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PROFESSOR SÉRGIO GABRIEL

CONTRATOS MERCANTIS

1. Obrigação e contrato

1.1. Obrigação: é o compromisso assumido entre devedor e credor.


a) obrigação civil: é aquela assumida entre dois civis e regida pelo Código Civil;
b) obrigação mercantil: é aquela contraída entre duas pessoas, em que uma delas esteja
contratando em razão do vínculo da atividade empresarial, é regida pelo Código Civil e pelo Código
de Defesa do Consumidor.

1.2. Necessidade de diferenciação: a importância de diferenciarmos uma obrigação civil de uma


obrigação mercantil reside inicialmente na natureza do contrato, segundo, no tocante a formação,
prova, proposta, solidariedade e nulidade dos contratos.

2. Contratos Mercantis

2.1. Conceito: Contrato mercantil é o ato jurídico bilateral por força do qual duas ou mais pessoas
acordam, entre si, a constituição, modificação ou extinção de um vínculo jurídico-patrimonial, de
natureza comercial.

2.2. Formação do Contrato: para a celebração de um contrato comercial, por tratar-se de um ato
jurídico, é necessário que as partes sejam capazes, que o objeto seja possível e lícito e que a forma
seja a prevista ou não proibida por lei. Além disso, é preciso que a vontade seja livremente
manifestada.
a) contrato civil: a manifestação de vontade de ambas as partes deve estar comprovada para a
formação do contrato;
b) contrato mercantil: é necessário somente a prova de manifestação da vontade do consumidor,
já que a do comerciante é presumível em razão do exercício da atividade.
2.3. Prova do contrato: vários são os meios de prova existentes no direito para se provar um
contrato, porém, o Direito Empresarial tem esse leque de provas ampliado em razão dos
documentos específicos da atividade comercial.
a) contrato civil: pode se utilizar como meio de prova do contrato o instrumento público,
instrumento particular, testemunhas (até o limite de dez salários mínimos), confissão e presunção;
b) contrato mercantil: pode se utilizar os mesmos meios admitidos no contrato civil, ou seja,
instrumento público, instrumento particular, testemunhas, confissão e presunção, e além desses
gerais, pode também se utilizar os livros e escritas empresariais, sendo que em juízo, quando
oficialmente solicitado, a ausência ou a irregularidade de tais documentos importa na aplicação da
pena de confissão.

2.4. Proposta: existindo uma proposta ou oferta pela parte interessada na celebração do contrato,
denominado proponente ou ofertante, caberá à outra dizer se aceita ou não; essa manifestação
denomina-se aceitação. Formulada a proposta, esta pode ser aceita pela outra parte imediatamente
(contrato entre presentes) ou após um certo período de tempo (contrato entre ausentes).
Diferentemente do contrato civil, no contrato mercantil em qualquer condição a proposta obriga o
empresário em razão da aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor.
a) contrato civil: a proposta para obrigar as partes precisa ser formulada ou aceita de forma pública;
b) contrato mercantil: no tocante ao comerciante, independentemente de que forma tenha sido
feita a proposta ela o obrigará.

2.5. Solidariedade passiva: em se tratando de relação obrigacional, existe a possibilidade de termos


mais de um devedor na obrigação, no entanto, a solidariedade entre os devedores se opera de
maneira distinta entre o contrato civil e o contrato mercantil:
a) contrato civil: no contrato civil a solidariedade entre os devedores deve estar expressa no
contrato, sendo que na hipótese de não estar expressa, mas o objeto do contrato for um bem
indivisível, presumir-se-á a solidariedade;
b) contrato mercantil: independentemente de ser ou não divisível o bem objeto do contrato, nas
obrigações comerciais presumem-se sempre solidários os devedores.

3. Contratos mercantis em espécie


3.1. Conceito: são contratos de natureza mercantil previstos no Código Civil e na legislação
empresarial extravagante. Além desses, existem contratos mercantis que são largamente utilizados
sem previsão legal, sendo regulados pelos usos e costumes comerciais.

3.2. Características: os contratos mercantis por terem natureza diversa da dos contratos civis,
evoluem de forma totalmente distintas, em razão das seguintes características:
a) dinamismo: as relações mercantis são totalmente dinâmicas, principalmente em razão da
globalização, o que tem permitido a adoção de uma série de novos instrumentos neste ramo do
direito;
b) informalidade: exatamente em razão da velocidade com que evoluem as relações mercantis, não
podem as partes aguardarem a evolução legislativa para adoção de novos instrumentos, razão pela
qual muitas vezes se opera o informalismo;
c) uniformização: uma vez que o Brasil abriu sua economia e aderiu ao mundo globalizado, nossas
atividade econômicas precisam estar constantemente se atualizando para ficar em sintonia com o
mercado internacional, razão pela qual se adota no nosso direito, ainda que de maneira informal,
os novos instrumentos mercantis.

3.2. Tipo: dois são os contratos mercantis, contrato tipo ou contrato de adesão:
a) contrato tipo: é a espécie contratual em que ainda que haja cláusulas previamente estipuladas,
a relação permite a discussão dos elementos do contrato;
b) contrato de adesão: é o contrato em que o aderente não possui condições de influir na redação
das cláusulas contratuais que já foram estabelecidas previamente.

4. Compra e Venda Mercantil

4.1. Conceito: compra e venda mercantil é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a transferir
a propriedade de uma coisa à outra, mediante o pagamento de uma certa importância em dinheiro
ou através de financiamento equivalente.

4.2. Previsão legal: artigo 481 do Código Civil.

4.3. Forma: a forma é livre uma vez que não existe prescrição na lei para o seu estabelecimento,
exceto para bem imóvel, uma vez que a lei civil entende como só concretizada quando lavrada e
registrada a escritura de compra e venda.
4.4. Características: os principais elementos desta espécie de contrato são:
a) onerosidade: uma vez que as duas partes têm o seu patrimônio afetado com a operação
mercantil;
b) consensual: já que se considera formado o contrato com a manifestação da vontade das partes;
c) bilateral: prevê obrigações recíprocas, de um lado o vendedor se compromete a entregar o bem,
e de outro, o comprador assume a obrigação de pagar pelo bem;
d) comutativo: em regra os contratos de compra e venda mercantil são comutativos em razão da
prévia estipulação do valor de venda e do objeto de compra;
e) aleatório: excepcionalmente, o contrato de compra e venda mercantil pode ser aleatório, ou seja,
as partes não sabem exatamente qual é a prestação que a obrigação lhes incumbe, dependendo de
evento futuro;
f) não solene: independe de forma estabelecida em lei.

4.5. Modalidades de compra e venda: a compra e venda pode se operar de várias formas, são elas:
a) simples: quando ocorre o ajuste do preço entre as partes e a tradição da mercadoria;
b) condicional: quando a formação do contrato dependerá da satisfação de uma condição, como
por exemplo, na venda de veículos em que seja colocado um carro para a realização de test drive,
neste caso, a venda só poderá se concretizar após a realização da condição caso exigida pelo
comprador;
c) termo: é a compra realizada fora do estabelecimento comercial, seja pelo correio, telefone,
Internet, em que o contrato só se aperfeiçoa após o recebimento e aceitação da mercadoria pelo
comprador;
d) complexas: consideram-se complexas as vendas de execução continuada, como a assinatura de
revistas ou jornais;
e) venda pública: são aquelas realizadas através de leilões.

4.6. Distinção para a compra e venda civil: na venda mercantil a atividade é realizada de forma
profissional, ao contrário da venda civil.

4.7. Amostra: o vendedor apresenta ao comprador somente uma amostra da mercadoria a ser
vendida, garantindo-lhe que a mercadoria vendida possui as mesmas características da amostra e
assumindo as obrigações daí decorrentes.
4.8. Reserva de Domínio: nos contratos de compra e venda com reserva de domínio, este não se
transfere com a tradição da coisa. Ao vendedor, reserva-se a propriedade da coisa até que se realize
determinada condição. Ao comprador, apenas assegura-se a posse da coisa, ocorrendo à
transferência da propriedade só após o pagamento.

4.9. Responsabilidade: por tratar-se de relação de consumo, a responsabilidade civil dos


contratantes é regida pelo Código de Defesa do Consumidor, sendo as principais delas:
a) comprador: pagar o preço ajustado e quando se tratar de venda financiada, como se opera a
reserva de domínio, deverá o comprador conservar a coisa como se sua fosse;
b) vendedor: entregar a mercadoria e responder por vícios de quantidade e qualidade do produto,
bem como responder por eventuais defeitos apresentados. Em se tratando de venda financiada,
deverá após o final pagamento, transferir o domínio ao comprador.

5. Mandato Mercantil

5.1. Conceito: mandato mercantil é o contrato pelo qual um empresário confia a uma pessoa a
gestão de um ou mais negócios mercantis, obrigando-se o mandatário a cumpri-lo segundo as suas
ordens e instruções.

5.2. Previsão Legal: artigo 653 do Código Civil.

5.3. Partes:
a) mandante: ou comitente é o empresário que está outorgando poderes para ser representado por
outrem;
b) mandatário: é a pessoa que está recebendo os poderes para representar o comerciante.

5.4. Forma: é livre, porém, para que seja oponível em face de terceiros, necessário se faz que seja
escrito.

5.5. Características:
a) representação: o desempenho da atividade empresarial se dá em nome do mandante, ou seja, o
mandatário não praticará atos em nome próprio;
b) onerosidade: trata-se da representação do empresário mediante remuneração;
c) consensual: pois só se aperfeiçoa com a aceitação do mandatário;
d) bilateral: pois gera obrigação para as duas partes.

5.6. Distinção para o mandato civil: o mandato civil tem por objeto a representação na prática de
qualquer ato da vida civil, já o mandato mercantil permite exclusivamente a prática de atos
empresariais. Embora o Código Civil não faça distinção, é de se levar em consideração que no que
pertine a figura do administrador da sociedade empresária, o legislador indicou a possibilidade dele
nomear representante para atos isolados, o que se faria através do instrumento de mandato.

5.7. Responsabilidade:
a) mandante: é responsável pelas condições de cumprimento do mandato, pela remuneração do
mandatário, e é responsável por todos os atos praticados pelo mandatário, desde que atue de
acordo com os poderes que recebeu;
b) mandatário: é responsável pela execução do mandato, além disso, o responderá perante o
mandante pelos atos praticados com excesso de mandato e pelos prejuízos que causar por fraude,
dolo, simulação ou negligência.

5.8. Extinção do Mandato:


a) revogação: trata-se do ato pelo qual o mandante cancela os poderes anteriormente concedidos;
b) renúncia: ato pelo qual o mandatário desiste dos poderes concedidos pelo mandante;
c) morte: tanto a morte do mandante como do mandatário extinguem o mandato mercantil por
impossibilidade de cumprimento;
d) falência: do mandatário o impossibilita na continuidade do exercício do comércio extinguindo-se
o mandato;
e) mudança de estado: a mudança de estado geográfico do mandante ou do mandatário inviabiliza
o cumprimento do mandato;
f) decadência: o fim do prazo estabelecido no mandato extingue a validade do instrumento ou a
conclusão do negócio.

6. Comissão Mercantil

6.1. Conceito: trata-se do contrato em que um empresário realiza negócios de natureza mercantil
em nome próprio, mas em favor de um terceiro também empresário.

6.2. Previsão legal: artigo 693 do Código Civil.


6.3. Partes:
a) comitente: em favor de quem o ato empresarial será exercido;
b) comissário: quem exercerá o negócio, podendo ser pessoa física ou jurídica.

6.4. Forma: é livre

6.5. Características:
a) autonomia: comissário exerce o comércio em nome próprio, ainda que em benefício de outrem;
b) profissionalismo: o comissário também exerce a atividade profissionalmente;
c) execução continuada: não se exaure em um único ato, o comissário pode continuar praticando
atos empresariais em nome do comitente enquanto estiver sendo conveniente entre as partes;
d) consensual: só se perfaz pelas regras definidas pelas partes;
e) oneroso: existe uma comissão paga pelo exercício da atividade;
f) bilateral: gera obrigação para ambas as partes.

6.6. Distinção para o mandato mercantil: ambos são contratos de representação, porém o mandato
pressupõe a representação em nome do empresário, já o de comissão pressupõe a representação
em nome próprio, ainda que em benefício do comitente.

6.7. Distinção para a representação comercial: na comissão o nome do comitente não aparece.

6.8. Responsabilidade:
a) comitente: o comitente responde pela remuneração da comissão e subsidiariamente por perdas
e danos causados pela falta de qualidade das mercadorias;
b) comissário: o comissário não responde pela insolvência das pessoas com quem contratar em
execução da comissão, se ao tempo do contrato eram reputadas idôneas; salvo se agindo com culpa
ou dolo ou por comissão del credere. Além disso, responderá perante terceiros já que exercerá a
atividade em nome próprio.

6.9. Cláusula Del credere: quando estiver presente no contrato a cláusula Del credere, significa dizer
que o comissário assumirá os riscos do negócio. O que significa dizer que se eventualmente o
terceiro que adquirir o produto não pagar, o comissário pagará ao comitente o valor
correspondente.
7. Agência e distribuição

7.1. Agência: trata-se do contrato em que uma parte agindo por conta própria se obriga em favor
de outra e mediante remuneração a realizar negócios mercantis em caráter não eventual e sim
vínculo de dependência. Era conhecido no nosso direito como contrato de Representação
Comercial.

7.2. Distribuição: trata-se da mesma relação anteriormente definida, porém, neste caso, a pessoa
possui a mercadoria a sua disposição.

7.3. Previsão Legal: artigos 710 a 721 do Código Civil.

7.4. Partes: como nas duas hipóteses estamos diante de um contrato típico de representação, as
partes são caracterizadas como representante e representado:
a) representado: em nome de quem a representação é exercida;
b) representante: pode ser pessoa física ou jurídica que praticará a representação por sua conta e
risco.

7.5. Forma: é livre, porém, as especificidades do contrato indicam que a forma expressa é
recomendável.

7.6. Características:
a) profissionalidade: o representante exerce tal atividade por profissão regulamentada na lei nº
4.886/65;
b) autonomia: não há subordinação entre representante e representado, apenas o primeiro se
submete às regras mercadológicas impostas pelo segundo;
c) habitualidade: não é um ato esporádico, trata-se do exercício contínuo de uma profissão;
d) mercantilidade: não é mero vendedor da empresa, trata-se de alguém que está exercendo o
negócio por conta e risco;
e) delimitação geográfica: como a prática impõe a possibilidade de um mesmo representado utilizar
vários representantes, a delimitação geográfica do campo de cada um evita concorrência desleal;
f) exclusividade: é da essência do contrato, seja de determinada região geográfica, seja de
determinado produto, seja de determinado seguimento de mercado;
g) consensual: como não existe subordinação do representado em relação ao representante,
pressupõe-se que as regras contratuais derivem do consenso;
h) bilateral: gera obrigação para ambas as partes;
i) oneroso: a representação é exercida mediante remuneração.

7.7. Diferença para a comissão mercantil: ambos os contratos são do gênero “representação”,
porém, na agência ou distribuição, essa representação é realizada por conta risco do representante
mas em nome do representado, já na comissão mercantil o nome do comitente não aparece.

7.8. Diferença para o mandato mercantil: o mandato mercantil se difere dos contratos de
“representação”, uma vez que o mandatário exerce a representação em decorrência de uma
situação transitória, já na agência ou distribuição a habitualidade pressupõe a execução continuada
do contrato.

7.9. Responsabilidade:
a) representado:
a.1) remunerar os negócios: já que o representado é quem receberá pelas vendas efetuadas,
devendo repassar a comissão contratada com o representante;
a.2) cumprir vendas: cabe ao representante visitar os clientes efetuar as vendas e repassar os
pedidos ao representado para que este efetive as transações providenciando a entrega das
mercadorias vendidas;
a.3) responsabilidade perante terceiros: por ser o responsável direto pela cadeia de fornecimento,
terá responsabilidade objetiva segundo o Código de Defesa do Consumidor;
b) representante:
b.1) realização de negócios: já que a atividade é exercida por conta e risco do representante;
b.2) prestação de contas: embora o negócio seja realizado por conta e risco do representante, a
mercadoria objeto de venda pertence ao representado, gerando ao representante a obrigação de
prestação de contas;
b.3) sigilo: dependendo da especialidade do seguimento de mercado, o representante comercial
toma conhecimento de todo processo de fabricação do representado, de forma a poder divulgar
melhor o produto, dessa forma, se tornará responsável pelo sigilo correspondente aos segredos
industriais;
b.4) responsabilidade perante terceiros: por agir por conta própria pode ser inserido na cadeia de
fornecedores definida pelo Código de Defesa do Consumidor.
8. Contrato Estimatório

8.1. Conceito: também conhecido como contrato de consignação, que se configura pela entrega de
bem móvel que uma pessoa faz a um empresário, devendo este ocupar-se da venda do bem
mediante prazo e preço determinado.

8.2. Previsão Legal: artigos 534 a 537 do Código Civil.

8.3. Partes:
a) consignante: proprietário do bem que o entrega ao empresário para venda mediante condições
estipuladas;
b) consignatário: empresário que recebe o bem móvel para venda.

8.4. Características:
a) real: só se aperfeiçoa com a entrega do bem pelo consignante ao consignatário para venda;
b) oneroso: a venda é realizada mediante remuneração;
c) bilateral: gera obrigação para ambas as partes;
d) comutativo: para se aperfeiçoar depende do estabelecimento prévio das regras.

8.5. Responsabilidade:
a) consignante:
a.1) entrega do bem: como o contrato só se aperfeiçoa com a entrega do bem, deverá o consignante
repassá-lo ao consignatário;
a.2) remuneração: deverá o consignante pagar a comissão contratada, na ausência, considera-se a
comissão prevista em mercado;
a.3) terceiro: responderá perante terceiros em face do bem;
b) consignatário:
b.1) guarda e conservação: como recebe o bem para venda, será responsável pela guarda e
conservação do bem enquanto estiver em sua posse;
b.2) venda: será responsável pela venda nas condições estipuladas;
b.3) devolução: caso não ocorra a venda dentro do período estipulado em contrato será responsável
pela devolução do bem.
9. Contrato de Alienação Fiduciária em Garantia

9.1. Conceito: contrato que disciplina a outorga de financiamento para aquisição de um bem, sendo
que o adquirente aliena esse bem ao financiador como garantia do financiamento.

9.2. Previsão Legal: Decreto Lei nº 911/69

9.3. Partes:
a) fiduciário: é o agente financeiro que concede financiamento para aquisição do bem. Por previsão
legal, somente as instituições financeiras podem ser agente fiduciários;
b) fiduciante: é o financiado, comprador do bem;
c) observação: é importante lembrar que o vendedor, que é a pessoa que vende o bem, sai da
relação, aparecendo no contrato apenas o fiduciário e o fiduciante.

9.4. Forma: necessariamente escrita, e para ser oponível contra terceiros precisa ser registrado em
cartório de títulos e documentos.

9.5. Objeto de alienação: só pode ser utilizado para financiamento de bens móveis.

9.6. Características:
a) bilateral: gera obrigação para ambas as partes;
b) real: só se perfaz com a transferência do domínio do vendedor para o fiduciário,
independentemente da posse que passa diretamente para o fiduciante;
c) oneroso: interfere na esfera patrimonial das duas partes contratantes;
d) comutativo: as regras são previamente estipuladas.

9.7. Direitos do Fiduciário:


a) vencimento antecipado: na hipótese de inadimplemento o saldo da dívida vence
antecipadamente;
b) busca e apreensão: caso o fiduciante não pague o débito, poderá o fiduciário retomar o bem
através de Ação de Busca e Apreensão;
c) venda do bem: como a lei não permite que o objeto financiado se integre ao patrimônio do
fiduciário, ele terá o direito de vender o bem através de venda pública para quitação do débito;
d) ação de depósito: nos casos em que o bem não seja localizado através de busca e apreensão, a
ação cautelar poderá ser convertida em depósito, e assim permitir a declaração do fiduciante como
depositário infiel com a consequente decretação de sua prisão administrativa. Não concordamos
com esse posicionamento, uma vez que nos filiamos a corrente de que inexiste neste tipo de
contrato a figura do depósito, já que o bem foi adquirido do vendedor diretamente pelo fiduciante,
não se perfazendo em qualquer hipótese, a entrega do bem por parte do fiduciário ao fiduciante
em depósito.

9.8. Direitos do Fiduciante:


a) uso do bem: é o fiduciante o possuidor direto do bem, podendo usá-lo sem qualquer restrição;
b) purgação da mora: nos casos de inadimplemento, para evitar a retomada do bem por parte do
fiduciário, poderá o fiduciante efetuar depósito relativo ao saldo devedor acrescido de encargos.

9.9. Responsabilidade:
a) fiduciário: pagamento do bem ao vendedor;
b) fiduciante: receber a coisa; pagar o financiamento; conservar o bem como se seu fosse.

9.10. Alienação fiduciária de coisa imóvel: a lei nº 9514/97 criou a alienação fiduciária em garantia
de coisa imóvel, porém, tal figura não encontrou na doutrina entendimento pacífico sobre a sua
natureza jurídica.

10. Contrato de Transporte

10.1. Conceito: contrato em que alguém se obriga a transportar coisa ou pessoa, de um lugar para
outro, mediante remuneração.

10.2. Previsão legal: artigos 734 a 756 do Código Civil.

10.3. Partes:

a) transportador: aquele que assume a obrigação de transportar;


b) passageiro: aquele que usará do transporte quando tratar-se de transporte de pessoas;
c) remetente: aquele que se utilizará do transporte quando tratar-se de coisa.
10.4. Meios de transporte: o transporte poderá ser realizado por meio terrestre, aquaviário,
ferroviário ou aéreo. Em algumas situações o contrato pode prever a utilização de mais de um meio
de transporte.

10.5. Autorização: os serviços de transporte por meio aquaviário, ferroviário ou aéreo, dependem
de autorização do Poder Público, razão pela qual esses contratos se subordinam a regras previstas
em leis especiais.

10.6. Características:
a) bilateral: gera obrigação para ambas as partes;
b) oneroso: o serviço é feito mediante remuneração. Porém, caso por mero ajuste entre as partes
o serviço venha ocorrer de forma gratuita, esse fato não eximirá o transportador de
responsabilidades;
c) comutativo: para o seu aperfeiçoamento é necessário o pré-estabelecimento das regras;
d) consensual: as regras são estabelecidas de comum acordo.

10.7. Responsabilidade:
a) passageiro ou remetente: entregar a coisa ou comparecer no local de embarque em data e
horário estabelecido; pagar o valor estipulado;
b) transportador: responde objetivamente pelo serviço contratado na forma do Código de Defesa
do Consumidor e de legislação especial quando tratar-se de transporte por meio aquaviário,
ferroviário ou aéreo;
c) arribada forçada: quando o transporte se der pelo meio aquaviário, e por razões de força maior
o capitão desviar o curso da embarcação provocando atraso no prazo previsto, não gerará
responsabilidade ao transportador.

11. Contrato de Seguro

11.1. Previsão legal: artigo 757 do Código Civil e Lei 4595/64

11.2. Conceito: considera-se contrato de seguro aquele pelo qual uma das partes se obriga para
com a outra, mediante o pagamento de um prêmio, a indenizá-la do prejuízo resultante de riscos
futuros, previstos no contrato.
11.3. Partes:
a) segurador: aquele que recebe o prêmio correspondente e indeniza o segurado na hipótese de
ocorrência de sinistro;
b) segurado: pessoa que contrata o seguro para evitar prejuízos futuros;
c) ressegurador: existirá a figura do ressegurador em um contrato de seguro quando o segurador
transferir para uma companhia de resseguros o risco contratado na apólice.

11.4. Forma: escrita

11.5. Características:
a) bilateral: gera obrigação para ambas as partes;
b) oneroso: se dá mediante remuneração e as partes contratam pensando em levar vantagem
patrimonial;
c) aleatório: o sinistro previsto em contrato pode ocorrer ou não;
d) consensual: no sentido de que para se aperfeiçoar depende do consentimento das partes;
e) adesão: o segurado só adere, não discute em razão da mutualidade.

11.6. Responsabilidade: a responsabilidade está prevista no Código de Defesa do Consumidor

11.7. Mutualidade: o pagamento do prêmio consiste em um valor necessário para formação de um


fundo mútuo necessário para cobertura de eventuais sinistros, de forma que a obrigação de um
segurado se dá também em razão da cobertura do sinistro a que estão sujeitos os demais segurados.

12. Arrendamento Mercantil ou Leasing

12.1. Conceito: contrato segundo o qual uma pessoa jurídica arrenda a uma pessoa física ou jurídica,
por tempo determinado, um bem comprado pela primeira de acordo com as indicações da segunda,
cabendo ao arrendatário a opção de adquirir o bem findo o contrato mediante o pagamento de um
preço residual previamente fixado.

12.2. Previsão legal: Lei nº 6.099/74

12.3. Partes:
a) arrendatário: que escolhe e utilizará o bem adquirido pelo arrendador;
b) arrendadora: quem adquire o bem e o arrenda a terceiro.

12.4. Forma: livre

12.5. Modalidades:
a) leasing financeiro: é o modelo tradicionalmente utilizado no Brasil, onde o contrato tem caráter
de financiamento, cabendo ao final, a aquisição do bem por parte de arrendatário;
b) leasing operacional: uma empresa, denominada arrendador, arrenda um bem de sua própria
produção ao arrendatário;
c) leasing back: uma empresa, denominada arrendador adquire o bem para arrendá-lo ao
arrendatário, devolvendo ao final do contrato ou adquirindo-o, segundo opção do próprio
arrendatário.

12.6. Natureza jurídica:


a) leasing financeiro: em razão da obrigatoriedade de compra ao final, tem natureza jurídica de
contrato de compra e venda com reserva de domínio;
b) leasing operacional: tem natureza jurídica de locação;
c) leasing back: tem natureza jurídica de locação.

12.7. Características:
a) bilateral: gera obrigação para ambas as partes;
b) oneroso: se dá mediante remuneração, caso contrário, configuraria mútuo ou comodato;
c) consensual: é necessária a manifestação expressa da vontade.

12.8. Responsabilidade:
a) arrendador: adquirir o bem e colocá-lo a disposição do arrendatário; vender o bem ao
arrendatário ou receber a coisa de volta; renovar o contrato;
b) arrendatário: financeira pelo contratado; zelar pela conservação do bem; comprar ou devolver a
coisa ao fim do contrato; depositário.

13. Factoring ou Faturização

13.1. Conceito: trata-se da troca de crédito futuro representado por título de crédito por capital,
mediante remuneração ajustada entre as partes.
13.2. Previsão legal: não existe, a Lei nº 4595/64 regula apenas as instituições financeiras, e existe
também em trâmite no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 230/95 para regular o assunto.

13.3. Partes:
a) faturizador – empresa de factoring, empresa constituída com o objeto de comprar crédito
futuros;
b) faturizado – cedente do crédito mediante o pagamento de comissão.

13.4. Forma: uma vez que não existe previsão legal, a forma é livre.

13.5. Características:
a) consensual: depende da manifestação da vontade das partes;
b) bilateral: gera obrigações recíprocas;
c) oneroso: prevê o desfalque do patrimônio de ambas as partes.

13.6. Responsabilidade:
a) faturizador: pagar pelo título; assumir os riscos pelo recebimento;
b) faturizado: pagar a comissão pela cessão; fornecer dados suficientes para a possibilitar a
cobrança.

14. Franchising

14.1. Conceito: é o sistema pelo qual o franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca
ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços
e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de
negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante
remuneração direta ou indireta.

14.2. Previsão legal: Lei nº 8.955/94

14.3. Partes:
a) franqueador: detentor da franquia que a cede para exploração por terceiro;
b) franqueado: pessoa que explorará a franquia alheia
14.4. Vantagem: exploração por parte do franqueado de um potencial econômico já desenvolvido
pelo franqueador, minimizando os riscos do negócio em razão da possibilidade anterior de sua
aceitação mercadológica.

14.5. Forma: escrito, e quando permitir a exploração de marcas deverá ser averbado junto ao INPI.

14.6. Características:
a) consensual: depende da manifestação da vontade das partes;
b) bilateral: gera obrigações recíprocas;
c) oneroso: prevê o desfalque do patrimônio de ambas as partes.

14.7. Remuneração: taxa de filiação ou aquisição da franquia; caução para garantia de


fornecimento; comissão sobre vendas.

14.8. Responsabilidade:

a) franqueador: assistência técnica dos equipamentos próprios da franquia; publicidade; assistência


contábil; atualizações; perante terceiros por estar na cadeia de fornecimento;
b) franqueado: remuneração do uso da franquia; zelar pelo uso da marca; respeitar condições de
uso da marca.

14.9. Cláusulas comuns: limitação de produtos comercializados; exclusividade ou semi-


exclusividade geográfica; direito de inspeção das instalações e documentos; respeito à
padronização; periodicidade e remuneração da publicidade; estabelecimento de rotinas
operacionais; sigilo; remuneração; prazo e forma de renovação; transferência do contrato;
preferência: na compra da franquia.

14.10. Extinção: pela expiração – término da vigência sem renovação; vontade das partes – comum
acordo; infringência contratual – por uma das partes.

15. Contratos Bancários


15.1. Conceito: trata-se do contrato realizado entre terceiro e instituição financeira visando à
estipulação de serviços ou operações bancárias especificadas no próprio contrato e previstos pelo
órgão regulamentador.

15.2. Previsão legal: Lei 4595/64 (regula apenas as instituições bancárias).

15.3. Partes: banco; correntista.

15.4. Operações bancárias: conta corrente: movimentação financeira; remessa: depósitos


efetuados por terceiros; desconto de títulos: cheque, letra de câmbio; abertura de crédito:
empréstimo, cheque especial; captação de depósitos: poupança, investimentos; obtenção de
recursos: linhas de crédito; prestação de serviços: cobrança, serviço de cofres; redesconto: troca de
cheques por dinheiro; antecipações: adiantamento de crédito futuro; cartas de crédito: promessa
de fornecimento de crédito; penhor mercantil: penhora de bens; compra de metais: ouro; compra
e venda de valores móveis e imóveis: leilão.

15.5. Espécies de bancos: de emissão: além das operações bancárias podem emitir moeda; de
depósitos: ou comerciais, realizam as operações bancárias normais; agrícolas: fomentar o
desenvolvimento agrícola; de crédito industrial: fomentar o desenvolvimento industrial; de crédito
real: realizam operações de crédito mediante garantia real; caixa econômica: operações bancárias
com créditos populares; cooperativas de crédito: operações de crédito sem fins lucrativos.

15.6. Forma: escrito

15.7. Responsabilidade: prevista no Código de Defesa do Consumidor

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