A nossa sociedade enfrenta um dos mais complexos problemas dos últimos séculos – a
pandemia do Coronavírus. Em 31 de dezembro de 2019 foi notificado o primeiro caso de
SARS-CoV2, na província de Wuhan na China. Já em março de 2020 a Organização Mundial
da Saúde (OMS) definiu o surto da doença como uma pandemia e, desde então, estamos
vivendo uma situação até certo ponto inimaginável. É como se estivéssemos presos a uma
realidade distópica. “Enclausurados” em nossos lares, no entanto, mais conectados do que
nunca.
É comum ouvirmos que vivemos na era da informação, o que de fato é verdade. Nunca
foi tão fácil ter acesso a informação. O que deveria ser um diferencial da nossa geração
acabou se tornando um de seus maiores problemas. Os algoritmos nos aprisionam em bolhas,
somos bombardeados constantemente com certezas que nos emburrecem, nas redes sociais é
comum ter nossos pensamentos corroborados. Não é interessante para o facebook e instagram
nos apresentar o mundo real. A realidade é dura fora das redes, dentro delas é suavizada com
doses homeopáticas de sol, praia, roupas de banho, cachorros fofinhos e pratos bem
fotografados. As redes sociais nos aprisionam a uma realidade na qual todos somos iguais,
fenômeno classificado por Byung-Chul Han como a “expulsão da diferença” construída a
partir da tese de que “os indivíduos hoje se autoexploram e têm pavor do outro, do diferente.
Vivendo, assim, “no deserto, ou no inferno, do igual”. A polarização política vivenciada no
Brasil contemporâneo reflete bem esse fenômeno. Imerso em redes sociais e grupos do
WhatsApp, o cidadão médio brasileiro se transformou em cientista político, sendo capaz de
opinar sobre tudo e com uma segurança tão sólida quanto um castelo de cartas.
Ao refletirmos sobre Educação e Tecnologia, nome da disciplina para a qual esse texto
está sendo escrito, somos levados a conjecturar o quanto as Tecnologias Digitais da
Informação e Comunicação (TDIC) afetaram o processo de ensino/aprendizagem. Partindo do
pressuposto que a educação não está inserida em um mundo paralelo, é fato que a mesma de
alguma forma vem sendo afetada pela tecnologia. Porém, o que é necessário questionar é: as
TDIC´s têm afetado positivamente o processo de ensino/aprendizagem? E esse
questionamento não é de fácil resolução.
1
Peço licença para utilizar um termo popularizado muito recentemente dentro do mundo das redes sociais.
2
No método criado por René Descartes se institui a dúvida: só se pode dizer que existe aquilo que possa ser
provado.
Alguns professores acreditam que ao prepararem uma sequência de slides e usarem um
data show estão inovando, mas sabemos que por vezes o uso desses equipamentos não muda
em nada a dinâmica da aula que continua centrada no professor como transmissor do
conhecimento e os alunos como meros receptores. Julgo que a dificuldade em enxergar o
aluno como protagonista no processo de ensino/aprendizagem é a primeira barreira que
precisa ser rompida e, para isso, não é necessário fazer uso da tecnologia da informação.
O contexto pandêmico já aqui citado trouxe vários desafios para os docentes, que
precisaram despertar para o uso da tecnologia em suas aulas. No entanto, ao contrário do que
muitos defendem, não creio que isso representou um grande avanço, pois, em alguns casos os
professores apenas adaptaram suas aulas para o contexto remoto. O Google Meet se
transformou no espaço das aulas, o quadro foi substituído por inúmeros slides, os formulários
estão mais populares do que nunca. Em muitos casos não houve ressignificação, houve apenas
adaptação.
Por fim, acredito que as TDIC’s não provocaram mudanças significativas no processo
de ensino/aprendizagem pelo fato de que não houve ainda uma apropriação delas como
ferramentas. Ao colocarmos um pincel nas mãos de um indivíduo ele não vai se transformar
instantaneamente em um pintor, tão pouco um professor se transformará em um tiktoker só
por ter acesso a plataforma. E não precisamos de professores tiktokeres (peço perdão pelo
neologismo), o que necessitamos é de letramento digital para que os docentes se sintam
confortáveis na utilização das suas novas ferramentas de trabalho. E para isso é mister que as
licenciaturas ofereçam essa formação desde o início, para que os novos professores saiam das
universidades sabendo manusear bem as novas ferramentas que fazem parte do processo de
ensino/aprendizagem contemporâneo.
REFERÊNCIAS
GELI, Carles. Byung-Chul Han: “Hoje o indivíduo se explora e acredita que isso é
realização”. El país, Barcelona 07 de fev. de 2018. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/07/cultura/1517989873_086219.html. Acesso em: 09
de ago. de 2021
HANCOCK, Jaime Rubio. Byung-Chul Han: Nós somos o ‘Big Brother’: o que Byung-Chul
Han escreve sobre as redes sociais. El país, Barcelona 12 de fev. de 2018. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/07/cultura/1517989873_086219.html. Acesso em: 09
de ago. de 2021
GALINDO, Juan Carlos. Byung-Chul Han, o filósofo coreano que ataca as redes e se tornou
viral. El país, Madri 14 de fev. de 2018. Disponível em:
https://brasil.elpais.com/brasil/2018/02/07/cultura/1517989873_086219.html. Acesso em: 09
de ago. de 2021
SOUZA. Valeska V.S. de. “Letramento digital e formação de professores” In língua Escrita/
Universidade Federal de Minas Gerais - Ceale - Faculdade de Educação - n.1 (2007). Belo
Horizonte: FaE/UFMG, n.2, dezembro 2007.