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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

INSTITUTO DE HUMANIDADES, ARTES E CIÊNCIAS


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO ESTUDOS INTERDISCIPLINARES SOBRE
A UNIVERSIDADE

CONCEPÇÕES DE TRANSDISCIPLINARIDADE NO RELATO E NA PRODUÇÃO


ACADÊMICA DE PROFESSORES DOS BACHARELADOS INTERDISCIPLINARES
DA UFBA

Linha de Pesquisa III: Gestão, Formação e Universidade

Anteprojeto apresentado ao Programa de Pós-


Graduação em Estudos Interdisciplinares Sobre a
Universidade do Instituto de Humanidades, Artes e
Ciências Professor Milton Santos, da Universidade
Federal da Bahia, como requisito para a Seleção do
Edital 2020 - Seleção 2020.2 - Mestrado Acadêmico
– PPGEISU.
Orientadores: Prof. Dr. Naomar de Almeida;
Prof. Dr. Marcelo Dourado

SALVADOR
2020
Sumário
INTRODUÇÃO...........................................................................................................................3
OBJETIVOS................................................................................................................................5
JUSTIFICATIVA.........................................................................................................................5
REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................................7
QUADRO TEÓRICO..................................................................................................................7
ASPECTOS ÉTICOS.................................................................................................................10
CRONOGRAMA DE PESQUISA.............................................................................................11
REFERÊNCIAS.........................................................................................................................12
INTRODUÇÃO
Ao se pensar o conhecimento ocidental por um aspecto temporal, considerando-o em sua
condição de efeito da produção coletiva humana, é possível visualizar um panorama histórico
marcado por sucessivas rupturas de natureza cosmológica, antropológica e epistemológica no
pensamento, que levaram a uma separação contínua e radical entre a tradição, a religião, a
filosofia e a ciência, com mudanças nas respostas a 3 grandes perguntas: “o que é o mundo?”,
“o que é o ser humano?” e “como se chega ao conhecimento verdadeiro?” (SOMMERMAN,
2006).
Surgiram a partir de então novas epistemologias, baseadas no desenvolvimento da
matemática e das ciências naturais, que estabeleceram a sua primazia a partir do século XVII: o
racionalismo – que enxerga a razão como a fonte do conhecimento humano – e o empirismo –
que enxerga esta fonte na experiência sensorial. Almeida Filho (1997) salienta que estas
epistemologias privilegiavam o caráter analítico - entendido etimologicamente como separação,
dissolução - da investigação científica, em detrimento de uma perspectiva de síntese - entendida
etimologicamente como composição, reunião, junção. A partir destas epistemologias, novos
posicionamentos científicos ganham força, como o positivismo, o reducionismo, o
mecanicismo, o materialismo, o ceticismo, o subjetivismo e o relativismo (SOMMERMAN,
2006). Estes posicionamentos trazem em comum efeito a redução e o estreitamento do campo
de conhecimento considerado verdadeiro, institucionalizando a ciência na forma das primeiras
universidades, aproximando-a da técnica e da indústria a serviço de uma burguesia nascente,
favorecendo o desenvolvimento tecnológico, isso tudo por um lado, mas por outro,
fragmentando o próprio entendimento da realidade em áreas disciplinares com fronteiras cada
vez mais definidas, valorizando dentro destas mesmas áreas um processo contínuo de
especialização dos sujeitos, criando assim novas profissões e subgrupos dentro destas mesmas
áreas.
Contudo, Almeida Filho (1998) relata a emergência de movimentos de construção de
paradigmas alternativos, que têm em vista a síntese (em contrapartida ao método analítico) do
conhecimento de objetos complexos – objetos que demandam abordagens compreensivas das
questões científicas. Dentre estes paradigmas, a transdisciplinaridade é apresentada como “um
campo novo que idealmente seria capaz de desenvolver uma autonomia teórica e metodológica
perante as disciplinas que o originaram” (ALMEIDA FILHO, 1998, p.25), num sistema de
vários níveis, com objetos diversificados, numa relação interdisciplinar horizontal.
A universidade está imbricada nestes movimentos, pois segundo Andalécio (2009) ela
assume um duplo papel de 1) enriquecimento intelectual dos seres humanos mediante a criação
de conhecimentos acerca da natureza e sociedade e 2) inovação tecnológica no suprimento das
necessidades sociais. Estes papeis acabam sendo desempenhados ante as próprias exigências de
organização e compartimentalização do conhecimento em disciplinas e especialidades e de
unificação deste mesmo conhecimento em um mesmo espaço institucional. Contudo, estas
exigências e papeis acabam, muitas vezes devido a sua própria natureza, gerando contradições e
indagações acerca da atuação da universidade na manutenção ou mudança dos paradigmas
disciplinares.
Neste interim, abre-se margem ao campo das propostas em execução que consideram a
importância da oferta de uma formação generalista, com maior flexibilidade na organização da
grade disciplinar, e que possibilite ao estudante o amadurecimento da escolha profissional.
Destaca-se aqui - na esteira de iniciativas governamentais de ampliação do acesso ao ensino
superior no Brasil como o Programa Universidade para Todos (ProUni), o Fundo de
Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais (REUNI) - a emergência dos Bacharelados Interdisciplinares (BI’s)
nas universidades públicas brasileiras, como materialização do modelo de Universidade Nova
(SANTOS & ALMEIDA-FILHO, 2008), que se caracteriza pela abertura de novos cursos
experimentais e interdisciplinares de graduação e criação de projetos acadêmico-pedagógicos
criativos e consistentes, dentro de um escopo geral de verdadeira reforma universitária.
Os BI’s, divididos em quatro grandes áreas de conhecimento (Saúde, Ciência e
Tecnologia, Artes e Humanidades) visam a captação e direcionamento mais efetivo do potencial
vocacional do estudante para o desenvolvimento de sua carreira acadêmica e profissional, ao
oferecer uma vivência multi, inter e transdisciplinar (UFBA, 2008). Na condição de inovação
pedagógica, se propõem a servir de interlocutores entre as demais unidades universitárias,
rompendo com o conceito corporativista disciplinar, em busca de um percurso de construção
dialógica na formação universitária (SAMPAIO & COELHO, 2019). O Bacharelado
Interdisciplinar em Saúde (BIS), em especial, visa agregar uma formação geral que aproxime a
atuação profissional do campo da saúde à dimensão humanística, científica e artística dos
saberes, buscando “(...) contribuir para a formação de sujeitos capazes de apreender as
diferentes e múltiplas facetas dos objetos, políticas e práticas deste campo.” (UFBA, 2010)
Contudo, a concretização do ideal inter-transdisciplinar na universidade é uma tarefa que
enfrenta desafios profundos devido ao choque e a disputas de poder entre concepções diferentes
acerca da formação universitária, sobretudo quanto ao entendimento e à própria
operacionalização do conceito no concreto contexto universitário (LIMA et al., 2015). Outro
desafio é a existência de um distanciamento entre o discurso e prática da transdisciplinaridade a
nível institucional e acadêmico, possivelmente oriundo de uma rígida estrutura departamental
universitária, ainda voltada para o conhecimento fragmentado e a hiperespecialização
disciplinar. Por fim a própria constituição do campo científico compreendido por Bourdieu
(1983) como conjunto de espaços de disputas sistematizadas entre forças distintas que teriam o
interesse pelo domínio da autoridade e competência científica, tendo em vista o monopólio da
produção de um chamado ‘capital científico’, levanta questões acerca da possibilidade de
produção que supere o paradigma disciplinar neste ambiente marcado por disputas e interesses
próprios.
Considerando o complexo cenário descrito, para a efetiva contribuição epistemológica na
formação de relações de alteridade entre os diferentes campos disciplinares e na constituição
coletiva de subjetividades capazes de transitar com o necessário rigor epistemológico em
diferentes ambientes de conhecimento, é necessário saber como a transdisciplinaridade é
entendida neste mesmo ambiente universitário. Neste estudo, o escopo de investigação é
direcionado aos espaços de conhecimentos universitários que desde a sua criação, se propõem a
uma vivência mais direta deste conceito, ou seja, nos Bacharelados Interdisciplinares. Desta
forma o projeto está norteado na seguinte pergunta de pesquisa: o que os docentes dos
Bacharelados Interdisciplinares da Universidade Federal da Bahia compreendem por
transdisciplinaridade?

OBJETIVOS
Esta investigação possui o objetivo geral de identificar e sistematizar concepções de
transdisciplinaridade dos professores efetivos dos Bacharelados Interdisciplinares da
Universidade Federal da Bahia. A partir disso, opta-se pelo estabelecimento dos seguintes
objetivos específicos de pesquisa:
 Traçar um panorama das concepções de transdisciplinaridade nas produções
científicas brasileiras
 Identificar e caracterizar concepções de transdisciplinaridade dos professores do BIS,
traçando categorias de análise referentes a elementos do paradigma transdisciplinar;
 Identificar correlações entre as concepções dos professores e as suas produções
científicas registradas em artigos científicos revisados por pares;
Nesta perspectiva, espera-se como resultado a contribuição para a construção de uma
cartografia de elementos consistentes sobre a compreensão da transdisciplinaridade na
Universidade, naquilo que ela possui de essencial, que é a produção e difusão do conhecimento.

JUSTIFICATIVA
É possível categorizar as justificativas pessoais para a realização deste projeto em 2
aspectos. O primeiro é de natureza acadêmica, onde na condição de estudante de graduação em
psicologia da Universidade Federal da Bahia, tive a oportunidade de participar de projetos de
extensão universitária – o PET Saúde Mental e a ACC Educação Básica e Universidade - nos
quais foi dada a oportunidade de compartilhamento de saberes oriundos de áreas diferentes da
minha formação inicial na promoção da Saúde Mental na comunidade, assim como no
desenvolvimento da educação básica na periferia de Salvador. Houve a oportunidade de
construir as primeiras reflexões acerca da insuficiência do saber monodisciplinar na
compreensão e intervenção propositiva em aspectos complexos da realidade. Follmann (2014)
salienta uma contradição entre o distanciamento dos meios acadêmico e social e a existência da
extensão universitária como dimensão da própria universidade que tem como fim a
aproximação desta, enquanto espaço de ensino e pesquisa, com o contexto social no qual se está
inserido. Esta tentativa de aproximação se faz atrelada ao próprio conceito de inter e
transdisciplinaridade na condição de fomentadores, em suas práticas na universidade, da
superação dessa distância.
O segundo aspecto se apresenta na condição da atuação profissional, onde foi-me
facultado o exercício profissional no Complexo Comunitário Vida Plena, que é uma unidade
docente-assistencial criada pela Sociedade Holon – entidade sem fins lucrativos de utilidade
pública que, em suas atividades de cunho educativo, assistencial e científico, busca a promoção
da integração dos indivíduos, saberes e vivências dentro de uma perspectiva evolucionista
biopsicossocioespiritual – em parceria com a Escola Bahiana de Medicina. Nesta experiência,
dentro da tarefa de resolução de questões referentes a educação integral de jovens em situação
de vulnerabilidade psíquica, social e econômica, foi possível a aproximação daquilo que Santos
& Almeida Filho (2008) denominam como cultura de produção de conhecimento em rede,
vivenciando o desafio da aproximação dialógica e interacional dos conhecimentos universitários
com os saberes locais não hegemônicos da comunidade assistida, na assim chamada ecologia de
saberes. As possibilidades e conflitos inerentes a este processo permitiram vislumbrar a questão
da comunicação interdisciplinar e de como, segundo Almeida Filho (1997) ela é impossibilitada
pela via da tradução, pois um saber, científico ou não, se constitui por mais elementos do que
apenas conceitos e métodos, com um conjunto de práticas incorporadas e “enculturadas” nos
sujeitos, mediante uma comunicação interdisciplinar análoga à comunicação inter-étnica – uma
linguagem, lógica e simbologia compartilhadas. Para uma efetiva comunicação interdisciplinar,
faz-se necessário então a produção de discursos que possam ultrapassar as fronteiras
disciplinares.
Desta forma, investigar a concepção de transdisciplinaridade presente em produções
acadêmicas dos professores dos Bacharelados Interdisciplinares pode contribuir na promoção do
debate sobre a transdisciplinaridade no ensino, haja vista a importância da compreensão do
pensamento transdisciplinar dos docentes para a difusão deste conhecimento na formação de
estudantes e profissionais com práticas profissionais que considerem o ser humano na sua
multidimensionalidade.
REVISÃO DE LITERATURA
Foi realizada, no dia 11/21/2020 uma busca preliminar na base de dados Scientific
Electronic Library Online (SciELO.org), que abrange produções nacionais e internacionais, com
significativa relevância científica e acadêmica, permitindo o livre acesso a textos completos de
um grande número de revistas brasileiras, além de oriundas de vários países da América Latina,
Portugal e Espanha.
Nesta busca, ao utilizar as combinações de descritores apresentadas na Figura 1 e suas
correspondentes traduções em inglês e espanhol, encontrou-se um total de 498 artigos nestas 3
línguas. Cabe aqui pontuar uma limitação desta revisão, que foi a ausência de buscas por artigos
na língua francesa, apesar desta contar com importantes pensadores e pesquisadores acerca do
tema. Foi realizado um primeiro filtro, excluindo artigos duplicados e repetidos em mais de uma
das combinações, encontrando assim um total de 227 artigos. Não foi utilizado critério temporal
para a filtragem dos artigos, abrangendo produções desde meados da década de 1990 até o
presente ano.

TOTAL

Aula Transdisciplinar

Atitude Transdisciplinar

Pesquisa e Transdisciplinaridade

Professor Transdisciplinar

Docência Transdisciplinar

Trandisciplinaridade e Conceito

Transdisciplinaridade e Universidade

Educação Superior e Transdisciplinaridade


0 100 200 300 400 500 600

Trabalhos Encontrados FILTRO 1 - Trabalhos Repetidos

Figura 1. Artigos coletados na base de dados Scielo.org em 11/12/2020

Até o presente momento, a fase seguinte de pesquisa, ainda está em andamento. Ela
corresponde ao segundo filtro dos trabalhos encontrados, que segue o seguinte critério: atender
ao tema investigado como condição central do trabalho – via leitura do título, resumo e
palavras-chave – havendo referência teórica ou de estudo sobre o mesmo. Vale destacar alguns
trabalhos encontrados no processo como Mendonça et al (2016), que, em estudo de intervenção,
analisaram o desenvolvimento das competências do profissionalismo em estudantes de
diferentes áreas do conhecimento por meio de uma proposta de ensino crítico-reflexiva, que
aliou a utilização das metodologias ativas e tecnologias de informação e comunicação. Tavares
& Gonzaga (2016), com uma discussão sobre o tema Currículo, Transdisciplinaridade e
Educação Tecnológica, na perspectiva do Terceiro Incluído na formação de professores,
buscaram mediante de uma revisão bibliográfica, dialogar com os autores tecendo ideias que
nos levassem a produzir outras concepções, integradas aos conceitos de Educação Tecnológica e
Formação de Professores. Outro artigo analisa a integração entre as disciplinas no campo das
relações internacionais, questionando a integração entre as disciplinas como critério de
avaliação curricular (VENTURA & LINS, 2014).

QUADRO TEÓRICO
Ante o cenário hegemônico do paradigma neoliberal, limitado quanto à compreensão do
conjunto de mutações profundas e complexas que atravessam as dimensões da vida humana, é
imperativa a necessidade de novas epistemologias para a compreensão da realidade, que não é
propriamente nova (MORIN, 2005b; SANTOS, 2008b). Faz-se necessário um esforço coletivo
para a aproximação dos saberes, de forma a promover uma integração efetiva das perspectivas
científicas às necessidades das dimensões física, biológica, cultural, sociológica, histórica e
espiritual do ser humano, que estão interligadas (MORIN, 2005a). Diante disso, o conceito
norteador da presente proposta de pesquisa é a transdisciplinaridade, que remete a uma
necessidade existente desde o início do século XX: a articulação entre as disciplinas do
conhecimento nos programas escolares. Contudo, segundo Almeida Filho (1997), a
transdisciplinaridade é um conceito que, apesar de sua importância, ainda necessita
sistematização, devido a carência de definição.
Sommerman (2006) informa que a primeira definição do conceito surgiu na década de
1970 com Jean Piaget, que a preconizava como um estado de integração disciplinar a se
alcançar, onde a interação entre as disciplinas científicas se faria imersa em sistemas totais e ao
mesmo tempo produziria sistemas axiomas comuns, no qual estas disciplinas teriam suas
fronteiras mais diluídas, tendo em vista a constituição de uma ciência geral, em novos modelos
de organização do conhecimento. Posteriormente, Erich Jantsch amplia a definição, incluindo
outros sistemas além da ciência, alcançando níveis propositivos.
Alguns congressos internacionais também realizaram contribuições para a definição do
conceito, trazendo uma perspectiva mais ampliada, visando uma atitude transdisciplinar, na
forma de diálogos entre as diferencias ciências e desta com as artes, a filosofia, as culturas e
tradições. Alguns destes eventos foram: o colóquio “A Ciência Diante das Fronteiras do
Conhecimento”, que gerou a Declaração de Veneza; o congresso “Ciência e Tradição”, gerando
um documento com o mesmo nome; o “I Congresso Mundial da Transdisciplinaridade”, que
produziu a Carta da Transdisciplinaridade e a Síntese do Congresso de Locarno, que definiu “os
três pilares metodológicos da pesquisa transdisciplinar e os sete eixos básicos da evolução
transdisciplinar na Educação” (SOMMERMAN, 2006, p.50).
A transdisciplinaridade, assim, contrapõe-se à especialização massiva das disciplinas,
ganhando espaço discursivo internacional, mediante eventos diversos e uma produção
acadêmica promissora - destaque no Brasil para o Centro de Educação Transdisciplinar
(CETRANS, 2000). Neste trabalho, a concepção de transdisciplinaridade utilizada consiste não
apenas em uma modalidade teórica de compreensão e interpretação da produção do
conhecimento científico, mas uma perspectiva fenomenológica da própria realidade e de sua
manifestação no mundo, que exige, por um lado, uma desconstrução das relações entre as
diferentes esferas do saber humano, e por outro, a construção de novas formas pessoais e
coletivas de ação no mundo, dentro da(s) definição(ões) ontológica(s) construídas individual e
socialmente (GIBBS, 2017).
A partir deste pressuposto, Nicolescu (1999) aborda a transdisciplinaridade como um
movimento para além dos fenômenos disciplinares do conhecimento, abrangendo a multi e
interdisciplinaridade, porém realizando uma verdadeira transgressão das fronteiras entre as
disciplinas do conhecimento. Desta forma, haveriam dois movimentos simultâneos e
complementares de diálogo entre as disciplinas, embasados por uma atitude transdisciplinar e de
superação das mesmas, na busca por uma unidade do conhecimento.
Este conceito abarca a necessidade de um princípio de explicação mais rico, que podemos
denominar princípio de complexidade, ou pensamento complexo, ramo da epistemologia
chamado epistemologia da complexidade (MORIN, 2005a, 2005b). Este princípio caminha em
outro sentido com relação à noção do conhecimento científico tecnicista, que tem por objetivo
dissipar a complexidade dos fenômenos a fim de revelar uma aparente ordem simples a que eles
obedecem. Já a ideia de complexidade dos fenômenos, proposta por Morin (2005a, 2005b)
apresenta a realidade como um todo indissociável, composto por tecidos de acontecimentos,
acasos, determinações e incertezas, apresentados em níveis perceptivos e reforça a necessidade
da abordagem transdisciplinar dos fenômenos estudados, afastando do pensamento reducionista
e relacionando conceitos como criatividade e teoria do caos.
Como o próprio conceito de transdisciplinaridade permite uma interpretação polissêmica
das suas significações por parte dos sujeitos, existe a possibilidade de emergirem concepções
diversas de transdisciplinaridade durante a pesquisa, que não necessariamente entram em
contradição com o que está sendo apresentado. Para tal, busca-se utilizar os conceitos de
ecologia de saberes (SANTOS, 2008a). A ecologia de saberes parte de dois pressupostos: a não-
neutralidade epistemológica e a incidência da reflexão epistemológica no diálogo com a prática
social do conhecimento. Com base nisto, os critérios previamente desenvolvidos para validação
dos aspectos transdisciplinares encontrados considerarão os múltiplos aspectos da noção da
construção epistemológica, inclusive para possíveis redefinições destes mesmos critérios.
O modelo de Universidade Nova (SANTOS & ALMEIDA-FILHO, 2008) aponta uma
renovação da arquitetura acadêmica na universidade brasileira. Ele visa superar a vigente
formação universitária, caracterizada por programas de graduação e pós-graduação
desarticulados entre si e estreitos na formação cultural e intelectual nacional, além de distantes
do atendimento das demandas da realidade social. Para tal, são implicadas a introdução de
temas culturais contemporâneos relevantes na educação superior, considerando a
multiculturalidade brasileira e a compatibilização com a educação superior internacional,
mediante a promoção de mobilidade, flexibilidade, eficiência e qualidade nos seus processos.
Desta forma, a estrutura curricular deste modelo altera-se pela implantação de três etapas na
formação universitária: a primeira corresponde ao Bacharelado Interdisciplinar (BI), uma
formação universitária generalista, pré-requisito para progressão aos ciclos de formação
profissional naqueles cursos que evoluem para o regime de ciclos; a segunda corresponde à
formação específica, reduzindo a duração dos atuais cursos e focalizando as etapas curriculares
de práticas profissionais; a terceira envolve a trajetória de pesquisa acadêmica, embasada no
paradigma transdisciplinar e composta pelos cursos de mestrado e doutorado acadêmicos, além
do mestrado profissional.

METODOLOGIA
A proposta estrutura-se na condição de um estudo descritivo, com abordagem de natureza
qualitativa, compreendida aqui tendo como pressuposto a ideia da realidade social como
portadora de significados que são investigados pela fala em contraste com a prática dos atores
sociais. À pesquisa qualitativa, então, cabe a tarefa de relacionar o discurso e a práxis dos atores
sociais, interpretando-os de acordo com um referencial teórico, na busca de alcançar
significados latentes e subjacentes à mensagem emitida. Ela obedece a um critério de descrição,
compreensão e explicação do fenômeno, em suas dimensões simbólica, histórica e concreta.
(MINAYO; SANCHES, 1993)
Propõe-se como população de pesquisa o conjunto de professores efetivos do
Bacharelado Interdisciplinar de Saúde da Universidade Federal da Bahia. A partir deste
delineamento do público-alvo, a pesquisa seguirá pela execução de dois processos: o primeiro
será a pesquisa bibliográfica da produção científica dos docentes, priorizando os artigos
científicos revisados por pares registrados nos respectivos Curriculum Lattes dos docentes,
categorizando os elementos constituintes da transdisciplinaridade nos percursos acadêmicos
realizados. Em sequência, serão realizadas entrevistas semiestruturadas com a população de
professores dos Bacharelados Interdisciplinares, nas quais se utilizará um roteiro para coleta de
dados sociodemográficos que também conterá questões destinadas a investigar as concepções de
transdisciplinaridade presentes nos seus relatos.
A perspectiva metodológica utilizada para análise dos dados neste processo de entrevistas
será a Grounded Theory. Também entendida como “teoria fundamentada”, ela desenvolve uma
teoria sobre a realidade investigada que segundo Vergara (2015), é sem a criação de hipóteses
pré-concebidas, ou seja, é a “teoria substantiva que emerge dos dados” (VERGARA, 2015,
p.97), representando uma realidade específica e ajudando na reformulação/criação de teorias
formais, contudo sem ter vistas à generalização. A construção deste tipo de teoria ocorre por
meio da coleta seletiva, categorização e saturação teórica. Ela exige um nível mais elaborado na
interpretação dos dados, identificação dos conceitos e categorias, de forma a elaborar uma
teoria, que é de natureza local e transitória. Já a coleta de dados e a sua análise são processos
que ocorrem simultaneamente. Para a análise e categorização dos dados obtidos nos dois
processos de pesquisa, a Análise de Conteúdo será priorizada (BARDIN, 1977). A análise de
conteúdo é uma metodologia usada especialmente nas ciências humanas para estudos de
conteúdo em diferentes modelos de mensagens, construindo um conhecimento do “discurso” do
interlocutor. Este método foi escolhido por ter como unidade de informação de base a presença
ou ausência de uma característica – neste caso a transdisciplinaridade – na análise temática do
material escolhido.

ASPECTOS ÉTICOS
Como se trata de um projeto de pesquisa com seres humanos e na área da educação
superior, serão obedecidas as normas da Resolução CNS 510/2016, que regulamenta pesquisas
desta natureza nas Ciências Humanas. Para tal, haverá a submissão deste projeto ao Comitê de
Ética em Pesquisa.
Os participantes consultados assinarão previamente o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (TCLE), onde confirmarão o aceite para participação na pesquisa. Mediante o
TCLE, o sujeito irá declarar ter sido informado – de forma clara, direta, detalhada e por escrito
– das informações acerca do tema, dos objetivos, justificativa e procedimentos metodológicos
da pesquisa em questão. Não obstante, além da possibilidade de participar ou não da pesquisa,
também será possível a retirada do consentimento, em qualquer fase do projeto, sem acarretar
nenhum tipo de prejuízo de variada ordem. Por fim, também será assegurada a segurança quanto
a preservação da identidade dos(as) participantes, assim como das informações ofertadas.
CRONOGRAMA DE PESQUISA
Tabela 1. Cronograma de pesquisa até o período de qualificação
ATIVIDADE  PERÍODO 2020/2021 
SET- JAN- ABR- JUL-
Construção do Projeto de pesquisa DEZ MAR JUN SET
/2020 /2021 /2021 /2021
Ampliação e detalhamento do projeto X X X X
Levantamento bibliográfico X X X  
Elaboração do instrumento da pesquisa: roteiro
    X X
de entrevista
Exame de Qualificação       X

Tabela 2. Cronograma de pesquisa do período de qualificação até a defesa da dissertação


ATIVIDADE PERÍODO 2021-2022
OUT- JAN- ABR- JUL- OUT-
Pesquisa de Campo (Produção e
DEZ MAR JUN SET DEZ
Análise dos dados)
/2021 /2022 /2022 /2022 /2022
Submissão do projeto ao comitê de  
X      
ética em pesquisa
Realização das entrevistas com os  
  X    
professores
Análise dos dados qualitativos     X    
Transcrição e análise das entrevistas  
    X  X
narrativas
Escrita da dissertação / Entrega e  
      X
defesa da dissertação X
REFERÊNCIAS

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