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WINNICOTT - PRINCIPAIS CONCEITOS

Escrito por Joviane Moura | Publicado em Sábado, 16 Agosto 2008 09:00

Fonte: Winnicott - Principais Conceitos - Psicanálise - Abordagens - Psicologado


Artigos http://artigos.psicologado.com/abordagens/psicanalise/winnicott-principais-conceitos#ixzz1wSWvIMDy

Para Winnicott a criança nasce indefesa. É um ser desintegrado, que percebe de maneira desorganizada os
diferentes estímulos provenientes do exterior. O bebê nasce também com uma tendência para o desenvolvimento. A
tarefa da mãe é oferecer um suporte adequado para que as condições inatas alcancem um desenvolvimento ótimo.
HOLDING
Para Winnicott a sustentação ou holding protege contra a
afronta fisiológica. O holding deve levar em consideração a
sensibilidade epidérmica da criança – tato, temperatura,
sensibilidade auditiva, sensibilidade visual, sensibilidade às
quedas – assim como o fato de que a criança desconhece a
existência de tudo o que não seja ela própria. Inclui toda a rotina
de cuidados ao longo do dia e da noite. A sustentação
compreende, em especial, o fato físico de sustentar a criança nos
braços, e que constitui uma forma de amar. A mãe funciona como
um ego auxiliar.
Winnicott propõe que, durante os últimos meses de
gestação e primeiras semanas posteriores ao parto, produz-se na
mãe um estado psicológico especial, ao qual chamou de
“preocupação materna primaria”. A mãe adquire graças a esta
sensibilização, uma capacidade particular para se identificar com
as necessidades do bebê.
O holding feito pela mãe é o fator que decide a passagem do estado de não-integração, que caracteriza o recém-
nascido, para a integração posterior. O vínculo entre a mãe e o bebê assentará as bases para o desenvolvimento
saudável das capacidades inatas do indivíduo.
SELF VERDADEIRO E FALSO SELF
O ser humano, para Winnicott, nasce como um conjunto desorganizado de pulsões, instintos, capacidades
perceptivas e motoras que conforme progride o desenvolvimento vão se integrando, até alcançar uma imagem unificada
de si e do mundo externo. (Bleicmar e Bleicmar, 1992).
O papel da mãe é prover o bebê de um ego auxiliar que lhe permita integrar suas sensações corporais, os
estímulos ambientais e suas capacidades motoras nascentes.
Quando a mãe não fornece a proteção necessária ao frágil ego do recém-nascido; a criança perceberá esta falha
ambiental como uma ameaça à sua continuidade existencial, a qual, por sua vez, provocará nela a vivência subjetiva de
que todas as suas percepções e atividades motoras são apenas uma resposta diante do perigo a que se vê exposta.
Pouco a pouco, procura substituir a proteção que lhe falta por um “fabricada” por ela. O sujeito vai se envolvendo em
uma casca, às custas da qual cresce e se desenvolve o self. O individuo vai se desenvolvendo como uma extensão da
casca, como uma extensão do meio atacante.
Winnicott diz que a “mãe boa” é a que responde a onipotência do lactante e, de certo modo, dá-lhe sentido. O self
verdadeiro começa a adquirir vida, através da força que a mãe, ao cumprir as expressões da onipotência infantil, dá ao
ego débil da criança. A mãe que “não é boa” é incapaz de cumprir a onipotência da criança, pelo que repentinamente
deixa de responder ao gesto da mesma, em seu lugar coloca o seu próprio gesto, cujo sentido depende da submissão
ou acatamento do mesmo por parte da criança. Esta submissão constitui a primeira fase do self falso e é própria da
incapacidade materna para interpretar as necessidades da criança.
Nos casos mais próximos da saúde, o self falso age como uma defesa do verdadeiro, a quem protege sem
substituir. Nos casos mais graves, o self falso substitui o real e o indivíduo. Winnicott diz que na saúde o self falso se
encontra representado por toda a organização da atitude social cortês e bem educada. Produziu-se um aumento da
capacidade do individuo para renunciar a onipotência e ao processo primário, em geral, ganhando assim um lugar na
sociedade que jamais se pode conseguir manter mediante unicamente o self verdadeiro. O falso self, especialmente
quando se encontra no extremo mais patológico da escala, é acompanhado geralmente por uma sensação subjetiva de
vazio, futilidade e irrealidade.

OBJETO TRANSICIONAL

O objeto transicional representa a primeira posse “não-ego” da criança, têm um caráter de intermediação entre o
seu mundo interno e externo.
Em Winnicott o conceito de objeto ou fenômeno transicional recebe três usos diferentes: um processo evolutivo,
como etapa do desenvolvimento; vinculada às angústias de separação e às defesas contra elas; representando um
espaço dentro da mente do indivíduo. Ele propõe ainda que em determinadas condições, o fenômeno ou objeto
transicional pode ter uma evolução patológica, ou mesmo se associar a certas condições anormais.
O objeto transicional é algo que não está definitivamente nem dentro nem fora da criança; servirá para que o
sujeito possa experimentar com essas situações, e para ir demarcando seus próprios limites mentais em relação ao
externo e ao interno. Bleichmar e Bleichmar (1992) dizem que o objeto transicional está situado em uma zona
intermediária, na qual a criança se exercita na experimentação com objetos, mesmo que estejam fora, sente como parte
de si mesma.
Para explicar a constituição do objeto transicional, Winnicott remonta ao primeiro vínculo da criança com o mundo
externo, a relação com o seio materno. No princípio, a criança tem uma ilusão de onipotência, vivenciando o seio como
sendo parte do seu próprio corpo. Mas, uma vez alcançada esta
onipotência ilusória, a mãe deve idealmente, ir desiludindo a criança,
pouco a pouco, fazendo com que o bebê adquira a noção de que o seio
é uma “possessão”, no sentido de um objeto, mas que não é ele
(“pertence-me, mas não sou eu”).
O objeto transicional ocupa para um lugar que Winnicott chama de
ilusão. Ao contrario do seio, que não está disponível constantemente, o
objeto transicional é conservado pela criança. Ela é quem decide a
distância entre ela e tal objeto. Como os fenômenos transicionais
“representam” a mãe é essencial que ela seja vivenciado como um
objeto bom. Bleichmar e Bleichamar (1992) relatam que, quando dentro
da criança, o objeto materno está danificado, é pouco provável que ela
recorra, de maneira constante, a um fenômeno transicional.
Winnicott aponta algumas características que são comuns
aos objetos transicionais: a criança afirma uma série de direitos sobre o
objeto; o objeto é afetuosamente ninado e excitadamente amado e
mutilado; deve sobreviver ao ódio, ao amor, e à agressão. É muito
importante que o objeto sobreviva à agressão, possibilitando a criança
neutraliza-la, dando-lhe, posteriormente, um fim construtivo, ao notar
que esta não destrói os objetos.
A ligação e o afastamento do objeto transicional deixa em cada
sujeito uma marca: fica na mente do indivíduo um espaço que, assim
como o objeto transicional, é intermediário entre o interno e o externo. É
nesse espaço que se produz muitas das atividades criativas do homem,
como as artes, a musica, etc. que “representam” o mundo interno para o exterior e, em certo sentido, “representa” a
realidade para si mesmo.

DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO
Winnicott propõe que a maturação emocional se dê em três etapas sucessivas: a da integração e personalização,
a da adaptação à realidade e a de pré-inquietude ou crueldade primitiva.

INTEGRAÇÃO E PERSONALIZAÇÃO
Para Winnicott as experiências iniciais ou diádicas são estruturantes do psiquismo, participam da organização da
personalidade e dos sintomas. O bebê nasce em um estado de não integração. Onde os núcleos do ego estão dispersos
e, para o bebê, estes núcleos estão incluídos em uma unidade que ele forma com o meio ambiente. A meta desta etapa
é a integração dos núcleos do ego e a personalização – adquirir a sensação de que o corpo aloja o verdadeiro self. O
objeto unificador do ego inicial não integrado da criança é a mãe e sua atenção (holding).
Na etapa inicial de desenvolvimento a questão primordial é a presença de uma mãe-ambiente confiável que se
adapte às suas necessidades de maneira virtualmente perfeita. Gurfinkel (1999) lembra que Winnicott inclui entre as
“necessidades do ego” tanto os cuidados físicos quanto os psíquicos. Nem a realização mecânica das tarefas físicas
ligadas ao lidar com o bebê, e nem a resposta imediata às suas demandas pulsionais implicam a satisfação das
necessidades do ego.
A integração é obtida a partir de duas séries de experiências: por um lado tem especial importância a sustentação
exercida pela mãe, que “recolhe os pedacinhos do ego”, permitindo a criança que se sinta integrada dentro dela; por
outro lado há um tipo de experiência que tende a reunir a personalidade em um todo, a partir de dentro (a atividade
mental do bebê). Chega um período em que a criança, graças às experiências citadas, consegue reunir os núcleos do
seu ego, adquirindo a noção de que ela é diferente do mundo que a rodeia. Esse momento de diferenciação entre “eu” e
“não-eu” pode ser perigoso para o bebê, pois o exterior pode ser sentido como perseguidor e ameaçador. Essas
ameaças são neutralizadas, dentro do desenvolvimento sadio, pela existência do cuidado amoroso por parte da mãe.
A personalização – definida por Winnicott como “o sentimento de que a de que a pessoa de alguém encontra-se
no próprio corpo”. O autor propõe que o desenvolvimento normal levaria a alcançar um esquema corporal, chamando-o
de unidade psique-soma. Gurfinkel (1999) diz que a psique e o soma – que formam o esquema corporal de todo
indivíduo – interpenetram-se e desenvolvem-se em uma relação dialética, e apresentam o paradoxo da diversidade na
unidade.
Para Winnicott mente e psique são conceitos diferentes; trata-se de registros relacionados, mas heterogêneos. A
psique é a elaboração imaginativa das partes, sentimentos e funções somáticas e não se separa, nem se divide do
soma. A mente, no desenvolvimento saudável, não é nada mais do que um caso particular do funcionamento do
psicossoma, surgindo como uma especialidade a partir da parte psíquica do psicossoma.

ADAPTAÇÃO À REALIDADE
A medida que o desenvolvimento progride, a criança tem um ego relativamente integrado, e com a sensação
de que o núcleo do si-próprio habita o seu corpo. Ela e o mundo são duas coisas separadas. A etapa seguinte é
conseguir alcançar uma adaptação à realidade.
Nessa etapa a mãe tem o papel de prover a criança com os elementos da realidade com que irá construir a
imagem psíquica do mundo externo. A adaptação absoluta do meio ao bebê se torna adaptação relativa, através de um
delicado processo gradual de falhas em pequenas doses.
Bleichmar e Bleichmar (1992) dizem que para Winnicott a fantasia precede a objetividade, e o seu enriquecimento
com aspectos da realidade depende da ilusão criada pela mãe; tudo repousa no vínculo precoce da criança com sua
mãe. Mas o acoplamento entre alucinação infantil e os elementos da realidade fornecidos pela mãe nunca poderá ser
perfeito. No entanto, o lactante pode vivê-lo como quase ótimo, graças a uma parte de sua personalidade, que procura
preencher o vazio entre alucinação e realidade – a mente.
Winnicott considera que a atividade mental da criança faz com que um meio ambiente suficiente se transforme em
um perfeito, converte o relativo fracasso da adaptação em um sucesso adaptativo. O autor fala que o que libera a mãe
de ser quase perfeita é a compreensão da criança.
A mente se desenvolve através da capacidade de compreender e compensar as falhas; é uma função do
ambiente à medida que ele começa a falhar, Gurfinkel (1999) diz que é apenas à medida que o ambiente falha que ele
começa a existir para o bebê enquanto realidade. Portanto, se no início, a tarefa da mãe é adaptar-se de maneira
absoluta às necessidades do bebê, em seguida, será de fundamental importância que ela possa fornecer um fracasso
gradual da adaptação para que a função mental do bebê se desenvolva satisfatoriamente. O resultado disto será a
emergência da capacidade do próprio sujeito de cuidar de seu self, atingindo um estágio de dependência madura.
Quando p ambiente não proporciona os cuidados que o psicossoma considera como elementares, a mente se vê
obrigada a uma hiperatividade, o pensamento do indivíduo começa a assumir o controle e a organizar o cuidado ao
psique-soma, podendo ocasionar uma oposição entre mente e psicossoma, ocasionado um distanciamento do
verdadeiro self. Em estado de saúde, a mente não usurpa as funções do meio, mas possibilita uma compreensão e
eventual aproveitamento de sua falha relativa.

CRUELDADE PRIMITIVA (FASE DE PRÉ-INQUIETUDE)


Depois de a criança ter alcançado a diferenciação entre ela e o meio circundante e se adaptar em certa medida à
realidade, pela absorção de pautas objetivas dela, que modificam suas fantasia, o último passo que deve dar é integrar
em um todo as diferentes imagens que tem de sua mãe e do mundo.
Winnicott pensa que a criança pequena tem uma cota inata de agressividade, que se exprime em determinadas
condutas auto-destrutivas. O bebê volta seu ódio sobre si mesmo para proteger o objeto externo; mas esta manobra não
é suficiente e em sua fantasia a mãe pode ficar intensamente danificada. (Bleichmar e Bleichmar, 1992).
A mãe é, além do objeto que recebe, em certos momentos, a agressão da criança, é também aquela que cuida
dela e a protege. Quando a criança exprime raiva e recebe amor, a criança confirma que a mãe sobreviveu e é um ser
separado dela. O bebê adquire a noção de que suas próprias pulsões não são tão danosas e pode, pouco a pouco,
aceitar a responsabilidade que possui sobre elas.
Bleichmar e Bleichmar (1992) dizem que simultaneamente a mãe que é agredida e a mãe que cuida vão se
aproximando na mente do indivíduo, que assim adquire a capacidade de se preocupar com seu bem-estar, como objeto
total. Isto constitui o grande sucesso que, que Winnicott identifica como a última das etapas do desenvolvimento
emocional primitivo.

REFERÊNCIAS
Gurfield, Décio. Psicanálise e Psicossoma: notas a partir do pensamento de Winnicott. In: Volich, R. M.; Ferraz, F. C.;
Arantes, M. A. de A. C. Psicossoma II – psicossomática psicanalítica. São Paulo: Casa do Psicólogo, 1998.
Bleichmar, N. M. e Bleichmar, C. L. A Psicanálise depois de Freud: teoria e clínica. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.
Oliveira, C. A. Disponível em: http://www.psicologia.org.br/internacional/winncar.htm. 17 de julho de 2008.
Santos, Eder Soares. A Teoria do Amadurecimento de D. W. Winnicott como Ciência Ôntica da Acontecência Humana –
apresentação do projeto de doutorado. http://www.psicanaliseefilosofia.com.br/eder/doutorado.pdf. 17 de julho de 2008.

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