. Esta noite foi provavelmente a mais longa que passei sem pensar nele.
Will colocou o M&M na boca e o mastigou. Isso parecia errado, simbólico
de alguma forma, como se ele estivesse comendo o último dos meus sentimentos
persistentes por outro homem.
Ele se aproximou com as duas taças de vinho. — Aqui está, querida.
— Obrigada. — Eu tomei um longo gole.
Ouvíamos jazz enquanto devorávamos a comida deliciosa. Como sempre,
conversamos muito sobre trabalho durante o jantar.
Depois, Will encheu nossas taças de vinho antes de irmos para o sofá. Foi
relaxante apenas sentar com ele e ouvir música sem ter que falar muito.
— Eu posso confessar uma coisa? — Eu perguntei, olhando para seu rosto
lindo.
Ele agarrou minha mão. — Claro.
— Eu costumava ter uma queda maior por você, antes de começarmos a
namorar.
Will sorriu e apertou minha mão. — Eu amo isso.
— Baseava-se principalmente na sua aparência e na minha admiração
pela maneira como você trata seus pacientes. Mas minha impressão de você não
é nada comparada com a realidade. Você é um bom médico, mas mais do que
isso, você é um grande homem, Will.
— Veremos? Agora tenho que te beijar. — Ele se inclinou e pegou minha
boca com a sua.
O gosto do vinho imediatamente foi registrado enquanto nossas línguas
dançavam. Will era um beijador incrível. Quando finalmente consegui me
desvencilhar dele, esfreguei meus lábios inchados.
Ele colocou sua taça de vinho na mesa e me puxou para descansar minha
cabeça em seu peito. Ele beijou o topo do meu cabelo. — Diga-me o que você
está pensando.
Minha voz estava abafada quando falei em seu peito. — Eu não sei… estou
animada. Animada com o futuro, eu acho, mas também com medo dos próximos
meses em termos de meu pai.
Ele esfregou o topo do meu braço. — Acho que você precisa de algo pelo
qual ansiar.
Eu olhei para ele. — O que você quer dizer?
— Vamos fazer um pacto. Se as coisas estiverem indo bem conosco em seis
meses, tiraremos nossas férias ao mesmo tempo e iremos a um lugar incrível.
Ele quer viajar comigo? — Eu não posso te dizer a última vez que tirei
férias, — eu disse.
— Já faz alguns anos para mim.
Eu me senti tonta. — Para onde você gostaria de ir?
Um sorriso cruzou seu rosto. — Estou pensando em algo como... Havaí. O
que você diz?
Havaí? Havaí com Will parecia um sonho. Mas havia um problema não
tão pequeno. Eu não tinha certeza se poderia pagar.
Como se pudesse ler minha mente, ele disse: — Eu pagaria, é claro.
Eu balancei minha cabeça. — Você não tem que fazer isso. Eu posso
economizar para isso. Eu...
— Eu quero. Isso não está em debate. Se não posso gastar meu dinheiro
com alguém que gosto, com quem posso gastá-lo? Esta será uma viagem épica e
não quero que se preocupe com o aspecto financeiro. Eu só quero que aproveitar.
Minha boca estava aberta. — Bem, eu nem sei o que dizer.
Sua sobrancelha se ergueu. — Diga que você vem.
— Sim! — Sentei-me para abraçá-lo. — Sim, claro que irei – supondo que
a situação com meu pai permita.
— Eu não quero que você se estresse com isso também. Se reservarmos as
passagens, vou conseguir um seguro caso tenhamos que mudar nossos planos.
Incrível. Will parecia firmemente no campo de compromisso esta noite, e
parecia que eu tinha ganhado na loteria.
CAPÍTULO 25
Declan
Declan
— Olá pai.
— Declan! O que você está fazendo aqui? — Meu pai tirou os óculos e se
levantou da poltrona reclinável, envolvendo-me em um abraço de urso. — Eu
pensei que você estava vagando pelo país por causa daquele seu trabalho
chique?
Eu sorri. — Ainda estou trabalhando em Wisconsin – acabei de voltar para
casa no fim de semana prolongado. Desculpe, não liguei. Foi uma decisão de
última hora. — Tipo, acordei hoje de manhã e fui para o aeroporto sem ter
passagem aérea nem saber o horário do voo.
— Você nunca precisa ligar. Mas você acabou de perder sua mãe. Ela foi
visitar sua tia Gloria. Ela fez uma cirurgia no pé, então sua mãe a tem ajudado
todos os dias.
Larguei minha mochila no chão e me sentei no sofá em frente à cadeira
favorita do meu pai. — Eu não sabia disso. Como ela está?
— É. Você conhece a sua tia Glória… Ela faz de tudo um caso federal e
adora a atenção. Mas o médico disse que ela está se curando muito bem.
Isso parecia certo. Tia Gloria adorava ter gente mexendo com ela. — Que
tal mamãe? Como ela está?
— Bom, bom. Teve um início de artrite recentemente. Mas isso é normal
na nossa idade.
Eu concordei. — Que tal sua... saúde mental?
As sobrancelhas do meu pai baixaram como se ele não tivesse ideia do que
eu estava falando. — Sua mãe está bem.
Papai gostava de fingir que não havia nada de errado, então a condição de
mamãe não era algo sobre o qual conversamos com ele – especialmente eu, desde
que eu era o mais novo. Foram minhas irmãs que me explicaram as coisas pela
primeira vez quando eu tinha oito ou nove anos e comecei a perceber que outras
mães não passavam dois meses na cama, seguidos por três meses cantando,
trabalhando artesanalmente, cozinhando e limpando a casa incessantemente em
todas as horas da noite.
Passei a mão pelo cabelo. — Sei que não falamos sobre isso, mas me
preocupo com a saúde mental da mamãe.
— Você não precisa se preocupar com isso.
— Sim, eu preciso, pai.
Ele me encarou com um olhar de advertência. — Não, você não precisa.
Suspirei. Meu pai era um bom pai – um ótimo pai, até. Quando eu era
criança, ele voltava para casa depois de trabalhar dezesseis horas por dia e ainda
jogava bola comigo no quintal. Ele comparecia a todos os eventos de times de
beisebol, hóquei e natação e nunca perdia um doloroso show do gravador. Ele
garantiu que jantássemos na mesa todas as noites, mesmo que mamãe estivesse
na cama, e ele calmamente pegou toda a folga durante seus tempos sombrios.
Mas o que ele não fez foi falar sobre isso. E até hoje, eu não tinha certeza
de quem ele estava tentando proteger – minha mãe, ou eu e minhas irmãs.
— Pai... podemos falar sobre isso por um minuto?
Meu pai se levantou. — Não há nada para falar. Vou fazer um chá para
nós.
Eu o segui até a cozinha. Encostado no balcão, observei enquanto ele se
ocupava em encher o bule e preparar as canecas com os saquinhos de chá. Se
eu não pressionasse, essa conversa não aconteceria. Na verdade, isso poderia
não acontecer mesmo se eu empurrasse. Ainda assim, eu precisava
tentar. Estava muito atrasado.
— Você sabia como mamãe era antes de você se casar?
— Não vou falar sobre isso.
— Mas eu preciso de você.
— Não. Você não precisa. — A chaleira começou a assobiar, então ele a
ergueu e despejou a água nas canecas. Depois de colocar o chá em infusão, ele
colocou açúcar na mesa e se sentou.
— Pai...
Ele soltou um suspiro alto. — Que diferença isso faz para você? Sua vida
é o que era, independentemente do que eu sabia e do que não sabia, e acho que
demos a você uma infância muito boa.
— Vocês deram. Absolutamente. Tive uma ótima infância.
— Então por que você precisa bisbilhotar? Nada disso mudará
nada. Melhor não remexer essas coisas, filho.
Sentei-me em frente a ele e esperei até que ele olhou para cima e me deu
toda a sua atenção. Então eu respirei fundo. — Eu... às vezes me preocupo com
a possibilidade da minha depressão progredir para algo mais, ou talvez ainda
não tenha desenvolvido todos os sintomas que terei. Bipolar é hereditário. Eu sei
que você sabe disso.
Meu pai fechou os olhos. — Merda. — Ele levou um minuto e então
acenou com a cabeça. — As coisas estão piorando para você?
— Nada que eu não possa controlar. Ainda luto com alguns pontos baixos
às vezes, mas meu médico tem sido ótimo e, depois que ele ajusta meu remédio,
consigo me recuperar. Eu não passo meses para baixo seguidos por meses de
altos, ou qualquer coisa... ainda.
— Como está dormindo?
— Bem. Nenhum problema aí.
Meu pai olhou para sua caneca. Eventualmente, ele suspirou. — Sua mãe
e eu nos casamos muito jovens. Eu tinha vinte e um e ela vinte. Ela sempre teve
muita energia às vezes, onde não precisaria de mais do que algumas horas de
sono, mas então chegaria um ponto em que ela desabaria.
— Então você sabia sobre o transtorno bipolar dela antes de se casar?
Meu pai franziu a testa. — Não. Eu sabia que ela era diferente. Mas eu não
sabia a extensão das coisas. Demorou cerca de cinco anos antes de progredir
para um nível que não podíamos mais atribuir às mudanças de humor.
Eu tinha lido o suficiente sobre o assunto para saber que a idade média
de início era de 25 anos, então parecia que minha mãe se encaixava
perfeitamente na norma.
— Isso teria... mudado as coisas se você soubesse?
A testa do meu pai se enrugou. — O que você está me perguntando?
Eu balancei minha cabeça. — Eu não sei, pai.
Meu pai olhou para mim por um tempo. — Eu não vou adoçar. Viver com
alguém com transtorno bipolar pode ser muito difícil. Mas nunca houve um
único dia em que me arrependi de ter pedido a sua mãe para ser minha esposa.
Eu olhei para baixo. — Eu sei que você teve Catherine antes dos vinte e
cinco anos, então talvez arrependimento não seja a palavra certa.
— Não, definitivamente não é a palavra certa. Mas acho que entendo aonde
você quer chegar. Se eu soubesse totalmente sobre a condição de sua mãe, teria
ido embora, e a resposta é absolutamente não.
Eu balancei minha cabeça. — Como você pode ter tanta certeza?
— Porque eu tiraria trezentos e sessenta e quatro dias ruins por ano só
para ter sua mãe por um bom dia, Declan. Sua mãe me deixa feliz. Temos nossos
altos e baixos, talvez mais do que a maioria, mas ela é a luz da minha vida. Eu
pensei que você sabia disso, considerando quantos filhos nós temos.
Isso me fez rir. — Sim, eu acho que sim.
Meu pai tocou meu braço. — Você falou com o médico sobre suas
preocupações?
— Não.
Meu pai acenou com a cabeça. — Você sabe que precisa, certo?
Eu soltei um suspiro profundo. — Sim.
— Bom. Há muitas coisas na vida que não podemos controlar. Mas você
não pode ficar sentado esperando por algo que pode nem acontecer. Porque
então você não está realmente vivendo – você fica parado.
Suspirei. — Eu sei.
Meu pai me estudou. — Você sabe, hein? Então eu quero que você me
prometa algo.
— O quê?
— Não se menospreze. Presumo que haja um motivo para você querer ter
essa conversa hoje. E esse motivo fica bem em uma saia.
Eu sorri. — O nome dela é Molly.
— Bem, Molly teria muita sorte em ter você. Assim como você, filho. Não
importa em que estrada a vida o leve. Acredite em mim, eu sei disso em primeira
mão. Às vezes, uma estrada acidentada leva você aos melhores lugares.
Embora eu não concorde necessariamente com ele, eu sabia que meu pai
tinha boas intenções. Então, fingi que ele me ajudou a resolver meu dilema. —
Obrigado, pai.
***
Meu tempo na Califórnia era limitado. Mas não havia como voltar para
casa e não ver minha irmã favorita. No domingo, decidi fazer uma viagem ao
convento para visitar Catarina. Ela ficava quatro horas ao norte em San Luis
Obispo.
Quando cheguei, algumas freiras estavam jogando basquete na quadra
perto da frente da propriedade. Foi uma confusão vê-las quicando a bola na
calçada, a maioria delas com saias na altura dos joelhos ou mais. Se alguém
pensava que tudo o que as freiras faziam era sentar e orar, isso provou que
estavam errados. Algumas dessas senhoras poderiam me envergonhar na
corte. Catherine sempre me contava sobre suas saídas também. Elas faziam
aulas de ginástica juntas, iam dar palestras em escolas e se ofereciam em muitos
lugares. Era um estilo de vida muito ativo. O que era bom porque, se eu fosse
forçado a ser celibatário, com certeza precisaria de distrações também. Mas
sejamos realistas, essa nunca seria minha realidade. Eu não sei como minha
irmã fez isso. Mas esta foi a vida que ela escolheu levar.
Sempre tive que esperar do lado de fora até que Catherine saísse para me
buscar. Como ela não tinha celular, tinha que discar para a linha principal e
pedir que alguém dissesse que eu estava aqui.
Catherine finalmente emergiu e estendeu os braços para me cumprimentar
enquanto eu estava na base da escada.
Ela me deu um abraço. — Como foi a viagem, irmãozinho?
— Muito tempo, mas vale a pena ver você, irmã-irmã.
Ela usava um vestido cinza simples e uma pequena cruz em volta do
pescoço. A ordem de Catherine era menos rígida do que outras. Eles não
precisavam usar os hábitos tradicionais. Vamos colocar desta forma: eles eram
tão estilosos quanto as freiras poderiam ser.
Fiz um gesto para o tribunal. — Como é que você não está jogando lá fora?
— É a minha vez de preparar o jantar esta noite. Tive que começar a
prepará-lo. — Ela encolheu os ombros. — Joguei ontem.
Fiz a pergunta que sempre fazia quando ia visitá-la. — Eu coloquei meu
carro na frente e pronto para ir. Tem certeza de que não quer pular esta
articulação e nunca mais olhar para trás?
Ela revirou os olhos. — Sem chance.
Claro que estava brincando. Ela sabia disso agora. Embora, alguns anos
atrás, eu pudesse estar falando sério.
Catherine teve muito cuidado ao escolher uma ordem que lhe permitisse
ver seus amigos e familiares. Algumas freiras em outros conventos foram
mantidas afastadas de seus entes queridos. Embora eu tivesse que marcar
horário, fiquei grato por ser bem-vindo aqui. Eu não conseguia imaginar não ter
permissão para vê-la.
Caminhamos pelo campo gramado que cercava o local.
— Fiquei surpresa quando você me disse que estava de volta aqui há tão
pouco tempo, — disse ela.
— Sim. Bem, eu precisava de uma pausa de Wisconsin.
Ela inclinou a cabeça. — Laticínios.... demais?
— Nah. O queijo é a melhor parte. — Eu ri. — Não é o suficiente de tudo
o mais, como minha família.
— Quando você volta?
— Amanhã. — Suspirei. — Eu gostaria de poder ficar na Califórnia mais
alguns dias, no entanto.
— Você sente tanta falta de casa? É por isso que você está aqui? É um
caminho terrivelmente longo para percorrer apenas alguns dias.
— Bem, eu precisava fazer um exame de consciência. E eu queria falar
com papai, em particular – e ver você, é claro.
Catherine foi a única com quem conversei longamente sobre minhas crises
de depressão ao longo dos anos. Mas, mesmo assim, nunca expressei minha
preocupação mais profunda a ela: que temia me tornar nossa mãe. Catherine
não percebeu até que ponto isso me atormentava.
Um olhar de preocupação cruzou seu rosto enquanto ela gesticulava em
direção a um banco perto de um monumento de Santa Maria. — Vamos sentar.
Eu olhei para dois pássaros se reunindo na cabeça da Mãe Santíssima e
finalmente disse: — Vou falar com o Dr. Spellman. Eu continuo esperando que
as coisas piorem.
Ela inclinou a cabeça. — Piorem como?
Eu olhei minha irmã nos olhos. — Você sabe...
Catherine ajustou a cruz de ouro em volta do pescoço. — Não, eu não. O
que você está dizendo?
Eu hesitei. — Acho que é só uma questão de tempo antes de limpar o chão
do banheiro com uma escova de dente às duas da manhã, Cat. E se eu acabar
com transtorno bipolar como mamãe? — Engoli.
Ela franziu o cenho. — Só porque você luta contra a depressão, isso não
significa que você tenha exatamente o que mamãe tem.
— No mês passado, eles tiveram que ajustar meus remédios
novamente. Perdi alguns dias de trabalho e estava me sentindo muito mal.
— Ok... bem, isso ainda soa como depressão. Você sabe que os
medicamentos precisam ser ajustados de vez em quando. Isso é verdade para
quase todas as condições.
— Ou minha doença pode estar progredindo. Conversei com papai e
mamãe não mudou da noite para o dia.
Ela soltou um longo suspiro. — Você não pode tirar conclusões
precipitadas só porque precisava de um ajuste na medicação. Mas vamos
percorrer esse caminho por um momento. O que acontecerá se as coisas
acabarem sendo o pior cenário possível e você for diagnosticado como bipolar
algum dia? Com o que você está realmente preocupado aqui?
— Eu não quero ficar doente, Cat.
Seus olhos se estreitaram. — Ter depressão ou transtorno bipolar não
deixa você doente. Significa apenas que você tem algo com que precisa aprender
a conviver. — Ela fez uma pausa. — Mas o que há de errado com a ideia de ficar
doente, afinal? Todos nós ficamos doentes, seja mental ou fisicamente, em algum
momento. Ninguém escapa desta vida ileso.
— Sim, — eu murmurei enquanto olhava para os pássaros novamente,
ouvindo-os cantar.
Minha irmã colocou a mão no meu braço. — Ninguém jamais saberia que
às vezes você sofre por dentro. A maioria das pessoas provavelmente pensa que
você é um cara tranquilo e despreocupado. Você pode se esconder muito atrás
de um sorriso.
— Sim, eu tento.
— Você não deveria ter que trabalhar tanto para agradar aos outros ou dar
a eles uma impressão que não é real. Mas você não está sozinho nisso. Muitas
pessoas escondem sua depressão por trás de personalidades grandiosas. Você
nunca sabe o que alguém está passando por dentro.
Isso me lembrou Molly. Ela sabia muito sobre mim. Mas ela não sabia
nada sobre minha luta contra a depressão. E isso foi minha culpa. Embora ela
sempre fosse aberta sobre suas ansiedades, vendo uma terapeuta e coisas assim,
eu nunca sequer insinuei minhas próprias lutas. Não apenas fui desonesto com
ela nesse sentido, mas agora percebi o quanto o fato de ter que esconder essa
parte de mim acabou impactando meu relacionamento com ela.
— Tive uma percepção neste bar lésbico em Wisconsin...
Os olhos de Catherine se arregalaram. — Não vou perguntar o que você
estava fazendo em um bar lésbico. — Ela riu. — Mas diga-me mais.
— Minha preocupação em acabar como mamãe é a força motriz por trás
de muitas das minhas ações, particularmente a maneira como lidei com a
situação de Molly. Acho que é por isso que a deixei escapar tão facilmente,
porque não admiti meus sentimentos ou lutei mais por ela. Eu me sabotei, para
não ter que lidar com contar a ela sobre meus piores medos.
— Você se preocupa em se transformar em mamãe, mas percebe que a
probabilidade disso é pequena, certo? Só porque você é filho dela, não significa
que sua experiência será a mesma. Todos são diferentes.
— Entendi. Mas ver o quanto papai teve que lutar contra isso quando
estávamos crescendo me deixou com medo de ser um fardo para alguém. Merda,
mesmo se eu fosse metade tão ruim, que ainda seria muito terrível. Eu sou
jovem. Nada pode acontecer.
— Papai ama mamãe. Ele não a vê como um fardo.
— Sim, você sabe, eu não tinha um verdadeiro entendimento disso até que
falei com ele ontem. Mas ele não sabia que mamãe estava doente quando decidiu
ficar com ela para sempre. Quando as coisas pioraram, ele já havia se
comprometido.
— Onde você quer chegar? Que você deve parar de se apaixonar e alertar
as pessoas para longe de você, no caso de você acabar como a mamãe?
— Bem, sim. Acho que é isso que estou dizendo.
— Não seja tolo, Declan. Acho que você também precisa de tratamento
para ansiedade relacionada à saúde. Você não pode jogar sua vida inteira fora
por medo. Garanto que o medo de acabar como mamãe é muito pior do que a
realidade de ser mamãe ou viver no lugar do papai. Sim, ela teve alguns
episódios difíceis. E foi difícil para todos nós crescer – constrangedor e
humilhante quando isso aconteceu na frente de nossos amigos. Mas ela não foi
tratada por muito tempo. Você tem um bom controle das coisas. E apesar de
todos os momentos ruins com a mamãe, também houve muitos momentos
maravilhosos. A vida tem altos e baixos. E se você ama alguém, você lida com
tudo.
Eu chutei um pouco de grama. — Eu entendo o que você está tentando
transmitir. Mas ainda me sinto culpado por permitir alguém em minha vida
quando às vezes luto para me sentir normal. Não quero colocar isso em outra
pessoa ou fazer com que ela se sinta inadequada quando inevitavelmente cair
em uma depressão da qual ela não consiga me tirar. Não quero que essa pessoa
sinta que não é o suficiente para me fazer feliz, porque a verdade é que, quando
fico assim, nada me deixa feliz, nem mesmo as pessoas de quem gosto.
A sobrancelha dela se ergueu. — Mas sempre passa, não é?
— Sim. — Eu balancei a cabeça e exalei. — Sim. Sempre passou até agora.
— Bem, aí está. É passageiro, não é uma parte permanente de você.
— Eu acho. — Algo nessa declaração me confortou, me permitiu ver
momentaneamente minha depressão como algo fora de mim – algo que se agarra
a mim, mas não está constantemente ligado. Não é uma parte de mim.
Minha irmã inclinou a cabeça. — Você disse há pouco que luta para se
sentir normal. O que é normal, afinal? É normal alguma expectativa da
sociedade de que todos temos que ser perfeitos? Felizes? Bem
sucedidos? Pessoalmente, acho que é mais normal ter falhas. — Ela olhou
fixamente por um momento. — Eu cresci ouvindo que as mulheres deveriam se
casar e ter filhos, certo? Não era popular dizer que você não queria isso. E
quando anunciei que queria abrir mão de todos os meus bens materiais e servir
a Deus, todos – incluindo você – pensaram que eu tinha perdido a cabeça, ou
que era uma fase. Nem todo mundo tem a mesma visão do que é
normal. Liberdade para mim era abrir mão de posses materiais para viver minha
vida por um propósito maior. É o que me deixa feliz. E eu tive que deixar de lado
minha culpa por machucar os outros para conseguir o que eu queria.
— Levei um tempo para aceitar que você está onde deveria estar, — eu
disse.
— Meu ponto é, Declan, você não deve deixar sua culpa ou medo sobre
qualquer coisa ditar suas decisões. Deus é o único juiz verdadeiro. E Ele o leva
às pessoas e lugares que você deveria encontrar. Pessoas como Molly. Mas Ele
também escolhe quais cruzes você suportará e nunca lhe dá nada além do que
você pode suportar. — Ela olhou nos meus olhos. — Você pode lidar com
isso. Você pode lidar com qualquer coisa, desde que coloque sua fé Nele.
Eu gostaria de ter o tipo de fé que minha irmã tinha. Mas confiar que tudo
daria certo sem qualquer evidência visível sempre foi difícil de vender.
***
Na segunda-feira à noite, fui direto para o meu novo bar favorito depois de
pousar em Wisconsin. Não era como se eu tivesse mais nada para fazer aqui.
Belinda estava limpando o balcão quando me viu se aproximando. —
Rapaz, você deve realmente gostar daqui. Não consigo me livrar de você.
— Sim, bem, acabei descobrindo que gosto da música e da companhia.
Ela piscou. — E você não precisa se preocupar em ser paquerado.
— Acho que isso também é verdade.
— O que você quer esta noite? — ela perguntou, seu cabelo vermelho
parecendo ainda mais brilhante do que da última vez.
— Uma máquina do tempo? — Eu ri.
— Uh-oh. Tão ruim, hein?
Hoje cedo, enquanto esperava pelo meu voo, cometi o erro de ir à página
de Molly no Facebook e vi uma nova atualização: Em um Relacionamento com
Will Daniels. Era oficial. Também havia algumas fotos novas que eles tiraram
juntos durante um show de jazz.
Evitei perguntar a Molly sobre o estado das coisas com Will durante nossas
conversas ao telefone porque não queria ouvir. Mas agora eu sabia que eles eram
exclusivos – ou seja, você perdeu o barco, Declan. Aquele barco estava tão longe
da costa agora que não era nem engraçado.
Passei os próximos minutos descarregando para Belinda, como tinha se
tornado meu hábito, contando a ela sobre minha viagem e o novo status de Molly
no Facebook.
Ela se encolheu. — Ai. OK. Mas sempre há esperança, certo? Isso não
significa que sempre será assim. Relacionamentos são difíceis, cara. Esse cara
pode facilmente estragar. Você ainda pode ter uma chance algum dia.
Eu balancei minha cabeça, olhando para o meu copo. — Não sei mais o
que espero, Belinda. Talvez ela esteja melhor com ele. Mas…
— Mas você ainda quer aquela máquina do tempo. — Ela sorriu com
simpatia. — Ok, vamos conversar sobre isso. O que você faria de diferente se
pudesse voltar atrás e mudar as coisas?
Eu ri baixinho. — Uma tonelada de merda.
— Como…
— Tive várias oportunidades de dizer a ela como me sinto e estraguei todas
elas. Eu pegaria um desses momentos de volta. Acho que correria o risco, apesar
de todas as vozes fodidas na minha cabeça me dizendo para não fazer isso.
— E não tem como você fazer isso agora? Contar a ela como você se sente?
— Ela vai pensar que eu só estou fazendo isso porque ela está indisponível
agora. Ela já viu o que aconteceu quando comecei a namorar aquela outra
garota, Julia. Aquela era sobre o jogo – ou talvez eu tenha começado a me
apaixonar por Molly. Meus sentimentos por Molly são diferentes, mas não tenho
certeza se ela veria dessa forma. E isso é minha culpa. Eu esperei muito tempo.
— Suspirei. — Além disso, ela está ficando séria com esse cara agora. Eu não
quero bagunçar nada para ela, se ela estiver realmente feliz. — Engoli o resto
da minha bebida e bati o copo no bar. — É uma merda.
Belinda me serviu de outra bebida e disse: — Tudo bem. Quer saber o
melhor conselho que tenho agora?
Tomei um gole e soltei um pequeno arroto. — Sim.
— Nunca esteja muito longe. Se você se preocupa com ela, apenas
permaneça na vida dela. Dessa forma, se houver uma oportunidade, você não a
perderá. Você não pode detectar as rachaduras na fundação se estiver muito
longe de casa. Entendeu o que estou dizendo? Não tenha medo de perguntar
como estão as coisas com esse cara, porque as maiores pistas virão direto da
boca do cavalo. Mantenha o curso, meu amigo. Se for para ser, será.
Será. Eu ri com a ironia dessa última palavra. Eu balancei a cabeça
enquanto Belinda descia o bar para atender a algumas senhoras à minha direita.
Por mais que eu odiasse ficar preso em Wisconsin, havia alguns
benefícios. Isso me permitiu um lugar neutro para trabalhar em minhas próprias
merdas, ver um médico e lidar com meus problemas sem nenhuma
distração. Mas Belinda estava certa. Se eu quisesse uma chance com Molly, não
poderia me distanciar porque ela estar com outro homem me chateava. Isso era
uma coisa idiota de se fazer. Eu precisava de todas as informações que pudesse
obter.
Ainda bem que o bar ficava a apenas uma curta caminhada do meu hotel,
porque eu definitivamente bebi demais. Isso também significava que não estava
de bom juízo quando mandei uma mensagem para Molly no caminho para casa.
Molly
***
Molly
***
Declan
O plano era que todos se encontrassem na igreja para dizer seu último
adeus ao pai de Molly antes de ir para o cemitério.
Molly parecia completamente entorpecida a manhã inteira. Eu não poderia
culpá-la. Não importava o que eu dissesse ou fizesse hoje, eu não conseguiria
tirar sua dor. Chegamos cedo e dei a ela algum espaço para confortar sua irmã
mais nova, mas nunca me afastei muito dela, caso ela precisasse de mim. Eu
planejava ficar aqui para ela até o momento em que tivesse que sair para o
aeroporto.
Poucos minutos antes do início da missa, Molly veio em minha
direção. Seus olhos estavam vidrados e distantes. Eu sabia que ela ainda estava
tentando não sentir nada. Ela se sentou ao meu lado no banco e encostou a
cabeça no meu ombro. Envolvi meu braço em torno dela e a segurei perto. Ela
parecia mole, como se eu fosse a única coisa que a impedisse de desmaiar.
Eu nunca a teria deixado se não fosse por um toque firme no meu
ombro. Eu me virei para encontrar o brilho incendiário de Will Daniels.
— Eu seguro a partir daqui.
Eu não estava prestes a discutir em uma igreja. Além disso, inferno, eu
era o único errado. Eu tinha meu braço em volta de sua namorada. Molly
parecia em pânico, como se ela não tivesse ideia de como lidar com a situação,
então facilitei para ela. Era a última coisa que eu queria fazer, mas me levantei
e estendi minha mão.
— Ei, Will. Bom te ver.
Ele hesitou, mas tremeu. — Eu não sabia que você estava aqui,
Declan. Achei que você estivesse morando fora do estado.
— Eu cheguei ontem à noite para o velório.
Will franziu a testa e seus olhos se voltaram para Molly. Ele estava
claramente agitado, mas quando olhou para baixo e viu o rosto dela, felizmente
colocou nossa disputa de mijo de lado e se agachou para falar com ela na altura
dos olhos.
Ele segurou suas bochechas e olhou em seu rosto lacrimejante. — Oh,
Molly... Vai ficar tudo bem. Não agora, não daqui a uma hora, talvez nem mesmo
em alguns dias – mas eu prometo que vai ficar mais fácil. Hoje é a parte mais
difícil e você tem o direito de sentir cada momento disso. Você não precisa
segurá-lo. Deixe sair, querida.
As lágrimas que ela estava mantendo sob controle escorreram por seu
rosto. Will se inclinou para frente e a puxou para um abraço. Parado ali, senti-
me sobrando. Então fiz o que achei certo e os deixei ter um momento
privado. Sentei-me algumas filas atrás e observei enquanto ele ajudava a secar
suas lágrimas, e então ela se apoiou nele enquanto ele a levava para a primeira
fila.
Durante a missa, fiquei olhando principalmente para a parte de trás de
suas cabeças. Doeu pra caralho ver outro homem sentado no meu lugar, dando
conforto à minha garota. Mas no final, Molly era o mais importante, não meus
próprios desejos egoístas.
Após o serviço, os carregadores levaram o caixão para fora da igreja, e
Molly e sua família seguiram diretamente atrás. Eu mantive minha cabeça baixa
enquanto ela e Will passavam para que eu não tornasse as coisas
desconfortáveis. Do lado de fora, um carro fúnebre e uma limusine
esperavam. Achei que Will e Molly iriam na limusine com sua família, então
fiquei surpreso quando o vi beijar sua testa, tirar as chaves do bolso e ir para o
estacionamento sozinho. Molly olhou em volta e quando nossos olhos se
encontraram, ela sorriu tristemente. Eu me aproximei, imaginando que
provavelmente deveria dizer adeus agora.
Eu esfreguei seus braços. — Como você está?
— Estou muito feliz que acabou.
— Sim, eu aposto.
Por cima do ombro, vi Kayla ajudando sua filha e duas mulheres mais
velhas a entrar na limusine. Quando ela terminou, ela examinou a multidão.
— Acho que Kayla pode estar procurando por você.
— Você acha que ela ficaria chateada se eu dissesse a ela que não queria
andar na limusine com elas?
— Eu acho que você deve fazer o que for mais fácil para você. Parece que
ela tem família com ela, então ela não estará sozinha.
Molly ergueu um dedo. — Você pode me dar um minuto, por favor?
— Claro.
Observei enquanto ela caminhava até a esposa de seu pai e
conversavam. Molly apontou para mim e os olhos de Kayla se ergueram para
encontrar os meus. Ela sorriu. Elas se abraçaram antes que Molly voltasse.
— Você está indo para o cemitério? — ela perguntou.
— Eu estava planejando isso.
— Posso ir com você?
Fiquei surpreso, mas não recusaria mais alguns minutos a sós com ela. —
Claro.
Os carros estavam se enfileirando atrás da limusine com os faróis
acesos. Percebi que o segundo carro de volta era Will, e seus olhos estavam em
nós.
— Will sabe que você está indo comigo? — Eu levantei meu queixo e
apontei para seu carro. — Porque ele está nos observando agora.
Molly suspirou. — Não, eu provavelmente deveria ir dizer a ele.
Eu concordei. — Por que não vou buscar o carro no estacionamento?
— Ok, obrigada.
Quando dei a volta com o carro, Molly entrou.
— Está tudo bem?
Ela encolheu os ombros. — Ele disse que estava tudo bem.
O carro funerário na frente da longa fila de carros afastou-se do meio-fio e
a procissão o seguiu. Molly olhou pela janela quando começamos a dirigir.
— Posso te perguntar uma coisa? — ela disse.
— Claro. Qualquer coisa.
— O que mais te assusta em morrer?
Eu olhei para ela e de volta para a estrada. — Não sei. Não acho que você
vai sentir dor física quando seu coração parar de bater, e gosto de pensar que
existe algum tipo de vida após a morte. Portanto, não tenho necessariamente
medo da noção física de morte. Acho que provavelmente o que mais me assusta
é morrer com arrependimentos.
— Como o quê?
Dei de ombros. — Não sei... Acho que se olhasse para trás e percebesse
que trabalhei muito, foi ao custo de negligenciar as pessoas que amo. Ou se eu
não tivesse esposa ou família por algum motivo. — Fiz uma pausa e olhei para
Molly novamente. — Se perdesse oportunidades importantes porque estava com
muito medo de arriscar.
Ela acenou com a cabeça e continuou a olhar fixamente para fora da
janela. — Não acho que meu pai tenha muitos arrependimentos... talvez alguns
pela forma como ele lidou com as coisas depois que nos deixou, mas sinto que
ele fez as pazes com isso recentemente.
Eu me aproximei e peguei a mão dela. — Eu acho que você deu a ele essa
paz, Molly.
Ela suspirou. — Estou tão feliz por ter passado esses últimos meses com
ele.
Eu concordei. — Eu acho que isso significou o mundo para ele também.
Poucos minutos depois, ela disse: — Will me disse que me amava há alguns
dias. Foi um dia antes da morte do meu pai.
Parecia que eu tinha levado um soco no estômago e todo o ar foi sugado
para fora dos meus pulmões. Tive que levar um minuto para poder responder. —
Você ficou... feliz com isso?
— Ele tem sido muito bom em tudo isso. Eu sei que você teve suas dúvidas
sobre ele no começo. Eu também. Mas acho que ele se preocupa comigo.
— Você está... apaixonada por ele? — Prendi minha respiração.
— Eu gosto muito dele. — Ela olhou para as mãos no colo. — Mas eu não
poderia dizer isso de volta. Ainda não. Eu me importo com ele e nos divertimos
muito quando estamos juntos. Nós temos muito em comum. — Ela balançou a
cabeça. — Não sei. Talvez minhas emoções estejam desordenadas por causa de
tudo que está acontecendo com meu pai e isso me deixa insegura sobre meus
próprios sentimentos.
Posso não ter certeza sobre a maioria das merdas na vida, mas uma coisa
que agora sei é que quando você está realmente apaixonado, você sabe disso. E
mesmo que Molly não estivesse comigo, eu nunca quis que ela se contentasse
com nada menos do que ela merecia.
— Eu acho que você sabe quando está apaixonada, Molly.
— Mas como? Como você sabe?
Assim como ela pediu, chegamos aos portões de ferro forjado da entrada
do cemitério. O cortejo fúnebre diminuiu enquanto seguíamos o carro funerário
até o túmulo do pai de Molly.
Eu estava grato por não ter que pensar e poder apenas seguir o carro na
minha frente porque minha mente estava preocupada em como responder a sua
pergunta. Cedo demais, o carro funerário diminuiu a velocidade e puxou para o
lado. O pânico se instalou quando percebi que Molly e eu estávamos quase sem
tempo juntos.
Assim que estacionei, Molly se virou para mim. Ela balançou a cabeça. —
Sinto muito por ser tão aleatória e perguntar o significado da vida no caminho
para cá. Acho que ver meu pai chegar ao fim me fez perceber que é hora de
encontrar meu começo.
As pessoas nos carros estacionados à nossa frente começaram a abrir as
portas para sair. Molly colocou a mão na maçaneta da porta. — Obrigada por
me trazer, Declan.
Quando ela começou a sair, gritei para impedi-la. — Espere!
Ela se voltou.
— Você sabe que está apaixonado, se cada pequena coisa de que você tem
medo, de repente não parece tão aterrorizante quanto não passar o resto da vida
com aquela pessoa.
Os olhos de Molly se encheram de lágrimas enquanto nos encarávamos,
quase em transe. Eu queria tanto dizer a ela que eu sabia o que era o amor
porque ela era o amor da minha vida. Mas o momento parou abruptamente
quando alguém bateu na janela do passageiro.
Will.
Eu fechei meus olhos. Porra.
O rosto de Molly estava sombrio. — Muito obrigada novamente por ter
vindo, Declan.
Eu levantei sua mão aos meus lábios e beijei o topo. — Claro. Eu sempre
estarei aqui para você, querida.
CAPÍTULO 30
Molly
— Tudo bem?
Parei de traçar oitos na condensação no fundo do meu copo e olhei para
Will. — Desculpa, o que é que você disse?
Ele sorriu tristemente. — Venha aqui. — Estávamos sentados um ao lado
do outro no meu sofá, e ele deu um pequeno puxão no meu braço e me puxou
para o seu colo. Empurrando uma mecha de cabelo do meu rosto, ele olhou nos
meus olhos. — Está tudo bem conosco?
— Sim claro. Por que não estaria?
Ele balançou sua cabeça. — Não sei. Você tem estado distante. Eu sei que
faz apenas uma semana e meia desde que seu pai faleceu, e você tem todo o
direito de ficar para baixo, mas por algum motivo, eu sinto que é mais do que
isso.
Eu tinha me sentido mal ultimamente. E enquanto muito disso
obviamente tinha a ver com meu pai, parte também tinha a ver com Declan. Eu
não tinha ouvido falar dele nos dias após o funeral, e quando eu finalmente fiz
uma checagem, ele não estava em seu estado normal. Suas mensagens eram
educadas e tudo, mas meio distantes. O que me fez perceber que minha
preocupação por Declan parecia muito com a preocupação de Will por mim.
Eu odiava mentir para Will, mas também não acho que deveria
compartilhar minhas preocupações sobre outro homem, especialmente
Declan. Então eu fui com uma verdade parcial. — Me desculpe se eu pareci
longe. Perder meu pai me levou a pensar muito e sinto que é difícil escapar da
minha cabeça – se isso faz algum sentido.
— Claro que sim. Mas espero que saiba que estou aqui para conversar, se
quiser tentar resolver um pouco do que está em sua mente, não importa o
assunto.
— Eu sei disso, Will. Você tem sido incrível nisso – tão paciente e solidário.
Ele segurou minhas bochechas. — Isso é porque eu te amo.
Esta era agora a terceira vez que Will dizia que me amava, e eu não retribuí
o sentimento. Eu me sentia cada vez mais pressionada a dizer isso de volta, mas
não conseguia sem ter certeza.
Virei meu rosto em sua mão e beijei sua palma. — Obrigada.
Um pouco depois, Will teve que ir ao hospital para seu turno, então nos
despedimos. Depois de fechar a porta, senti-me um pouco aliviada por estar
sozinha. Poderia olhar para o espaço o quanto quisesse; não teria que fingir que
estava bem ou explicar por que não estava. Então me servi de uma taça de vinho,
esperando que isso me ajudasse a relaxar, e peguei o álbum de fotos que estava
na mesinha de centro da sala desde antes de meu pai partir. Minha irmãzinha
tinha feito colagens de fotos para exibir nos cultos, então eu peguei emprestado
um antigo álbum de família de minha mãe com fotos do meu pai e eu.
Suspirei enquanto folheava as páginas – meu pai e eu pescando, meu pai
tentando me ensinar a jogar softball, meu pai com esmalte pintado na metade
dos dedos porque ele deixou que eu, de quatro anos, lhe fizesse
manicure. Mamãe, papai, minha irmã mais velha e eu colhendo abóboras –
página após página de memórias que eu não lembrava da minha
infância. Quando cheguei perto do final, lágrimas quentes escorreram pelo meu
rosto. E quando virei a última página, vi uma foto que definitivamente não
esperava.
Em vez de mais fotos de família, era um pedaço de papel com uma selfie
de Declan impressa nele. Ele estava fazendo uma careta engraçada com os olhos
vesgos, as bochechas côncavas e os lábios franzidos. Ele também estava
segurando um saco de um quilo e meio de M&Ms. Eu ri alto lendo a nota
rabiscada ao lado da foto.
Enxugue os olhos, minha linda garota. Eu sei que não foi fácil folhear essas
páginas. Mas você conseguiu, então você merece uma recompensa. Agora
levante sua bunda preguiçosa e olhe embaixo do sofá.
Casa. Mais uma vez, ele se referiu aqui como sua casa. Eu me perguntei
se ele percebeu isso.
Molly: Encontrei os soltos que você escondeu. Mas este é o único com
uma foto sua. Tem mais?
16 Um mini-bolo recheado, normalmente usado para lanches.
— Piadas de queijo? Quer dizer que suas piadas ficaram piegas?
— Não, como em piadas literais de queijo. O que o queijo disse para si
mesmo no espelho?
— Eu não faço ideia. O quê?
— Você está parecendo goud-a.
Eu ri, o que, é claro, apenas o encorajando.
— Como você chama o queijo que você roubou?
— O quê?
— Queijo Na-cho.
— Espero que isso não faça parte dos grandes planos de marketing em que
você está trabalhando.
— Se eu não sair daqui logo, eles podem fazer.
— Falando nisso, quando você termina?
— O final deste mês.
— Oh, uau. Então você estará de volta a Chicago em apenas algumas
semanas?
Declan ficou quieto por um momento. — Na verdade, posso voltar para a
Califórnia em vez disso.
— O quê? Por quê? Achei que você voltaria para ajudar a terminar o
projeto que começou aqui?
— Eu ia, mas... acho que provavelmente é melhor se eu voltar para Cali.
— Seu chefe está pressionando você para fazer isso?
— Não... eu acho que seria... eu não sei. Ainda não decidi com certeza.
Tive uma sensação repentina de pânico. — Mas se você não voltar para
terminar o projeto em Chicago, quando eu vou te ver de novo?
Declan suspirou. — Eu não sei, Mollz.
— Você tem que voltar.
Ele ficou quieto por um longo tempo. — É melhor eu ir. Belinda
provavelmente vai se perguntar se eu esqueci minha conta.
— Oh, tudo bem.
— Você se cuida, ok?
— Eu vou. Você também, Declan.
Depois que desliguei, senti um peso no peito. E se Declan não voltasse
para Chicago?
CAPÍTULO 31
Declan
Molly
***
A noite seguinte foi minha noite de folga e decidi fazer algo que vinha
adiando; convidei minha irmã mais nova, Siobhan, para uma festa do
pijama. Ela tinha acabado de fazer dez anos e ainda estava lutando após a morte
de papai. De acordo com Kayla, Siobhan se sentia menos sozinha perto de mim
porque tínhamos em comum a perda de nosso pai. Kayla achou que seria uma
boa ideia passarmos mais tempo juntas. Consequentemente, uma festa do
pijama. Foi uma boa distração para mim também.
Enquanto comíamos pizza no chão da sala, minha irmã enfiou o narizinho
onde não devia.
— O que aconteceu com seus dois namorados?
Meus olhos se arregalaram. — Desculpe?
— Você tem dois namorados, não é? Will e Declan? Os dois foram ao
funeral do papai.
Minha irmã era mais astuta do que eu pensava. E, aparentemente, ela
pensou que eu fosse polígama.
Como responder… — Enquanto em um mundo de fantasia, uma mulher
pode ser capaz de ter dois namorados e se safar, neste mundo, na maioria das
vezes, você só tem um. Will era meu namorado. Declan é meu amigo. Nenhum
deles é atualmente meu namorado.
Ela inclinou a cabeça. — Por quê?
De jeito nenhum eu entraria nisso com uma criança de dez anos.
— É complicado. Mas vamos apenas dizer, eu não o amava do jeito que
deveria.
Ela cruzou as pernas. — Por que não?
Eu soprei em meu cabelo. — Não tenho certeza. Você sabe se você amar
alguém, mas... é preciso um pouco mais de tempo para descobrir se você não
ama, às vezes. — Limpando minha boca com um guardanapo, eu disse: — Na
maioria das vezes, é apenas uma sensação. E uma vez que percebi que Will não
era para mim, não queria perder seu tempo.
— Então, como você sabe se ama alguém?
Isso me lembrou do funeral do meu pai e das palavras de Declan naquele
dia depois que eu fiz a ele a mesma pergunta que minha irmã tinha acabado de
me fazer. — Você sabe que está apaixonada se cada pequena coisa de que você
tem medo de repente não parecer tão aterrorizante quanto não passar o resto da
vida com aquela pessoa.
Se eu parasse para analisar o que estive sentindo nos últimos dias, era
medo – medo de ter perdido Declan. A partir do momento que ele me disse que
não voltaria para Chicago, eu poderia me concentrar em pouco mais.
Oh, meu Deus.
Eu finalmente respondi a ela. — Siobhan, eu acho que há mais de uma
maneira de saber que você ama alguém. E uma dessas maneiras é perdê-lo. Às
vezes, não percebemos que amamos alguém até que seja tarde demais. Até que
eles se vão. Acho que pode ser isso que está acontecendo comigo.
Seus olhos praticamente saltaram das órbitas. — Você ama
alguém? Outro homem? Número três?
Eu balancei minha cabeça e ri. — Não. Não há número três. Eu amo
Declan. — Fiz uma pausa, medindo para ter certeza. Uau. Sim. Com certeza
é. — É Declan.
Ela engasgou. — Você vai contar a ele?
Eu balancei minha cabeça. — Pode ser? Não sei. Preciso de mais tempo
para pensar sobre isso. Só agora descobri.
— OK. — Ela sorriu e voltou a comer sua pizza como se tudo isso não
fosse grande coisa.
Era para mim.
Assistimos a um filme depois disso e dividimos um pote gigante de
pipoca. Mas tudo que eu conseguia pensar era na minha compreensão sobre
Declan. O que isso significa? Ele estava deixando Wisconsin para a Califórnia
em alguns dias. Eu ainda tinha uma vida aqui. Além disso, e se ele não me
amasse de volta? Então não importaria como eu me sentia.
Eu só podia esperar algum tipo de sinal nos dias que viriam. Eu precisava
de orientação sobre como proceder. Mas eu estava especialmente feliz por ter
deixado Will ir. Agora eu sabia a fonte de minha incapacidade de amá-lo. Eu
amava outra pessoa.
***
Mais tarde naquela noite, Siobhan foi para o quarto de Declan (sim, seria
sempre o “quarto de Declan”) para dormir, e eu me retirei para meu próprio
quarto.
Cerca de dez minutos em minha rotina noturna de cuidados com a pele,
ouvi minha irmã me chamar do outro lado do corredor.
— Molly!
— Sim?
— Você pode vir aqui?
Quando entrei no quarto, ela estava segurando um pedaço de papel. —
Encontrei um M&M debaixo da cama quando fui colocar os sapatos lá. Então,
procurei mais deles e encontrei isso.
Eu peguei dela. Era a letra de Declan.
E havia palavrões.
Merda.
Um monte de frases foram riscadas com uma única linha através delas.
Eu li a nota.
O quê? Meu coração apertou. — Finja que você não viu isso, ok? Vá para
a cama e conversaremos de manhã.
— OK. — Ela encolheu os ombros. — Boa noite, Molly.
— Boa noite.
Levei o bilhete para o meu quarto e me sentei na cama, relendo-o várias
vezes.
Quando Declan escreveu isso?
Eu destruí meu cérebro e não conseguia descobrir. Mas o momento não
importava. Isso provou que ele queria estar comigo em um ponto, mesmo que
algo lhe impediu de me dizer. Essa foi a resposta de que eu precisava. Eu recebi
exatamente o sinal que pedi. Agora... o que eu faria sobre isso?
CAPÍTULO 33
Declan
***
***
Declan
***
Se você está lendo isso, é porque não estou mais nesta Terra física e tive
que perder seu aniversário. Por isso, sinto muito. Sinto muito por muitas coisas
quando se trata de você. Mas talvez eu lamente o fato de não ter tido tempo
suficiente com você. Não consegui aproveitar totalmente o tempo que passei com
a mulher adulta em que você se tornou, aquela de quem tenho tanto orgulho. Eu
teria levado você ao seu restaurante italiano favorito hoje e deixado você falar
enquanto eu ouvia. Não há mais nada que eu gostaria de fazer, especialmente
neste momento – preso à cama e incapaz de sair, além de comer algo tão delicioso
quanto uma daquelas pizzas de pão achatado.
Trabalhei muito a vida toda, como você sabe, mas no fim não consegui levar
minha carreira comigo. Em retrospecto, gostaria de ter passado mais tempo com
minhas filhas e menos tempo trabalhando, por mais difícil que seja fazer como
médico. Se você tem a oportunidade na vida de escolher o trabalho ou a família,
escolha sempre a família. Porque não ter passado tempo suficiente comigo é
literalmente meu único arrependimento enquanto me preparo para dar o próximo
passo na jornada da minha alma.
Viva cada dia como se fosse o último e aproveite ao máximo o seu tempo
com as pessoas que você ama. Passe algum tempo conhecendo sua
irmãzinha. Ela vai precisar de sua orientação e amor. Tenho certeza de que
Kayla se casará novamente algum dia, e isso será extremamente difícil para
Siobhan. Infelizmente, por minha causa, você passou pela mesma situação, então
você e Lauren serão capazes de confortá-la a esse respeito. Amo todas as minhas
filhas, mas me preocupo mais com você, Molly. Você é aquela com o maior
coração. E espero que você não tenha um único arrependimento quando se trata
de mim. Espero que você supere tudo isso. Eu sei que você me ama. Por favor,
nunca duvide se você me mostrou isso o suficiente. Você fez tudo que podia nos
meus últimos dias para provar que o amor que você tinha por mim nunca tinha
partido.
Só posso desejar que você encontre um homem que ame você a metade do
que eu. Por favor, nunca se acomode. Você merece alguém que a ame de todo o
coração. E quando você encontrar essa pessoa, você saberá. Se você está se
esforçando para descobrir se alguém é a pessoa certa, vou lhe contar um segredo:
ele não é. A menos que estejamos falando sobre Declan. (Você pode dizer que eu
gosto daquele cara?) Estou brincando, no entanto. Minha opinião não
importa. Siga o SEU coração, meu amor.
Tenho mais alguns cartões escritos em minha neblina induzida por
quimioterapia para seu prazer de leitura durante os aniversários
subsequentes. Eu gostaria de ter escrito palavras suficientes para durar uma
vida inteira, mas espero que você aprecie as que eu envio. E saiba que onde quer
que eu esteja, sempre estarei com você.
Amor, pai
Molly
Você sabia que foi há dois anos hoje que deixei esses cupcakes pela primeira
vez na sua porta? Foi no mesmo dia que você me deu um passe de pênis e me
deixou morar. Que tal marcarmos a ocasião tornando este sábado
extraordinário? Para comemorar, estou enviando você em uma pequena caça ao
tesouro. Portanto, pegue seus tênis e vá para o seu primeiro destino. Aqui vai
uma dica: como minha garota adora comer, é o único lugar onde o nhoque tem meu
toque.
Este é o ponto em que você pode precisar voltar e pegar seu carro. O próximo
destino é porque agradeço a Deus todos os dias que te encontrei. Se minha irmã
Catherine estivesse aqui, este poderia ser seu ponto de encontro favorito. Dica:
rima com Notre Dame.
Porque eu sei que você precisa do seu doce favorito quando está emocional
– e não apenas uma pequena quantidade. Muito.
Por mais divertido que tenha sido, eu estava ansiosa para voltar para o
apartamento e beijar aquele homem maluco por ter tido essa ideia.
Com um sorriso infinito, voltei na direção do nosso prédio.
Quando voltei para casa, carregando meu saco de M&Ms e o travesseiro
de meu pai, cheguei ao topo da escada. Uma visão familiar trouxe uma sensação
de nostalgia – o mesmo recipiente de Tupperware que Declan havia deixado na
minha porta exatamente dois anos atrás. Se não fosse por aqueles cupcakes –
aqueles deliciosos cupcakes que eu devorei – eu nunca teria desistido e ligado
para Declan para lhe oferecer o quarto.
Abaixei para abrir o pote. Seis cupcakes com cobertura branca estavam
dentro. E escrito sobre eles havia seis palavras diferentes.
Você
Quer
Casar
Comigo?
Faça
Isto!
Cobrindo minha boca com a mão, congelei e me levantei. Quando me virei,
Declan estava atrás de mim segurando... um cesto de roupa suja. Ele
aparentemente tinha descido para buscar as roupas que eu abandonei ao
descobrir o primeiro envelope.
Seus olhos se arregalaram e ele largou a cesta. — Merda! Quão rápido você
dirigiu? Você chegou aqui mais cedo do que eu pensava. A balconista da loja de
doces me mandou uma mensagem quando você saiu. Eu deveria estar parado
atrás da porta, ajoelhado quando você entrasse. Mas achei melhor buscar as
roupas que você deixou lá embaixo primeiro. — Ele exalou. — Merda. O anel
está no balcão da cozinha. Tanto para uma proposta perfeita. Droga, eu...
Eu praticamente pulei para frente e o cortei com um longo beijo. — Isso
foi perfeito. Tudo foi perfeito.
— Exceto meu tempo.
— Sempre fomos péssimos em tempo. Mas então finalmente acertamos. E,
a propósito, você lavando a roupa é quase tão sexy quanto uma proposta
coreografada com o joelho dobrado. — Eu balancei minha cabeça. — Nunca
sonhei que esse dia se transformasse em uma proposta. Oh meu Deus, Declan.
Enquanto ele me apertava, eu podia sentir seu coração batendo forte.
— Podemos pelo menos fingir que fiz direito? Dê-me dois minutos para
guardar este cesto de roupa suja. — Ele o ergueu do chão. — Eu vou te dizer
quando, e então você pode entrar. Ok?
Eu ri. — Ok, homem louco. Só me diga quando.
Ele se virou. — Você vai dizer sim, certo?
Eu limpei meus olhos. — Sim.
— Ok, então vou prosseguir.
Ele fechou a porta atrás de si. Depois de cerca de três minutos, pude ouvi-
lo atrás da porta. — Você pode entrar agora!
Quando eu abri, Declan não estava em seus joelhos, nem havia um anel à
vista.
— Este dia inteiro foi repleto de surpresas, — disse ele. — O que é mais
uma? — Seus olhos brilharam.
A próxima coisa que eu soube, uma dúzia de vozes diferentes gritaram: —
Surpresa! — Pessoas surgiram de todos os cantos do apartamento. Havia balões
rosa e pessoas correndo em minha direção. Minha
mãe. Kayla. Siobhan. Emma. E, ai meu Deus! Os pais de Declan. E duas de
suas irmãs!
Levei alguns minutos para terminar de abraçar a todos e enxugar minhas
lágrimas. Então fui em busca de Declan e não consegui encontrá-lo em lugar
nenhum. Até que olhei para baixo e o encontrei de joelhos.
Ele olhou para mim. — Se você acha que o dia de hoje mostrou o quanto
eu te amo, pense novamente. Não há nada que eu possa fazer para demonstrar
a profundidade de como me sinto. Molly Corrigan, gostaria de poder dizer, desde
o momento em que nos conhecemos, que estou apaixonado por você. Mas não
foi esse o caso. Você era minha amiga antes de ser minha amante. Aprendi a
gostar e respeitar você muito antes de me apaixonar profundamente por
você. Mas uma vez que isso acontecesse, não havia como voltar atrás. Mudar-
me para Chicago foi a segunda decisão mais fácil que tive que tomar. O mais
fácil foi decidir propor a você hoje, o segundo aniversário do dia mais sortudo da
minha vida. — Ele abriu a caixa, exibindo um solitário lindo, redondo e
cintilante. — Você quer se casar comigo?
Eu estava muito emocionada para dizer sim, embora tecnicamente já o
tivesse dito no corredor.
Ele colocou o anel no meu dedo e se levantou, puxando-me para um
abraço. Eu quase tinha esquecido que ainda estava segurando o travesseiro do
meu pai até que a voz dele soou: — Amo você, minha doce Molly.
Sim, papai também estava aqui. Não achei que esse dia pudesse ficar
melhor, mas cada momento me mostrava que poderia.
— Sim, Sr. Corrigan. Eu te ouvi. Não se preocupe. — Declan sorriu
enquanto olhava para mim. — Eu vou cuidar bem dela.
Fim