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Uma vez que a polícia carioca não era estruturada como uma carreira, o controle
dos policiais pela administração era mais fácil, mas feito a partir de critérios não
necessariamente operacionais. As nomeações eram devidas às redes clientelísticas e era
a seus patrões que os policias deviam contas. Quando a polícia se tornou mais
institucionalizada ela provavelmente criou maneiras de trabalhar que frequentemente
escapavam ao controle das autoridades do estado – o que sempre foi um grande desejo
de muitos policiais – embora a maior parte do tempo a polícia tenha de reconhecer a
presença do controle do estado e seguir suas instruções. Isso pode ser observado na
repressão a delitos de ordem pública (BRETAS, 1997: 62), porque “a polícia tinha de
obedecer aos desejos da elite e processar vadios e jogadores mas, uma vez relaxada a
pressão, o número de processos caía”1. Ordem na Cidade constata que lidar com os
medos da elite fazia parte da tarefa da polícia desde a Velha República, e no caso do
jogo, a repressão não era uma política permanente, executada pelos policiais de rua, mas
sim campanhas ocasionadas chefiadas pelos delegados ou comissários, que prendiam
alguns jogadores para constar (Idem).
1
BRETAS, Marcos Luiz. Ordem na Cidade. Op., cit. p. 62.
crimes tenha sido por racismo, isto é, em crimes praticados contra negros, visto que,
antes, terem sido escravos2.
Uma vez que muitas das tarefas da polícia não resultavam em prisões e os casos
de ordem pública permitiam múltiplas prisões simultâneas, o impacto dos delitos de
ordem pública foi ainda maior em estatísticas de prisões, e a queda acentuada também
foi notável, segundo Marcos Bretas. Em 1909, os três delitos contra a ordem pública
foram responsáveis por 916 do total de 1.461 prisões. O número total de prisões caiu
dois terços em 1917, reduzido a 523, sendo 110 devidas a delitos de ordem pública. a
tendência decrescente continuou até 1925, quando houve apenas 377 prisões, das quais
33 pelos delitos de ordem pública. É visível que alguns distritos efetuaram muito mais
prisões deste tipo do que outros; isso é particularmente perceptível no 5º DP, onde elas
representam 432 das 571 prisões de 1909, e 282 das 465 de 1913
2
Mas, essa hipótese o autor descarta porque tal fator necessitaria de ser apoiado por uma disposição da
polícia em voltar-se contra o racismo, isto é, em direcionar-se em combater a violência contra negros, o
que seria pouco provável. Cf. BRETAS, Marcos Luiz. Ordem na Cidade. Op., cit. p. 83.
3
Para mais a respeito de práticas seletivas da polícia, cf. BRETAS, Marcos Luiz. Ordem na Cidade: o
exercício cotidiano da autoridade policial no Rio de Janeiro: 1907-1930. Tradução de Alberto Lopes. Rio
de Janeiro: Rocco, 1997. p. 93; LIMA, Roberto Kant de. Ensaios de Antropologia e de Direito: acesso à
Justiça e processos institucionais de administração de conflitos e produção da verdade jurídica em uma
perspectiva comparada. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011. p. 42, 52, 56, 63-4, 69, 80-4, 129, 148.
comportamento, esse sim, parecia de fato constituir uma ameaça física 4. As imagens de
desordens que existiam na cidade, segundo o autor citado por Marcos Bretas, Eduardo
Silva, chama-nos a atenção: o medo do vagabundo e a preocupação com a ordem, pois,
não como mera fantasia das classes superiores, mas, simultaneamente, um sentimento
de desconfiança das forças policiais, e um sentimento de esperança de que estas mesmas
forças ‘limpasse’ as ruas de tais figuras ameaçadoras (BRETAS, 1997: 86).
4
SILVA, Eduardo. As Queixas do Povo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. Apud: BRETAS, Marcos
Luiz. Ordem na Cidade. Op., cit. p. 86.
5
Muito possivelmente o que ocorreu foi uma mudança nos métodos de registro, que passaram a ser feitos
em livros próprios, que não foram encontrados, deixando apenas notas esparsas nos livros de ocorrência.
O policiamento nas áreas centrais da cidade mudara o seu caráter dos primeiro
anos, abandonando a preocupação com a ordem pública através da repressão à
vadiagem e embriaguez, ou a transferência para o departamento especializado da
Delegacia Auxiliar. Os nove casos remanescentes de perturbação da ordem pública
seriam provavelmente um recurso de policiais que recorriam à lei para afirmar sua
autoridade (BRETAS, 1997: 113).
Vinte e oito delegados – mais tarde trinta – recrutados entre advogados com dois anos
de prática eram os principais funcionários policiais em áreas específicas da cidade – os
distritos. O decreto 6440 listava 33 obrigações que eles tinham de cumprir, relacionadas
com a manutenção da ordem pública, investigação de crimes e atividades burocráticas.
Tinham de estar presentes em suas delegacias duas vezes por dia: entre 11:00h e 16:00h,
e novamente à noite ‘por tanto tempo quanto fosse necessário’ (BRETAS, 1997: 51).