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MAGISTRATURA E MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAIS

Marcelo Novelino
Direito Constitucional
Aula 01

ROTEIRO DE AULA

Tema 1: CONSTITUCIONALISMO
Tema 2: PODER CONSTITUINTE

PROGRAMA DA DISCIPLINA

1) Teoria da constituição:
1.1) Constitucionalismo;
1.2) Poder Constituinte;
1.3) Constituição;
1.4) Hermenêutica constitucional;
1.5) Normas constitucionais;
1.6) Controle de constitucionalidade;
1.7) Teoria dos direitos fundamentais;

2) Direito constitucional positivo:


2.1) Direitos fundamentais em espécie;
2.2) Organização do Estado;
2.3) Organização dos poderes.

II. MATERIAL DE ESTUDO

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Aula:
1) Selecionar a informação e destacar as mais relevantes – há a fixação do conteúdo;
2) Organizar didaticamente temas e ideias;

Livro:

1) Aprofundar nos temas;


2) Desenvolver o raciocínio jurídico.

Material a ser utilizado na preparação:

1) Anotações de aula – a escrita ajuda na memorização e é possível a revisão do conteúdo;


2) Livro;
3) Leitura do texto constitucional;
4) Informativos;
5) Exercícios e revisões periódicas.

III. DÚVIDAS
- Fórum;

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IV. REDES SOCIAIS
- Instagram: MarceloNovelino;
- Twitter: @Mnovelino.

CONSTITUCIONALISMO
(TJ/PR 2017)

Esse é um tema que deve ser considerado de tal forma de que os candidatos saberão o que é importante, o
que não garante acertos em provas. Isso acontece porque constitucionalismo nada mais é do que a evolução
histórica do Direito Constitucional ao longo do tempo.

Tudo que vem desde a Antiguidade até os dias atuais, no aspecto filosófico, político e jurídico, pode ser
englobado dentro do constitucionalismo e nenhum livro vai te dar todas as informações sobre tudo o que
aconteceu no Direito Constitucional desde a Antiguidade. O professor orienta a não ler um livro específico
sobre esse assunto por esses motivos. Aprenderemos o que é essencial.

1) Definição

1) Sentido amplo;

Em sentido amplo, o constitucionalismo está associado à existência de uma Constituição em um Estado. Só


que esse sentido amplo não tem utilidade nenhuma para quem está estudando Direito porque, todo Estado
para existir precisa ter uma Constituição, que é aquele instrumento normativo que constitui/cria o Estado.
Pode ser uma Constituição escrita, como a que temos atualmente, ou uma Constituição
consuetudinária/costumeira, como ocorria antes do final do Século XVIII.

2) Sentido estrito.

Em geral, o termo constitucionalismo é empregado em seu sentido estrito. Existem duas ideias básicas que
identificam o constitucionalismo:

• Garantia de direitos;
• Limitação do poder absoluto.

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Não é por outro motivo que a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão, da Revolução
Francesa de 1789, diz em seu art. 16 que toda sociedade na qual não é assegurado o direito e nem limitado o
poder não tem uma verdadeira Constituição.

2) Evolução histórica

2.1) Constitucionalismo antigo (Antiguidade → Século XVIII);


Não existiam Constituições escritas ainda, todas eram baseadas nos costumes.

2.2) Constitucionalismo moderno (Século XIII → 2ª Guerra Mundial);


Com as revoluções liberais, como a Francesa e a Americana, surgem as Constituições escritas.

2.3) Constitucionalismo contemporâneo (fim da 2ª Guerra Mundial em diante).


Parte da doutrina diz que surge um novo constitucionalismo, que seria o constitucionalismo contemporâneo
ou neoconstitucionalismo.

2.1) Constitucionalismo antigo

2.1.1) Estado hebreu;

Nesse Estado hebreu teocrático, os dogmas religiosos limitavam não só os súditos, mas também o poder do
soberano. Essa limitação do poder voltada à garantia de direitos envolve as duas ideias principais do
constitucionalismo. Por isso, o Estado hebreu é considerado como a primeira experiência constitucional.

2.1.2) Grécia;

Na Grécia, houve um Estado político plenamente constitucional durante dois séculos. Alguns autores dizem
que foi adotada a forma mais avançada de governo, a chamada democracia constitucional inclusive com a
participação direta do povo nas decisões.

2.1.3) Roma;

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Foi uma espécie de retrospecto da experiência grega. O Direito Romano forneceu importantes conceitos como
res publica.

2.1.4) Inglaterra: Magna Charta (1215); Petition of Rights (1628); Habeas Corpus Act (1679); Bill of Rights
(1689), Act of Settlement (1701).

Embora a Inglaterra não tivesse uma Constituição escrita, tinha vários documentos escritos importantes que
limitavam o poder e asseguravam direitos aos súditos.

2.2) Constitucionalismo moderno → as primeiras Constituições escritas, rígidas e formais surgem aqui.
(TJ/SP 2015)

2.2.1) Primeira fase

- Constituições liberais:

- Experiência estadunidense;

O professor considera essa experiência como sendo a mais importante porque foi nos EUA que surgiu a
primeira Constituição Escrita em 1787, sucinta e concisa. Antes, havia apenas documentos escritos. É também
a primeira constituição formal, rígida e dotada de supremacia sobre as demais leis. Essa ideia não existia na
Europa até então, porque na Europa a supremacia era do Parlamento.

Para assegurar essa supremacia, são necessários mecanismos e é lá que foi criado o mecanismo de controle,
ou pelo menos o primeiro mecanismo de controle, o chamado controle de constitucionalidade, sendo uma
criação jurisprudencial não prevista na Constituição e nem nas leis (surge por decisão judicial em 1803).

Outra contribuição extremamente importante é o presidencialismo como sistema de governo. O


presidencialismo é uma criação estadunidense e a figura do Presidente da República foi criada porque lá não
havia monarca e essa foi a maneira encontrada para concretizar a separação de poderes.

- Experiência francesa.

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Na França, dois aspectos podem ser destacados. A Constituição Francesa sempre foi uma Constituição prolixa.
A primeira foi de 1791 e durou apenas dois anos, sendo revogada. A Constituição de 1793 tinha 402 artigos.
Trouxe a distinção entre poder constituinte originário (o povo ou a nação) e poder constituinte derivado
(idealizado por Sieyes).

➢ Por que as revoluções eram revoluções liberais? Porque o Estado anterior, o Antigo Regime, era um
Estado Absolutista e o que a burguesia buscava era principalmente a liberdade em face do poder
absoluto do Estado, queria proteger sua propriedade, a liberdade de ir e vir, de se expressar, liberdade
religiosa contra o arbítrio estatal.

Estado de Direito (Estado liberal)


- Rule of Law, Rechtsstaat e État Légal (França);
- État du Droit (estado de Direito) = Verfassungsstaat (estado constitucional);

→ Características:

I) Abstencionista;

O Estado é abstencionista porque se o principal valor é a liberdade, o que os cidadãos desejam é a não
intromissão do Estado, é a não intervenção do Estado na liberdade de locomoção, na propriedade, na vida das
pessoas de forma geral. Não intervém nas relações econômicas, nas relações sociais. Essas relações ficam
adstritas ao âmbito individual e o Estado garante apenas a segurança e a ordem pública. É um Estado mínimo.

II) Direitos fundamentais = direitos da burguesia;

Eram, basicamente, propriedade, liberdade e igualdade em seu sentido formal (tratamento isonômico a todas
as pessoas). Para as classes inferiores, esses direitos eram assegurados apenas de maneira formal.
Atualmente, temos não só a igualdade formal, como também temos a igualdade material.

III) Limitação do soberano;

Aquela ideia de que o rei não pode errar e está acima da lei, no Estado de Direito ela não existe. O Estado de
Direito limita a todos, inclusive o soberano e temos um princípio que decorre dessa limitação, que é o Princípio
da Legalidade. No âmbito particular, esse princípio permite que as pessoas façam tudo aquilo que não é

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proibido por lei, mas, no âmbito da administração pública, ele significa que a atividade administrativa é uma
atividade sublegal, a Administração só pode fazer o que a lei determina.

IV) Princípio da legalidade.

2.2.2) Segunda fase

Com a Primeira Guerra Mundial, houve um agravamento da crise econômica e social e essa crise levou à
derrocada do liberalismo. O liberalismo se mostrou impotente para atender as demandas sociais. Diante deste
cenário, começou a haver uma luta por outros direitos, além daqueles direitos chamados de direitos de
primeira geração/dimensão.

Começou uma busca por direitos de segunda geração/dimensão ligados à igualdade em seu sentido material,
ou seja, aquela igualdade que exige dos Poderes Públicos não apenas uma abstenção, mas uma atuação
positiva através de prestações materiais e jurídicas para reduzir as desigualdades existentes. São direitos
sociais e, em regra, prestacionais, que exigem do Estado uma atuação positiva.

- Constituições sociais:
- Constituição mexicana/1917;
- Constituição de Weimar/1919.

Essas Constituições sociais deram origem a um novo modelo de Estado.

Estado social

- Características:

I) Intervencionista;

Busca superar a dicotomia entre a igualdade política, ainda que precária (Estado liberal) com a igualdade
social. É um Estado que se caracteriza por intervir no âmbito social, econômico e nas relações de trabalho
(âmbito laboral). Para isso, o Estado tem que fornecer prestações jurídicas ou materiais, como a construção
de escolas, de hospitais, contratação de professores e médicos, fornecimento de medicamentos, etc.

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II) Papel decisivo na produção e distribuição de bens;

O Estado assume esse papel. Algumas questões que antes ficavam só na esfera privada, passam a ser
assumidas pelo Estado.

III) Garantia de bem-estar social mínimo.

Tanto que um dos modelos de Estado Social é o Estado do Bem-Estar Social. O Estado Social deve fornecer
prestações para aquelas pessoas que estão em uma condição de miserabilidade.

➢ Exemplo: no Brasil, temos um benefício de assistência social que é o Benefício de Prestação


Continuada, previsto na Lei Orgânica de Assistência Social e na CF. Esse benefício não é para quem
contribuiu com o INSS e é no valor de um salário-mínimo, sendo conferido àquelas pessoas que são
portadoras de deficiência ou idosas que não têm condições de manter o seu sustento ou ter o seu
sustento mantido pela família.

2.3) Constitucionalismo contemporâneo/neoconstitucionalismo

Há quem critique essa distinção, dizendo que não teve nada de tão relevante assim para justificar uma nova
fase, mas a maioria da doutrina no Brasil admite essa fase pós Segunda Guerra Mundial como uma fase do
constitucionalismo e isso já foi cobrado em concurso.

2.3.1) Características:

a) Força normativa da constituição;

Em que pese nos EUA a Constituição sempre ter sido reconhecida como um conjunto de normas jurídicas, na
Europa era diferente. Até meados do século passado, a Constituição era vista como um documento
essencialmente político no tocante à declaração de direitos, não sendo vinculante para o Legislativo, por
exemplo, porque o Legislativo era considerado um “amigo” dos direitos fundamentais.

Por isso se falava nas normas programáticas. As normas programáticas daquela época eram normas que
traziam conselhos, exortações morais ao legislador, mas que não o vinculavam. O legislador não era obrigado
a cumprir aquelas normas.

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Hoje, não. No constitucionalismo contemporâneo, não se admite em lugar nenhum do mundo que normas ou
dispositivos de uma Constituição não sejam vinculantes e obrigatórios. Devem ter um caráter normativo. Tudo
o que está dentro da Constituição norma, do tipo princípio ou do tipo regra. Não existem conselhos. A única
parte da CF/1988 que não tem caráter normativo é o preâmbulo.

b) Rematerialização dos textos constitucionais;

Os textos constitucionais hoje, em geral, são extremamente prolixos, analíticos ou regulamentares e com força
normativa como eram os textos constitucionais franceses. Houve essa rematerialização dos textos – textos
mais extensos – porque saímos de um período de autoritarismo para um período democrático.

Aqui na América Latina, foram as ditaduras militares. Na Europa, foi o Franquismo, o Salazarismo, o
Nacionalismo e Nazismo. Na tentativa de evitar a usurpação de direitos e proteger o maior número possível
de direitos, esses direitos foram sendo consagrados na Constituição.

c) Fortalecimento do Poder Judiciário;

Garantia judicial da Constituição. Com o reconhecimento da força normativa da Constituição e a


rematerialização dos textos constitucionais, o Judiciário como último garantidor da Constituição se fortaleceu
extremamente no constitucionalismo contemporâneo, dizendo como a CF deve ser interpretada. Houve a
judicialização da política e das relações sociais.

d) Dignidade da pessoa humana → Centralidade da Constituição e dos direitos fundamentais. (TJ/PR


2017)

Essa centralidade pode ser muito bem exteriorizada em uma frase do professor Paulo Bonavides: “ontem, os
Códigos. Hoje, as Constituições”. A Constituição tem um papel central e os direitos fundamentais tem um
papel central também com a consagração da dignidade da pessoa humana nos textos constitucionais.

A dignidade da pessoa humana passou a ser consagrada nos textos constitucionais após a Segunda Guerra
Mundial porque, ao analisarmos Constituições anteriores, elas não consagravam a dignidade da pessoa
humana em seus textos, só que as experiências ocorridas durante o nazismo fizeram com que, após o fim da

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Segunda Guerra Mundial, os países começassem a consagrar a dignidade como um valor constitucional
supremo, como núcleo axiológico da Constituição.

“Constitucionalização do Direito” (TJ/SP 2015)

I) Consagração constitucional de normas de outros ramos;

Os princípios gerais de todos os ramos do Direito estão consagrados na Constituição, existindo uma
constitucionalização destes ramos do Direito.

II) Interpretação conforme à Constituição (“filtragem constitucional”); (TJ/BA 2019)

A interpretação conforma à Constituição parte da ideia de que, se a Constituição é o fundamento de validade


de todas as leis e se todas as leis têm seus princípios gerais na Constituição, significa que, ao interpretar esses
dispositivos infraconstitucionais, devemos fazer uma interpretação à luz da Constituição, que seja a mais
adequada do ponto de vista constitucional.

Para isso, é necessário fazer uma filtragem constitucional, ou seja, temos que passar o dispositivo da lei no
filtro da Constituição para extrair daquele dispositivo uma norma constitucionalmente adequada. A norma é
o resultado da interpretação do texto.

III) Eficácia horizontal dos direitos fundamentais. (TJ/PR 2017)

O tema será abordado com profundida mais adiante. Nada mais é do que a aplicação dos direitos
fundamentais às relações entre particulares, são relações de coordenação, horizontais.

Estado Democrático de Direito


(Estado Constitucional Democrático)
(TJ/BA 2019)

Isso não significa que não existam hoje Estados Sociais e Estados Liberais. Eles continuam existindo, mas ao
lado desses surge um novo modelo de Estado. Recebe esse nome em relação à conexão entre democracia e
Estado de Direito. O princípio da soberania popular é uma das vigas mestras deste modelo de Estado.

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O poder deve ser organizado e exercido em termos democráticos, deve ser legitimado pelo povo. As leis têm
que ser resultantes da vontade popular. O reconhecimento da Constituição como norma suprema e que
vincula o legislador traz um caráter normativo.

- Características:

I) Direitos fundamentais;

A preocupação passa a ser com a efetividade desses direitos, fazer com que esses direitos saiam do papel para
a vida social. Fazer com que esses direitos sejam respeitados e cumpridos.

II) Limitação do Poder Legislativo;

Antes, essa limitação era adstrita ao aspecto formal. Kelsen, quando fala do controle de constitucionalidade
no início do Século XX, ele fala do controle com relação à forma de elaboração das leis. Esse controle hoje é
muito mais amplo porque abrange também o aspecto material, ou seja, não só pode ser analisado como a lei
foi feita, se seguiu o procedimento correto, mas também se o conteúdo desta lei é compatível com o conteúdo
da Constituição, que pode ser vago e impreciso, dando margem a diversas interpretações.

➢ Exemplo: O STF, em um primeiro momento histórico, disse que a vedação da progressão do regime
não violava o princípio da individualização da pena. Em um momento posterior, o STF passou a
entender que havia uma violação ao princípio da individualização da pena. O texto era o mesmo, mas
a interpretação do Tribunal mudou.

III) Democracia substancial.

A democracia, hoje, neste modelo de Estado, não é apenas uma democracia formal, ou seja, ela não
corresponde tão somente à chamada premissa majoritária. Democracia tem o aspecto majoritário, mas a
democracia deve ser vista em seu sentido substancial, ou seja, vontade da maioria conjugada com respeito
aos direitos básicos de todos, inclusive das minorias. Em uma democracia substancial, além de respeitar a
vontade da maioria, as minorias também têm seus direitos básicos assegurados.

PODER CONSTITUINTE

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1) Poder Constituinte Originário → cria a Constituição.
(TJ/SP 2017)

1.1) Natureza

- Concepção jusnaturalista;

De acordo com a visão de que existe um Direito Natural, esse Direito estaria acima do Direito Positivo. Como
o Direito Positivo está abaixo do Direito Natural e o poder constituinte originário é o responsável por dar início
a esse ordenamento jurídico, o poder constituinte originário, nesta concepção jusnaturalista, seria um poder
jurídico/de direito, posto que subordinado às normas de Direito Natural. Não é a que prevalece.

- Concepção positivista.

Não existe Direito Natural. O Direito é apenas aquele posto pelo Estado. Logo, se não existe outro Direito além
do Direito Positivo e se o poder constituinte originário está acima do Direito Positivo, ele não pode ser um
poder jurídico porque não é criado por nenhuma norma jurídica e nem está subordinado a nenhuma norma
jurídica. Ele seria, nesta concepção positivista, um poder político/de fato. É a que prevalece.

1.2) Características essenciais (MP/MS 2013)

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- Concepção jusnaturalista (Abade Sieyès):

I) incondicionado juridicamente;

Ele não é condicionado pelo Direito Positivo, porque está acima deste Direito Positivo, mas seria condicionado
pelo Direito Natural

II) permanente;

Ele é permanente porque não se esgota com seu exercício. Quando uma Constituição é feita, o poder
constituinte originário não deixa de existir. Ele continua existindo, só que ele fica em estado latente. É como
se ele ficasse hibernando, até que o povo, que é o seu titular, resolva fazer uma nova Constituição.

III) inalienável;

É um poder intransferível. O titular desse poder, segundo a concepção democrática que é majoritária, é
sempre o povo ou a nação. Assim, o povo ou a nação nunca perdem essa titularidade, que não pode transferir
e não pode ter essa titularidade usurpada, ainda que o exercício do poder (a elaboração da Constituição de
fato) possa ser usurpado por um golpe de Estado, por exemplo. Se usurpa o exercício, mas não a titularidade
que vai continuar sendo do povo ou da nação. Isso é importante para fins de legitimidade da Constituição.

- Concepção positivista (Georges Burdeau):

I) inicial;

Não existe nenhum outro poder antes ou acima dele. É ele que dá início ao ordenamento jurídico porque cria
a Constituição, que é a norma suprema e originária e é a partir da Constituição que as demais normas são
criadas.

II) autônomo;

Cabe apenas a ele escolher a ideia de Direito que irá prevalecer no Estado. É o poder constituinte originário
que define se o Estado é federal ou unitário, como será a separação de poderes, se será um sistema
presidencialista ou parlamentarista, quais direitos fundamentais serão consagrados, etc.

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III) incondicionado.

Incondicionado não só pelo Direito Positivo, mas por qualquer outro direito. Não encontra limitações em
nenhum outro poder. No entanto, tem crescido nos últimos anos uma concepção chamada de pós-positivista
ou não positivistas (Robert Alexy).

A não positivista entende que podemos ter determinados valores acima do Direito Positivo que podem servir
como limites ao Direito Positivo, ainda que não sejam normas de Direito Natural. Essa corrente traz
importantes limites materiais ou extrajurídicos ao poder constituinte originário, que veremos a seguir.

1.3) Limites materiais (ou extrajurídicos)

I) Imperativos do Direito Natural;

Esse limite é para quem adota uma concepção jusnaturalista do Direito, com o Direito Natural acima do Direito
Positivo. Não é o que prevalece.

II) Valores éticos, sociais e políticos (TJ/SP 2017);

O poder constituinte originário tem como titular o povo ou a nação. Se o povo é o titular do poder constituinte
originário, esse poder, na hora de elaborar a Constituição, não pode simplesmente romper com aqueles
valores sociais, políticos e éticos da sociedade, já que é um poder cujo titular é o povo.

Muitas vezes pode acontecer de o povo democraticamente eleger os membros para uma assembleia
constituinte e esses membros, ao chegar lá, adotam valores que não correspondem aos anseios daqueles que
o elegeram e aí haveria essa desvirtuação do poder constituinte originário.

III) Direitos fundamentais consolidados;

Em especial aqueles direitos fundamentais imediatamente conexos com a dignidade da pessoa humana. Existe
uma expressão chamada “vedação/proibição de retrocesso”. Segundo parte da doutrina, determinados
direitos fundamentais que foram conquistados por uma sociedade e que já estão consolidados, sobre os quais
haja um consenso profundo, esses direitos não podem ser objeto de um retrocesso, ou seja, o poder

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constituinte originário, ao consagrar uma nova Constituição, não pode retroceder em relação àqueles direitos
fundamentais que já foram conquistados por uma sociedade. O problema é verificar o consenso.

IV) Normas de Direito Internacional.

A soberania do poder constituinte originário vem sendo cada vez mais flexibilizada em razão da globalização
e da crescente preocupação sobretudo com os Direitos Humanos, que são os direitos fundamentais
consagrados no plano internacional.

2) Poder Constituinte Decorrente (TJ/AP 2014)

O poder constituinte decorrente é aquele atribuído aos Estados-membros em uma federação para que eles
possam elaborar suas próprias Constituições. Só existe esse tipo de poder em um Estado federado, em Estados
unitários não existe poder constituinte decorrente porque não existe Estado-Membro.

2.1. Natureza

No Brasil, quem consagra este poder constituinte é a Constituição da República. É um poder que está dentro
do ordenamento jurídico, previsto pela Constituição.

- Constituinte (Anna Cândida da Cunha Ferraz) – porque constitui o Estado-membro;


- Derivado (Celso Bastos) – porque deriva da Constituição da República, que prevê esse poder; (MP/SC 2016)
- Dupla (Raul Machado Horta) – era um poder originário em relação à constituição do Estado-membro e em
relação à Constituição da República, ele era um poder derivado.

Apesar dessa discussão, o poder constituinte decorrente não é um poder ilimitado, soberano, independente,
primário como o poder constituinte originário. É um poder secundário, de Direito porque é previsto na CF e é
um poder limitado pela CF.

2.2) Fundamento constitucional


(TJ/DFT 2014)

- CF, Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os
princípios desta Constituição;

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- ADCT, Art. 11. Cada Assembleia Legislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado,
no prazo de um ano, contado da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta.

Quando a CF fala que os princípios ali consagrados têm que ser observados e obedecidos, surge daí o Princípio
da Simetria, que diz que as Constituições Estaduais e leis orgânicas Municipais devem ser simétricas à
Constituição da República, ou seja, devem seguir o modelo da Constituição da República.

Se a Constituição da República trata de algo na esfera federal de uma maneira X, ainda que ela não diga como
aquela matéria deve ser tratada na esfera estadual, o modelo da Constituição da República, em alguns casos,
deve ser observado pelos Estados. São as chamadas normas de observância obrigatória (exemplo: Tribunais
de Contas dos Estados, art. 75 da CF e o modelo de processo legislativo).

3) Poder Constituinte Derivado

3.1) Espécies (MP/PR 2014)

I) Poder Reformador (CF, art. 60) – a reforma é a via usual de alteração da Constituição para mudanças
específicas e pontuais;

II) Poder Revisor (ADCT, art. 3º) – responsável pela revisão constitucional que não é uma via ordinária, mas
sim uma via extraordinária de alteração da Constituição, com mudanças de caráter mais geral;

- ADCT, Art. 3º A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da
Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral.

Sabemos que as normas do ADCT são normas de eficácia exaurível, isto é, a partir do momento que a hipótese
prevista na norma acontece, aquela norma exaure a sua eficácia, ela deixa de ter aptidão para produzir os
efeitos que lhe são próprios. É impossível uma nova reforma com base no art. 3º do ADCT. Poderia a CF ser
emendada para ter uma nova revisão no futuro, como já se cogitou?

É possível uma nova revisão constitucional?

- STF – ADI 981 MC: “Após 5 de outubro de 1993, cabia ao Congresso Nacional deliberar no sentido da
oportunidade ou necessidade de proceder à aludida revisão constitucional, a ser feita uma só vez”;

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- STF – ADI 1.722 MC: “Ao Poder Legislativo, Federal ou Estadual, não está aberta a via da introdução, no
cenário jurídico, do instituto da revisão constitucional”.

Essas decisões não tratavam especificamente deste tema, se pode ou não haver uma emenda à CF prevendo
uma nova revisão. Essa questão foi tratada nesses julgados como uma questão obiter dicta (acessória, dita de
passagem), não foi a ratio decidendi.

3.2) Limitações

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma
delas, pela maioria relativa de seus membros.
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de
estado de sítio.
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-
se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal,
com o respectivo número de ordem.
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de
nova proposta na mesma sessão legislativa.

3.2.1) Temporais (MP/PR 2014)

- Definição;

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As limitações temporais proíbem a alteração da Constituição durante um determinado período de tempo para
que essas Constituições adquiram uma certa estabilidade. Isso acontece, geralmente, com as primeiras
Constituições de um Estado, como foi o caso da nossa primeira Constituição.

- CIB/1824, art. 174. Se passados quatro anos, depois de jurada a Constituição do Brasil, se conhecer, que
algum dos seus artigos merece reforma, se fará a proposição por escrito, a qual deve ter origem na Câmara
dos Deputados, e ser apoiada pela terça parte deles;

- Poder Revisor: cinco anos. A revisão constitucional somente poderia ser feita após cinco anos de elaboração
da Constituição e foi feita entre 1993 e 1994.

3.2.2) Circunstanciais

- Definição;

Essas limitações impedem que a Constituição seja alterada na vigência de situações excepcionais e graves em
que a livre manifestação do poder reformador possa estar ameaçada. No ano de 2018, tivemos essa situação.
Houve duas intervenções federais, uma no Rio de Janeiro (18.02.2018) e uma em Roraima (08.12.2018). A
intervenção federal é uma dessas circunstâncias excepcionais que impedem a alteração da CF.

- Poder Reformador:
- CF, art. 60, § 1º. A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de
defesa ou de estado de sítio;

- Poder Revisor: idem. A doutrina entende que se aplicavam ao poder revisor tais limitações à época da
revisão.

3.2.3) Formais/Processuais/Procedimentais

- Definição;

São aquelas que impõem determinadas formalidades a serem observadas quando da alteração da
Constituição. Não proíbem algo, mas impõem algo e, ao impor, proíbem que aquele processo seja diferente
do que está estabelecido ali. Alguns autores, para complicar, dizem que as limitações formais são limitações

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implícitas porque não proíbem algo, elas impõem algo e, implicitamente proíbem que seja feito de forma
diferente do que se prevê. Contudo, as limitações formais estão expressas no texto constitucional.

- Poder Reformador (CF, art. 60, caput e §§ 2º, 3º e 5º);

- Poder Revisor (ADCT, art. 3º).

Limitações formais subjetivas – sujeitos responsáveis pela modificação da Constituição (iniciativa)

- CF, Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:


I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma
delas, pela maioria relativa de seus membros. (MP/SC 2013)

Temos 27 unidades, contando os Estados e o DF. Mais da metade significa que, pelo menos, 14 Estados
precisam se manifestar através de suas assembleias legislativas e, nessa manifestação, cada uma delas deve
deliberar por maioria relativa de seus membros – mais da metade dos presentes na votação, estando
presentes mais da metade dos membros da assembleia.

Limitações formais objetivas – processo que deve ser observado para que haja a aprovação dessas emendas

- CF, Art. 60, § 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos,
considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos (60%) dos votos dos respectivos membros;
§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal,
com o respectivo número de ordem.
§ 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de
nova proposta na mesma sessão legislativa.

A sessão legislativa é anual, começa no dia 2 de fevereiro e vai até 1º de fevereiro do ano seguinte. Nesse
período, se a matéria constante de uma proposta de emenda for rejeitada ou havida por prejudicada, não
pode até 1º de fevereiro do ano seguinte haver esta propositura.

3.2.4) Materiais/Substanciais

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- Definição;

As limitações materiais impedem modificações violadoras do núcleo essencial de certos princípios e institutos.
Não proíbem alteração da Constituição, mas sim a intervenção no núcleo essencial de princípios e institutos.
Algumas alterações podem ser feitas, desde que o núcleo essencial seja preservado.

I) Finalidades

- Preservar identidade material;

Toda Constituição tem uma identidade material. Se as mudanças forem tão profundas a ponto de alterar essa
identidade, melhor se fazer uma nova Constituição. Temos a forma federativa de Estado como cláusula pétrea.
Se o Brasil for transformado em um Estado unitário, é melhor que se faça uma Constituição nova. O mesmo
ocorre com a separação de poderes tal qual existe atualmente.

- Proteger institutos e valores essenciais;

Aqueles institutos e valores indispensáveis em uma sociedade, como a vida, a igualdade, a liberdade, são
protegidos como cláusulas pétreas porque são essenciais na sociedade brasileira.

- Assegurar a continuidade do processo democrático.

É evitar que aqueles que estão no poder se perpetuem nele, fazendo alterações com este objetivo. Por isso,
temos o voto direto, secreto, universal e periódico como cláusula pétrea e porque o princípio da anterioridade
eleitoral é uma cláusula pétrea, para evitar mudanças das “regras do jogo” às vésperas da eleição.

II) Cláusulas pétreas → são mais rígidas que o restante da CF, que já é rígida

- “Tendente a abolir” (CF, art. 60, § 4º);

Segundo o STF, esta expressão deve ser interpretada no sentido de impedir uma violação do núcleo essencial
de certos princípios e institutos e não como uma intangibilidade literal do respectivo dispositivo. A cláusula
pétrea não impede a alteração da CF, ela protege o núcleo essencial do direito ali consagrado.

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➢ Exemplo: art. 16, que consagra o princípio da anterioridade eleitoral e que o STF já disse que é cláusula
pétrea, sendo uma garantia individual do cidadão eleitor. Ele já foi alterado por emenda e esta
emenda não foi considerada inconstitucional porque o núcleo do princípio foi preservado.

- STF – ADI 2.024 MC/DF: “[...] de resto as limitações materiais ao poder constituinte de reforma, que o art.
60, § 4.º, da Lei Fundamental enumera, não significam a intangibilidade literal da respectiva disciplina na
Constituição originária, mas apenas a proteção do núcleo essencial dos princípios e institutos cuja
preservação nelas se protege.”

Exemplo:

- STF – ADI 3.685: “A modificação no texto do art. 16 pela EC 4/1993 em nada alterou seu conteúdo
principiológico fundamental. Tratou-se de mero aperfeiçoamento técnico levado a efeito para facilitar a
regulamentação do processo eleitoral. Pedido que se julga procedente para dar interpretação conforme no
sentido de que a inovação trazida no art. 1º da EC 52/2006 somente seja aplicada após decorrido um ano da
data de sua vigência.”

II.1) Cláusulas pétreas expressas

- CF, Art. 60, § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado (Princípio da Imunidade Tributária Recíproca);
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais (todos os fundamentais também – Ingo Sarlet).

➢ Uma emenda acabando com o papel do Senado para suspender a execução de lei declarada
inconstitucional pelo STF violaria o princípio da separação de poderes por estar retirando uma
competência do Senado e aumentando a competência do STF? Não porque esta é uma função atípica
do Senado, uma função que foi inventada pelo constituinte brasileiro em 1934 porque nossa CF
adotou o controle de constitucionalidade norte-americano, mas não consagrou o stare decisis, que diz
que deve se dar o devido peso aos precedentes. Para poder tentar reorganizar a casa, inventaram esse
papel do Senado. O correto é que haja uma reforma da Constituição para que tudo isso seja
normatizado e não uma mutação constitucional como defendem alguns Ministros do STF.

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